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(MODULO II) RELÇÕES INTERNACIONAIS - CONTEXTO HISTÓRICO

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R.I. MODULO II. 1
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R.I. MODULO II. 
Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era 
Moderna
1. A Sociedade Europeia da Era Moderna
O período que vai do ano 1000 até 1800 
corresponde à transição do feudalismo para o 
capitalismo. Nesse período, a sociedade europeia 
feudal – rural, fragmentada no nível nacional, 
unida pela religião e marcada pelos vínculos de 
vassalagem – transformou-se em outra 
completamente distinta, a sociedade capitalista. 
Nesta, o importante era a vida urbana, 
influenciada pelas transações comerciais e 
fundada nas relações de trabalho assalariado.
💡 Quatro acontecimentos são especialmente importantes nesse processo: o 
Renascimento, as Grandes Navegações, o advento dos Estados nacionais 
absolutistas e a Reforma.
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O Renascimento
Marvin Perry observa que “o termo Renascimento foi cunhado em referência à tentativa de 
artistas e filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição e modelos da Grécia e de Roma”. 
O movimento surgiu na Itália, aproximadamente em 1350 e se estendeu até meados do século 
XVII. Não surgiu na Itália por acidente. No século XIV, ela era a região mais dinâmica da 
Europa: inúmeros centros comerciais, como Gênova, Veneza, Florença e Milão se 
desenvolviam com vigor. Essas cidades italianas dominavam o comércio com o Oriente e, 
com isso, destacavam-se no contexto europeu como Potências comerciais e, algumas vezes, 
militares.
O período é um ponto de inflexão. Os 
contemporâneos tinham a percepção 
de que davam início a um novo 
tempo. Tanto é assim que, para se 
diferenciarem, criaram o termo “Idade 
Média” para se referirem aos seus 
predecessores. O Renascimento é 
especialmente marcado pelas 
mudanças ocorridas nas artes – 
destacadamente na pintura, escultura e 
arquitetura – e nas ciências.
Na Idade Média, as artes tinham o propósito fundamental de servir à religião cristã, 
vinculando-se, muitas vezes, às determinações da Igreja. Na Renascença, o importante era a 
valorização do ser humano: tinha-se o antropocentrismo renascentista se contrapondo ao 
teocentrismo da Igreja de Roma. Essa percepção antropocêntrica de mundo não significa, 
todavia, que houvesse uma rejeição à religião. Sem se afastarem da religião, os renascentistas 
admitiam considerar o homem, obra máxima da Criação divina, o centro de suas atenções.
E o Renascimento não ocorreu apenas nas Artes. A Ciência, da mesma forma, foi afetada 
pelas investigações de Copérnico, Kepler e Galileu. Copérnico, por exemplo, foi o criador da 
teoria heliocêntrica, que estabelecia o Sol como o centro do universo. Isso era uma revolução, 
porque tirava da Terra a primazia sobre os demais corpos celestes.
As Grandes Navegações
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As Grandes Navegações, iniciadas no final do século XV, são 
um marco na evolução histórica da Sociedade Internacional. 
Por meio delas, os europeus aventuram-se além dos limites 
tradicionais de seu continente e, de maneira generalizada, 
lançam-se pelos oceanos e seguem para os “quatro cantos do 
mundo”, entrando em contato com as sociedades asiática, 
africana e americana como nunca ocorrera antes. 
Com as Grandes Navegações, tem início um processo que culminaria na hegemonia europeia 
no mundo e na supremacia da chamada “civilização ocidental” sobre outros povos – muitas 
vezes, com resultados fatais para as civilizações não europeias.
As Grandes Navegações podem ser consideradas o primeiro processo de globalização da era 
moderna. Com elas, o comércio internacional se desenvolveu e foram estabelecidos vínculos 
entre as diversas sociedades internacionais que existiam na época. Ademais, graças ao 
estabelecimento dos vínculos mercantilistas com o Novo Mundo – as Américas –, com a 
África e com o Extremo Oriente, a Europa se desenvolveu, o modelo capitalista se estruturou, 
e os Estados-nações europeus se tornaram Grandes Potências. Chegou-se ao ponto em que os 
conflitos entre os Estados europeus repercutiam pelo planeta.
Três fatores levaram às Grandes Navegações do século XV e seguintes. O primeiro foi o 
surgimento de um vívido interesse pelas vantagens que poderiam ser obtidas por meio do 
comércio. Para alcançarem a Europa, os produtos do Oriente ou da África subsaariana 
passavam por uma quantidade significativa de intermediários. Tal fato encarecia 
substancialmente os produtos tão desejados pelos europeus, como cravo, canela, pimenta, 
gengibre, noz-moscada, seda ou porcelana. A Economia, como força profunda, impulsionaria 
os europeus para as Grandes Navegações.
Em segundo lugar, havia que se considerar a escassez de metais preciosos na Europa. Sem 
eles, era muito mais difícil a compra de bens da Ásia ou da África. Isso também dificultava o 
desenvolvimento das relações comerciais e, consequentemente, das relações sociais e 
políticas entre as diversas regiões da Europa.
Em terceiro lugar, o século XV foi um momento de grandes melhorias na construção de 
navios, nos conhecimentos geográficos e nas habilidades navais. Nesse sentido, a tecnologia 
passou a ser outra força profunda a produzir mudanças na conduta dos Atores internacionais 
do período. Vale lembrar que o conhecimento, tanto de construção de embarcações quanto de 
técnicas de navegação, era considerado um bem de extremo valor e cuja proteção era questão 
de Estado, fundamental para países como Portugal e Espanha.
Foram os portugueses que primeiro se 
lançaram em busca de novas rotas de 
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comércio, desafiando não só a realidade do 
desconhecido oceano, mas também as ideias 
e temores do desconhecido gerados pelo 
imaginário medieval. Apesar dos custos e 
dos riscos altíssimos, as viagens 
compensavam pelos também altíssimos 
lucros obtidos. As viagens geravam, muitas 
vezes, lucros de até 6.000%.
Os lucros serviam, pois, de motor que levava às incursões no litoral da África e à posterior 
circum-navegação desse continente, bem como às viagens até a Índia e à “descoberta”, pelos 
europeus, da América. E não tardou para que os europeus – primeiro, os portugueses e 
espanhóis e, depois, holandeses, franceses e ingleses – instalassem feitorias em locais da 
Ásia, África e América, que, posteriormente, se transformaram em colônias.
O fato é que logo as principais potências europeias se lançariam em busca de novas terras e 
novas rotas, e uma nova era se iniciaria nas relações internacionais.Como observa Perry 
(1999, p. 280), “num desenvolvimento sem precedentes, uma pequena parte do globo, a 
Europa ocidental, tornara-se a senhora das vias marítimas, dona de muitas terras em todo o 
mundo e o banqueiro e recebedor de lucros numa economia mundial que começava a 
despontar”. O pequeno continente dava sinais de seu poder e da dominação que exerceria nos 
séculos seguintes sobre povos e impérios de todo o globo.
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Os efeitos para as outras regiões do mundo foram profundos: populações inteiras – 
especialmente nas Américas – foram dizimadas; outras tantas, particularmente na África, 
foram reduzidas à condição de escravas; plantas, animais e doenças foram espalhadas pelos 
quatro cantos do mundo, e, principalmente, dava-se início a um tipo de economia global 
nunca antes visto. 
São forças profundas que merecem atenção: a tecnologia, dado o aprimoramento das 
capacidades bélicas dos europeus e a religião, uma vez que, junto com os conquistadores, iam 
os catequizadores e a ideia de “obrigação” que tinham os europeus de “difundir o 
cristianismo aos povos mais atrasados” (missões).
O Advento do Estado Absolutista
A partir do século XIII, ocorreu na Europa 
o fenômeno do fortalecimento do rei e da 
monarquia. Por intermédio de guerras, 
alianças e casamentos, os reis se 
fortaleceram e foram decisivos nos 
processos de construção dos Estados 
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nacionais europeus. Os Estados nacionais se 
formaram, então, como uma cunha entre o 
poder local da nobreza e das cidades e o 
poder universal da Igreja. Alguns, como 
Espanha, França e Inglaterra, foram bem 
sucedidos. 
Outros, como Itáliae Alemanha, não conseguiram constituir-se em unidades nacionais até a 
última metade do século XIX.
No processo de fortalecimento da monarquia, foi importante a criação de algumas 
instituições. A primeira delas foi a do imposto nacional, que se diferenciava da cobrança de 
tributos feita pelos senhores feudais. Enquanto esta se fundava nas relações pessoais de 
vassalagem, o imposto moderno baseava-se na ideia de que a contribuição era feita para a 
construção de um bem comum. 
A segunda importante instituição foi a de exércitos nacionais. Se, antes, os reis dependiam 
das relações pessoais com a nobreza, pois precisavam dos senhores feudais e de seus 
exércitos particulares, agora tinham uma força militar própria, mantida com os novos 
impostos arrecadados.
O terceiro aspecto importante para o desenvolvimento do Estado absolutista foi a criação de 
uma administração civil ligada ou ao rei ou ao Estado. Dessa forma, o soberano se desligava 
das relações particulares com a nobreza para poder governar. Ademais, tinha-se aí o embrião 
do que seria a burocracia estatal, essencial para o governo dos Estados modernos.
Os Estados absolutistas eram, pois, Estados em que o poder 
se encontrava concentrado, em razão das instituições como o 
sistema tributário, o exército nacional e a administração 
pública, nas mãos do rei. 
A figura do Estado se fundia com a do soberano. Daí as 
palavras atribuídas a Luís XIV, soberano absolutista francês: 
“L’Etat c’est moi!” (“o Estado sou eu!”). 
Importante considerar, também, a preocupação dos Estados 
absolutistas com a economia nacional, especialmente com o 
comércio.
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 Essa preocupação se dava, porque visava à arrecadação de fundos, especialmente sob a 
forma de metais preciosos e impostos. Nesse sentido, uma nova classe, cada vez mais 
próxima do soberano, se estruturou: a burguesia. Era formada pelos comerciantes e outros 
profissionais liberais das cidades que ganhavam força frente à nobreza ao contribuir para o 
financiamento do Estado moderno.
Por fim, o aparecimento dos estados absolutistas provocou grande mudança no sistema 
internacional. Hélio Jaguaribe (2001, p. 481) observa que “o século XVII se caracterizou na 
Europa pela emergência de grandes potências, contrastando com o mundo do Renascimento, 
quando as cidades-estado da Itália desempenhavam os principais papéis na arena 
internacional, cercadas por países potencialmente poderosos, como a França, a Espanha e a 
Inglaterra, que, no entanto, viviam em condições medievais. No princípio do século XVII, 
esses países tinham conseguido em grande parte alcançar sua integração nacional, e 
começavam a ter um papel internacional importante."
No ano de 529, a Academia de Platão, em Atenas, fora fechada. Em um decreto desse ano, o 
imperador romano Justiniano manifestou-se contra a filosofia, iniciando uma acomodação do 
desenvolvimento cultural em direção à Igreja. No mesmo ano, é fundada a Ordem dos 
Beneditinos, a primeira grande ordem religiosa. Dali em diante, os mosteiros passariam a 
deter o monopólio da educação, da reflexão e da meditação. Na Idade Média, teve plena 
vigência o clássico ensinamento de Agostinho: “é necessário compreender para crer e crer 
para compreender”.
No século XVI, iniciou-se um amplo movimento de reforma religiosa, que marcou o fim do 
monopólio religioso da Igreja Católica Romana sobre a Europa Ocidental. Esse movimento 
afetaria definitivamente a política, a economia, a cultura, a sociedade, enfim, as relações de 
poder no cenário europeu e mundial.
Até a Reforma, além do monopólio sobre a fé da cristandade, a Igreja Católica tinha um 
domínio cultural, político, econômico e espiritual único. Cada aspecto da vida era 
rigidamente controlado. A força do Papa, o Bispo de Roma, tanto política quanto religiosa, 
sobre a Europa Ocidental era tamanha que, no século XIII, a Igreja podia proclamar que cada 
pessoa, praticamente em toda a Europa Ocidental, tinha fé em Deus de acordo com sua 
doutrina e seus sacramentos.
Esse controle, no entanto, acabou por se voltar contra a própria instituição. Como observa 
Perry (1999, p. 231), “obstruído pela riqueza, viciado no poder internacional e protegendo 
seus próprios interesses, o clero, do papa abaixo, tornou-se alvo de um bombardeio de 
críticas.”. De um lado, criticava-se a supremacia da Igreja sobre os reis. De outro, a 
corrupção, o nepotismo, a busca de riqueza pessoal por parte dos bispos e do papa, o 
relaxamento do cumprimento das obrigações espirituais e a venda de indulgências. Inúmeros 
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cristãos passaram a criticar abertamente as práticas da Igreja e do clero. O mais famoso e 
mais importante crítico da Igreja foi o monge Martinho Lutero.
A Reforma se iniciou em 1517, com as críticas de 
Lutero à venda de indulgências. Indulgências 
eram obras que os cristãos faziam, em vida, para 
reduzir o seu tempo, após a morte, no purgatório. 
A maior parte dessas obras era constituída de 
doações à Igreja. Lutero questionava a validade 
moral da venda de indulgência e a possibilidade 
de que elas poderiam redimir o homem pecador.
Lutero defendia que o homem, apesar de ser intrinsecamente condenado pelo pecado original, 
poderia obter a redenção por meio da fé, do arrependimento pessoal, do arrependimento pelos 
pecados e pela confiança na piedade de Deus.
Aspecto importante das teses de Lutero repousa no fato de que o monge propunha, em última 
instância, a dispensa da necessidade da própria Igreja para que o homem tivesse sua 
religiosidade e seu contato com o Criador. As consequências da doutrina luterana 
ultrapassavam a esfera religiosa, pois ameaçavam a dominação político-ideológica que a 
Igreja de Roma exercia sobre os reinos europeus e seus soberanos.
Lutero, ao contrário de outros que atacaram a Igreja, obteve proteção da aristocracia 
europeia. Mais especificamente, foi protegido por Frederico, príncipe da Saxônia, na 
Alemanha. Posteriormente, Lutero deixou claro que não desejava de forma alguma ser uma 
ameaça à autoridade política dos príncipes alemães. Além disso, declarou que o bom cristão 
era aquele que obedecia às leis e à ordem.
De fato, Martinho Lutero obteve a simpatia de príncipes e de cidades em toda a Alemanha. 
As razões foram simples. Ao se desqualificar a Igreja Católica, abria-se a possibilidade de 
confisco das terras desta pelos príncipes e nobres e do fim dos pesados tributos que a ela 
eram pagos. Além disso, os príncipes alemães sentiam-se livres para resistir ao Sacro Império 
Romano, do católico Carlos V. Este, pressionado por ameaças externas – a França, a oeste, e 
os turcos, a leste – acabou por assinar a Paz de Augsburgo, em 1555. Esse acordo 
basicamente definiu que cada príncipe poderia determinar a religião de seus súditos.
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É importante observar que o descontentamento com a Igreja era grande em boa parte da 
Europa. O protestantismo, não só da linha luterana, espalhou-se com muita rapidez por todo o 
norte do continente. A reação católica, a Contrarreforma, deu-se sob diversas formas. A 
primeira delas foi no campo da atuação religiosa. Como observa Perry (1999, p. 242), “a 
princípio, a energia para a reforma veio do clero comum, bem como de leigos como Inácio de 
Loyola”. Loyola foi o fundador da famosa Companhia de Jesus. Como fora treinado como 
soldado, ele organizou os jesuítas de forma rígida e altamente disciplinada.
A Contrarreforma também enfatizava a pregação, a reconversão dos que se afastaram da 
Igreja, a construção de templos, a censura, a perseguição a protestantes e a outros hereges. 
Também é importante ressaltar que a Igreja, por intermédio do Concílio de Trento, de 1545 
a1563, modificou ou eliminou muito dos pontos criticados pelos protestantes, como, por 
exemplo, a venda de indulgências. Por outro lado, o Concílio não fez nenhuma concessão ao 
protestantismo.
A Reforma significou o enfraquecimento da Igreja e o consequente fortalecimento dos 
Estados. Além disso, a Europa se viu divididaem duas: uma protestante, no norte, e outra 
católica, no sul do continente. Essa tensão permaneceria e seria especialmente sentida no 
século seguinte.
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De fato, as disputas entre católicos e protestantes teriam um importante reflexo nas relações 
internacionais europeias durante mais de dois séculos, em especial porque estavam 
associadas também às rivalidades entre as Potências europeias. Do ponto de vista das 
relações internacionais, os novos Estados protestantes aliavam-se para se contrapor à 
dominação hegemônica da Igreja e de seu principal defensor político, a dinastia dos 
Habsburgos, o grandehegemon europeu, que tinha um império que englobava a Espanha e a 
Áustria. Essas rivalidades religiosas e políticas culminariam na Guerra dos Trinta Anos.
💡 Os conflitos entre católicos e protestantes marcaram a Europa por dois séculos, e 
seus efeitos alcançam nossos dias. Um filme muito interessante para se 
compreender o período é A Rainha Margot, de Patrice Chéreau.
2. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
A Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, primeiro grande conflito armado dos tempos 
modernos, envolveu grande parte da Europa. Essa grande confrontação do século XVII poria 
termo ao período de um século de disputas entre católicos e protestantes e daria início a um 
novo sistema europeu de relações internacionais cujos fundamentos alcançariam o século 
XXI.
O sistema internacional no século XVII foi marcado inicialmente pela preponderância da 
Espanha. Seus concorrentes, porém, não tardaram a ocupar o seu lugar de destaque. A França 
surgiu como um país importante enquanto a Inglaterra preparou o terreno, especialmente nas 
últimas décadas do século, para se tornar hegemônica no século seguinte. A perda da 
hegemonia espanhola esteve ligada a vários fatores. Jaguaribe (2001, p. 486) observa que a 
decadência espanhola “resultou da combinação de quatro causas principais: certas 
debilidades institucionais; estruturas sociais predatórias; compromissos ideológicos utópicos; 
e a adoção de políticas equivocadas”
Importante lembrar que a Espanha, católica, era a potência hegemônica no início do século 
XVII. O domínio de Felipe III (1598-1621) abrangia toda a Península Ibérica, as colônias da 
América, incluindo o Brasil, o sul da Itália, Milão, ilhas no Mediterrâneo, Filipinas e 
enclaves na África.
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Especialmente equivocada foi a decisão espanhola de ser defensora da fé católica. Isso não 
apenas fez ressurgir, em grau muito maior, as guerras religiosas do século anterior, mas 
também levou a Espanha a perder a sua condição de principal potência do continente 
europeu.
O século XVII, ressalta Jaguaribe (2001, p. 485), "foi marcado pelos conflitos religiosos mais 
agudos já ocorrido no ocidente. Herdados do século precedente, eles culminaram na Guerra 
dos Trinta Anos (1618-1648)", que foi, pois a tentativa militar dos católicos de conter o 
protestantismo.
Antes de entrarmos diretamente na Guerra dos Trinta Anos, convém um rápido parêntese. Em 
1556, o Imperador Carlos V, após ter assinado a Paz de Augsburgo, abdicou e dividiu em dois 
os seus domínios: de um lado, a Espanha, Países Baixos, colônias americanas e Itália ficaram 
para seu filho Felipe II (no mapa, em laranja); de outro, a Áustria, que ficou com seu irmão 
Fernando (em amarelo). Com isso, a família Habsburgo ficou dividida em dois ramos, ambos 
católicos e, frequentemente, aliados.
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A chamada Guerra dos Trinta Anos começou em 1618 como conflito religioso entre católicos 
e protestantes na Boêmia e adquiriu caráter político em torno das contradições entre Estados 
territoriais e principados. Envolveu a Alemanha, Áustria, Hungria, Espanha, Holanda, 
Dinamarca, França e Suécia.
Importante para o início da Guerra dos Trinta Anos foi a ascensão de Fernando II ao trono 
austríaco, em 1619. Na época, Fernando II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico 
era também rei da Boêmia. Os rebeldes negaram-lhe esse título e entronizaram o príncipe 
eleitor calvinista Frederico do Palatinado. Segundo Perry (1999, p. 266):
A Guerra dos Trinta Anos começou quando os boêmios (...) tentaram colocar no seu trono 
um rei protestante. Os Habsburgos austríacos e espanhóis reagiram, mandando um exército 
ao reino da Boêmia; de súbito, todo o império foi forçado a tomar partido dentro de linhas 
religiosas. A Boêmia sofreu uma devastação quase inimaginável: três quartos de suas cidades 
foram saqueadas e queimadas e sua aristocracia foi praticamente exterminada.
O resultado foi o envolvimento de outros príncipes protestantes. O mais importante deles na 
primeira fase da Guerra, que vai até 1632, foi o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, morto em 
batalha naquele ano. A possibilidade de paz entre Fernando II e os príncipes alemães leva à 
cena um novo Ator, a França, preocupada com a excessiva força que poderia ter a Áustria.
Sob o comando do cardeal Richelieu, a França, apesar de católica como os austríacos, 
posicionou-se contra estes. Primeiramente, de forma encoberta, depois de maneira ostensiva. 
Richelieu estava convencido de que a continuidade da França como grande poder 
internacional dependia da guerra contra os Habsburgos. Assim, a França financiava ou 
apoiava todos os que se opusessem ao domínio austríaco ou espanhol, ou, quando necessário, 
guerreavam diretamente contra eles. A França, aliás, derrotou o até então imbatível exército 
espanhol na batalha de Rocroy, em 1643. Para a Espanha, o custo dessa derrota foi altíssimo, 
pois significou o fim da invencibilidade de seu poderoso exército e a vida de 15 mil soldados.
A maneira como Richelieu se portou 
politicamente influenciaria o sistema 
internacional pelos próximos séculos. 
Richelieu criou ou ajudou a criar conceitos 
como o de “razão de estado” e “equilíbrio 
de poder”. Henry Kissinger (1999, p. 60) 
analisa que “de início, ele [Richelieu] 
queria impedir a dominação dos 
Habsburgos sobre a Europa, mas ao final 
deixou um legado que por dois séculos 
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provocou seus sucessores a tentarem o 
primado francês na Europa. 
Do fracasso dessas tentativas, brotou o equilíbrio de poder, primeiro como um fato da vida, 
depois como forma de organizar relações internacionais (...). Quando a guerra terminou, 
em 1648, a Europa Central fora devastada e a Alemanha perdera quase um terço de sua 
população. No tumulto desse conflito trágico, o cardeal Richelieu enxertou o princípio 
da raison d´état (razão de estado) na política externa francesa, princípio que os outros estados 
europeus adotaram nos cem anos seguintes”.
Convém reproduzir mais algumas das conclusões de Kissinger (1999, p. 63): “o objetivo de 
Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da França, exaurir os Habsburgos e 
impedir a emergência de uma grande potência nas fronteiras da França – especialmente na 
fronteira alemã. Seu único critério para alianças era que elas atendessem aos interesses da 
França, aplicado primeiramente aos estados protestantes, mais tarde até ao Império Otomano 
muçulmano”.
Assim, a conduta da França reflete a maneira racional e pragmática como as grandes 
Potências atuam no cenário internacional. Apesar de católica, a França não hesitou em aliar-
se aos protestantes para se contrapor à hegemonia espanhola. Essa conduta garantiria o 
fortalecimento da França nos anos seguintes, de modo que, com o fim da guerra e o declínio 
do poder espanhol, o Estado francês assumiria o papel de nova Potência hegemônica no 
continente.
A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westfália (1648), e uma Nova 
Ordem seria estabelecida no cenário europeu e, consequentemente, nas relações 
internacionais da Era Moderna.
A Paz de Westfália (1648)
A paz foi alcançada porque a guerra, após as suas várias fases, se mostrou impossível de ser 
vencida de maneira efetiva. Segundo Jaguaribe (2001, p. 483), “se foi possível chegar 
finalmente a um acordo negociado, depois de disputas ferozes, isso se deveu àincapacidade 
dos Atores em conflito de impor pela força os seus respectivos dogmas”.
O primeiro dos tratados, assinado em janeiro de 1648, pôs fim à guerra entre Espanha e 
Holanda. Em outubro do mesmo ano, pressionada por seus aliados alemães, a Espanha 
também selou a paz com os franceses.
Os tratados de Westfália significaram o fim das ambições dos Habsburgos austríacos e 
espanhóis e a vitória da política externa francesa, iniciada com Richelieu. Os franceses, além 
de acabarem com as pretensões dos seus adversários, ainda tiveram algumas importantes 
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conquistas territoriais. O fantasma de uma Alemanha unificada, ameaça à França pelo leste, 
manteve-se afastado por duzentos anos.
Carpentier e Lebrun (1993, p. 229) anotam que a Europa era “politicamente muito diferente 
da de 1560 ou 1600. A Casa da Áustria já não era um perigo para a paz europeia. (...) A 
Espanha, enfraquecida e amputada, já se não contava entre as potências de primeira plana. A 
Inglaterra, saída do isolamento em que havia ficado a seguir à guerra civil (...), as Províncias 
Unidas [Holanda], independentes e aumentadas, a Suécia, dominadora do Báltico, eram já 
grandes potências (...). O facto essencial era, todavia, a situação de preponderância adquirida 
pela França. O reino (...) não só era mais vasto e mais bem defendido como também dispunha 
de uma clientela em que se contavam quase todos os países europeus. De resto, o prestígio 
intelectual e artístico da França não cessava de crescer. Começara a era da preponderância 
francesa na Europa”.
No Mapa 7, pode-se perceber a nova configuração de poder no continente europeu, com 
destaque para as fronteiras nacionais e os limites assegurados pelo Tratado de Westfália. A 
maior parte dessas fronteiras acabaria modificada nos séculos seguintes.
O Legado de Westfália
Importante sublinhar que o Tratado de Westfália marca o fim de cento e cinquenta anos de 
conflito entre os nascentes Estados europeus e o fim das ambições dos Habsburgos. Nasce, 
então, um novo tipo de Sistema Internacional, cujos Atores eram, essencialmente, os 
Estados.  Além disso, a história posterior da Europa caracterizar-se-ia pelo princípio da anti-
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hegemonia, isto é, os Estados agiriam no sentido de evitar que um se tornasse a potência 
hegemônica (balanço de poder). O Tratado de Westfália, assim, foi responsável por grandes 
mudanças no sistema internacional europeu. Ao contrário de boa parte dos acordos e pactos 
que eram firmados anteriormente, ele não serviu apenas para pôr fim a um conflito, mas 
também para tornar o Estado o principal Ator das relações internacionais. Além disso, os 
Estados, independentemente do tamanho, se viram como iguais e participantes de um mesmo 
Sistema Internacional.
Trata-se de um momento histórico fundamental para as Relações Internacionais. O Tratado de 
Westfália, de 1648, inaugurou uma nova fase na história política daquele continente, 
propiciando o triunfo da igualdade jurídica dos Estados, com o que ficaram estabelecidas 
sólidas bases para uma regulamentação internacional mínima. Essa igualdade jurídica elevou 
os Estados ao patamar de únicos Atores nas políticas internacionais, eliminando o poder da 
Igreja nas relações entre os mesmos e conferindo aos mais diversos Estados o direito de 
escolher seu próprio caminho econômico, político ou religioso. Ficou, então, consagrado o 
modelo da soberania externa absoluta, tendo início uma ordem internacional protagonizada 
por Atores com poder supremo dentro de fronteiras territoriais estabelecidas. Mais tarde, os 
contratualistas (Locke, Rousseau) e, em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão, trariam os elementos caracterizadores da soberania que seriam adotados por várias 
Constituições: unidade, indivisibilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade.
Importante também sublinhar que o primeiro ponto em que os diplomatas em Westfália 
acordaram foi que as três confissões religiosas dominantes no Sacro Império (o catolicismo, o 
luteranismo e o calvinismo) seriam consideradas iguais. Revogava-se, assim, a disposição 
anterior nesse assunto, firmada pela Paz de Augsburgo, em 1555, que dizia que o povo tinha 
que seguir a religião do seu príncipe (cuius regios, eius religio). Isso não só abria uma brecha 
no despotismo como abria caminho para a concepção de tolerância religiosa, que, no século 
seguinte, se tornaria bandeira dos iluministas, como John Locke e Voltaire. Além disso, a 
nova doutrina da Razão de Estado, extraída das experiências provocadas pela Guerra dos 
Trinta Anos, exposta e defendida pelo Cardeal Richelieu, defendia que um reino tem 
interesses permanentes que o colocam acima das motivações religiosas. O antigo sistema 
medieval, que depositava a autoridade suprema no Império e no Papado, dando-lhes direito 
de intervenção nos assuntos internos dos reinos e principados, foi substituído pelo conceito 
de soberania de Estado, inaugurando-se um novo sistema em que os Estados têm direitos 
iguais baseados numa ordem constituída por tratados e pela sujeição à lei internacional.
Essa situação político-jurídica perdura até os nossos dias, apesar de haver hoje, 
particularmente da parte dos EUA, um forte movimento supranacional intervencionista, com 
o objetivo de suspender as garantias de privacidade de qualquer Estado frente a uma situação 
de emergência ou de flagrante violação dos direitos humanos.
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A Nova Ordem Internacional a partir de Westfália
A história europeia após o tratado de Westfália é a contínua busca, por parte da França, de 
obtenção da hegemonia europeia e a resistência, por parte dos demais Atores europeus, a esse 
intento. Na busca desses objetivos, imperam as relações pragmáticas e as alianças de ocasião. 
No século que se seguiu à Paz de Westfália, “a raison d’état [razão de estado] passou a ser o 
princípio orientador da diplomacia europeia”, registra Kissinger (1999, p. 66).
O período pode ser divido em três fases:
A primeira vai de 1648 a 1740 e é de preponderância francesa. A Áustria recuou de suas 
pretensões na Alemanha e conquistou, gradativamente, vastas regiões ao longo do rio 
Danúbio. A Espanha lentamente se retirava do papel de potência de primeira ordem. A 
Inglaterra, a partir da Revolução Gloriosa, de 1688, tornou-se uma monarquia em que o 
Parlamento tinha papel preponderante. A França, especialmente sob Luís XIV “esforçou-se 
(...) por reforçar o absolutismo monárquico em França e por impor, mais ou menos 
diretamente, a sua lei à Europa. Falhou, porém, nesta sua última pretensão perante a 
coligação dos Estados europeus – enquanto, na Europa Central e Oriental, a Prússia 
começava a salientar-se, e Pedro, o Grande, procurava conseguir que a Rússia saísse do seu 
isolamento” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 233).
A segunda fase vai de 1740 a 1792 e se caracteriza pela preponderância marítima da 
Inglaterra e pelo equilíbrio das potências continentais. “A luta, no mar e nas colônias, entre 
a Inglaterra – onde, a despeito das tendências de poder pessoal de Jorge III, prosseguia a 
evolução para o regime parlamentar – e a França – onde o absolutismo de Luís XV e Luís 
XVI enfrentava dificuldades cada vez maiores – veio a dar a vantagem à Inglaterra, que se 
tornou a primeira potência mundial graças à sua superioridade marítima e ao avanço 
resultante dos começos da revolução industrial. Na Europa Central e Oriental, a Prússia de 
Frederico II, a Áustria de Maria Teresa e José II e a Rússia de Isabel e de Catarina II eram 
concorrentes entre si, mas equilibravam-se e chegaram a acordo para crescer à custa do 
Império Otomano e da Polônia, que foi totalmente desmembrada” (CARPENTIER; 
LEBRUN, 1993, p. 247).
O último período vai de 1792 a 1815 e se caracteriza por ser o momento do apogeu e do 
fracasso do projeto de uma Europa francesa. “Entre 1789 e 1815, a Europa respirou ao 
ritmo da França. A ‘Grande Nação’ impôs-se, primeiro, pela força das ideias e, depois, pela 
das armas.De 1792 até 1815, a guerra opôs permanentemente a França às monarquias 
europeias. Napoleão Bonaparte, herdeiro dessa guerra, tentou construir uma Europa 
Continental francesa. Mas a obstinação britânica, que inspirava e financiava as diversas 
coligações das coroas, acabaria por vencer o Grande Império. A França foi, então, vítima 
R.I. MODULO II. 17
não só dos reis como também dos povos, cujos sentimentos ajudara a despertar” 
(CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 277).
Sob o prisma das Relações Internacionais, convém observar a importância da Potência 
hegemônica em um sistema e o grau de influência sobre os outros Atores. Na Nova Ordem 
estabelecida a partir de Westfália, a França ascendeu à condição de Potência hegemônica, que 
havia sido da Espanha sob os Habsburgos. O século que se seguiu à Guerra dos Trinta Anos 
foi um século francês, no qual a sociedade internacional era influenciada pela sociedade 
francesa. Daí a expansão do Iluminismo pela Europa e Américas, os costumes e até o idioma 
francês influenciando outros povos ou gerando reações nacionalistas, como ocorre hoje com 
a língua inglesa e o american way of life.Assim, o sistema passou a gravitar em torno da 
França. Essa ordem começou a ruir quando se modificou o equilíbrio de poder no continente, 
em virtude de transformações radicais no interior do hegemon. A maior dessas 
transformações foi a Revolução Francesa, que abalou a estrutura de poder no interior da 
Potência hegemônica e acabou repercutindo em todo o continente – chegando inclusive ao 
Novo Mundo – com as guerras napoleônicas.
Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do 
Século XIX
1. A Nova Internacional do Século XIX - Antecedentes
A Revolução Francesa (1789) foi um evento que marcou profundamente a sociedade 
europeia. Inspirada pelos ideais iluministas e liderada pela burguesia com apoio popular, a 
Revolução tinha por lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" e ressonou em todo o mundo, 
da Europa ao continente americano, pondo abaixo regimes absolutistas e ascendendo os 
valores burgueses. Foi marco e referência para grandes transformações sociais e políticas que 
aconteceriam pelo mundo nos séculos seguintes.
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Registre-se que essa ressonância da Revolução Francesa foi tanto prática quanto simbólica. A 
Revolução foi marcante por ter atingido a principal monarquia europeia e o maior e mais 
populoso país europeu (se excluída a Rússia). De fato, as transformações que marcariam a 
Europa e a civilização ocidental no século XIX seriam influenciadas diretamente por aquelas 
mudanças ocorridas no âmbito doméstico da França, então a Potência hegemônica no 
continente. Nesse sentido, podemos perceber como transformações nas Grandes Potências 
acabam afetando todo o sistema internacional, proporcionalmente ao grau de poder dessa 
Potência.
Assim, para os defensores da ordem, a Revolução era perigosa, porque retirava os alicerces 
do Antigo Regime. A título de exemplo, foi apenas em 1789 que, pela primeira vez na 
história da França, uma Assembleia Nacional foi eleita e aboliu o feudalismo e seus 
privilégios. Além disso, também naquele ano, a Bastilha, o símbolo do poder real, foi tomada 
de assalto, palácios foram saqueados e revoltas ocorreram no campo, com os camponeses se 
sublevando e questionando, de maneira praticamente inédita no país, o modelo de servidão 
estabelecido pelo sistema feudal. Como se não bastasse, uma Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão foi proclamada como preparativo para uma Constituição, e a Igreja foi 
subordinada ao Estado. Eram mudanças que afetavam o cerne de uma ordem doméstica 
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tradicional e que acabariam afetando as estruturas da ordem internacional que tinha a França 
como principal protagonista.
Não tardou, pois, a reação. As Potências Europeias promoveram ataques contra o território 
francês na tentativa de restabelecer o trono de Luís XVI e o Antigo Regime (vide Mapa 10 – 
em roxo, a ofensiva dos países da coalizão). As cabeças coroadas da Europa não poderiam 
arriscar que um de seus membros mais importantes fosse derrubado por um levante popular.
Nesse contexto, Luís XVI tentou fugir para o exterior. Preso no meio do caminho, foi levado 
de volta a Paris e guilhotinado. A República foi proclamada, e a França se viu, externamente, 
em um estado quase permanente de guerra. Internamente, a Revolução mergulhou no Terror – 
aproximadamente 40 mil pessoas morreram – e na luta entre as diversas facções. Após um 
período de contrarrevolução e de agravamento dos conflitos internos, o poder passou para as 
mãos dos generais. Um deles, Napoleão Bonaparte, assumiu o controle do governo em 
novembro de 1799.
Napoleão Bonaparte
Napoleão, “na verdade, pertencia à tradição 
do despotismo esclarecido do século XVIII. 
R.I. MODULO II. 20
Da mesma maneira que os déspotas 
reformadores, admirava a uniformidade e a 
eficiência administrativas, era avesso ao 
feudalismo, à perseguição religiosa e à 
desigualdade civil e defendia a 
regulamentação governamental na indústria 
e no comércio” (PERRY, 1999, p. 339).
Apesar de não se identificar com o republicanismo e com a democracia das fases mais 
radicais da Revolução, Bonaparte era visto, pelos demais países europeus como seu 
continuador. Isso se deu, em grande parte, porque o general corso estendeu, “com diferentes 
graus de determinação e sucesso, (...) as reformas da Revolução a outras terras. Seus 
funcionários instituíram o Código Napoleônico, organizaram um serviço civil efetivo, 
abriram carreiras de talento e nivelaram os encargos tributários. Além de abolir a servidão, os 
pagamentos senhoriais e as cortes da nobreza, eliminaram os tribunais clericais, fomentaram 
a liberdade religiosa, autorizaram o casamento civil, exigiram que se concedessem direitos 
civis aos judeus e combateram a interferência do clero na autoridade secular. (...) Napoleão 
dera início a uma revolução social de amplitude europeia, que atacou os privilégios da 
aristocracia e do clero – que se referiam a ele como o ‘jacobino coroado’ – e beneficiou a 
burguesia” (PERRY, 1999, p. 344).
As zonas “assimiladas”, anexadas ao território do grande Império, ou efetivamente 
vassalas (reino da Itália): aí, os direitos feudais foram suprimidos, a igualdade 
estabelecida perante a lei, o código napoleônico adotado e a administração calcada sobre 
a da França.
As zonas de “influência”, onde a anexação foi indireta, mas o Antigo Regime foi 
eliminado pelas autoridades francesas. É o caso da maior parte da Alemanha entre o 
Reno e o Elba, do Grão-Ducado de Varsóvia, do Reino da Sicília e do Reino de Nápoles.
As zonas de “resistência positiva”, essencialmente a Prússia, onde os dirigentes (...) 
calcularam que o melhor meio de encerrar a luta contra a França era pôr em prática 
extensas reformas sociais (abolição da servidão e dos direitos feudais).
As zonas de “resistência passiva”, essencialmente a Áustria e a Rússia, onde a luta 
contra a França não se fez acompanhar de nenhuma reforma profunda: o sistema 
senhorial foi mantido na Áustria, a servidão e o Tchin (nobreza ligada à função pública) 
na Rússia.
R.I. MODULO II. 21
Enfim, a Inglaterra, depois de 1800 chamada de “Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda”, 
que, por um lado, jamais havia sido conquistada e, por outro, já possuía um regime 
suficientemente liberal para que tivesse a tentação ardente de imitar a França. 
Portanto, a Era Napoleônica foi marcada por uma série de conflitos armados ocorridos entre 
1799 e 1815, quando a França enfrentou várias alianças de Potências europeias. O principal 
motivo das campanhas francesas, após 1789, era defender e difundir os ideais da Revolução 
Francesa, mas, com a ascensão de Napoleão, o objetivo passou a ser a expansão da influência 
e do território franceses. O império napoleônico chegou a dominar parte significativa 
daEuropa. Napoleão sonhava com uma Europa em que, sob a hegemonia francesa, não 
houvesse mais espaço para as estruturas absolutistas do AntigoRegime. Nessas regiões, as 
sementes dos ideais revolucionários de 1789 foram plantadas e germinariam nas décadas 
seguintes. Para a contenção do expansionismo francês, foram necessárias várias coalizões das 
Grandes Potências.
No Mapa, pode-se ter a ideia da dimensão do Império Napoleônico em seu apogeu (em 
verde).
R.I. MODULO II. 22
Em 1812, Napoleão conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos chegando até 
Moscou. Entretanto, a vitória logo se converteu em grande derrota. Os russos simplesmente 
abandonaram Moscou, depois de destruir os campos cultivados e de incendiar a cidade. Sem 
abrigo ou provisões, o exército francês, enfrentando o rigoroso inverno, foi obrigado a deixar 
a Rússia sob o intenso fogo do exército russo, perdendo aproximadamente 95% dos cerca de 
600 mil homens que participaram da desastrosa campanha.
Aproveitando-se do enfraquecimento de Napoleão, Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra e 
Suécia formaram a 6.ª Coalizão e declararam guerra à França. Napoleão derrotou os exércitos 
da Rússia e da Prússia, enquanto os exércitos franceses estavam sendo derrotados na 
Península Ibérica por forças espanholas e inglesas. Após a Batalha de Leipzig, a Batalha das 
Nações, em 1813, os exércitos de Napoleão abandonaram os principados alemães. A rebelião 
contra o império se estendeu à Itália, Bélgica e Holanda.
Em 1814, um grande exército da 6.ª Coalizão invadiu a França e ocupou Paris. Napoleão, 
obrigado a renunciar, foi exilado na Ilha de Elba (próxima da Córsega, sua terra natal), e a 
monarquia francesa restaurada com Luís XVIII, irmão de Luís XVI. Os membros da 
Coalizão reuniram-se, então, no Congresso de Viena para restaurar as monarquias na Europa.
No entanto, enquanto era traçado o novo mapa europeu, em março de 1815, Napoleão fugiu 
de Elba, voltou à França, e iniciou a formação de um novo exército. O rei enviou uma 
guarnição de soldados para prendê-lo, mas estes aderiram a Napoleão. Luís XVIII fugiu para 
a Bélgica.
Contra Napoleão foi rapidamente formada 
uma 7ª Coalizão, composta por Inglaterra, 
Áustria, Prússia e Rússia. Sem tempo para 
preparar um exército, Bonaparte enfrentou 
novos combates, mas foi derrotado 
definitivamente naBatalha de Waterloo (18 
de junho de 1815). 
Napoleão foi então mantido prisioneiro na Ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde 
morreu em 1821. Luís XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de Viena. 
Chegaram ao fim as Guerras Napoleônicas.
Apesar da derrota definitiva em 1815, as ações de Napoleão e os ideais revolucionários 
atingiram, de forma irreversível, o Antigo Regime em boa parte da Europa e aceleraram o 
processo de modernização do continente. Seus efeitos alcançaram o continente americano, 
repercutindo nos processos de independência de toda a América Latina e nos princípios 
R.I. MODULO II. 23
jurídicos e políticos que regeriam os novos governos na região. O mundo passou, portanto, 
por grandes transformações em virtude da Era Napoleônica. As relações internacionais nunca 
mais seriam como antes.
O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu
O fim das guerras napoleônicas marcou o início de um sistema internacional baseado no 
equilíbrio de poder entre as Potências europeias que durou cem anos, até a Primeira Guerra 
Mundial. Foi o mais longo período de paz da história da Europa ou, pelo menos, o período 
em que não houve nenhuma guerra que envolvesse, de forma generalizada, as Potências 
europeias. Durante 40 anos, isto é, entre o Congresso de Viena e a Guerra da Crimeia (1854), 
não houve uma guerra sequer entre as grandes Potências e, nos 60 anos seguintes, exceto pela 
Guerra Franco-Prussiana de 1871, nenhum conflito importante ocorreu.
O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranças trazidas pelos 25 anos 
anteriores. Os homens que reconstruíram o mapa da Europa em 1815 o fizeram preocupados 
em evitar que a ordem sofresse novos abalos. Apesar de todos os negociadores serem 
adversários da Revolução, estavam perfeitamente conscientes de que a Europa de 1815 não 
poderia voltar a ser aquela de 1792. Não obstante, estavam determinados a evitar novas 
catástrofes. Para isso, seriam utilizados dois princípios: o da legitimidade e o do equilíbrio 
europeu. Nas palavras de Duroselle (1976, p. 4):
Primeiro, restabelecer a ‘legitimidade’ dos soberanos. Mas ‘na ordem das combinações 
legítimas, ligar-se de preferência àquelas que podem com maior eficácia concorrer para o 
estabelecimento e conservação de um verdadeiro equilíbrio’. Serão, então, utilizados com 
flexibilidade e em proveito dos grandes Estados os dois princípios, um moral e jurídico, o da 
legitimidade, outro, puramente prático, o do equilíbrio europeu.
Como resultado dos debates de Viena, o mapa da Europa 
sofreu alterações importantes que refletiam a nova 
configuração de poder estabelecida pelas Grandes Potências. 
A Alemanha, por exemplo, passou de 300 Estados para 38 
(comparar o Mapa 12 com o Mapa 11).
Um fato, porém, não pode ser deixado de lado. Na conformação do novo sistema de 
equilíbrio europeu, a França continuava a grande preocupação. Sua condição hegemônica 
R.I. MODULO II. 24
tinha sido excessivamente danosa para as outras Potências europeias. O Congresso de Viena 
foi realizado sob o signo de se evitar que ela ameaçasse novamente o resto do continente.
Dois tratados pós-Congresso de Viena merecem destaque. O primeiro é o Tratado da Santa 
Aliança, firmado entre o Czar da Rússia, o Imperador da Áustria e o Rei da Prússia, em 26 de 
setembro de 1815. O segundo é o tratado conhecido como o da Quádrupla Aliança, entre os 
Quatro Grandes (Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia) em 20 de novembro de 1815.
O Tratado da Santa Aliança estabelecia a restauração na Europa da ordem religiosa e 
monárquica, fundamento do Antigo Regime que a Revolução Francesa quis derrubar. 
Fundando-se no mundo cristão, excluía o sultão otomano, apesar de o Czar desejar que o 
sistema abarcasse a França e a Espanha. Segundo Duroselle (1976, p. 5), “a ‘Santa Aliança’, 
produto dos sonhos do Czar tinha pouca consistência, e que a verdadeira realidade era a 
Quádrupla Aliança, assinada secretamente a 20 de novembro de 1815 entre a Rússia, a 
Inglaterra, a Áustria e a Prússia, contra a França.”
Até 1830, o equilíbrio europeu foi assegurado graças aos entendimentos entre Inglaterra, 
Rússia, Áustria e Prússia – os “Quatro Grandes” – e à estabilização política da França. Como 
resultado de habilidosa diplomacia, já em 1818 os franceses conseguiram associar-se à 
política de garantia da ordem na Europa. Estava estruturado o Concerto Europeu, por meio 
do qual as Grandes Potências europeias conduziriam o continente por décadas. O equilíbrio 
de forças entre Inglaterra, Rússia, Áustria, Prússia e França garantia a estabilidade, uma vez 
que nenhum desses Estados ou qualquer outro país europeu era suficientemente poderoso 
para enfrentar sozinho uma coalizão formada pelos demais. Assim, estabelecia-se um 
verdadeiro consórcio entre as Grandes Potências europeias, que lhes permitiu projetar seu 
poder sobre toda a Europa e pelo mundo. O século XIX seria o século da Paz na Europa e da 
hegemonia europeia sobre todo o planeta.
A partir de 1815, a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. A Inglaterra, 
por exemplo, divulgava mais e mais o liberalismo político e econômico, e a expansão desses 
ideais liberais foi um dos objetivos da política externa inglesa no século XIX, pela qual os 
britânicos atuaram, direta ou indiretamente, na independência das colônias espanholas e 
portuguesas na América e na organização dessas novas nações americanas. Da mesma forma, 
os russos cada vez mais se preocupavam com a decadência e o fatiamento territorial do 
Império Otomano. Isso explica, em grande parte, a concorrência e a inimizade que iriam 
marcar as relações entre Inglaterra e Rússia em boa parte do século XIX.
A Europa que emergiu do Congresso Viena estava ansiosa pela eliminação dos traços da 
Revolução Francesa.Era uma Europa legitimista, clerical, desigual, aristocrática e, 
principalmente, reacionária. 
R.I. MODULO II. 25
Importante registrar, no entanto, que o fantasma de 1789 não desapareceu. Intelectuais, 
trabalhadores, liberais, democratas, burgueses estavam descontentes com o restabelecimento 
do Antigo Regime. Sob diversos matizes ideológicos, o século XIX testemunhou um longo 
desenrolar de revoluções.
O Século das Revoluções
A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os Estados 
europeus, o que permitia certa estabilidade no cenário internacional. Apesar desse quadro de 
tranquilidade, o século XIX foi tempo de revoluções tanto políticas quanto econômicas.
Politicamente, houve três grandes ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848. O período entre 
1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de preços, ou seja, período de grande 
tensão. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 1848, bem como as investidas 
contrarrevolucionárias, estão indicadas nos Mapas 13 a 15.
A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês 
na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. Propagou-se o sistema parlamentar 
(com inspiração no modelo britânico) de qualificação por propriedade (voto censitário) sob 
monarquias constitucionais.
R.I. MODULO II. 26
A França era o ponto de irradiação, dada a classe média liberal e radical que se formara com 
o movimento jacobino na época da Revolução Francesa. Em 1830, também já era possível 
notar o aparecimento de uma classe operária como uma força política autoconsciente e 
independente, que começava a reunir os jacobinos mais extremados. Já em 1848, a agitação 
popular tornava-se contrária à classe média liberal (o “perigo vermelho”).
Os radicais ficaram desapontados com o fracasso dos franceses em desempenhar o papel de 
libertadores internacionais. Esse desapontamento, junto com o crescente nacionalismo da 
década de 1830 e a nova consciência das diferenças nos aspectos revolucionários de cada 
país, despedaçou o internacionalismo unificado (centrado na França) a que os revolucionários 
tinham aspirado durante a Restauração (o pós-1815). Em 1848, as nações de fato se 
sublevaram separadamente.
Os radicais, os republicanos e os novos movimentos proletários se retiraram da aliança com 
os liberais, dado que o liberalismo moderado se tornara hostil em razão do seu maior medo, a 
república social e democrática (em oposição à monarquia constitucional), a qual era, nesse 
momento, o slogan da esquerda.
De uma forma geral, as revoluções de 1848 foram revoluções sociais de trabalhadores 
pobres. Quando se viram diante da revolução “vermelha” (ameaça à propriedade), os 
R.I. MODULO II. 27
moderados liberais e os conservadores se uniram. Os trabalhadores ficaram isolados diante da 
união de forças conservadoras e ex-moderadas aliadas ao velho regime. Com essa aliança, os 
regimes conservadores restaurados estavam preparados para fazer concessões ao liberalismo 
econômico. A década de 1850 viria a ser, de fato, um período de liberalização sistemática: 
fim da legislação de guildas e liberdade para se praticar qualquer forma de comércio; fim do 
severo controle estatal sobre a mineração; realização de uma série de tratados de livre-
comércio etc. Nesse momento, a burguesia deixava de ser uma força revolucionária.
Esses fatos abriram o caminho para a Revolução Industrial a partir da segunda metade do 
século XIX (vários autores se referem a ela como “Segunda Revolução Industrial”, para 
distingui-la do avanço industrial no século XVIII). Com a retirada da nobreza e a 
diversificação das formas de se fazer dinheiro (início da chamada haute finance – conjugação 
dos capitais comercial e financeiro), as décadas de 1850 e 1860 foram prósperas e capazes de 
incorporar os cidadãos instruídos ao mercado de trabalho.
De 1850 até pelo menos 1873, o tempo foi de prosperidade. Como observa Duroselle (1976, 
p. 21), a prosperidade, “interrompida por alguns recessos, rompe o ímpeto revolucionário. 
Este só voltará a ressurgir na França em 1869 aproximadamente. Com um nível de vida 
momentaneamente acrescido, as massas toleram mais facilmente o jugo, se tiverem a 
impressão de que o poder favorece a expansão.”
A Revolução Industrial modificou 
toda a sociedade europeia. Se na 
sociedade pré-industrial do século 
XVIII a agricultura ainda era o centro 
das atividades humanas, no século 
XIX a vida se deslocava 
progressivamente para as cidades e 
para as indústrias. Simultaneamente, o 
poder, a influência e os valores da 
aristocracia perderam força.
 Em seu lugar, ganharam importância o dinheiro e a capacidade individual. A modernização 
da sociedade colaborou, também, para a progressiva universalização do voto e para a 
secularização da sociedade. Por fim, a tecnologia ampliou a diferença entre o Ocidente e as 
demais regiões do mundo.
Divisão da Europa – Nacionalidade X Legitimidade
R.I. MODULO II. 28
A Europa de 1815 foi construída sobre o princípio de que era essencial preservar o continente 
de uma possível ameaça francesa. Assim, no redesenho do mapa continental, o princípio da 
nacionalidade fora deixado em segundo plano. Nem por isso, no entanto, inexistia a 
afirmação da nacionalidade.
O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionárias da primeira metade do século 
XIX. O nacionalismo se propagou a partir da classe média e teve nas escolas e nas 
universidades seus grandes defensores. Vários movimentos nacionalistas jovens começaram a 
se espalhar a partir das revoluções de 1830: a Jovem Itália, a Jovem Polônia, a Jovem Suíça, 
a Jovem Alemanha, a Jovem França e a Jovem Irlanda.
Parte da onda nacionalista vinha dos 
escombros do Império Otomano, o qual, nas 
palavras do Czar, era o ancião enfermo da 
Europa.
Progressivamente, o Império Otomano foi 
perdendo terras para austríacos, russos e 
para nações que iam surgindo de suas 
fraquezas. A primeira delas foi a Grécia, 
cuja independência foi tema de preocupação 
durante toda a década de 1820. Finalmente 
independente em 1830, serviu como 
exemplo para muitos outros: a Sérvia, 
alguns anos depois, conquistava autonomia, 
e, em 1856, Romênia e Bulgária se 
tornaram independentes.
O Império Otomano existiu 
aproximadamente de 1300 a 1922 e, no 
período de maior extensão territorial, 
abrangeu três continentes: da Hungria, ao 
norte, até Aden, ao sul, e da Argélia, a 
oeste, até a fronteira iraniana, a leste, 
embora centrado na região da atual Turquia. 
Por meio do Estado vassalo do janato da 
Crimeia, o poder otomano também se 
expandiu na Ucrânia e no sul da Rússia. Seu 
nome deriva de seu fundador, o guerreiro 
muçulmano turco Osman (ou Utman I 
Gazi), que fundou a dinastia que governou o 
império durante sua história.
No restante da Europa, no entanto, apenas a Bélgica se tornou independente da Holanda, em 
1830. Para isso, assumiu o caráter de nação neutra, com aval das Grandes Potências. A 
neutralidade belga, garantida pela Grã-Bretanha, seria violada em 1914 pelo avanço alemão 
contra a França e contribuiria para que Londres declarasse guerra a Berlim.
Outras tentativas de independência no continente europeu fracassaram. A Polônia não 
conseguiu a autonomia diante da Rússia (1830), e a Hungria alcançou uma semi-
independência em relação à Áustria (1867). Dos movimentos nacionais de afirmação, os mais 
importantes foram os da Itália e da Alemanha, países que se unificaram a partir da segunda 
metade do século. De fato, a unificação da Itália e, sobretudo, a da Alemanha, seriam 
acontecimentos importantes para alterar o equilíbrio de poder na Europa estabelecido pelo 
Concerto Europeu, e afetariam diretamente as relações internacionais do período, culminando 
nos processos que levaram à I Guerra Mundial.
R.I. MODULO II. 29
A Unificação da Alemanha
Não seria temerário afirmar que a unificação da Alemanha, ocorrida em 1871, foi, após o 
Congresso de Viena, o evento mais importante da política internacionaldo século XIX. A 
unificação alemã provocou o desmoronamento dos fundamentos do equilíbrio internacional 
surgidos em 1815 e levou a política internacional ao retorno às lutas irrestritas do século 
XVIII. Ademais, seus efeitos estariam diretamente relacionados com eventos marcantes do 
século seguinte, como a I e a II Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a integração europeia.
O principal temor dos franceses do século XVII era a unificação alemã. Richelieu, por 
exemplo, via na Alemanha unificada uma ameaça potencialmente mais perigosa para a 
França. A unificação, entretanto, somente foi possível porque a Prússia conseguiu, ao longo 
de 150 anos, construir um Estado forte o bastante para que pudesse, no fim do século XIX, 
almejar a preponderância entre os Estados alemães.
Também não se pode esquecer a ação 
deBismarck, primeiro-ministro prussiano 
que soube, por meio de uma política interna 
autoritária e uma política externa cuidadosa 
e pragmática, unificar a Alemanha. A 
maneira racional, pragmática e calculada 
como Bismarck conduziu a política alemã 
ficou conhecida como Realpolitik.
Assim, externamente, o Chanceler 
prussiano foi bem-sucedido em três guerras. 
Junto com a Áustria, atacou e conquistou 
territórios da Dinamarca, em 1864. Dois 
anos depois, a luta pelos espólios dessa 
conquista fez com que os austríacos 
declarassem guerra à Prússia. Vencedores, 
os prussianos conseguiram afastar a Áustria 
dos assuntos alemães. Continuando com a 
sua Realpolitik e derrotada a Áustria, 
Bismarck conquistou territórios e forçou os 
Estados alemães menores a se aliarem a ele.
Em 1871, sabedor de sua vantagem militar, 
Bismarck provocou os franceses. Estes 
Otto von Bismarck (1815-1898), o 
“Chanceler de Ferro”, foi o grande artífice e 
primeiro chanceler do segundo império 
alemão. Seu pai era um latifundiário de 
origem nobre, e sua mãe pertencia à 
burguesia. Em sua personalidade, fundiam-
se a sutileza intelectual e o provincianismo 
da aristocracia conservadora. Entrou na 
política em 1847. Como delegado da 
primeira Dieta prussiana, destacou-se como 
um dos mais férreos conservadores. Quando 
eclodiu a Revolução de 1848, foi para 
Berlim e pediu que o rei Frederico 
Guilherme IV reprimisse a sublevação. Seu 
conselho não foi levado em consideração, 
mas sua lealdade foi recompensada ao ser 
nomeado representante prussiano na 
Confederação Germânica, a liga dos 39 
estados alemães, em 1851. Passou a ser 
embaixador na Rússia em 1859 e foi 
designado para a França em 1862. 
Designado Chanceler prussiano no mesmo 
R.I. MODULO II. 30
declararam guerra e foram rapidamente 
derrotados. Como vitória, Bismarck 
conseguiu o apoio suficiente de que 
necessitava para que os outros Estados 
alemães aceitassem integrar-se à Prússia, 
formando o Império Alemão, ou Segundo 
Reich
ano, procedeu com uma série de reformas 
internas e deu início à suaRealpolitik, que 
garantiria a vitória sobre Grandes Potências 
europeias, como a Áustria e a França, e 
conduziria à unificação alemã. Em 1890, 
desentendeu-se com o Kaiser (ou 
Imperador) em virtude do direcionamento 
da Política Externa do Reich, sendo 
demitido e deixando a vida pública.
Depois da unificação, a Alemanha desenvolveu-se de maneira significativa, sobretudo nas 
áreas industrial e militar. Em três décadas, o país já se mostrava a principal Potência do 
continente em desenvolvimento industrial e tecnológico, superando a França. Ademais, com 
uma intensa política de construção naval, logo as marinhas mercante e de guerra alemãs 
ameaçavam a hegemonia britânica no mundo.
Na virada do século, os alemães já deixavam claro que desejavam ocupar seu lugar de 
destaque entre as Grandes Potências, sendo fundamental para isso o estabelecimento de um 
império colonial e a conquista de novos mercados pelo planeta. Entretanto, as pretensões do 
Reich acabariam chocando-se com os interesses das Grandes Potências tradicionais – em 
especial, Grã-Bretanha e França –, o que levaria a Europa à Primeira Guerra Mundial, em 
agosto de 1914.
Expansão colonial
Outro aspecto importante da Sociedade Internacional do século XIX é a nova expansão 
colonial. Durante todo o século, mas sobretudo em sua segunda metade, desenvolveu-se um 
processo de conquistas europeias sobre a África e Ásia, denominado Neocolonialismo. Na 
virada do século, praticamente todo o continente africano, à exceção da Etiópia e da Libéria, 
estava sob jugo das Potências europeias como parte de seus impérios coloniais.
O Neocolonialismo foi a principal expressão do Nacionalismo e do Imperialismo, este último 
a forma assumida pelo capitalismo a partir da Segunda Revolução Industrial, segundo os 
globalistas.
Os defensores do Estado-nação entendiam o Estado como progressista (capaz de desenvolver 
uma economia, tecnologia, organização burocrática e força militar viáveis), ou seja, precisava 
ser pelo menos territorialmente grande. Para a sociedade burguesa moderna, liberal e 
progressista, a unidade estatal natural deveria ser extensa, daí o decorrente expansionismo 
R.I. MODULO II. 31
colonial. O padrão de programa nacional do século XX seria diferente: Estado totalmente 
independente, homogêneo territorial e linguisticamente, laico e 
provavelmente republicano/parlamentar.
O sionismo, que refundaria o Estado de Israel, seguiria esse padrão: tomar o território, 
inventar uma língua e laicizar as estruturas de um povo cuja unidade histórica havia sido 
apenas a prática de uma religião comum.
A concepção nacionalista de Estado do século XIX se casou perfeitamente com os objetivos 
capitalistas. O domínio das Potências europeias sobre povos dos outros continentes não foi 
apenas econômico, mas também militar, político e social, impondo à força um novo modelo 
de organização do trabalho que pudesse garantir, principalmente, a obtenção de matéria-
prima para as indústrias europeias. À violência militar e à exploração do trabalho somam-se 
as imposições sociais, incluindo a disseminação do cristianismo entre os povos nativos, num 
processo de aculturação, sob a
justificativa de que se estaria levando os valores ocidentais da “civilização” aos povos 
primitivos. Era o “ideal civilizador do homem branco”.
Nesse processo mercantil-civilizador, a África foi conquistada e dividida, o mesmo 
acontecendo com parte da Ásia. Impérios tradicionais como a China sucumbiram à 
hegemonia europeia. O mundo nunca se mostrara tão eurocêntrico, e as nações europeias 
efetivamente eram as protagonistas das relações internacionais. O planeta como um todo 
tornou-se o tabuleiro do jogo de poder entre as Potências europeias.
A partir da segunda metade do século XIX, portanto, as preocupações europeias se tornaram 
mundiais. As rivalidades se projetavam nos outros continentes. “O século XIX é 
extraordinariamente dinâmico: vai assistir-se à expansão da Europa pelo mundo, tanto pela 
ação política dos seus Estados, pelos fluxos migratórios, pelo escoamento das suas 
economias, como pela sua influência civilizadora.” (PELLISTRANDI, 2000, p. 115). As 
Grandes Potências europeias cuidavam de estabelecer seus impérios coloniais subjugando os 
povos dos outros continentes, particularmente da Ásia e da África.
Especialmente importante é o Congresso de Berlim, em 1885. As razões políticas do 
imperialismo de final do século XIX eram tão importantes quanto as razões econômicas. Para 
as nações recém-unificadas – Itália e Alemanha – a obtenção de territórios na África e na 
Ásia significava prestígio e auto reconhecimento. Para a França, profundamente traumatizada 
após a derrota de 1871 (na Guerra Franco-Prussiana), as conquistas coloniais eram um meio 
de readquirir respeito.
R.I. MODULO II. 32
As novas Potências – Estados Unidos da América e Japão
A segunda metade do século XIX vê também o aparecimento de dois Atores importantes no 
jogo político internacional: Estados Unidos da América (EUA) e Japão.
Os EUA começaram a se projetar como Potência após a violenta Guerra Civil, travada para 
impedir a separaçãodos estados do sul do país. Pouco antes, os norte-americanos haviam 
consolidado o seu processo de expansão colonial às expensas do México. Além disso, em 
1867, compraram da Rússia o Alasca e, após derrotarem a Espanha, em 1898, adquiriram 
Porto Rico, Filipinas e um virtual controle sobre Cuba. Da mesma forma, o Oceano Pacífico 
tornava-se uma área de projeção de poder dos EUA.
Internamente, os EUA iniciaram um vigoroso processo de industrialização graças a um 
mercado interno crescente, a uma estrutura tarifária protecionista para afastar a concorrência 
estrangeira, a uma estrutura estável de comércio e ao grande número de inovações 
tecnológicas. Em 1914, às vésperas da I Guerra Mundial, o país já era, de longe, a principal 
Potência industrial do planeta.
Sobre a situação dos EUA frente a outras potências na virada do século, vide Paul Kennedy, 
op.cit.
O Japão é outro exemplo de rápido crescimento econômico. Até 1854, mantivera-se fechado 
ao exterior. Nesse ano, uma esquadra norte-americana forçou o país a abrir-se e aceitar o 
comércio com o exterior. “Decidido a preservar a independência do país, um grupo de 
samurais (...) tomou o governo. A Restauração Meiji de 1867, como ficou conhecido esse 
episódio, devolveu o poder ao imperador” (PERRY, 1999, p. 473).
Inspirado por uma forte ideologia nacionalista, o governo Meiji iniciou um importante 
conjunto de reformas: os privilégios sociais foram eliminados, o serviço militar obrigatório 
foi implantado, uma Constituição foi elaborada, e passou a existir parlamento. Além disso, a 
economia foi rapidamente modernizada. Fábricas foram instaladas, tecnologia europeia foi 
comprada, ferrovias, portos, estradas e telégrafos instalados. Em menos de 20 anos, o novo 
poder japonês dava sinais de existência: em 1894, derrotava a China, e, em 1905, a Rússia.
Na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), pela primeira vez na era moderna uma Potência do 
Oriente derrotava um poderoso Estado europeu.
O Estado-nação
O Estado-nação é o resultado moderno da experiência de formação e construção do Estado 
desde Westfália e pressupõe a formação propriamente dita de uma burocracia (no sentido de 
separação dos meios administrativos dos patrimônios particulares dos agentes da 
R.I. MODULO II. 33
administração). Testemunhou-se um processo de racionalização da atividade estatal. A 
relação entre poder político e território sofreu uma revolução, com uma completa 
transformação das relações do poder político central com as múltiplas tradições locais – o 
estabelecimento de uma única lei, uma única língua, uma única política fiscal e preceitos 
políticos uniformes para todo um território.
Havia razões políticas e econômicas por trás desse processo. De um lado, a necessidade de 
um contrato social voltado para a “coisa pública”, em que os “objetivos públicos” deixariam 
de ter nos corpos estamentais de privilégios os intermediários da ação político-administrativa 
estatal; e, de outro, a necessidade de facilitar a circulação dos bens num território, através da 
redução, simplificação e uniformização do sistema tributário (com a superação da 
fragmentação legislativa e do patrimonialismo fiscal), e de estimular o equilíbrio entre as 
regiões de um Estado e o aumento das trocas inter-regionais.
Uma das consequências desse processo foi a anulação sistemática das tradições locais de 
vários povos; ou seja, a partir das várias identidades dever-se-ia inventar uma identidade 
nacional que integrasse a população em novos referenciais de pertencimento, de associação. 
Assim, os vários Estados buscaram constituir internamente suas nações. A mesma demanda 
conjuntural ocorria nas grandes massas territoriais e étnicas do centro-leste europeu (Império 
Prussiano, Império Austro-Húngaro e Império Russo). Todos passaram a buscar pelo caráter 
de sua nação e a igualmente se perguntar se de várias nações era possível formar um espírito 
comum. Enfim, construir um Estado-nação significou, do século XIX ao XX, não apenas 
desenvolver uma economia e uma organização econômico-político-militar viável, mas 
também agrupar vários grupos sociais localmente circunscritos com suas línguas, tradições, 
costumes e leis próprias num grande agrupamento social politicamente representado e 
juridicamente nivelado por um Estado laico regido por um conjunto geral de leis soberanas – 
a Constituição.
Estados constitucionais e não constitucionais aprenderam a avaliar a força política que era a 
capacidade de apelar para seus súditos na base da nacionalidade (o Czar da Rússia não 
apenas baseava seu governo nos princípios da autocracia e da ortodoxia como passou a apelar 
aos russos como russos na década de 1880). A escola primária passou a ser o meio de se 
ensinar às crianças a serem bons súditos e cidadãos. Os Estados criaram nações, ou seja, o 
patriotismo nacional, e cidadãos linguística e administrativamente homogeneizados (a Itália 
usou a escola e o serviço militar para fazer italianos, os EUA tornaram o conhecimento da 
língua inglesa condição para a cidadania americana, a Rússia tentou dar à língua russa o 
monopólio da educação, com o fim de “russificar” as nacionalidades menores). Esse processo 
auxiliava a definir as nacionalidades excluídas da nacionalidade oficial, que, caso contrário, 
poderiam vir a oferecer resistência e a se refugiar em algum partido socialista.
R.I. MODULO II. 34
Esse era o pano de fundo para um século “de extremos”, o século XX, em que os principais 
Atores internacionais se confrontariam numa intensidade nunca antes vista na história da 
Sociedade Internacional.
RESUMO
O período de 1815 a 1914, quando comparado aos séculos anteriores e ao século XX, foi 
de relativa paz para a Europa. Excetuando-se a Guerra da Crimeia (1854),não existiram 
grandes conflitos entre as principais potências. O sistema de equilíbrio de poder 
estabelecido no Congresso de Viena mostrou-se bastante bem-sucedido e só foi 
desarticulado a partir do momento em que Bismarck conseguiu unificar a Alemanha.
Após 1871 e especialmente após 1890, a Europa viveu tempos de incerteza. A guerra 
voltou a ser considerada alternativa cada vez mais provável. França e Alemanha não 
poderiam se reconciliar por causa da Alsácia-Lorena, território que a primeira perdera 
para a segunda na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871. França e Inglaterra estavam 
envolvidas em um grande processo de divisão colonial na África. A Inglaterra e a 
Rússia, por causa da Índia e da Ásia Central, encontravam-se em permanente estado de 
tensão. Na Ásia, uma nova Potência surgia: o Japão.
Além disso, a mais complexa das áreas de conflito não pode ser esquecida: os Bálcãs. 
Ali, os interesses contraditórios de Áustria-Hungria, Rússia, Sérvia e Império Otomano 
fomentavam uma rivalidade crescente. Uma disputa de poder daria início à I Guerra 
Mundial (1914-1918), que, por sua vez, poria fim à “Era dos Impérios”.
Unidade 3 - A I Guerra Mundial e os Entre-
Guerras
A I Guerra Mundial
Para muitos estudiosos das relações internacionais, o século XX não se inicia em 1901, mas 
em 1914, com a deflagração do maior de todos os conflitos que o mundo presenciara até 
então: a I Guerra Mundial. Durante muito tempo chamado de a Grande Guerra, esse conflito, 
que durou de 1914 a 1918, iniciou-se na Europa e acabou envolvendo outras nações do 
R.I. MODULO II. 35
globo, inclusive novas Potências emergentes que não pertenciam ao continente europeu, com 
destaque para os EUA e o Japão.
Nunca se havia tido um conflito tão 
destrutivo e arrasador como a I Guerra 
Mundial. Trata-se do primeiro grande 
confronto internacional da era industrial. 
Foi maciço o uso das ferrovias, e “os 
caminhões se tornaram tão importantes 
quanto os cavalos no abastecimento de 
soldados no campo” (ROBERTS, 2002, p. 
681). 
Pela primeira vez, foram empregados de maneira efetiva novos equipamentos de combate, 
como o avião e o tanque de guerra. Também foram utilizados, por ambos os lados em luta, 
gases letais, responsáveis por milhares de baixas.Ao final do conflito, o sistema internacional mudaria definitivamente. A Europa sofreria 
intensa destruição, os impérios coloniais começariam a ruir, e a hegemonia europeia no 
mundo daria seus últimos suspiros. A Sociedade Internacional se apresentaria ainda mais 
complexa e com novos Atores não europeus a ditar suas regras. A Belle Époque seria apenas 
nostalgia.
Causas da Grande Guerra
Crise e incerteza. Esses eram os sentimentos que dominavam a Europa após 1890. Essa data 
não é aleatória. É o ano em que Bismarck deixa de ser o Chanceler alemão. Bismarck sabia 
muito bem o que queria: manter a França permanentemente enfraquecida e sem chances 
de revanche, além de afastada das preocupações territoriais. Seus sucessores, especialmente 
o KaiserGuilherme II, não tinham planos nesse sentido, ou, se os tinham, eram confusos, 
erráticos e provocativos. A isso se somava o fato de que cada país europeu tinha a sua lista de 
reivindicações.
A França não esquecia a perda da Alsácia-Lorena para a Alemanha. Tal fato era o motor do 
nacionalismo francês. Além disso, preocupada em recuperar prestígio, a França lançou-se, 
com todas as suas forças, na corrida colonial.
R.I. MODULO II. 36
A Rússia buscava expandir-se na Ásia Central, no Extremo Oriente e nos Bálcãs. Como 
resultado dessa política, atritou-se com os ingleses na disputa pelo Afeganistão, com o Japão 
(guerra em 1905), e permanecia em constante estado de tensão com os austríacos e com os 
otomanos pela hegemonia da península balcânica.
Os britânicos, por sua vez, temiam as ambições russas na Ásia Central e as pretensões 
coloniais francesas na África. Passaram, também, a temer cada vez mais os alemães, 
principalmente depois que estes ensejaram uma política de construção naval em 1897. Além 
disso, a Alemanha unificada revelou-se formidável concorrente econômica, superando os 
ingleses em áreas como química, siderurgia e energia, mostrando-se, por fim, a partir da 
queda de Bismarck, mais e mais interessada em estabelecer um império colonial e disputar 
espaço com outros países europeus na África e Ásia.
A Áustria-Hungria era percebida, assim como a Rússia e o Império Otomano, como a 
Potência decadente da Sociedade Europeia. Cercados por todos os lados, os austríacos tinham 
interesses conflitantes com os russos e com os eslavos da península balcânica. Além disso, 
sendo um país multiétnico, o Império Austro-Húngaro defrontava-se com crescentes pressões 
domésticas das minorias internas que desejavam maior autonomia. Cada vez mais, a Áustria-
Hungria sustentava sua segurança no apoio da Alemanha. Tratados de não agressão e 
assistência recíproca foram celebrados entre os dois Estados germânicos nos anos anteriores à 
I Guerra Mundial.
O temor de Bismarck de ver a Alemanha ameaçada nos fronts oriental e ocidental tornou-se 
realidade, em grande parte, em virtude da política externa de Guilherme II. Preocupado em 
mostrar-se forte e influente, mas sem a habilidade política de Bismarck, o Kaiser acabou 
atraindo para si muitos inimigos. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram, principalmente, 
para fazer frente ao poderio alemão.
Para agravar a situação, as políticas governamentais nas Potências europeias eram ditadas por 
ânimos nacionalistas e não havia nenhuma instituição internacional que pudesse mediar 
conflitos. O Congresso de Viena há muito deixara de ter importância e nada de significativo 
surgira em seu lugar. É verdade que existia, desde 1899, a Corte Internacional de Justiça de 
Haia. Infelizmente, no entanto, ela se mostrou ineficaz. A paz anterior a 1914 era obtida pelas 
ameaças mútuas, e não pelas decisões da Corte de Haia. A guerra, por sua vez, era articulada 
por meio de alianças secretas entre as Potências: era a diplomacia secreta que marcava as 
relações internacionais da Europa até a I Guerra Mundial.
Acrescente-se a isso o recrudescimento dos discursos nacionalistas, como o pan-germanismo 
e o pan-eslavismo, que pregavam a reunião dos povos de etnia germânica e eslava, 
respectivamente, em uma só nação, ou a coalizão dos Estados de uma mesma etnia contra 
ameaças de Estados de outras. Esses movimentos também questionavam a existência de 
impérios multiétnicos como o Otomano, o Austro-Húngaro e mesmo o Russo, e defendiam a 
R.I. MODULO II. 37
independência dos povos sob o jugo de Viena, Constantinopla e São Petersburgo. Outra 
forma de nacionalismo era o francês, com forte viés revanchista contra a Alemanha e 
desejoso de recuperar a “grandeza da França”.
Assim, as relações internacionais às vésperas da I Guerra Mundial eram marcadas pela 
disputa entre as Grandes Potências por mercados e pelo interesse das novas Potências, em 
especial a Alemanha e a Itália, de possuírem impérios coloniais e de se equipararem às 
principais Potências coloniais europeias. Também caracterizava as relações internacionais 
anteriores à Grande Guerra uma significativa corrida armamentista entre os principais Atores 
europeus, com rivalidades que afloravam entre eles e refletiam-se em um sistema de alianças 
estabelecidas, na maior parte das vezes, por meio da diplomacia secreta.
As diferenças entre as Potências eram, ademais, significativas. Na arena europeia havia novas 
Potências, como a Alemanha e a Itália, que desejavam ampliar seu poder e tinham interesses 
conflitantes com as Grandes Potências tradicionais e ainda poderosas Grã-Bretanha e França, 
que buscavam manter-se na liderança da Sociedade Internacional a qualquer custo. Havia, 
ainda, os grandes impérios em decadência – o Império Russo, o Império Austro-Húngaro e o 
Império Otomano – que, em virtude das dificuldades domésticas, em especial dos 
movimentos nacionalistas separatistas em seu interior, viam-se enfraquecidos demais para 
permanecerem, ainda durante muito tempo, em condição de igualdade com a Grã-Bretanha, a 
França e a Alemanha.
No início do século XX, a estrutura do Concerto Europeu fora definitivamente substituída 
pela política de alianças. De um lado, ainda sob a articulação de Bismarck, as chamadas 
Potências Centrais – Alemanha e Áustria – assinaram com a Itália, em 1882, o Tratado da 
Tríplice Aliança, que dava a cada parte garantia de assistência das demais em caso de ataque 
por uma Potência externa. Como resposta à Tríplice Aliança, franceses, britânicos e russos 
constituíram a Tríplice Entente, a qual reuniria as Potências aliadas na Grande Guerra.
A Europa, antes de 1914, viu-se, pois, em uma série de crises. Após sobreviver a duas ou três 
realmente graves, o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono 
austro-húngaro, foi o estopim que deu início ao conflito. A Áustria considerou o assassinato a 
oportunidade ideal para resolver, de forma definitiva, os problemas com a Sérvia. Sob a 
alegação de que o governo sérvio era responsável pelo assassinato, fez uma série de 
exigências. Em suas exigências, os austríacos contavam com o apoio irrestrito 
do Kaiser alemão.
A Sérvia, por sua vez, como país eslavo, acreditava que contaria com o apoio da Rússia. 
Como em um dominó, o sistema de alianças fez com que a guerra entre austríacos e sérvios 
atingisse, também, alemães e russos. Estes últimos, graças a outra aliança, atraíram para o 
conflito os franceses. Os ingleses entraram na guerra para defender a Bélgica, país que fora 
invadido pelos alemães. Assim, um sistema de alianças rígido e um sistema de mobilização 
R.I. MODULO II. 38
militar conduziram os europeus para a Guerra. De um lado, estavam Inglaterra, França, 
Rússia e Sérvia. De outro, Alemanha e Áustria-Hungria. Durante o desenrolar do conflito, 
muitos outros países se envolveriam.
Inicialmente, os que iam para o front acreditavam que a guerra terminaria em poucas 
semanas. Não é falso dizer que os soldados, de ambos os lados, iam para a guerra 
entusiasmados pelo fervor nacionalista, acreditando que alcançariam vitória fácil e rápida. 
Infelizmente, no entanto, o conflito acabou por ser longo e penoso.
As operações militares na Europa se desenvolveram

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