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A DESIGUALDADE RACIAL PRESENTE NO ÂMBITO DE TRABALHO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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13
A DESIGUALDADE RACIAL PRESENTE NO ÂMBITO DE TRABALHO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Rilary Rabêlo Moura[footnoteRef:1] [1: Acadêmica do Curso de Direito - FAESA] 
RESUMO
O presente artigo propõe analisar a desigualdade vivenciada pelos negros no mercado de trabalho brasileiro no século XXI, primordialmente relatando a diferença entre preconceito, discriminação e racismo, bem como buscar esclarecimento sobre as três concepções do racismo. O problema da pesquisa refere-se à evidente diferença salarial e à exposição a trabalhos nocivos para saúde ou que estejam em péssimas condições existentes na vida de grande parte da população negra. Objetiva-se deixar clara a distinção que a sociedade faz entre a população, baseada na cor da pele dos indivíduos e mostrar que tal grupo minoritário é amparado por lei para obter igualdade. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do referido artigo é a pesquisa bibliográfica, fundamentada em livros, sites confiáveis e artigos publicados. Conclui-se, desse modo, que a empresa que possui diversidade popular em seu meio, se diferencia das outras positivamente.
Palavras-Chave: Minorias; Racismo; Desigualdade; Trabalho; Salário.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the inequality experienced by blacks in the Brazilian labor market in the 21st century, primarily reporting the difference among prejudice, discrimination and racism, as well as seek explanation about the three conceptions of racism. The research problem refers to the evident wage gap and exposure to jobs that are harmful to health or that are in awful conditions in the lives of a large part of the black population. The aim is to make clear the distinction the society makes between the population, based on the skin color of the individuals and to show that such a minority group is supported by law to obtain equality. The methodology used for the development of that article is the bibliographic research, based on books, reliable sites and published articles. It is concluded, therefore, that the company which has popular diversity in its environment, differentiates itself positively from others.
Key-Words: Minorities; Racism; Inequality; Labor; Wage.
INTRODUÇÃO
 No limiar do século XXI o conceito de raça continua sendo um importante fator político, empregado com o intuito de naturalizar desigualdades e legalizar a segregação e o genocídio de equipes populares sociologicamente consideradas minoritárias. Concomitantemente a isso, vale ressaltar que toda sociedade de alguma maneira é desigual. Além disso, o conceito minorias não está relacionado com o número de pessoas, mas com o acesso e dominação. São grupos formados por variáveis números de pessoas, com características étnicas, religiosas, linguísticas e culturais, de gênero, de orientação sexual, econômicas e sociais que possuem um caráter de não dominância na sociedade da qual fazem parte, isto é, o reconhecimento de um grupo social minoritário precisa levar em consideração as características de cada formação social, em virtude da prática do processo discriminatório se vincular à lógica da economia e da política.
 Ademais, o homem enquanto ser biopsicosóciocultural possui múltiplas diferenças, entretanto, nenhuma diferença biológica ou cultural pode justificar o tratamento discriminatório entre as pessoas. Todavia, o negro foi obrigado a competir em uma coletividade notoriamente racista a sua sobrevivência social, cultural e também biológica, na qual os procedimentos de escolha profissional, cultural, política e étnica são produzidas para que ele se mantenha imobilizado nas posições mais oprimidas, exploradas e subalterizadas. Ou seja, o racismo pode ser uma excelente técnica de controle social, dado que o pagamento de salários mais baixos para os trabalhadores pertencentes a grupos minoritários é visto de forma natural. 
 A partir desse problema, e por meio da pesquisa bibliográfica baseada em livros, sites confiáveis e artigos publicados se faz necessário entender imperativamente o que é o racismo e as dificuldades enfrentadas pelos negros no mercado de trabalho, explicitando que estes são amparados por lei para obter igual tratamento perante aos outros seres humanos.
 Ressalta-se ainda que apesar de ser um tema muito comentado, pouco se sabe verdadeiramente sobre o assunto. Outrossim, o artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil promove como direito e garantia fundamental, ao indivíduo e ao coletivo, a igualdade. Portanto, é inconstitucional o pagamento de menores salários fundamentado na cor da pele dos indivíduos. Se tornando necessário compreender melhor essa temática, a fim de desconstruir o racismo presente na sociedade.
1 PRECONCEITO, RACISMO E DISCRIMINAÇÃO
 O preconceito racial é o entendimento baseado em estereótipos sobre os indivíduos pertencentes a um deliberado grupo racializado, e que pode ou não suceder em condutas discriminatórias. E a discriminação racial, por sua vez, é o tratamento desigual a membros de grupos racialmente identificados. Já o racismo é uma forma metódica de discriminação que se baseia na raça, e que se manifesta por meio de atitudes conscientes ou inconscientes que acabam em desvantagens ou privilégios para as pessoas, dependendo do grupo racial ao qual façam parte (MOREIRA, 2017).
 Outrossim, um dos aspectos do racismo é a dominação de um determinado grupo racial sobre outro, fazendo com que a pobreza seja ideologicamente inserida quase que como uma condição “biológica” de negros e indígenas. A qual pode ser uma excelente tecnologia de controle social, porque “naturaliza” o pagamento de salários mais baixos para trabalhadores e trabalhadoras pertencentes a grupos minoritários (ALMEIDA, 2020). Gary Becker diz na obra A economia da discriminação, que racismo é o resultado de um comportamento orientado por informações insuficientes ou por ignorância (BECKER, 1971).
 É interessante destacar que a ideia de racismo reverso é absolutamente sem sentido. Visto que o racismo reverso seria uma espécie de “racismo ao contrário”, isto é, um racismo das minorias direcionado às maiorias. E há um grande equívoco nessa ideia, pois os indivíduos pertencentes aos grupos raciais minoritários podem até ser preconceituosos ou praticar discriminação, entretanto, não podem impor desvantagens sociais a membros de outros grupos majoritários (ALMEIDA, 2020). 
1.1 AS TRÊS CONCEPÇÕES DE RACISMO
 A concepção individualista é gerada como uma espécie de “patologia” ou anormalidade. Sob este aspecto, não haveria sociedades ou instituições racistas, mas indivíduos racistas, atuando de forma individual ou coletivamente. Sob a perspectiva da concepção institucional o racismo não se limita a comportamentos individuais, contudo, é tratado como resultado do funcionamento das instituições, que passam a agir em uma performance que confere, ainda que indiretamente, desvantagens e privilégios com base na raça. As sociedades não são homogêneas, uma vez que são marcadas por conflitos, discordâncias e contradições que não são eliminados, mas incorporados e mantidos sob controle por meios institucionais (IMMERGUT, 2006).
 Os conflitos raciais também são parte das instituições. Assim, a desigualdade racial é uma particularidade da coletividade não apenas por motivo do ato isolado de grupos ou de indivíduos racistas, mas essencialmente porque as instituições são dominadas por certos grupos raciais que utilizam procedimentos institucionais para impor seus interesses políticos e econômicos. Com base nisso é possível afirmar que as instituições são fundamentais para o estabelecimento de uma supremacia branca. Pois agem na elaboração de regras e imposições de padrões sociais, concedendo privilégios a uma determinada etnia, no caso, os brancos (ALMEIDA, 2020). A socióloga inglesa Ruth Frankenberg apud Lourenço Cardoso, em seus estudos, define a branquitude como "um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros e a si mesmo, uma posição de poder, um lugar confortáveldo qual se pode atribuir ao outro aquilo que não se atribui a si mesmo” (FRANKENBERG,1999 apud CARDOSO, 2010)[footnoteRef:2]. [2: FRANKENBERG, 1999, apud CARDOSO, Lourenço. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. SciELO. São Paulo, 09 fev. 2010. Disponível em: < http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1692-715X2010000100028>. Acesso em: 18 mai. 2021.
] 
 Os autores Charles V. Hamilton e Kwame Ture, em sua obra Black Power: Politics of Liberation in America citam um exemplo bastante explicativo de como a concepção institucional do racismo opera de maneira diversa do racismo quando visto sob o prisma individualista:
Quando terroristas brancos bombardeiam uma igreja negra e matam cinco crianças negras, isso é um ato de racismo individual, amplamente deplorado pela maioria dos segmentos da sociedade. Mas quando nessa mesma cidade – Birmingham, Alabama – quinhentos bebês negros morrem a cada ano por causa da falta de comida adequada, abrigos e instalações médicas, e outros milhares e intelectualmente por causa das condições de pobreza e discriminação, na comunidade negra, isso é uma função do racismo institucional. Quando uma família negra se muda para uma casa em um bairro branco e é apedrejada, queimada ou expulsa, eles são vítimas de um ato manifesto de racismo individual que muitas pessoas condenarão – pelo menos em palavras. Mas é o racismo institucional que mantém negros presos em favelas dilapidadas, sujeitas às pressões diárias de exploradores, comerciantes, agiotas e agentes imobiliários discriminatórios (HAMILTON; KWANE, 1992, p. 20).
 Ademais, de acordo com a concepção estrutural a instituição tem sua atuação instruída a uma estrutura social anteriormente existente, o racismo que essa instituição venha a manifestar é também parte dessa mesma estrutura. As instituições são somente a manifestação de uma estrutura social ou de um modo de socialização que possui o racismo como um de seus componentes fundamentais. Dito de modo mais direto: “as instituições são racistas porque a sociedade é racista” (ALMEIDA, 2020, p. 47).
1.2 A DESIGUALDADE ENFRENTADA NO ÂMBITO DE TRABALHO
 No ano de 2018, a população parda e negra representou a maioria da população brasileira (55,8%). Todavia esse número não é refletido no mercado de trabalho, pois 64,2% dos desempregados são pessoas desse referente grupo minoritário. Esse fato se deve porque em diversas situações não é atribuída aos negros a imagem de alguém capacitado (ROUBICEK, 2019).
 Acresce que, muitas empresas solicitam que o indivíduo possua ensino superior para se encaixar na vaga de emprego. Entretanto, no Brasil a universidade não é meramente um ambiente de formação técnica e científica para o trabalho, mas também um espaço de privilégio e destaque social, um lugar que, no imaginário social fabricado pelo racismo, foi feito para pessoas brancas. Além disso, os negros encontram constantemente dificuldades no âmbito profissional e por ter conhecimento das barreiras realmente existente nessa área, especialmente em cursos como medicina, direito e engenharia, pessoas de pele escura sentem-se desestimuladas a estudar e a competir por vagas nessas profissões (ALMEIDA, 2020).
 Em decorrência disso, Edilene Machado, pós-doutora em relações étnicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e doutora em sociologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), afirma que “No mercado de trabalho, a cor da pele ainda é uma barreira quase que intransponível. O currículo é muito bom, mas quando o recrutador vê a pessoa, tudo muda”.[footnoteRef:3] Ou seja, para ela o racismo estrutural presente no Brasil faz com que os negros sejam vistos como menos qualificados para o serviço, mesmo que o currículo mostre o contrário. É necessário destacar, que em 2020, os negros representaram 72,9% dos desocupados no Brasil, de um total de 13,9 milhões de pessoas nessa situação. Conforme o levantamento, 11,9% dos sem ocupação são pretos e 50,1%, pardos. Tais dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (LISBOA, 2021). [3: LISBOA, Ana Paula. Pretos no topo: desemprego recorde entre negros é resultado de racismo. Eu estudante. Brasília, 21 mar. 2021. Disponível em: < https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/trabalho-e-formacao/2021/03/4913182-pretos-no-topo-desemprego-recorde-entre-negros-e-resultado-de-racismo.html>. Acesso em: 18 mai. 2021.] 
 Para Gunnar Myrdal, a conjuntura da população negra poderia ser explicada pelo que denominava de causas cumulativas. Com base nisso, Silvio Almeida, no livro Racismo Estrutural, cita o seguinte exemplo: 
Se pessoas negras são discriminadas no acesso à educação, é provável que tenham dificuldade para prosseguir um trabalho, além de terem menos contato com informações sobre cuidados com a saúde. Consequentemente, dispondo de menor poder aquisitivo e menor informações sobre os cuidados com a saúde, a população negra terá mais dificuldade não apenas para conseguir um trabalho, mas para permanecer nele (ALMEIDA, 2020, p. 157).
 Além disso, a pobreza, a pouca educação formal e a falta de cuidados médicos ajudam a reforçar estereótipos racistas, como a inusitada ideia de que os pretos têm pouca habilidade para trabalhos intelectuais, completando-se assim um ciclo no qual a discriminação gera ainda mais discriminação. Isto é, um racista discrimina um negro porque simplesmente o vê como algo que não lhe dará retorno em rendimentos, ou ainda pior, que resulta em dispêndio (ALMEIDA, 2020). 
 De acordo com o mencionado, Almeida afirma que 
O racista é alguém que, além de propenso à discriminação por questões psicológicas, não passa de um ignorante, uma pessoa mal informada, a qual acredita que a raça interfere na produtividade. O racismo aqui não é apenas algo prejudicial ao capitalista e aos trabalhadores negros, mas todo o capitalismo, visto que o preconceito e a ignorância impedem a otimização da produtividade e do lucro. O racista é aquele que deixa de contratar alguém mais ou igualmente produtivo por ter uma preferência irracional por pessoas que se pareçam física e culturalmente consigo (ALMEIDA, 2020, p. 160).
 Dessa maneira, a discriminação econômica é a reunião de atitudes individuais fundamentadas em preconceitos e em uma falha de mercado no que se refere às informações disponíveis. Com base nesse argumento, é fundamental, que a esfera trabalhista eduque o agente para que ele aprenda que não há distinção na produção de pessoas negras e brancas (ALMEIDA, 2020).
1.3 DESIGUALDADE SALARIAL
 Os indivíduos pertencentes a grupos minoritários recebem menores salários e estão mais sujeitos a trabalhos nocivos para saúde ou que estejam em péssimas condições. A desigualdade pode ser demonstrada a partir dos dados estatísticos e quantificada pela matemática, porém, sua explicação está na compreensão da sociedade e de seus inúmeros conflitos. Pegando o salário como exemplo, pode-se perceber pelos números que alguns indivíduos têm salários menores que outros, mesmo que possuam o mesmo nível de escolaridade, exerçam as mesmas funções e trabalhem por uma carga horária superior. Isto é, de acordo com os dados da PNAD/IBGE divulgados em dezembro de 2016, um trabalhador branco recebeu, em média, 72,5% a mais do que um profissional preto ou pardo. Apesar do tempo, a situação não se alterou muito no contexto social vigente. Além do que, a explicação para esta diferença terá de ir além dos números, cuja importância não se nega (SAKAMOTO, 2019).
 Luana Botelho, analista da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, diz que "O nível de instrução é parte da desigualdade, mas não é todo o problema. A efetiva discriminação no mercado de trabalho também acontece". Porquanto, há algum tempo, um grande número de estudos mostrou que a raça é um indicador decisivo da desigualdade econômica, e que direitossociais e políticas universais de erradicação à pobreza e distribuição de renda que não consideram os fatores de raça/cor, mostram-se pouco eficazes (AMORIM; NEDER, 2019)[footnoteRef:4]. [4: AMORIM, Daniela; NEDER, Vinicius. Negros têm mais dificuldade de obter emprego e recebem até 31% menos que brancos. UOL. Rio de Janeiro, 06 nov. 2019. Disponível em: < https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2019/11/06/negros-tem-mais-dificuldade-de-obter-emprego-e-recebem-ate-31-menos-que-brancos.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 18 mai. 2021.
] 
 Almeida, fala sobre a teoria da discriminação estatística, a qual defende que a desigualdade racial é consequência de decisões tomadas pelos agentes de mercado com base em preconceitos estabelecidos no corpo social. Dessa maneira, as diferenças salariais entre grupos raciais não surgem de uma intenção determinada a discriminar ou pela repulsa as minorias, mas sim da persistência de práticas rotineiras, estatisticamente predominantes no mercado. Isto é, o costume de pagar salários menores para homens e mulheres negros no âmbito de trabalho, é uma decisão “racional” de um empresário que queira ampliar seus lucros, e seguir a tendência do mercado e pagar salários de acordo com a média estabelecida. A deliberação de pagar o mesmo para negros e brancos é “irracional”, uma vez que com isso o empreendedor teria “prejuízo”, levando em consideração a média do mercado. O grande proveito dessa teoria é comprovar que a desigualdade racial e de gênero não é resultado da intencionalidade das pessoas, nem do nível educacional dos agentes econômicos, mas de uma estrutura que funciona com base em perfis raciais e preconceitos institucionalizados (ALMEIDA, 2020).
 Paralelo a isso, pode-se dizer que o racismo regulariza a superexploração do trabalho, que corresponde no pagamento de remuneração abaixo do valor essencial para o ressarcimento da força de trabalho, além de uma maior exploração física da pessoa empregada que não consegue com o salário que recebe sustentar a própria família ou o faz com muita dificuldade, e isso independentemente do número de horas que trabalhe (ALMEIDA, 2020). Inclusive, Alfredo Storck relata um momento que surge em virtude das lutas de trabalhadores por melhores condições de trabalho e pela redução das desigualdades sociais. No qual a massa de desempregados e trabalhadores que se sujeitavam a grandes cargas horárias diárias por baixos salários, em certo período na Europa. Analogamente, pode-se comparar com a realidade vivida pelos negros em território nacional, os quais são descendentes daqueles trabalhadores escravizados do final do século 19, e mesmo com o passar dos anos, essa parcela da população continuou a ser tratada como pessoas de segunda categoria, sofrendo todo tipo de discriminação, recebendo bem menos que os brancos pela mesma função, além de enfrentar piores condições de trabalho (STORCK, 2014).
1.4 ANTIRRACISMO AMPARADO NO DIREITO
 É primordial destacar que a dessemelhança salarial é uma ilicitude, uma vez que infringe o princípio da igualdade formal (BRASIL, 2021). Por conseguinte, seria necessário que as autoridades competentes e do judiciário reprimissem tal conduta ilegalmente discriminatória. Outrossim, é possível observar que existem legislações que tratam da questão racial, entretanto, há muito no que se avançar ainda (ALMEIDA, 2020). 
 A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pela ONU desde 1948, traz premissas essenciais para o respeito à dignidade humana e ao Estado Democrático de Direito. O artigo 1º expõe que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade (DUDH, 2021). Complementando, Immanuel Kant fala que “Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como meio”, isto é, ele concluiu que era em virtude da razão o ser humano ser considerado em fim em si mesmo. Conseguinte o homem não pode servir como meio à consecução de algum objetivo, posto ser dotado de dignidade (KANT, 2004, p. 429).
 Além disso, a Lei nº 7.716/1989, conhecida também como Lei Caó, tipifica cerca de vinte condutas que podem ser consideradas discriminatórias e racistas, além de estabelecer penas para quem incorre nos crimes, e que podem chegar a até cinco anos de reclusão. Essa lei considera crime: recusar ou impedir o acesso de pessoas a um estabelecimento comercial, instituições de ensino, administração pública direta ou indireta por motivo de raça, dentre outras condutas (BRASIL, 2021).
 E a lei 12.288/2010, conhecida como Estatuto da Igualdade Racial, designado a garantir à população negra a consumação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o enfrentamento à discriminação e às demais formas de intolerância étnica (BRASIL, 2021).
 Deve-se abordar, ainda, que existem muitas contradições aos direitos humanos como exemplo o princípio da Isonomia, presente na Constituição Federal Brasileira, o qual garante igualdade a todos perante a lei, porém, isso não acontece na prática. O acesso a direitos básicos como saúde, educação, moradia, alimentação e segurança, não são acessíveis a todos, e sim, aos que possuem melhores condições econômicas. Como também o artigo V da DUDH, onde está escrito que “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Todavia, o artigo mostra contradição, pois no Brasil uma parcela da população passa por situações desumanas, isso por conta da extrema pobreza existente no pais. Esses entre vários outros exemplos que nos mostra que não basta que a lei aparentemente reconheça direitos. O fundamental é como a lei é interpretada e como se fazem valer os direitos na prática (DUDH, 2021)[footnoteRef:5]. [5: DUDH, Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações Unidas. 1948. Disponível em: < http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Declara%C3%A7%C3%A3o-Universal-dos-Direitos-Humanos/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.html>. Acesso em 19 mai. 2021.
] 
 Evidencia-se, portanto, que a diversidade não basta, é preciso igualdade. Não existe, e provavelmente não virá a existir respeito às diferenças em um mundo no qual os indivíduos morrem de fome ou são assassinados pela cor da pele. Para tanto, o direito é o método mais eficaz para de combater o racismo, seja punindo penal e civilmente os racistas, seja elaborando políticas públicas que promovam a igualdade (RODRIGUES, 2005). 
2 MATERIAIS E MÉTODOS
 A metodologia utilizada nessa pesquisa é a bibliográfica, baseada em livros, sites confiáveis e artigos publicados e por sua vez também básica, porque não possui aplicação prática prevista. Além disso, é importante citar que os descritores utilizados para encontrar a bibliografia reportada nessa pesquisa são: desigualdade salarial baseada na raça presente no Brasil, racismo, racismo estrutural e o mercado de trabalho brasileiro.
 Importantemente sonar que Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural publicado em 2020, foi extremamente necessário para a abordagem de tal tema, pois ele é um renomado jurista e ativista em prol da causa negra, o que proporciona entender melhor o tema, visto que se possui o auxílio, a base teórica, do ponto de vista de um doutrinador. Além disso, vale complementar que essa pesquisa compreende fontes bibliográficas de 1971 até 2021.
CONCLUSÃO
 A partir dos fatos e constatações elencados ao longo do presente artigo foi possível demonstrar a desigualdade racial existente no âmbito de trabalho da sociedade brasileira. Em que claramente, nota-se uma série de direitos e garantias violados no tratamento do referido grupo minoritário e, dessa forma, fere os pilares do ordenamento jurídico brasileiro – precipuamente, o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, previsto noartigo 1º da lei maior brasileira, a Constituição Federal de 1988. 
 Outrossim, se faz necessário que a discrepância salarial baseada na cor de pele do indivíduo seja extinta, uma vez que a própria Constituição visa a igualdade como fundamento. Inclusive tal ato pode ser observado como uma pratica de racismo, o qual está previsto no artigo 5º, inciso XLII, da Lei Magna que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. Conseguinte, haja vista que o efetivo cumprimento e rigidez de legislações constituem ações que poderão favorecer a mudança do cenário nacional, uma vez que, a sua inobservância culminou em situações tão injustas que acabaram por se tornar práticas comuns no corpo social.
 Fica claro, portanto, que direitos fundamentais são princípios que devem ser aplicados a cada cidadão do planeta. Ademais, de acordo com José Murilo de Carvalho, em seu livro “Cidadania no Brasil – O longo caminho”, os direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Para tanto, é importante destacar que, as empresas que possuem em seu meio diversidade e o respeito pelas minorias, se diferencia das outras positivamente, uma vez que, a diversidade se traduz em um benefício para toda a sociedade, visto que o convívio de distintas visões de mundo só tende a fortificar a democracia. 
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. 5. ed. São Paulo: Jandaíra, 2020. 256 p.
AMORIM, Daniela; NEDER, Vinicius. Negros têm mais dificuldade de obter emprego e recebem até 31% menos que brancos. UOL. Rio de Janeiro, 06 nov. 2019. Disponível em: < https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2019/11/06/negros-tem-mais-dificuldade-de-obter-emprego-e-recebem-ate-31-menos-que-brancos.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 18 mai. 2021.
BECKER, Gary. Economics of Discrimination. 2. Ed. Chicago: University of Chicago Press, 1971. 178 p.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 19 mai. 2021.
_________. Lei n.º 7. 716, de 5 de janeiro de 1989. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm>. Acesso em: 19 mai. 2021.
_________. Lei n.º 12. 288, de 20 de julho de 2010. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm>. Acesso em: 19 mai. 2021.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O longo caminho. 25. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019. 256 p.
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DUDH, Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações Unidas. 1948. Disponível em: < http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Declara%C3%A7%C3%A3o-Universal-dos-Direitos-Humanos/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.html>. Acesso em 19 mai. 2021.
FRANKENBERG, 1999, apud CARDOSO, Lourenço. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. SciELO. São Paulo, 09 fev. 2010. Disponível em: < http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1692-715X2010000100028>. Acesso em: 18 mai. 2021.
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