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ARTIGO A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JÚRI

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A INFLUEÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JÚRI
Arlete Dos Santos Nascimento
Marcilene Teixeira rodrigues Barbosa
RESUMO
Todos têm direito a um julgamento justo, e a opinião pública deve acompanhar, se posicionar e protestar nos limites da razoabilidade e, principalmente, respeitar uma pessoa considerada culpada ou inocente pelo tribunal do júri. O ordenamento jurídico brasileiro não comporta caça às bruxas e tampouco a responsabilização a qualquer custo. Se uma acusação não foi bem instruída, se o inquérito não possui todos os elementos, que se declare a absolvição, e que a opinião pública aprenda a conviver com isso. Não se pretende censurar o importante trabalho da imprensa séria e comprometida com a informação verdadeira dos fatos, o que não se pode é permanecer compactuando com reportagens levianas e imediatistas que desrespeitam a intimidade do cidadão e formam equivocadamente o senso comum sob a justificativa do alcance de índices elevados de audiência. 
INTRODUÇÃO 
Por meio da globalização dos meios de comunicação, grande parte da população pode manter-se informada sobre o que ocorre no brasil e no mundo. Acontece que as notícias, atualmente viraram um atrativo econômico nas mãos de uma imprensa sensacionalista, que busca único e exclusivamente o ápice de sua audiência, o faturamento com venda de exemplares de jornais, revistas e acessos a seus sites e redes sociais.
O problema começa a partir da divulgação, pois a imprensa tem o objetivo de alcançar grandes pontos de audiência e, a partir do momento em que a notícia vira um objeto de negócio, pode gerar um grande problema para as pessoas, ainda mais para os suspeitos do cometimento de crimes, pois, nesse momento, elas têm mitigado seu direito de privacidade, sua honra, sua imagem e até mesmo presunção de inocência, direitos estes imanentes ao ser humano e conquistados a duras penas.
É comum vermos como a mídia tem grande influência no juízo penal. Os casos que ela divulga sofrem uma enorme repercussão, o que, muitas vezes, pode influenciar a decisão de um juiz ou jurado. A população sempre acompanha o desenvolvimento dos processos de responsabilidade do tribunal do júri quando a mídia enfoca o desenrolar da história o tempo todo, por serem casos de curiosidade pública. Nesse sentido, o poder judiciário encontra na imprensa um auxiliar na divulgação e exposição desses casos.
A mídia consiste, basicamente, na atividade de vincular informação, e à medida que a sociedade evolui, esses meios de comunicação vão se tornando cada vez mais eficientes. Juntando esse problema com a informação deturpada e mal repassada a população e as pessoas trazem para si um sentimento de fazer justiça a qualquer preço, independente de que a apresentação de provas seja ou não suficiente para embasar a decisão, o que fere o princípio do in dubio pro réu, que, em caso de dúvida sobre a acusação assegura a decisão favorável ao réu. (art.386, inciso VI, do Código de processo penal).
Desta forma, os jornalistas não querem estar apenas no papel de informantes do povo, mas também de julgadores, e, por isso, em alguns casos, as pessoas são levadas a pré-julgarem os acusados, antes mesmo de eles serem julgados e até mesmo antes de se apresentarem provas contra eles. A imprensa não quer mais só informar, mas quer, também, intervir diretamente no curso dos acontecimentos, quer apresentar seu veredicto.
O TRIBUNAL DO JÚRI
O tribunal do júri é uma instituição reconhecida pelo art.5°, inciso XXXVIII, da constituição federal de 1988 e tem a função de julgar os crimes dolosos, tentados ou consumados contra a vida, que estão vigentes nos arts.121 a 128 do código penal.
É uma instituição alicerçada nos princípios da plenitude de defesa, o sigilo das votações e a soberania dos veredictos.
Segundo Lopes Filho (2008, p.15):
O tribunal do júri é uma forma de exercício popular do poder judicial, daí derivando sua legitimidade, constituindo-se um mecanismo efetivo de participação popular, ou seja, o exercício do poder emana diretamente do povo, que tem como similar os institutos previstos na constituição federal.
O tribunal do júri nasceu em 1215, na Inglaterra, com a finalidade com a finalidade de garantir um julgamento imparcial, feito pela própria população, contra o absolutismo soberano, assim explica Nucci (1999, p. 36).
Trata-se de um colegiado composto por um presidente, que é juiz togado, e por mais sete jurados, que são escolhidos entre 25 que já foram sorteados anteriormente pela lista anual, como prevê o art. 477 do código de processo penal.
Os jurados são pessoas da cidade que tenham idade maior que 18 anos, boa conduta e que não precisam ter conhecimento jurídico, como alguns autores tratam, são juízes de fato, ou seja, estão lá apenas para julgar aquele caso especifico.
Vale lembrar que o tribunal do júri é composto por pessoas do povo, que geralmente são leigas e que também possuem suas opiniões pré-formadas, que geralmente são embasadas pela imprensa, que, muitas vezes, durante o julgamento, influenciam e muito, e por isso, acaba sendo esquecido o princípio da presunção de inocência.
Esse princípio já vem sendo tratado desde 1789, na declaração dos direitos do homem e do cidadão. No Brasil está vigorando no art. 5°, inciso LVII, da constituição federal de 1988, para proteger o réu até que sua sentença seja transitada em julgado.
Morais (2003, p. 386) foi sábio na explicação desse princípio:
“O princípio da presunção de inocência consubstancia-se, portanto, no direito de não ser declarado culpado senão mediante sentença judicial com trânsito em julgado, ao termino do devido processo legal (due process of law), em que o acusado pode utilizar-se de todos os meios de prova pertinentes para sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pelo acusado (contraditório).”
Mesmo assim, o que se tem visto hoje é que esse princípio não vem sendo respeitado, e o réu ou investigado se torna culpado antes mesmo de seu julgamento, e é daí que, por muitas vezes, o judiciário comete erros por julgar no calor da emoção, querendo dá uma resposta à sociedade a todo custo.
O PAPEL DA MÍDIA E O DIREITO DE INFORMAR
A mídia é um importante meio de propagação de notícias e de comunicação atualmente, já sendo considerada um “quarto poder” não só no brasil, mas no mundo também, sendo uma influência de opiniões, dita tendencias, ou seja, direciona as pessoas de acordo com o que quer. Ela se apresenta assim porque transmite ao povo as decisões judiciais e até mesmo os casos de uma maneira clara, de uma forma que ele entenda, e não da maneira como se apresenta, onde muitas vezes, é difícil entendimento pela parte da sociedade. Há, ainda, as limitações físicas das dependências das salas de audiências, o que impossibilita o acesso de muitos indivíduos a justiça. Esse acesso também é limitado pelo linguajar jurídico utilizado tanto pelos defensores, como pelos juízes e promotores. Ao serem transmitidos pela mídia, os casos se tornam muito mais claros, permitindo que a sociedade realmente entenda de forma clara os atos processuais.
A mídia utiliza de uma linguagem mais clara, é como se fosse uma tradução do que os profissionais do direito falam, portanto, tem o papel de fazer com que os atos processuais se tornem inteligíveis à sociedade, pois não basta apenas conhecer a justiça, é necessário compreendê-la, e o que não falta à mídia são maneiras para se facilitar o entendimento da sociedade sobre os processos, enquanto os profissionais do direito utilizam de toda uma técnica jurídica.
Na verdade, a publicidade pelos meios de comunicação social como um todo reflete, positiva ou negativamente, no sistema penal. Vejamos, agora, como podem colaborar positivamente.
A mídia, muitas vezes, pode ser vista como um fator que vem diminuindo a criminalidade, pois é ela quem notifica os casos que afligem a sociedade, fazendo com que a justiça tome providencias e apure os fatos.
O rol de influencias midiáticas no sistema penal é muito amplo, mas, como já havíamos dito, hátambém os pontos negativos: muitas vezes, pela falta de conhecimento jurídico, ela acaba distorcendo as coisas, quando vai transmitir a notícia. Na maioria das vezes, os jornalistas são desprovidos de certo conhecimento jurídico, tanto que confundem as funções dos poderes. Ainda pior do que não ter esse conhecimento é a maneira como eles noticiam os fatos acrescentando um juízo de valor (opinião) por eles mesmos, uma vez que não possuem conhecimento algum para opinar e muito menos para acrescentar o que pensam das decisões penais em suas reportagens.
O autor Silva (2009, p. 23) diz que,” na era da informação, a maioria da população brasileira continua desinformada e manipulada. Se a finalidade inicial da mídia era informar, hoje é entreter, divertir, abdicar do conteúdo e procurar distrair o público com programas que julga agradá-lo”.
E sobre essa deformação da notícia por parte da mídia Neves (1977, p.407-408) faz uma crítica:
“A imprensa conhece o processo criminal muito por baixo, muito elementarmente. Joga, quase sempre, apenas com informações, sempre tendenciosas ou parciais (resultantes de diálogos com autoridades ou agentes policiais, advogados e parentes das partes etc.). Ora, se assim for, crônica ou a crítica, em tais circunstancias, é, por via de consequência, as vezes injusta, não raro distorcida, quase sempre tendenciosa. Portanto, à vista de episódios que serão encaminhados ao judiciário, ou que neste já se encontrem, cabe ao jornalista, por sem dúvida, a tarefa de aperfeiçoar sua prudência.”
Por muitos anos, a imprensa lutou pelo direito de informar a população, inclusive, conseguiu essas garantias por meio de leis. Há um capitulo na Constituição Federal que trata da comunicação social:
“Art.220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto da constituição.
1° nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço a plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5°, incisos IV, V, X, XIII E XIV.
2° É Vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X- São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
Esse direito de informar é a famosa liberdade de expressão que os jornalistas tanto falam, que é sim imprescindível para uma sociedade democrática trazer à tona discussões sobre as coisas que acontecem no Brasil e no mundo, mas como tudo na vida é uma faca de dois lados, em um momento pode ajudar de alguma forma, mas, em outro, pode atrapalhar ou influenciar.
Segundo saguné (2001, p. 268):
“Quando órgãos da administração estão investindo um fato delitivo às circunstancias de que os meios de comunicação social proporcionem informação sobre o mesmo, é algo correto e necessário em uma sociedade democrática.”
Uma questão, porém, é proporcionar informação, e outra é realizar julgamento sobre ela. É preciso, portanto, que se parta de uma distinção entre informação sobre o fato e a realização de julgamentos de valor com caráter prévio e durante o tempo que se está realizando o julgamento. Quando isso acontece, estamos diante de um juízo prévio paralelo que pode afetar a imparcialidade do juiz ou tribunal, que por sua vez, reflete-se sobre o direito do acusado, a presunção de inocência e o direito ao devido processo.
É a publicidade imediata, pré processual, leviana, que julga e condena sem o devido processo legal, o que acontece quase sempre com a conivência de agentes e autoridades judiciarias. Segundo Lopes Júnior (2006, p.1992), uma pena pública imposta de antemão:
“A pena pública e infamante do direito penal pré- moderno foi ressuscitada e adaptada à modernidade, mediante a exibição pública do mero suspeito nas primeiras páginas dos jornais ou nos telejornais(...), levada a cabo pelos meios de comunicação de massa, como o rádio, a televisão e a imprensa escrita, que informam a milhões de pessoas de todo o ocorrido, muitas vezes deturpando a verdade em nome do sensacionalismo.”
Já houve casos de grande repercussão que foram sim influenciados pela explosão midiática.
Lembremos aqui do caso Elisa Samudio e do goleiro Bruno do Flamengo. Nunca apareceu o corpo dessa moça, as únicas provas contra ele foram testemunhas, e as testemunhas se contradizem por várias vezes. Vários habeas corpus foram negados. Será mesmo que se não fosse a mídia, o goleiro não poderia responder o processo em liberdade? A própria juíza do caso não seria condenada se assim decidisse?
Outro caso a ser citado é o da menina Isabela Nardoni. Quem não lembra que os jornais, telejornais, internet só falavam nesse caso 24 horas por dia? Virou uma verdadeira telenovela acompanhada por todos.
A intenção desse trabalho não é criticar o papel da imprensa, mas tentar mostrar como o ser humano pode ser levado pelo o que a mídia diz, e acaba tomando para si um sentimento de vingança, querendo, a qualquer custo, condenar.
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JÚRI
É fato que, quando acontecem crimes dolosos contra a vida, surge, na sociedade, um grande clamor em torno do caso corrido por conta dos valores éticos e morais.
Crimes dolosos contra a vida, normalmente, têm atraído o sensacionalismo da mídia, induzindo, muitas vezes, o conselho de sentença a fazer valer a opinião pública em detrimento de sua livre convicção. Torna-se, assim, prejudicada a exortação contida no texto do art.466 do CPP realizada pelo juiz aos jurados: “em nome da lei, concito-vos a examinar com imparcialidade esta causa e a proferir a vossa decisão, de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.”
Afirma Bordieu (1997, p.22) que os mecanismos do campo jornalístico se sujeitam as exigências do mercado (tanto de leitores como de anunciantes) que passam a exercer influencias sobre diferentes campos de produção cultural e sobre o campo jurídico.
Logo, todos querem explicações o mais rápido possível, querem que a polícia encontre o vilão da história e daí começam as especulações. A mídia tem papel fundamental na vida das pessoas. Ninguém consegue viver hoje desinformado, e é por isso que empresas de comunicação passam dias e noites atrás de notícias sempre querendo repassa-las em primeira mão. Com isso, as notícias são repassadas, muitas vezes, sem serem devidamente averiguadas.
A liberdade de manifestação do pensamento, quando se dá mediante os meios de comunicação de massa, adquire um caráter coletivo- é a caracterização moderna do direito de comunicação, que se concretiza pela mídia. Cumpre observar que o direito de informar, ou, ainda, a liberdade de imprensa leva a possibilidade de noticiar fatos, que devem ser narrados da maneira imparcial. A notícia deve corresponder aos fatos, de forma exata e factível para que seja verdadeira, sem a intenção de confundir o receptor da mensagem, ou, ainda, sem a intenção de formar nesse receptor uma opinião errônea de determinado fato.
O grande problema é que a mídia toma partido nas histórias e as repassa da forma que consideram corretas, emitindo juízo de valor frente aos crimes. A divulgação de notícias imprecisas pode prejudicar o andamento da investigação, melhor dizendo, a própria mídia vira investigadora, fazendo gravações ilícitas, que não servem em juízo, de acordo com o art. 5°, inciso LVI, da constituição federal, mas que são produto rentável mesmo ferindo alguns princípios constitucionais, tais como a presunção de inocência, ampladefesa, dentre outros que são garantidos ao réu.
Por conta de toda essa indagação, é inevitável que não haja influência da imprensa na mente das pessoas que vão julgar no tribunal popular do júri. Esse entendimento já era expresso por Morais, que, no início do século passado, advertia:
“Repórteres e redatores de jornais, iludidos pelas primeiras aparências, no atabalhoamento da vida jornalistas, cometem gravíssimas injustiças, lavram a priori sentenças de condenação ou absolvição, pesam na opinião pública e tem grande responsabilidade pelos veredictos.”
É bom não esquecer que os jurados são pessoas da sociedade com conduta ilibada, ou seja, são mães, pais, avôs, avós, empresários, servidores públicos, enfim, são pessoas que, como qualquer outra, veem televisão, acessam a internet, ouvem rádio e que, com certeza, formam opiniões de acordo com o que escutam, assistem, leem.
A doutrina ( VIEIRA, 2003, p.67), sustentada pela jurisprudência, entende que o mero noticiário pela imprensa, do crime ou do julgamento a ser realizado, por si só não pode ser indicio de parcialidade dos jurados, ainda que as opiniões sejam desfavoráveis ao acusado, merecendo sempre ser preservada a presunção da imparcialidade.
Antes do sorteio dos jurados para a formação do conselho de sentença, determina o art. 458. Inciso 1°:
O juiz advertirá os jurados de que, uma vem sorteados, não poderão comunicar-se com outrem nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho e multa...”
A incomunicabilidade dos jurados visa garantir sua imparcialidade, assegurando a independência na decisão, impedindo-os de receber influencias de estranhos e mantendo sua livre manifestação. Conforme a RT 729/518-9, “se anulou o julgamento por ter o jurado expressado opinião pessoal sobre o processo ao criticar a defesa do réu”. Mas isso não é suficiente para garantir o princípio de sustentação do processo penal, que é a imparcialidade do julgador.
Vejamos um caso como o da menina Isabela Nardone, que já havia sido citado. Será que o desenrolar daquela história que começou a ser transmitida desde o momento em que ela caiu do quinto andar do edifício London, a prisão do pai e da madrasta, a reconstituição do caso, que foi acompanhada e investigada pelo país inteiro, será que o número de inscritos exorbitantes no fórum de Santana para serem jurados no julgamento não recebeu uma grande influência sobre o que a mídia repassava dia e noite? Será que os jurados desse caso foram imparciais em sua decisão?
É fato que esse não foi um caso isolado em nosso país. Todos os dias casos de homicídios tão ou até mais assustadores que esses acontecem por aí, o que ocorre é que nem todos chegam ao conhecimento da imprensa. Por conta disso, não se vê tumulto de pessoas se colocando à disposição da justiça para serem jurados, pelo contrário, muitos, quando são convocados, vão até o juiz e pedem que ele os dispense, situação que se torna deferente em caso de grande repercussão.
Todo esse excesso de emotividade, os fatos narrados de forma teatral, as vezes, sem apoio nas provas colacionadas aos autos, a pressão da opinião pública, tudo afeta sobremaneira a atuação do jurado na sessão de julgamento, a tal ponto que, principalmente em casos de grande repercussão, seu veredicto já se encontra elaborado antes mesmo do sorteio de seu nome para compor o conselho de sentença, a despeito do que ele possa ouvir ou ver durante a sessão.
A verdade é que a opinião pública não está preparada para absolvições no tribunal do júri. Dificilmente, vê-se a mídia incentivando uma absolvição dos réus. Justifica-se na busca pela justiça, o que ocasiona a transmissão da responsabilidade de condenar aos denominados representantes do povo- os jurados. Essa condenação prévia pode encaminhar em contrariedade com a realidade e, em especial, com as provas apresentadas no plenário.
Todo tem direito a um julgamento justo, e a opinião pública deve acompanhar, se posicionar e protestar nos limites da razoabilidade, principalmente, respeitar uma pessoa considerada inocente pelo tribunal do júri. O ordenamento jurídico pátrio não comporta caça às bruxas e tampouco a responsabilização q qualquer custo. Se uma acusação não foi bem instruída, se o inquérito não possui todos os elementos, que se declare absolvição, e que a opinião pública aprenda a conviver com isso.
Não se pretende censurar o importante trabalho da imprensa séria e comprometida com a informação verdadeira dos fatos, o que não se pode é permanecer compactuando com reportagens levianas e imediatistas que desrespeitam a intimidade do cidadão e formam equivocadamente o senso comum sob a justificativa do alcance de índices elevados de audiência.
A imprensa, enquanto instituição respeitadora de princípios éticos, deve ser apoiada. Sua participação no contexto social é necessária para que se mantenha a imparcialidade da opinião pública e, consequentemente, a garantia da imparcialidade no processo penal e seu julgamento. Aqueles segmentos da mídia que visam a qualquer custo audiência, forjando culpados pelas mazelas sociais, devem ser, por outro lado, repudiados, sob pena de comprometimento da centenária instituição do tribunal do júri.
CONCLUSÕES
Com o avanço da tecnologia, a mídia, hoje, adquiriu ainda mais praticidade nos meios de comunicação e, assim, cada vez mais, exerce o seu poder e sua pressão sobre a sociedade, que é facilmente influenciada. A mídia vem sendo determinante em decisões judiciais, principalmente nos julgamentos criminais, ao se observar como são noticiados os fatos pelos meios de comunicação, o temor aumente ainda mais, pois o acusado já se torna condenado pela mídia e pela sociedade, antes mesmo de ser julgado. Muitas vezes, até juiz, sob influência da mídia, adquire uma convicção de que o acusado é culpado.
Quando algum cidadão é chamado a cumprir um dever cívico no exercício efetivo da função de jurado, já poderá estar com a opinião formada pelo que ouviu, sem ao menos ter permitido ao acusado o direito ao contraditório.
Os membros do conselho de sentença teriam que se propor a esquecer o que foi amplamente divulgado pela mídia e se aterem às palavras da promotoria e da defesa para terem condições de emitir um julgamento baseado na verdade real, o que, convenha-se, é bastante improvável, levando-se em consideração o poder divulgador da mídia.
Como se percebe, a mídia pode provocar reações nos promotores, advogados, jurados, testemunhas, peritos e demais envolvidos no processo, induzindo o corpo de jurados ao encaminhamento de uma decisão errônea.
Ao serem noticiados os crimes e atos judiciais, é necessário que haja objetividade e ética por parte da imprensa. Os abusos praticados pelos meios de comunicação devem ser coibidos e punidos visando inibir essa pratica difundida e tida como usual atualmente.
A fundamental importância do jornalismo para o conhecimento na sociedade atual leva a diversos questionamentos quanto à sua prática. Da violação de direitos humanos, que, por vezes tem lugar nas páginas de jornais, à violação de direitos pelos próprios jornais. A aceitação de valores comuns, mas que traz em seu âmago preconceitos enraizados a respeito do crime e do criminoso, leva a uma redução do caráter critico que a divulgação de fatos deveria conter. Difundir valores que buscam segregar determinadas parcelas da população, além de incitar o aumento da repressão penal, é ato que não coincide em nada com o humanismo dentre o qual surgiu o jornalismo.
Os responsáveis pelos meios de comunicação devem exercer o poder que tem em mãos para trazerem benefícios à sociedade e não coisas que a prejudiquem. É necessário, assim, que a mídia aja com mais cautela e precisão.
A imprensa tem que ter os seus limites, pois só assim ela conseguira utilizar o poder que tem em mãos para o benefício da sociedade. Informar corretamente, de forma a não prejudicar a parte considerada, no estado de direito, a mais fraca na relação entre indivíduo e estado em se tratando do poder punitivo, é um dever essencial da prática jornalística.REFERÊNCIAS
BOURDIEU, pierre. Sobre a televisão: seguido de a influência do jornalismo e os jogos olimpicos.Rio de janeiro: Zahar,1997.
LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução crítica ao processo penal (fundamentos da instrumentalidade constitucional). 4.ed.Rio janeiro:Lumes juris,2006.
LOPES FILHO, Mário Rocha. O tribunal do júri e algumas variáveis potenciais de influência. Porto Alegre: Nubia Fabris,2008.
MORAIS, Alexandre de. Constituição do brasil interpretada e legislação infraconstitucional. São Paulo: Atlas,2003.
NEVES, Francisco de Assis Serrano. Direito de imprensa. São Paulo: Bushatsky,1977.
NUCCI, Guilherme de Sousa. Júri: princípios constitucionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.
SANGUINÉ, Odone. A inconstitucionalidade do clamor público como fundamento da prisão preventiva. In: SHECARIA, Sergio Salomão (org.). Estudos criminais em homenagem a Evandro Lins e Silva (criminalista do século). São Paulo: Método,2001.
VIEIRA, Ana Lucia Menezes. Processo penal e mídia. São Paulo: revista dos tribunais, 2003.

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