Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Histopatologia – UC11/P4 O sistema reprodutor feminino consiste em órgãos sexuais internos e estruturas genitais externas. Os órgãos reprodutores femininos internos estão localizados na pelve, enquanto as estruturas genitais externas (genitália externa) estão situadas na parte anterior do períneo, conhecida como pudendo feminino (vulva). • Os órgãos reprodutores femininos internos são constituídos por: ovários, tubas uterinas, útero e vagina. Estão contidos principalmente no interior da cavidade pélvica e no períneo • A genitália externa inclui: monte do púbis, lábios maiores e menores do pudendo, clitóris, vestíbulo e abertura da vagina, hímen e óstio externo da uretra Os ovários desempenham duas funções inter- relacionadas: a gametogênese (produção de gametas) e a esteroidogênese (produção de esteroides). • Na mulher, a produção de gametas é denominada oocitogênese • Os gametas em desenvolvimento são denominados oócitos, e os gametas maduros são conhecidos como óvulos • Os dois principais grupos de hormônios esteroides – os estrogênios e os progestógenos – são secretados pelos ovários * Os estrogênios promovem o crescimento e a maturação dos órgãos sexuais internos e externos e são responsáveis pelas características sexuais femininas que se desenvolvem na puberdade. Os estrogênios também atuam sobre as glândulas mamárias para promover o desenvolvimento das mamas por meio do estímulo do crescimento dos ductos e do estroma e do acúmulo de tecido adiposo. * Os progestógenos preparam os órgãos sexuais internos, principalmente o útero, para a gravidez, promovendo alterações secretoras no endométrio (discutidas na seção sobre alterações cíclicas no endométrio). Os progestógenos também preparam as adaptações das glândulas mamárias por meio da promoção da proliferação lobular. Ambos os hormônios desempenham importante papel no ciclo menstrual e preparam o útero para a implantação de um óvulo fertilizado. Se a implantação não ocorrer, o endométrio sofre degeneração, e ocorre menstruação. Nas nulíparas (mulheres que ainda não tiveram filhos), os ovários consistem em um par de estruturas em formato de amêndoa, de coloração branco-rosada, medindo cerca de 3 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 1 cm de espessura. Cada ovário está fixado à superfície posterior do ligamento largo por uma prega peritoneal, o mesovário. O polo superior (ou tubário) do ovário está fixado à parede pélvica pelo ligamento suspensor do ovário, que transporta os vasos e nervos do ovário. O polo inferior (ou uterino) está fixado ao útero pelo ligamento útero-ovárico. Esse ligamento é um remanescente do gubernáculo, o cordão fibroso embrionário que fixa a gônada em desenvolvimento ao assoalho da pelve. * Antes da puberdade, a superfície do ovário é lisa; no entanto, durante a vida reprodutiva, acumula progressivamente cicatrizes irregulares, consequentes das repetidas ovulações. Nas mulheres na fase de pós-menopausa, os ovários apresentam apenas cerca de um quarto do tamanho observado durante o período reprodutivo. * Um corte realizado através do ovário revela duas regiões distintas: • A medula do ovário, ou região medular, está localizada na porção central do ovário e contém tecido conjuntivo frouxo, massa de vasos sanguíneos contorcidos de calibre relativamente grande, vasos linfáticos e nervos 2 Histopatologia – UC11/P4 • O córtex do ovário, ou região cortical, é encontrado na porção periférica do ovário, circundando a medula O córtex contém os folículos ovarianos inseridos em tecido conjuntivo ricamente celularizado. Observa-se a existência de fibras musculares lisas dispersas no estroma, envolvendo os folículos. O limite entre a medula e o córtex do ovário é indistinto. • A superfície do ovário é recoberta por uma única camada de células cuboides que, em algumas partes, tornam-se quase pavimentosas Essa camada celular, conhecida como epitélio germinativo, é contínua com o mesotélio que recobre o mesovário. O termo epitélio germinativo é uma denominação trazida do passado, quando se acreditava incorretamente que esse epitélio seria o local de formação das células germinativas durante o desenvolvimento embrionário. • Uma camada de tecido conjuntivo denso, a túnica albugínea, situa-se entre o epitélio germinativo e o córtex subjacente • Os folículos ovarianos de vários tamanhos, contendo, cada um deles, um único oócito, estão distribuídos no estroma do córtex • O tamanho de um folículo indica o estado de desenvolvimento do oócito Os estágios iniciais da oocitogênese ocorrem durante a vida fetal, quando as divisões mitóticas aumentam maciçamente o número de oogônias. Os oócitos presentes ao nascimento têm o seu desenvolvimento interrompido na primeira divisão meiótica. • Durante a puberdade, pequenos grupos de folículos sofrem crescimento e maturação cíclicos Em geral, a primeira ovulação não ocorre por um período de 1 ano ou mais após a menarca. Iniciada a menarca, um padrão cíclico de maturação folicular e ovulação é estabelecido e continua paralelamente ao ciclo menstrual. • Apenas um oócito costuma alcançar a maturidade completa, e é liberado do ovário a cada ciclo menstrual A maturação e a liberação de mais de um oócito na ovulação podem levar a múltiplos zigotos. Durante a vida reprodutiva, uma mulher produz apenas cerca de 400 óvulos maduros. A maioria dos 600.000 a 800.000 de oócitos primários estimados ao nascimento não completa a maturação e é gradualmente perdida por atresia – um processo de morte espontânea e reabsorção subsequente dos oócitos imaturos. • A atresia folicular já se inicia no quinto mês de vida fetal e é mediada pela apoptose das células que circundam o oócito A atresia reduz o número de oócitos primários de maneira logarítmica durante toda a vida, de 5 milhões no feto para menos de 20% desse número por ocasião do nascimento. Os oócitos que permanecem no período da menopausa sofrem degeneração no decorrer de alguns anos. Histologicamente, podem ser identificados três tipos básicos de folículos ovarianos, com base no estado de desenvolvimento: 1. Os folículos primordiais 2. Os folículos em crescimento, que ainda são subdivididos em folículos primários e secundários (ou antrais) 3. Os folículos maduros ou folículos de Graaf Os folículos primordiais surgem pela primeira vez nos ovários durante o terceiro mês de desenvolvimento Atualmente, sabe-se que as células germinativas primordiais (tanto masculinas quanto femininas) são de origem extragonádica. Essas células migram do saco vitelino embrionário para dentro do córtex da gônada embrionária, em que se diferenciam e induzem a diferenciação do ovário. Legenda: EpG: epitélio germinativo; FP: folículo primordial; FC: folículo em crescimento; ZP: zona pelúcida; FA: folículo atrésico; TI: teca interna; CG: camada da granulosa; A: antro 3 Histopatologia – UC11/P4 fetal. O crescimento inicial dos folículos primordiais é independente da estimulação das gonadotropinas. No ovário maduro, são encontrados folículos primordiais no estroma do córtex, imediatamente abaixo da túnica albugínea. • O oócito é circundado por uma camada única de células foliculares pavimentosas. A superfície externa das células foliculares é delimitada por uma lâmina basal Nesse estágio, o oócito e as células foliculares circundantes estão intimamente apostos uns aos outros. O oócito mede cerca de 30 μm de diâmetro e tem um grande núcleo excêntrico que contém cromatina finamente dispersa e um ou mais nucléolos grandes. • O citoplasma do oócito é denominado ooplasma e contém um corpúsculo de Balbiani Em nível ultraestrutural, o corpúsculo de Balbiani é vistocomo um acúmulo localizado de membranas e vesículas de Golgi, retículo endoplasmático, centríolos, numerosas mitocôndrias e lisossomos. Além disso, os oócitos humanos contêm lamelas anulares e numerosas vesículas pequenas dispersas por todo o citoplasma, juntamente com pequenas mitocôndrias esféricas. As lamelas anulares assemelham-se a uma pilha de perfis de envoltórios nucleares. Cada camada da pilha inclui estruturas porosas, que são morfologicamente idênticas aos poros nucleares. À medida que o folículo primordial se desenvolve em um folículo em crescimento, ocorrem alterações no oócito, nas células foliculares e no estroma adjacente. • Inicialmente, o oócito aumenta de tamanho, e ocorre proliferação das células foliculares achatadas circundantes, que se tornam cuboides Nesse estágio – isto é, quando as células foliculares se tornam cuboides –, o folículo é identificado como folículo primário. • À medida que cresce, o oócito secreta proteínas específicas, que são organizadas em um revestimento extracelular denominado zona pelúcida Esta se localiza entre o oócito e as células foliculares adjacentes. Nos humanos, tal zona é composta de três classes de glicoproteínas ácidas sulfatadas da zona Legenda: Esta fotomicrografia de folículos primordiais mostra os oócitos circundados por uma única camada de células foliculares (CF) achatadas. Em geral, o núcleo (N) do oócito ocupa uma posição excêntrica. Dois oócitos, cujos núcleos não estão incluídos no plano do corte, estão indicados (X). De modo semelhante, há dois folículos (setas) nos quais as células foliculares são vistas em cortes frontal ou tangencial. 4 Histopatologia – UC11/P4 pelúcida (ZP), denominadas ZP-1 (80 a 120 kDa), ZP- 2 (73 kDa) e ZP-3 (59 a 65 kDa). • Dessas três glicoproteínas, a mais importante é a ZP-3, que atua como receptor para a ligação dos espermatozoides e indutor da reação acrossômica; Acredita-se que a ZP-2 atue como proteína secundária de ligação de espermatozoides, enquanto a função da ZP-1 ainda não foi identificada. Ao microscópio óptico, a zona pelúcida é claramente visível como uma camada homogênea e refringente, que se cora intensamente com corantes acidófilos e com os reagentes ácido periódico-Schiff (PAS; do inglês, periodic acid-Schiff). A zona pelúcida torna-se aparente pela primeira vez quando o oócito, circundado por uma única camada de células foliculares cuboides ou colunares, cresceu e alcançou diâmetro de 50 a 80 μm. • Por meio de sua rápida proliferação mitótica, a camada única de células foliculares dá origem a um epitélio estratificado, a membrana granulosa (estrato granuloso), que circunda o oócito As células foliculares são agora identificadas como células da granulosa. A lâmina basal se mantém entre a camada mais externa de células foliculares, que se tornam colunares, e o estroma de tecido conjuntivo. Durante o crescimento folicular, observa-se o desenvolvimento de extensas junções comunicantes entre as células da granulosa. No entanto, diferentemente das células de Sertoli nos testículos, a camada basal de células da granulosa não contém zônulas de oclusão elaboradas, indicando ausência de uma barreira hematofolicular. O movimento de nutrientes e de pequenas macromoléculas informacionais do sangue para o líquido folicular é essencial para o desenvolvimento normal do óvulo e do folículo. À medida que as células da granulosa proliferam, as células do estroma que circundam imediatamente o folículo formam uma bainha de células de tecido conjuntivo, conhecida como teca folicular, de localização imediatamente externa à lâmina basal. A teca folicular diferencia-se em duas camadas: 5 Histopatologia – UC11/P4 • A teca interna é a camada interna altamente vascularizada de células secretoras cuboides As células totalmente diferenciadas da teca interna apresentam características ultraestruturais de células produtoras de esteroides. Além disso, as células da teca interna apresentam um grande número de receptores de hormônio luteinizante (LH). Em resposta à estimulação do LH, essas células sintetizam e secretam os androgênios que são os precursores dos estrogênios. Além das células secretoras, a teca interna contém fibroblastos, feixes de colágeno e uma rede rica de pequenos vasos, típica dos órgãos endócrinos • A teca externa é a camada externa e contém principalmente células musculares lisas e feixes de fibras colágenas Os limites entre as camadas da teca e entre a teca externa e o estroma circundante não são distintos. No entanto, a lâmina basal entre a camada granulosa e a teca interna estabelece um limite distinto entre essas camadas. • Ela separa o rico leito capilar da teca interna da camada granulosa, que é avascular durante o período de crescimento folicular • A maturação do oócito ocorre no folículo primário A distribuição das organelas modifica-se com o amadurecimento do oócito. Múltiplos elementos dispersos do aparelho de Golgi, derivados do único corpúsculo de Balbiani do oócito primordial, tornam-se dispersos no citoplasma. Aumenta o número de ribossomos livres, mitocôndrias, pequenas vesículas e corpúsculos multivesiculares, bem como a quantidade de retículo endoplasmático rugoso (RER). Além disso, podem ser observadas gotículas lipídicas ocasionais e massas de pigmento lipocromo. Os oócitos de muitas espécies, incluindo mamíferos, apresentam vesículas secretoras especializadas, conhecidas como grânulos corticais. Esses grânulos estão localizados imediatamente abaixo do oolema (membrana plasmática do oócito). • Os grânulos contêm proteases que são liberadas por exocitose quando o óvulo é ativado pelo espermatozoide Numerosas microvilosidades irregulares projetam-se do oócito para dentro do espaço perivitelino, entre o oócito e as células da granulosa, à medida que a zona pelúcida é depositada. Ao mesmo tempo, ocorre desenvolvimento de prolongamentos delgados das células da granulosa, que se projetam em direção ao oócito, entremeando- se com as microvilosidades do oócito e, em certas ocasiões, invaginando-se na sua membrana plasmática. Os prolongamentos podem entrar em contato com a membrana plasmática, mas não estabelecem nenhuma continuidade citoplasmática entre as células. Inicialmente, o folículo primário move-se mais profundamente no estroma cortical à medida que aumenta de tamanho, em grande parte em decorrência da proliferação das células da granulosa. São necessários diversos fatores para o crescimento dos oócitos e dos folículos: 1. Hormônio foliculoestimulante (FSH) 2. Fatores de crescimento (p. ex., fator de crescimento epidérmico [EGF; do inglês, epidermal growth factor], fator de crescimento semelhante à insulina I [IGF-I;] 3. Íons cálcio (Ca2+) * Quando o estrato granuloso alcança espessura de seis a 12 camadas de células, surgem cavidades repletas de líquido entre as células da granulosa. * À medida que o líquido rico em ácido hialurônico (também conhecido como hialuronam), denominado líquido folicular, continua se acumulando entre as células da granulosa, as cavidades começam a coalescer, formando finalmente uma única cavidade em formato de crescente, denominada antro. • O folículo é, nesse estágio, identificado como folículo secundário ou folículo antral O oócito de posição excêntrica, que alcançou um diâmetro de cerca de 125 μm, não sofre crescimento adicional. A inibição do crescimento é obtida pela existência de um pequeno peptídio de 1 a 2 kDa, denominado inibidor da maturação do oócito (OMI), que é secretado pelas células da granulosa para dentro do líquido antral. 6 Histopatologia – UC11/P4 • Observa-se uma correlação direta entre o tamanho do folículo secundárioe a concentração de OMI A concentração é mais alta nos folículos pequenos e mais baixa nos folículos maduros. O folículo secundário imaturo, cujo diâmetro era de 0,2 mm no início da formação do líquido antral, continua crescendo e alcança um diâmetro de 10 mm ou mais. À medida que o folículo secundário aumenta de tamanho, o antro, revestido por várias camadas de células da granulosa, também aumenta. O estrato granuloso tem espessura relativamente uniforme, exceto na região associada ao oócito. • Nesse local, as células da granulosa formam uma região espessada, o cúmulo oóforo, que se projeta para dentro do antro • As células do cúmulo oóforo que circundam imediatamente o oócito, ao qual permanecem associadas na ovulação, são denominadas coroa radiada Esta é composta de células do cúmulo que emitem microvilosidades que penetram em toda a zona pelúcida e comunicam-se, por meio de junções comunicantes, com as microvilosidades do ovócito. Durante a maturação folicular, o número de microvilosidades na superfície das células granulosas aumenta e está correlacionado com o aumento no número de receptores de LH na superfície livre do antro. Entre as células da granulosa, é possível observar o material extracelular, densamente corado e PAS- positivo, denominado corpúsculo de Call-Exner. Esses corpúsculos são secretados pelas células da granulosa e contêm ácido hialurônico e proteoglicanos. O folículo maduro, também conhecido como folículo de Graaf, apresenta diâmetro de 10 mm ou mais. Em virtude de seu grande tamanho, ele se estende por toda 7 Histopatologia – UC11/P4 a espessura do córtex do ovário e provoca abaulamento na superfície do ovário. • À medida que o folículo se aproxima de seu tamanho máximo, a atividade mitótica das células da granulosa diminui • O estrato granuloso parece tornar-se mais fino à medida que o antro aumenta de tamanho Conforme os espaços entre as células da granulosa continuam aumentando, o oócito e as células do cúmulo são gradualmente afastados do restante das células da granulosa, preparando-se para a ovulação. As células do cúmulo que circundam o oócito formam agora uma única camada de células da coroa radiada. Essas células e as células frouxamente aderidas do cúmulo acompanham o oócito durante a ovulação. • Durante esse período de maturação folicular, as camadas da teca tornam-se mais proeminentes Surgem gotículas lipídicas no citoplasma das células da teca interna, as quais exibem características ultraestruturais associadas a células produtoras de esteroides. Hormônios e Efeito nas Células * Nos humanos, o LH estimula as células da teca interna a secretar androgênios. Devido à ausência da enzima aromatase, as células da teca interna não são capazes de produzir estrogênios. * Em contrapartida, as células da granulosa contêm aromatase; por conseguinte, alguns androgênios são transportados até o retículo endoplasmático liso (REL) para processamento posterior. * Em resposta ao FSH, as células da granulosa catalisam a conversão dos androgênios em estrogênios, os quais, por sua vez, estimulam a proliferação das células da granulosa e, portanto, o aumento de tamanho do folículo. * Os níveis elevados de estrogênios de fontes tanto folicular quanto sistêmica estão correlacionados com a sensibilização aumentada dos gonadotropos ao hormônio de liberação das gonadotropinas. * A adeno-hipófise induz um surto de liberação de FSH ou de LH aproximadamente 24 horas antes da ovulação. Em resposta ao surto de LH, os receptores de LH nas células da granulosa são infrarregulados (dessensibilizados), e as células da granulosa param de produzir estrogênios em resposta ao LH. * Desencadeada por esse surto de LH, a primeira divisão meiótica do oócito primário é reiniciada. Esse evento ocorre entre 12 e 24 horas após o surto de LH, resultando na formação do oócito secundário e do primeiro corpúsculo polar. * As células tanto da granulosa quanto da teca sofrem então luteinização e passam a produzir progesterona. Os folículos atrésicos (FA) são mostrados aqui em maior aumento na figura adjacente à direita. Os dois folículos atrésicos menores podem ser identificados pela existência da zona pelúcida (ZP) retida, indicada na figura adjacente à direita. Os dois folículos maiores em estágio mais avançado de desenvolvimento não exibem os remanescentes de uma zona pelúcida, mas apresentam outras características de atresia folicular. 8 Histopatologia – UC11/P4 A ovulação é o processo pelo qual um oócito secundário é liberado no folículo de Graaf. O folículo destinado a ovular em qualquer ciclo menstrual é recrutado a partir de uma coorte de diversos folículos primários nos primeiros dias do ciclo. Durante a ovulação, o oócito atravessa toda a parede do folículo, incluindo o epitélio germinativo. Uma combinação de alterações hormonais e efeitos enzimáticos é responsável pela liberação do oócito secundário na metade do ciclo menstrual (i. e., no 14o dia de um ciclo de 28 dias). Tais fatores incluem: 1. Aumento no volume e na pressão do líquido folicular 2. Proteólise enzimática da parede folicular pelo plasminogênio ativado 3. Depósito de glicosaminoglicanos direcionado por hormônios entre o complexo oócito-cúmulo e o estrato granuloso 4. Contração das fibras musculares lisas na camada externa da teca, desencadeada por prostaglandinas Imediatamente antes da ovulação, o fluxo sanguíneo é interrompido em uma pequena área da superfície do ovário suprajacente ao folículo maduro. • Essa área do epitélio germinativo, conhecida como mácula pelúcida ou estigma folicular, torna-se elevada e, em seguida, se rompe O oócito, circundado pela coroa radiada e pelas células de cúmulo oóforo, é liberado do folículo roto. Por ocasião da ovulação, as fímbrias da tuba uterina tornam-se apostas à superfície do ovário, e a massa do cúmulo contendo o oócito é então suavemente direcionada pelas fímbrias, para o óstio abdominal da tuba uterina. A massa do cúmulo adere firmemente às fímbrias e é ativamente transportada pelas células ciliadas que revestem a tuba uterina, evitando a sua passagem para dentro da cavidade peritoneal. Após a ovulação, o oócito secundário permanece viável durante aproximadamente 24 horas. Se não ocorrer fertilização durante esse período, o oócito secundário sofre degeneração durante sua passagem através da tuba uterina. • Em geral, em cada ciclo, apenas um folículo completa a sua maturação e sofre ruptura para liberar o seu oócito secundário Raramente, os oócitos são liberados de outros folículos que alcançaram a maturidade total durante o mesmo ciclo. Essa ocorrência leva à possibilidade de múltiplos zigotos. Certos fármacos, como o citrato de clomifeno ou gonadotropinas menopáusicas humanas, aumentam acentuadamente a possibilidade de múltiplos nascimentos. Esses fármacos estimulam a atividade ovariana e, desse modo, provocam a maturação simultânea de vários folículos. Na ovulação, a parede folicular, composta das células da granulosa e tecais remanescentes, é dobrada em pregas profundas à medida que o folículo colapsa e é transformado no corpo lúteo (corpo amarelo) ou glândula lútea. Na atresia de um folículo mais avançado, as células foliculares tendem a sofrer degeneração mais rápida que as células da teca interna, e a membrana basal que delimita as duas torna-se espessada e forma uma membrana hialinizada, denominada membrana vítrea. Desse modo, a membrana vítrea (setas) separa a camada mais externa de células da teca interna remanescente das células foliculares internas em degeneração. As células remanescentes dateca interna (RTI) podem exibir integridade citológica; essas células intactas da teca interna permanecem temporariamente funcionais na secreção de esteroides. São mostrados aqui outros folículos atrésicos (FA). Mais uma vez, alguns apresentam remanescentes de uma zona pelúcida (ZP), e dois mostram uma membrana vítrea (setas). Observe que, embora a atresia nesses folículos esteja bem avançada, algumas das células externas a uma das membranas vítreas ainda mantêm características epitelioides (ponta de seta). Trata-se de células persistentes da teca interna. 9 Histopatologia – UC11/P4 Inicialmente, o sangramento dos capilares na teca interna para dentro do lúmen folicular leva à formação do corpo hemorrágico com um coágulo central. Em seguida, o tecido conjuntivo do estroma invade a antiga cavidade folicular. • As células da granulosa e da camada interna da teca diferenciam-se então em células lúteas granulosas e células lúteas tecais por um processo denominado luteinização Essas células lúteas sofrem alterações morfológicas drásticas, aumentando de tamanho e enchendo-se com gotículas lipídicas. Um pigmento lipossolúvel, o lipocromo, presente no citoplasma das células, lhes confere uma aparência amarelada em preparações a fresco. Em nível ultraestrutural, as células exibem características associadas a células secretoras de esteroides; isto é, quantidade abundante de REL e mitocôndrias com cristas tubulares. * São identificados dois tipos de células lúteas: • As células luteínicas da granulosa são células grandes (cerca de 30 μm de diâmetro) e de localização central, derivadas das células da granulosa Constituem cerca de 80% do corpo lúteo e sintetizam estrogênios, progesterona e inibina. Esta última regula a produção e a secreção de FSH pela adeno-hipófise • As células luteínicas da teca são células menores (em torno de 15 μm), mais intensamente coradas e de localização periférica, derivadas das células da camada interna da teca Representam os 20% restantes das células do corpo lúteo e secretam androgênios e progesterona. À medida que o corpo lúteo começa a se formar, os vasos sanguíneos e linfáticos da teca interna crescem rapidamente dentro da camada granulosa, e uma rica rede vascular é estabelecida no corpo lúteo. • Essa estrutura altamente vascularizada, localizada no córtex do ovário, secreta progesterona e estrogênio Esses hormônios estimulam o crescimento e a atividade secretora do revestimento do útero, o endométrio, preparando-o para a implantação do zigoto em desenvolvimento caso haja fertilização. • Mesmo não havendo fertilização e implantação, o corpo lúteo – neste caso, denominado corpo lúteo da menstruação – permanece ativo por 14 dias Na ausência de gonadotropina coriônica humana (hCG) e de outras luteotropinas, a taxa de secreção de progestógenos e estrogênios declina, e o corpo lúteo começa a sofrer degeneração entre o 10º e o 12º dia após a ovulação. O corpo lúteo degenera e sofre involução lenta após a gravidez ou a menstruação. As células tornam-se carregadas de lipídios, diminuem de tamanho e sofrem autólise. A. O corpo lúteo é formado a partir da parede colapsada do folículo que contém as células da granulosa e da teca. As células luteínicas granulosas formam uma camada espessa pregueada ao redor da antiga cavidade (Cav) folicular. Nas pregas estão as células da teca interna (setas). B. Esta fotomicrografia mostra parte do corpo lúteo em maior aumento. A massa de células principal é composta de células luteínicas granulosas (CLG). Estas apresentam um volumoso núcleo esférico e uma grande quantidade de citoplasma. As células luteínicas tecais (CLT) também apresentam núcleo esférico, mas são consideravelmente menores que as células luteínicas granulosas. 10 Histopatologia – UC11/P4 • Uma cicatriz branca, o corpo albicans, é formada à medida que ocorre acúmulo de material hialino entre as células em degeneração do antigo corpo lúteo O corpo albicans aprofunda-se no córtex do ovário à medida que involui lentamente no decorrer de vários meses. Folículos císticos no ovário são tão comuns que são considerados virtualmente normais. São originados em folículos de Graaf não rompidos ou em folículos que foram rompidos e imediatamente fechados. Morfologia • Estes cistos geralmente são múltiplos 11 Histopatologia – UC11/P4 • Variam em tamanho até 2 cm de diâmetro, são preenchidos por um líquido seroso claro e revestidos por uma membrana cinza brilhante • Às vezes, cistos maiores excedendo 2 cm (cistos foliculares) podem ser diagnosticados por palpação ou ultrassonografia; e podem causar dor pélvica • As células de revestimento da granulosa podem ser identificadas histologicamente se a pressão intraluminal não tiver sido muito grande • As células da teca externa podem ser proeminentes devido às maiores quantidades de citoplasma pálido (luteinizado) Cistos Lúteos • Cistos de corpo lúteo resultam da hemorragia excessiva no corpo lúteo e do fechamento cicatricial precoce no ponto de ovulação. • Em geral, mede 2,5cm ASPECTOS MACROSCÓPICOS: A parede é castanho- amarelada, a superfície interna é lisa e o conteúdo é hemorrágico no início e incolor quando ocorre sua reabsorção. • Ocorrem após a ovulação e são causados por uma secreção aumentada de progesterona que resulta em aumento de líquido no corpo lúteo • As manifestações incluem dor, sensibilidade sobre o ovário, atraso menstrual e fluxo menstrual irregular. Em geral desaparecem sem tratamentos • Geralmente não interferem com a produção hormonal ovariana nem com o padrão ou duração do ciclo menstrual, porém podem persistir funcionalmente ativos por mais de duas semanas, que é o período médio de duração da fase lútea * Assim, haverá continuidade da produção de estrógeno e progesterona que impedirá a descamação do endométrio, provocando atraso menstrual. • Paralelamente, a distensão do corpo lúteo poderá provocar dor em baixo ventre e ao toque vaginal, podendo observar uma massa anexial à USG confundida com gravidez ectópica (Obs.: Esse quadro é conhecido como Síndrome de Halban e uma dosagem negativa das gonadotrofinas coriônicas confirmará o diagnóstico). • Estes cistos são revestidos por uma borda de tecido amarelo vivo contendo células granulosas luteinizadas • Ocasionalmente sofrem ruptura e causam reação peritoneal • Algumas vezes a combinação de hemorragia antiga e fibrose pode dificultar sua distinção dos cistos endometrióticos
Compartilhar