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P2_Questionário III (Aulas 16 e 17) + respostas

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ALUNO: João Paulo Balloni (NºUSP 5146732)
EAE – 416
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL I
Prof. Dr. José Flávio Motta
QUESTIONÁRIO III_P2
(Aula 16)
TEMAS: 
crise do sec XVII
Conde da Ericeira e reações à crise do séx XVII
fracasso da política colbertiana Seiscentista em Portugal
primeiros sinais da nova crise do sec XVIII e fase I do governo pombalino 
Crise do sec XVIII e 2a fase da economia “Pombalina”
crítica ao conceito de “política industrial pombalina”
7. Comente criticamente, com fundamento nos escritos de Celso Furtado, a seguinte citação, de Vitorino de Magalhães Godinho: “O tratado de Methuen registra, sobretudo, uma situação de fato; já antes de 1703 o contrabando inglês introduzia em grande quantidade os panos ingleses que eram proibidos ... . E o comércio do vinho do Porto tinha-se desenvolvido antes de 1703. ... [Todavia,] se o tratado de Methuen não inovou, em todo o caso consagrou uma inovação de fato, isto é, a paragem do desenvolvimento manufatureiro; põe-se de lado a política desenhada a partir de 1670. Por quê? ... Em primeiro lugar, em 1690 a crise comercial está em vias de se extinguir. Os stocks foram vendidos, os preços sobem, pressente-se que os consumos do açúcar e do tabaco aumentaram muito ... . Os anos de 1690 a 1705 foram de incontestável incremento e prosperidade mercantil para Portugal.”
** FURTADO - Capítulo VII – Encerramento da etapa colonial.
Apesar de os acordos anglo-lusitanos permitirem a continuação de Portugal como potência ultramarina, não resolviam os problemas econômicos por que passava o reino após o início da concorrência antilhana. A situação econômica portuguesa gradualmente mostrou-se insustentável: dados os déficits de sua balança comercial, decorrentes sobretudo da queda dos preços do açúcar, figurou-se como necessário à Portugal fomentar algum desenvolvimento manufatureiro com o objetivo de realizar a substituição de importações.
	Como já visto, porém, na perspectiva furtadiana este desenvolvimento seria toldado pelo Tratado de Methuen, que pôde ser efetivado em função do afluxo do ouro brasileiro. No entanto, foi o próprio John Methuen, a quem o nome do tratado deve sua origem, que conseguiu diversos benefícios políticos à Portugal: fez com que os lusos participassem da conferência de Utrecht, na qual Portugal obteve a hegemonia sobre o Amazonas e sobre a navegação de seu rio frente aos franceses, bem como o reconhecimento espanhol quanto à hegemonia lusitana na Colônia de Sacramento.
	O ouro brasileiro fluindo à Inglaterra via Portugal seria de fundamental importância no fomento do desenvolvimento industrial inglês, primeiro por atuar como uma base de acumulação, segundo por estruturar a Inglaterra como o centro financeiro europeu e terceiro por garantir àquela nação uma imensa flexibilidade em termos de importações, sobretudo de matéria-prima para a indústria nascente.
	Quando a extração aurífera brasileira começou a escassear, a Inglaterra já havia entrada em franca fase do desenvolvimento industrial. Com isto, uma nova percepção da economia surgia aos ingleses: o laissez-faire passava ao primeiro plano. Com efeito, sob esta nova conjuntura, o Tratado de Methuen, que potencializara todo o processo da revolução industrial por meio do ouro brasileiro (notar aqui a proximidade com o texto e conceitos de Novais), passava a ser mal-visto. Em 1786, conquanto os ingleses ainda mantivessem-no formalmente, a concorrência francesa de vinhos no mercado inglês subira consideravelmente por uma maior equalização de condições.
*** FURTADO - Capítulo XIV – Fluxo de Renda
Analisando os motivos pelos quais Portugal não desenvolveu uma base manufatureira, a qual poderia ter sido implementada no Brasil mesmo à revelia da metrópole, Furtado retoma os continuos déficits comerciais enfrentados por Portugal decorrentes da queda dos preços dos produtos tropicais que exportava.
Não podendo, portanto, importar tudo que necessitava, Portugal desenvolveu, ainda que embrionariamente, alguma base manufatureira em fins do século XVII. No entanto, dada a predominância política da elite econômica, que baseava sua riqueza principalmente na terra e na produção de vinhos, o reino português assinou o tratado de Methuen com a Inglaterra. 
É bastante evidente que Portugal não seria capaz de honrar os termos do contrato apenas com seu vinho, ou seja, os déficits aumentariam de tal maneira que lhe seria impossível saldar suas dívidas frente aos ingleses; assim, o ouro brasileiro foi utilizado como uma forma compensatória pelos lusos. Sob este contexto, Furtado afirma que a transferência de renda na forma de ouro do Brasil para a Inglaterra via Portugal pelo tratado de Methuen seria fundamental para transferir o centro financeiro europeu de Amsterdã para Londres e para sustentar financeiramente os ingleses quando das guerras napoleônicas.
Some-se ao que foi dito no parágrafo anterior a idéia de que a economia mineratória atuava como um pólo catalisador de uma divisão regional do trabalho no Brasil e ter-se-á a perspectiva de que a colônia finalmente poderia desenvolver um mercado interno auto-impulsionado, capaz de sustentar-se independentemente de condicionantes externos, ditados pela metrópole.
	Mas efetivamente não foi isto que aconteceu. Para que aquele mercado em vias de autonomia pudesse sustentar-se internamente efetivamente, seria necessário que dispusesse de uma economia manufatureira.
	O Brasil, no entanto, não possuía as condições técnicas para desenvolver manufaturas. E não as possuía principalmente porque os imigrantes lusos tinham pouca ou nenhuma experiência manufatureira.
	Furtado analisa, então, os motivos pelos quais Portugal não desenvolveu uma base manufatureira, a qual poderia ter sido implementada no Brasil mesmo à revelia da metrópole.
	
**GODINHO - fracasso da política colbertiana Seiscentista em Portugal
+
Para Coutinho, o Tratado de Methuen não foi responsável pela desaceleração na política industrial portuguesa. Segundo ele, isso já estava ocorrendo antes de 1703, na verdade, foi essa incontestável prosperidade que possibilitou a assinatura do tratado (como ele mesmo disse: “Ora, sendo a política industrial uma resposta à crise comercial, uma vez esta passada, a primeira perdia sua razão de ser.”) 
Já para Celso Furtado, o Tratado de Methuen foi o que desempenhou papel básico no curso dos acontecimentos em Portugal. Segundo ele, o acordo significou para este país renunciar todo o desenvolvimento manufatureiro em troca de uma posição política sólida em uma etapa em que isso era fundamental para a consolidação de sua colônia americana. Para ele,o ouro brasileiro possibilitou a assinatura do tratado que veio a acabar com o estímulo manufatureiro presente.
8. Um dos fatores salientados pela historiografia como conducentes ao atraso do desenvolvimento das atividades manufatureiras no Brasil colonial trata-se da alegada incapacidade técnica dos portugueses. Discuta os avanços e retrocessos vivenciados pelo desenvolvimento manufatureiro português, de Ericeira a Pombal, baseando-se nos textos indicados de Vitorino de M. Godinho e Jorge de Macedo.
**GODINHO - crise do sec XVII
A fins do século XVII Portugal experimentará uma profunda crise econômica. Um primeiro motivo muito evidente foi o desenvolvimento de outras nações européias nas atividades comerciais ultramarinas: neste novo contexto, ainda que Inglaterra e França continuem a comerciar com Portugal, têm seus mercados fechados para os produtos coloniais advindos do oeste da Ibéria; Além deste fechamento de mercados, surge a concorrência anglo-francesa direta, já que estes adquirem colônias próprias. Some-se a isto o fato de os custos terem-se elevado consideravelmente no período (sobretudo o preço dos escravos, já que aumentara a demanda por trabalho cativo e agora era necessário ir cada vez mais fundo na África para obtê-los) e a diminuição do afluxo de prata (o que diminuiu o meio circulante) e ter-se-á o difícil panorama com que se depararam os portugueses.
Frente a estes problemas, a balançacomercial portuguesa mostrou-se persistentemente deficitária. A crise comercial aos poucos deixou evidente para os portugueses que eles não mais poderiam basear-se exclusivamente nas atividades de intermediação dos produtos coloniais. Assim, fazia-se premente uma política de substituição das importações, já que necessitavam obter os produtos que não mais podiam importar.
**GODINHO - Conde da Ericeira e reações à crise do séx XVII
É desse período, portanto, a primeira expansão manufatureira portuguesa. A atuação do conde da Ericeira se encaixa no momento que, segundo Godinho, está entre dois períodos da história econômica portuguesa e que podemos chamar de “ciclo do açúcar, do tabaco e do sal” e “ciclo do ouro brasileiro, do Porto e do Madeira”. Buscou-se trazer alguns técnicos da França, além de se proibir o comércio de manufaturas francesas. Portugal colocava-se como um concorrente direto dos franceses, fazendo com que se distanciasse deles e aproximasse-se progressivamente dos ingleses. Estabeleceram-se assim indústrias de vidros, têxteis e ferro em diversos pontos de Portugal.
Buscando mitigar os efeitos deficitários da crise sobre sua balança comercial, Portugal empreende uma desvalorização de sua moeda, o que resultará em uma política indireta de protecionismo, já que as exportações são barateadas e as importações encarecidas. Por fim, como parte desta política monetária para enfrentar a crise, podemos destacar também que os portugueses mantiveram durante um longo período o asiento espanhol, o que permitia aos lusos obter a prata para seu meio circulante (cobertura do déficit em espécie). 
**GODINHO - fracasso da política colbertiana Seiscentista em Portugal
No entanto, a política manufatureira sofreria uma brusca derrocada no início do século XVIII (e esta idéia de política deve ser encarada com cautela, já que não se a deve considerar como um plano de metas desenvolvimentista bem estruturado e formalizado, mas resultado das necessidades pelas quais passava a nação e que haviam sido muito bem captadas pela percepção do Conde da Ericeira). Costuma-se evidenciar o tratado de Methuen como o responsável por este declínio da manufatura, mas isto é simplificar demais o problema, já que para Godinho o tratado veio apenas formalizar algo que já vinha ocorrendo há mais tempo, ou seja, Methuen apenas ratificou um movimento econômico que já estava operando, a saber, a exportação de vinho português para os ingleses e a importação por contrabando de panos ingleses em Portugal.
Assim, o que explica tal derrocada do primeiro surto manufatureira é mais o fim da crise comercial. Por volta de 1690, os preços dos produtos tropicais voltam a subir na Europa; Portugal aproveita-se também das dificuldades enfrentadas pelos holandeses para admiravelmente retomar parte do comércio oriental. À mesma época, alcançam poder político grupos de proprietários de terra com grandes interesses econômicos na viticultura. À morte do Conde da Ericeira, seguem-se ministros proprietários de vinhas. 
A chegada do ouro do Brasil em Lisboa remonta a 1695 e cresceu rapidamente, estabelecendo-se em patamares relativamente altos durante mais de 40 anos. A partir do imenso afluxo do ouro brasileiro durante o século século XVIII, Portugal será capaz de cobrir os grandes déficits comerciais em que volta a incorrer. Some-se a isto o fato de Portugal continuar a obter a prata espanhola (apesar de ter perdido o asiento para os ingleses) a partir do contrabando que conseguira efetivar na região do Rio da Prata e ter-se-ão alguns dos motivos pelos quais a política manufatureira deixa de ser necessária e mesmo interessante. É como que se a percepção de crise comercial deixasse de existir com o ouro. Sendo a política industrial uma resposta a crise comercial, em não havendo mais crise, deixa de existir necessidade de política industrial.
**GODINHO & MACEDO - primeiros sinais da nova crise do sec XVIII e fase I do governo pombalino 
Ao final do reinado de D. João V começam a surgir os primeiros sinais de crise. Em 1748, já se observa uma baixa nos preços dos produtos tropicais coloniais. A crise que se começa a configurar na década de 1750 origina-se da concorrência inglesa frente aos produtos tropicais e da concorrência interna pela qual passam os vinicultores lusos.
É nesse contexto de início de reversão de um período até então economicamente frutuoso que se inicia o governo pombalino. Assim, “embora não se revele uma crise econômica geral, há, no entanto, muitas preocupações quanto ao presente e ao futuro: os mais poderosos mercados procuram defender-se”.
Sob o olhar de Macedo, numa primeira fase de governação pombalina, dois importantes setores da sociedade comercial portuguesa são defendidos: o grande comércio colonial e a zona vinícola do Douro ao mesmo tempo em que o Estado absoluto é reforçado.
Em resposta aos primeiros sinais de crise, Pombal determinou a centralização das atividades comerciais por meio da criação de companhias de comércio (visava eliminar o grande número de pequenos comerciantes e garantir que os lucros auferidos no comércio internacional com as colônias não fossem diluídos) e o fim da concorrência interna entre os viticultores. Para tanto, recorreria a um processo de maior centralização do Estado, aumentando o poder de influência da máquina estatal. 
**GODINHO & MACEDO - Crise do sec XVIII e 2a fase da economia “Pombalina”
Para Portugal, um dos resultados mais importantes do afluxo do ouro ocorreria justamente durante seu declínio. O fato da balança comercial portuguesa ser amplamente deficitária não se consiste em um problema enquanto houver um afluxo de ouro do Brasil suficientemente grande cobrir esse déficit, e essa situação altera-se significativamente por volta de 1770, quando a extração mineira do Brasil começou a declinar. A crise do ouro brasileiro foi acompanhada também pela crise de outros produtos coloniais que eram exportados por Portugal, os quais viram seus preços diminuir consideravelmente
A crise que começara a se configurar durante a primeira fase pombalina surge em toda sua grandeza neste segundo período. A partir de 1765, inicia-se a nova fase manufatureira portuguesa, também resultante de uma crise comercial, desta vez decorrente da diminuição aguda da entrada do ouro.
**MACEDO - crítica ao conceito de “política industrial pombalina”
Em primeiro lugar, o autor discute a incoerência em se falar de uma política industrial para uma época que antecede a Revolução Industrial Inglesa e é muito anterior ao espalhamento das inovações inglesas para o restante da Europa. Para ele, o fomento dito pombalino utilizou mais a oficina do que a manufatura e os processos técnicos permaneceram alterados até o século XIX, quando passaram a mudar lentamente. 
A atividade industrial acaba se assentando em uma realidade preexistente e fortemente arraigada ao solo e dispersa pelo país. Segundo Macedo, o que se chamava erroneamente de “fábrica” mantinha uma disposição técnica de oficina e possuía mais um aspecto de centro aproveitador de alguma industria caseira do que de uma organização produtora nova. A falta de sistematização faz com que o foco seja a rapidez da montagem, já que essa é a necessidade imposta pela crise. É essa mesma crise que vai explicar a montagem da indústria nas cidades, onde os produtos nacionais eram mais necessários. Por último, o altor resalta que estas medidas de desenvolvimento manufatureiro não foram conseqüências de uma visão Iluminista de Pombal da nova realidade européia, mas fruto de necessidades econômicas imperiosas e prementes.
Esta política de desenvolvimento manufatureiro acabaria sendo revertida por motivos análogos aos que toldaram o desenvolvimento efetivo da primeira: em fins do século XVIII ocorrem as guerras de independência dos EUA e os conflitos anglo-franceses, abrindo caminho novamente para os produtos tropicais coloniais portugueses e para que os lusos pudessem novamente assumir um papel de destaque no comércio com as Índias.
9. Elabore, com base no texto indicado de Jorgede Macedo, uma análise acerca do período de governação pombalina em Portugal, tendo como ponto de partida a afirmação seguinte, de Vitorino de Magalhães Godinho: “É a partir de 1770, quer dizer, após o desencadeamento da crise do ouro e de todo o comércio de além-mar, que se verificará um novo surto manufatureiro e uma outra transformação comercial. ... Vai abrir-se um novo ciclo do comércio da China e a Índia, do algodão e do arroz do Brasil, das manufaturas da Metrópole. A balança comercial portuguesa tornar-se-á mesmo favorável no fim do século.”
-> questão 8

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