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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
 
Seção 1 
SUA PETIÇÃO 
DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
 
 
 
 
 
 
Olá, aluno, seja bem-vindo ao Núcleo de Prática Jurídica de Direito Constitucional! 
Nossos estudos ocorrerão em seis seções, as quais enfrentarão diferentes fases 
processuais, que exigirão conhecimentos específicos e possibilitarão o preparo para o dia a 
dia forense e para enfrentar com tranquilidade o exame da Ordem dos Advogados e 
concursos públicos. 
Os estudos práticos decorrem de um problema fictício, que exigirá, em cada seção, a 
elaboração de uma peça prático-profissional, a qual será submetida à avaliação. 
Para auxiliar esse caminho, você terá a seção Fundamentando, que fará a revisão e 
o aprofundamento de conteúdos teóricos necessários para a elaboração da peça exigida e, 
ao final, você ainda terá acesso a um modelo da peça processual esperada. 
Todas as seis seções possuem ligação entre si e revelam a marcha processual a ser 
seguida de acordo com cada ato processual. 
Verifique e analise o caso a seguir, que será o condutor de todas as próximas seções. 
 
 
O CASO 
 A senhora Maria, de 76 anos, compareceu a uma loja da empresa Zumbi Telefonia, 
uma concessionária de telefonia fixa, telefonia móvel, internet banda larga e TV por 
assinatura, a única com esses serviços disponíveis em sua região, situada na cidade e 
comarca de Taubaté/SP, para adquirir um pacote de serviços de internet banda larga e 
televisão por assinatura. 
 
 
Seção 1 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
Sua causa! 
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
 Após serem apresentados os produtos, o vendedor informou que somente poderiam 
ser contratados os serviços se fossem adquiridos, de forma conjunta, um aparelho celular 
pós-pago, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), e uma linha telefônica fixa, ambos com 
mensalidade de R$ 200,00 (duzentos reais), com vigência pelo prazo mínimo de 12 meses. 
 Além disso, foi exigido que a sua filha, Ana, professora do ensino fundamental, que a 
acompanhava, assinasse o contrato em nome dela, pois foi dito que, em razão de sua idade 
avançada, haveria maior risco de morte durante o contrato, inclusive por ser grupo de risco 
da Covid-19, o que poderia trazer prejuízos à empresa. Assim, apesar de o serviço ser 
prestado em sua residência e Maria ser a responsável pelo pagamento, somente a sua filha 
pode constar como contratante. Tendo em vista a extrema necessidade da internet para que 
pudesse prestar seus serviços de tradutora, Maria aceitou as exigências da empresa. 
 Após a formalização do contrato, a empresa Zumbi Telefonia informou haver o prazo 
de sete dias para instalação e que não poderia indicar uma data e um horário corretos, 
devendo a contratante aguardar em horário comercial a chegada de um funcionário 
credenciado. 
 Somente após 11 dias, quatro a mais do que a data aprazada, os funcionários 
compareceram na residência de Maria. Após quebrarem duas paredes e estragarem o piso 
de sua sala, instalaram a internet e o telefone fixo, deixando de instalar a televisão a cabo por 
alegarem falta de estrutura. 
 Contudo, foi informado a ela que tanto o atraso na instalação como esses prejuízos 
não seriam indenizados, em razão de haver no contrato uma cláusula retirando da empresa 
Zumbi Telefonia qualquer responsabilidade, e que isso havia sido devidamente assinado pela 
filha contratante, Ana. 
 Dois meses após a contratação, o serviço de instalação ainda não foi concluído, mas 
as mensalidades dos serviços, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), foram cobradas, 
bem como o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) pelo serviço de instalação, debitado de sua conta 
de forma equivocada, pois, no contrato, constava como sendo absolutamente gratuito. 
 Maria e Ana procuraram o escritório de advocacia de Josué para tomarem as 
providências necessárias, uma vez que passaram por momentos difíceis, acarretando, 
inclusive, um quadro de depressão em Maria, em razão do tratamento preconceituoso 
conferido pela empresa a respeito de sua idade. 
Além dessa grave lesão à sua esfera íntima, Maria perdeu o prazo de entrega de dois 
trabalhos de tradução já contratados, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), devido à 
demora da instalação da internet em sua residência, assim como teve que despender o valor 
 
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de R$ 1.000,00 (mil reais) para consertar as paredes avariadas pelo funcionário instalador da 
empresa Zumbi Telefonia. 
Maria deseja recuperar os valores indevidamente cobrados pela instalação e exige 
que o serviço de televisão a cabo contratado, que está sendo pago, seja efetivamente 
instalado em sua residência, e que o telefone fixo seja desinstalado, assim como as cobranças 
de sua utilização sejam cessadas. 
Em vista dos valores envolvidos na relação jurídica e da falta de complexidade que 
exigiria a realização de perícias ou outras provas técnicas, Josué, Ana e Maria entenderam 
que o foro mais adequado para a propositura da ação seria o do Juizado Especial Cível, em 
razão da gratuidade de custas em primeiro grau. 
 Agora é com você! No papel do advogado Josué, elabore a peça processual 
cabível diante da situação narrada. 
 
 
 
 
A Constituição Cidadã, como foi apelidada a nossa Constituição na data de sua 
promulgação, assim é chamada em razão de seu amplo conjunto de direitos e garantias 
fundamentais e sociais, assim como pela proteção dada ao regime democrático. 
Ao contrário das demais constituições brasileiras que arrolavam os direitos 
fundamentais com pouco ou nenhum destaque, a Constituição de 5 de outubro de 1988 
indicou a dignidade humana como um dos princípios fundamentais da República Federativa 
do Brasil e previu, no início de seu texto, em especial no art. 5º, um amplo rol de direitos e 
garantias fundamentais. 
Dentre esses direitos fundamentais, encontra-se a proteção do consumidor nas 
relações de consumo, reconhecendo expressamente que ele se encontra em uma posição de 
desigualdade nas relações jurídicas com os fornecedores de produtos e serviços. O 
reconhecimento dessa “fraqueza” em uma relação jurídica se denomina hipossuficiência. 
A Constituição, portanto, reconheceu expressamente que o consumidor é 
hipossuficiente e, por isso, deve ser protegido. Trata-se da aplicação especial do princípio da 
igualdade material, na qual cada um deve ser tratado diferentemente, nas medidas de suas 
desigualdades. 
Fundamentando! 
 
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Sim, sabemos que a ideia de igualdade presume que todos sejam tratados da mesma 
maneira, mas tratar desiguais de forma igual é algo que acarreta diversas injustiças. Ora, 
pense em alguém que trabalha anos para economizar dinheiro para comprar um telefone 
celular e ele quebra em razão de um defeito de fábrica. Você acha que a lesão dessa pessoa 
é igual à de uma grande empresa multinacional que deve realizar a troca dos aparelhos 
defeituosos aos seus consumidores? É evidente que o impacto econômico para o consumidor 
é muito superior do que é para a empresa. 
Em alguns casos especiais, em que as partes de uma relação jurídica são 
historicamente colocadas em situações de desigualdade, o Direito passa a proteger essas 
relações, reconhecendo a HIPOSSUFICIÊNCIA, isto é, a vulnerabilidade de uma delas e 
criando regras que a protegem, retomando de forma artificial o equilíbrio. Isso ocorre em 
diversas áreas do Direito, como nas relações de consumo, nas trabalhistas, no contrato de 
aluguel para moradia e nas relações envolvendo crianças e idosos. 
Algumas dessas regras protetivas não podem ser desrespeitadas nem mesmo pela 
vontade das partes, e a elas damos o nome de normas de ordem pública. 
 
Já o caput do art. 5º a Constituição Federal indica que a igualdade é um direito 
fundamental a ser observado em todas as relações.Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes. (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso) 
 
PONTO DE ATENÇÃO! 
No Livro V, de Ética a Nicômaco, Aristóteles (384-322 a.C.) nos oferece um dos 
aspectos de seu conceito de justiça, que para ele significa dar igual tratamento aos 
iguais e tratar desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade. 
 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Coleção Os 
pensadores, v. 2.) 
 
 
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Essas normas constitucionais se dirigem a alguns sujeitos: ao legislador, limitando a 
sua atuação, que deve se dar conforme a Constituição; ao intérprete; às autoridades públicas 
do Poder Executivo e do Poder Judiciário, que darão concretude às normas; ao particular, 
que deverá aplicar esses princípios em suas relações privadas. É o que se denomina de 
“horizontalização dos direitos fundamentais”, sobre a qual voltaremos a falar em nossos 
encontros. 
Como dito, para que tenhamos igualdade, não basta tratar todos da mesma forma, 
pelo contrário, é preciso reconhecer as desigualdades e protegê-las, e é isso que ocorre no 
inciso XXXII do art. 5º: “XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do 
consumidor” (BRASIL, 1988, [s. p.]). 
Atente-se ao fato de que a Constituição não exigiu que o Estado regule simplesmente 
as relações de consumo por meio de lei, mas, sim, que essa regulação ocorra para defender 
o consumidor, reconhecendo a sua vulnerabilidade e exigindo que ele seja tratado de forma 
diferente dos demais. 
Veja que a mesma exigência de proteção e defesa se destina também a outras 
pessoas vulneráveis, como é o caso das pessoas com deficiência, da criança, do adolescente 
e do jovem, a quem é conferida a absoluta prioridade de atendimento. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL, 
1988, [s. p.], grifo nosso) 
 
 
A Constituição de 1988 destinou aos idosos igual proteção e defesa, exigindo de seus 
filhos, da família, de toda a sociedade e do Estado o dever de os amparar, de forma que 
possam exercer sua plena capacidade, como forma de garantia de sua dignidade e bem-
estar. 
 
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos 
maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou 
enfermidade. 
 
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas 
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e 
bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso) 
 
 
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
Essa proteção constitucional goza de plena eficácia e imediata aplicabilidade, contudo, 
para que ela se torne mais bem delineada e cumprida, há a necessidade de que esses direitos 
sejam previstos em uma norma regulamentadora dessas relações e que preveja sanções aos 
seus descumprimentos, como o que ocorre com o Código de Defesa do Consumidor, o 
Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto das Pessoas com Deficiência e o Estatuto 
do Idoso. 
Essas normas legais estendem os efeitos dos princípios previstos na Constituição para 
um plano mais concreto, com a previsão e delimitação de direitos e deveres e as sanções 
decorrentes do incorreto cumprimento da norma. O legislador deve se guiar pela norma 
constitucional e dela não pode se afastar, restringindo de forma excessiva os direitos nela 
previstos ou contrariando os seus termos. A Constituição funciona como um guia, como uma 
bússola que aponta o caminho que deve ser percorrido pelo legislador e, quando ele se desvia 
dessas indicações, ocorre o vício da inconstitucionalidade da norma. 
Vejamos como ocorre a proteção infraconstitucional (ou legal) dos consumidores e 
dos idosos. 
 
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
O constituinte se preocupou muito com a proteção do consumidor, prevendo esse 
dever no rol do inciso XXXII do art. 5º, mas também exigindo que o legislador elaborasse um 
código de defesa do consumidor em 120 dias após a promulgação da CF. 
Conforme disposto no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT): “Art. 
48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, 
elaborará código de defesa do consumidor” (BRASIL, 1988, [s. p.], grifo nosso). 
Contudo, houve um descumprimento desse dever constitucional, pois o Código de 
Defesa do Consumidor (CDC) somente foi elaborado em 11 de setembro de 1990, pela Lei 
nº 8.078. Essa norma trouxe imenso avanço e proteção para os consumidores e aprimorou a 
defesa dos direitos metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos), como 
veremos em nossos outros encontros. 
Como exigido pela Constituição, o Código não somente regulou as relações de 
consumo, antes reguladas de forma ordinária pelo Código Civil como obrigações e contratos 
comuns, ele fez algo diferente: estipulou regras que desigualam as relações contratuais, 
protegendo o consumidor contra eventuais abusos dos fornecedores de produtos e serviços, 
reconhecendo a vulnerabilidade e a hipossuficiência dos consumidores. 
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
Já em seu primeiro artigo, o CDC indica que as normas de proteção são de ordem 
pública e interesse social que, como já dito, impedem que as partes renunciem a alguns 
direitos ou assumam obrigações que são consideradas na lei como abusivas ou ilegais. Isso 
impede que o fornecedor utilize a sua superioridade econômica ou técnica para obrigar que 
o consumidor se submeta às suas determinações. Vejamos algumas práticas abusivas que 
devem ter a sua aplicação afastadas por força de lei, mesmo quando houver a anuência do 
consumidor: 
• Repetição de indébito e cobrança vexatória 
A cobrança de dívidas mereceu um tratamento especial por parte do CDC, ora 
impedindo que o devedor seja exposto ao ridículo, ora protegendo o consumidor, que é 
injustamente cobrado por uma quantia indevida. 
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a 
ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. 
 
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição 
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção 
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. (BRASIL, 1990, [s. p.]) 
 
Visando à precaução de cobranças indevidas, o CDC indica que as quantias 
indevidamente cobradas devem ser devolvidas em dobro por quem as cobrou, quando isso 
não tiver se devido a um engano justificável. 
• Venda casada 
Essa prática abusiva está prevista no inciso I do art. 39 do CDC e consiste no 
condicionamento da compra de um produto ou serviço à aquisição de outro, sem que seja 
tecnicamente necessária ou que haja um efetivo benefício para o consumidor. 
É considerada venda casada a necessidade de aquisição de serviços em “combos” de 
telefonia móvel e internet, a exigência de contratação de seguros com a aquisição de 
produtos, a contratação de cartões de crédito na abertura de contas bancárias, entre outras. 
A venda casada impede a liberdade de escolha do consumidor e, por essa razão, é 
considerada um crime contra a ordem econômica e contra as relações de consumo, bem 
como anula a parte do contratorelativa a essa aquisição, gerando o dever de indenização 
pelos danos eventualmente ocasionados. 
• Cláusulas abusivas 
O CDC reconhece a abusividade de cláusulas contratuais que ofendem princípios 
fundamentais das relações de consumo, como a liberdade e a proteção da vulnerabilidade do 
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
consumidor ou quando acarretem à restrição exagerada de direitos, quando impliquem ônus 
excessivo ao consumidor ou quando retirem do fornecedor a sua responsabilidade. 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao 
fornecimento de produtos e serviços que: 
I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios 
de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição 
de direitos. (BRASIL, 1990, [s. p.]) 
 
São abusivas as cláusulas de não responsabilização, muito comuns em 
estacionamentos; as cláusulas de difícil compreensão ou em letras menores do que as 
demais, quando tratam de obrigações ou restrições aos direitos do consumidor; as cláusulas 
que alteram o preço ou as condições de forma unilateral pelo fornecedor. 
A nulidade de pleno direito reflete a ineficácia que essas cláusulas geram para o 
consumidor, como se não tivessem sido escritas, mesmo que ocorra a sua expressa 
anuência. Além disso, como garantia do princípio da manutenção das cláusulas contratuais, 
a nulidade de uma cláusula não gera a nulidade de todo o negócio jurídico, quando é possível 
que seja alterado o ponto abusivo, mas mantidos os demais, sem que ocorra excessiva 
onerosidade para nenhuma das partes. 
Essa proteção contra a abusividade é ainda maior nos chamados contratos de adesão, 
cujas cláusulas foram estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos e serviços, 
destinado a um número indeterminado de pessoas, sem que haja a possibilidade de o 
consumidor modificar substancialmente seu conteúdo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O Superior Tribunal de Justiça (STJ), de forma majoritária, entende que obrigar os 
consumidores a comprarem apenas os alimentos e as bebidas oferecidos nas lanchonetes 
do cinema consiste em uma venda casada, conforme prevê o inciso I do art. 39 do Código 
de Defesa do Consumidor (CDC), em razão de a finalidade principal do estabelecimento ser 
o entretenimento e o não o comércio de alimentos. 
Qual é a sua opinião sobre o assunto? Debata com seus colegas. 
 
PONTO DE ATENÇÃO 
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
O ESTATUTO DO IDOSO 
A Constituição prevê a especial proteção da população idosa, que se aproxima da 
casa dos trinta milhões de brasileiros, segundo os últimos censos do IBGE1. A proteção dessa 
população está regulamentada pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, 
dispondo sobre a adoção de políticas públicas, direitos e deveres de todos em face das 
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. 
A proteção ao idoso visa à igualdade de acesso a todos os direitos fundamentais, com 
as mesmas oportunidades e facilidades sociais que garantam a sua liberdade, dignidade e 
autodeterminação, afastando-o de qualquer negligência, discriminação, violência, crueldade 
ou opressão e de todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão. 
Além de repisar a existência de seus direitos fundamentais, como à vida, à liberdade, 
e à dignidade, o Estatuto prevê o direito ao respeito, consistente na inviolabilidade da 
integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da 
autonomia, dos valores, das ideias e crenças, dos espaços e dos seus objetos pessoais. Ele 
ainda indica o dever de todos de zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de 
qualquer tratamento discriminatório, desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou 
constrangedor2. 
Como sanção ao descumprimento desse dever, além dos aspectos indenizatórios civis 
que maculam qualquer negócio jurídico – tratamento desumano, violento, aterrorizante, 
vexatório ou constrangedor –, o Estatuto prevê a tipificação penal, apontando a prática de 
crime nesse tratamento discriminatório: 
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações 
bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro 
meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: 
 
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. (BRASIL, 2003, [s. p.], grifo 
nosso) 
 
 
1 Disponível em: https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-
caminhos-para-uma-melhor-idade.html. Acesso em: 6 jun. 2021. 
 
2 Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, 
como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e 
nas leis. 
[...] 
§2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a 
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos 
pessoais. 
§3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, 
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 2003, [s. p.]) 
https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html
https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html
 
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INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
Por fim, a legislação também trouxe direitos de facilitação ao acesso à justiça, com a 
possibilidade de criação de varas especializadas e exclusivas para o idoso, bem como a 
prioridade na tramitação dos processos e procedimentos, que é ainda maior no caso de 
maiores de 80 anos3. 
 
 
 
 
Pronto para começar a praticar? O conteúdo você já tem, então qual medida judicial podemos 
tomar? 
Atenção: no papel do advogado Josué, vamos propor a medida adequada na Comarca em 
que ocorreram os fatos. 
Atue judicialmente propondo a ação que atenda às necessidades de suas clientes, para que seja 
cumprida a obrigação de instalação da televisão a cabo, devolvido o telefone fixo, devolvidos os 
valores indevidamente cobrados e indenizados os danos materiais e morais experimentados. 
Feito isso, você deverá: 
1. Verificar qual é o foro competente para o seu julgamento, para fazer o correto endereçamento 
da petição inicial. 
2. Verificar se seu cliente tem legitimidade para propor a ação e quais são os documentos 
necessários para comprovar isso. 
3. Apontar o polo ativo e o polo passivo da ação. 
4. Demonstrar o cabimento da ação, com a devida fundamentação legal. 
5. Narrar os fatos que embasam a demanda. 
6. Enumerar os requerimentos e pedidos da ação. 
7. Dar um valor à sua causa. 
8. Datar e assinar a petição. 
 
Agora é com você, aluno! 
 
3 Conforme indica o art. 1.048 do CPC: “Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os 
procedimentos judiciais: I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 
(sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, 
inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988” (BRASIL, 2015, [s. p.]); e o §5º do art. 71 do Estatuto 
do Idoso: “Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos. (Incluído 
pela Lei nº 13.466, de 2017)” (BRASIL, 2003, [s. p.]). 
Vamos peticionar! 
 
 12 
INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION 
Referências 
 
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 
Presidência da República, [2021]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. 
 
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá 
outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 4 jun. 2021. 
 
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras 
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 4 jun. 2021. 
 
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência 
da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm

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