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Aula 16 - Portugal e a Economia 'Pombalina' temas e hipóteses - Macedo J..docx

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Portugal e a Economia “Pombalina”: Temas e Hipóteses
Jorge de Macedo
1. Discussão Metodológica. (*)
	O texto é iniciado com uma breve abordagem metodológica sobre a História enquanto ciência e a maneira pela qual vem a encarar as diversas questões que se lhe afiguram. Enquanto ciência, a História deve ser observada não pelos matizes ideológicos e apaixonados que muitas vezes decorrem das abordagens contemporâneas sobre determinados assuntos, mas com aquele distanciamento que permita não apenas a descrição objetiva dos fatos, mas a compreensão destes em um todo mais amplo, que considere os aspectos socialmente relevantes para o tema em questão. 
	E é justamente este problema de subjetividade e paixão que se coloca quando se fala da época pombalina em Portugal. O autor defenderá a idéia de que Pombal é fruto de sua época, uma decorrência de fatores históricos mais amplos, o que injustifica a abordagem personalista que se faz do período. 
	Assim, compreender a chamada “época pombalina” requer mais a discussão do ambiente histórico que se colocava que propriamente da figura de Pombal. Desse modo, teriam sido evitadas muitas discussões infrutíferas sobre a importância pessoal do marquês para os acontecimentos observados e teriam sido focados aspectos de muito maior relevância. Na conclusão de seu artigo, Macedo observará que Pombal tem sua importância histórica pela maneira como encarou os problemas de sua época, mas observar aquela época como a “época pombalina” é resultado apenas de uma “história impressionista”. 
2. O Contexto histórico da “época pombalina”. (*)
	No século XVIII a economia portuguesa pode ser explicada apenas se forem consideradas as relações mais amplas que possuía com seus mercados coloniais, em especial com o Brasil. É dos movimentos comerciais e das rotas estabelecidas no além-mar que provêm as bases capazes de manter em funcionamento sua estrutura econômica doméstica. 
	Com a intensa atividade comercial do início do século XVIII, o governo português tendia a relaxar as práticas mais exíguas do mercantilismo, ou seja, interessava à monarquia uma política mais liberal frente ao comércio. Um exemplo claro disso é o incentivo da própria Coroa lusitana ao contrabando da prata espanhola na região da Colônia de Sacramento. 
	Dado seu império ultramarino, Portugal configura-se como um elemento-chave nas relações comerciais internacionais do século XVIII. Além disso, sua característica de importador líquido era um grande atrativo para as demais nações européias, ainda mais porque esta intensa atividade comercial era paga com o ouro, cujo afluxo do Brasil aumentava continuamente em inícios do XVIII. Tal intensidade comercial fica muito evidente quando se analisa o conjunto de dados encontrado nos registros de entrada e saída de navios portugueses e estrangeiros no porto de Lisboa.
	Ao final do reinado de D. João V, no entanto, começam a surgir os primeiros sinais de crise. Em 1748, já se observa uma baixa nos preços dos produtos tropicais coloniais, o que é empiricamente evidenciado por uma baixa no número de navios portugueses no porto de Lisboa, enquanto que o número geral de embarcações ali permaneceu relativamente constante. 
	A crise que se começa a configurar na década de 1750 origina-se da concorrência inglesa frente aos produtos tropicais e da concorrência interna pela qual passam os viticultores lusos. 
	É nesse contexto de início de reversão de um período até então economicamente frutuoso que se inicia o governo pombalino. Assim, “embora não se revele uma crise econômica geral, há, no entanto, muitas preocupações quanto ao presente e ao futuro: os mais poderosos mercados procuram defender-se”.
	Em resposta aos primeiros sinais de crise, Pombal determinou a centralização das atividades comerciais por meio da criação de companhias de comércio e o fim da concorrência interna entre os viticultores. Para tanto, recorreria a um processo de maior centralização do Estado, aumentando o poder de influência da máquina estatal. 
	A criação de companhias comerciais visava a eliminar o grande número de pequenos comerciantes que puderam entrar em atividades comerciais diretas com as colônias em função do amplo desenvolvimento econômico que se observara até então. A conjuntura agora era outra e outras eram as necessidades: a criação das companhias, seguida das proibições das atividades comerciais dos pequenos comerciantes eram respostas a estas novas necessidades. 
	As companhias tinham, portanto, um objetivo fundamentalmente interno: buscavam garantir que os lucros auferidos no comércio internacional com as colônias não fossem diluídos entre uma miríade de pequenos comerciantes. Vale ressaltar que tais companhias não tinham por objetivo, como geralmente se acredita, fazer frente às atividades comerciais dos ingleses; pelo contrário, Portugal reconhecia que a Inglaterra era uma parceira política absolutamente necessária e apesar de a balança lusa ser deficitária frente aos ingleses, os primeiros inegavelmente faziam grandes negócios com os anglos. É também incorreto acreditar que as companhias buscavam excluir o capital e o comércio estrangeiros; novamente, o que se observa na prática é o oposto: na legislação das companhias comerciais não eram raras as cláusulas que asseguravam aos investidores estrangeiros que seus direitos seriam respeitados mesmo em caso de guerra entre sua nação de origem e Portugal. 
	Observa-se, assim, que a centralização econômica promovida por Pombal tem algumas características do despotismo esclarecido. No entanto, as medidas adotadas não podem, e não devem, ser encaradas exclusivamente desta maneira: “no governo pombalino não há, portanto, uma orientação abstrata e planificada, mas uma intervenção concreta do Estado no movimento comercial e na concorrência. O Estado absoluto, longe de ser uma entidade arbitral, intervém interessadamente”. 
	A segunda medida que merece destaque nesta primeira fase do governo pombalino é a criação da Companhia da Agricultura dos Vinhos do Alto-Douro. 
	Em função do tratado de Methuen, observou-se em Portugal um amplo desenvolvimento da viticultura: diversas localidades, sobretudo ao sul, sentiram-se impelidas a produzir vinho frente às condições economicamente favoráveis que se haviam posto pelo tratado. Assim, os vinhos do Alto-Douro, aos quais se buscava proteger pelo tratado, passaram a enfrentar uma dupla concorrência: no mercado interno e no externo tinham que competir com o vinho das outras regiões. Assim, a criação da referida companhia buscava eliminar a concorrência entre vinhos lusitanos ao menos no mercado inglês. Aquela companhia era, portanto, “[...] a continuação e a correção do Tratado de Methuen, correspondendo, por assim dizer, no mercado interno àquilo que o Tratado de Methuen foi no mercado externo, ou seja, uma tentativa de eliminação de concorrentes do vinho do Porto”. 
	Já observamos acima que a balança comercial portuguesa era amplamente deficitária. Tal questão não se apresentava como um problema premente quando havia um afluxo de ouro suficientemente grande do Brasil para que o déficit pudesse ser coberto. Mas a situação alterou-se significativamente por volta de 1770, quando a extração mineira do Brasil começou a declinar. A crise do ouro brasileiro foi acompanhada também pela crise de outros produtos coloniais que eram exportados por Portugal, os quais viram seus preços diminuir consideravelmente. 
	A diminuição do afluxo de ouro significava a diminuição da quantidade de moedas cunhadas para o mercado internacional e uma crise decorrente da diminuição na segurança e autonomia de uma economia que se baseara por mais de quatro décadas na extração aurífera. 
	Assim, dadas as crises do ouro e dos produtos coloniais, observou-se uma ampla diminuição dos lucros das companhias coloniais criadas na primeira fase a que acabamos de fazer referência, uma quebra generalizada de diversas empresas comerciais portuguesas, um aumento considerável do endividamento da Coroa e uma diminuição significativa do total de impostosque esta era capaz de obter. 
	A crise que começara a se configurar durante a primeira fase pombalina surge em toda sua grandeza neste segundo período. 
	Para contorná-la, Pombal recorreu à substituição das importações. É deste período a tão aclamada “política industrial pombalina”, a cujo conceito Macedo é extremamente crítico. 
	Em primeiro lugar, o autor discute a incoerência em se falar de uma política industrial para uma época que antecede a Revolução Industrial Inglesa e é muito anterior ao espalhamento das inovações inglesas para o restante da Europa. O que se observava no Portugal pós-política industrialista não eram fábricas no sentido que a palavra adquiriria no século XIX, mas pequenas unidades produtivas que apenas transformavam matérias-primas em bens finais a partir de processos ainda bastante rudimentares, com uma estrutura produtiva baseada principalmente nas oficinas e raramente em manufaturas. O fomento “industrial” aplicava apenas os métodos tradicionais: os avanços tecnológicos caracterizadores da industrialização não foram nem de perto ensaiados nas políticas pombalinas. 
	Em segundo lugar, as pequenas oficinas e algumas manufaturas eram extremamente comuns nas regiões rurais portuguesas, de tal forma que os meios rurais eram capazes de se auto-abastecer. As manufaturas portuguesas eram relativamente escassas apenas nos centros urbanos, onde havia uma predominância maior de empresas estrangeiras, sendo que na zona urbana preferia-se comprar o que se necessitava a produzir-lo. À época da crise, as políticas pombalinas buscaram desenvolver um número maior de oficinas e manufaturas nas cidades e abrir-lhes os mercados mais para as pequenas unidades produtoras das províncias. Ou seja, não se estava criando centros manufatureiros a partir de um “deserto industrial” porque as pequenas oficinas desde há muito eram freqüentes no interior do país. 
	Em terceiro lugar, não se pode nem mesmo falar de uma política clara de desenvolvimento manufatureiro. Na prática, houve uma falta de sistematização na aplicação de políticas que muitas vezes eram apressadas e por vezes desorientadas, as quais visavam a responder imediatamente aos desafios econômicos impostos pela crise comercial. 
	Em quarto lugar, estas medidas de desenvolvimento manufatureiro não foram conseqüências de uma visão Iluminista de Pombal da nova realidade européia, mas fruto de necessidades econômicas imperiosas e prementes.
	“Técnica tradicional, oficinas dispersas pelas zonas rurais e centros urbanos, e acumulados por sua vez nas melhores regiões de matérias-primas ou combustível. Era assim antes e com Pombal. E outra coisa não comportavam nem a época nem o país”. Assim, não é surpresa para nós, que observamos com o olhar ex-post do conhecimento histórico, observar que “é por isso também que a maior parte das oficinas impostas pela crise desapareça com esta”.
2
(*) Os títulos nas subdivisões foram incluídos por mim, não constando na versão original.

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