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DOENÇA DE CHAGAS HISTÓRIA DA DOENÇA DE CHAGAS Em 1909, Carlos Chagas (1879-1934) comunicou ao mundo científico a descoberta de uma nova doença humana, fazendo a tripla descoberta: caracterização do agente etiológico, vetor e patogenia da doença. Isso foi um marco decisivo na história da ciência e da saúde brasileira. IMPORTÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA A doença de chagas é uma doença com evolução crônica, com diferentes perfis de morbimortalidade nas formas cardíaca e digestiva. - Órfãos, viúvas, incapacitados pela cardiopatia grave; - Elevado impacto econômico → gastos decorrentes de internação, absenteísmo, licença saúde e óbitos precoces. Há a possibilidade de transmissão através de transfusões de sangue. O ambiente onde se dá a transmissão domiciliar encontra-se em estado precário, a expressão da baixa condição econômica e social. Menos de 10% das pessoas com a doença de chagas nas Américas são diagnosticadas e somente cerca de 1% das que têm a doença recebe tratamento antiparasitário. Os medicamentos atuais, descobertos há meio século, são eficazes durante a fase aguda e o início da fase crônica da doença de chagas. AGENTE ETIOLÓGICO O agente etiológico da doença de chagas é o protozoário Trypanosoma cruzi que em condições naturais infecta mais de 100 espécies de mamíferos de diferentes ordens e invertebrados (insetos vetores). POSIÇÃO SISTEMÁTICA - Reino: Protista - Filo: Sarcomastigophora - Classe: Zoomastigophora - Ordem: Kinetoplastida - Família: trypanosomatidae - Gênero: Trypanosoma - Espécie: Trypanosoma cruzi MORFOLOGIA DO PARASITA Há uma variação morfológica e funcional que alterna estágios que sofrem divisão binária simples e formas não replicativas e infectantes: - Amastigota - hospedeiros vertebrados; intracelular; - Tripomastigota - vetor; forma infectante; extracelulares; - Epimastigota - hospedeiros vertebrados. FORMAS EVOLUTIVAS - HOSPEDEIRO VERTEBRADO TRIPOMASTIGOTAS - Forma flagelada: flagelo livre ocupa ⅓ comprimento; - Membrana ondulante; - Cinetoplasto posterior (extremidade); TRIPOMASTIGOTAS SANGUÍCOLAS: - No sangue de mamíferos; - Polimorfismo; - Formas finas (rápidas) → penetração nas células hospedeiras; - Formas largas (lentas) → mais infectantes para o vetor. AMASTIGOTAS - Interior das células de mamíferos: vacúolo digestivo; - Arredondada; - Multiplicação: divisão binária simples; - Flagelo não visível à M.O. - Interiorização por fagocitose induzida. FORMAS EVOLUTIVAS - VETOR EPIMASTIGOTAS - Presentes no intestino médio do inseto vetor; - Cinetoplasto próximo ao núcleo (anterior); - Flagelo livre, bem desenvolvido; - Multiplicação: divisão binária. TRIPOMASTIGOTAS METACÍCLICAS - Nas fezes e urina do inseto vetor; - Não são capazes de se reproduzir → penetração no hospedeiro vertebrado; - Suportam temperaturas altas; - Capacidade invasiva: mucosa, conjuntiva e soluções de continuidade da pele. CINETOPLASTO O cinetoplasto é uma organela rica em DNA mitocondrial formado por uma rede complexa de milhares de moléculas de DNA circular. - Maxi Círculos: codificam para proteína da cadeia de transporte de elétrons e RNA ribossômico mitocondrial; - Minicírculos: codificam para RNA pequenos que participam do processo de editoração dos transcritos do maxi círculo; Contém sequências que apresentam alta taxa de mutação. CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS O hábitat no hospedeiro vertebrado do parasita varia de acordo com a forma evolutiva: - Amastigotas: intracelulares; fibras musculares estriadas (cardíacas e esqueléticas), lisas e no SFM; - Tripomastigota: circulação sanguínea, linfa, espaços intersticiais, líquido cefalorraquidiano, leite, esperma, etc. A nutrição parasitária é através da membrana e por pinocitose. A penetração nas células hospedeiras ocorre em: - Macrófagos por fagocitose; - Outros tipos celulares através da invasão pelas tripomastigotas; - Adesão → endocitose. REPRODUÇÃO A reprodução do parasita é por divisão binária simples. FORMAS DE TRANSMISSÃO - Vetorial: fezes (ou urina) liberadas durante a picada do triatomíneo → penetração de tripomastigotas metacíclicas na pele ou mucosa; - Transfusões de sangue ou de frações sanguíneas; - Acidentes de laboratório; - Transplante de órgãos; - Congênita (ninhos de amastigotas na placenta); - Oral: amamentação; ingestão de triatomíneos infectados; alimentos contaminados. VETOR O vetor da doença de chagas é o triatomíneo (barbeiro). O “barbeiro” é hematófago, se alimenta de sangue através do aparelho picador sugador. Portanto, o parasito é transmitido através das fezes do vetor. - Classe: Insecta - Ordem: Hemiptera - Família: Reduviidae - Subfamília: Triatominae - Gêneros: Rhodnius, Triatoma, Panstrongylus * Triatoma infestans - infectante. Os insetos hemípteros são percevejos que possuem um par de asas superiores com a parte próxima rígida e a parte distal membranosa. TRIATOMÍNEOS - Ciclo de vida: ovos → ninfas (5 estágios) → adulto; - Hábitos noturnos; - Atraídos pela luz; - Hematófagos (machos e fêmeas); - Defecação após a picada → contaminação pelas fezes + tripomastigotas (mucosa, conjuntiva, lesões cutâneas). CICLO BIOLÓGICO CICLO BIOLÓGICO DO T.CRUZI (1) Penetração de tripomastigota metacíclico (ou tripomastigota infectante) em uma célula; (2) Transformação de tripomastigota em amastigota; (3) Multiplicação intracelular de amastigotas por divisão binária simples longitudinal; (4) Rompimento da célula parasitada, liberando tripomastigota; (5) Forma tripomastigota no sangue circulante que pode penetrar em outra célula ou ser ingerida pelo triatomíneo; (6) Forma tripomastigota no estômago de triatomíneo; (7) Diferenciação ou transformação da forma tripomastigota em epimastigota no intestino posterior do inseto; (8) Forma epimastigota em multiplicação por divisão binária simples longitudinal; (9) Forma epimastigota diferencia se em forma tripomastigota metacíclica na ampola retal do inseto; (10) Forma tripomastigota metacíclica nas fezes do triatomíneo e apta a penetrar em células do hospedeiro mamífero completando assim o ciclo. RELAÇÃO PARASITO-HOSPEDEIRO A transmissão ocorre através da penetração das tripomastigotas metacíclicas → fagocitose por macrófagos → amastigotas → multiplicação intracelular. Há a lise da célula hospedeira → disseminação por sangue ou linfa → colonização de vários órgãos e tecidos. A parasitemia ocorre entre o 8º e 12º dias → fase aguda → há a diminuição a 4º ou 5º semana devido à invasão do tecido. Na fase crônica há a diminuição de parasitos circulantes. PATOGENIA DA DOENÇA DE CHAGAS Há uma moléstia parasitária septicêmica, com lesões em vários órgãos e tecidos. A infecção pelo T.cruzi: - Persistência crônica do parasito nos tecidos; - Destruição inflamatória progressiva do músculo cardíaco e neurônios autonômicos do trato digestivo. As lesões observadas na fase crônica da doença de chagas advém de: - Ação do próprio parasito; - Processo inflamatório focal de origem mononuclear; - Mecanismos imunológicos de origem multifatorial provocados pela RI montada para controlar o parasitismo. FASES DA DOENÇA DE CHAGAS FASE AGUDA - Parasitemia patente; - Proliferação e disseminação dos parasitos pelo sangue ou linfa; - Lesões teciduais ocasionadas pelo parasito. FASE CRÔNICA - Não ocorre detecção de parasitos no sangue circulante; - Presença de anticorpos; - Diferentes formas clínicas: indeterminada, digestiva, cardíaca. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS FASE AGUDA - Sintomas: erupções de pele, febre, dor de cabeça, gânglios linfáticos aumentados, náuseas, diarreia, vômito e dificuldade para respirar. - Sinal de Romaña - edema unilateral bipalpebral; - Chagoma de inoculação - edema após a piaca em outra área da pele. FASE CRÔNICA FORMA INDETERMINADA: - Exame parasitológico; carácter benigno e baixo potencial evolutivo. FORMA CARDÍACA: - Miocardite chagásica e ninhos de amastigotas; - Insuficiência cardíaca crónica. FORMA DIGESTIVA: - Acometimento do esôfago e intestino grosso → megaesôfago e megacólon.DIAGNÓSTICO A partir de uma suspeita clínica somada a dados epidemiológicos e pede-se exames laboratoriais. Na fase aguda, utiliza-se o critério parasitológico. Na fase crônica utiliza-se o critério sorológico. Pode ser necessário utilizar-se o exame de PCR. TRATAMENTO O tratamento da doença de chagas é feito a partir dos medicamentos Benzonidazol e Nifurtimox (alternativa). O tratamento é feito em pacientes agudos, crianças até 12 anos e crônicos recentes. EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE Zoonose do continente americano: do sul dos EUA até a Argentina e Chile. No Brasil, é resultante de alterações provocadas pelo ser humano e desigualdades econômicas, mais comum em áreas rurais. Hoje em dia, há um controle dos focos residuais para impedir novos focos através de inseticidas. PROFILAXIA - Melhoria das condições de vida nas áreas rurais; - Redução de desmatamento; - Combate ao vetor; - Controle do doador de sangue; - Controle da transmissão congênita.
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