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Prévia do material em texto

Literatura Brasileira
CARLOS ANTÔNIO SIMÕES
O Texto Literário
Introdução ...............................................................3
 I - Figuras e Efeitos de Linguagem ......................5
 II - Estrutura do Texto Narrativo ..........................16
 III - As Funções da Linguagem ............................28
Intertextualidade e Apropriação
As Principais Relações entre Textos .....................41
O Texto Poético...................................................48
Poesia e Metalinguagem.....................................51
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Anotações
Tecnologia ITAPECURSOS
3 cor preto
33333Literatura - M1
O TEXTO LITERÁRIO
A flor e a náusea
“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe bondes, ônibus, rios de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
CARLOS D. DE ANDRADE
Pode-se perceber que estamos diante de uma utilização especial da língua que falamos.
• Um ritmo caracteriza o texto.
• Há uma distribuição das palavras no papel.
• A frase de que falamos anteriormente ganha ambigüidade e extrapola a simples comprovação visual.
• A flor, nesse sentido, não se limita a nenhuma realidade imediata. Deixa de ser um elemento vegetal e
 ganha a condição de símbolo.
Tanto na poesia, quanto na prosa literária, o fenômeno descrito pode acontecer. Vejamos o exemplo:
“Uma flor, o Quincas Borba!”
(MACHADO DE ASSIS)
(...)
Na comunicação cotidiana, pode-se dizer alguma coisa como:
– Uma flor nasceu no chão da minha rua.
Dependendo da circunstância em que é dita esta frase, estabelece-se a comunicação de forma literal.
Entende-se como algo que realmente ocorreu e, automaticamente, imaginamos uma pequena planta, com algumas
folhas verdes e uma flor brotando no meio de pedras do calçamento.
O que nesta frase se comunica permanece sem extrapolação e a
comprovação do fato depende apenas de um olhar.
Nesse caso, para comunicar a informação, o interlocutor selecionou uma série de palavras do idioma que
nos é comum e, de acordo com as regras que presidem o seu funcionamento e que todos conhecemos, as
dispôs numa seqüência. A seleção feita e a sucessão estabelecida conferem à frase uma significação que pode
ser submetida a uma comprovação imediata.
Numa outra situação, vejamos a mesma frase, combinada com outros elementos:
INTRODUÇÃO
Tecnologia ITAPECURSOS
4 cor preto
44444 Literatura - M1
O conteúdo e também o significado são distintos do texto de Drummond, mas, considerando o totalidade
do romance em que ela está inserida, a palavra “flor” se carrega de significado simbólico. Percebe-se uma
carga irônica e, portanto, o significado da palavra é contextual-artístico.
O texto é um sistema semiótico que combina a significação lingüística com a dimensão literária.
(IN - PROENÇA FILHO, DOMÍCIO )
Façamos, agora, um levantamento de características literárias do texto abaixo:
Mulher Proletária
Mulher proletária - única fábrica
que o operário tem,
tu
na superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário,
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário.
LIMA, JORGE de - IN. NOVOS POEMAS
Agora, no quadro abaixo, explique o significado contextual da palavra “fábrica” no texto.
Tecnologia ITAPECURSOS
5 cor preto
55555Literatura - M1
I - FIGURAS E EFEITOS DE LINGUAGEM
Lua cheia
Boião de leite
que a noite leva
com mãos de treva
pra não sei quem beber.
(CASSIANO RICARDO)
E que, embora levado
muito devagarzinho,
vai derramando pingos brancos
pelo caminho...
As palavras são usadas fundamentalmente como
instrumento de comunicação. Se não são sempre o
recurso mais eficaz, pelo menos são o mais imediato
na comunicação entre os homens. Quando as pessoas
perceberam que podiam trocar entre si mensagens,
conteúdos psíquicos, através de palavras, não é difícil
imaginar que tenham passado a trabalhar a qualidade
deste comércio simbólico, visando a impressionar
melhor o receptor da mensagem. O homem descobriu
que não existem conteúdos psíquicos puros, em si
mesmos, mas que sua própria natureza é alterada pela
formalização. As palavras não são uma roupagem dos
conteúdos, mas o seu rosto visível. Figuras e efeitos
de linguagem são modos especiais de empregar e
combinar as palavras, dotando-as de uma nova energia
significativa.
1 - AS PRINCIPAIS FIGURAS DE LINGUAGEM
A linguagem cotidiana é uma entidade viva e, como tudo que é vivo, sofre um desgaste no tempo. A
Metáfora é um recurso permanente de renovação lingüística e consiste em dar a uma coisa o nome que
pertence a outra. Sempre apresenta uma transferência de sentido: aliás, esse é o sentido literal do termo grego
metaphorá. É uma relação de semelhança –analogia – entre dois seres, a qual permite a transferência das
designações. Por exemplo:
O “boião de leite” representa, obviamente, a lua
cheia. A noite, personificada, tem “mãos de treva”. Os
“pingos brancos” são estrelas, sugeridas também, no
plano da escrita, pelas reticências finais.
Para que a metáfora resista com toda sua força
de novidade é preciso que o traço de semelhança não
seja tão óbvio, que exija algum esforço para sua
identificação. Quando João Cabral de Melo Neto
apresenta sua própria poesia como “Uma faca só
lâmina”, ele tenta dizer muitas coisas ao leitor, que
também pode ler além do que o poeta espera. Se o
poeta é um doador de sentido, o leitor o é. Se existe
uma estética de produção de um texto, também existe
uma estética de sua recepção. Posso ler na metáfora
da “faca só lâmina” as seguintes informações:
a) que o poeta evita o excesso de palavras;
b) que a palavra essencial deve ser eficaz, precisa
e penetrante;
c) que sua poesia é um exercício de exatidão,
procurando eliminar o vago e o impreciso.
Quanto mais diversos forem os elementos
sintetizados na metáfora, mais rica ela será. Quanto
mais sutil e menos imediato for o termo de síntese,
mais duradouro será seu sabor de novidade. A
informação nova possibilitada pela metáfora não pode
ser banal (redundante), nem absurda (incompreensível).
Podemos notar que, geralmente, a semelhança
está nas coisas, não nos próprios signos. Tomemos
dois exemplos: o Guto é uma bola e o Guto é um gato.
No primeiro, temos simplesmente uma metáfora para
dizer que o Guto é um rapaz gordo e a forma
arredondada é o traço de união entre o rapaz e a
bola, que permite a metáfora. Já no segundo, a analogia
ultrapassa os objetos e alcança os sons dos próprios
signos. O charme e a beleza não são o único elemento
a aproximar os nomes. Portanto, além da metáfora,
temos a PARONOMÁSIA. A metáfora é uma analogia
de significados e a Paronomásia é uma semelhança
de significantes. Nessas duas figuras, estão as raízes
da poesia. Quando a Paronomásia se dá entre
consoantes, temos a aliteração; quando ocorre entre
vogais denomina-se assonância. Às vezes, as duas
figuras se misturam com muito talento, como nesta
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66666 Literatura - M1
estrofe de Chico Amaral:
“Partindo pra jamais/cana jamaica blues/no seio
dos anseio/de caos, de cais, de luz”. (Inútil blues)
Já a Metonímia apresenta uma relação interna
entreos elementos aproximados e não externa, como
na metáfora. Trata-se, basicamente, de tomar a parte
pelo todo ou vice-versa, através de relações do tipo
causa pelo efeito, continente pelo conteúdo, objeto pelo
material de que é feito, autor pela obra, etc.
Ex.: Sinto na pedra sabão toda a indignação do
Aleijadinho.
Aqui temos um deslocamento: a matéria pela
obra. Alguns profetas de Congonhas do Campo trazem
em seus gestos e expressões o sentimento de
indignação, talvez compartilhado pelo escultor. A pedra
sabão, no caso, é metonímia a profetas esculpidos pelo
Aleijadinho. Anoto outras relações metonímicas:
a) O autor pela obra. Ex.: Ler Guimarães Rosa
é viajar nas margens da alegria.
b) O continente pelo conteúdo. Ex.: As crianças
comeram toda a caixa de bombons.
c) O símbolo pela coisa simbolizada. Ex.: “Sua
vida se resumiu à mais fiel submissão à cruz.”
d) O concreto pelo abstrato. Ex.: “Construíram
suas vidas com muito suor e sangue.”
e) A parte pelo todo. Ex.: “a mão que toca o
violão, se for preciso faz a guerra.”
2 - OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM
I - “Duas coisas prega hoje a Igreja a todos
os mortais: ambas grandes, ambas tristes,
ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de
tal modo certa e evidente, que não é necessário
entendimento para crer: outra de tal maneira
certa e dificultosa, que nenhum entendimento
basta para a alcançar. Uma é presente, outra
futura: mas a futura vêem-nos os olhos; a
presente não a alcança o entendimento. E que
duas coisas enigmáticas são estas? (...) Sois
pó, e em pó vos haveis de converter.”
(PE. ANTÔNIO VIEIRA)
O texto do Pe. Antônio Vieira coloca em evidência aspectos que se opõem; presente e futuro; compreensível.
Esse tipo de construção configura a antítese.
A) Antítese
É o processo de construção em que o autor aproxima e relaciona idéias e/ou termos opostos.
II - “Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
e dor que desatina sem doer.”
(CAMÕES)
No texto de Camões assim como no de Pe. Antônio Vieira, há oposições. Ocorre, porém, que no texto de
Vieira, as oposições não são simultâneas (presente/futuro). No texto de Camões, as oposições são simultâneas.
O Paradoxo ou Oxímoro é um tipo especial de antítese em que há uma fusão de idéias contrárias
gerando um resultado ilógico ou até mesmo absurdo.
B) Símile
Distingue-se da metáfora apenas pela presença da partícula comparativa e difere-se também da comparação
simples por estar no nível exclusivo da conotação.
III - “O amor, poeta, é como a cana azeda.”
(AUGUSTO DOS ANJOS)
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77777Literatura - M1
C) Prosopopéia ou Personificação
IV - “É como se as próprias pororocas, igualmente contaminadas na imensidão amazônica,
vaticinassem feito um João Batista naturalista:
Ai de ti, Sarney, pelo que nos acontecer. Não vês que és o bendito entre o ventre político
dessa terra? O único presidente, em toda a história da humanidade, a ter a oportunidade singular de
poder salvar a última floresta tropical do planeta? Nem plano cruzado, Bresser, muito menos o verão,
nada te fará mais querido e inesquecível, a nível internacional, que salvar a Amazônia.
Os igarapés também concordam:
– Tu serás o primeiro presidente ecologista do planeta se ele sobreviver...
São as vitórias-régias, resplandecendo em beleza que também parecem falar:
– Mesmo que você não salve a Amazônia, já que a própria humanidade, como um todo, é
quem a está matando, lute por ela ao menos. (...)”
(HIRAM FIRMINO)
Neste texto de Hiram Firmino, atribuem-se a seres inanimados características ou ações de seres humanos;
a previsão do futuro feita pelas pororocas, a fala das vitórias-régias.
Prosopopéia ou Personificação: é o expediente em que se atribuem a seres inanimados ou a animais
características ou ações de seres humanos.
Existe um processo inverso à prosopopéia. É quando se atribui ao ser humano características e ações de
animais. Ocorre aí a Zoomorfização.
“Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um
bicho, mas criara raízes e estava plantado.”
(GRACILIANO RAMOS)
D) Sinestesia
V - “Nasce a manhã, a luz tem cheiro...
Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz,
a manhã nasce...
Oh sonora audição colorida do aroma!.”
(ALPHONSUS DE GUIMARAENS)
Percebam nesse excerto de Alphonsus de Guimaraens a fusão de sensações olfativas, auditivas e visuais.
Sinestesia é a combinação de duas ou mais sensações em uma só unidade.
E) Hipérbole
VI - “Rios te correrão dos olhos se chorares.”
(OLAVO BILAC)
“Não me canso de repetir, um milhão de vezes se necessário: não fui eu que fiz aquilo.”
Perceberam nos dois exemplos um exagero de expressão? Esse expediente textual constitui a Hipérbole.
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88888 Literatura - M1
F) Eufemismo
VII - “Fui procurar-te à última morada,
não te encontrei. Apenas encontrei
lousas brancas e pássaros cantando...
Teu espírito, longe, onde não sei,
da obra na eternidade assegurada,
sorri aos amigos, que te estão chorando.”
(MANUEL BANDEIRA)
Ao ler o texto, deparamos com o termo “última morada”, que nos remete à idéia de última casa ou
moradia. Ao continuarmos a leitura assimilando outras idéias, constatamos que o termo “última morada” está
associado à idéia de morte. Estamos diante de uma metáfora para morte. Neste caso específico, o termo “última
morada” suaviza a idéia. Estamos diante de um processo muito freqüente na linguagem em todos os níveis: O
EUFEMISMO.
Eufemismo: é a suavização de uma idéia que, transmitida de outra forma, causaria sensações
desagradáveis.
São também processos eufemísticos vários nomes que, na linguagem popular, se dá a determinadas
doenças, profissões marginais e até mesmo ao demônio.
Naquela casa, há alguém com “a doença”. (referindo-se à lepra ou ao câncer)
Da enxada passou “à vida” quando o marido a abandonou. (referindo-se à prostituição)
VIII - “Minha sogra é inofensiva como uma jararaca e tão discreta que nunca chegou em hora inoportuna,
prefere ficar atrás das paredes ou olhar nos buracos de fechaduras.”
Há no texto duas afirmações: “minha sogra é inofensiva” e “minha sogra é discreta”. No entanto, a
intenção do autor é dizer o contrário.
G) Ironia
É a expressão contrária ao que se pensa realmente. Feita a afirmação de modo que o contrário transpareça.
Obs.: Vimos até agora um grupo de figuras de linguagem que poderemos denominar de figuras
semânticas, aquelas que modificam o sentido usual das palavras ou idéias.
H) Figuras fonéticas:
Aliteração: consiste na repetição de fonemas consonantais numa mesma frase ou verso.
O rato roeu a roupa do rei de Roma.
Percebam na frase a repetição do R inicial de todos os substantivos que a compõem. Busca-se através
da aliteração um efeito sonoro especial.
IX - “Na messe que enlouquece, estremece a quermesse...
O sol, o celestial girassol esmorece..
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos..”
(EUGÊNIO DE CASTRO)
No excerto acima, você perceberá a insistência em determinados sons consonantais como nas sibilantes
(s, c) e do “f” no último verso, o que denota a aliteração. Mas também pode ser percebida a presença de uma
exploração sistemática dos sons vocálicos (e, i, ol), o que configura a Assonância.
Assonância ou Homofonia:
É a ênfase na acentuação tônica de um mesmo som vocálico.
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99999Literatura - M1
1) Reconheça nos exemplos abaixo a metáfora e a metonímia:
a) “Minha vida era um palco iluminado.” _________________________________________________
(SÍLVIO CALDAS)
b) “Eu sem você
sou só desamor
um barco sem mar
um campo sem flor.” ______________________________________________________________
(VINÍCIUS DE MORAES)
c) “Trabalhava ao piano , não só Chopin como ainda estudos de Caerny.” _______________________
(MURILO MENDES)
d) “Não agüento mais esses que mexem com minha cabeça.” _________________________________
e) “A chuvinhaesperneava luz por todos os cantos, trazendo o cheiro do mato.” __________________
f) Pediram a mão da moça em casamento. ________________________________________________
g) “A mão que toca um violão
se for preciso faz a guerra.” ________________________________________________________
(MARCOS VALLE)
h) “Sua boca é um cadeado.” ___________________________________________________________
i) Os cabelos dela são de ouro. ________________________________________________________
2) Nos exemplos de metonímia a seguir, reconheça a relação estabelecida:
Causa pelo Efeito Parte pelo Todo
Símbolo pela Coisa Simbolizada Autor pela Obra
Continente pelo Conteúdo O Lugar pelos Habitantes do Lugar
O Material pelo Objeto Marca pelo Produto, outras.
a) Não deixaram mais uma sombra em plena floresta. _______________________________________
b) Mas o que fazia a cidadezinha perder a cabeça e ficar por trás das portas e janelas era a pesada
pasta que Albernaz trazia. (JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO) ________________________________________
c) Depois de copos e copos bebidos, cambaleou e passou a noite com os gatos do beco. ____________
d) Não se leu Machado de Assis este ano. _________________________________________________
e) O que eu precisava era de fogo e feijão. _________________________________________________
f) “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...” ____________________________________________
g) “Eles aderiram ao ensinamento da cruz.” _______________________________________________
h) O cabeça do grupo tem sido aquele italiano da Calábria. __________________________________
i) Ela já conta com mais de 90 janeiros. __________________________________________________
j) Imagina-se que os países do leste europeu estão trocando a foice e o martelo pelos ensinamentos
do Tio Sam. __________________________________________________________________________
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l) “O todo sem a parte, não é todo;
A parte sem o todo, não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.” __________________________________________________
(GREGÓRIO DE MATOS)
m) “As velas do Mucuripe vão sair para pescar.” ___________________________________________
(RAIMUNDO FAGNER)
n) “E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.” _______________________________________________
(VINÍCIUS DE MORAES)
3) Identifique as figuras de linguagem ou de estilo:
a) “Como você vê, fazer uniformes com a Santista é sopa.”
b) “Tudo é luz, tudo aroma e murmúrio.”
c) “Ensopei de lágrimas ardentes o travesseiro.”
d) “A vida é um grande jogo, o destino, um parceiro terrível.”
e) “A mão que toca o violão se for preciso vai à guerra.”
f) “Via-se aquela luz pálida e macia penetrar a noite.”
g) “Custódio não teve dúvidas; voou à Rua da Assembléia.”
h) “A noite cairá pesada e bruta, suando pingos de estrelas sobre nós.”
i) “Debaixo da ponte, a água suspira, presa...”
j) “E o céu da Grécia, turvo, carregado, rápido o raio rútilo retalha.”
l) “E a tia Gabriela sogra grasnadeira grasnou graves grosas de infâmia.”
m) “Toda guerra finaliza por onde devia ter começado a paz.”
n) “É um solitário andar por entre as gentes.”
o) “Mundo! Que és tu para um coração sem amor?!”
p) “Junto ao leito meus poetas dormem / o Dante, a Bíblia, Shakespeare e Byron.”
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1111111111Literatura - M1
q) “Um beijo seria uma borboleta afogada em mármore.”
r) “E a noite vem, por demais / Erma, úmida e silente.”
s) “Morro pela menina: junto dela / nem ouso respirar de acanhamento.”
t) “E me beija com calma e fundo / até minh’alma se sentir beijada.”
u) “Não brinco de juiz, não me disfarço em réu. Aceito meu inferno, mas falo do meu céu.”
v) “Com esses carcereiros fascistas teria um tratamento maternal.”
x) “Turvo te vejo a ti, tu a mim triste / Claro te vi eu já, tu a mim contente.”
z) “Ondados fios de ouro reluzente,
Que agora da mão bela recolhidos,
Agora sobre as rosas estendidos,
Fazeis que sua graça se acrescente.”
Leia atentamente o texto abaixo e, a seguir, responda às questões propostas.
XXXIII
O cajueiro floresceu quatro vezes depois que
Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil
barco o filho e o cão fiel. A jandaia não quis deixar a
terra onde repousava sua amiga e senhora.
O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava
da terra da pátria. Havia aí a predestinação de uma
raça?
Poti levantava a taba de seus guerreiros na
margem do rio e esperava o irmão que lhe prometera
voltar. Todas as manhãs subia ao morro das areias e
volvia os olhos ao mar, para ver se branqueava ao longe
a vela amiga.
Afinal volta Martim de novo às terras, que foram
de sua felicidade, e são agora de amarga saudade.
Quando seu pé sentiu o calor das brancas areias, em
seu coração derramou-se um fogo que o requeimou:
era o fogo das recordações que ardiam como a centelha
sob as cinzas.
Só aplacou essa chama quando ele tocou a terra,
onde dormia sua esposa; porque nesse instante seu
coração transudou, como o tronco do jataí nos ardentes
calores, e orvalhou sua tristeza de lágrimas abundantes.
Muitos guerreiros de sua raça acompanharam
o chefe branco, para fundar com ele a mairi dos
cristãos. Veio também um sacerdote de sua religião,
de negras vestes, para plantar a cruz na terra selvagem.
Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do
sagrado lenho; não sofria ele que nada mais o
separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um
só deus, como tinham um só coração.
Ele recebeu com o batismo o nome do santo,
cujo era o dia; e o do rei, a quem ia servir, e sobre os
dous o seu, na língua dos novos irmãos. Sua fama
cresceu e ainda hoje é o orgulho da terra, onde ele
primeiro viu a luz.
A mairi que Martim erguera à margem do rio,
nas praias do Ceará, medrou. Germinou a palavra do
Deus verdadeiro na terra selvagem; e o bronze sagrado
ressoou nos vales onde rugia o maracá.
Jacaúna veio habitar nos campos da Poronga
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1212121212 Literatura - M1
para estar perto de seu amigo; Camarão erguera a
taba de seus guerreiros nas margens da Mecejana.
Tempo depois, quando veio Albuquerque, o
grande chefe dos guerreiros brancos, Martim e
Camarão partiam para as margens do Mearim a castigar
o feroz tupinambá e expulsar o branco tapuia.
Era sempre com emoção que o esposo de
Iracema revia as plagas onde fora tão feliz, e as verdes
folhas a cuja sombra dormia a formosa tabajara.
Muitas vezes ia sentar-se naquelas doces areias,
para cismar e acalentar no peito a agra saudade.
A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro;
mas não repetia já o mavioso nome de Iracema.
Tudo passa sobre a terra.
(ALENCAR, JOSÉ MARTINIANO DE. IRACEMA)
Instruções: As questões de 1 a 6 referem-se ao texto transcrito, de José de Alencar. Resolva-as, de acordo
com a orientação específica de cada uma.
1) Pode-se afirmar que predomina no texto a seguinte idéia:
a) O domínio do colonizador que impõe sua cultura ao povo dominado.
b) A saudade que dominou Martim e o fez retornar à terra de seus irmãos.
c) A vitória de Poti, que é homenageado pelos portugueses e recebe o nome de Camarão.
d) O nascimento de Moacir, que é o primeiro fruto da mistura de raças.
e) A decisão de Jacaúna em abandonar sua aldeia para estar perto do amigo.
2) No trecho: “para ver se branqueava ao longe a vela amiga” aparece a seguinte figura de linguagem:
a) Metáfora b) Metonímia c) Antítese d) Sinestesia e) Silepse
3) Foi a seguinte a reação de Martim, ao retornar à terra onde dormia sua esposa:
a) Ficou feliz de ver a alegria que tomou conta de seu filho.
b) Sentiu-se aliviado ao desembarcar e pisar as brancas areias.
c) Alegrou-se de ver que a jandaia, a fiel companheira, guardava a senhora.
d) Partilhou com seus irmãos a grande dor que o martirizava.
e) Chorou copiosamente, exprimindo sua tristeza com lágrimas abundantes.
4) Assinale a únicapassagem transcrita do texto que NÃO traduz dominação do colonizador.
a) “Muitos guerreiros de sua raça acompanharam o chefe branco, para fundar com ele a mairi dos
cristãos.”
b) “Veio também um sacerdote de sua religião, de negras vestes, para plantar a cruz na terra selvagem.”
c) “Ele recebeu com o batismo o nome do santo, cujo era o dia; e o do rei, a quem ia servir, e sobre os
dous o seu, na língua dos novos irmãos.”
d) “Germinou a palavra do Deus verdadeiro na terra selvagem; e o bronze sagrado ressoou nos vales onde
rugia o maracá.”
e) “Era sempre com emoção que o esposo de Iracema revia as plagas onde fora tão feliz, e as verdes
folhas a cuja sombra dormia a formosa tabajara.”
5) Os dois últimos parágrafos deste capítulo exprimem:
a) A tristeza da jandaia pela morte de Iracema, sua senhora.
b) A grande amizade que unia os dois guerreiros de raças diferentes.
c) O fluir implacável do tempo que tudo aniquila.
d) A saudade da esposa que domina o coração de Martim.
e) A nostalgia do colonizador dividido entre a pátria e a região conquistada.
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1313131313Literatura - M1
6) Relacione abaixo alguns elementos presentes no texto de José de Alencar que atestam sua literariedade.
7) O estilo de José de Alencar caracteriza-se por um transbordamento de imagens. Dentre as cinco figuras de
retórica abaixo citadas, assinale aquela que foi indevidamente exemplificada:
a) Sinestesia: “Um triste sorriso pungiu os olhos de Iracema.”
b) Comparação: “A boca do guerreiro pousou na boca mimosa da virgem. Ficaram ambos assim unidos,
como dois frutos gêmeos do araçá, que saíram do seio da mesma flor.”
c) Metáfora: “Tua Mãe também, filho de minha angústia, não beberá em teus lábios o mel de teu sorriso.”
d) Metonímia: “Guerreiro que levas o sono de meus olhos, leva a minha rede também. Quando nela
dormires, falem em tua alma os sonhos de Iracema.”
e) Antropomorfismo: “Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do guerreiro, e ficou ali
trêmula e palpitante como a tímida perdiz, quando o terno companheiro lhe arrufa com o bico a macia
penugem.”
8) É marcante nas obras de José de Alencar, a dimensão que o autor confere à mulher: ela é vista como
parasita do homem. Assim acontece, por exemplo, em Iracema.
Nas alternativas abaixo, assinale a única em que na comparação dos amantes a duas plantas em relação
parasitária, a parasita NÃO é Iracema.
a) “Martim ficou mudo e triste, semelhante ao tronco d’árvore a que o vento arrancou o lindo cipó que o
entrelaçava. A brisa, perpassando, levou um murmúrio: Iracema!
b) “A luz da manhã já a encontra suspensa ao ombro do esposo e sorrindo, como a enrediça, que
entrelaça o tronco robusto e todas as manhãs o coroa de nova grinalda.”
c) “A juriti, quando a árvore seca, foge do ninho em que nasceu. Nunca mais a alegria voltará ao seio de
Iracema; ela vai ficar como o tronco nu, sem ramas nem sombras.”
d) “Martim amparou o corpo trêmulo da virgem: ela reclinou lânguida sobre o peito do guerreiro, como o
tenro pâmparo da baunilha que enlaça o rijo galho do angico.”
e) “Não vêem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai subindo às nuvens?” A seus pés ainda está a
seca raiz da murta frondosa, que todos os invernos se cobria de rama e bagos vermelhos para abraçar o
tronco irmão. Se ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto. Iracema é a folha
escura que faz sombra em tua alma: deve cair, para que a alegria alumie.
9) Assinale a alternativa em que a afirmação a respeito do tempo, na narrativa, está INCORRETA:
a) O longe espacial evoca o longe temporal, como nas histórias de fada, conferindo verossimilhança ao
relato.
b) O tempo histórico transparece na narrativa justificando as ações do “guerreiro branco”.
c) O passar do tempo é medido em sóis e luas, pelo narrador e pelas personagens, tal como na tradição
indígena.
d) No tempo de felicidade para o casal, o narrador, descrevendo muitos pormenores, faz alongar-se a
narrativa, de maneira a torná-lo predominante.
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1414141414 Literatura - M1
1) LEIA, com atenção, o texto abaixo que envolve uma questão lingüística: um desequilíbrio entre significante
e significado.
Chega o menino curioso pra perto do pai, visitando um pomar:
– Pai, que fruta é essa?
– São ameixas-pretas, meu filho.
– Pretas como, meu pai, se elas são brancas?
– Ah, meu filho, elas estão brancas porque ainda são verdes.
(SÍRIO POSSENTI. OS HUMORES DA LÍNGUA. APOSTILADO.)
Entre as afirmações abaixo, apenas uma se aplica ao problema lingüístico presente no texto lido. IDENTIFIQUE-a
e a UTILIZE em um pequeno texto que EXPLIQUE o desencontro entre a fala do pai e do filho.
• Há, para cada significante, um significado correspondente.
• Para um único significante pode haver vários significados.
• O significado de uma palavra pode se modificar de acordo com sua posição na frase.
• A linguagem infantil, no que se refere aos significados, é muito diferente daquela utilizada pelos adultos.
2) LEIA o texto abaixo. Nele aparece a personagem Macabéia, do livro A Hora da Estrela, que é seduzida por
uma palavra.
Havia coisas que não sabia o que significavam. Uma era “efeméride”. E não é que seu Raimundo só
mandava copiar com sua letra linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava o termo efemérides
absolutamente misterioso. Quando o copiava, prestava atenção a cada letra. Glória era estenógrafa e não só
ganhava mais como não parecia se atrapalhar com as palavras difíceis das quais o chefe tanto gostava.
Enquanto isso a mocinha se apaixonava pela palavra efemérides.
(CLARICE LISPECTOR. A HORA DA ESTRELA. RIO DE JANEIRO: FRANCISCO ALVES, 1993. P.56)
Utilizando seus conhecimentos acerca de significante e significado, EXPLIQUE a experiência lingüística
narrada no texto.
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As questões 3 e 4 referem-se ao texto abaixo. Leia-o.
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso,
maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô ...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar
Oô ...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô ...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô ...
Vou mimbora, vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô ...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente.
(IN MANUEL BANDEIRA. SÃO PAULO: ABRIL EDUCAÇÃO, 1980. P.72-3. LITERATURA COMENTADA)
3) DESTAQUE do poema:
a) um pequeno trecho em que o poeta explora exclusivamente o significante.
b) uma estrofe em que o poeta destaca igualmente significante e significado.
4) RELACIONE, nos espaços abaixo, três elementos que comprovem o caráter artístico (função estética) do
poema de Manuel Bandeira.
a) 
b) 
c) 
5) LEIA o texto abaixo e FAÇA o que se pede a seguir.
Demora
O Ministério da Saúde calcula que em janeiro já poderia deflagrar o programa emergencial de saúde
para os ianomâmis, em Rondônia. Até lá os mosquitos transmissores da malária estão proibidos de picar os
índios.
(FOLHA DE S. PAULO, “PAINEL”)
a) DESTAQUE do texto a parte conotativa.
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b) A inclusão dessa parte deixa clara a posição crítica do jornal. EXPLIQUE.
6) LEIA o anúncio publicitário transcrito abaixo e IDENTIFIQUE os elementos da comunicação nele presentes.
Mulher
Tupperware
Mulher Tupperware. [Da sabedoria popular]
S.f. A que tem orgulho de ser mulher. Que é
ousada e audaciosa. Contemporânea.
Vencedora. Que tem objetivos de vida e luta
por eles. Sintonizada com o seu tempo. Que
rejeita imitações. Que aprecia o belo e o prático.
De todas as raças. De todas as cores.
(VEJA, 5/3/97)Seja o(a) primeiro(a) leitor(a) crítico(a) de suas respostas.
Referente
Emissor
Receptor
Mensagem
Código
Canal
II - ESTRUTURA DO TEXTO NARRATIVO
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Antes de qualquer teoria, vejamos uma forma interessante de como a estória pode ler a História.
(UFMG)
A história nos diz, com aquele ar enfarado das
velhas professoras, que o Império romano terminou
com a invasão dos bárbaros, e todos sabem quem
eram os bárbaros: os hunos, os godos, etc. Poucos
sabem que, além dos bárbaros mais conhecidos,
muitas hordas menores percorreram a Europa na
mesma época, espalhando o medo e a destruição, só
mais discretamente. Por exemplo: além dos hunos,
havia os úmidos, que atacavam a pé, pois sempre
que tentavam montar deslizavam do cavalo. Sua tática
preferida era correr atrás das pessoas e encostar nelas
a palma da mão, sempre molhada e pegajosa,
provocando gritos de “lecht” e “lug” em todo o mundo
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civilizado. Até hoje existem descendentes dos úmidos
e é fácil identificá-los pelo aperto de mão, mole e
oleoso, pelo hábito de só falar com a gente com a
cara a centímetros da nossa e de insinuar que são
assim, ó, com o Maluf.
Além de vândalos havia os sândalos, hordas
perfumadas que corriam pela Europa toda aos gritos,
requebrando-se na frente dos legionários e atraindo-
os para o mato, onde eram sepultados sob guirlandas
artisticamente arranjadas e arranhados até a
submissão ou a morte, que muitos preferiam. Os
sândalos invadiam as cidades, esvaziavam seus
depósitos e despejavam os comerciantes de suas
lojas, que redecoravam e reabriam como butiques.
Eram temidos pelos seus beliscões e pelos seus
métodos de tortura que incluíam o corte da cutícula, a
depilação, banhos de lama e dieta natural.
Todos conhecem os burgúndios, mas e os
buruguduns? Estes avançavam em massa, arrasando
tudo no seu caminho, e todos que estivessem sem
crachá, seguindo uma comissão de frente, ao som de
uma poderosa bateria e entoando um “samba” ou
flagelo-enredo, primitivo. Aterrorizaram a Europa
durante anos mas foram derrotados pelo seu próprio
tamanho. As hordas não paravam de crescer, tornando
difícil uma ação conjunta. Certa vez a ala das baianas
estava invadindo Roma mas o final da horda
atravessou e invadiu a Espanha.
Sabe-se também que houve uma dissidência
na horda dos francos, formando-se então a horda dos
falsos, cuja importância na história militar do Ocidente
é inestimável, pois foram os inventores do ataque à
traição. Os falsos, ao contrário dos francos, entravam
correndo nos lugares, fingindo que fugiam de um invasor,
gritavam: “Fechem os portões, rápido!” e só então diziam
“Arrá!” e atacavam a população. Antes de atacar
mandavam um destacamento de relações públicas na
frente para anunciar que traziam confiança e construção,
em vez de medo e destruição, confundindo os
defensores. Os falsos entravam nas casas, demoliam
as pessoas e os animais, estupravam os móveis, depois
encurralavam o dono da casa e lhe vendiam cotas de
um clube de férias. Fictício, claro. Temia-se a aliança
dos falsos com uma subdivisão dos godos. Os godos,
como se sabe, eram divididos em visigodos e ostrogodos
mas havia uma terceira facção, que ora se fazia passar
por visigoda, ora por ostrogoda – a dos engodos. Os
engodos converteram-se ao cristianismo mas acabaram
perseguidos na Europa pelas suas práticas religiosas –
como o “salário de Deus”, que eles instituíram e recolhiam
dos fiéis para manter Deus no cargo, mas nunca
mandavam – e emigraram para o Novo Mundo, onde,
parece, associaram-se aos falsos no ramo da
especulação imobiliária.
Outra facção pouco conhecida dos godos era a
dos gordos, hordas de economistas que invadiam os
países dizendo piadas, dilapidavam o seu tesouro,
acabavam com suas reservas e os entregavam aos
anglos e aos saxões para terminar o serviço.
Havia também os ávaros, que duraram pouco
pois disparavam suas flechas contra o inimigo mas
corriam atrás para pedir que devolvessem a flecha e
eram massacrados. Além dos alamãs havia os
ademãs, hordas de colunistas sociais que ... Mas a
lista é enorme.
IN: VERÍSSIMO, L. F. A VELHINHA DE TAUBATÉ. PORTO
ALEGRE: L & PM, 1983. P. 115-117.
(TEXTO ADAPTADO COM CORTES)
1) O título mais apropriado para o texto é:
a) Bárbaros mais conhecidos.
b) Estilos primitivos de barbárie.
c) Histórias que a História não contou.
d) Maneiras novas de contar a mesma história.
e) Revelações da antigüidade bárbara.
2) Assinale a alternativa que explica corretamente
de que bárbaros o texto trata.
a) Etnias estranhas ao Ocidente branco e
civilizado.
b) Habitantes mal-educados da Europa, desde a
queda do Império Romano.
c) Invasores do espaço alheio, que incomodam
ou lesam as pessoas.
d) Pessoas espertas, que mostram sua
criatividade na vida social.
e) Tribos cruéis e sangüinárias, que devastaram
a Europa e se multiplicaram.
3) A frase final do texto sugere que:
a) a barbárie tem um sentido universal que não
se restringe ao Ocidente.
b) as hordas já existentes dão origem a novas
hordas bárbaras.
c) o escritor não esgotou as possíveis analogias
entre bárbaros.
d) o escritor não tem acesso a todos os dados
sobre bárbaros.
e) os bárbaros não têm limites quando são
imaginários.
4) Todas as hordas se destacam basicamente pelo
ridículo, EXCETO:
a) Ávaros. d) Sândalos.
b) Buruguduns. e) Úmidos.
c) Falsos.
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5) Todas as associações são admitidas pelo texto,
EXCETO:
a) Engodos – aproveitadores.
b) Falsos – estelionatários.
c) Gordos – bajuladores.
d) Sândalos – efeminados.
e) Úmidos – repulsivos.
6) Todas as afirmativas podem ser confirmadas pelo
texto, EXCETO:
a) A derrota dos buruguduns deve-se a seu
crescimento incontrolável.
b) A expansão dos bárbaros, no Ocidente, causa
a queda dos romanos.
c) A história militar do Ocidente incorpora uma
nova estratégia, com a cisão dos francos.
d) A horda dos falsos é constituída por invasores
de domicílios.
e) Os descendentes dos úmidos mantêm
compromissos com Maluf.
7) Em todas as alternativas, o nome do grupo de
bárbaros novos é criado a partir da semelhança com
o nome de um grupo de bárbaros históricos,
EXCETO em:
a) Ademãs. d) Falsos.
b) Buruguduns. e) Gordos.
c) Engodos.
8) Todas as alternativas reproduzem passagens
caracterizadas pelo humor ou irreverência,
EXCETO:
a) “(...) além dos bárbaros mais conhecidos,
muitas hordas menores percorreram a Europa
na mesma época, (..)”
b) “(...) além dos hunos, havia os úmidos, que
atacavam a pé, pois sempre que tentavam
montar deslizavam do cavalo.”
c) “Eram temidos pelos seus beliscões e pelos
seus métodos de tortura, (...)”
d) “(...) a ala das baianas estava invadindo Roma
mas o final da horda atravessou e invadiu a
Espanha.”
e) “(...) como o “salário de Deus”, que eles
instituíram e recolhiam dos fiéis para manter Deus
no cargo, (...)”
9) Todas as afirmativas referem-se aos sândalos,
EXCETO:
a) Eram capazes de atrair, com seus requebros,
os soldados romanos.
b) Eram conhecidos pelo perfume que exalavam.
c) Eram sepultados no mato, sob artísticos
arranjos florais.
d) Eram temidos pelos seus métodos
característicos de tortura.
e) Eram vistos, aos gritos, por toda a Europa.
10) Marque a opção que apresenta a melhor definição para o texto apresentado anteriormente:
a) O texto é uma narrativa que apresenta uma sucessão de fatos reais acontecidos no passado remoto.
b) O texto é uma narrativa que apresenta alguns fatos da antigüidade, relacionados com fatos atuais.
c) O texto é uma narrativa que, apesar de se inspirar em fatos reais, extrapola para a ficção.
d) O texto, com humor, distorce a história real e relaciona nomes e acontecimentos absurdos com a
atualidade brasileira.
e) O texto faz uma crítica bem humorada à atuação sempre violenta de antigos povos bárbaros, narrando
suas ações grotescas.
Comentário: Resposta: letra d.
O texto, uma crônica/narrativa de Luís Fernando Veríssimo, apresenta umasucessão de fatos e nomes
distorcidos, de povos da antigüidade, fazendo analogias com outros nomes e situações do Brasil na
atualidade.
Como típico texto narrativo, esta crônica possui elementos fundamentais em sua construção, tais como:
– Um narrador. – Uma sucessão de fatos.
– Personagens. – Noção de espaço e tempo.
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1 - ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA NARRATIVA
1.1 - PERSONAGEM
de um sistema de signos. As
personagens de um romance, por
exemplo, agem umas sobre as outras e
revelam-se umas pelas outras, podendo
ser avaliadas a partir de sua função na
economia interna da narrativa.
1.2 - ENREDO
O enredo, rigorosamente, é a disposição
artisticamente construída das vivências das
personagens, o arranjo da estória, a articulação artística
da matéria narrada. O que se resume objetivamente é
a fábula, ou seja, a ação desdobrada em peripécias
e é isso que se responde normalmente quando se
1.3 - FOCO NARRATIVO
O foco narrativo não diz respeito ao autor, mas
ao narrador do texto. Vamos distingui-los: aquele
pertence ao mundo real, empírico, enquanto este é um
ser ficcional, uma das máscaras possíveis do autor. O
foco narrativo revelará, então, as relações entre o
narrador, enredo e personagem. Essas relações,
segundo Jean Poluillon, se concretizam em uma visão
por trás, uma visão com e uma visão de fora das
personagens.
Na visão por trás, o narrador tem um domínio
global de todos os acontecimentos, mesmo dos
sentimentos mais íntimos experimentados pelas
personagens. Ele interfere na narrativa comentando
fatos, julgando personagens e até dialogando com o
próprio leitor. É o narrador onisciente típico do ro-
mance do século XIX. Um exemplo de Quincas Borba
de Machado de Assis:
“Rubião estava arrependido, irritado,
A personagem é a sustentação viva da ação, é um ser fictício,
construído de palavras. A raiz está em persona, que remete às idéias
de máscara e pessoa. Mas, enquanto a pessoa é ser vivo, a
personagem é entidade inventada e seu organismo é um tecido verbal.
E. M. Fosters classifica as personagens em planas e
redondas. As planas são destituídas de profundidade e
caracterizadas apenas por um defeito, uma qualidade, etc. As
redondas têm densidade, uma vida interior complexa,
surpreendendo freqüentemente o leitor.
Peri, herói de O Guarani, é uma personagem plana. Sua
ação jamais surpreende, porque só pratica atos generosos e sublimes.
Já Bentinho, personagem de Dom Casmurro, ultrapassa as
convenções e os limites do decoro social e vive seu relativismo
moral, mostrando-se de dentro para fora. É uma personagem
redonda.
Entre as personagens planas, vale a pena anotar os tipos e
as caricaturas. O tipo apresenta exaustivamente uma só característica
sem chegar à deformação, que define a caricatura e lhe confere
uma função satírica.
Em Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antônio
de Almeida, temos vários tipos, como a madrinha, o Major Vidigal, o
barbeiro, etc., todos definidos por um único traço caracterizador
que se constitui em signo da personagem.
Modernamente, a personagem não é vista mais apenas como
uma representação do homem, mas sobretudo como produto da
estrutura da narrativa, como um ser de linguagem, um signo dentro
pede o enredo de um romance, por exemplo.
O enredo pode ser considerado como a própria
estruturação da narrativa em prosa, a maneira como
os fatos narrados são dispostos para o leitor. Portanto,
não pode ser exemplificado em poucas palavras, mas
apenas através de um estudo mais longo.
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2020202020 Literatura - M1
envergonhado. No capítulo X deste livro ficou escrito
que os remorsos deste homem eram fáceis, mas de
pouca dura; faltou explicar a natureza das ações que
os podiam fazer curtos ou compridos.”
Na visão com, temos um narrador em primeira
pessoa, com um ângulo de visão necessariamente
limitado pelo horizonte e pela consciência possível da
personagem escolhida pelo autor para assumir o papel
de narrador. Exemplifico com Paulo Honório, narrador
de São Bernardo, obra-prima de Graciliano Ramos:
“A verdade é que nunca soube quais foram os
meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas
boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que
me deram lucro. E como sempre tive a intenção de
possuir as terras de São Bernardo, considerei legítimas
as ações que me levaram a obtê-las.”
O trecho revela valores morais que nada têm a
ver com os do autor. O maquiavelismo, o pragmatismo
e mesmo a imperícia no domínio da linguagem são
genialmente concretizados na linguagem do narrador.
Às vezes, o autor atribui o papel de narrador a
várias personagens, fazendo com que o foco narrativo
se dilua e que o ponto de vista seja múltiplo. É o caso
do romance Sinos da Agonia de Autran Dourado.
Hoje em dia, o narrador-personagem vai
perdendo seus limites, e sua voz se transforma no
chamado monólogo interior ou fluxo de consciência,
em que as emoções e os pensamentos se sucedem
desordenadamente, como se viessem diretamente do
inconsciente. Um exemplo dessa afirmativa seria A Lua
vem da Ásia de Campos de Carvalho, um monólogo de
um louco que nem ao menos possui um centro de
consciência. Trata-se de uma experiência de tentar dar
uma voz a um narrador alucinadamente descentrado.
Na visão de fora, o texto evolui numa sucessão
de cenas, criando a ilusão de que a história conta-se a
si mesma e de que não existe um narrador. Essa técnica
é mais freqüente em textos curtos.
É o que ocorre no conto Confissão de Luís
Vilela, um diálogo entre um padre e um menino.
O assunto da confissão é o fato de que o garoto
vira sua vizinha nua, o que seria um “pecado pela vista”.
O andamento do diálogo mostra-nos que o padre está
muito interessado nas circunstâncias do “pecado” e
não é difícil perceber que o sacerdote estuda a
possibilidade de pecar também com a jovem, o que se
comprova pelo uso da primeira pessoa do plural na
última fala do padre no texto.
“Pois vamos pedir perdão a Deus e à Virgem
Santíssima pelos pecados cometidos...”.
1.4 - TEMPO
Anotamos dois modos de pensar o tempo: por
um lado, na natureza; por outro, na experiência viva do
homem e na Literatura. No primeiro caso, temos as
categorias de mensuração, como os movimentos do
sol, da lua e da terra, as ampulhetas e os relógios. É o
que chamamos de tempo cronológico. No segundo
caso, o centro de avaliação do tempo é a consciência
do homem, em que “uma hora pode ser esticada
cinqüenta ou cem vezes sua duração no relógio; por
outro lado, uma hora pode ser representada
precisamente por um segundo através do relógio da
mente.”(Virgínia Woolf). Temos, então, o tempo
psicológico.
O tempo narrativo, na Literatura, mescla dados
cronológicos e psicológicos. Funda-se na memória
ficcional. A recordação constitui o início da percepção
do tempo. No presente permaneço inconsciente do
tempo que vai escoando; é o paradoxo da duração
(Bergson): ela dura, como indica a palavra, mas só
depois de ter durado me é dado senti-la; é somente
depois de morto o tempo que chego a perceber que ele
esteve vivo.
É por isso que Riobaldo, narrador de Grande
Sertão: Veredas, afirma que há coisas antigas muito
mais perto da gente que outras de recente data. E
que se “viver é muito perigoso”, narrar também o é
porque “narrar é que é viver mesmo”. A mobilidade
é a melodia da vida interior do homem e a mobilidade
é tempo. O próprio espaço vivido é tempo. Assim, é
possível entender melhor o que diz o amanuense
Belmiro de Cyro dos Anjos: “as coisas não estão no
espaço, estão no tempo.”
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1.5 - ESPAÇO
O espaço não é apenas a imagem visual do que
é verbalizado nas narrativas. Quem pensa que o sertão
de Guimarães Rosa é tão só o espaço geográfico que
compreende o sul da Bahia
e o norte de Minas sabe
apenas parte da verdade. O
já referido Riobaldo vai dizer
que o “sertão é uma espera
enorme”, “é onde o pensa-
mento da gente se forma
mais forte do que o poder
do lugar”.Portanto, o sertão
de Guimarães Rosa é uma
entidade física e psico-
lógica, um ser tão, um tão
ser, que só raríssimas
pessoas conhecem.
O espaço tem uma
função que ultrapassa o
verismo geográfico dentro
de um texto literário. É
possível, por exemplo,
pensar toda a História da Literatura Brasileira apenas
através do tratamento dado ao espaço nos diversos
estilos literários.
Nos textos da colonização, apesar do intenso
descritivismo dos nossos primeiros cronistas, temos um
espaço utópico, onde se cumpririam os sonhos
europeus do disíaco – terras férteis, águas abundantes,
clima ameno, etc.
No Arcadismo, temos um espaço bucólico, arti-
ficial, cenário onde florescia o ideal de vida simples
marcado por pastores, ovelhas e ausência de conflitos.
O Romantismo mostra a natureza como voz de
Deus e reflexo dos estados de alma do artista.
O espaço preferen-
cial do Realismo e do
Naturalismo passa a ser a
cidade, encarada como
agente de perversão moral.
O homem era visto como
produto da raça, do momento
histórico e do meio
ambiente. Inverte-se a rela-
ção homem-espaço do
Romantismo. Agora o ho-
mem, na condição de
produto, reflete o meio.
Modernamente, o
espaço se traduz em
imagens e projeções das
consciências, em paisagens
íntimas cada vez mais
descontínuas e complexas.
Abrem-se para o estudioso do texto literário
amplas possibilidades de análise do espaço. Do ponto
de vista psicológico, o que significa a amplidão (o
mar, o deserto)? O espaço fechado (um quarto, uma
concha, um porão)? Sociologicamente, o que
significa a praça, a rua, o jardim, as diversas partes
da casa, as gavetas, os cofres, os armários, o ninho?
Enfim, o mais importante é analisar como o
espaço se estrutura verbalmente e como ele se
articula com os demais elementos da narrativa.
2 - TIPOS DE NARRATIVA
2.1 - EPOPÉIA
A Epopéia, narrativa em verso, é a forma antiga
mais comum do gênero épico. Epos, em grego, significa
recitação. O narrador deve ser objetivo diante dos fatos
narrados, apresentando-o como acontecimentos vivos
e colocando-se a certa distância deles. O tom é solene,
o ânimo inalterável, os versos longos e eloqüentes. Para
Aristóteles, a Epopéia imita seres superiores em suas
ações de nobreza e coragem. Por isso, as epopéias
exaltam sentimentos coletivos, através dos grandes feitos
de heróis individuais ou de todo um povo.
Há sempre uma ação nuclear ou núcleo
narrativo sustentando a estrutura da Epopéia, dando-
lhe princípio, meio e fim. No caso da Ilíada de Homero,
temos a ira de Aquiles: sua causa, a imolação de
Pátroclo, amigo e confidente de Aquiles; seu
desdobramento, os combates travados diante de Tróia
pelos gregos; sua conseqüência última, a vingança fi-
nal configurada na vitória de Aquiles sobre Heitor. Em
Os Lusíadas, canto de glória do imperialismo lusitano,
a ação nuclear é a descoberta do caminho das Índias, e
a conquista das possessões orientais por Vasco da Gama,
que é apenas uma metonímia do verdadeiro herói, o
povo português (“Eu canto o peito ilustre lusitano”).
A Epopéia é a expressão narrativa de um
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2.2 - ROMANCE
É a espécie narrativa mais ampla, acolhendo
elementos dramáticos e líricos, colocando em crise a
objetividade épica. Wolfgang Kayser diz que à narrativa,
em tom elevado, do mundo total chamamos Epopéia, e
à narrativa do mundo particular, num tom particular e
feita a um leitor particular, denominamos Romance.
Caracteriza-se este por um conjunto de ações,
acontecimentos, paixões desenroladas no tempo,
confrontando personagens imaginárias, em que a
aparência de vida é tão forte que somos levados a
refletir sobre os acontecimentos como se fossem reais.
A estrutura do romance tradicional pode ser
resumida na articulação dos seguintes elementos:
pluralidade dramática (vários núcleos narrativos),
variedade espacial e temporal, preocupação com a
verossimilhança (necessidade de convencer como
verdadeiro). Quase todos os romances brasileiros do
século XIX servem de exemplos dessa estrutura.
O romance moderno, inaugurado por Joyce,
Proust, Gide, Faulkner, etc., começa com a anulação
da ordem cronológica e pela vivência subjetiva do tempo.
No Brasil, Machado de Assis já havia antecipado a noção
de que espaço e tempo são categorias relativas e não
absolutas em nossa consciência, lembrando ao leitor
que este se encontra diante de uma ficção, um mero
ponto de vista sobre as pessoas, os fatos, a sociedade
em geral. No romance moderno quase desaparecem a
causalidade (lei de causa e efeito), a seqüência linear,
com princípio, meio e fim, a personagem de contornos
nítidos, mas afirmam-se o nosense, o primado da
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da moura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Para do mundo a Deus dar parte grande;
universo aristocrático, cujo herói é eminentemente
guerreiro, uma espécie de patrimônio moral da aris-
tocracia, de espelho onde se reconhece a identidade de
certo grupo social. Manter-se fiel a si mesmo era a prin-
cipal virtude (areté) que os gregos exigiam do herói épico.
Quando a Burguesia assume o poder, a narrativa
se prosifica, surge o conceito civilista do herói, as
relações humanas se individualizam, o quotidiano as-
sume o primeiro plano, as aventuras dos heróis militares
cedem lugar à complexidade dos sentimentos íntimos
do homem comum. Estamos diante do chamado “herói
problemático” (Georg Luckács). O que predomina no
mundo burguês são as narrativas em prosa como o
romance, a novela, o conto e a crônica, que são as
formas atuais do gênero épico.
Vamos dar exemplo de um trecho de Os
Lusíadas, de Luís de Camões, relativo à dedicatória:
(endereçada ao Rei D. Sebastião)
(NESSE TRECHO, CAMÕES DIZ QUE D. SEBASTIÃO, JOVEM REI, É O NOBRE DESTINADO A SER O TEMOR DO PODER
GUERREIRO DOS MOUROS; D. SEBASTIÃO É A MARAVILHA DA ÉPOCA, ENVIADO POR DEUS PARA TODO O MUNDO).
ILUSTRAÇÕES: SIDNEY F.
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enunciação (modo de narrar), a eficácia contundente
do humor, o ludismo com os sons, a intertextualidade, a
autonomia maior do texto em relação a elementos
contextuais.
Anatol Rosenfeld faz um paralelo entre as
transformações no romance e na pintura. À abolição
do espaço-ilusão na pintura corresponde à do tempo
cronológico no romance. Deformada a figura na pintura,
2.3 - CONTO
O que caracteriza o conto é a contração, a
economia dos meios narrativos. O contista apresenta
apenas os melhores momentos de determinada matéria.
Evita digressões e dispersões de qualquer natureza.
Seleciona-se um momento privilegiado a ser narrado e
o passado em relação a este momento, quando é
referido, aparece concentrado. O futuro é irrelevante.
Não há como variar muito o espaço, as dimensões
reduzidas do conto não o permitem. Nádia Gotlib lembra
que a novela e o conto terminam num clímax, enquanto,
no romance, o clímax deve encontrar-se em algum lugar
antes do final.
verdadeiramente literária do conto brasileiro. Machado
de Assis é nosso maior contista antes do Modernismo.
Seus diálogos com o leitor, seus comentários críticos
sobre a própria construção do conto em prefácios ou
mesmo no interior dos próprios contos, a quebra do
ilusionismo ao ressaltar o caráter ficcional dos textos
são índices de modernidade.
“O tamanho não é o que faz mal a este gênero
de histórias, é naturalmente a qualidade; mas há sempre
uma qualidade nos contos que os torna superiores aos
grandes romances, se uns e outros são medíocres: é
serem curtos”. (Machado de Assis, Advertência a Várias
Histórias).
É no Modernismo que o conto alcançaria a
oralidade despojada, a agilidade e economia de meios
que não mais poderia, sem, contudo, abrir mão de uma
ação nuclear que traduzisse uma mudança de caráter
moral, de atitude ou de destino das personagens. O
peru de Natal, conto de Mário de Andrade, exemplifica
admiravelmenteestas observações. Trata-se do primeiro
natal de uma família de classe média após a morte do
pai. O narrador, através de sua fala, vai lentamente
afastando a imagem obstruidora do pai morto que
impedia a felicidade gustativa da família diante do
suculento peru. Após um hábil jogo retórico, o narrador
consegue reconciliar a família com o prazer da festa,
mudando o lugar da imagem paterna:
“E todos principiaram muito calmos, falando de
papai. A imagem dele foi diminuindo e virou uma
estrelinha brilhante no céu. Agora todos comiam
o peru com sensualidade, porque papai fora
muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós,
fora um santo que “vocês, meus filhos, nunca
poderão pagar o que devem a seu pai”, um
santo. Papai virara santo, uma contemplação
agradável, uma inestorvável estrelinha no céu”.
Em muitos contos contemporâneos, nota-se uma
completa ausência de ação. O que aparece com mais
freqüência é a narração de um instante de crise, de
tensão ou de percepção repentina e reveladora de algum
fragmenta-se a personagem no romance. A pintura atual
valoriza menos a perspectiva, o romance também já
não se coloca em face do mundo, mas mergulha
profundamente nele. Suprime-se a distância entre o
homem e o mundo. A rapidez, a fragmentação, a
síntese radical da linguagem são, no romance, apenas
a representação visível de um mundo que deixou de
ser explicado e passou a ser uma aventura imprevisível.
O conto foi, primordialmente, uma narrativa oral
de caráter religioso. As lendas e mitos das sociedades
primitivas passavam de geração a geração, através de
narradores muito especiais que detinham o poder da
palavra como uma espécie de amuleto verbal, um meio
para operar magicamente sobre o mundo. Em tempos
mais próximos de nós, havia os serões e as reuniões
em torno de um narrador, senhor do discurso, que
embevecia seu auditório familiar ou clânico com as fan-
tasias do conto popular. Variavam circunstâncias, mas
certas ações permaneciam idênticas: um herói com
objetivo, uma interdição, a vitória sobre o obstáculo.
Ou então: uma desobediência a uma lei, um castigo e
a pedagógica redenção final do protagonista.
No Brasil, o conto, em sua feição literária, surgiu
com o Romantismo. Noite na Taverna (1885) de Álvares
de Azevedo pode ser considerado a primeira expressão
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2.4 - CRÔNICA
A crônica não é tão nova quanto se pode pensar.
Na Idade Média, já temos cronistas em língua
portuguesa, como Rui de Pina e Fernão Lopes. Este é
considerado o pai da prosa portuguesa, e sua crônica
tem inegável valor literário, sem prejudicar em nada
sua probidade de historiador. São suas estas palavras
do prólogo da crônica de D. João I:
“Se outros per ventuira em esta cronica buscam
fremosura e novidade de pallavras, e nom a certidom
das estorias, desprazer lhe há de nosso rrazoado...
antepoemos a simprez verdade, que a
afremosentada falsidade”.
Esse objetivo de ser verdadeiro não impede que
seu estilo seja gracioso e elegante, fazendo-nos
presenciar as cenas, vendo-as como ele próprio as
via, notadamente nas descrições de batalhas ou
movimentos de multidões.
No Brasil, a crônica nasceu com a descoberta
do país. A carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rei D.
Manuel é uma crônica dos acontecimentos verificados
na chegada dos portugueses e no confronto das duas
culturas. Caminha respeitou o princípio básico da
crônica: fidelidade ao circunstancial e à observação
direta dos fatos. Descrevendo os índios, diz o cronista-
mor do reino:
“A feição deles é serem pardos, maneira
d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem
aspecto privilegiado da vida ou do mundo.
“Às vezes tenho a impressão de que escrevo
por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever,
eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora
de escrever que muitas vezes fico consciente de
coisas, das quais, sendo inconsciente, eu não sabia
que sabia”. (Clarice Lispector)
Para Clarice, narrar é conhecer melhor as
coisas, é conhecer-se melhor:
“No momento em que tento falar não só
exprimo o que sinto como o que sinto se transforma
lentamente no que digo. Ou pelo menos o que me faz
agir não é o que eu sinto mas o que eu digo”.
Enfim, o conto vem mudando junto com os
homens. As formas de narrativa curta hoje têm uma
abertura infinita, falando-se até em conto
computadorizado ou em multiconto, como propôs
Renato Pompeu em S. Paulo, em 1982, tentando
concretizar o Videoconto. O homem conserva seu
prazer de narrar e sempre encontra alguém dotado do
prazer de ouvir sua narrativa.
feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem
estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas
vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência
como têm em mostrar o rosto”.
De um salto, vamos ao século XIX, onde
encontramos de novo Machado de Assis (sempre ele!),
registrando em jornais os acontecimentos miúdos,
tratando as coisas graves de maneira leve e de maneira
grave as coisas leves. Aqui temos um dado fundamen-
tal da crônica: é uma espécie narrativa entre o literário
e o jornalístico. Só que, em Machado, o valor literário
engole a circunstância jornalística. Os fatos do tempo
são pretextos para as divagações que escapam à
ordem dos tempos.
O fato de as crônicas aparecerem em páginas
de jornal impõe a Síntese e a Oralidade como pontos
de partida de sua fatura. Essa economia verbal se traduz
na parcimoniosa adjetivação, na dominação das frases
curtas, agilizando o ritmo e atendendo à pressa normal
do leitor de jornais.
Os nossos principais cronistas hoje são
Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes
Campos, Otto Lara Resende e Carlos D. Andrade,
entre outros. Das espécies narrativas é a crônica
que goza de maior aceitação popular pela
simplicidade da linguagem, leveza do assunto e
proximidade do cotidiano.
BIBLIOGRAFIA
BRATT, BETH. A PERSONAGEM., SÃO PAULO, ÁTICA, 1985.
DIMAS, ANTÔNIO. ESPAÇO E ROMANCE. SÃO PAULO. ÁTICA, 1985
GOTLIB, NÁDIA B. TEORIA DO CONTO. SÃO PAULO. ÁTICA, 1985
LEITE, LÍGIA C. M. O FOCO NARRATIVO. SÃO PAULO. ÁTICA, 1985
SÁ, JORGE DE. A CRÔNICA. SÃO PAULO. ÁTICA, 1985
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O Quinze
QUEIRÓZ, RACHEL DE. O QUINZE. 26. ED. RIO DE JANEIRO. JOSÉ OLYMPIO, 1980. P. 27-9.
Após a leitura do texto acima, destacado do romance O Quinze, de Rachel de Queiróz, responda às questões
abaixo.
1) Identifique os elementos abaixo, conforme aparecem no texto.
a) Personagens:
b) Foco narrativo:
c) Elementos (palavras ou expressões) que definam o espaço narrativo:
Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando
de retirantes se arranchara: uma velha, dois homens,
uma mulher nova, algumas crianças.
O sol, no céu, marcava onze horas. Quando
Chico Bento, com seu grupo, apontou na estrada, os
homens esfolavam uma rês e as mulheres faziam ferver
uma lata de querosene cheia de água, abanando o
fogo com um chapéu de palha muito sujo e remendado.
Em toda a extensão da vista, nem uma outra
árvore surgia. Só aquele velho juazeiro, devastado e
espinhento, verdejava a copa hospitaleira na desolação
cor de cinza da paisagem.
Cordulina ofegava de cansaço. A Limpa-Trilho
gania e parava, lambendo os pés queimados.
Os meninos choramingavam, pedindo de comer.
E Chico Bento pensava: – Por que, em menino,
a inquietação, o calor, o cansaço, sempre aparecem
com o nome de fome?
– Mãe, eu queria comer... me dá um taquinho
de rapadura!
– Ai, pedra do diabo! Topada desgraçada! Papai,
vamos comer mais aquele povo, debaixo desse pé de
pau?
O juazeiro era um só. O vaqueiro também se
achou no direito de tomar seu quinhão de abrigo e de
frescura.
E depois de arriar as trouxas e aliviar a burra,
reparou nos vizinhos. A rês estava quase esfolada. A
cabeça inchada não tinha chifres. Só dois ocos podres,
malcheirosos, donde escorria uma água purulenta.
Encostando-se ao tronco, Chico Bento se dirigiu
aos esfoladores:
– De que morreu essa novilha, se não é da
minha conta?
Um dos homens levantou-se, com a faca
escorrendo sangue, as mãos tintas de vermelho,um
fartum sangrento envolvendo-o todo:
– De mal-dos-chifres. Nós já achamos ela
doente. E vamos aproveitar, mode não dar para os
urubus.
Chico Bento cuspiu longe, enojado:
– E vosmecês têm coragem de comer isso? Me
ripuna só de olhar...
O outro explicou calmamente:
– Faz dois dias que a gente não bota um de-
comer de panela na boca...
Chico Bento alargou os braços, num grande
gesto de fraternidade:
– Por isso não! Aí nas cargas eu tenho um resto
de criação salgada que dá para nós. Rebolem essa
porqueira pros urubus, que já é deles! Eu vou lá deixar
um cristão comer bicho podre de mal, tendo um bocado
no meu surrão!
Realmente a vaca já fedia, por causa da doença.
Toda descarnada, formando um grande bloco
sangrento, era uma festa para os urubus vê-la, lá de
cima, lá da frieza mesquinha das nuvens. E para
comemorar o achado executavam no ar grandes rondas
festivas, negrejando as asas pretas em espirais
descendentes.
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d) Elemento que funciona como referencial de tempo:
2) A narrativa aborda um fenômeno natural que determina um outro social. Explique, com suas palavras, esta
afirmação.
3) Explique a relação do espaço com a trajetória dos personagens.
4) As personagens do texto são psicologicamente enfocadas de forma superficial ou profunda? Explique sua
resposta.
5) Destaque do texto alguns elementos que comprovem ser a sua linguagem artisticamente elaborada.
1) LEIA o texto abaixo e FAÇA o que se pede a seguir.
O jardineiro
Só colhia as rosas ao anoitecer porque durante o sono elas não sentiam o aço frio da tesoura. Uma
noite ele sonhou que cortava as hastes de manhã, em pleno sol, as rosas despertas e gritando e sangrando na
altura do corte das cabeças decepadas. Quando ele acordou, viu que estava com as mãos sujas de sangue.
(TELLES, LYGIA FAGUNDES. O JARDINEIRO. IN: A DISCIPLINA DO AMOR. 2 ED. RJ. NOVA FRONTEIRA, 1980, P. 78)
a) RESPONDA:
Nessa pequena narrativa predomina o tempo cronológico ou psicológico? JUSTIFIQUE sua resposta.
b) EXPLIQUE o foco narrativo (posição do narrador).
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2)
TEXTO I
Vou então à janela, está chovendo muito. Por hábito estou procurando na chuva o que em outro
momento me serviria de consolo. Mas não tenho dor a consolar.
Ah, eu sei. Estou agora procurando na chuva uma alegria tão grande que se torne aguda, e que me
ponha em contato com uma agudez que se pareça com a agudez da dor. Mas é inútil a procura. Estou à janela
e só acontece isso: vejo com olhos benéficos a chuva, e a chuva me vê de acordo comigo. Estamos ocupados
ambas em fluir.
(LISPECTOR, CLARICE. A ALEGRIA MANSA. IN: A DESCOBERTA DO MUNDO. RJ. NOVA FRONTEIRA, 1984, P. 131-2)
TEXTO II
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(MANUEL BANDEIRA, POESIA COMPLETA E PROSA)
a) COMPLETE os espaços:
Os dois textos acima podem ser enquadrados em gêneros diferentes. O texto I é predominantemente
 e o texto II é predominantemente .
b) O texto II é conduzido por alguém que olha, relata e exterioriza sua subjetividade. RETIRE do texto um
verso que demonstre a exteriorização.
c) A partir de sua leitura, EXPLIQUE como o “eu-lírico” se manifesta diante do que vê.
d) No texto I, IDENTIFIQUE o elemento que o aproxima do gênero narrativo.
e) Ainda no texto I, APONTE o elemento que o aproxima do gênero lírico.
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Roman Jacobson dividiu e classificou assim as funções da linguagem:
III - AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Segundo Tatiana Slama Casacu, na pág. 20 de seu Language et contexte – “é um conjunto complexo
de processos-resultado de uma certa atividade psíquica profundamente determinada pela vida social que torna
possível a aquisição e o emprego concreto de uma língua qualquer.”
Num conceito mais amplo, Lotman afirma que “por linguagem” entendemos todo sistema de comunicação
que utiliza signos organizados de modo particular.”
Seja no conceito mais estrito ou mais amplo, o processo de comunicação pressupõe fatores e funções
específicas que variam muito em cada situação de uso da linguagem. Em qualquer situação, no entanto, a
comunicação se dá no seguinte esquema:
quem fala
o que / de que /
como se fala quem recebe
a mensagem
receptormensagem
 código
emissor
A FUNÇÃO REFERENCIAL OU
DENOTATIVA
• Trata-se da função que tem como centro de atenção a
mensagem e, portanto visa à informação pura e simples.
Refere-se às coisas do mundo, tende à objetividade e ao
esclarecimento.
• Ocorre quando a linguagem é um meio de exteriorização
psíquica; interjeições são um indício importante dessa
função pois sua essência é a revelação de subjetividade.
É centrada no emissor da mensagem.
• Ocorre quando se verifica na mensagem a tendência para
exercer influência no interlocutor. A linguagem funciona
como apelo. Verbos no imperativo acentuam a presença
dessa função. É centrada no receptor da mensagem.
• Evidencia-se quando, através de signos se “cria”
intencionalmente uma realidade, configurada sobretudo
numa obra literária. Percebe-se a intenção estética e o
trabalho artístico no texto.
• Caracteriza-se quando a mensagem busca estabelecer
ou interromper o que se está comunicando. São exemplos
frases como: “Alô!”, “Estão me entendendo?”, “Certo?”.
Essa função fica circunscrita à linguagem oral ou
eventualmente pode aparecer em textos escritos quando
reproduzem a linguagem oral.
• Ocorre quando o código se volta a tratar do próprio código;
o texto trata do próprio texto. Ex.: “A língua portuguesa é
originária do latim.” Aqui, a língua portuguesa trata dela
própria. A metalinguagem está muito presente nos textos
literários contemporâneos, pois se apresenta cada vez mais
nesses textos a necessidade de se refletir sobre a escrita.
FUNÇÃO EMOTIVA OU
EXPRESSIVA
FUNÇÃO CONATIVA OU
APELATIVA
FUNÇÃO POÉTICA OU ESTÉTICA
FUNÇÃO FÁTICA
B
C
D
E
F FUNÇÃO METALINGÜÍSTICA
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1) Identifique nos textos abaixo a/as função/ões da linguagem predominante/s.
1 - A linguagem em função estética, que caracteriza o texto literário, apresenta, em síntese, os seguintes
traços: plurissignificação, desautomatização, conotação, relevância do plano de expressão e
intangibilidade da organização lingüística. No texto literário, o modo de dizer é tão (ou mais) importante
quanto o que se diz.
2 - “Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e enfim
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubim.
E horas sem conto passo, mudo.
O olhar atento.
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma
Por te seguir, Deusa Serena
Serena Forma!”
3 - “Não há democracia sem imprensa livre. Não há democracia com imprensa livre. Sobre esses dois
princípios, aparentemente contraditórios, ergue-se a relação entre democracia e meios de comunicação.”
(REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, VOLUME 19, Nº 114)
4 - Poética
Não sei palavras dúbias. Meu sermão
Chama ao lobo verdugo e ao cordeiro irmão.
Com duas mãos fraternas, cumplicio
A ilha prometida à proa do navio.
A posse é-me aventura sem sentido.
Só compreendo o pão se dividido.
Não brinco de juiz, não me disfarço em réu.
Aceito meu inferno, mas falo do meu céu.
(PAES, JOSÉ PAULO. UM POR TODOS (POESIA REUNIDA). SÃO PAULO, BRASILIENSE, 1986. P. 9 E 111)
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5 - “Treme o rio a rolar, de vaga em vaga...
Quase noite. Ao sabor do curso lento
Da água, que as margens em redor alaga,
Seguimos. Curva os bambuais o vento.
(OLAVO BILAC)
6 - “Morrer... quando este mundo é um paraíso.
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante éum lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher - camélia pálida.
Que banharam de pranto as alvoradas.
Minh’alma é a borboleta que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...”
7 - “Oh musa do meu fado
Oh minha mãe gentil,
Te deixo consternado,
No primeiro de abril.
Mas não sê tão ingrata,
Não esquece quem te amou.
E em sua densa mata
Se perdeu e se encontrou.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.”
(CHICO BUARQUE)
8 - “Levanta-te! Por que dormes, Senhor? Levanta-te e não repilas para sempre.
Por que voltas a face? Esqueces-te da nossa miséria e da nossa tribulação?
Levanta-te, Senhor, ajuda-nos e redime-nos por amor do teu nome.”
SALMO XLIII, IN (PE. VIEIRA)
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Texto 1
Leia atentamente o poema abaixo da poetisa Cecília Meireles:
Lembrança Rural
Chão verde e mole. Cheiros de relva. Babas de lodo.
A encosta barrenta aceita o frio, toda nua.
Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.
Os passarinhos bebem do céu pingos de chuvas.
Casebres caindo, na erma tarde. Nem existem na história
do mundo. Sentam-se à porta as mães descalças.
É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste.
A roupa da noite esconde tudo, quando passa...
Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas.
Vestidos vermelhos, muito longe, dançam nas cercas.
Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze.
Debaixo da ponte, a água suspira, presa...
Vontade de ficar neste sossego toda a vida:
para andar à toa, falando sozinha,
enquanto as formigas caminham nas árvores...
1) Identifique o referente descrito no poema e ELABORE um pequeno texto dissertativo discorrendo sobre 2
(duas) funções de linguagem predominantes em seus versos.
2) Retire do texto acima:
a) Uma metonímia - (1ª estrofe):
b) Uma metáfora - (3ª estrofe):
c) Uma personificação:
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• Leia atentamente o texto abaixo e, após, resolva as questões a ele referentes.
Agora que expliquei o título, passo a escrever
o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que
me põem a pena na mão.
Vivo só, com um criado. A casa em que
moro é própria; fi-la construir de propósito, levado
de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo,
mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me
reproduzir no Engenho Novo a casa em que me
criei na antiga rua de Matacavalos, dando-lhe o
mesmo aspecto e economia daquela outra, que
desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem
as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio
assobradado, três janelas de frente, varanda ao
fundo, as mesmas alcovas e salas. (...) O mais é
também análogo e parecido. Tenho chacarinha,
flores, legumes, uma casuarinha, um poço e
lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim,
agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste
da vida interior, que é pacata, como a exterior, que
é ruidosa.
O meu fim evidente era atar as duas pontas
da vida e restaurar na velhice a adolescência. Pois,
senhor, não consegui recompor o que foi nem o
que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é
diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um
homem consola-se mais ou menos das pessoas que
perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O
que aqui está é, mal comparando, semelhante à
pintura que se põe na barba e nos cabelos e que
apenas conserva o hábito externo, como se diz nas
autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão
que me desse vinte anos de idade poderia enganar
os estranhos, como todos os documentos falsos,
não a mim. Os amigos que me restam são de data
recente; todos os antigos foram estudar a geologia
dos campos santos. Quanto às amigas, algumas
datam de quinze anos, outras de menos, e quase
crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela
aos outros, mas a língua que falam obriga muita
vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é
cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida
pior: é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida
antiga aparece-me despida de muitos encantos que
lhe achei; mas é também exato que perdeu muito
espinho que a fez modesta, e, de memória,
conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em
verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações
raras. O mais tempo é gasto em hortar, jardinar e
ler; como bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia
acabou por exaurir-me também. Quis variar, e
lembrou-me escrever um livro.
Texto 2
(MACHADO DE ASSIS, J. M. DOM CASMURRO. RIO, SEDEGRA, 1962, P. 14-5)
As questões de 1 a 5 referem-se ao texto.
1) “A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa
imprimi-lo, mas vá lá.” Através do trecho grifado, o narrador expressa o contido em todas as alternativas,
EXCETO:
a) a inibição em exprimir um sentimento secreto.
b) a humilhação em ser obrigado a confessar um capricho.
c) o recato em se expor publicamente.
d) a relutância em expor publicamente um desejo extravagante.
e) a timidez de declarar um sentimento íntimo.
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3333333333Literatura - M1
2) Todos os trechos reforçam a idéia de que a tentativa de reconstrução do passado foi ilusória, EXCETO:
a) “Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, como a exterior,
que é ruidosa.”
b) “Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui.”
c) “Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente.”
d) “ Se só me faltassem os outros, vá; mas falto eu mesmo.”
e) “O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos e que
apenas conserva o hábito externo; o interno não agüenta tinta.”
3) O texto confirma o sentimento experimentado pelo narrador diante das perdas que a vida lhe impôs, em
todas as alternativas, EXCETO em:
a) conformismo: “Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde.”
b) impotência: “(...) mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.”
c) amargura: “Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia
dos campos santos.”
d) ironia: “Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase crêem na
mocidade.”
e) revolta: “Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os
documentos falsos, não a mim.”
4) No penúltimo parágrafo, o narrador compara sua vida anterior, na casa de Matacavalos, com a sua vida
presente, no Engenho Novo. Todas as alternativas contêm conclusões a que o narrador chega diante da
comparaçao, EXCETO:
a) A vida presente não é melhor ou pior que a passada; são apenas diferentes.
b) O envelhecimento é o responsável pela perda do prazer de viver.
c) O passado algumas vezes é revivido com gosto.
d) O tempo é capaz de desmanchar boas e más impressões passadas.
e) O tempo faz as pessoas mais apáticas em relação aos fatos vividos.
5) A expressão sublinhada está interpretada corretamente nos parênteses em todas as alternativas, EXCETO em:
a) Lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei, dando-lhe o mesmo aspecto e
economia daquela outra. (a mesma aparência e pobreza).
b) O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência. (ligar as duas
fases da vida).
c) O que aqui está é semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos e que apenas conserva o
hábito externo; o interno não agüenta tinta. (o interior não se presta a ser renovado).
d) Todos os antigos amigos foram estudar a geologia dos campos santos. (morreram e estão enterrados)
e) A certos respeitos, vida diferente não quer dizer vida pior. (em determinados aspectos).
6) Explique, com suas palavras, como se concretiza, no texto, a função metalingüística.
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34 cor preto
3434343434 Literatura - M1
UFMG - INSTRUÇÃO: Todas as questões baseiam-se no texto abaixo.
 Leia atentamente todo o texto antes de resolvê-las.
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