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HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO FISIOLOGIA INTRODUÇÃO ● as glândulas paratireoides são do tamanho de uma ervilha, e estão localizadas nos polos superior e inferior das bordas posteriores dos lobos laterais da glândula tireoide; ● consistem sobretudo de células principais produtoras de paratormônio (PTH); ● o PTH desempenha importante papel na remodelagem óssea e na homeostasia do cálcio, além de participar da excreção renal de fosfato e na ativação da vitamina D; PARATORMÔNIO (PTH) ● possui síntese e liberação contínuas, com cerca de 6 a 7 pulsos superpostos a cada hora; ● o hormônio intacto representa 10% dos peptídeos circulantes relacionados com o PTH → mas há presença de múltiplos produtos de degradação de PTH; ● regulação e liberação : ○ o PTH é controlado por um estreito sistema de retroalimentação; ○ estimulação → ■ concentrações plasmáticas baixas de cálcio (hipocalcemia); ■ concentrações altas de fosfato (hiperfosfatemia) → importante em pacientes com comprometimento da função renal; ■ concentrações relatiamente baixas de magnésio (hipomagnesemia leve-moderada); ■ catecolaminas; ○ inibição → ■ concentrações plasmáticas altas de cálcio (hipercalcemia); ■ altos níveis de vitamina D; ■ concentrações muito baixas de magnésio (hipomagnesemia grave); ● receptores : ○ PTH1R → é expresso nos osteoblastos ósseos e no rim - medeia os efeitos fisiológicos do PTH; ○ PTH2R e PTH3R → importância fisiológica ainda não foi bem esclarecida; ● efeitos fisiológicos : ○ rins e ossos constituem os principais órgãos-alvo; ○ principal resposta é a elevação dos níveis plasmáticos de cálcio; ○ rins (ação direta) → ■ provoca aumento da reabsorção renal de cálcio; ■ aumenta excreção renal de fosfato (por diminuição na expressão dos cotransportadores de sódio/fosfato) e potássio (inibe reabsorção); ■ conversão na forma ativa da vitamina D (por meio da 1alfa-hidroxilase); ○ ossos (ação direta) → ■ provoca mobilização de cálcio do osso (reabsorção óssea pelos osteoclastos) - primeiramente estimula osteoblasto, forma RANK, estimula osteoclasto; ■ obs: embora elevações crônicas do PTH resultem em reabsorção óssea, a administração intermitente desse hormônio estimula mais a formação do que a reabsorção óssea; ○ TGI (ação indireta) → ■ há aumento da absorção intestinal de cálcio indiretamente pela vitamina D (calcitriol); CÁLCIO ● 99% do cálcio presente no corpo humano estão depositados nos ossos e nos dentes; ● a pequena quantidade encontrada no plasma é dividida em três frações → cálcio ionizado (50%), cálcio ligado às proteínas (40%) e cálcio complexado com citrato e fosfato, formando complexos solúveis (10%); ● homeostasia : ○ concentrações plasmáticas normais de Ca2+ variam entre 8,5 e 10,5 mg/dL e são reguladas principalmente pelas ações do PTH, da vitamina D e da calcitonina sobre três tecidos : ■ osso → cálcio está distribuído em um reservatório rapidamente intercambiável (envolvido na homeostasia do cálcio sérico) e em um reservatório estável; ■ rim → praticamente todo o cálcio filtrado é reabsorvido (40% dessa reabsorção é regulada pelo PTH); ■ intestino → absorve cerca 300mg/dia a partir da dieta (30% do ingerido) - essa porcentagem é significativamente aumentada pela vitamina D; ● funções fisiológicas : ○ o cálcio é um mensageiro intracelular essencial e um cofator de várias enzimas → a estabilidade dos níveis é fundamental para a função fisiológica normal; ○ canal de sódio regulado por voltagem dependente da concentração extracelular de cálcio; ○ desempenha diversas funções na coagulação do sangue, na manutenção da integridade do esqueleto e na modulação da excitabilidade neuromuscular; VITAMINA D ● o PTH estimula a conversão da forma ativa da vitamina D; ● essa vitamina, bem como a presença de níveis elevados de Ca2+, suprime a atividade da 1a-hidroxilase, diminuindo sua própria síntese e favorecendo a síntese de 24,25(OH)2D, a forma menos ativa do hormônio; ● principais efeitos fisiológicos : ○ órgãos-alvo principais são : ○ intestino → aumentar a absorção de cálcio; ○ osso → papel na regulação da reabsorção e formação óssea; ○ rim → facilitar a reabsorção de cálcio mediada pelo PTH; ○ glândulas paratireoides → suprimir a síntese de PTH; ○ outros → efeitos fisiológicos adicionais na modulação da resposta imune, da reprodução, da função cardiovascular e da diferenciação e da proliferação celulares; ● níveis anormais : ○ excesso → pode levar a calcinose (calcificação dos tecidos moles), deposição de Ca2+ e PO4 nos rins e aumento dos níveis plasmáticos de Ca2+ (resultando em arritmia cardíaca); ○ deficiência → resulta em deformidades ósseas (raquitismo) nas crianças e em diminuição da massa óssea (osteomalacia) nos adultos, está associada a fraqueza, arqueamento dos ossos de sustentação do peso, defeitos dentários e hipocalcemia; CALCITONINA ● contrabalanceia os efeitos do PTH; ● liberação é regulada pelos níveis plasmáticos de cálcio; ● efeitos fisiológicos : ○ redução da reabsorção óssea (diminui as concentrações plasmáticas de Ca2+ e fosfato); ○ aumenta a excreção urinária de cálcio; Proteína relacionada com o PTH (PTHrP) ● simula os efeitos fisiológicos do PTH no osso e no rim; ● como é expressa em múltiplos tecidos, não medeia seus efeitos de modo endócrino, porém se comporta de maneira parácrina ou autócrina; ● liga-se ao PTHR1 no osso e no rim, resultando em níveis plasmáticos elevados de cálcio; HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO → problema na paratireoide (ex. hiperplasia, adenoma); HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO → problema renal (doença renal crônica); HIPERPARATIREOIDISMO TERCIÁRIO → hiperfunção da paratireóide crônica, por erro no receptor de cálcio (ex. ficou muito tempo com hiperpara secundário, receptores ficaram hipersensíveis, após transplante renal o processo está cronificado, paratireoides começa a produzir com mínimos estímulos); HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA ● é um distúrbio que resulta da hipersecreção e PTH pelas glândulas paratireoides ● é a causa mais comum de hipercalcemia diagnosticada ambulatorialmente; ● pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais frequente entre os 40 e 65 anos; ● maior prevalência no sexo feminino (proporção de 3:1); ● é uma doença relativamente comum (prevalência estimada de 1 a 7 casos por 1.000 adultos); ETIOLOGIA ● adenoma único : responsáveis por 85 a 90% dos casos; ● hiperplasia : aprox. 6% dos casos → hiperfunção nas glândulas ● adenoma duplo / múltiplo : aprox. 4% dos casos; ● carcinoma : ○ menos de 1% dos casos; ○ caracterizado por adesão do tecido glandular às estruturas adjacentes; ○ tem crescimento lento e, de certa maneira, é indolente; ○ em geral, têm tamanho muito maior do que o das lesões benignas; ○ grande maioria é funcionante; ● síndromes familiares : podem surgir isoladamente ou associar-se a doenças endócrinas hereditárias autossômicas dominantes, como : ○ neoplasias endócrinas múltiplas tipo 1 (MEN1), tipo 2A (MEN2A) e tipo 4 (MEN4); ○ síndrome do hiperparatireoidismo–tumor de mandíbula (HTM); ○ hipercalcemia hipocalciúrica familiar (FHH); ● outros : terapia com lítio; irradiação externa do pescoço; QUADRO CLÍNICO ● HPT primário clássico → ○ nefrolitíase (15-20%); ○ osteíte fibrosa cística (doença óssea - <5%); ● forma assintomática : ○ caracteriza-se pela ausência de envolvimento ósseo e renal; ○ no entanto, muitos pacientes podem apresentar sintomas vagos ou inespecíficos → como astenia, cansaço fácil, depressão, transtornos da memória, etc; ○ ocorre na maioria dos pacientes (80 a 90%) → hipercalcemia e aumento dePTH diagnosticado em exames de rotina; ● nefrolitíase : ○ cálculos renais são vistos em 15 a 20% dos pacientes; ○ nefrolitíase normalmente é recorrente; ○ pode haver presença de múltiplos cálculos; ○ complicações a incluem perda gradativa da função renal e, mais raramente, nefrocalcinose; ● osteíte fibrosa cística : ○ há maior perda de osso cortical do que trabecular; ○ pode ser assintomático ou haver queixas de dores ósseas(de intensidade e localização variáveis), fraturas patológicas e fraqueza muscular (geralmente proximal); ○ deformidades e comprometimento progressivo da deambulação também podem ocorrer; ○ achados radiológicos : ■ o mais sensível e específico da osteíte fibrosa cística é a reabsorção óssea subperiosteal (mais bem evidenciada nas falanges e porções distais das clavículas); ■ osteopenia generalizada (nos casos mais graves); ■ desmineralização “em sal e pimenta” do crânio; ■ tumores marrons ou osteoclastomas → ● processo reativo não neoplásico (devido a reabsorção óssea e lesão óssea localizada, induzido pelo PTH); ● seu nome deriva de seu aspecto marrom avermelhado decorrente de micro hemorragias e deposição de hemossiderina; ● radiologicamente, caracterizam-se como lesões líticas, bem definidas, que expandem ou erodem o osso afetado; ● podem simular uma neoplasia primária óssea ou lesão metastática; ● outras manifestações : ○ cardiovasculares → aparecem em taxas variáveis → incluem HAS, hipertrofia ventricular esquerda, doença arterial coronariana, calcificações valvulares e miocárdicas, dislipidemias; ○ psiquiátricas → podem ocorrer em até 23% dos pacientes → mais comuns são depressão e ansiedade, mas também pode haver fadiga, perda de memória, dificuldade de concentração, irritabilidade, somatização, bem como transtornos do humor e do sono; Crise hipercalcêmica ● é rara; ● consiste em crise hipercalcêmica ou crise paratireóidea, que é uma emergência médica e se caracteriza por hipercalcemia muito grave (cálcio sérico > 14 mg/dℓ [3,5 mmol/ℓ]); ● mais frequente em pacientes com carcinoma paratireóideo (vista em cerca de 15% dos casos) do que com adenomas (< 2%); ● sinais mais usuais são desidratação (decorrente de poliúria e vômitos), arritmias cardíacas e sintomas neurológicos variando de sonolência e confusão mental a estupor e coma; Hiperparatireoidismo primário normocalcêmico ● caracterizam-se por elevação dos níveis séricos do PTH, pelo menos em duas ocasiões, associada a valores do cálcio sérico persistentemente normais, na ausência de causas secundárias de elevação do PTH; ● por definição, cálcio ionizado, 25(OH) vitamina D (25OHD), excreção urinária de cálcio e função renal precisam estar normais; ● cerca de 19 a 22% dos pacientes progridem para hipercalcemia; DIAGNÓSTICO ● caracteriza-se por → hipercalcemia + PTH elevado ou inapropriadamente normal (enquanto nas outras condições de hipercalcemia há inibição das paratireoides) LABORATORIAL ● dosagem sérica : ○ cálcio → elevado (90%) ou normal; ○ fósforo → baixo (25 a 50%) ou normal; ○ PTH intacto → (90%); ○ vitamina D (25OHD); ○ creatinina; ○ albumina; ○ fosfatase alcalina; ● urina de 24 h : para dosagem de cálcio; IMAGEM ● densitometria óssea : ○ em coluna, fêmur proximal e rádio (terço distal); ○ pode haver osteopenia ou osteoporose (predominantemente em osso cortical); ● RX : ○ de coluna, fêmur proximal e rádio (terço distal); ○ achados : reabsorção óssea subperiosteal (falanges, clavículas etc.) ; aspecto em “sal e pimenta” do crânio ; lesões osteolíticas (tumores marrons) ; perda da lâmina dura dos dentes ; osteopenia/fraturas vertebrais ; nefrolitíase, nefrocalcinose ; condrocalcinose (em até 10%); ● US de abdome : pesquisar litíase renal, mesmo em pacientes assintomáticos; ● cintilografia óssea : ○ classicamente considerada exame padrão-ouro → sensibilidade aproximada de 88,4% para adenomas únicos; 44,4% para hiperplasia; e 30% para adenomas duplos; ○ apresenta áreas de hipercaptação focal ou difusa; ○ efetividade depende do tamanho e do peso da lesão paratireóidea; ○ falso-positivos → presença de nódulos tireoidianos; ○ Tc-sestamibi-SPECT possui grande sensibilidade; ● US de paratireoides : ○ deve ser realizado em todo paciente com diagnóstico laboratorial de hipertireoidismo; ○ é eficaz, barata e não invasiva; ● dosagem do PTH no aspirado de PAAF : diagnóstico laboratorial de hipertireoidismo em que US cervical mostra um nódulo não evidenciado pela cintilografia → contraindicado na possibilidade de carcinoma; ● TC e RNM : podem ocasionalmente ser úteis; DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ● outras causas de hipercalcemia : ○ neoplasias → hipercalcemia osteolítica local (LOH - envolvimento do esqueleto por metástases) ou hipercalcemia humoral da malignidade (HHM - pela produção de um peptídeo relacionado com o PTH); ○ não-tumoral → terapia com carbonato de lítio ou tiazídicos, doenças granulomatosas e infecciosas (tuberculose, sarcoidose, AIDS, etc.), doenças endócrinas (insuficiência adrenal, hipertireoidismo, etc.), síndrome do leite alcalino, intoxicação por vitamina A ou D, imobilização prolongada, insuficiência renal crônica; ● hiperparatireoidismo secundário; TRATAMENTO ● cirurgia : ○ é o tratamento definitivo; ○ indicação → ■ todos os pacientes com nefrolitíase e/ou osteíte fibrosa cística; ■ assintomáticos com um ou mais dos seguintes : ● cálcio sérico > 1 mg/dℓ acima do limite superior de normal.; ● T-escore do terço distal de rádio, coluna, fêmur total e/ou colo femoral ≤ –2,5 ou fratura de fragilidade, incluindo fraturas vertebrais morfométricas; ● redução no clearance de creatinina para menos de 60 mℓ/min/1,73 m2; ● hipercalciúria (> 400 mg/24h) + outras alterações bioquímicas urinárias que aumentem o risco para cálculo renal; ● idade < 50 anos; ■ pacientes cujo acompanhamento médico não seja possível ou desejado; ○ a cirurgia pode ser : paratireoidectomia subtotal (aberta) ou paratireoidectomia minimamente invasiva; ● tratamento conservador / medicamentoso : ○ medidas gerais → ■ manter uma boa hidratação; ■ evitar diuréticos tiazídicos e terapia com lítio (devido ao conhecido efeito hipercalcêmico desses medicamentos); ■ ingestão de cálcio em parâmetro recomendado para idade; ○ fármacos → ■ vitamina D3 (meta de 25-OHD > 20 ou 30); ■ bifosfonatos (alendronato) → usado no tratamento da osteoporose → resultou em significativo aumento de massa óssea na coluna lombar e no colo do fêmur, bem como em marcante redução nos marcadores da remodelação óssea, sem, contudo, modificar os níveis de cálcio ou PTH; ■ estrogênio e moduladores seletivos do receptor de estrogênio (melhoram massa óssea); ■ cinacalcete (Mimpara) → ● é um agente calcimimético que atua aumentando a sensibilidade do receptor de cálcio da paratireóide aos níveis circulantes de cálcio; ● reduz a secreção de PTH e a calcemia por estimulação do calcimimético sobre os receptores de cálcio; ● geralmente bem tolerado; ○ pacientes não submetidos à cirurgia precisam ser acompanhados com exames periódicos (a longo prazo, pode ocorrer elevação da calcemia e deterioração da DMO) : ■ cálcio sérico (anualmente); ■ creatinina sérica (anualmente); ■ densitometria óssea (a cada 1 a 2 anos); HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO INTRODUÇÃO ● resulta de alteração fora das glândulas paratireoides (ex. insuficiência renal crônica) FISIOPATOLOGIA ● com a perda da função renal, há uma menor eliminação renal de fósforo → resulta em hiperfosfatemia; ○ hiperfosfatemia por si só também estimula secreção de PTH; ● hiperfosfatemia induz a produção nos osteócitos de FGF-23 (fator de crescimento 23 do fibroblasto) → aumenta a excreção renal de fósforo compensatória, mas após algum tempo não é o suficiente; ● FGF-23 inibe a 1-alfa-hidroxilase, enzima renal que produz o calcitriol (forma mais ativa da vitamina D) → resulta em uma deficiência de vitamina D; ● a deficiência de vitamina D resulta em uma menor absorção intestinal de cálcio → tem como consequência uma hipocalcemia (inicialmente); ● aumenta a produção de PTH; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ● óssea (muitas vezes, incapacitante); ● fraqueza muscular; ● deformidades e tumores ósseos (tumor marrom); ● diminuição da densidade mineral óssea; ● fraturas; ● lesões líticas; ● rupturas de tendões; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MOLINA, Patrícia E. Fisiologia endócrina. 4. ed. Porto Alegre : AMGH, 2014. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021.
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