Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Seção 1 SUA PETIÇÃO DIREITO CONSTITUCIONAL 2 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Olá, aluno, seja bem-vindo ao Núcleo de Prática Jurídica de Direito Constitucional! Nossos estudos ocorrerão em seis seções, as quais enfrentarão diferentes fases processuais, que exigirão conhecimentos específicos e possibilitarão o preparo para o dia a dia forense e para enfrentar com tranquilidade o exame da Ordem dos Advogados e concursos públicos. Os estudos práticos decorrem de um problema fictício, que exigirá, em cada seção, a elaboração de uma peça prático-profissional, a qual será submetida à avaliação. Para auxiliar esse caminho, você terá a seção Fundamentando, que fará a revisão e o aprofundamento de conteúdos teóricos necessários para a elaboração da peça exigida e, ao final, você ainda terá acesso a um modelo da peça processual esperada. Todas as seis seções possuem ligação entre si e revelam a marcha processual a ser seguida de acordo com cada ato processual. Verifique e analise o caso a seguir, que será o condutor de todas as próximas seções. O CASO A senhora Maria, de 76 anos, compareceu a uma loja da empresa Zumbi Telefonia, uma concessionária de telefonia fixa, telefonia móvel, internet banda larga e TV por assinatura, a única com esses serviços disponíveis em sua região, situada na cidade e comarca de Taubaté/SP, para adquirir um pacote de serviços de internet banda larga e televisão por assinatura. Seção 1 DIREITO CONSTITUCIONAL Sua causa! 3 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Após serem apresentados os produtos, o vendedor informou que somente poderiam ser contratados os serviços se fossem adquiridos, de forma conjunta, um aparelho celular pós-pago, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), e uma linha telefônica fixa, ambos com mensalidade de R$ 200,00 (duzentos reais), com vigência pelo prazo mínimo de 12 meses. Além disso, foi exigido que a sua filha, Ana, professora do ensino fundamental, que a acompanhava, assinasse o contrato em nome dela, pois foi dito que, em razão de sua idade avançada, haveria maior risco de morte durante o contrato, inclusive por ser grupo de risco da Covid-19, o que poderia trazer prejuízos à empresa. Assim, apesar de o serviço ser prestado em sua residência e Maria ser a responsável pelo pagamento, somente a sua filha pode constar como contratante. Tendo em vista a extrema necessidade da internet para que pudesse prestar seus serviços de tradutora, Maria aceitou as exigências da empresa. Após a formalização do contrato, a empresa Zumbi Telefonia informou haver o prazo de sete dias para instalação e que não poderia indicar uma data e um horário corretos, devendo a contratante aguardar em horário comercial a chegada de um funcionário credenciado. Somente após 11 dias, quatro a mais do que a data aprazada, os funcionários compareceram na residência de Maria. Após quebrarem duas paredes e estragarem o piso de sua sala, instalaram a internet e o telefone fixo, deixando de instalar a televisão a cabo por alegarem falta de estrutura. Contudo, foi informado a ela que tanto o atraso na instalação como esses prejuízos não seriam indenizados, em razão de haver no contrato uma cláusula retirando da empresa Zumbi Telefonia qualquer responsabilidade, e que isso havia sido devidamente assinado pela filha contratante, Ana. Dois meses após a contratação, o serviço de instalação ainda não foi concluído, mas as mensalidades dos serviços, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), foram cobradas, bem como o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) pelo serviço de instalação, debitado de sua conta de forma equivocada, pois, no contrato, constava como sendo absolutamente gratuito. Maria e Ana procuraram o escritório de advocacia de Josué para tomarem as providências necessárias, uma vez que passaram por momentos difíceis, acarretando, inclusive, um quadro de depressão em Maria, em razão do tratamento preconceituoso conferido pela empresa a respeito de sua idade. Além dessa grave lesão à sua esfera íntima, Maria perdeu o prazo de entrega de dois trabalhos de tradução já contratados, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), devido à demora da instalação da internet em sua residência, assim como teve que despender o valor 4 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION de R$ 1.000,00 (mil reais) para consertar as paredes avariadas pelo funcionário instalador da empresa Zumbi Telefonia. Maria deseja recuperar os valores indevidamente cobrados pela instalação e exige que o serviço de televisão a cabo contratado, que está sendo pago, seja efetivamente instalado em sua residência, e que o telefone fixo seja desinstalado, assim como as cobranças de sua utilização sejam cessadas. Em vista dos valores envolvidos na relação jurídica e da falta de complexidade que exigiria a realização de perícias ou outras provas técnicas, Josué, Ana e Maria entenderam que o foro mais adequado para a propositura da ação seria o do Juizado Especial Cível, em razão da gratuidade de custas em primeiro grau. Agora é com você! No papel do advogado Josué, elabore a peça processual cabível diante da situação narrada. A Constituição Cidadã, como foi apelidada a nossa Constituição na data de sua promulgação, assim é chamada em razão de seu amplo conjunto de direitos e garantias fundamentais e sociais, assim como pela proteção dada ao regime democrático. Ao contrário das demais constituições brasileiras que arrolavam os direitos fundamentais com pouco ou nenhum destaque, a Constituição de 5 de outubro de 1988 indicou a dignidade humana como um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil e previu, no início de seu texto, em especial no art. 5º, um amplo rol de direitos e garantias fundamentais. Dentre esses direitos fundamentais, encontra-se a proteção do consumidor nas relações de consumo, reconhecendo expressamente que ele se encontra em uma posição de desigualdade nas relações jurídicas com os fornecedores de produtos e serviços. O reconhecimento dessa “fraqueza” em uma relação jurídica se denomina hipossuficiência. A Constituição, portanto, reconheceu expressamente que o consumidor é hipossuficiente e, por isso, deve ser protegido. Trata-se da aplicação especial do princípio da igualdade material, na qual cada um deve ser tratado diferentemente, nas medidas de suas desigualdades. Fundamentando! 5 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Sim, sabemos que a ideia de igualdade presume que todos sejam tratados da mesma maneira, mas tratar desiguais de forma igual é algo que acarreta diversas injustiças. Ora, pense em alguém que trabalha anos para economizar dinheiro para comprar um telefone celular e ele quebra em razão de um defeito de fábrica. Você acha que a lesão dessa pessoa é igual à de uma grande empresa multinacional que deve realizar a troca dos aparelhos defeituosos aos seus consumidores? É evidente que o impacto econômico para o consumidor é muito superior do que é para a empresa. Em alguns casos especiais, em que as partes de uma relação jurídica são historicamente colocadas em situações de desigualdade, o Direito passa a proteger essas relações, reconhecendo a HIPOSSUFICIÊNCIA, isto é, a vulnerabilidade de uma delas e criando regras que a protegem, retomando de forma artificial o equilíbrio. Isso ocorre em diversas áreas do Direito, como nas relações de consumo, nas trabalhistas, no contrato de aluguel para moradia e nas relações envolvendo crianças e idosos. Algumas dessas regras protetivas não podem ser desrespeitadas nem mesmo pela vontade das partes, e a elas damos o nome de normas de ordem pública. Já o caput do art. 5º a Constituição Federal indica que a igualdade é um direito fundamental a ser observado em todas as relações.Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso) PONTO DE ATENÇÃO! No Livro V, de Ética a Nicômaco, Aristóteles (384-322 a.C.) nos oferece um dos aspectos de seu conceito de justiça, que para ele significa dar igual tratamento aos iguais e tratar desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Coleção Os pensadores, v. 2.) 6 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Essas normas constitucionais se dirigem a alguns sujeitos: ao legislador, limitando a sua atuação, que deve se dar conforme a Constituição; ao intérprete; às autoridades públicas do Poder Executivo e do Poder Judiciário, que darão concretude às normas; ao particular, que deverá aplicar esses princípios em suas relações privadas. É o que se denomina de “horizontalização dos direitos fundamentais”, sobre a qual voltaremos a falar em nossos encontros. Como dito, para que tenhamos igualdade, não basta tratar todos da mesma forma, pelo contrário, é preciso reconhecer as desigualdades e protegê-las, e é isso que ocorre no inciso XXXII do art. 5º: “XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (BRASIL, 1988, [s. p.]). Atente-se ao fato de que a Constituição não exigiu que o Estado regule simplesmente as relações de consumo por meio de lei, mas, sim, que essa regulação ocorra para defender o consumidor, reconhecendo a sua vulnerabilidade e exigindo que ele seja tratado de forma diferente dos demais. Veja que a mesma exigência de proteção e defesa se destina também a outras pessoas vulneráveis, como é o caso das pessoas com deficiência, da criança, do adolescente e do jovem, a quem é conferida a absoluta prioridade de atendimento. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso) A Constituição de 1988 destinou aos idosos igual proteção e defesa, exigindo de seus filhos, da família, de toda a sociedade e do Estado o dever de os amparar, de forma que possam exercer sua plena capacidade, como forma de garantia de sua dignidade e bem- estar. Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso) 7 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Essa proteção constitucional goza de plena eficácia e imediata aplicabilidade, contudo, para que ela se torne mais bem delineada e cumprida, há a necessidade de que esses direitos sejam previstos em uma norma regulamentadora dessas relações e que preveja sanções aos seus descumprimentos, como o que ocorre com o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto das Pessoas com Deficiência e o Estatuto do Idoso. Essas normas legais estendem os efeitos dos princípios previstos na Constituição para um plano mais concreto, com a previsão e delimitação de direitos e deveres e as sanções decorrentes do incorreto cumprimento da norma. O legislador deve se guiar pela norma constitucional e dela não pode se afastar, restringindo de forma excessiva os direitos nela previstos ou contrariando os seus termos. A Constituição funciona como um guia, como uma bússola que aponta o caminho que deve ser percorrido pelo legislador e, quando ele se desvia dessas indicações, ocorre o vício da inconstitucionalidade da norma. Vejamos como ocorre a proteção infraconstitucional (ou legal) dos consumidores e dos idosos. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O constituinte se preocupou muito com a proteção do consumidor, prevendo esse dever no rol do inciso XXXII do art. 5º, mas também exigindo que o legislador elaborasse um código de defesa do consumidor em 120 dias após a promulgação da CF. Conforme disposto no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT): “Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor” (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso). Contudo, houve um descumprimento desse dever constitucional, pois o Código de Defesa do Consumidor (CDC) somente foi elaborado em 11 de setembro de 1990, pela Lei nº 8.078. Essa norma trouxe imenso avanço e proteção para os consumidores e aprimorou a defesa dos direitos metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos), como veremos em nossos outros encontros. Como exigido pela Constituição, o Código não somente regulou as relações de consumo, antes reguladas de forma ordinária pelo Código Civil como obrigações e contratos comuns, ele fez algo diferente: estipulou regras que desigualam as relações contratuais, protegendo o consumidor contra eventuais abusos dos fornecedores de produtos e serviços, reconhecendo a vulnerabilidade e a hipossuficiência dos consumidores. 8 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Já em seu primeiro artigo, o CDC indica que as normas de proteção são de ordem pública e interesse social que, como já dito, impedem que as partes renunciem a alguns direitos ou assumam obrigações que são consideradas na lei como abusivas ou ilegais. Isso impede que o fornecedor utilize a sua superioridade econômica ou técnica para obrigar que o consumidor se submeta às suas determinações. Vejamos algumas práticas abusivas que devem ter a sua aplicação afastadas por força de lei, mesmo quando houver a anuência do consumidor: • Repetição de indébito e cobrança vexatória A cobrança de dívidas mereceu um tratamento especial por parte do CDC, ora impedindo que o devedor seja exposto ao ridículo, ora protegendo o consumidor, que é injustamente cobrado por uma quantia indevida. Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. (BRASIL, 1990, [s. p.]) Visando à precaução de cobranças indevidas, o CDC indica que as quantias indevidamente cobradas devem ser devolvidas em dobro por quem as cobrou, quando isso não tiver se devido a um engano justificável. • Venda casada Essa prática abusiva está prevista no inciso I do art. 39 do CDC e consiste no condicionamento da compra de um produto ou serviço à aquisição de outro, sem que seja tecnicamente necessária ou que haja um efetivo benefício para o consumidor. É considerada venda casada a necessidade de aquisição de serviços em “combos” de telefonia móvel e internet, a exigência de contratação de seguros com a aquisição de produtos, a contratação de cartões de crédito na abertura de contas bancárias, entre outras. A venda casada impede a liberdade de escolha do consumidor e, por essa razão, é considerada um crime contra a ordem econômica e contra as relações de consumo, bem como anula a parte do contratorelativa a essa aquisição, gerando o dever de indenização pelos danos eventualmente ocasionados. • Cláusulas abusivas O CDC reconhece a abusividade de cláusulas contratuais que ofendem princípios fundamentais das relações de consumo, como a liberdade e a proteção da vulnerabilidade do 9 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION consumidor ou quando acarretem à restrição exagerada de direitos, quando impliquem ônus excessivo ao consumidor ou quando retirem do fornecedor a sua responsabilidade. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. (BRASIL, 1990, [s. p.]) São abusivas as cláusulas de não responsabilização, muito comuns em estacionamentos; as cláusulas de difícil compreensão ou em letras menores do que as demais, quando tratam de obrigações ou restrições aos direitos do consumidor; as cláusulas que alteram o preço ou as condições de forma unilateral pelo fornecedor. A nulidade de pleno direito reflete a ineficácia que essas cláusulas geram para o consumidor, como se não tivessem sido escritas, mesmo que ocorra a sua expressa anuência. Além disso, como garantia do princípio da manutenção das cláusulas contratuais, a nulidade de uma cláusula não gera a nulidade de todo o negócio jurídico, quando é possível que seja alterado o ponto abusivo, mas mantidos os demais, sem que ocorra excessiva onerosidade para nenhuma das partes. Essa proteção contra a abusividade é ainda maior nos chamados contratos de adesão, cujas cláusulas foram estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos e serviços, destinado a um número indeterminado de pessoas, sem que haja a possibilidade de o consumidor modificar substancialmente seu conteúdo. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), de forma majoritária, entende que obrigar os consumidores a comprarem apenas os alimentos e as bebidas oferecidos nas lanchonetes do cinema consiste em uma venda casada, conforme prevê o inciso I do art. 39 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), em razão de a finalidade principal do estabelecimento ser o entretenimento e o não o comércio de alimentos. Qual é a sua opinião sobre o assunto? Debata com seus colegas. PONTO DE ATENÇÃO 10 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION O ESTATUTO DO IDOSO A Constituição prevê a especial proteção da população idosa, que se aproxima da casa dos trinta milhões de brasileiros, segundo os últimos censos do IBGE1. A proteção dessa população está regulamentada pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, dispondo sobre a adoção de políticas públicas, direitos e deveres de todos em face das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. A proteção ao idoso visa à igualdade de acesso a todos os direitos fundamentais, com as mesmas oportunidades e facilidades sociais que garantam a sua liberdade, dignidade e autodeterminação, afastando-o de qualquer negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão e de todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão. Além de repisar a existência de seus direitos fundamentais, como à vida, à liberdade, e à dignidade, o Estatuto prevê o direito ao respeito, consistente na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, das ideias e crenças, dos espaços e dos seus objetos pessoais. Ele ainda indica o dever de todos de zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento discriminatório, desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor2. Como sanção ao descumprimento desse dever, além dos aspectos indenizatórios civis que maculam qualquer negócio jurídico – tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor –, o Estatuto prevê a tipificação penal, apontando a prática de crime nesse tratamento discriminatório: Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. (BRASIL, 2003, [s. p.], grifo nosso) 1 Disponível em: https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam- caminhos-para-uma-melhor-idade.html. Acesso em: 6 jun. 2021. 2 Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. [...] §2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. §3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 2003, [s. p.]) https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html 11 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Por fim, a legislação também trouxe direitos de facilitação ao acesso à justiça, com a possibilidade de criação de varas especializadas e exclusivas para o idoso, bem como a prioridade na tramitação dos processos e procedimentos, que é ainda maior no caso de maiores de 80 anos3. Pronto para começar a praticar? O conteúdo você já tem, então qual medida judicial podemos tomar? Atenção: no papel do advogado Josué, vamos propor a medida adequada na Comarca em que ocorreram os fatos. Atue judicialmente propondo a ação que atenda às necessidades de suas clientes, para que seja cumprida a obrigação de instalação da televisão a cabo, devolvido o telefone fixo, devolvidos os valores indevidamente cobrados e indenizados os danos materiais e morais experimentados. Feito isso, você deverá: 1. Verificar qual é o foro competente para o seu julgamento, para fazer o correto endereçamento da petição inicial. 2. Verificar se seu cliente tem legitimidade para propor a ação e quais são os documentos necessários para comprovar isso. 3. Apontar o polo ativo e o polo passivo da ação. 4. Demonstrar o cabimento da ação, com a devida fundamentação legal. 5. Narrar os fatos que embasam a demanda. 6. Enumerar os requerimentos e pedidos da ação. 7. Dar um valor à sua causa. 8. Datar e assinar a petição. Agora é com você, aluno! 3 Conforme indica o art. 1.048 do CPC: “Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais: I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988” (BRASIL, 2015, [s. p.]); e o §5º do art. 71 do Estatuto do Idoso: “Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017)” (BRASIL, 2003, [s. p.]). Vamos peticionar! 12 INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 4 jun. 2021. BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 4 jun. 2021. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm
Compartilhar