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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 2 O QUE É A ADMINISTRAÇÃO............................................................ 4 2.1 Evolução das Teorias administrativas ........................................... 4 2.2 As Teorias Administrativas até a Atualidade ................................. 8 3 EMPRESA ......................................................................................... 17 4 EMPRESAS COM DNA DIFERENCIADO ......................................... 25 5 ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA ................................................. 30 5.1 Uma gestão diferente? ................................................................ 30 5.2 Da heterogestão à autogestão: administração participativa e suas formas............ .................................................................................................... 35 5.3 O trabalhador empoderado ......................................................... 42 6 PROTEÇÃO DO PONTO EMPRESARIAL ........................................ 43 6.1 Ponto empresarial e sua importância .......................................... 44 6.2 A proteção do ponto de negócio como propriedade empresarial 47 6.3 Operações relacionadas ao ponto empresarial (constituição, aquisição e transferência) .................................................................................. 49 7 REFERÊNCIAS ................................................................................. 52 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno, A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 O QUE É A ADMINISTRAÇÃO Neste capítulo, você observará que, nos tempos primórdios, quando o capitalismo começou a ganhar força, identificou-se, na produção, algumas práticas de gestão que se designavam a visualizar a Administração como ciência (DIAS, 2017). No início, as formas de gestão eram baseadas nos acertos, desconsiderando os erros, uma vez que as atividades eram voltadas ao sistema fabril. Posteriormente, ao longo do tempo, dos avanços e das conquistas alcançadas, a gestão foi sendo adotada dentro das organizações. Contudo, até o início do século XX, este ritmo foi lento, considerando a predominância de pequenas organizações. Após este período, podemos afirmar que a história da administração se fez de estudiosos junto à revolução industrial, considerando, em suma, o avanço tecnológico que impulsionou a passagem da produção artesanal para a industrial (DIAS, 2017). 2.1 Evolução das Teorias administrativas Sempre existiu uma forma de administrar, mesmo sendo rudimentar, que contribuiu para o desenvolvimento da Teoria Administrativa de um modo geral, fomentando e alicerçando as conquistas ao longo dos tempos (DIAS, 2017). Um dos primeiros trabalhos sobre a Teoria da Administração foi feito no despertar do século XX, quando os engenheiros desenvolveram trabalhos voltados à Administração. Assim, conhecemos um personagem que podemos denominar de um dos grandes precursores dos estudos da Administração: Frederick Winslow Taylor, que criou a Escola de Administração Científica (1856-1915), a qual propunha a divisão da produtividade, tornando as atividades repetitivas e superficiais. Com isso, obtinha-se um controle do que era realizado, premiando o trabalhador que produzisse mais, em menos tempo. Neste período, os trabalhadores eram 5 substituídos a todo momento, pois o que se esperava era que ele produzisse em grande quantidade e em pouco tempo. Não se exigia que o trabalhador tivesse experiência, desconsiderando investimentos em formação e treinamentos, tornando o processo de demissão mais prática (DIAS, 2017). Observamos que, em um primeiro momento, a Administração era tratada como trabalho racional. Posteriormente, foi estendida aos princípios da Administração, o que considerava a redução de custos, a ociosidade do trabalhador, entre outros fatores. Neste momento, então, fez-se necessário cativar o trabalhador a colaborar com a organização, gerando lucro e beneficiando-o financeiramente. Neste momento, ainda, o trabalhador era associado ao processo de trabalhar somente pelo retorno financeiro (DIAS, 2017). É neste momento que ocorre o primeiro passo da Teoria Administrativa, apesar das dificuldades encontradas no decorrer do processo. Assim, enquanto Taylor desenvolvia a sua Teoria, nos Estados Unidos, sobre a Administração Científica (1903), a Teoria Burocrática (1909) evidenciava a organização, adequando-se exclusivamente à racionalidade e à eficiência. Muitos dos aspectos burocráticos podem ser reconhecidos nos modelos de Taylor e Fayol. Jules Henri Fayol, engenheiro francês, grande precursor da Administração Clássica e autor da Administração Industrial, divulgava o desenvolvimento, abordando a Administração como Gestão Administrativa (DIAS, 2017). A Teoria Burocrática também defende que cada funcionário deve agir dentro da organização, sendo possível que suas emoções possam interferir no desempenho de suas funções. Um modelo de administração o qual administradores resistiram a adotar (DIAS, 2017). Enquanto isso, na França, crescia rapidamente a Teoria Clássica da Administração (1916), liderada por Fayol. Nesse momento, o que se destaca é a realização de tarefas, por parte da Administração Científica, em contrapartida à construção da organização para ser eficiente, por parte da Teoria Clássica (DIAS, 2017). 6 Identificada como um movimento contrário à Teoria Clássica, a Teoria das Relações Humanas (1932) foi criada pelas ideias de Elton Mayo, combatendo o formalismo na Administração (DIAS, 2017). https://www.tiradentesmais.com Já a Teoria Estruturalista (1947) chega objetivando a integração das escolas já mencionadas até o momento, e adota um comportamento moderno às demais escolas quando reconhece que ocorrem conflitos dentro das organizações, e que é preciso rever para o desenvolvimento de ambos (DIAS, 2017). A Teoria dos Sistemas (1951), como o próprio nome já diz, reconhece a organização como um sistema, assim como o meio que esta envolve. Objetiva produzir teorias e formulações que auxiliem na resolução dos problemas da organização. Esse foi o momento em que o trabalhador começou a se preocupar com a eficiência de seu trabalho, identificando, assim, o surgimento da Teoria Neoclássica (1954), considerando vantagens e desvantagens que a descentralização proporciona (DIAS, 2017). Uma gestão de sucesso se concretiza quando gerida democraticamente com diretrizes específicas e identificando as particularidades do grupo. Grupo este 7 estimulado por um líder que, além de estar engajado com os objetivos da gestão, também deve pertencer a este grupo (DIAS, 2017). A Teoria Comportamental (1957)foca no comportamento e em soluções democráticas aos problemas organizacionais. Seguindo este ritmo, o Desenvolvimento Organizacional (1962) surge atuando no desenvolvimento das organizações, com pessoas diferentes trabalhando em prol de um mesmo objetivo (DIAS, 2017). Na Teoria da Contingência (1972), apresenta-se que nada é definitivo, tudo é relativo. Nesta Teoria, também se olha de dentro para fora da organização (DIAS, 2017). A Era Clássica (1900-1950) representava o início da Industrialização, momento de regularidades e certezas, onde não eram previstas mudanças, e sim o foco na industrialização. Já nas Novas Abordagens (1990), apresentam-se novas modalidades de Administração, cada uma com suas contribuições para o desenvolvimento e a evolução da própria Administração (DIAS, 2017). Saiba Mais Nos dias atuais, a Administração é questionada entre ser uma ciência ou uma arte, uma vez que se caracteriza por aspectos da ciência e da arte. Com o estudo detalhado das teorias administrativas ao longo deste capítulo, observaremos as relações dos autores com o perfil do trabalhador. Na administração e em seus processos, as proposições são primárias, mas se completam. Assim, estes processos vão se adaptando, tornando-se vigentes para auxiliar nos dias atuais. Os processos crescem a todo momento, incluindo os níveis hierárquicos da organização, criando um link entre produtividade e capacidade humana. 8 2.2 As Teorias Administrativas até a Atualidade Teoria da Burocracia (1909) Quando pensamos em burocracia, automaticamente nos vem à mente um monte de papéis, não é verdade? E nada mais é do que isso mesmo, papéis e mais papéis. Muitas vezes, questionamo-nos por que nossas vidas são movidas a tanto papel. Isso é mesmo necessário? Mas será que não estamos olhando apenas para o lado negativo da burocracia? (DIAS, 2017). Para o sociólogo Max Weber, a burocracia trata da maneira ideal para se organizar as empresas. Com isso, através de seus estudos, trouxe um método analítico para entender a Administração, com o objetivo de analisar e descrever suas características e auxiliar no andamento da organização. O autor defendia a Administração baseada na racionalidade, no trabalho designado, e na relação entre cargos. Weber sustentava, ainda, que existia uma relação entre cargos, e não uma relação entre pessoas, respeitando a hierarquia dentro das organizações (DIAS, 2017). Todas as organizações obedecem a determinados processos, e estes se definem pelas rotinas realizadas dentro da organização, reconhecendo aspectos que definem o caráter legal, formal e racional (divisão de trabalho). Os setores públicos e burocráticos se encantaram por essa maneira de conduzir este trabalho até os dias atuais, pois ele é feito dentro de processos pré-estabelecidos (DIAS, 2017). Teoria Clássica (1916) Iniciada por Taylor, a Administração Clássica determina a gerência administrativa, nomeando a organização como estrutura formal de gestão, valorizando as tarefas da organização como processo de descobrimento de um 9 novo propósito de gestão. Na Teoria Clássica, podemos citar princípios básicos, como: autoridade e responsabilidade; divisão do trabalho; norteamento, comando; direção; disciplina; interesses gerais; remuneração; hierarquia; centralização; ordem; equidade; estabilidade dos funcionários; iniciativa; espírito de equipe (DIAS, 2017). Teoria Neoclássica (1954) A Teoria Neoclássica surge com os princípios da Administração Clássica, propondo um resgate e modernizando as ideias de seus autores. Porém, com enfoque em atender o cenário, destacando-se pela racionalidade. A Administração Neoclássica defende que as ações devem ser planejadas, controladas e direcionadas. A Teoria retoma alguns princípios do que já existia em administração para um novo processo de abordagem. Como principais características, podemos citar: Prática administrativa: aliar a prática à teoria, fazendo sentido. Postulados clássicos: Teoria Clássica versus Teoria Comportamental. Princípios gerais da Administração: buscar soluções mais práticas. 10 Busca de objetivos e resultados: para que a empresa se torne eficiente (DIAS, 2017). A Teoria Neoclássica aborda o processo administrativo sob dois aspectos principais: enfoque funcional e enfoque processual. Enfoque funcional: os processos são visualizados e estudados de maneira individual, considerando que cada parte deve ser tratada separadamente. Enfoque processual: os processos são visualizados como um todo (DIAS, 2017). Podemos citar três principais características dentro do processo administrativo: continuidade (contínuo); dinamicidade (pode se alterar/ flexível); iteratividade (segue o itinerário) (DIAS, 2017). A Teoria Neoclássica mostra como a Administração pode se equilibrar, utilizando características das demais teorias e revelando-se, portanto, eclética (DIAS, 2017). Teoria das Relações Humanas (1932) Ao contrário da Teoria Burocrática, a Teoria das Relações Humanas foca no desenvolvimento humano de seus funcionários, valorizando o trabalhador como indivíduo e analisando o que ele cultiva dentro do ambiente de trabalho. Nesta Teoria, as atitudes do trabalhador se tornam importantes para que a empresa seja bem-sucedida (DIAS, 2017). 11 https://www.benitopepe.com.br No início do século XX, Elton Mayo identifica que somente retorno financeiro não tornava o trabalhador mais motivado a desenvolver suas funções dentro da organização. O autor identifica, também, que a satisfação e a produção do trabalhador estavam voltadas a fatores sociais. Com experiências empíricas, os psicólogos identificaram que os trabalhadores, ao serem observados, produziam surpreendentemente mais do que o normal (DIAS, 2017). Teoria Comportamental (1937) O autor Abran Maslow, psicólogo humanista do início do século XX, acredita que todo indivíduo tenha potencial e capacidade para se desenvolver. Segundo ele, o ser humano nasce com determinadas necessidades, e estas vão se colocando em destaque ao longo de seu percurso. Maslow ainda nos traz as motivações de um funcionário em uma organização em relação as suas necessidades primárias: 12 estima; relacionamento; segurança; fisiologia (DIAS, 2017). O objetivo da Administração em estudar as necessidades se dá na importância de estudar gestão de pessoas. Com isso, os estudiosos se baseiam na Teoria de Maslow, que oferece subsídios para interpretar o que é importante para as pessoas (DIAS, 2017). Em uma organização, o trabalhador busca, em primeiro lugar, satisfazer suas necessidades fisiológicas e assim sucessivamente, como determina a Pirâmide. O ponto crucial para um gestor é descobrir em que estágio da Pirâmide o trabalhador se encontra para que ele adote técnicas a fim de que possam suprir essas necessidades e fazer com que o funcionário se sinta motivado para o trabalho desenvolvido. Maslow aborda, também, que estas necessidades são sequenciais, ou seja, o indivíduo somente vai suprir uma determinada necessidade se a anterior soas. Necessidade de segurança: necessidade quanto a Social Fisiológica 13 estiver sanada. O que acontece, muitas vezes, é que o trabalhador ainda está em um estágio não suprido, e pode se frustrar se a empresa não conseguir identificar isso. Enquanto gestora, cabe à empresa adotar técnicas gerenciais que possam identificar em que estágio o colaborador se encontra para que as necessidades da pirâmide sejam todas supridas (DIAS, 2017). A Pirâmide de Maslow foi criada para as pessoas de forma geral, e não para as organizações. Entretanto, as organizaçõesa utilizam como uma ferramenta colaborativa de gestão para auxiliar no desenvolvimento de seus colaboradores (DIAS, 2017). Teoria da Contingência (1972) Podemos denominar contingência como algo incerto. São elementos que ocorrem no ambiente em relação aos quais, muitas vezes, não estamos preparados. O ambiente interfere na estrutura das organizações, embora cada organização tenha uma estrutura particular de ação. A Teoria da Contingência afirma que tudo é relativo e que a organização deve estar apta e/ou ter um plano para agir quando estas interferências vierem à tona. Uma das premissas das organizações diz que não há um único jeito de organizar, pois este se dá pelas condições ditadas fora (ambiente externo). As contingências podem ser consideradas como oportunidades de mudanças ou ameaças que venham a influenciar o ambiente interno da organização (DIAS, 2017). A Teoria Contingencial surgiu a partir da necessidade de as organizações se adaptarem às situações externas, influenciando o ambiente interno. Existem quatro tipos de ambientes: Homogêneo: apresenta adesão, entre outros elementos. Heterogêneo: constitui-se de elementos variados. Estável: invariável, firme, seguro. Instável: não tem estabilidade; varia, muda. Sendo as organizações de natureza sistêmica, elas estão todas ligadas ao ambiente externo, assim se dando a importância da Teoria Contingencial (DIAS, 2017). 14 Fique Atento! Foi no início do século XX que o autor Abran Maslow, a partir de seus estudos, identificou que os trabalhadores tinham objetivos e necessidades que os faziam agregar valor à organização. Contudo, nos dias atuais, acompanhamos diversas organizações com dificuldade de encontrar as verdadeiras necessidades e objetivos na relação profissional vs. pessoal. Cabe a nós, administradores, interferirmos, auxiliando e guiando na busca do alcance destas realizações. Eficiência e efetividade Eficiência e efetividade são consideradas palavras sinônimas por muitas pessoas, porém existem diferenças sutis entre elas. Enquanto a eficiência define a obtenção de resultados através das circunstâncias do meio, a efetividade é perceptível através da percepção do cliente ao meio (DIAS, 2017). Antonio Cesar Amaru Maximiano é professor e pesquisador do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, e autor de grandes obras sobre a Administração, tais como: Introdução a Administração e Teoria Geral da Administração. Ele nos diz que eficiência é a qualidade do trabalho executado com metas planejadas, uma característica positiva no comportamento humano, principalmente de gestores, pois estes desempenham papéis de liderança e estão suscetíveis a todo momento a desenvolver atividades de eficiência (MAXIMIANO, 2017). Ressaltamos, porém, que há outras qualidades para que um profissional seja eficaz, tais como: pro atividade, produtividade, liderança, entre outras, mas todas estão atreladas à eficiência. Para Maximiano (2017), a efetividade se caracteriza pelo que é real, estado efetivo, legítimo. Podemos dizer, também, que é aquilo que podemos verificar, que existe e não há como desconsiderarmos. A efetividade na administração está 15 atrelada àquilo que a organização é capaz de atingir através de seus planos e de suas metas, concretizando seus objetivos. No processo administrativo, a efetividade está acentuada no que cada uma das partes envolvidas entrega e na finalidade do que estas deveriam entregar, o valor desta entrega (DIAS, 2017). Quando falamos em uma pessoa, máquina ou qualquer elemento obtendo certo resultado de uma determinada ação, estamos falando de efetividade, um processo de aperfeiçoamento na busca dos melhores resultados a serem atingidos. Como estamos dentro de um meio organizacional, é a busca constante por qualidade no desenvolvimento das ações que esta resulta (DIAS, 2017). A eficiência se acentua normalmente nas áreas onde as ações necessitam dar resultados específicos e controlados, como, por exemplo, no caso áreas empresariais. Com isso, a efetividade da ação busca primeiramente ter acesso aos recursos e procedimentos apropriados que tragam os melhores resultados para a atividade desenvolvida. Nestas áreas, concretizar resultados é crucial, pois isto garante o seu sucesso no negócio (DIAS, 2017). Segundo Maximiano (2017), para que um trabalhador desenvolva, com motivação, seu trabalho, independentemente do grau hierárquico que este ocupe dentro da organização, é necessário considerarmos os três “e’s”: eficiência, efetividade e eficácia. Em um primeiro momento, podemos pensar que já sabemos o significado destas três palavras, porém muitos misturam os conceitos e podem interpretar a eficiência, a eficácia e a efetividade em um mesmo bloco de significados. Por exemplo, ao falarmos de indicadores de eficiência, estamos nos referindo ao modo, à forma que utilizamos mínimos recursos para atingirmos os objetivos, fazendo as coisas certas. Ao concluirmos que atingimos estes objetivos, dizemos que tivemos eficiência na realização desta atividade (DIAS, 2017). Ao falarmos de eficácia, não nos referimos à utilização de recursos, e sim ao fato de atingir o resultado que havia se proposto, independente da qualidade. Quanto mais eficaz, melhor o resultado, denotando a questão de tempo, qualidade 16 e avaliação desta atividade. O que importa, na eficácia, é realizar a tarefa com o melhor esforço possível. (DIAS, 2017). Na efetividade, o conceito é macro, pois nele é descrito se, de alguma forma, o seu objetivo interferiu positivamente, mudando o meio, e qual o seu impacto. Tem a ver com qualidade e satisfação. Está ligado ao que aconteceu depois do processo e em como podemos medir e analisar este processo no ambiente externo (DIAS, 2017). Exemplo É possível ter eficiência sem ter eficácia? Um exemplo: a construção de um hospital no tempo previsto com a verba destinada, mas este nunca foi inaugurado. A atividade foi realizada com eficiência, mas não teve efetividade. Saiba Mais! Eficiência: está relacionada à atividade meio. Refere-se ao caminho, à metodologia, o como fazer a atividade. Está voltada aos métodos da Teoria Clássica. Eficácia: está relacionada à atividade fim. Totalmente voltada ao produto, ao resultado. Executar uma atividade independente da qualidade e no menor tempo possível. Ao atingir o objetivo, estamos sendo eficazes. Evidencia o cumprimento da tarefa designada. Efetividade: está relacionada ao valor agregado. Percorre do alcance da eficiência e da eficácia simultaneamente, trata-se da maneira generalizada a qual a atividade impactou o meio, de que forma transformou o ambiente externo. 17 3 EMPRESA Pessoa jurídica * pessoa física - Uma empresa é sempre maior que seu dono e, apesar da maioria de suas características ser geralmente compatível (a empresa herda atributos do fundador), pessoa física e jurídica são naturezas distintas, inclusive com ordens de grandeza diferentes. Mas há casos em que a empresa é composta apenas de uma pessoa. Então, a pergunta que se faz para identificar o caso corretamente é: "Se daqui a alguns anos o dono morrer, a empresa acaba?" Não -Ela é uma empresa de fato, isto é, vai crescer, agregar novos funcionários e seu dono inclusive vai poder tirar férias. Nesse caso, devemos definir a identidade da empresa (seu DNA) para nortear todas as suas açöes e comunicações. E um caso desafiador, mas perfeitamente possível de ser resolvido, separando claramente o que é a empresa e o que é a pessoa (FASCIONI, 2011). https://www.dataa.com.br Sim — Então, temos uma 'teupresa". Não há nenhum problema nisso. Minha consultoria, por exemplo, encontra-se nesse caso. Ela existe porque preciso 18 trabalhar dentrodas regras do Fisco, mas não tem identidade própria. Todo o trabalho de divulgação é feito usando meu nome. É o caso de muitos profissionais liberais. Para haver coerência entre as ações e as comunicações da empresa, temos que definir a identidade profissional de seu fundador (FASCIONI, 2011). RG, por favor- O conjunto de atributos que torna uma empresa única, diferente das demais, é a sua identidade corporativa. Esses atributos podem ser de dois tipos: essenciais ou acidentais O primeiro define a identidade — sem ele, a empresa não seria quem é por exemplo: se ela é informal e amigável, uma atitude sisuda a tornaria irreconhecível, descaracterizando-a. Já os atributos acidentais ajudam a descrevê-la num determinado momento, porém mudam ao longo da história sem comprometer sua identidade (FASCIONI, 2011). Assim, a empresa pode estar insegura com o lançamento de um produto, mas, tão logo a situação se resolva, esse atributo mudará. Os atributos acidentais ajudam a delinear a empresa e a compreender seu momento atual, mas não são sua essência. A identidade corporativa pode ser entendida como o DNA da organização, o que ela realmente é. Esse último ponto é muito importante: identidade não é o que a empresa gostaria de ser nem o que o mercado gostaria que ela fosse, não é o que seu dono imagina que ela seja nem o que ela almeja ser um dia — identidade é o que a empresa de fato é (FASCIONI, 2011). E há outro conceito que é comumente confundido com identidade, por isso é importante destacá-lo: a imagem corporativa. Ela é bem diversa da identidade; se esta é o que a empresa é, aquela é o que ela parece ser, e nem sempre essas duas coisas são compatíveis. Sobre a imagem, não se tem controle, apenas influência. Isso acontece porque ela está na cabeça das pessoas (FASCIONI, 2011). Uma boa metáfora é compará-la a uma tela em branco, na qual as pessoas vão montando a imagem como se fosse um jogo de quebracabeças. Quem fornece as peças é a própria empresa, com suas ações e comunicações. Assim, quando um estagiário conta para seus amigos sobre fatos ocorridos no escritório, ele está espalhando peças. Um telefonema bem atendido, um anúncio de revista, uma reportagem, um veículo da frota desrespeitando um sinal de trânsito, um cartão de 19 visitas, etc., tudo isso são peças que as pessoas vão reunindo para montar a imagem (FASCIONI, 2011). Com frequência, os gestores, mesmo com a melhor das intenções, acabam enfatizando atributos que não refletem fielmente a essência da organização. O equilíbrio entre o que a empresa é e o que parece ser fica prejudicado: em um momento, a comunicação enfatiza um aspecto e, em outro, uma ação o contradiz. O mercado, os fornecedores, os colaboradores e até os acionistas percebem, mesmo que inconscientemente, essas incoerências (FASCIONI, 2011). Espelho, espelho meu -A importância de se definir bem a identidade de uma empresa começa pela necessidade de autoconhecimento. Sem saber quem é realmente, como pode fazer seu planejamento estratégico, definir missão, visão, valores? Como pode elaborar um plano de comunicação se ele corre o risco de comunicar algo que contradiz a essência da empresa? (FASCIONI, 2011). O que se vê por aí são declarações de missão cujo significado é completamente desconhecido dos próprios colaboradores, valores que geralmente refletem apenas "o que o mercado quer" sem nenhuma relação com a real cultura da empresa. Mais que desperdício de recursos, isso é dinheiro sendo investido para prejudicar a própria imagem (FASCIONI, 2011). Se a empresa não se conhece ou assume como sua identidade atributos desejados, mas não verdadeiros, ela distribui peças ao mercado que não se encaixam. A dissonância é percebida de maneira consciente ou não, porém nunca ignorada. Os atributos da identidade de uma empresa não são uma lista de desejos (FASCIONI, 2011). Vale ressaltar que, ao se estudar a identidade corporativa de uma organização (suas características), não se faz juízo de valor. A questão não é a empresa ter ou não uma boa identidade. Suas características não são intrinsecamente boas ou más — são apenas características. O conhecimento delas e o contexto em que serão empregadas e de que maneira isso será feito é que vai resultar num impacto positivo ou negativo (FASCIONI, 2011). Muita calma nessa hora - Investir em conhecer o DNA é, na verdade, bastante rápido e com aplicações imediatas. Desenvolvi um método em que a 20 empresa conhece seus atributos essenciais em menos de um mês. Com o relatório de identidade em mãos, seu departamento de marketing pode utilizá-lo como referência para a elaboração de suas estratégias, assim como o pessoal do RH pode ter mais claro o perfil de contratação, o departamento de desenvolvimento de produtos ter uma clareza maior com relação às diretrizes e por aí vai (FASCIONI, 2011). Existem muitas maneiras de se obter o DNA de uma organização. A mais comum, barata e utilizada é definir a identidade por meio de entrevistas com os gestores da empresa. Por uma questão dc custos, praticidade e até de conveniência diplomática, designers, publicitários e profissionais de marketing acabam optando pela entrevista pura e simples com os contratantes (em geral, os gestores da empresa) na construção do briefing. Alguns completam o trabalho de determinação da identidade estudando os materiais que a empresa fornece. De todo modo, as distorções são importantes demais para serem ignoradas (FASCIONI, 2011). Isso acontece principalmente devido à confusão nos conceitos (inclusive, advindos da formação acadêmica) e acaba induzindo o entrevistado a manifestar seus desejos, e não a real identidade da empresa. Por melhor elaboradas que sejam essas entrevistas, elas possuem algumas desvantagens: Os gestores possuem uma visão idealizada da empresa, pois estão consciente ou inconscientemente treinados para mostrar somente o melhor lado. Muitas vezes, eles confundem o que a empresa realmente é com aquilo que eles gostariam que ela fosse. Os gestores possuem uma visão parcial da empresa, porque conseguem contemplá-la apenas sob um ângulo determinado (o deles). Os gestores acreditam que há respostas certas para as perguntas que estão sendo feitas e se preocupam em acertá-las. Assim, mesmo que a empresa nunca tenha pensado em sustentabilidade ambiental, com toda certeza os gestores irão afirmar que esse é um dos valores mais importantes da organização (a convicção da resposta dependerá do artigo que eles tenham lido em alguma revista de negócios na última viagem). Por esse caminho, é fácil 21 descobrir que todas as empresas são inovadoras, que as pessoas são o que realmente importa, que seus produtos são focados nos clientes, que estão sempre em busca de sinergia e quebra de paradigmas (além de agregar valor), blá-blá- blá. (FASCIONI, 2011). Como geralmente o trabalho é feito quando se precisa elaborar ou redesenhar a marca gráfica da empresa, estudos adicionais focados no aspecto gráfico também são comumente realizados. Assim, alguns profissionais buscam encontrar características convergentes ou divergentes nas marcas dos concorrentes de maneira que o foco fica muito mais fora que dentro da organização (FASCIONI, 2011). Há empresas que baseiam sua conceituação em pesquisas de imagem, confundindo completamente as coisas. Como se pode fundamentar a identidade de uma organização se baseando unicamente no que ela parece ser? (FASCIONI, 2011). Outra confusão que acontece é focar a identidade na marca. Como já esclarecido, a identidade é construída pelo conjunto de características próprias da empresa (desejáveis ou não). A marca, como se sabe, é uma entidade concebida para seduzir e encantar, por isso ela possui apenas características da identidade que acredita serem positivas (FASCIONI, 2011). É claro que ninguém vai enfatizaratributos politicamente incorretos no design de uma marca, mas nem por isso eles deixam de existir. É importante cuidar para não contradizê-los e, para isso, é preciso conhecê-los muito bem (FASCIONI, 2011). Outro fato comum é alguém achar que a identidade da empresa já está definida só porque ela tem uma missão, uma visão e valores escritos num documento muito bem diagramado. O.k., mas quem fez o planejamento estratégico? Será que a definição da missão, visão e valores não sofre um pouco dos mesmos problemas das entrevistas com os executivos idealismo, visão parcial, confusão entre desejos e fatos)? (FASCIONI, 2011). Aliás, para esclarecer, o planejamento estratégico é uma ferramenta importantíssima para a gestão da empresa. Seria muito interessante e mais 22 produtivo elaborá-lo depois que a identidade fosse definida. Assim, ele seria mais coerente e realista. Já vi casos de missão, visão e valores completamente incompatíveis com a identidade da empresa, verdadeiras peças de ficção corporativa. Cuidado: missão, visão e valores não são suficientes para definir a Showtime- Mas como fazer isso de maneira relativamente rápida e com um mínimo de distorções? O workshop de identidade corporativa do Método GIIC@ (Gestão Integrada da Identidade Corporativa) foi desenvolvido como alternativa para solucionar o problema de definição de identidade corporativa. A ideia principal que move todo o trabalho é ajudar a empresa a se conhecer de verdade, ou seja, retirar- lhe toda a maquiagem e lhe mostrar um espelho. Desse exercício de autoconhecimento, resultarão os atributos essenciais (os traços principais e mais perenes) e os acidentais (rugas, luzes e manchas temporárias) (FASCIONI, 2011). A linha de raciocínio é a seguinte: quem conhece a identidade da empresa a fundo são as pessoas que trabalham nela, concluindo-se que os colaboradores certamente têm condições de apostar os principais atributos essenciais da organização (FASCIONI, 2011). Então, basta reunir os colaboradores e perguntar quem é a empresa e está tudo resolvido. Bem, mais ou menos. É que esse pessoal sofre do mesmo mal que os gestores. Todo mundo vai tentar encontrar as respostas certas paras a pergunta ‘’quem é essa a empresa ?’’. Os colaboradores também idealizam um pouco a organização (para o bem e para o mal) e podem provocar distorções importantes do trabalho (FASCIONI, 2011). A solução encontrada para esse desafio é para esse desafio é passar um dia inteiro reunido com os colaboradores perguntando, exaustivamente, quais são os seus atributos da empresa. É claro que se dá para fazer isso diretamente. Utilizam- se técnicas para realizar essa pergunta de maneira que o pessoal relaxe, solte-se e fale a verdade. Quando mais conjuntos de coordenadas se tê para definir a hélice do DNA, melhor. Assim, reduzem-se as distorções provocadas por pontos de vistas pessoais. Partindo desse princípio, todos os funcionários devem participar (de diretores a faxineiros, de gerentes e estagiários). Uma mescla de pessoas mais antigas e outras ainda em períodos de experiência, gente que trabalha apenas 23 internamente a gente que trabalha com o público diretamente, enfim, todos contribuem para enriquecer as misturas (FASCIONI, 2011). Fica critérios dos gestores incluir parceiros (contadores, representantes comerciais, consultores) que tenham uma relação direta com a empresa e participem ativamente na construção da sua identidade. Se esse número exceder 35 pessoas (maior grupo que um facilitador consegue gerenciar), deve-se trabalhar com uma amostra representativa (FASCIONI, 2011). O workshop leva cerca de um dia e deve acontecer fora do local de trabalho para que os participantes possam se expressar sem constrangimentos e não fiquem com e impressão de que estão trabalhando. São organizados em equipes que se misturam a cada dinâmica para que todos possam interagir. Por meio de analogias, confrontações semânticas, estudos de casos e representações, o facilitador vai repetir a mesma pergunta de várias maneiras: ‘’ Quais são as características dessa empresa?’’ (FASCIONI, 2011). É importante que as formas de questionamentos sejam diferentes para que possam ficar claras as contradições e que os atributos reais sejam enfatizados em várias oportunidades (é impressionante como há contradições importantes que os participantes mal perceberam) (FASCIONI, 2011). A analogias, referências, adjetivos e técnicas discursivas são realizados com o auxílio do método participativo e visualização móvel. Trata-se de um painel de papel craft afixado a uma das paredes com fita crepe em que fichas de cartolina são coladas. Dessa maneira toda têm oportunidades de visualizar as respostas e podem entrar nun consenso sobre as que deverão permanecer e as que serão descartadas (FASCIONI, 2011). São previstas também atividades individuais para dar chance de manifestação a pessoas, mas reservadas ou que se sintam um pouco intimidades pela presença de superiores hierárquicos da organização – já pensou a faxineira ter que discordar do presidente durante uma discussão na equipe? Para resolver isso, todo mundo recebe formulários a serem preenchidos anonimamente em alguma dinâmica (FASCIONI, 2011). 24 Algumas formas de representação não verbal também são aplicadas, como a construção de modelos com massa de modelar e materiais alternativos ou painéis montados a partir de recordes de revistas. As dinâmicas são divididas em seis categorias (metáforas, adjetivos, referências, visão, estudos de caso a representações) e combinadas conforme a análise do facilitador e de seu interlocutor na empresa em que o método será aplicado (FASCIONI, 2011). https://4maos.com.br Assim, após o workshop, que deve durar um dia inteiro, o facilitador elabora o relatório final, que deverá conter a descrição e a análise de cada uma das dinâmicas .com fotos e imagens ilustrativas). Os atributos mais marcantes, que aparecem em boa parte dos exercícios e de maneira enfática e incontestável, integram o conjunto dos atributos essenciais da empresa. Os demais, colhidos ao longo do trabalho, que refletem acontecimentos atuais, crises ou programas em andamento, que se contradisseram ou foram esquecidos, passam a fazer parte das características acidentais (FASCIONI, 2011). 25 O workshop de identidade corporativa é apenas um dos módulos do Método GIIC@, organizado em II módulos independentes, que podem ser aplicados em qualquer ordem (desde que precedidos pelo módulo de identidade), conforme as prioridades e necessidades da organização. A ideia é que, uma vez definida a personalidade de uma empresa, ela possa traduzir seus atributos sob dez perspectivas: nome, web design, impressos, atendimento, apresentações, ambiente, pessoas, comunicação, identidade visual e produtos (FASCIONI, 2011). Cada módulo trata de um aspecto diferente e é operacionalizado por meio de uma Matriz de Recomendações. A matriz traduz os critérios relacionados a cada assunto à luz dos atributos essenciais da empresa e serve como refcrência para todas as açöes e comunicações referentes ao aspecto em questão. Para o acompanhamento das práticas, é realizada periodicamente uma auto avaliação (FASCIONI, 2011). 4 EMPRESAS COM DNA DIFERENCIADO Não negamos que o mundo empresarial está cada vez mais competitivo e as pessoas estão mais confusas na hora de escolher produtos e serviços. As alternativas e modificações são tantas que atrapalham a escolha, quando deveria ser o contrário (FASCIONI, 2011). Também é fato que esse excesso ocasiona um dano — às vezes, irreparável — para muitas empresas, que pressionadas e sem diferenciais percebidos acabam ingressando na pior das guerras mercadológicas: a guerra de preços. O resultado final do que pode ocorrer é triste (FASCIONI, 2011). Topamos sempre na tecla da diferenciação. Empresasde sucesso escolhem pelo melhor de dois caminhos prováveis: ou têm o menor preço ou se distinguem. Diferenciar-se significa ter mais qualidade, não só técnica, mas uma qualidade que todos abrangem antes mesmo de se tornarem clientes. Significa oferecer valor superior e ser excelente em tudo o que faz. Não essencialmente ser líder, mas sim ser reconhecida como a melhor. Ao final, tornam-se mais rentáveis e com os melhores e mais qualificados clientes (FASCIONI, 2011). 26 Sonho? De forma alguma! Empresas Pequenas Gigantes são assim. Sempre que discorremos delas em nosso grupo aqui no Brasil, todos nos questionam como transformar uma empresa "normal" em uma Small Giant (FASCIONI, 2011). O caminho é de escolhas, mas escolhas que colocam a organização num patamar diferenciado de resultados e percepção, além de tornar tudo ao seu redor muito alinhado e coeso para atingir os resultados. Os profissionais passam a vestir a camisa da empresa em busca dos resultados esperados, os fornecedores querem se relacionar com ela e os clientes não só a adotam, indicam-na exatamente por sua excelência (FASCIONI, 2011). Porém, tudo tem um início e, às vezes, esquecemo-nos dele. Todas as empresas têm uma história surpreendente para contar. Começaram do nada, com muito ou pouco dinheiro. Todas elas deram início da mesma maneira e com um ideal. Seus fundadores tinham uma razão sempre um propósito para criar essa empresa (FASCIONI, 2011). Pode ser até que todos pensem que o propósito era ganhar muito dinheiro, apenas. Mas vemos que nunca era só isso. Todas tinham uma razão de ser, um ideal distinto e um propósito maior a cumprir. Não confunda missão ou posicionamento (FASCIONI, 2011). Empresas que foram criadas pelas garras de alguém em querer modificar sua vida, entregar às pessoas algo que verdadeiramente as amparassem no dia a dia, algo nunca imaginado pelo mercado e com uma proposta de valor altamente superior. Falo da Nike! (FASCIONI, 2011). Também têm empresas que foram criadas com o propósito pessoal de auxiliar mães e pais que sofrem com crianças que não se alimentam de forma adequada quando são bebês. Essas empreas sentem-se na obrigação e resolver isso, criando receitas saudáveis, que alimentem e que as crianças gostem. Falo da Farinha Láctea (FASCIONI, 2011). Compreenda que são empresas que ganhem muito dinheiro, lideram em preços, concorrem em mercados altamente competitivos e ainda prosseguem a praticar seu propósito: fazer com que todos os profissionais envolvidos em seu dia 27 a dia perpetrem os valores delas e os consumidores acreditem e compartilhem do mesmo propósito e as adotem como referência (FASCIONI, 2011). Todas incluem uma história de Pequena Gigante. Todas são empresas com personalidade, com um traço marcante e quase que individual. São como os seres humanos, cada qual com a sua personalidade (FASCIONI, 2011). O mundo empresarial está cheio de empresas, das quais rapidamente conseguimos notar a sua personalidade. Existem empresas sérias, há empresas comprometidas com causas, empresas justas, honestas. A lista é grande (FASCIONI, 2011). E a sua empresa, qual a personalidade dela? O que verdadeiramente tem de diferente? Empresas diferentes são realmente únicas, têm uma identidade. Negócios assim e que conseguem sempre se reforçar isso se tornam cada vez mais únicos, lucrativos, preferidos e sustentáveis (FASCIONI, 2011). Costumo dizer no nosso grupo Small Giants que é simples o primeiro passo para saber se a empresa que foi fundada com tanto carinho, garra, determinação, que entregou desde seu início produtos e serviços de qualidade superior, se aproximou dos clientes de maneira única e ainda trouxe colaboradores que confiavam naquele propósito, continua da mesma maneira: ‘’ Líder, escreva em um papel quais são as duas coisas únicas que apenas na sua empresa tem. Qual é o propósito dela? ‘’ (FASCIONI, 2011). Naturalmente você, chegará as duas coisas que reforçam a sua existência superior e de diferenciação. Hoje, busque saber se as pessoas da sua empresa praticam diariamente esse propósito. Façam a mesma pergunta para todos (individualmente) e depois leia a resposta. Às vezes nos assustamos, mas infelizmente é a pura realidade (FASCIONI, 2011). Dentro da metodologia do Small Giants, de transformar empresas ‘’normais’’ em Pequenas Gigantes, trabalha-se de maneira muito completa os dez mandamentos que fazem uma organização produzir seguidores, admiradores e propagadores dos seus diferenciais, enquanto que empresas comuns criam ‘’somente’’ clientes (FASCIONI, 2011). Para relembrar, os dez mandamentos (ou Decágolo do cliente) são: 28 1. Confiança: quer confiar que estou comprando algo que realmente vai resolver meu problema 2. Valor – Quero pagar um preço justo e correto sem sentir prazer ao comprar 3. Descoberta – Quero ser surpreendido positivamente 4. Agilidade – Quero ser atendido prontamente e sem demoras 5. Significado – Quero que você entenda que o produto ou o serviço que estou adquirindo é realmente importante pra mim 6. Atenção – Quero que você me valorize e me faça sentir especial. 7. Conexão – Quero fazer parte de um grupo de pessoas com ética, valores e princípios iguais aos meus 8. Atendimento – Quero ser atendido por profissionais que entendem do assunto, gostam do que fazem e demonstram prazer em me atender 9. Encantamento – Quero poder indicar sua empresa pra minha família, amigos e colegas 10. Contribuição – Quero que você contribua com causas que me importem (FASCIONI, 2011). Se a empresa tem uma identidade formatada e alinhada, obter a excelência nos dez mandamentos é um objetivo natural e factível. Para ilustrar como se implementa cada um dos itens do decálogo, conduzimos workshops de dois dias para trabalhar dois quesitos (FASCIONI, 2011). Em cada um deles, trabalhando em grupos multidisciplinares, que pode ser uma pessoa de cada área ou pessoas que não trabalham como pares, ou até mesmo a empresa toda, a depender de seu porte, discute-se como esse item sem localiza organização. Ou seja, faz uma avaliação técnica (FASCIONI, 2011). Para este artigo, escolhemos o mandamento 6 para elucidar: Atenção. Avaliamos se esse item está bem ou mal e aí criamos indicadores reais para que ele seja implementado e monitorado diariamente na procura pela excelência. Para esse caso, os indicadores de excelência seriam: 29 Perguntas específicas sobre atendimento em pesquisas de satisfação/pós-vendas (nosso atendimento fez você se sentir especial ou valorizado como cliente?) Frequência total de contatos. Número de contatos pra não vender (pessoais como aniversários e datas importantes, mas também profissionais O que sabe do cliente além dos dados comerciais ? Tempo investido por cliente Número de pós-vendas realizadas x total de vendas. Tempo de número de contatos necessários para ser atendidos/resolver um problema Criação de experiências emocionais para os clientes Testemunhais. Indicações Índice de recompra (FASCIONI, 2011). Empresas alinhadas em identidade e personalidades são únicas. Todos conhecem justamente seu papel dentro da estrutura, o que devem praticar para que essa identidade não se perca, as atividades da sua função que reforçarão os diferenciais da empresa, absolutamente tudo sobre os concorrentes, seu papel na sociedade e aonde a empresa quer e deve chegar sem perder sua essência (FASCIONI, 2011). Isso é uma ciência e empresas Pequenas Gigantes modificam tudo isso em resultados. Existem ferramentas para tal. Qualquer organização pode transformar sua realidade resgatando sua identidade, personalidade e propósito (FASCIONI, 2011). De maneira simples, é preciso muito treinamento para o resgate dessa identidade. Cada um deve ter seu papel nessa prática, todos os dias. Faça treinamentose workshops a respeito do assunto. O resultado será que seus clientes saberão sua identidade e, no fim, irão vivenciá-la, pois seus profissionais a praticarão todos os dias (FASCIONI, 2011). 30 Pequenas Gigantes são diferentes, únicas e para isso necessitam resgatar seu propósito. 5 ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA Você sabe o que é administração participativa? O conceito de participação nas organizações está em constante discussão, tendo diversos modelos e diversas consequências, que são resultantes de diversas necessidades organizacionais. Neste capítulo, você vai ver como a administração participativa pode atuar para tornar a organização mais democrática. Para isso, inicialmente serão abordadas as visões gerenciais predominantes, que são diretamente relacionadas à gestão de recursos humanos, seus avanços e limitações. Após isso, você vai conhecer formas e estratégias de organização mais democráticas e participativas. Ao final, você verá uma discussão sobre empoderamento (CASAGRANDE, 2012). 5.1 Uma gestão diferente? Muito daquilo que se convencionou chamar de gestão participativa (ou administração participativa) remonta à Escola de Relações Humanas. Conforme Tragtenberg (2004, p. 27) salienta, o termo “[...] relações humanas significa agir sobre indivíduos e grupos para provocar neles as atitudes que convém à empresa”. Portanto, não se engane: a motivação da administração participativa não é humanitária, tampouco é libertadora ou emancipadora. A ideia por trás dela, como salientou Jenkins (1974, p. 319-320), em sua defesa da democracia organizacional, é de que “[...] ceder um pouco de poder aos trabalhadores pode ser um dos melhores meios de aumentar sua sujeição, se essa lhes dá a impressão de influir sobre as coisas”. Dessa forma, o objetivo do aumento da participação na gestão é aumentar a produtividade, a eficiência e, em última análise, a lucratividade de uma organização. 31 Como Follet (2003) percebera ainda na década de 1930, é muito mais eficiente integrar o trabalhador e o tornar responsável pelo processo produtivo do que simplesmente obrigá-lo a desempenhar seu trabalho de uma forma específica. A estratégia clássica de promover cooperação por meio da coerção (seja física, seja psicológica ou econômica) é pouco eficiente, pois, conforme Follet, promove uma cooperação instantânea ao passo que promove um desgaste de longo prazo. O trabalhador faz o que lhe é ordenado, mas se sente compelido a não cooperar com tudo o que não estiver expresso e claro. Dessa forma, o trabalhador se coloca em uma situação inicialmente passiva, depois de má vontade e, finalmente, como um trabalhador que boicota ativamente a organização. https://www.redaweb.com.br Uma segunda forma de resolver isso, percebera Follet, é por meio de uma negociação constante. Toda ordem possibilitaria, assim, uma barganha. Não se diria “faça isso ou lhe demito”, mas sim “o que você quer para fazer isso dessa forma?”. Essa alternativa gera duas consequências: a primeira é de que o funcionário tende a ficar satisfeito, já que recebe algo em retorno de seu esforço 32 adicional; a segunda é que isso acrescenta custo às operações, pois nem sempre o requisitado pelo trabalhador é alheio à custos tangíveis (CASAGRANDE, 2012). Por isso, conclui Follet (2003), o ideal é uma forma que possibilite ao funcionário um bem-estar psicológico ao passo que não gere custos à organização. Para isso, o autor cria o que chama de método de integração. Trata-se da ideia de atribuir ao funcionário os problemas da organização e, assim, possibilitar que ele encontre as soluções. Ao contrário do método da barganha, isso responsabiliza o funcionário de modo que ele não exigirá recompensas adicionais pelo seu trabalho. Dessa forma, o funcionário se compromete mais com o trabalho, pois ele ajudou a construir o método no qual sua rotina diária de trabalho se dá. No método de integração, você pode observar o princípio do que se chama de administração participativa. Trata-se da ideia trazer o funcionário para perto da gerência, ouvi-lo e, com sua participação, decidir implementar ou não as suas propostas. Perceba, entretanto, que tal método não dá o caráter deliberativo ao funcionário; ele não se torna gerente ou chefe — ou mesmo autônomo, no sentido pleno da palavra. O trabalhador é uma espécie de consultor do seu chefe, que é ouvido em tomadas de decisões relevantes. Assim, não confunda administração participativa ou método de integração com autogestão. Conforme Mayo (2010) percebera, de fato há um “efeito catártico” nas participações e entrevistas dos funcionários. O simples fato de poder reclamar de algo torna o ambiente mais tolerável e faz com que os funcionários acreditem que suas opiniões estão sendo consideradas — mesmo que, na prática, se faça precisamente o oposto. Dessa forma, a gestão participativa nasce como uma forma de transformar o ambiente organizacional em um ambiente mais eficiente, mais harmônico e com menos conflitos. Entretanto, isso não significa que a organização seja mais democrática em relação aos métodos clássicos de administrar, como as visões tayloristas e fayolistas. De acordo com Bruce e Nyland (2011), muito daquilo que se supõe ter nascido como um esforço democrático foi, na verdade, uma tentativa de maior controle psicológico sobre os funcionários. Os autores demonstram que a participação nas tomadas de decisões nas empresas modernas não nasceu de uma vitória da classe trabalhadora, mas sim da percepção de que essas ferramentas 33 tornam os funcionários mais engajados com a produção. Note que até o momento, o trabalho era visto como uma mera troca entre valores monetários e esforço físico, no qual se descartava o engajamento psicológico e motivacional como aspectos centrais no trabalho. O ponto histórico de inflexão, nesse sentido foi o experimento de Hawthorne, ponto de partida para o que hoje consideramos como técnicas da gestão de recursos humanos. Saiba Mais A Experiência (ou Estudo) de Hawthorne, que serviu de base para aquilo que hoje chamamos de gestão dos recursos humanos ou de gestão de pessoas, foi um longo estudo conduzido por Elton Mayo e colaboradores entre 1928 e 1933 em Chicago, nos Estados Unidos. O estudo se deu em uma fábrica de relés telefônicos da Western Electric, onde dezenas de milhares de mulheres trabalhavam na produção. O estudo se desenvolveu em várias fases ao longo dos anos, mudando seu foco e seus métodos conforme novas conclusões eram adquiridas. Pode-se dizer que o Experimento iniciou com uma questão profundamente taylorista (“Mais luz faria os funcionários enxergarem melhor e, assim, produzirem mais?”) e finalizou com a problematização da integração social dos funcionários. Ao final, Mayo percebeu que a aceitação social e o sentimento de pertencimento das funcionárias estudadas eram mais relevantes do que os aspectos funcionais da fábrica, como iluminação, remuneração e tempo de descanso. Percebeu também que quando eram ouvidas, mesmo que para questões sem solução ou de pouca relevância, elas se sentiam mais pertencentes ao meio organizacional, doando- se mais à empresa. Dessa forma, a escola de relações humanas teve duas consequências diretas: de um lado, possibilitou que o ser humano fosse visto como um ser psicológico e social, em oposição a um ser essencialmente mecânico e econômico. Nessa transição, os aspectos fisiológicos do taylorismo cederam espaço aos 34 aspectos sociais de Mayo (2010). Os estudos de tempos e movimentos, típicos da busca pela eficiência mecânica de Taylor, cederam espaço a estudos de motivação, de interação social e de aspectos psicológicos. Os estudos de Elton Mayo e as ferramentas de Mary Parker Follet tornaram o ambiente de trabalho menos opressivo e mais amigável, e incorporaram no imaginárioorganizacional a ideia de que a empresa é um espaço de socialização. Esses estudos possibilitaram uma flexibilização da forma de atuar na organização, com melhorias na relação entre patrões e funcionários. Por outro lado, uma vez incluídos nos arcabouços organizacionais, os aspectos psicológicos se tornaram instrumentos para a melhoria produtiva. Se a visão de homem econômico de Taylor (2012) restringia a relação patrão- - funcionário a uma mera relação comercial econômica, uma relação que tenta valorizar a opinião do funcionário acaba por substituir as recompensas financeiras por recompensas simbólicas. Você já deve ter visto que algumas empresas destacam um “funcionário do mês”; essa é uma forma de demonstrar reconhecimento pelo trabalho do funcionário sem que, para isso, seja necessário ter um custo financeiro. Dessa forma, o controle psicológico é incorporado sem que seja necessário onerar a empresa. A Escola de Relações Humanas institui, assim, os dois pilares necessários para a administração participativa: o método de integração de Mary Parker Follet e as dinâmicas de grupo de Elton Mayo. Já durante a Segunda Guerra Mundial, surgiam nos Estados Unidos comitês de participação dos funcionários. Esses comitês se reuniam quinzenalmente, juntando delegados dos funcionários e administração, para discutir os problemas produtivos. A prática se tornou tão difundida que se estima que, na década de 1960, os comitês já contassem com a participação de dois milhões de funcionários americanos (TRAGTENBERG, 2004). Um ponto interessante é que, embora esses funcionários normalmente fossem remunerados adicionalmente com participação nos lucros, o salário ao final acabava por ser menor do que aqueles que não estavam inseridos em empresas com tais práticas. No entanto, apesar disso, esses funcionários não se mostravam menos contentes com sua situação laboral (TRAGTENBERG, 2004). 35 Embora a administração participativa tenha nascido das estratégias de controle psicológico por meio do método de integração da Escola de Relações Humanas, há outras formas de tornar a gestão democrática, antiautoritária ou mais autônoma, como você vai ver a seguir. 5.2 Da heterogestão à autogestão: administração participativa e suas formas Para entender como se pode tornar a gestão das organizações mais horizontalizada (menos autoritária), você deve entender, inicialmente, a o que uma gestão horizontal se contrapõe. O oposto da gestão horizontal é o que se instituiu classicamente nas organizações. Em geral, as empresas, o estado e até mesmo as organizações da sociedade civil são geridas por meio de uma pirâmide hierárquica. Há os que mandam, os que obedecem e os que se encarregam de fazer as ordens do topo serem cumpridas por aqueles que estão na base da pirâmide. Isso é classicamente chamado de heterogestão (CASAGRANDE, 2012). O termo heterogestão (hetero do grego diferente + gestão) advém da ideia de que há uma separação intrínseca do trabalho. Essa separação se dá em dois eixos: uma separação horizontal, em que se especializa e divide o trabalho entre diversos trabalhadores, cada qual com sua especialização; e uma separação vertical, em que se cria uma dualidade entre quem administra e quem é administrado, entre o planejador e o executor, entre o que comanda e o que obedece, entre o dominador e o dominado (MOTTA, 1981). Conforme Faria (2009), a heterogestão é a forma dominante de gestão ainda hoje, apesar de inúmeras discussões sobre cogestão e autogestão que se ingressam mais fortemente desde os anos 1980. 36 Sob o ponto de vista social, emancipatório e autonomizante, o grande desafio organizacional é saber como seria possível as pessoas se organizarem alheias à autoridade. Afinal, toda relação de poder estabelece uma relação de dominação, sujeitando o dominado às vontades do dominador. Certamente, essa discussão não é nova, e autores tão antigos quanto Fourier (1996) já demonstravam uma visão utópica de sociedade autogerida. É importante que você perceba que, para uma sociedade ser autogerida plenamente, é necessário que suas organizações produtivas também o sejam. Dessa forma, a organização utópica passa longe de ser a empresa heterogerida: ela é uma organização de semelhantes, onde as decisões são tomadas por todos. Inúmeros casos de organizações assim no mundo são visíveis. Sejam comunas, zonas autônomas, kibutz, movimentos sociais, empresas autogeridas, comunidades autônomas ou zonas autônomas, a ideia por trás desses casos é a busca por justiça social, liberdade e igualdade. É verdade que muitas dessas experiências não são particularmente eficientes do ponto de vista de produção econômica, quando elas são comparadas com empresas heterogeridas, mas note que isso nem sempre é um objetivo (CASAGRANDE, 2012). Saiba mais 37 Zonas autônomas é um termo usualmente utilizado para se referir às comunidades que não aceitam a exploração do trabalho nem qualquer tipo de hierarquia. A Comuna de Paris, que ocorreu por um breve período no capital francesa em 1871, é o exemplo mais famoso. Barcelona durante a Guerra Civil Espanhola é outro exemplo clássico, tendo sido amplamente descrita por George Orwell. Kibutz são comunidades igualitárias que ocorreram (e ainda ocorrem em menor escala) em Israel (CASAGRANDE, 2012). Além disso, é bom salientar que autogestão é um conceito em constante discussão. Afinal, se há uma negação das autoridades e da dominação, é aceitável ter líderes situacionais? Ou então, é aceitável ter representantes externos? Como seria a divisão do trabalho em uma organização onde todos querem trabalhar de forma criativa? O processo de tomada de decisão é por votação majoritária, por consenso ou por comitês? Todas essas questões admitem múltiplas respostas, de forma que uma organização autogerida é um desafio para o futuro. Como não sabemos como o futuro vai ser, sua forma não é clara ainda (CASAGRANDE, 2012). 38 Enquanto este futuro não chega, inúmeras tentativas de mesclar elementos da autogestão com da heterogestão ocorrem. Alguns, como você viu na seção anterior, são só ferramentas da heterogestão para a legitimação da autoridade. Outras são conquistas sociais e trabalhistas. Entre as formas organizativas, destaca-se a cogestão. Na cogestão, a autoridade não é ignorada, nem a hierarquia é excluída, mas se supõe que a gestão deve andar em consonância com as outras partes da organização. Assim, a cogestão é um meio-termo entre autogestão e heterogestão, no qual não se exclui os elementos da heterogestão, mas se agrega elementos que visem a maior participação, autonomia e democracia (CASAGRANDE, 2012). Essa discussão certamente se dá, também, em um âmbito social. Afinal, se socialmente não aceitamos mais ser regrados nem governados por tiranos, porque aceitaríamos que o mesmo ocorresse nas organizações produtivas? Qual o sentido de uma sociedade que tem a pretensão de ser democrática, mas na qual as pessoas passam boa parte de suas vidas dentro de subsistemas sociais em que não há qualquer tipo de democracia, participação social ou autonomia dos integrantes? (CASAGRANDE, 2012). Assim, como resultante da reinvindicação de vários sindicatos e organizações trabalhistas mundo afora, várias organizações — privadas, estatais ou do terceiro setor — passaram a incorporar ideias de cogestão. A ideia básica da cogestão, conforme salienta Tragtenberg (2004) é a do equilíbrio de poderes com vistas ao bom funcionamento da organização. Um elemento comum à cogestão é que, se por um lado há uma consulta e uma formação de consenso com os funcionários, por outro eles recebem uma recompensa por isso em espécie. Normalmente, isso se dá por participação nos lucros da empresa ou, opcionalmente, pelo aumentode seus salários (TRAGTENBERG, 2004). O caso mais emblemático de cogestão clara é o especificado em lei na Alemanha a partir da década de 1950, sendo aprofundado paulatinamente por meio de diversas leis desde então. Os princípios norteadores desse tipo de administração 39 participativa passam pela criação de um conselho, que se situa acima dos diretores e presidentes das empresas, composto equitativamente por acionistas e funcionários. Dessa forma, os trabalhadores não possuem representação só nas decisões cotidianas, mas também votam para indicar os altos cargos dentro das empresas (FARIA, 2009). Além da participação dos funcionários, esse tipo de dispositivo impossibilita que grandes executivos ganhem salários ou bônus exagerados pelo seu trabalho. Melhor ainda, tal tipo de comprometimento dificulta que as empresas terceirizem suas atividades ou fechem suas plantas fabris em território nacional para realocação em países com mão de obra mais barata. Perceba que esse não é um problema pequeno, especialmente quando se trata de grandes empresas. A cogestão, nesse sentido, possibilita frear anseios de lucratividade alheia ao compromisso social (CASAGRANDE, 2012). Assim, muito embora a cogestão seja uma ferramenta limitada de horizontalização e de participação organizacional, ela pode ser vista como um avanço social e trabalhista. Por esses motivos, Faria (2009) nota que o empresariado tende a ser avesso à cogestão. Afinal, uma vez que os funcionários podem inviabilizar a nomeação de direções, processos de precarização do trabalho tendem a se dificultar. A cogestão, conceitualmente falando, é a gestão compartilhada de fato entre funcionários e acionistas (ou donos). Não se trata de uma administração 40 participativa conselheira, tampouco se trata de métodos de entrevistas, pesquisa de opinião ou inquéritos de satisfação internos. Trata-se de uma estrutura organizacional de administração participativa deliberativa. No entanto, note que, muito frequentemente, o termo cogestão é utilizado no sentido de uma administração participativa consultiva que, como você já viu, não passa de uma ferramenta de controle psicológico e produtivo (CASAGRANDE, 2012). Outra estrutura organizacional que promove uma participação mais plena dos funcionários é a estrutura cooperativa. O movimento cooperativista surge na Inglaterra junto à Revolução Industrial. Originalmente, o movimento cooperativista era ligado aos setores políticos mais progressistas e contestadores, colocando-se como opção ao capitalismo. Com o passar do tempo, o movimento foi se tornando menos radical, e hoje se coloca como uma ferramenta de justiça social dentro da sociedade capitalista (FARIA, 2009). No entanto, muito do que hoje se intitula “cooperativa” não é de fato cooperativa conforme os princípios básicos que norteiam o conceito. De acordo com o destacado no Congresso do Centenário da Aliança Cooperativa Internacional, ocorrido em 1995 em Manchester, Inglaterra, esses princípios são (FARIA, 2009): 1. adesão aberta e livre de qualquer um que queira se juntar à cooperativa; 2. gestão democrática com voto universal; 3. participação econômica proporcional do sócio; 4. autonomia; 5. provimento de informações e de educação; 6. cooperação entre cooperativas; 7. relação com a comunidade. Na prática, como podemos imaginar a estrutura organizacional de uma cooperativa? Afinal, os cooperados também atuam na própria administração? Na prática, o autor categoriza as chamadas cooperativas em três tipos de estruturas organizacionais: 41 Gestão cooperativa limitada: as cooperativas que atuam como empresas, mas que têm um conselho fiscal composto por todos os seus sócios. Elas têm funcionários dedicados às tarefas administrativas que não são necessariamente cooperados. Sua atuação no mercado raramente se diferencia de uma empresa heterogerida. Cooperativas plenas ou coletivistas: nelas, os cooperados compõem o próprio aparato administrativo. Dessa forma, todos aqueles que estão dentro da organização são cooperados. Cooperativas de trabalho precarizado: essas cooperativas geralmente encontram sua razão de existir na própria inviabilidade comercial de sua relação de mercado. Ficam à margem do sistema formal de emprego, seja por serem formadas por trabalhadores que não encontram emprego formal, seja por serem formadas por trabalhadores subcontratados de maneira fraudulenta (CASAGRANDE, 2012). Note que o sistema cooperativo acaba por englobar uma gama diversa de práticas. Dessa forma, sua atuação no Brasil é bastante clara e disseminada. No Brasil, em 2007, havia 7.687.568 cooperados em 7.672 cooperativas em todo país. Em adição aos cooperados, as organizações cooperativistas tinham cerca de 251 mil funcionários. Isso totaliza uma relação de 3,26% entre cooperados e funcionários. Idealmente, esse valor deveria ser zero, uma vez que a cooperativização plena objetiva uma horizontalidade de relações e uma democracia plena (CASAGRANDE, 2012). Note que uma diferença essencial entre a cooperativa e a empresa heterogerida está no modo como se dá o voto. Enquanto na cooperativa, idealmente, cada cooperado possui um voto, em uma empresa, o voto é proporcional ao percentual da empresa que o acionista ou dono possui. Dessa forma, a organização cooperativa rompe com um imperativo capitalista: ao menos ali dentro, o capital não é necessariamente traduzido em poder (CASAGRANDE, 2012). 42 5.3 O trabalhador empoderado Considerando o que foi discutido nas seções anteriores, como poderíamos pensar em um empoderamento (empowerment) do trabalhador? Quais são as estruturas organizacionais que possibilitam um empoderamento? (CASAGRANDE, 2012). https://regnumchristi.com.br Para iniciar essa discussão, pense no conceito de poder. Poder não é igual a dominação ou autoridade, como às vezes se difunde no senso comum. A palavra “poder” é derivada do conceito de potentia, que significa a possibilidade real de um ser se manifestar. Dito de outro modo, poder é o que se pode fazer. Nesse sentido, o prisioneiro que é liberto adquire poder — mas o rico empresário que se torna governador também adquire (CASAGRANDE, 2012). Empoderar, assim, é atribuir poder. No momento em que organizações são geridas a partir da decisão de seus funcionários, eles estão empoderados. No entanto, a criação de conselhos de funcionários para a coleta de informações e o aconselhamento não é, de fato, empoderamento. Como você já viu, muitas das ferramentas que os recursos humanos empregam — e que retomam Mary Parker 43 Follet (2003) e Elton Mayo (2010) — são nada mais que instrumentos de controle. Com tais instrumentos, é possível dar a impressão de estar empoderando o funcionário, mas, na verdade, estar manipulando-o psicologicamente. Mas há outras formas de se organizar. Mesmo que utopias autogestionárias não ocorram no cotidiano, algumas formas de empoderamento paulatino ocorrem. A cogestão alemã, por exemplo, possibilita que os funcionários das indústrias do país tenham representatividade mesmo no mais alto escalão da empresa, diminuindo riscos de terceirizações, demissões em massa, realocações e downsizing. Embora isso seja um grande avanço, o empoderamento do dia a dia é relativamente restrito, já que a representatividade se dá em nível de conselhos superiores (que elegem o alto escalão) (CASAGRANDE, 2012). Outra visão de empoderamento a se considerar é a do movimento cooperativizado. Apesar de muitas cooperativas atuais não serem cooperativas plenas, a busca por uma democracia plena dentro do ambiente de trabalho é um objetivo louvável. Tais ambientes de trabalho proporcionam um empoderamento mais realista aos seus trabalhadores, já que as decisões são cotidianamente dadas em nívelmais horizontalizado, no qual a participação de todos interessados é possível (CASAGRANDE, 2012). As formas de se organizar e as estruturas organizacionais não são modelos únicos, tampouco são explorados à exaustão. A autogestão, como objetivo de horizontalidade plena entre os integrantes de uma organização, é um objetivo de empoderamento, emancipação e libertação. Assim, finalizamos com uma questão para reflexão: como seria possível uma organização plenamente democrática, na qual seus integrantes façam parte de forma equânime da organização? Como seria uma organização na qual todos os seus integrantes estão empoderados de fato? (CASAGRANDE, 2012). 6 PROTEÇÃO DO PONTO EMPRESARIAL O ponto comercial estabelece a ligação entre o proprietário e o cliente. Ele é essencial para os resultados positivos do negócio, visto que pode ser decisivo para 44 a conquista e a manutenção da clientela ambicionada pela empresa. Assim, torna- se importante protegê-lo, pois o ponto se afirma como um dos elos formadores do sucesso do negócio. Neste capítulo você vai aprender os conceitos e a importância do ponto empresarial e identificar as operações a ele relacionadas, além de conhecer os meios de proteção ao ponto. Você também vai identificar a influência do ponto empresarial na tomada de decisão do cliente e de que forma esta influência pode valorizar o imóvel (REIS, 2018). 6.1 Ponto empresarial e sua importância Ao iniciar um negócio, entende-se que tanto os empresários como as sociedades empresárias necessitam de um local para desenvolver suas atividades, isto é, para movimentar a empresa. No Direito, este local é definido como ponto empresarial, considerado um elemento de extrema importância para a empresa e um sinal distintivo na captação de clientes e fornecedores, o que aprimora o negócio (REIS, 2018). Coelho (2016) salienta que o ponto se vincula ao empresário, tornando-se uma forte referência que pode determinar o sucesso ou o fracasso do negócio. Muitas vezes o empresário faz um investimento impressionante em seu ponto, modificando o que poucos acreditavam ser uma fonte de lucros e tornando o local apto a captar clientes e gerar receitas. Por outro lado, nem sempre o empresário possui o patrimônio imobiliário adequado para a formação de seu ponto e, nesse momento, pode recorrer ao aluguel de bens de terceiros. Sanchez e Gialluca (2013) e Aquino (2017) destacam que a importância do ponto empresarial varia de acordo com a atividade exercida pelo empresário. Ainda que haja um enorme avanço dos negócios digitais, continua importante para o comércio o estabelecimento de ao menos uma parte das operações em uma base física estável. Deste modo, o imóvel no qual a atividade empresarial é executada representa uma parte importante do estabelecimento empresarial. 45 Aquino (2017) explica que a localização pode influenciar no resultado positivo ou negativo dos negócios, uma vez que o cliente está cada vez mais exigente e ciente das qualidades dos estabelecimentos. As ferramentas de busca e as redes sociais possibilitam a obtenção de informações precisas quanto à reputação das empresas, e o cliente informado automaticamente se dirige ao local ou ao site mais adequado e confiável, a fim de se abastecer dos produtos e serviços de que necessita. Em alguns casos, Ramos (2017) salienta que pode ocorrer a valorização patrimonial do estabelecimento, por exemplo, se a atividade praticada tem na localização fator de grande importância, no sentido de atração da clientela. Porém, se esse fator for indiferente, o ponto terá valor reduzido ou até mesmo inexistente. De acordo com Sanchez e Gialluca (2013), Negrão (2014), Requião (2015) e Coelho (2016), a proteção ao ponto de negócio e à propriedade empresarial foi desenvolvida dentro do Direito brasileiro por meio do Decreto-Lei nº 24.150, de 20 de abril de 1934, a partir do apelo dos comerciantes inquilinos. Uma vez que o sucesso da atividade econômica influencia diretamente a valorização da propriedade imobiliária, os locadores cobravam premiações para renovar o contrato, denominadas “luvas”, uma forma injusta de negociar. O Decreto-Lei nº 24.150/34 recebeu o nome de Lei de Luvas. Negrão (2014), Requião (2015) e Ramos (2017) destacam que, nos dias atuais, não se deve entender o ponto de negócio apenas como local físico, em função da proliferação dos negócios via internet. Assim, o ponto pode ter existência física ou virtual. Esta última corresponde ao site, ou seja, o endereço eletrônico por meio do qual os clientes acessam a empresa. Em suma: o site de determinado empresário individual ou sociedade empresária é o seu ponto empresarial virtual ou ponto de negócio virtual Entretanto, percebe-se que mais importante que o espaço físico propriamente dito é o que liga esse espaço. A base fixa de operações pode ser mais ou menos favorável para o dono do negócio conforme sua localização. Um exemplo claro disso: um local de fácil acesso a caminhões é vital para empresários que comercializam bens corpóreos de maior porte e que dependem de entregas de 46 fornecedores por esse meio de transporte. Outro cenário: um proprietário de determinado ramo lojista pode ter mais exposição a clientes se estabelecer-se em um local de grande movimentação de pedestres e/ou que seja reconhecido como tradicional área de negociação daquele tipo de produto ou serviço, ou até mesmo em shoppings, que são grandes concentrações de lojas. É possível identificar, dentro do cotidiano das organizações, outras inúmeras possibilidades do quanto a localização de certas operações empresariais pode ajudar ou prejudicar um empresário (REIS, 2018). https://suelemdepaula.jusbrasil.com.br Coelho (2016) e Requião (2015) salientam que o ponto empresarial é demasiadamente importante, a ponto de gerar direitos adicionais e autônomos. A Figura 1 mostra as ações que envolvem a proteção ao ponto empresarial. Por exemplo, caso um proprietário faça a um empresário bem-sucedido uma proposta para doar-lhe um bem imóvel mal localizado, talvez até de valor maior do que o do imóvel que ele vinha utilizando, exigindo em troca apenas a renúncia ao seu ponto empresarial atual, este empresário não deverá aceitar. Para este proprietário, uma base fixa bem localizada é mais importante do que um imóvel de 47 alto valor, visto que seus clientes estão habituados a este local, o que possibilita mantê-los e valorizá-los, uma vez que são de extrema importância para as atividades comerciais (REIS, 2018). Destaca-se que o ponto empresarial pertence à pessoa que explora a atividade, e não ao proprietário do imóvel, sendo que ambos são considerados distintos. Nesse sentido, é evidente que o ponto empresarial não existe de forma isolada; há a necessidade do exercício e da exploração da empresa, sendo o ponto o resultado dela, ou seja, uma consequência do trabalho desenvolvido pelo proprietário (REIS, 2018). Neste contexto, o empresário poderá exercer o seu direito ao ponto mesmo contra o proprietário do imóvel, conforme o que Coelho (2016) denomina Direito de Inerência ao Ponto. Isto se dá quando o imóvel é utilizado pelo empresário conforme descrito no contrato de locação e é propriedade do locador, um terceiro em relação à empresa desenvolvida (REIS, 2018). 6.2 A proteção do ponto de negócio como propriedade empresarial Nota-se que o investimento em um imóvel alheio é uma ação complicada, pois envolve o risco de perder-se todo o investimento, além de ver toda uma clientela de anos sumir de uma hora para a outra pela simples mudança de local. Dessa forma, os riscos envolvidos no aluguel de um ponto empresarial devem ser compensados por alguma espécie de proteção, que ao menos minimize tais riscos (REIS, 2018). Sanchez e Gialluca (2013) destacam que, para tratar da locação empresarial como
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