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Homem, Cultura e Sociedade Vivian Fernandes Carvalho de Almeida Mestrado em História - Universidade Estadual de Maringá - UEM Pós-Graduação em Gestão Escolar pela Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro Graduação em História - Universidade Estadual de Maringá - UEM Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Mestre na área de Concentração: Política, Movimentos Populacionais e Sociais, linha de pesquisa Instituições e História Ideias, com ênfase em policiamento. Especialista em Gestão escolar pela Universidade Esta- dual do Centro-Oeste (Unicentro). Suas pesquisas dão ênfase à Histó- ria Contemporânea do Brasil e Regional. Coordena o Projeto Docente Olhares que estuda a História do Tempo Presente da cidade Maringá com acadêmicos do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar). Atua como professora desde 2009 e, atualmente, é Professora de Mediadora e de História Moderna no EaD da Unicesumar. Angélica de Brito Mestrado em História - Universidade Estadual de Maringá - UEM Especialização em História e Humanidades pela Universidade Estadual de Maringá - UEM Graduação em História - Universidade Estadual de Maringá - UEM Mestre e graduada em História, pela Universidade Estadual de Ma- ringá. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil e do Paraná, atuando principalmente nos seguintes temas: Brasil República, Política e Movimentos Sociais - Anticomunismo no Brasil. Trabalha, atualmente, como Professora Mediadora do curso de História EaD da Unicesumar. O conceito “cultura” é discutido há tempos e abarca diversas acepções em linhas gerais. Isso porque, ao pensarmos no termo, não podemos compreendê-lo de forma isolada, pois é carregado da ação humana e social. É comum vê-lo sendo utilizado como sinônimo de sabedoria, conhecimento ou mesmo condição social. Isso porque, no senso comum, a cultura é entendida como sendo algo restrito a indivíduos ou grupos sociais que moram em regiões mais desenvolvidas, pessoas com ensino superior, que dominam várias línguas ou mesmo que são melhores remu- neradas. Viés que contribui com a ideia de que europeus, estadunidenses, japoneses ou qualquer grupo que vive em uma região economicamente mais desenvolvida têm mais acesso à cultura. Concepção que deriva, em boa parte, da compreensão do social base- ada fundamentalmente no desenvolvimento material. Desse modo, regiões ou países menos desenvolvidos economicamente acabam sendo classificados como “culturalmente pobres” – entendimento equivocado, pois desconsidera a cultura como amostra do desenvolvimento humano desvinculado da produção econô- mica, ou seja, desvinculado do dinheiro. Esse posicionamento desconsidera o fato de que indivíduos que não sabem ler ou escrever também têm e produzem cultura. Uma das grandes preocupações das ciências humanas, como a História, Sociologia e Antropologia, é desconstruir esse tipo de perspectiva, demonstrando que qualquer indiví- duo ou grupo social humano é, antes de tudo, cultural. Para essas áreas, a cultura deve ser compreendida como um dos principais meios de diferenciarmos as sociedades; isso porque cada grupo social apresenta dinâmicas específicas, que envolvem maneiras de pensar, fazer e interpretar o mundo que os cerca de forma diversa, bem como comparti- lhar suas experiências entre os membros de seu grupamento social e com outros, propor- cionando, com essas relações, mudanças graduais e constantes. Este livro foi especialmente elaborado para introduzir você, caro(a) acadêmico(a), a discussões fundamentais acerca da condição do homem enquanto ser social, da cultura enquanto produto das relações sociais humanas, bem como de conceitos e discussões im- prescindíveis em torno do tema. Nesse sentido, na Primeira Unidade, demonstramos por- que o homem é um ser social e porque, como seres sociais, somos produtos e produtores da cultura. Em seguida, apresentamos, na Segunda Unidade, o significado do termo cultura, demonstrando que não há cultura superior ou inferior, para isso, abordamos conceitos como Relativismo Cultural, Etnocentrismo, bem como as teorias que os envolvem; abordamos, ainda, nessa unidade, questões acerca da diversidade cultural. Para finalizar, na Terceira Unidade, discorremos acerca de temas que abarcam o conceito de Cultura Popular, o processo de cons- trução das identidades culturais e o impacto da globalização na sociedade contemporânea e, por fim, abordamos questões relacionadas aos processos de diversidade e inclusão. Para compreender esse processo de construção e desconstrução existente nas trocas sociais e, consequentemente, na construção e desconstrução cultural, você deve estar aberto ao “outro”, ao novo, pois só assim perceberá o quanto a cultura é diversa, dinâmica e inovadora. Dito isso, desejamos uma leitura proveitosa e significativamente reflexiva. Boa Leitura! Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidadeunidade 3 Identidade, cultura e diversidade Angélica de Brito Vivian Fernandes Carvalho de Almeida Prezado(a) acadêmico(a), na terceira e última unidade deste livro, abordaremos conceitos e discussões fundamentais para a compreensão da cultura. A primeira delas diz respeito a dois conceitos amplamente utilizados e que carecem de aprofundamento para que não sejam empregados de forma equivocada, es- tamos falando sobre cultura popular e cultura erudita. Abordaremos, também, o processo de construção da identidade cultural e a compreensão de seu cará- ter fluido e móvel. Ressaltando a importância de considerarmos sempre a sua multiplicidade, uma vez que, como vimos, as diferenças são elementos-chave para compreensão da cultura. Desse modo, partindo das relações entre identidade e alteridade, buscamos compreender a origem desse processo e seus desdobra- mentos no período pós moderno. Para encerrarmos o capítulo e as discussões propostas neste livro, elencamos dois temas ampla- mente discutidos na atualidade: diversidade e inclusão. Compreender alguns dos mecanismos de exclusão presentes em nossa sociedade, pensar a diversidade como contraponto da ideia de homogeneidade e res- saltar a importância da pluralidade cultural são alguns de nossos desafios. Boa leitura! Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Reflexões sobre o conceito de cultura popular No decorrer destas páginas, temos nos esforçado para que você, caro(a) acadê- mico(a), compreenda que definir Cultura não é algo simples e que, enquanto seres sociais, não podemos evitar mudanças em nossos comportamentos e percepções com relação ao mundo que nos rodeia. Isso porque nosso contato com o “outro” é contí- nuo e as trocas simbólicas existentes nas relações sociais não é algo que possa ser evitado ou mesmo controlado. É necessário considerarmos que a “distância” entre povos distintos é reduzida devido ao fenômeno que conhecemos como globaliza- ção, e facilitada pela tecnologia, uma vez que a internet nos proporciona uma faci- lidade de comunicação nunca antes registrada na história. Porém, como afirmamos anteriormente, muitas vezes, o que consideramos “óbvio” precisa ser analisado e esmiuçado com um pouco mais de cuidado, para que realmente seja compreendido de forma satisfatória. A partir dessa ponderação, nos deteremos em alguns conceitos um tanto delica- dos e contraditórios, mas que precisam ser apresentados para que possamos garan- tir uma inserção satisfatória de cada um dos acadêmicos que se debruçará sobre essa obra. Referimo-nos à necessidade de discorrermos acerca do que se entende por Cultura Popular e Cultura Erudita, uma vez que a utilização de uma já pressupõe a existência da outra. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Figura 3.1 - Cultura brasileira: Xilogravura. Fonte: Pinterest (2018). Cultura popular é um dos conceitos mais controvertidosdentro do estudo da cultura. Este é utilizado desde o final do século XVIII e foi aplicado em inúmeros contextos e com objetivos diversos, mas, geralmente, sendo utilizado de forma a induzir juízos de valor ou homogeneização social, isso quando não envolveu dispu- tas teóricas ou políticas. Martha Abreu destaca que o conceito de cultura popular Para muitos, está (ou sempre esteve) em crise, tanto em termos de seus limites para expressar uma dada realidade cultural, como em termos práticos, pelo Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade chamado avanço da globalização, responsabilizada, em geral, pela inter- nacionalização e homogeneização das culturas. Por outro lado, se cultura popular é algo que vem do povo, ninguém sabe defi- ni-lo muito bem. No sentido mais comum, pode ser usado, quantitativamente, em termos positivos - “Pavarotti foi um sucesso popular” – e negativos - “o funk é popu- lar demais”. Para uns, a cultura popular equivale ao folclore, entendido como o conjunto das tradições culturais de um país ou região; para outros, inversamente, o popular desapareceu na irresistível pressão da cultura de massa (sempre associada à expansão do rádio, televisão e cinema) e não é mais possível saber o que é ori- ginalmente ou essencialmente do povo e dos setores populares (ABREU, 2003, s/p). Saiba mais Uma sociedade industrializada é impulsionada pelo consumo, por isso necessita de mecanismos adequados capazes de transmitir mensagens com rapidez para um grande número de pessoas, como o rádio, a televisão e o cinema. Alguns autores alegam que a comunicação de massa exige “uma cultura capaz de homogeneizar”, para que um número significativo de pessoas se identifique com o que está sendo apresentado por meio de um determinado produto. Para algumas reflexões, segue a sugestão de um vídeo que apresenta uma discussão sobre a questão cultural no Brasil e a indústria cultural. www.youtube.com. Como bem pontua Martha Abreu, sem dúvida, para uma grande parcela da sociedade, o conceito ainda é relacionado à diferença ou estranhamento cultural com relação a outras práticas culturais reconhecidas como mais refinadas dentro de um mesmo grupo social. Isso porque, essas diferenças são “vistas como um sistema https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DD8vduFwPdIk%26t%3D3s Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade simbólico coerente e autônomo, ou, inversamente, como dependente e carente em relação à cultura dos grupos ditos dominantes” (ABREU, 2003, s/p). É nesse sen- tido que entendemos que, ao fazer uso do conceito de “cultura popular” é quase inevitável a relação com o que se entende por “cultura erudita”. Façamos algumas reflexões para tentar tornar essa discussão mais transparente. Já afirmamos, nas páginas anteriores, que uma das características principais de muitas sociedades contemporâneas é a diversificação interna. Isto é, dentro de um mesmo grupo social, há pessoas que se expressam de diversas formas, basta pensarmos nas tendências musicais, por exemplo, alguns continuam gostando de rock, outros de samba, outros de sertanejo e, para a alegria de uns e desespero de outros, temos o funk, que aparentemente tem dominado o gosto musical dos jovens há algum tempo. De qualquer forma, e independentemente de nossos exemplos, o fato é que a população se posiciona e se expressa de modos diversos. Também é fato que não vivemos em uma sociedade igualitária, por mais que alguns grupos tenham ten- tado (não convém entrarmos nos detalhes ideológicos que esse assunto gera neste livro). Em outras palavras, mesmo antes do capitalismo imperar, já havia desi- gualdade na distribuição de renda, o que proporcionava, no mínimo, uma frag- mentação dos grupos sociais. Tivemos escravos e patrícios na antiguidade; servos e nobres na medievalidade; burgueses e operários na modernidade, isso apenas nos referindo a alguns grupos sociais nomeados no ocidente europeu, pois se nos dedicarmos ao estudos das mais distintas civilizações, nos depararemos com uma infinidade de exemplos. Pois bem, a questão aqui posta é que sempre há uma classificação dos dife- rentes grupos sociais, e essa classificação direta ou indiretamente relaciona-se, na esmagadora maioria das vezes, ao poder financeiro que esse grupo detém dentro da sociedade que pertence. Em palavras, um pouco mais diretas, temos sempre o Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade proprietário e o empregado seja no campo ou na cidade. Pertencendo a um desses grupos, compartilhamos determinados problemas, mas não generalizemos, afinal, como temos afirmado exaustivamente, não há homo- geneização social, inclusivo no quesito financeiro. Assim, não é possível dividir a sociedade em patrões e empregados, e para explicar essa dinâmica, faremos uso das palavras de José Luiz Santos, que afirma que: Quando se fala sobre classe social é frequentemente a respeito dessa dife- renciação que se está fazendo referência. Essas classes sociais têm formas de viver diferentes, enfrentam problemas diferentes na sua vida social. A diferenciação é, no entanto, mais complexa, pois não se pode dizer que as maneiras de viver sejam homogêneas nem dentro da classe tra- balhadora nem dentro da classe proprietária. [...] Há diferença de renda, de estilo de vida, de acesso às instituições públicas [...]. Além do mais, as distinções entre as classes sociais nem sempre são tão nítidas na vida coti- diana [...]. Isso pode ser exemplificado pelo fato de que grandes concen- trações urbanas costumam registrar uma larga faixa de camadas sociais intermediárias, de limites imprecisos e características variadas, as quais são rotuladas de classes médias (SANTOS, 1983, p. 51). Quando afirmamos que a sociedade, mesmo sendo dividida em grupos sociais classificados segundo o poder aquisitivo, não pode ser entendida como uma cultura homogeneizada, nos referimos ao fato de que temos origens e histórias particulares. Por exemplo, uma pessoa pode pertencer à classe média porque passou por uma ascensão social recente, o que implica que ela enfrentou situações difíceis, inclu- sive vivenciando a falta de produtos básicos – experiências que influenciarão em suas opiniões, afinal, são essas experiências que a tornam uma pessoa única. Por Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade outro lado, se a pessoa nasceu em uma família com condições financeiras estáveis, sua percepção de mundo será diferente, sua concepção de necessidades básicas, inclusive. Vivemos em um país onde a desigualdade social impera, o que nos proporciona o contato com pessoas que enfrentam situações diversas, e comumente o fato de sermos classificados na mesma classe social não é suficiente para realmente com- partilharmos das mesmas experiências, compartilharmos os mesmos hábitos, defen- dermos as mesmas ideias. Saiba mais Segue dois exemplos que expressam um pouco do que apresentamos. Talvez você se identifique com algumas das situações, talvez não! Assista o vídeo “Cansei de ser pobre”, disponível em: www. youtube.com e a letra da música “Burguesinha”, de Seu Jorge, disponível em: www.letras.mus.br Pense nisso Você já se percebeu em um grupo em que as declarações com relação a questões cotidianas não condiziam com o que você vivenciava? Ou, por vezes, você simplesmente não compreendeu a conversa e nem o motivo dos risos proporcionados por certos comparações? Então, é mais ou menos a isso que nos referimos. Estamos nos detendo a esses detalhes para que possamos ter uma noção de como conceber essa reflexão acerca da dimensão cultural na sociedade. Em outras pala- vras, se a cultura é dimensão do processo social, precisamos entendê-la de um modo que possamos considerar todas as possíveis particularidades sociais. https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DUmmXiN93btM https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DUmmXiN93btM https://www.letras.mus.br/seu-jorge/1089741/Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Observe que nossas considerações e exemplos se mantiveram apenas na questão financeira, mas, se desejarmos, poderíamos ser mais detalhistas e aproximarmos o foco de nossa atenção a grupos e/ou características mais singulares: homens e mulheres; crianças, jovens e velhos; ou, ainda, nos voltarmos para as diferenciações das afiliações e práticas religiosas; ou sobre as práticas medicas ou alimentares. Nossa lista poderia preencher todas as páginas deste livro, tão vasta e diversi- ficada são as relações sociais, e sabendo que, como apresentamos na primeira uni- dade, o homem é um ser que aprende e se modifica cotidianamente, fica evidente, portanto, que ao pensarmos em sociedade não há espaço para homogeneização. Assim, tendo a certeza que essa questão ficou clara, podemos nos voltar para os conceitos de cultura erudita e cultura popular sem incorrermos em interpretações rasas sobre elas. Comecemos com algumas observações de Santos, pois estas resumem claramente a origem de nossas preocupações ao abordar esses conceitos A partir de uma ideia de refinamento pessoal, cultura se transformou na des- crição das formas de conhecimento dominantes nos Estados nacionais que se formam na Europa a partir do fim da Idade Média. Esse aspecto das preocupações com a cultura nasce assim voltado para o conhecimento eru- dito ao qual só tinham acesso setores das classes dominantes desses países. Esse conhecimento erudito se contrapunha ao conhecimento havido pela maior parte da população, um conhecimento que se supunha inferior, atra- sado, superado, e que aos poucos passou também a ser entendido como uma forma de cultura a cultura popular (SANTOS, 1983, p. 54). Considerando esse contexto, é necessário, portanto, que fique claro que as discus- sões em torno da cultura popular eram e, de certo modo, ainda são tentativas de Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade classificar as formas de pensamento e o comportamento das populações mais pobres, buscando-se compreender as especificidades da dinâmica interna desses grupos, principalmente com relação às implicações políticas que podem ter. Contudo, inde- pendentemente das razões que incentivaram e ainda incentivam o interesse em torno da cultura específica da população mais pobre, o fato é que a comparação com os hábitos dos grupos dominantes é presente. Isso porque as classes dominantes sempre tiveram, historicamente nas mãos, os recursos e instrumentos necessários para registrar, das mais variadas formas, aspectos de suas expressões sociais e per- cepções intelectuais. Santos muito bem resume esse fato com a seguinte explanação: Aquela origem antiga dessas preocupações continuam a influenciá-la, e a cultura popular é pensada sempre em relação à cultura erudita, à alta cultura, à qual é de perto associada tanto no passado como no presente as classes dominantes. De fato, ao longo da história a cultura dominante desenvolveu um universo de legitimidade própria, expresso pela filosofia e pela ciência [...] Devido à própria natureza da sociedade de classes em que vivemos, essas instituições estão fora do controle das classes dominadas. Entende-se por cultura popular as manifestações culturais dessas classes, manifestações diferentes da cultura dominante, que estão fora de suas insti- tuições, que existem independentemente delas, mesmo sendo suas contem- porâneas (SANTOS, 1983, p. 55). Nesse sentido, a classificação de cultura popular e cultura erudita surgiu da “polarização entre o erudito e o popular, a qual transfere para a dimensão cultural a oposição entre os interesses das classes sociais na vida da sociedade” (SANTOS, 1983, p. 55). Por conta disso, para alguns historiadores contemporâneos, como Roger Chartier, por exemplo, é impossível saber, ou sendo um pouco mais radical, Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade não interessa descobrir o que é “genuinamente do povo pela dificuldade ou mesmo impossibilidade de se precisar a origem social das manifestações culturais, em fun- ção da histórica relação e intercâmbio cultural entre os mundos sociais, em qual- quer período da História” (apud ABREU, 2013, s/p). Em outras palavras, não convém utilizar o conceito para definir o que é culturalmente de origem popular ou erudita (pobres X ricos). Atividade 1. Considere as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I - É importante observarmos que é a própria elite cultural da sociedade, ativa em suas instituições dominantes, que desenvolve a concepção de cultura popular. PORQUE II – Ao se prender à construção de seu próprio universo de legitimidade, ignora inúmeras manifestações culturais. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Atividade 2. Apesar de todos os problemas apontados e dos diferentes sentidos que a expres- são vem recebendo, [...] o conceito é válido e útil [...], porém, é bom não perder de vista que, como todo o conceito, o de cultura popular também constrói identidades e possui uma história. [...] sempre ligadas aos sujeitos e movimentos sociais que o trouxeram a tona (ou o recriaram) e o elegeram como fundamental (ABREU, 2003, s/p). Essa história é, para a autora, o cerne das dificuldades relacionadas à aplicação do conceito. Sendo assim, é importante nos atentarmos ao fato de que é essen- cial, enquanto cientistas sociais, estarmos atentos à história do conceito de cultura popular, bem como do peso ideológico que este recebeu ao longo de seu desen- volvimento histórico (ABREU, 2003) e, assim, termos em mente que devemos concebê-lo enquanto [...] um instrumento que serve para nos auxiliar, não no sentido de resolver, mas no de colocar problemas, evidenciar diferenças e ajudar a pensar a realidade social e cultural, sempre multifacetada, seja ela a da sala de aula, a do nosso cotidiano, ou a das fontes históricas (ABREU, 2003, s/p). Pois, após esses séculos de usos e reusos do conceito de cultura popular, diante da característica dinâmica proporcionada pela sociedade globalizada da atu- alidade, mais do que nunca, não é suficiente classificarmos a cultura a partir da polarização de grupos sociais, uma vez que o convívio entre os indivíduos de ambas proporcionam trocas constantes. Por outro lado, também não podemos tratar a cultura com tendências homogeneizantes, uma vez que há uma infinidade de especificidades em cada pequeno grupo que nos dispomos a observar. Não sendo, portanto, possível nos permitir definir um conceito, de certa forma perigoso como esse, para nos referirmos a “fórmulas” imutáveis que restringem a sociedade, ignorando toda a constante mutação por qual passa a cultura. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade De qualquer forma, Chartier está coberto de razão em alertar, com uma boa dose de denúncia, ser o conceito de cultura popular uma categoria erudita, que pre- tende “delimitar, caracterizar e nomear práticas que nunca são designadas pelos seus atores como pertencendo à cultura popular”. Sempre há o risco, continua o historiador francês, de se ficar incessantemente procurando uma suposta idade de ouro da cultura popular, período onde ela teria existido “matricial e independente”, frente a épocas posteriores, onde a dita cultura popular teria começado a ser per- seguida por autoridades eruditas ou desmantelada pelos irresistíveis impulsos da modernidade (ABREU,2003, s/p). Com base nas considerações apresentadas nessa breve citação, assinale a alterna- tiva correta: a. O autor defende que, sem comprovar a origem de práticas cultuais, com documentos que comprovem a declaração pelo grupo social que a detêm, essa pesquisa não será válida. b. Para o historiador Chartier, ao voltarmos à pesquisa que envolva cultura, não devemos esperar encontrar um momento em que a cultura popular e a cultura erudita foram visi- velmente independentes. c. É fundamental nos voltarmos à idade de ouro da cultura popular, para compreendermos a história desse conceito. d. A citação faz referência à impossibilidade de se realizar pesquisas sobre a cultura. e. Para o autor, são necessárias pesquisas que demonstrem os impulsos da modernidade como razão principal da desvalorização da cultura popular. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Pense nisso Entre os saberes produzidos e controlados pela elite dominante, citada por Santos (1983), podemos citar as instituições da sociedade nacional, tais como a universidade, as academias, as ordens profissionais (médicos, advogados, engenheiros e outras), bem como a própria Igreja que, além de controlar por séculos a produção do conhecimento, teve o poder de definir o que deveria ser ou não divulgado para a sociedade. O controle dessa poderosa instituição influenciou significativamente o comportamento da sociedade ocidental. Construção e interação: debates acerca da identidade cultural na atualidade Caro(a) acadêmico(a), ao discutirmos tal temática, é necessário termos em mente que a identidade cultural não é algo natural, não nasce com o indivíduo, é fruto de uma construção na qual o mundo que nos cerca exerce um importante papel. É preciso considerarmos que, assim como a cultura, a identidade cultural não é estática e permanente, mas fluida e móvel. De acordo com a definição apresentada pelo Dicionário de Direitos Humanos: A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre indi- víduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço (OLIVEIRA, 2010, on-line). Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Nesse sentido, ao pensarmos em identidade cultural, precisamos ter ciência de sua multiplicidade; o Brasil é um exemplo claro disso. Somos todos brasileiros, com- partilhamos um mesmo território, a grande maioria de nós fala o mesmo idioma, no entanto, de norte a sul, de leste a oeste deste vasto território, existe uma imensa variedade de costumes, tradições e culturas que resultam de realidades diferentes. O gaúcho, o nordestino, o paulista, para nos atermos apenas a divisões regionais, certamente apresentam características distintas em inúmeros aspectos. Para Santos (2011), mais relevante do que adotar uma definição de identi- dade cultural, é questionar suas origens, segundo o autor: [...] para compreender a complexidade desse fenômeno, é necessário inter- rogarmos o porquê e o como da identidade cultural: por que surge esse sentimento de pertencimento? Como as identidades culturais são criadas? A partir de que são criadas? Como se relacionam com outras categorias de compreensão social (ideologia, poder, dominação, simbólico, representa- ções)? (SANTOS, 2011, p. 145). Saiba mais Para saber mais sobre essa diversidade cultural retratada nas artes, por exemplo, acesse o link disponível em: noticias.universia.com.br. Um dos princípios identificado pelo autor, que nos ajuda a compreender esse pro- cesso, é o de Identidade e Alteridade. Consideremos, aqui, o termo alteridade como qualidade ou estado do “outro”, daquilo que é diferente do “nós”. Segundo ele, o sentimento de pertencimento a um determinado povo, religião, grupo ou qualquer http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/05/22/934979/conheca-operarios-tarsila-do-amaral.html Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade outra forma de identidade cultural equivale, em muitos casos, a não pertencer a outro. Diversos antropólogos defendem a perspectiva de que a identidade cultural se dá por meio dessas relações de interação e interdependência entre o “eu” e o “outro”. Nas palavras de Santos (2011, p. 145), “Só afirmamos quem somos, a que grupo pertencemos (nação, região, sexo), quando existe um não nós e um outro que não faz parte dos nossos”. Nesse sentido, podemos pensar e compreender a constru- ção da identidade cultural a partir dessa relação entre identidade e diferença. No período Moderno, quando do surgimento dos Estados Nações, a questão da identidade esteve diretamente ligada ao Estado. A constituição da ideia de nação, bem como a consciência de pertencimento que ela exige, pode ser fomentada por alguns dispositivos utilizados para representar a nação, bem como para produzir significados. A língua, a raça e a história, enquanto narrativas que contribuem para esse sentido de unidade, foram fundamentais para a formação das identida- des e culturas nacionais (PACHECO, 2007, on-line). Caro(a) acadêmico(a), ao abordarmos tal temática, não podemos deixar de contemplar, ainda que resumidamente, a obra do sociólogo Stuart Hall A identi- dade cultural na pós-modernidade. O teórico jamaicano, que viveu e trabalhou por muitos anos na Inglaterra, foi um dos fundadores do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade de Birmingham. Seus estudos acarre- taram mudanças no conceito de cultura na segunda metade do século XX. Hall defendia que as explicações pautadas apenas nos fenômenos econômicos e sociais já não eram suficientes para se compreender as conjunturas mundiais no final daquele período, nesse aspecto, dedicou-se a fomentar o estudo dos fenômenos culturais. Na referida obra, o autor nos apresenta uma vasta gama de elementos que explica a crise de identidade que acomete o sujeito da pós-modernidade, sua tese principal. Falemos um pouco a respeito dessa crise. Segundo Hall (2005), esse sujeito se encontra fragmentado, deslocado e descentrado em uma polissemia de Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade identidades das quais ele precisa lidar, tais como seu pertencimento ou suas “pai- sagens culturais” de nacionalidade, de classe, de etnia, de religiosidade, de língua, de sexualidade e de gênero. Segundo o autor, um dos fatores que contribuiu para a referida fragmentação foi o fenômeno da globalização, visto que este “[...] contribui para o deslocamento das identidades culturais desintegrando-as, homogeneizando -as, consequentemente, enfraquecendo-as” (HALL, 2005, p. 74). Convido você, caro(a) acadêmico(a), a retomar os conteúdos trabalhados nas aulas de Geografia e História do ensino médio para compreendermos como esse fenômeno tão discutido afeta as identidades culturais no mundo inteiro. Vivemos em um mundo no qual a tecnologia rompeu a barreira do tempo e do espaço, aproximando pessoas e povos. Um mundo que gira em torno da lógica de mercado, habitado por empresas e clientes de todos os lugares, idades, segmentos sociais, sexualidades etc. As grandes corporações de empresas que emergiram na atualidade, com o avanço da globalização, exercem um papel decisivo na economia mundial e, consequen- temente, interferem na política e na cultura tanto global como local. O principal foco é a conquista de consumidores e o acúmulo de capital. Nessa expansão, todos, de alguma maneira, são afetados. Para muitos, o resultado tem sido o desapego das tradições étnicas, religiosas e políticas, dos lugares e da própria identidade. A identidade do sujeito globalizado é marcada pela lógica do consumo. Para muitos, a globalização tem contribuído para a desintegração das identidades nacio- nais em função dacrescente homogeneização cultural imposta por esses fluxos cul- turais entre povos e nações. Segundo Hall, “a medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombar- deamento e da infiltração cultural” (HALL, 2005, p. 74). Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Diversas identidades e culturas se comunicam de um jeito que nunca foi visto na história da humanidade. As redes sociais permitem que pessoas dos mais diferentes locais mantenham contato. Essas mudanças atravessam fronteiras em escala mun- dial, interligando comunidades e instituições, tornando o mundo mais interconec- tado. Atualmente, em função de todas essas transformações, a identidade cultural se encontra muito menos fechado e estável do que na modernidade. Com a integração econômica e com a difusão da informação possibilitadas pela globalização e pelo avanço tecnológico, também a cultura e as identi- dades culturais estão em trânsito constante. Junto com a informação e com os produtos, o fluxo de valores, costumes, ideias, estilos, ou seja, das particu- laridades de cada país, sociedade, comunidade ou grupo é muito grande e veloz (PACHECO, 2007. p. 5). Um exemplo desse fluxo de costumes e valores pode ser encontrado nas praças de alimentação de shoppings pelo mundo todo: a comida étnica. Atualmente, é pos- sível comer um prato tipicamente tailandês nos Estados Unidos ou experimentar uma iguaria da culinária japonesa no Brasil. Nossos costumes e hábitos alimentares são também afetados por essa dinâmica imposta pela globalização. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Figura 3.2 - Globalização e hábitos alimentares: a difusão da comida étnica Fonte: Eduardo P. (2012). Diversos autores compartilham dessa perspectiva, acreditam que a globalização tem contribuído para o extermínio das culturas locais, no entanto, outra vertente de estudiosos argumenta que esses processos de homogeneização têm fomentado movimentos de resistência cultural. Diversidade e inclusão Caro(a) acadêmico(a), você já parou para pensar no quanto a palavra inclusão tem sido utilizada na atualidade? Discursos governamentais, político-partidários, educacionais, midiáticos, dentre outros a empregam constantemente, atrelada sem- pre a concepções democráticas e humanitárias. Tanto ouvimos que, para muitos, Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade cria-se a falsa ilusão de que vivemos em um período histórico, em que as diferen- ças, sejam elas étnicas, sociais, religiosas, de gênero, etc., são respeitadas e aceitas. Ao falarmos em inclusão, estamos, necessariamente, abordando também o seu oposto, a exclusão. Os debates e medidas acerca desse tema são pensados e realiza- dos com o objetivo de incluir sujeitos que, por alguma razão, estão sendo rejeitados de um grupo ou comunidade. A exclusão pode se dar por diversos fatores – etnia, cor, sexo, orientação sexual, nacionalidade, religião, ideologia, características físicas e mentais são apenas alguns deles. Em muitos casos, esse processo de exclusão está diretamente ligado a preconceitos. Por serem consideradas de alguma forma “dife- rentes”, com base em um “padrão de normalidade” socialmente construído, muitas pessoas são discriminadas e excluídas em função dessa diferença. Tais padrões, assentados nas culturas ocidentais brancas, letradas, mascu- linas, heterossexuais e cristãs, estão arraigados no imaginário social e natu- ralizados cotidianamente nos diversos espaços de convivência humana, afe- tando tanto os chamados grupos minoritários quanto os pertencentes às esferas hegemônicas (SILVA; BRANDIM, 2008, p. 54). Esse processo de exclusão, cujos traços são facilmente identificamos em nossa sociedade, não é um fenômeno exclusivo da atualidade. Se observamos no período moderno o contexto de constituição dos Estados-Nação e os esforços despendidos em prol da construção de uma identidade nacional, constataremos a presença de uma lógica de erradicação das diferenças, fosse por meio da assimilação ou da exclusão/ eliminação, como argumenta a autora: [...] para dar conta de sustentar seus parâmetros de ordem, beleza, limpeza e progresso, a modernidade se serviu de uma lógica binária, de um sistema de Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade classificação e distinção cultural e identitário que visava preservar e garantir a conformidade social com esses parâmetros. A modernidade inventou e multiplicou os seus “anormais” - para usar uma expressão de Foucault -, os sindrômicos, deficientes, monstros e psicopatas, os surdos, os cegos, os aleijados, os rebeldes, os pouco inteligentes, os estranhos, os homossexuais, os miseráveis, os “outros”. Ela criou instituições com a função de normatizar e normalizar os elementos da cultura e criar, reproduzir e legitimar uma cul- tura, uma identidade e uma consciência nacional, consequentemente, essas instituições se tornaram palco da produção, reprodução e do controle da alteridade no contexto da modernidade, a fim de purificar, afastar, limpar toda “sujeira social” (PACHECO, 2007, p. 4). Retomamos, aqui, ainda que resumidamente, a ideia de identidade/alteridade discutida páginas anteriores, a necessidade de identificar e qualificar o “outro” como diferente para a afirmação do “eu” e como esse processo implicou, diversas vezes, na rejeição desse “outro”, que passa a ser marginalizado e excluído. Poderíamos citar inúmeros outros exemplos de mecanismos de exclusão, muitas vezes criados e utili- zados pelo próprio Estado, para atender a seus interesses. No entanto, esta é uma discussão que, em função de sua amplitude, não nos cabe realizar aqui. Se pesquisarmos a origem da palavra “diversidade”, descobriremos que ela deriva do latim “diversitate” e está diretamente ligada à ideia de diferença e disseme- lhança. Prezado(a) acadêmico(a), como vimos nos capítulos anteriores, as diferen- ças constituem um traço marcante na história da humanidade. Da formação dos primeiros grupos humanos até a atualidade, foram desenvolvidas distintas formas de organização da vida social, de apropriação e uso dos recursos naturais, diferentes formas de se entender e explicar a realidade, enfim, diferentes culturas. De norte a sul, de leste a oeste do globo, formaram-se sociedades com características diversas e Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade muito particulares. No entanto, considerar suas particularidades de forma alguma pressupõe ignorar a importância das relações estabelecidas entre elas, mesmo por- que, não podemos esquecer que elas vivem em constante interação. Como argumenta Santos (1983), é imprescindível entender a cultura conside- rando sua multiplicidade e particularidade. Ao longo da história, podemos identifi- car uma enorme variedade de culturas, cada uma delas possui uma lógica interna cuja compreensão é essencial para entendermos suas práticas, costumes, concepções e as transformações que sofreram ao longo do tempo. Cada traço de uma determi- nada cultura é produto de um contexto, resulta de elementos muito particulares dotados de significado para quem os vive, carrega sua história e está diretamente ligado às condições materiais de sua existência. Figura 3.3 - Cultura e diversidade: a celebração do dia dos mortos no México Fonte: Pinterest (2018). Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Apenas para ilustrar, pensemos em um exemplo próximo de nossa realidade. No Brasil, país de composição religiosa majoritariamente cristã, muitos fiéis são adep- tos da tradição do Dia de Finados. Instituído como feriado nacional, nesta data, milhares de pessoas em todo o país se dirigem aos cemitérios para rezar e prestar homenagens a entes queridos já falecidos. No México,as comemorações em torno do “Día de los muertos” possuem um caráter diferenciado. Certamente, a grande maioria dos mexicanos têm uma concepção distinta da nossa sobre as práticas e ritos envolvidos na hora de homenagear seus mortos. É fundamental que tomemos consciência do quanto essas distintas formas de se conceber e significar o que nos cerca estão presentes no nosso cotidiano. Convido você, caro(a) acadêmico(a), a conhecer um pouquinho mais sobre esta rica cultura, acessando a reportagem indi- cada em nosso SAIBA MAIS. Saiba mais Cada sociedade atribui significado aos elementos que compõe o seu dia a dia de forma muito particular. Os mexicanos, por exemplo, entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro – quando comemoramos, no Brasil, o dia de finados – celebram de forma muito festiva a visita dos antepassados falecidos à terra. Eles acreditam que estes devem ser recebidos com alegria e festa, não é a toa que a comemoração é considerada patrimônio da humanidade pela Unesco. Confira a reportagem sobre o “Dia de los muertos” no link a seguir: www.correiobraziliense.com.br Muito temos discutido sobre a pluralidade cultural ao longo destas páginas, nessa perspectiva, podemos pensar o conceito de diversidade, tal qual trabalhado na antro- pologia, como contraponto à ideia de homogeneidade. Assim, a diversidade que abor- damos aqui expressa, dentre outras coisas, a necessidade de se respeitar as diferenças, compreender que elas fazem parte da nossa vivência, desse modo: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2016/10/30/interna_turismo%2C554824/dia-dos-mortos-e-comemorado-em-festa-cheia-de-alegria-no-mexico.shtml Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade [...] a expressão diversidade cultural, hoje, compreende a superação tanto da negação das diferenças, efetuada pela homogeneidade, como do rela- tivismo praticado pela absolutização das diferenças. A superação dessas visões dicotômicas deve-se fazer por meio de políticas que valorizem a inte- ração e comunicação entre os diferentes sujeitos e grupos culturais, sem homogeneizar, excluir ou guetificar as culturas (CANDAU; KOFF, 2006, p. 473 apud JUNQUEIRA, 2013). Essas políticas devem ser pensadas e instituídas para que a diversidade não seja utilizada para hierarquizar culturas, para estabelecer inferiores e superiores, enfim, como motivo de desigualdades. Políticas que respeitem as diferenças de cada grupo, suas especificidades, mas sem perder de vista o diálogo, a troca de experiências, uma vez que, “A luta pelo direito e pelo reconhecimento das diferenças não pode se dar de forma separada e isolada e nem resultar em práticas culturais, políticas e pedagógicas solitárias e excludentes” (JUNQUEIRA, 2013, p. 283). O grande desafio que nos é colocado na atualidade consiste em aprender a reconhecer e valorizar essa pluralidade cultural, bem como buscar a implementa- ção de ações efetivas nesse sentido. A preocupação com os problemas gerados em função desses antagonismos sociais e culturais é compartilhada por todas as nações. Nesse sentido, organizações internacionais, como a ONU, Unesco, Unicef e o Banco Mundial, têm se mobilizado para incentivar seus países membros a fomentar dis- cussões sobre educação, tolerância e respeito à diversidade cultural e criar medidas para combater os problemas decorrentes. Segundo o site da Unicef Brasil, A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1948, diz que não deve haver, em nenhum momento, discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade, opinião ou qualquer outro motivo. No Brasil, a Constituição Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Federal de 1988, em seu artigo terceiro, repudia o preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de discriminação. Nesse processo, as instituições de ensino e todo sistema educacional cumprem um papel fundamental. Para Silva e Brandim (2008, p. 56), considerar a pluralidade cultural no âmbito da educação envolve pensar for- mas de reconhecer, valorizar e incorporar as identidades plurais em políticas e práticas presentes no currículo. Implica, também, refletir sobre mecanismos discriminatórios que tanto negam voz a diferentes identidades culturais, silen- ciando manifestações e conflitos culturais, assim como buscando torná-las homogêneas. Pense nisso No ano de 2001, por meio da adoção da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, a Unesco reconheceu oficialmente a diversidade cultural como uma herança da humanidade, comprometendo-se à salvaguarda-la em função de sua importância para conservação da dignidade humana. Posteriormente, a Organização das Nações Unidas estabeleceu a data de 21 de maio como dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento. Esse reconhecimento, por parte de organizações de grande atuação no cenário internacional, evidencia a busca pela conscientização da população mundial sobre a riqueza da diversidade cultural a importância de compreendê-la cada vez mais. Caro(a) Acadêmico(a), o convido a pensar e refletir sobre os mecanismos necessários para a conscientização popular nesse aspecto. Prezado(a) acadêmico(a), nesta unidade, buscamos apresentar conceitos e dis- cussões essenciais para a compreensão da cultura. Conhecer um pouco mais sobre Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade a construção do processo de diferenciação entre cultura popular e erudita e suas implicações sociais, sem sombra de dúvidas, amplia nosso olhar perante as possibili- dades de interpretação e análise desse tema. Da mesma forma que nossas discussões sobre identidade cultural, diversidade e inclusão buscaram fomentar reflexões um pouco mais aprofundadas sobre temas que, apesar de aparentemente esgotados, nos permitem lançar novos olhares para realidades das quais fazemos parte. Atividade 3. Sobre o fenômeno da globalização, analise as afirmativas a seguir e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso. ( ) Diversos autores compartilham da opinião que a globalização contribuiu para a desintegração e enfraquecimento das identidades culturais. ( ) Atualmente, a tecnologia rompeu a barreira do tempo e do espaço, aproxi- mando pessoas e povos, culturas e identidades. ( ) A lógica capitalista consolidada com a globalização está restrita ao âmbito econômico, ou seja, não afeta áreas como a política e a cultura. ( ) A expansão da chamada “comida étnica” que pode ser encontrada em qual- quer parte do mundo, é um exemplo do fluxo de costumes acelerado com a glo- balização. A sequência correta é: a. V, V, V, F. b. F, F, V, V. c. V, V, F,V. d. F, F, F, V. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade e. F, F, V, F. Atividade 4. A respeito do processo de construção das identidades culturais, analise as afirma- tivas a seguir e assinale a alternativa correta. I – A identidade cultural é inata ao indivíduo, ou seja, já nasce com ele e inde- pende do mundo ao seu redor. II – A identidade cultural não é estática e permanente, mas sim fluida e móvel. III – Como argumenta Santos (2011), o processo de construção da identidade cultural é algo particular de cada grupo, ou seja, independe da concepção que temos do “outro”. IV – Apesar da diversidade de sua composição étnica, o Brasil não pode ser consi- derado um exemplo de multiplicidade cultural, uma vez que somos um só povo, o povo brasileiro. É correto o que se afirma em: a. I apenas. b. II, apenas. c. I e III, apenas. d. II e III, apenas. e. I, II, III e IV. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Atividade 5. Como vimos nesta unidade, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, apro- vada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1948, dispõe que não deve haver, em nenhum momento,discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade, opinião ou qualquer outro motivo. Com base nessas infor- mações, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I - Este documento representa um marco histórico na luta contra todos os tipos de discriminação e preconceito. PORQUE II – A sua aprovação se deu em um contexto em que a discriminação não era um problema considerado relevante pelos organismos internacionais. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. Homem, Cultura e Sociedade Identidade, cultura e diversidade Dica de leitura Nome do livro: Identidade e Diferença - a Perspectiva dos Estudos Culturais Editora: Vozes Autor: Tomaz Tadeu Silva (Org.) ISBN: 8532624138 como discutimos ao longo deste capítulo, a questão da identidade cultural tem ocupado um lugar central nos debates voltados para a teoria social. Partindo da ótica dos estudos culturais, a referida obra traz importantes reflexões acerca do tema identidade e diferença. Com uma linguagem simples e de leitura prazerosa, os autores abordam uma discussão densa e mais do que atual. Prezado(a) acadêmico(a), escrever um livro não é fácil, mas encerrá-lo é incomparavel- mente mais complicado, pois, diante de tudo que que foi abordado, a única certeza que temos é a de que muito mais precisava ser explorado, precisava ser dito! Mas como todo texto precisa de um ponto final, nestas considerações, nos encaminhamos para o nosso. Esperamos que, por intermédio deste livro, nós tenhamos atingido nosso propósito de introduzi-lo no entendimento do conceito de cultura. Que tenhamos plantado, nestas pá- ginas, a certeza de que cultura, enquanto conceito, é extremamente rico, mas o mais importante ainda é que ela não se limita à ideia de acesso ao conhecimento erudito ou mesmo sistematizado institucionalmente em escolas e academias. Isso porque a cultura nasce na consciência coletiva, a partir da vida cotidiana de todo e qualquer indivíduo que vive em sociedade. Ficamos na expectativa de ter-lhe feito compreender que, em todo e qualquer grupa- mento social, indivíduos interagem e, por meio dessas interações, eles constroem um mun- do considerado real, que é sua vida cotidiana. É na vida cotidiana formada de “pequenas” ações e reações que determinamos práticas e costumes, que interpretamos símbolos, ou seja, que construímos nossas culturas e até determinamos as regras para a organização e estabelecimento de nossas instituições. Tudo determinado, inicialmente, em nossa vida cotidiana, por um aprendizado contínuo e dinâmico. Esperamos que, diante de todas as nossas abordagens, você, caro(a) acadêmico(a), enquanto futuro cientista social, tenha compreendido que, ao se pensar Cultura, não se tem espaço para hierarquizá-la. Isso porque a própria história demonstra que toda socie- dade tem seu tempo, tem seu rítmo e que, por esse motivo, é um equívoco sem preceden- tes concebermos que uma cultura é inferior ou superior à outra. Por fim, gostaríamos de encerrar esta obra destacando a percepção do importante ge- ógrafo brasileiro, Milton Santos, sobre a cultura popular. Segundo esse autor, ela tem raí- zes na terra em que vive, simboliza o homem e seu redor, encarna a vontade de enfrentar o futuro sem romper com o local, e de, ali, obter a continuidade, por meio da mudança. Seu quadro e seu limite são as relações profundas que se estabelecem entre o homem e seu meio, mas seu alcance é o mundo. ABREU, M. Cultura popular, um conceito e várias histórias. In: ABREU, M.; SOIHET, R. Ensino de História, Conceitos, Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. BURKE, P. O que é História Cultural?. 6. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.308-345: Cultura brasileira e culturas brasileiras. CASTELLS, M. O poder da identidade. 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