Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO DE ARMAZENAMENTO, ESTOQUE E DISTRIBUIÇÃO Isis Boostel Terceirização de armazéns Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais custos em terceirização. Determinar os trade-offs em logística de armazenagem. Analisar estratégias em redes de armazenagem próprias ou terceirizadas. Introdução A gestão de armazéns é uma tarefa complexa, que envolve o gerencia- mento de atividades relacionadas ao estoque e ao transporte de produtos, bem como o controle dos custos associados a essas atividades, que são bastante significativos. Dessa forma, a terceirização dos serviços de armazenamento é uma boa saída, principalmente para as empresas com menor poder de investimento em tecnologia e menos conhecimento de gestão de um armazém. Porém, é importante ter em mente que essa terceirização também gera custos para a empresa, devendo ser escolhida a opção que traga mais vantagens, com base em suas necessidades logísticas. Neste capítulo, você vai estudar os principais custos de terceirização do processo de armazenamento e distribuição de produtos e as ques- tões a serem consideradas antes de uma decisão nesse sentido: o tipo de armazenamento adequado ao modelo de negócio, a variedade de produtos, o fluxo de entrada e saída, o tempo de armazenamento e os custos. Você também vai aprender sobre as principais estratégias de armazenamento e as razões que devem ser consideradas ao se determinar o melhor serviço de armazenagem. Custos da terceirização O processo de armazenagem costuma ser complexo, principalmente para empresas que precisam gerenciar uma grande quantidade de trabalhadores. A má gestão desse processo resulta em prejuízos e, muitas vezes, pode acarretar a falência de uma empresa. Os custos de armazenamento são signifi cativos. Além do investimento elevado com a construção da edifi cação e com a com- pra de equipamentos de movimentação e de software para gerenciamento do armazém, existem os custos operacionais, que envolvem, principalmente, mão de obra e manutenção da instalação e do maquinário, despesas com seguros, IPTU, água, energia elétrica, limpeza e segurança. A terceirização dos armazéns é uma boa saída, principalmente para as empresas com menor poder de investimento em tecnologia e menos conhe- cimento de gestão de um armazém. Uma das formas de terceirização desse serviço é a armazenagem contratada, na qual uma empresa contrata ou aluga um espaço para armazenar seus produtos, porém, os recursos para gestão da operação ainda são próprios. Já em um armazém terceirizado, a empresa logística contratada é responsável por gerir todo o processo, fornecendo, além do espaço físico, mão de obra operacional, equipamentos de movimentação e toda a tecnologia necessária para a atividade. Como a gestão do armazém passa a ser realizada pelo terceiro, a empresa contratante pode focar no planejamento estratégico de outras áreas mais significativas para o negócio, como produção, compra de matéria-prima, marketing, entre outras. Porém, toda terceirização, em qualquer setor que seja, tem um custo para a empresa contratante. Podemos destacar os seguintes custos na terceirização de um armazém: Espaço no armazém — é o custo do espaço físico utilizado para ar- mazenamento dos produtos do contratante. Esse espaço é calculado de forma volumétrica. Transporte — esse custo pode incidir tanto no recebimento de produtos, quando a empresa contratada fica responsável pela coleta dos produtos a serem armazenados, quanto na expedição, quando a contratante é responsável pela entrega dos produtos aos clientes. Geralmente os custos de rastreamento e roteirização são agregados ao custo de transporte. Mão de obra — esse custo é definido pelo valor gasto com o quadro de funcionários que a empresa contratada necessita para receber, armazenar e movimentar os produtos do contratante no armazém. Os custos de mão de obra envolvem salários, encargos, contratação, rescisão, férias e faltas. Equipamentos — é o custo com aquisição, manutenção e depreciação de máquinas e equipamentos de movimentação e armazenamento. Terceirização de armazéns2 Embalagens — a contratante pode ter um custo adicional com em- balagens secundárias, terciárias, etc. Pode também haver custos com embalagens retornáveis, como paletes, bags e caixas. Nesse caso, é necessário o transporte dessas embalagens para retorno ao armazém. Há também o custo com a unitização das cargas, que consiste em agrupar volumes isolados em uma carga única. Picking — é o custo com o processo de separação ou preparação de pedidos que serão enviados para os clientes. Nesse processo, o produto do pedido é localizado no estoque do armazém, depois coletado e movimentado; o produto é então embalado, endereçado e encaminhado para transporte. Toda essa etapa é documentada. Os gastos com picking correspondem a até 55% da despesa de operação dos armazéns, e essa função exige bastante atenção, pois as chances de envio de produto errado são maiores nessa etapa. A terceirização é indicada principalmente para produtos sazonais, para os quais a demanda é bem maior em uma determinada época do ano. Dessa forma, a empresa não precisa adquirir uma edificação que permanecerá vazia por boa parte do ano. Utilizar armazéns infláveis, de lona ou desmontáveis também é uma boa solução para armazenar produtos temporários (Figura 1). Nesse caso, a empresa pode alugar um armazém e montá-lo na propriedade; quando não houver mais produtos para ser estocados, a estrutura é devolvida. Figura 1. Armazém inflável. Fonte: Pistelli Pelz ([2018]). 3Terceirização de armazéns As vantagens do uso de um armazém inflável são: não há necessidade de fundação para instalação; agilidade na montagem; o projeto não precisa de aprovação; não há colunas internas, o que permite ocupação total da área; pode ser instalado sobre qualquer tipo de piso; o armazém é inflado em poucos minutos; possui acesso para máquinas e equipamentos, como empilhadeira, caminhões, etc.; a ventilação forçada pode ser um fator interessante para certos tipos de produtos. Já as desvantagens do uso de um armazém inflável são: devido ao formato do armazém, o espaço vertical é maior no centro; há necessidade de uma antecâmara para entrada e saída, dificultando o acesso; as portas devem permanecer fechadas; há necessidade de uso contínuo de ventiladores — dessa forma, o con- sumo de energia elétrica é constante; a estrutura é frágil; controle interno de temperatura e umidade é complexo; há necessidade de motor reserva e gerador para garantir o funciona- mento do sistema. Trade-offs em logística de armazenagem Trade-off é uma expressão que signifi ca escolher uma coisa em detrimento de outra e, muitas vezes, é traduzida como troca compensatória. A escolha de uma opção implica em abrir mão de alguma vantagem da opção descartada. O mundo globalizado e os constantes avanços tecnológicos fazem com que as empresas vivam em um ambiente de incertezas e as obrigam a tomar decisões objetivando a competitividade e o alcance de metas. Há vários trade-offs na logística de armazenagem, dos quais podemos destacar: Terceirização de armazéns4 hosan Realce Entradas no estoque — deve-se escolher qual a forma de gerencia- mento do estoque dos produtos. As opções, nesse caso, são empurrar ou puxar o estoque nos pontos de armazenamento. Empurrar consiste em abastecer o estoque à medida que os produtos são comprados ou produzidos. Já o termo puxar significa repor os estoques à medida que os produtos armazenados são expedidos. Saídas no estoque — é preciso definir a forma de saída dos produtos. Temos aqui algumas opções de escolha, como o método UEPS, em que o último produto a entrar no estoque é o primeiro a sair, e o método PEPS, em que o primeiro produto a entrar no estoque é o primeiro a sair. Transporte— a decisão de quais modais de transporte serão emprega- dos dependerá da localização do armazém em relação aos fornecedores ou à fábrica, das distâncias até os clientes, do tempo de atendimento acordado no pedido e do custo com o frete. Armazém — esse trade-off consiste em definir se a atividade de ar- mazenamento será própria ou terceirizada. O Quadro 1 apresenta as vantagens e desvantagens da terceirização de armazéns. Vantagens Desvantagens Custo e qualidade do serviço Dependência excessiva da contratante Redução de investimento em ativos (edificação, máquinas e equipamentos) Menor envolvimento com clientes e fornecedores Foco em outras atividades Perda de sensibilidade a mudanças necessárias Flexibilidade operacional Cumprimento de metas preestabelecidas Alta tecnologia Necessidade de fiscalização do terceiro Mão de obra especializada Perda de informações- chave do mercado Redução de custos com manutenção da edificação e de máquinas e equipamentos de movimentação, transporte e armazenamento Inabilidade de resposta às mudanças nas condições de negócio Quadro 1. Vantagens e desvantagens na terceirização de um armazém 5Terceirização de armazéns No caso de armazenamento próprio, também conhecido como vertical, os principais impactos são o alto investimento na edificação do armazém e na aquisição de máquinas e equipamentos de movimentação, transporte e armazenamento e, consequentemente, os gastos com a manutenção desses ativos. Dessa forma, o armazenamento se torna um dos pilares do negócio, e é necessário um maior número de pessoas para liderar e gerenciar essa etapa. Em contrapartida, o armazenamento próprio oferece maior envolvimento com o cliente e maior controle sobre a operação. Para a escolha adequada de soluções para a logística de armazenagem, principalmente no que tange aos serviços de transporte e à manutenção do estoque, visando a favorecer a competitividade da empresa, deve-se levar em consideração o custo total das atividades do armazém, conforme mostra a Figura 2. Segundo Ballou (2006, p. 57): Escolher um serviço de transporte com base nas tarifas mais baixas ou na promessa de maior rapidez nem sempre é o melhor método. Quando se esco- lhe um serviço de transporte, o custo direto desse serviço e o efeito indireto do custo sobre os níveis de estocagem no canal logístico — decorrentes dos diferentes índices de desempenho dos transportadores — estão em conflito mútuo. A opção econômica mais adequada ocorre no ponto em que a soma de ambos os custos é mais baixa, como é mostrado pela linha pontilhada na Figura a seguir. Figura 2. Conflito generalizado entre custos de transporte e de estoque como uma função das características de serviços de transporte. Fonte: Ballou (2006, p. 57). Terceirização de armazéns6 Redes de armazenagem Defi nir se a armazenagem de produtos de uma empresa será própria ou tercei- rizada é uma tarefa bem difícil. A variedade de possibilidades apresentadas no mercado permite que a empresa combine serviços contratados com serviço próprios, defi nindo, assim, a estratégia para cada etapa da operação logística. Figueiredo (2005) destaca a importância do processo de seleção, pois é nesse momento que se deve estabelecer o nível de exigência que existirá durante toda a parceria. Ou seja, é nesse momento que todos os objetivos e as responsabilidades devem ser estabelecidos para se evitar problemas futuros. O armazenamento próprio exige, além do alto investimento, conhecimento para gerenciamento do processo. Em contrapartida, permite à empresa um controle total sobre a operação e uma aproximação maior do cliente. Já o armazenamento terceirizado pode oferecer um custo menor da operação, pois os custos dos equipamentos de movimentação, transporte e armazenamento e os custos com edificação, sistema operacional, tecnologia e mão de obra são rateados entre os clientes do operador logístico. A empresa pode terceirizar toda a etapa de armazenamento ou apenas uma parte da operação. O importante é definir o melhor custo–benefício entre a terceirização e o armazenamento próprio. Os pontos fundamentais para a tomada de decisão relacionada à logística envolvem o tipo de material a ser armazenado, o impacto ao cliente e a viabilidade financeira. Veremos a seguir os principais tipos de serviços de armazenamento terceirizado. Operadores logísticos O operador logístico é um fornecedor de serviços que busca atender a todas as necessidades do contratante, de forma personalizada, aumentando a efi ciência e reduzindo custos na armazenagem. O Quadro 2 apresenta as principais dife- renças entre os operadores logísticos e os prestadores de serviços tradicionais. Os principais serviços oferecidos pelo operador logístico são: transporte; armazenagem; picking; serviços de mão de obra e gestão; serviços específicos, incluindo gestão do inventário, planejamento estratégico da distribuição e disposição do armazém. 7Terceirização de armazéns Prestador de serviços tradicionais Operador logístico integrado Oferece serviços genéricos — commodities Oferece serviços sob medida — personalizados Tende a se concentrar em uma única atividade logística — transporte ou estoque ou armazenagem Oferece múltiplas atividades de forma integrada — transporte, estoque e armazenagem O objetivo da empresa contratante do serviço é a minimização do custo específico da atividade contratada O objetivo do contratante é reduzir os custos totais da logística, melhorar os serviços e aumentar a flexibilidade Os contratos de serviço tendem a ser de curto a médio prazo (6 meses a 1 ano) Os contratos de serviço tendem a ser de longo prazo (5 a 10 anos) O know-how tende a ser limitado e especializado (transporte, armazenagem, etc.) Possui ampla capacitação de análise e planejamento logístico, assim como de operação As negociações para os contratos tendem a ser rápidas (semanas) e em um nível operacional As negociações para contrato tendem a ser longas (meses) e em um alto nível gerencial Quadro 2. Principais diferenças entre os operadores logísticos integrados e os prestado- res de serviços tradicionais Condomínio logístico Uma estratégia de armazenamento que vem ganhando espaço no mercado nos últimos anos são os condomínios logísticos. Trata-se de construções imobili- árias de espaço fechado, com a infraestrutura envolvendo serviços comuns, como segurança, manutenção, limpeza, estacionamento, portaria, refeitórios e vestiários. Essas despesas são rateadas entre os condôminos, diminuindo, assim, os custos indiretos com o armazenamento. A mão de obra na operação de condomínios logísticos pode ser própria ou terceirizada. Os galpões são construídos por investidores, que posteriormente alugam o espaço para as empresas. Há dois tipos de galpão em um condomínio logístico: Flex — nesse caso, não há clientes definidos; sendo assim, a construção deve ser flexível para atender a uma maior diversidade de empresas. Os galpões podem ser utilizados de forma individual ou em agrupamento. Terceirização de armazéns8 Monousuário — nesse caso, a construção é destinada para apenas uma empresa. Nos casos de locação pré-definida, a construção pode atender às necessidades específicas de um determinado cliente, tor- nando o imóvel personalizado. A desvantagem é que haverá restrição de empresas que poderão usar o espaço no futuro, caso o cliente inicial decida encerrar a locação. A localização estratégica do condomínio é o maior diferencial, privile- giando o acesso a estradas, portos e aeroportos e facilitando o transporte de produtos. Já a dificuldade em aumentar o espaço de armazenamento, caso o condomínio esteja totalmente ocupado, é uma desvantagem do condomínio logístico. Outra desvantagem é o aumento no valor das despesas rateadas caso existam galpões de armazenamento que não estejam alugados. Centro de distribuição A fi nalidade do centro de distribuição (CD) é armazenarprodutos em um local estratégico, que permite uma distribuição mais ágil, dinâmica e efi ciente. Todo o estoque é concentrado em um único local específi co de uma região. Por realizar recebimento e expedição de produtos em cargas maiores, a redução dos custos com transporte é uma das maiores vantagens dos CDs. A concentração do armazenamento também proporciona um maior controle operacional, possibilitando um atendimento de maior qualidade. No entanto, o uso de tecnologia e de software de gestão de armazém passa a ser quase obrigatório. Essa forma de armazenamento é muito usada por empresas que possuem diversos canais de vendas e grande fluxo de entrada e saída de produtos. No CD, uma única empresa utiliza o espaço para a operação, portanto, os custos indiretos da armazenagem são de responsabilidade total da empresa. Já no condomínio logístico, o empreendimento é dividido entre várias empresas, possibilitando o rateio dos custos indiretos. Um CD pode ser localizado em um condomínio logístico. 9Terceirização de armazéns BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logí stica empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. FIGUEIREDO, R. Seleção de prestadores de serviços logísticos: adequando o processo seletivo a cada necessidade. 2005. Disponível em: <http://www.ilos.com.br/web/ selecao-de-prestadores-de-servicos-logisticos-adequando-o-processo-seletivo-a- -cada-necessidade/>. Acesso em: 31 jul. 2018. PISTELLI PELZ. Armazém inflável: armazenagem de emergência. [2018]. Disponível em: <http://pelz.eng.br/produtos/Armazem-Inflavel-Armazenagem-de-Emergencia.html>. Acesso em: 31 jul. 2018. Leituras recomendadas BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. DIAS, M. A. P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MOURA, R. A. Armazenagem: do recebimento à expedição em almoxarifados ou centros de distribuições. 4. ed. São Paulo: Imam, 2006. MOURA, R. A. Sistemas e técnicas de movimentação e armazenagem de materiais. 6. ed. São Paulo: Imam, 2008. Terceirização de armazéns10 http://www.ilos.com.br/web/ http://pelz.eng.br/produtos/Armazem-Inflavel-Armazenagem-de-Emergencia.html Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Compartilhar