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REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL Jana Cândida Castro dos Santos Representação gráfica no design de interiores Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as formas de representação gráfica utilizadas no design de interiores. � Identificar os padrões de representação em projetos de interiores. � Exemplificar projetos de design de interiores por meio de representações. Introdução A arquitetura de interiores vai além do espaço definido pela arquitetura, já que o designer de interiores, a partir do planejamento do leiaute, do mobiliário e da ornamentação, pode não somente modificar, como tam- bém melhorar esse espaço. Assim, seu projeto exige, conforme Ching e Binggeli (2014), uma compreensão da edificação como um todo e de seus sistemas construtivos, estruturais e de vedações. Neste capítulo, você reconhecerá as formas de representação gráfica utilizadas no design de interiores, identificando seus padrões a partir de exemplos de projetos de interiores. Representação gráfica no design de interiores Design de interiores A arquitetura é formada por um conjunto de sistemas — espacial, estrutural, de vedações, instalações — que se relacionam e dão origem à forma de uma edificação e ao padrão de seus espaços internos, constituídos e organizados, por sua vez, por elementos do design de interiores. A seleção e o arranjo dos elementos internos definem as relações visuais do espaço interno de um recinto. Divisórias não estruturais e tetos suspensos são utilizados para modificar um espaço interno (Figura 1). Tanto a cor quanto a textura, além do padrão das superfícies de paredes, pisos e tetos, afetam a nossa percepção das dimensões, escalas e proporções de um espaço (CHING; BINGGELI, 2014). Figura 1. Exemplos de divisórias, tetos suspensos e móveis na modificação do espaço. Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 16). Divisórias Tetos Móveis O design de interiores tem por objetivo melhorar os aspectos funcionais, estéticos e psicológicos dos espaços internos, pois esses ambientes satisfazem nossas necessidades de abrigo e proteção, além de se estabelecerem como palco para a maior parte de nossas atividades. Ainda, os espaços interiores nutrem nossas inspirações e exprimem as ideias que acompanham nossas ações e que afetam nossas vistas, humores e personalidades (CHING; BINGGELI, 2014). Representação gráfica no design de interiores2 Representação gráfica Os projetistas de interiores utilizam os desenhos de várias maneiras. Aqueles feitos para uma apresentação final são empregados para explicá-lo e convencer um cliente, colegas ou o público em geral quanto aos méritos da proposta. Os desenhos executivos são necessários para instruir a respeito da execução do projeto ao longo de sua obra. No entanto, os desenhos também têm um papel importante ao longo do processo de criação, pois guiam o desenvolvimento de uma ideia, desde o conceito, passando pela proposta até a realidade construída. À mão ou com o auxílio do computador, a representação gráfica acompanha as diferentes etapas do planejamento do espaço (CHING; BINGGELI, 2014), como visto no exemplo da Figura 2. Figura 2. Exemplos de espaços projetados. Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 68). 3Representação gráfica no design de interiores Formas de representação gráfica A representação gráfica tem como tarefa representar formas, construções e ambientes espaciais tridimensionais em uma superfície bidimensional. Com essa função, podemos citar três tipos de sistemas de representação: desenhos de vistas múltiplas (plantas baixas, cortes e elevações); desenhos de linhas paralelas (perspectivas ou projeções isométricas, dimétricas e trimétricas e as oblíquas); e perspectivas cônicas (perspectivas com um, dois ou três pontos de fuga). Os sistemas de representação constituem uma linguagem gráfica governada por um conjunto de princípios (CHING; BINGGELI, 2014). Na figura a seguir, você pode ver exemplos dos três tipos de sistemas de representação. Desenhos de vistas múltiplas • Plantas baixas, cortes e elevações • Uma série de projeções ortográ�cas Perspectivas cônicas • Projeções em perspectiva • Perspectiva com um ponto de fuga Desenhos de linhas paralelas • Projeções axonométricas, incluindo isométricas dimétricas e trimétricas • Projeções oblíquas, incluindo elevações oblíquas e plantas baixas oblíquas • Perspectiva com dois pontos de fuga • Perspectiva com três pontos de fuga Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 71). Representação gráfica no design de interiores4 Padrões de representação em projetos de interiores A representação gráfica acompanha as diferentes etapas do planejamento do espaço, com o intuito de explicar o projeto e apresentar as modificações, as especificações de materiais e a disposição do mobiliário. Por isso, a sua linguagem deve apresentar de maneira clara todas as informações necessárias para a execução do projeto, sendo, por isso, governada por um conjunto de princípios, seguindo um padrão de representação. Entre os elementos impor- tantes na composição do espaço e que precisam ser representados no projeto de interiores (Figura 3), estão (CHING, 2013, p. 148): � elementos construtivos e estruturais (paredes, pilares, vigas, cobertura); � aberturas (portas e janelas); � circulação (corredores, escadas e elevadores); � materiais de acabamento (piso, teto e parede); � instalações e elementos fixos (bancada, pia, tanque, chuveiro, vaso sanitário); � mobiliário (cadeiras, armários, camas, etc.); � iluminação (luminárias, abajures e outros elementos); � elementos de decoração (quadros, esculturas, etc.). Vemos que é necessário primeiro representar os componentes construtivos da arquitetura, ou seja, aqueles que definem o espaço, para, depois, representar os elementos construtivos que representam a palheta do designer de interiores (Figura 4). O modo como esses elementos (móveis, iluminação, elementos decorativos) são selecionados e manipulados em um padrão espacial, visual e sensorial afetará tanto a função e o uso do espaço quanto a expressividade da forma e do estilo do profissional de interiores (CHING; BINGGELI, 2014). 5Representação gráfica no design de interiores Figura 3. Componentes construtivos da arquitetura. Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 148). Tetos Paredes Janelas e portas Escadas Pisos Figura 4. Componentes construtivos de interiores. Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 149). Assentos Assentos Mesas Camas Iluminação Superfície de trabalho Os materiais de acabamento também fazem parte da palheta de interiores, já que, com os móveis, desempenham um papel significativo na criação da atmosfera desejada de um espaço interno. Eles podem integrar os elementos Representação gráfica no design de interiores6 de arquitetura que definem o espaço e ser acrescentados como uma camada adicional a pisos, tetos e paredes já construídos (CHING; BINGGELI, 2014, p. 288): � Piso — por meio de sua cor, padrão e textura, pode desempenhar um papel relevante na determinação do caráter do espaço. � Acabamentos de parede — utilizados para aumentar a durabilidade, a absorção de sons e a refletância da luz ou modificar a aparência de uma parede. � Parte inferior de um piso e estrutura da cobertura — podem ser mantidas à vista, sem o uso de um forro. No entanto, é mais comum acrescentar um material para teto separado ou prendê-lo ou pendurá-lo em uma superfície de apoio. Para a representação desses elementos, podem ser usadas diferentes técnicas de modo a distingui-los (CHING, 2017, p. 54–57): � Diferentes espessuras e tipos de linhas — para darmos profundidade ao desenho, podemos empregar uma hierarquia de pesos de linhas (Figura 5). Quanto mais afastada uma linha estiver da superfície do plano de corte, menor será seu peso. Figura 5. Exemplo de planta baixa com diferentes espessuras e tipos de linhas. Fonte: Ching (2017, p. 56). 7Representação gráficano design de interiores � Hachuras — referem-se ao escurecimento de paredes, pilares e outros corpos maciços cortados, podendo ser usadas para representar o padrão do piso (Figura 6). Figura 6. Exemplo de planta baixa com o uso de hachuras. Fonte: Ching (2017, p. 56). � Cheios e vazios — se elementos como padrões de piso e móveis con- ferirem valor tonal ao desenho, pode tornar-se necessário certo grau de contraste entre cheios e vazios (Figura 7). Figura 7. Exemplo de planta baixa com o contraste entre cheios e vazios. Fonte: Ching (2017, p. 55). Representação gráfica no design de interiores8 � Cores — seu uso pode constituir um recurso para a representação do projeto de interiores, tornando o desenho mais próximo do real. Como os projetos de arquitetura, o de interiores pode ser representado por meio de desenhos, como veremos a partir dos exemplos a seguir: � plantas baixas (ambientes e teto); � elevações internas, cortes; � perspectivas ou imagens tridimensionais (maquetes eletrônicas). A projeção de uma planta de teto compreende uma planta de um cômodo vista de cima para baixo, mas com as superfícies e os elementos do teto projetados sobre o piso. Esse tipo de planta mostra informações sobre a forma e o material do teto (forro, quando houver), a localização e os tipos de luminárias, os elementos estruturais à vista e os dutos de instalações, bem como claraboias ou outras aberturas no teto. Na figura a seguir, você pode observar um exemplo de planta baixa, um dos desenhos da representação em projetos de interiores, com a padronização de alguns de seus elementos. Paredes hachuradas Aberturas – portas e janelas Elemento acima no plano de corte – linha tracejada Circulação verticalMobiliário Padrão de piso Louças e componentes hidrosanitários Planta baixa do pavimento térreo da Casa Vanna Venturi, na Filadélfia, projetada por Robert Venturi em 1962. Apontamentos da autora. Fonte: Adaptada de Ching (2017, p. 57). 9Representação gráfica no design de interiores A elevação interna também corresponde a um dos desenhos da representação em projetos de interiores. Na figura a seguir, são apresentadas duas técnicas diferentes de representação. As elevações internas são as projeções ortográficas das paredes internas mais importantes de uma edificação. Embora normalmente se incluam nos desenhos de cortes, também podem estar independentes, para o estudo e a apresentação de espaços interiores mais detalhados (CHING, 2017). Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 19). Representação gráfica no design de interiores10 O exemplo da figura a seguir corresponde a uma perspectiva de um ambiente, uma forma de representação em projetos de interiores. As perspectivas representam o modo como objetos e espaço podem ser visualizados pelo observador, que olha em direção específica, a partir de determinado ponto de partida no espaço. Diferentemente dos desenhos de vistas múltiplas e paralelas, estes oferecem visões sensoriais da realidade óptica (CHING, 2017). Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 64). Exemplos de projetos de design de interiores O espaço é planejado e estruturado a partir do modo como é usado. A na- tureza de nossas atividades e os rituais que desenvolvemos influenciam no planejamento, na disposição e na organização do espaço interior (CHING; BINGGELI, 2014). A seguir, mostraremos alguns exemplos de representações 11Representação gráfica no design de interiores gráficas de projetos de interiores que buscam apresentar, pela linguagem gráfica, a composição de um espaço. Nas elevações internas, vemos projeções ortográficas das paredes internas de cada ambiente, nas quais visualizamos elementos de marcenaria, mobiliário e revestimentos, assim como a posição da bancada (e outros elementos fixos) e dos eletrodomésticos e utensílios da cozinha (Figura 8). Figura 8. Elevações internas de uma cozinha: três composições diferentes para o mesmo espaço a partir da elevação. Fonte: lupulluss/Shutterstock.com. escala 1:10 Representação gráfica no design de interiores12 Nas plantas baixas (Figura 9), vemos os elementos construtivos (paredes, pisos), as aberturas (janelas e portas), o mobiliário, os itens de decoração e os demais elementos que compõem o espaço e fazem parte da palheta do designer de interiores. Nesse caso, optou-se por combinar o uso de hachuras e cores para diferenciar os tipos de piso. Figura 9. Planta baixa de um apartamento com indicações de cada ambiente. Fonte: Susse_n/Shutterstock.com. Na Figura 10, vemos a configuração da edificação e as vistas internas de cada ambiente. Nesse caso, além dos elementos construtivos (paredes, piso, cobertura), é possível observar a escada, as aberturas e as relações verticais dos espaços, além do mobiliário e da decoração. 13Representação gráfica no design de interiores Figura 10. Combinação de corte com as elevações internas de residência. Fonte: Red_Spruce/Shutterstock.com. Já na Figura 11, observamos uma forma de representação que, pelo modelo 3D, permite compreender as relações tridimensionais do espaço — nesse caso, o da cozinha. Figura 11. Isométrica de interior de cozinha com mesa e cadeiras (ilustração de fundo escuro). Fonte: Adaptada de Macrovector/Shutterstock.com. Representação gráfica no design de interiores14 Além dos desenhos apresentados, muitas vezes são necessários desenhos que complementem a compreensão e a execução dos projetos, como é o caso dos detalhamentos (vistas, cortes, modelo 3D do objeto detalhado). Nestes, são empregadas escalas maiores para ilustrar condições especiais (CHING, 2017), como é o caso do detalhamento do mobiliário (Figura 12). Figura 12. Detalhes de uma peça de uma mesa criativa. Vista de cima do processo de trabalho. Fonte: golubovystock/Shutterstock.com. A partir dos exemplos e das imagens apresentadas, você pôde notar o padrão, as normas e as convenções que regem a representação gráfica aplicada ao design de interiores, que tem por objetivos explicar e possibilitar a execução do projeto de maneira precisa. Na representação de interiores, ficam claros os elementos construtivos da arquitetura que delimitam o espaço e aqueles que fazem parte da palheta do designer de interiores, utilizados para estruturá-lo. A combinação de leiaute, mobiliário e acabamentos permite adequar os espa- ços aos nossos hábitos e atividades, ou seja, a composição do interior de um espaço (p. ex., um edifício) se baseia no modo como o usamos e o habitamos. 15Representação gráfica no design de interiores CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. 456 p. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. 272 p. CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Book- man, 2014. 376 p. Leituras recomendadas CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2015. 432 p. DOMINGUEZ, F. Croquis e perspectivas. Porto Alegre: Masquatro; Nobuko, 2011. 147 p. DOYLE, M. E. Desenho a cores: técnicas de desenho de projeto para arquitetos, paisagistas e designers de interiores. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. 362 p. LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto Alegre: Bookman, 2004. 208 p. PANERO, J.; ZELNIK, M. Dimensionamento humano para espaços interiores. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. 320 p. PASCHOARELLI, L. C.; MENEZES, M. S. (Org.). Design e ergonomia: aspectos tecnológicos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 282 p. Representação gráfica no design de interiores16 Conteúdo:
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