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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – CCSH DEPARTAMENTO DE DIREITO Disciplina: Metodologia e Produção de Texto Científico Professor: Rafael Santos de Oliveira Aluno: Carol Fockink Paranhos RESENHA CRÍTICA VENTURA, D. F. L.. Do direito ao método, do método ao direito. In: Daniel Torres de Cerqueira; Roberto Fragale Filho. (Org.). O Ensino Jurídico em Debate. Campinas: Millennium, 2007, v. , p. 257-292. Deisy de Freitas Lima Ventura, Doutora em Direito Internacional e mestre em Direito Comunitário e Europeu da Universidade de Paris e que atualmente tem suas pesquisas direcionadas à ética da saúde global, descreve em sua obra Do direito ao método e do método ao direito, formas e sugestões para recuperar a banalidade do método, já que este, apesar da falta de reconhecimento pela maioria, é utilizado a todo o momento ao decorrer do dia. Deisy Ventura propõe, inicialmente, a partir da introdução um pensamento com base na análise das ações rotineiras que, hodiernamente, todo ser humano conduz do momento que acorda até o momento que, a princípio, é destinado para o descanso ao findar de um dia. Deste modo aponta que o método é característica inerente de todo indivíduo: apesar de pensado como uma mera sistematização do fazer acadêmico. Há métodos para todos os objetivos que se possa ter, e como bem exemplificado pela autora, o processo de emagrecimento e de aprendizagem são dois grandes exemplos de possibilidades de escolha diante de uma pluralidade de orientações possíveis. Com base no processo de aprendizagem, por exemplo, sabe-se que desde a mais tenra idade busca-se ampliar o conhecimento das crianças através do estímulo ao hábito de leitura. Dessa forma, indubitavelmente, só será possível o aprendizado do menor se, ao passar do tempo, o mesmo for adquirindo prática com a leitura e reconhecimento das palavras. Dando seguimento à análise da composição dos escritos de Ventura, é necessário realizar uma diferenciação preliminar de um indivíduo que dificilmente se reconhece na ciência e outro indivíduo que se reconhece na vulgarização infame dos métodos como receitas para alcançar metas, sendo assim, quanto ao fenômeno do não reconhecimento da ciência 2 podem-se destacar alguns elementos: há certo distanciamento e acentuado receio ligado à pesquisa científica uma vez que é extremamente relacionada à consciência metodológica. Dentro dessa perspectiva, cabe destacar a banalidade do método, tendo como base uma visão, de certa forma, equivocada ao relacionar certa restrição de liberdade a um modo de agir com disciplina, técnica e organização. Entretanto, a autora Daisy pontua acerca desse pensamento, para outro lado da moeda: “Bem ao contrário, quem não têm alternativas, não é livre. Mais triste, porém, é o destino de quem as tem e as ignora ou despreza: é livre e não sabe.” (p. 2). Dessa forma, não se limita o emprego do método a uma mera burocratização alçada exclusiva da ciência, mas um conjunto de ferramentas racionais que, com maior segurança, validade e economia, permitem o alcance de resultados eficientes por meio do traçado de um caminho que auxiliará o pesquisador. Quanto à vulgarização infame dos métodos como receitas para alcançar objetivos, pode-se dizer que o homem não se sente preparado para produzir ciência devido à evolução dos métodos que condicionaram o conhecimento científico, exclusivamente, a um método científico que deve ser usado e testado para a verificação dos saberes. Toma-se conhecimento, portanto, que os Cursos de Direito deram lugar a um conhecimento previamente mastigado dos manuais didáticos, faltando pesquisas de campo e aprofundamento teórico por meio da pesquisa jurídica. Dessa forma, entende-se que o autoconhecimento e as experiências têm se tornado quase inexistentes, visto que a cuspida narrativa de práticas profissionais, por vezes, são vestidas de doutrina e auxiliam, mais uma vez, no distanciamento entre indivíduos e o interesse científico. Desta feita, no interregno das interferências da disciplina de Metodologia, cuja utilidade, por diversas vezes, não é compreendida, sendo reduzida ao “ensinamento” das regras que emanam da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Convém frisar que é de extrema importância, sim, o repasse e o reforço docente acerca da expressão formal da produção acadêmica, sobretudo para facilitar a compreensão e dar maior visibilidade à uma produção, mas que não se limita à isso, sendo ela, necessária e indispensável no ataque a problemas anteriores, dos quais a confusão e o desalinhamento formal são apenas resultados de questões primordiais. Torna-se evidente, portanto, que a disciplina de Metodologia pretende, primordialmente, dentre diversos objetivos, despertar a consciência, aprimorar o senso crítico, sustentar diferentes análises e opiniões e, sobretudo, produzir conhecimento. Já que de acordo com Ventura, trata-se do desenvolvimento da capacidade de aplicar ou, até mesmo, adaptar e criar métodos com fins direcionados ao pensamento e à ação. 3 A autora destaca, ainda, a superficialidade de educadores apaixonados e apaixonantes que acaba desgastando o princípio do uso pedagógico do desejo. Em síntese, há uma glamourização e, ao mesmo tempo, problemas de ineficácia ao condicionar o processo de aprender ao sentimento de prazer e paixão, enquadrando, então, a escola ao aluno e trazendo inúmeras consequências à efetiva funcionalidade do sistema escolar. Com essa noção de tornar as instituições, de certa forma, escravas do pretenso desejo do aluno que alguns professores falham ao não trazer para o ambiente de sala de aula novos desejos e um novo querer ser para despertar e ordenar vontades contingentes aos alunos. Além disso, percebe-se um apelo da autora, ao pontuar que é preciso ensinar ao corpo discente o que antes não desejavam, é guiar uma vontade e instruí-los na construção de um pensamento ainda não havia sido explorado. De modo análogo, cabe alertar que, de maneira geral, o sujeito tende a aderir exclusivamente ao que ele já possui conhecimento ou que já está familiarizado, de certa forma, isso é bom desde que se possa ver neste conhecimento uma maneira de existir. Adicionar a realidade como elemento incontornável da aprendizagem é um grande passo para desenvolver o desejo de uma atividade que leva ao conhecimento, mas que não é desejável em si. Para tanto, é imprescindível superar a insistência leiga e acadêmica na percepção da paixão como algo alheio e, por vezes, oposto à razão. Neste momento, cabe tratar da paixão como uma vontade de tomar consciência do julgamento da própria vontade que tende à ação, em resumo, aprender depende de uma decisão que, em contrapartida, é dependente de um propósito que deve ser despertado ao passo que se desconstrói uma pedagogia baseada no senso comum para atrair e cativar o aluno. Não significa sufocar a paixão, mas a dominar criando, potencialmente, uma educação da vontade de conhecer o não desejável ainda. Nesse sentido, a autora menciona o desuso do conhecimento que é responsável pelo desgaste do saber, em benefício do progressivo crescimento do pragmatismo vazio que congela as estruturas do pensar e do agir. Neste particular, estudar e aprender implica aceitar que dificuldades surgirão e que serão necessários esforços para superá-las. Pode-se destacar o tédio de aprender como uma dificuldade, hodiernamente, acentuada, uma vez que não há mais uma grande busca de desejo pessoal e especialização profissional no acesso à Faculdade, mas um mero cumprimento no papel familiar na busca de um sustento. Cria-se uma suposta obrigação de se fazer presente na aula mesmo que os pensamentos estejam bem longe de estar no presente também, pois, como anteriormente mencionado, há certa pressão familiar acerca do individuo na buscado próprio crescimento para uma desejável independência financeira futura. 4 Por fim, a autora aponta que a disciplina de Metodologia ainda é percebida como o modo de aprender direito. Entretanto, o que se busca aprender é a inovação do direito, é transcender o já conhecido e transmitir essa compreensão aos demais. Em contrapartida, diferente do que se espera e mesmo com o avanço da ciência e dos métodos a ela atribuídos, ainda há certo receio de encontrar o novo, o ainda não conhecido, justamente pelo fato de que, no ensino jurídico, por exemplo, as divergências são pasteurizadas e os caminhos aparecem prontos (correntes doutrinárias e jurisprudenciais). Supondo que uma atividade seja proposta a um indivíduo, que a ela dedicará seu tempo e suas habilidades, espera-se um enfrentamento aos limites já colocados e um efetivo proveito da busca por pensar abertamente sobre um determinado tema. Depurar um caso e o problematiza-lo leva o indivíduo a constatações, por vezes, não agradáveis à realidade e diferentes dos saberes disciplinares já previamente adquiridos, sendo assim, desmistificando uma visão mais totalizante do direito positivo. Em vista dos argumentos apresentados, ao encerrar do artigo, Daisy Ventura ainda propõe incentivos a adoção de um método, ao começar pelo professor, transmitindo ao aluno o decorrer da aula, da matéria, do tempo de estudo e assim sucessivamente, deixando claro, antes de cada aula, a meta eleita e o caminho a percorrer que devem ser desenvolvidos durante o horário destinado à ao procedimento do método. A Doutora ainda alerta que a atitude de um aluno depende muito da consciência metodológica transmitida pelo professor. Essa construção de enfoque para a aula serve de incentivo à construção metodológica do aprender pelos alunos. Após a leitura do artigo ficou claro que, com uma linguagem clara e objetiva, a utilização de métodos é de grande importância na construção de uma pesquisa científica. Em uma pesquisa, o que se busca é o conhecimento; procura-se conhecer e aprofundar análises sobre determinados assuntos que não se conhece tão bem. A metodologia é a ferramenta da qual a pesquisa se utiliza para construir esse conhecimento e por meio de qual se faz uma discussão proposta pela pesquisa. Além disso, ao terminar a leitura, senti uma vontade imensa de imergir no mundo da pesquisa, justamente pelo fato da mesma nos incentivar a pensar a vida mais abertamente e de me apaixonar por algo que ainda não era desejável em si. Em adição, ainda acho válido mencionar que a metodologia nos faz invocar uma duvida que, supostamente, confrontará com a impotência individual que sentimos em relação ao aprimoramento individual da pesquisa. Acho válida a proposta de incentivar, primeiramente o corpo docente a apresentar, por exemplo, a metodologia de uma aula específica e demonstrar os enfoques desenvolvidos, acredita-se que mobilizará a razão dos alunos conforme seus objetivos, despertando, assim, uma consciência das próprias metas. O texto ajuda a 5 compreender e desmistificar essa visão tradicional de que o método não passa de uma sistematização e codificação de uma análise científica que se pretende fazer. Ao analisar o ano em que o artigo foi escrito, cogita-se o fato de que a pesquisa ainda era muito pouco valorizada, seja no ramo das ciências sociais ou no ramo das ciências naturais, hodiernamente, percebe-se que a ciência, como um todo, tem ganhado maior espaço no ambiente acadêmico, ainda mais no contexto de uma Pandemia como a do Covid-19. É de extrema importância que se vulgarize mais artigos e mais debates acerca da pesquisa científica, para que as pessoas, assim como eu, não a vejam mais como algo entediante, sistematizado e distante da realidade.
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