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Identidade Culturais e Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior Revisão Textual: Prof. Ms. Luciene Santos Identidade de Gênero, Raça e Etnia • Liberdade de Gênero • O Sexo Biológico • Identidade de Gênero • O Gênero e a Questão de Raça e Etnia • Feminilidades e Masculinidades no Estudo de Gênero • Políticas Públicas Voltadas para Questão de Gênero, Raça e Etnia • Considerações Finais · Apresentar uma abordagem das diversas identidades culturais, analisando grupos específicos, e compreender a sociedade e as diferenças de gênero, bem como suas desigualdades raciais, lutas e conquistas de direitos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Identidade de Gênero, Raça e Etnia Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Liberdade de Gênero Os estudos nesta unidade partem da importância em discutir as diferenças de gêneros na composição de uma sociedade sob o prisma das Ciências Humanas e Sociais. Pretende-se também apresentar um estudo sobre raça e etnia e a sua relação com o gênero. Iniciemos por indagar a origem das diferenças entre homens e mulheres. Para muitos estudiosos, as diferenças são construídas a partir das influências sociais. Dessa forma, partiremos da distinção entre sexo e gênero. Figura 1 Fontes: Baseado no “The GenderBread Person 2.0” do itspronouncedmetrosexual.com De acordo com muitos sociólogos, sexo é um termo utilizado para se referir às diferenças fisiológicas e anatômicas que definem e distinguem o corpo masculino do corpo feminino. Gênero, no entanto, está relacionado às diferenças psicológicas, culturais e sociais entre indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino. 8 9 Importante! Sexo: defi ne as diferenças naturais, fi siológicas e anatômicas entre homens e mulheres. Gênero: defi ne as diferenças psicológicas, culturais e sociais entre homens e mulheres. Em Síntese O Sexo Biológico Nascer homem ou mulher parece simples, e a princípio não requer muitas indagações, porém, você já parou para se questionar – “O que é ser um homem? O que é ser uma mulher?” Bem, caro(a) aluno(a), a resposta, para muitos certamente estará associada ao sexo do corpo em que nascemos. Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images No entanto, essa é uma forma simplificada e limitada de definir a identidade de cada sujeito, pois ainda que os documentos certifiquem o sexo com o qual nascemos, existem pessoas que acreditam ter nascido no corpo errado. Esse ‘equívoco’ da natureza poderia, então, ser corrigido cientificamente através da mudança de sexo e reparações no corpo, ou, como algumas pessoas acreditam, que se poderia interferir na identidade do outro, praticando um ultrapassado moralismo conservador através de tratamento psicológico ou psiquiátrico e, até mesmo, palestras e sessões de ‘cura’ praticadas por algumas religiões. A construção da identidade ao longo da vida é algo muito mais complexo do que a simplificação da distinção entre homem e mulher somente através do corpo, pela distinção dos sexos. As diferenças sexuais são demasiadamente influentes em nossas vidas. Faremos aqui uma reflexão acerca do gênero. Para iniciar, emprestemos da filósofa francesa Simone de Beauvoir, sua célebre assertiva “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. 9 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Figura 03 Fonte: Wikimedia Commons Simone de Beauvoir (Paris, 1908-1986) foi uma es- critora, intelectual, fi lósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social considerada até hoje um dos nomes mais infl uentes do feminismo moderno. Aos 21 anos saiu de casa para estudar Filosofi a na Universidade de Sorbonne. Prestes a se formar, em 1929, ela conheceu o famoso e também fi lósofo Jean-Paul Sartre, iniciando uma peculiar relação amorosa. O casal à frente de seu tempo pro- curava quebrar os mais diversos paradigmas instituí- dos pela cultura e pela sociedade. Por exemplo, por não concordarem com os princípios da monogamia tinham uma relação aberta a experiências amorosas e sexuais com outras pessoas. O casamento também não fez parte da vida do casal, graças à crença de Beauvoir de que o relacionamento deles não deveria ser defi nido com base em normas institucionais. Ex pl or Beauvoir, em 1949, provocou uma revolução no pensamento sobre gênero ao afirmar que “nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana se assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualifica de feminino.” (1967, p. 9). A filósofa coloca no centro das discussões que a construção das identidades de gênero se dá através da cultura, ou seja, dos papéis sociais que são atribuídos a homens e mulheres e de uma expectativa de que seu comportamento seja cumprido sob os olhos de pesadas críticas, discriminação e preconceitos contra todos aqueles que, de alguma forma, não se enquadram às regras impostas inicialmente no seio familiar, no convívio com os primeiros grupos sociais institucionalizados como, por exemplo, a escola, a igreja, o local de trabalho etc. A ideia de que esses papéis desempenhados a partir da designação homem/ mulher não seria algo inato, mas sim fruto de uma construção social advinda de cada cultura, recebe o título de teoria de gênero – não mais sexo de conotação biológica. Essa categoria foi adotada pelas correntes filosóficas históricas que se propunham a rachar com uma linha tradicional, e, ao mesmo tempo, ir além da chamada história das mulheres ao explorar a relação estabelecida por homens e mulheres ao longo do tempo. O papel feminino não foi definido pela própria mulher, “[...] a humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo” (BEAUVOIR, 1970, p.10). Ao homem foi delegado o papel privilegiado nesse sistema, que mesmo ao trazer prejuízos para determinados indivíduos que fogem da lógica masculina, de forma geral, beneficia os pertencentes ao gênero masculino. 10 11 Identidade de Gênero A construção social das identidades é responsável também pela construção do gênero. Portanto,nós fazemos o gênero, criamos a noção do que é ser menino e menina desde a infância. Estabelecemos regras de comportamento, símbolos e significados àquilo que deve ser caracteristicamente fator distinguível entre homens e mulheres na fase adulta. Essa construção social da identidade, para algumas pessoas, pode ser considerada uma pressão para se tornar algo que a sociedade espera que cada um de nós nos tornemos. No entanto, existem aqueles que enfrentam a pressão social para encontrar um equilíbrio entre o corpo natural e a forma como enxerga a si próprio. A maneira como cada um se sente ou gostaria que seu corpo fosse, estimula a busca por um equilíbrio entre o corpo e o psicológico. Utilizamos aqui a palavra ‘enfrentamento’ porque não é tarefa fácil buscar tal equilíbrio, uma vez que a sociedade, pelo menos grande parte dela, não aceita que o indivíduo tenha autonomia para alterar a natureza. Assim, para muitos, é preciso conformar-se com o que a natureza designou a cada um de nós. Quando se pensa sobre o assunto pelo viés da religião, essa questão se agrava ainda mais. Pois “Deus, sendo o criador do homem e da mulher, seria insultado por aqueles que não se contentam com o sexo de nascimento”. Transformá-lo seria pecado? Seria uma heresia ou uma ofensa? Para muitos religiosos, seria sim. Por esse motivo atribuem o ‘pecado’ àqueles que se identificam com sua sexualidade de forma distinta da maioria. Figura 4 – Adão e Eva de Ticiano Fonte: iStock/Getty Images Analisando as sociedades antigas, o homem sempre esteve ligado às atividades que lhe exigiam força, coragem, velocidade etc.; assim eram os caçadores das tribos primitivas que defendiam seus iguais partindo para a guerra contra os inimigos. Em 11 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia contrapartida, as mulheres ficavam responsáveis pelas tarefas ligadas à casa, aos filhos, a plantar, colher, limpar, organizar, cozinhar etc. Ou seja, às mulheres se atribuíam características menos agressivas e mais dóceis. Esses estudos antropológicos, históricos, sociológicos etc. definem através da literatura os papéis atribuídos aos homens e às mulheres na vida em grupo e, à medida que estes grupos evoluem, essas tarefas são adaptadas às mudanças, porém, os papéis permaneceriam os mesmos – naturalmente haveria uma predisposição àquilo que é papel do homem e o que é papel da mulher. Essa visão estreita sobre o gênero é grande causadora de preconceitos e discriminação nos tempos de hoje, uma vez que há uma ideia de punição, ainda que subjetiva, para aqueles que desejarem fugir às regras. Cada indivíduo, desde a sua formação nos primeiros dias de vida, recebe uma carga de normas, regras e aprendizados que serão interiorizados progressiva- mente, na maioria das vezes atendendo às expectativas sociais sobre o seu sexo e comportamento. Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images As sanções a que estão expostos meninos e meninas são formas educativas sobre como aprender a ser um menino ou uma menina. Por exemplo, é comum ouvirmos no recinto familiar as seguintes frases: ‘Meninos não choram’. ‘Meninos não brincam com bonecas’. ‘Meninas ajudam as mães em casa’. 12 13 Esta aprendizagem exige o desempenho de papéis específicos para atender a um ‘regulamento’ social. Segundo Anthony Giddens: Se um indivíduo desenvolve práticas de gênero que não correspondem ao seu sexo biológico – isto é, comportamentos desviantes – procura-se a explicação numa socialização inadequada ou irregular. Segundo esta perspectiva funcionalista, os agentes de socialização contribuem para a manutenção da ordem social ao supervisionar a socialização natural do gênero nas novas gerações. (2004, pg. 110) É importante lembrar que as pessoas são agentes ativos que modificam e criam papéis para si mesmas. Ainda que a família, a escola, os amigos sejam profundos influenciadores dos papéis desempenhados na sociedade por meninos e meninas, homens e mulheres, há que se registrar que uma série de outros fatores subjetivos também interfere na construção de uma identidade de gênero. Muitas vezes, um brinquedo inocente, as cores das roupas, a programação na TV, no cinema, as propagandas, a literatura etc. despejam na sociedade de massa uma série de regras e padrões de comportamento que orientam, no desempenho cotidiano, a reprodução dos papéis feminino e masculino. Sendo assim, o próprio corpo está sujeito às forças sociais que o moldam, alteram e transformam constantemente. É possível, no decorrer da vida, que sejam atribuídos aos nossos corpos, novos significados que desafiam o que é ‘natural’. Os indivíduos poderão optar por reconstruir e reconfigurar seus corpos conforme a sua vontade. Há os que buscam tratamentos hormonais, cirurgias plásticas, operações de sexo de acordo com a escolha pessoal. Há que se lembrar de que a ciência contribui para isso. Os avanços tecnológicos e científicos relacionados a cirurgias e tratamentos hormonais cresceram e avançaram surpreendentemente nos últimos tempos, assim como a adaptação da legislação para mudança de sexo e de documentos também ocorrem em diversas partes do mundo. Casal transgênero se apaixona em terapia e luta contra o preconceito. Saiba mais em: https://goo.gl/G6ZXsEx pl or O tratamento dado sob a perspectiva histórica, ou seja, analisando o papel desempenhado pelas mulheres e pelos homens em sociedades primitivas, bem como a comparação com as sociedades modernas, tiveram a divisão do trabalho como foco específico. 13 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Essa análise se acentuou com a entrada da mulher no trabalho assalariado ofertado pela indústria no século XX, discorrendo – os cientistas sociais – sobre a desigualdade de funções e salário que ocupam os estudiosos até os dias de hoje. Tais desigualdades permanecem e são diferenciadas em cada país e em cada cultura. Portanto, a desigualdade de gênero oferece um importante panorama de estudo, no qual se debruçam progressivamente os pesquisadores. Não se pode deixar de mencionar também o papel de submissão que foi relegado às mulheres nas sociedades ocidentais e orientais, principalmente dentro de casa. O Gênero e a Questão de Raça e Etnia Pontuamos que a questão de gênero é bastante complexa, uma vez que não se limita só às identidades construídas em torno de ser e sentir-se homem ou mulher. Há sujeitos, por exemplo, que se sentem homem e mulher ao mesmo tempo, há os que não querem se classificar em nenhum gênero, e há as desigualdades de gênero que se acentuam pela cor da pele e pela classe social. Ser uma mulher branca é igual a ser uma mulher negra? Ser um homossexual bran- co de classe média é o mesmo que ser um homossexual negro e de origem humilde? Tomemos como exemplo para uma breve reflexão o caso da mulher em linhas gerais. A mulher, durante muito tempo não teve direitos de cidadã, e lhe restava o cuidado do lar, a reprodução e o cuidado com os filhos. Figura 6 – Trabalho doméstico relegado à mulher Fonte: iStock/Getty Images 14 15 Obviamente que estamos falando da mulher com o estereótipo de dona de casa, branca, casada, regente de uma família, educada, prendada etc.; o que diferencia muito das condições, e não poderíamos deixar de fora aqui, da mulher negra, pobre, escrava ou não, trabalhando desde sempre para servir o seu senhor e mais tarde o seu marido ou companheiro. Na maioria das vezes, vivendo em condições precárias, com numerosos filhos e casada informalmente, a mulher negra dividia a casa com outras famílias. A essas mulheres sobravam, ou melhor, não faltavam os trabalhos de lavadeira, cozinheira, empregadas domésticas, quituteiras etc. Figura 7 – Mulher negra e criança trabalhando no século XIX Fonte: historiahoje.com Também, se imaginarmos o panorama da construção da sociedade brasileira, as largas diferenças entre homens e mulheres e seu papel desempenhado socialmente, a mulher índia não era igual ao homem índio, assim como a mulher imigrantenão viveu em condições de igualdade com seus pares. Aliás, longe disso. Figura 8 Fonte: Acervo do Conteudista 15 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Contudo, quando refletimos acerca do trabalho da mulher e o quanto este se diferencia do trabalho masculino, é preciso discutir o seguinte: de que mulher estamos falando? Pois, em cada grupo social, etnia, classe econômica, idade e lugar, o trabalho – visto pelo viés da desigualdade de gênero – deve ser estudado a partir de suas especificidades. Mas, quando surgiu a ideia de distinção entre as raças? É preciso problematizar para compreender melhor o que aqui propomos. A ideia de que tipos humanos distintos poderiam ser divididos em raças provém da Biologia. Especialmente, em 1859, as publicações se baseavam nas teses de Charles Darwin, cuja célebre obra “Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida” (On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), deu origem ao darwinismo social e a transferência das ciências naturais para as ciências humanas deu origem à teoria evolucionista das espécies. As diferenças biotípicas que foram estudadas no gênero animal possibilitariam distinguir raças, nesses termos, mais ou menos aptas à própria sobrevivência. A ideia rácica nasceu estimulada pelo pensamento darwinista de um universo valorativo, distinguindo entre mais ou menos aptas as raças tidas, então, como superiores e inferiores. Feminilidades e Masculinidades no Estudo de Gênero Sendo as feministas as primeiras a se ocuparem com a desigualdade e subordinação das mulheres em relação aos homens, os estudos sociais se iniciam a partir de tais problemáticas. No entanto, com o avanço da própria sociologia e das ciências, bem como as transformações sociais, outras questões relacionadas ao gênero surgiram e estão presentes nas discussões em ciências humanas e sociais nos dias de hoje. Vejamos algumas. Com relação à masculinidade, construiu-se a ideia de que analisá-la seria pouco interessante, uma vez que a experiência de ser homem seria relativamente simples e sem problemas. Os sociólogos se interessaram mais, de início, em estudar a opressão dos homens contra as mulheres. No final dos anos 1960, com os movimentos sociais proliferados pelas chama- das ‘minorias’, outras possibilidades de pensar a questão de gênero foram pro- gressivamente se tornando relevantes. Uma delas seria a masculinidade em crise, quando a mulher se estabelece no mercado de trabalho, e começa a conquistar independência financeira acompanhada de reformulações legislativas que lhe de- ram direitos. 16 17 Outra forma de pensar o gênero é discutir a masculinidade e sua hierarquia, ou seja, ‘haveria homens mais homens que outros?’ A masculinidade homossexual entra em pauta nos anos 1960 e até hoje permanece como foco de estudo e desperta interesse dos pesquisadores. Neste sentido, podemos dizer que existe uma ordem de gênero hierarqui- zada endogenamente, como podemos verificar no esquema apresentado por Anthony Giddens: Masculinidade cúmplice Masculinidades subordinadas Masculinidade homossexual Feminilidades subordinadas Feminilidade enfática Feminilidade Resistente Figura 9 Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Recorreremos a Giddens, pois o sociólogo aponta existirem muitas expressões diferentes de masculinidade e feminilidade. No topo da hierarquia apresentada pelo autor, encontra-se a masculinidade hegemônica. Ou seja, o domínio de um tipo de masculinidade sobre todos os outros gêneros. À masculinidade hegemônica estão vinculados elementos criadores de uma ima- gem de homem que deveria ser reproduzida por todos os outros. A este homem agregam-se características como coragem, virilidade, força, resistência, porte físico, segurança etc. Esse seria o ‘tipo ideal’ de representatividade masculina hegemôni- ca, um exemplo a ser seguido e reproduzido por todos os outros homens. Essa ima- gem a que nos referimos é ainda mais estimulada pelos veículos de comunicação de massa. Já reparou como uma propaganda, por exemplo, veicula um anúncio de um novo modelo de automóvel? Ou uma propaganda de cigarros e bebidas? Em grande parte delas, o ‘tipo ideal’ de homem másculo é apresentado. 17 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Na verdade, no contexto social real, são poucos os homens que se adequam ao ‘tipo ideal’ masculino. Aos que, ainda assim, reproduzem a imagem acima, Giddens chama de masculinidade cúmplice. Ou seja, a herança patriarcal, que os homens reproduzem subjetivamente, reforça a imagem masculina, ainda que em nada pareçam com o que foi descrito acima. Já o homossexual, na hierarquia de gênero, é considerado o oposto do ‘verdadeiro’ homem, pois assume características rejeitadas pela masculinidade hegemônica. A rejeição se dá pelo estigma do afeminado. Todas as formas de feminilidade estão subordinadas à masculinidade hegemônica. Vejamos, a seguir, uma breve síntese do que nos apresenta a hierarquia de Giddens: Importante! Masculinidade hegemônica: modelo de homem considerado ‘tipo ideal’ a ser seguido e admirado por todos: másculo, forte, corajoso, seguro, resistente, viril. Masculinidade cúmplice: é o comportamento masculino que segue as regras sociais de ordem patriarcal e que reproduzem o modelo masculino de ‘tipo ideal’ ainda que estejam longe de apresentar qualquer semelhança a este. Grande parte dos homens, que nada apresentam como características da masculinidade hegemônica. Masculinidade homossexual: é considerado o ‘oposto’ do verdadeiro homem. Estereotipado, é caracterizado como afeminado. Foi durante muito tempo tratado como uma patologia. Feminilidades subordinadas: refere-se ao ‘tipo ideal’ de mulher. Ou seja, passiva, submissa, educada, prendada, reprodutora, etc. Diz respeito à mulher que não se enxerga em estado de igualdade, mas sim inferior ou dependente da figura masculina. Feminilidade enfatizada: refere-se à mulher que caracteriza a feminilidade e apresenta características simbólicas. Exemplo: a mulher sensual e sexy ou a mulher dona de casa. Ambas enfatizam uma imagem de mulher que é amplamente explorada pela mídia e reproduzida socialmente. Feminilidade resistente: diz respeito às mulheres que não se submetem a normas, regras e padrões de comportamento estipuladas pela sociedade e pelos veículos de comunicação e resistem a isso tudo. Os exemplos de mulheres que não submetem seu modelo de vida aos parâmetros pré-estabelecidos são as feministas, lésbicas, bruxas, parteiras, prostitutas, celibatárias, operárias etc. Em Síntese A todas estas questões que aqui explanamos, somam-se diversas outras que deverão despertar a curiosidade do pesquisador como: Há diferenças de gênero na exploração do trabalho infantil? Há diferenças de gênero na prostituição de homens e mulheres? Como se dá a questão de gênero de acordo com crenças e religiões? Como descrever os movimentos populares que lutam pelos direitos iguais independente do sexo? Como a legislação se adapta às necessidades atuais dos grupos que se encontram em estado de vulnerabilidade? 18 19 Por fim, notamos que a abordagem sobre gêneros nos deixa ainda muitas per- guntas sem respostas. Neste sentido, alarga-se o campo de estudos e pesquisas nesta temática que é de fundamental importância e de grande valia para a compre- ensão da sociedade em sua complexidade. Políticas Públicas Voltadas para Questão de Gênero, Raça e Etnia Sem ignorar um passado de lutas sociais, daremos aqui um destaque às políticas públicas e sociais que vem se ampliando a partir dos anos 1980, com o final da ditadura militar no Brasil. Também, com a globalização, internet e redes sociais na década de 1990, a questão do gênero, raça e etnia vem se tornando pauta mundial no que diz respeito aos Direitos humanos e à busca de garantias para inclusão social, equilíbrio nas relaçõesde igualdade e o direito à cidadania. Homofobia: rejeição ou aversão ao homossexual e à homossexualidade. Transgêneros: são pessoas que têm uma identidade de gênero, ou expressão de gênero diferente de seu sexo atribuído. Ex pl or Os movimentos de mulheres, negros, imigrantes e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) no Brasil vêm reivindicando fortemente que os governos elaborem e atuem na construção de políticas públicas tendo como foco o direito pleno à cidadania. Um primeiro desafio a ser enfrentado na implementação de políticas públicas e na organização geral do Estado é interferir na pretensa “neutralidade” deste como propositor e articulador de uma ação política. Ou seja, se cabe ao poder público modificar as desigualdades sociais, é preciso garantir que esta alteração também seja encarada de um ponto de vista de gênero, alterando relações de poder e o acesso a direitos em sua dimensão social e política. Para que efetivamente se concretize essa perspectiva, é fundamental transformar as condições concretas que permitam aos “desprivilegiados” reverter sua condição de desigualdade. No caso da Prefeitura do Município de São Paulo, foram criadas Secretarias que representam avanços aos direitos do cidadão, e estas secretarias foram criadas para trabalhar em conjunto com as demais. Citemos alguns exemplos: · SMPM - Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres; · SMPIR - Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial; · SMDHC - Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania; · SMADS - Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. 19 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Para conhecer as políticas públicas e sociais das secretarias que se ocupam da questão de gênero, raça e etnia, acessar o site da Prefeitura de São Paulo no seguinte link: https://goo.gl/HRMHX4 Ex pl or As diretrizes básicas do Estado brasileiro tem como desafios centrais das políticas públicas e sociais implementar, prioritariamente, propostas que: 1. Possibilitem a ampliação das condições de autonomia pessoal e autos sustentação das mulheres, negros, imigrantes e LGBT de forma a favorecer o rompimento com os tradicionais círculos de dependência e subordinação; 2. Incidam sobre a divisão sexual do trabalho, não apenas do ponto de vista de padrões e valores, mas principalmente ampliando os equipamentos sociais, em particular aqueles que interferem no trabalho doméstico, como os relacionados à educação infantil; 3. Fortaleçam as condições para o exercício dos direitos reprodutivos, saúde e direitos sexuais, possibilitando autonomia e bem estar também neste campo; 4. É preciso, ao mesmo tempo, responder às demandas que pressionam o cotidiano das mulheres inseridas neste contexto de dominação, em particular, diante da violência doméstica e sexual. E, finalmente, é preciso levar em consideração o Estado em sua dimensão educativa. Sua atuação incide sobre valores, comportamentos, relações. Portanto, as ações do governo não podem ser vistas como atos isolados, mas, sim, devem estar coerentes com um projeto geral de mudança, no qual a perspectiva de superação das desigualdades de gênero seja um dos seus componentes indispensáveis (GODINHO, 2004, p. 55-56; In: GODINHO e SILVEIRA, 2004). Se tomarmos como exemplo apenas a questão LGBT no Brasil, verificaremos que as políticas públicas e sociais estão apenas engatinhando, visto que o Brasil é o país com maior número de agressões e atitudes homofóbicas no mundo. A Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal divulga um balanço semestral dos dados do “Disque Direitos Humanos - DISQUE 100”. Vejamos os dados divulgados nos anos de 2014 e 2015: Quadro 1 – LGBT Disque 100 – Tipo de Violação mais recorrente de LGBT Ano Discriminação Violência Psicológica Violência Física Negligência Outras Violações Total 2014 40,32% 36,44% 13,25% 3,69% 6,30% 100% 2015 53,85% 26,42% 11,54% 2,77% 5,43% 100% 2014 864 781 284 79 135 2143 2015 1596 783 342 82 161 2964 Fonte: https://catracalivre.com.br/ 20 21 Para denunciar qualquer tipo de violação aos direitos humanos no Brasil, existe um serviço telefônico de recebimento, encaminhamento e monitoramento de denúncias de violação de direitos humanos. Ex pl or Para se ter uma ideia, de todos os casos de homofobia letal no planeta, em 2012, 44% ocorreram no Brasil. Há um paradoxo em relação aos direitos garantidos pela Constituição Brasileira e como a sociedade vem tratando a diversidade de gênero de forma discriminatória. Em tempos de globalização, ainda temos muito que avançar. Considerações Finais Nesta unidade, procuramos apresentar uma reflexão a respeito das diferenças de gênero desde a questão natural de diferença de sexos, relacionada ao corpo até as construções sociais efêmeras que oferecem amplo campo de estudos para as ciências sociais. Destaquemos aqui que o tema é bastante amplo e poderia se estender a questões relacionadas à prostituição, às cirurgias plásticas, ao trabalho infantil etc. No entanto, objetivou-se construir um pensamento básico, ainda que fundamental, sobre a importância do estudo dos gêneros, raça e etnia para o Serviço Social. 21 UNIDADE Identidade de Gênero, Raça e Etnia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Desigualdades de gênero, raça e etnia – E-book https://goo.gl/lBVU7H A história das mulheres no Brasil – E-book https://goo.gl/lBVU7H Educar meninos e meninas – E-book https://goo.gl/lBVU7H Vídeos Questão de gênero – documentário https://youtu.be/_0fv4VZ5aiM 22 23 Referências BEAUVOIR, S. O segundo sexo: a experiência vivida. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967. CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. GIDDENS, A. Sociologia. Lisboa: Fundação Caulouste Gulbenkian, 2004. GODINHO, T.; SILVEIRA, M. L. da (org.). Políticas públicas e igualdade de gênero. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004, 188 p. (Cadernos da Coordenadoria Especial da Mulher, 8). 23
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