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A Militarização das Escolas Públicas no Século XXI no Brasil

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Indisciplina Escolar: A Militarização das Escolas Públicas no Século XXI no Brasil 
Douglas da Rocha Barbosa Caviglioni[footnoteRef:1] [1: Licenciado em História, pela Universidade Estadual de Goiás, pós graduando em Direitos Humanos da Criança e Adolescente, pela Universidade Federal de Goiás, Polo Catalão ] 
RESUMO
Buscou-se a partir deste artigo faze uma breve leitura do contexto escolar brasileiro, no que tange a pratica da indisciplina no ambiente escolar. Os autores que tratam a temática reconhecem a dificuldade de entrarem em consenso quanto a origem e as soluções para a indisciplina escolar, contudo, a grande maioria dos mesmos reconhecem que a indisciplina tem gerado grandes transtornos e prejuízos para a produção do saber. Analisou-se os métodos educacionais vigentes no Brasil a partir das primeiras décadas do século XX até a criação do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) e o processo de militarização das escolas públicas no século XXI. 
 Palavras-chave: indisciplina escolar, militarização, punição
School discipline: the militarization of public school in 21 st century in Brazil
Abstract: 
We seek from this article makes brief reading of the Brazilian educational context, regarding the practice of indiscipline at school. The authors who treat the theme recognize the difficulty of entering into agreement on the origin and solutions for school discipline, however, the vast majority of them recognize that the discipline has generated great inconvenience and loss to the production of knowledge. We analyze the current educational methods in Brazil since the early decades of the twentieth century to the creation of the ECA (Statute of Children and Adolescents) and the militarization process of public schools in the twenty-first century.
Keywords: school discipline, militarization, punishment.
Introdução
A indisciplina é uma temática complexa, e existem múltiplas definições do termo Para Parrat-Dayan (2012 p. 17) “o próprio conceito de indisciplina não é estático, uniforme, nem tão pouco universal”. Segundo a mesma, o conceito se relaciona com vários aspectos ao longo da história, variando dentro das diferentes sociedades, culturas, instituições escolares, classes sociais podendo ser até mesmo compreendido de forma diferente por cada pessoa e em cada contexto específico. Carvalho ( 1996 p.141) alega que a disciplina e a indisciplina “assim como várias outras expressões de uso corrente por parte dos agentes institucionais da educação, têm profundas raízes históricas e múltiplos usos igualmente legítimos”. Trata-se de uma construção que vai se modificando ao longo do tempo. De acordo com Rego (1996 p. 84), a questão da indisciplina escolar existe no cotidiano escolar independentemente das suas particularidades conceituais. Para Aquino 1996 p. 47) a indisciplina é uma temática fundamentalmente pedagógica, podendo evidenciar que a intervenção docente não está se processando a contento, que seus resultados não se aproximam do esperado.
Desse ponto de vista, a indisciplina passa, então, a ser algo salutar e legítimo para o professor. Indisciplina é um evento escolar que estaria sinalizando, a quem interessar, que algo, do ponto de vista pedagógico, e mais especificamente da sala de aula, não está se desdobrando de acordo com as expectativas dos envolvidos. (AQUINO, 1998)
 Nesse sentido, percebesse que determinadas ações ou comportamentos que violam as regras na escola, e principalmente no ambiente de sala de aula, seriam também capazes de estimular os professores a rever suas práticas pedagógicas. Assim sendo, eventos de indisciplina poderiam indicar a necessidade de progredir na elaboração das aulas, ou até mesmo, revisar o currículo ou da qualidade das relações humanas na escola. A indisciplina poderia estar requerendo um currículo adequado às necessidades dos alunos. Os atos de indisciplina, portanto, poderiam significar não somente uma forma de crítica, mas um convite à reflexão e à revisão do que se está praticando nas escolas enquanto educação. 
Entende-se por indisciplina os comportamentos disruptivos graves que supõem uma disfunção da escola. Os comportamentos indisciplinados simplesmente obedecem a uma tentativa de impor a própria vontade sobre a do restante da comunidade. Também se entende por indisciplina as atitudes ou comportamentos que vão contra as regras estabelecidas, as normas do jogo, o código de conduta adotado pela escola para cumprir sua principal missão: educar e instruir. Então, muitas vezes, o problema consiste em que não existem tais normas, a escola funciona de acordo com um código não-escrito, conhecido somente por poucos, o qual não é divulgado entre a comunidade escolar. (AQUINO, 2006)
De acordo com Miranda (1997, p.37), o professor se coloca como único responsável pela ação ou efeito disciplinar: “ é conseguir [referindo-se a ele mesmo] que todos os alunos se interessem por uma atividade e participem dela”. O ato de educar implica contribuir para a constituição de um sujeito social e cultural que, viva bem em comunidade, dela participando, preferencialmente de forma produtiva.
 Embora haja um entendimento entre os pesquisadores que tratam desta temática, que a mesma representa um dos principais fatores que geram dificuldades no contexto escolar, é notório que a escola, a família e a sociedade carecem de mecanismos que visem solucionar o problema da indisciplina escolar, esse problema não poderá ser resolvido de forma isolada, somente abrangendo a esfera escolar, é importante manter uma postura de troca e as responsabilidades devem ser compartilhadas entre professores, alunos, grupo gestor e família.
A vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes de nortear as relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros de um determinado grupo social. A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido, as normas deixam de assumir a características de instrumento de castração e passam a ser compreendidas como condição necessária ao convívio social. Nesse modelo, o disciplinador é aquele que educa, que oferece parâmetros e estabelece limites. (REGO, 2006).
 
 Buscou-se a partir de uma breve revisão bibliográfica, efetuar uma contextualização da problemática que envolve a indisciplina escolar, alguns significados que são atribuídos a esse problema, e analisou-se alguns procedimentos didáticos/pedagógicos que visam minimizar a indisciplina escolar. 
O Conceito de Disciplina no Brasil nas primeiras Décadas do Século XX a Criação do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente)
A escola do início do século. XX, caracterizava-se por um modelo militarista. Alguns trechos de um texto de 1922 intitulado: Recomendações Disciplinares refletem bem esta visão: 
Não há creanças refractarias á disciplina, mas somente alumnos ainda não disciplinados. A disciplina é factor essencial do aproveitamento dos alumnos e indispensavel ao homem civilisado. Mantêm a disciplina, mais do que o rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as creanças interessadas em algum assumpto útil. 
... (os alunos) deverão andar sem arrastar os pés, convindo que o façam em terça, evitando assim o balançar dos braços e movimentos desordenados do corpo.
 Em classe a disciplina deverá ser severa: 
- os alumnos manterão entre si silencio absoluto; ...
- não poderá estar de pé mais de um alumno; ... 
No recreio a disciplina é ainda necessária para que elle se torne agradável aos alumnos bem comportados: 
- serão retirados do recreio ou soffrerão a pena necessária os alumnos que gritarem, fizerem correrias, damnificarem as plantas... etc. 
Ao findarem o trabalho do dia, cada classe segu irá em forma e em silencio até a escada da entrada, e só descida esta, se dispersarão os alumnos. (Conforme original) (BRAUNE apud MORAES, 1922, pp.9-10. In Aquino, 1996). 
Como visto, as normas disciplinares nas primeirasdécadas do século XX eram, em sua grande maioria, ligadas ao controle do corpo e da fala. Os alunos deveriam permanecer em silencio absoluto na sala de aula, sentados em filas e não poderia falar mais de um aluno por vez. As filas continuavam fora da sala de aula, no recreio os alunos deveriam manter uma ordem similar as da sala de aula, não podendo correr e nem fazer barulho, caso isso acontecesse os mesmos receberiam punições por tais atos, pois eram considerados atos de indisciplina. 
	Segundo Aquino (1996, p. 45) esse modelo educacional do início do século XX e tido por muitos educadores como algo desejado para as escolas contemporâneas, o mesmo ressalta que aquele modelo educacional era imposto à base do castigo ou da ameaça dela. “Também é possível que a estrutura e o funcionamento escolar de então espelhava no quartel, a caserna; e o professor um superior hierárquico. Uma espécie de militarização difusa, parecia, assim difundir as relações institucionais como um todo. ” (AQUINO, 1996. p.45) 
	É incontestável que as relações escolares eram fundamentadas nos princípios da obediência e subordinação, competia aos alunos somente obedecerem às normas impostas, uma vez que a ideia que se tinha era que os professores sempre sabiam mais que os alunos, e os professores tinham as credencias da lei para modelar moralmente os alunos. Segundo Pinheiro (2003, p. 54) no Brasil, o que se pode observar é que foi no começo do século XX que a infância passou a ser conhecida e construída como um período da vida em que o ser humano possui necessidades específicas, peculiares ao período em que se encontra. A concepção sobre a infância estava ligada ao conceito etimológico do termo “infante” sendo aquele que está impossibilitado de falar, aquele que não tem voz, no entanto, posteriormente surge uma concepção semântica do termo “infante-criança”, sendo aquele que está sendo criado, com voz e participação. No Brasil as discussões sobre direitos da criança e adolescente começaram após a independência em 1930, no entanto as concepções que se tinham da criança e adolescente eram similares à concepção que se tinha em relação ao adulto, apenas um olhar atenuante para os crimes cometidos por crianças e adolescentes e não como sujeitos de direitos, a infância e adolescência não eram vistas como uma fase da vida com necessidades especificas, o intuito era apenas puni-los por eventuais atos infracionais cometidos. 
No século XVIII o filosofo suíço Rousseau estabelece uma nova noção de infância, que implicaria uma secundarização do castigo corporal, pois uma pedagogia, prognosticada em Rousseau, quer ver o homem como pessoa harmoniosamente desenvolvida, capaz de autêntico sentimento de verdade. Tratar-se-ia, pois, de uma educação natural, com princípios extraídos da vida no estado de natureza. A partir dessa educação o homem teria condições, de quem sabe, concretizar o verdadeiro contrato social[footnoteRef:2], no qual todos teriam participação e direitos garantidos. Segundo Pinheiro (2003 p. 11) a preocupação de Rousseau era com a forma como o homem conduzia a vida, que em sua visão, trilhava a direção contrária do progresso. Ele via na sociedade todo o mal que assolava a humanidade, pois corrompia o homem de forma que este escravizava a si próprio, aniquilando a mais cara das suas qualidades, que é a condição de liberdade. [2:  O contrato social, para Rousseau, o homem é naturalmente bom, sendo a sociedade, instituição regida pela política, a culpada pela "degeneração" dele. O contrato social para Rousseau é um acordo entre indivíduos para se criar uma sociedade, e só então um Estado, isto é, o contrato é um pacto de associação, não de submissão. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Do_Contrato_Social)
] 
[se] a idade da alegria passa-se em meio a castigos, prantos, ameaças e escravidão (...), que devemos pensar então, dessa educação bárbara que sacrifica o presente por um futuro incerto, que prende uma criança a correntes de todo tipo e começa por torná-la miserável, para lhe proporcionar mais tarde, não sei que pretensa felicidade de que provavelmente jamais gozará? (ROSSEAU ,2002. P 65)
Para Rousseau, invés de sacrificar a infância por meio de uma educação racionalista, as crianças deveriam ter o direito de brincar e aproveitá-la, sem passar por prantos ameaças e escravidão. A concepção de Rousseau sobre infância estava distante da realidade das crianças das primeiras décadas do século XX no Brasil.
 No Brasil entre os anos de 1927 a 1979, houve pouco avanço quanto ao conceito de infância, em 1979 o Código de Menores recebeu algumas alterações que não podem ser mencionadas como avanço. Em 1990, cria se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA representa um divisor de águas na história da infância e da adolescência no Brasil, pois instaurou direitos para todas as crianças e adolescentes, entendendo-os como sujeitos de direitos e garantindo um atendimento integral, levando em conta as diversas necessidades desse público, inclusive o direito a educação pública e de qualidade. 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, 1990)
Segundo Ferreira (2001, p.03) “o ECA, desde a sua vigência, foi taxado como uma lei permissiva, que contemplava somente direitos às crianças e aos adolescentes e que, de certo modo, teria contribuído para o aumento dos atos de indisciplina ocorridos na escola. ” Esse preconceito em relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente no ambiente escolar reflete a incapacidade que a mesma tem em lidar com um público que tem direitos, que lhe é concedido o direito de pensar e expressar seus pensamentos e não somente obedecer às regras impostas. O ECA é um instrumento de auxílio para os professores e diretores, afastando-se da crítica equivocada de uma lei que ajudou a tumultuar a relação entre alunos e professores. 
Art. 103 do ECA Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. No que tange os atos infracionais praticados por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101. Caso a criança e adolescente cometa algum tipo de ato infracional no ambiente escolar, o ECA prevê as medidas cabíveis que a escola deverá tomar. Contudo, um mesmo ato pode ser classificado como de indisciplina ou ato infracional, dependendo do contexto em que foi praticado. Segundo Ferreira (2001, p. 14) “uma ofensa verbal dirigida ao professor pode ser caracterizada como ato de indisciplina. No entanto, dependendo do tipo de ofensa e da forma como foi dirigida, pode ser caracterizada como ato infracional, ” se a ofensa verbal conter ameaças, racismos ou injurias, deve ser classificado com ato infracional. Para cada caso, os encaminhamentos são diferentes. 
	Caso uma criança ou adolescente pratique um ato infracional, o encaminhamento a ser dado é de competência do Conselho Tutelar e do Juizado da Infância e da Juventude, respectivamente. Assim, tendo o ato infracional ocorrido na Escola, deve o responsável (diretor, vice-diretor, professor, assistente) fazer os encaminhamentos necessários, sendo que: 
a) Se for praticado por criança, deve encaminhar os fatos ao Conselho Tutelar, independente de qualquer providência no âmbito policial (não há necessidade de lavratura de Boletim de ocorrência); 
b) No caso de ato infracional praticado por adolescente, deve ser lavrado o boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia,que providenciará os encaminhamentos ao Ministério Público e Juízo da Infância e da Juventude. (FEREIRA, 2001)
		
	De acordo com Ferreira (2001, p. 17) “nas comarcas que não possuem Conselho Tutelar, a competência para apreciar todas as questões relativas a ato infracional praticado por criança ou adolescente é do Juizado da Infância e da Juventude. ” No que tange aos atos de indisciplina, as ações cabíveis devem estar registradas no Regimento e no Projeto Político Pedagógica (PPP) – documentos que devem ser elaborados de forma coletiva e deve ser de conhecimento de todos os professores, inclusive comunidade escolar. São documentos de suma importância para todas as unidades escolares. Onde estão expressos os aspectos legais e pedagógicos que tem a função de orientar as ações da escola. Primeiramente o Regimento tem ênfase na estrutura administrativa e disciplinar e na lei 9394/96 que reconhece a devida importância do PPP como norteador de todas as ações escolar que devem ter seus objetivos alcançados. Como “lei” da escola o regimento e o PPP da sustentação organizacional necessária ao alcance dos objetivos pedagógicos e ao bom funcionamento do sistema da unidade escolar. Do ponto de vista legal a importância do regimento escolar está no fato de ser “lei” já, do ponto de vista pedagógico, sua importância está no fato de expressar os anseios e as necessidades da comunidade escolar, junto com o PPP da escola.
			O Argumento que o Estatuto da Criança e Adolescente e as atuais legislações contribuem para o aumento da indisciplina no ambiente escolar é inconsciente, visto que, tanto o ECA, quanto a Lei de Diretrizes Bases da Educação (LDB) 9394/96 norteia as ações que devem ser tomadas quanto as atos infracionais e atos de indisciplina praticado por crianças e adolescentes. Compete as escolas se adequarem à nova realidade cultural e social e atentar que agora estamos diante de um aluno que é sujeito de direitos, algo que lhes foi negado por longo período do processo histórico brasileiro.
	Ora, com a crescente democratização política do país e, em tese, a desmilitarização das relações sócias uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno, um novo sujeito histórico, mas, em certa medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquele aluno submisso e temeroso. (AQUINO, 1996) 
A militarização nas escolas no século XXI 
	Com o discurso de solucionar problemas de violência, criminalidade e conter o uso de drogas no ambiente escolar o governo de Goiás vem implantando a política de militarização das escolas públicas, impondo uma disciplina militar no ensino Fundamental Nível II e Ensino Médio, tornando as escolas uma extensão dos quarteis, ensinando a disciplina individual e coletiva, os alunos também devem obedecer a hierarquia. Até o momento (agosto de 2015) vinte e seis escolas públicas em Goiás foram militarizadas. 
Um aspecto que chama a atenção é a aplicação do modelo militar estar voltado aos adolescentes pobres que frequentam a rede pública de ensino, já que são eles as principais vítimas da militarização que acontece fora dela. Segundo o coronel Rudnei Caldas, em matéria veiculada no Jornal O Globo no dia 29/06/2015, sobre o processo de militarização das escolas públicas do Estado do Amazonas, “sei que há uma corrente na educação resistente ao nosso modelo, mas acho que, para o nosso público, vindo de uma desestrutura familiar e carência social muito grande, ele faz a diferença. ” (O GLOBO, 2015). É incontestável a marginalização das crianças e adolescentes oriundos de famílias despossuídas de recurso financeiros, uma vez que os mesmos são vistos como indivíduos que carecem de um modelo educacional fundamentado na disciplina e rigor militar. Nas escolas militarizadas há pouquíssimos espaços para o diálogo e divergências de ideias. Esse modelo educacional prioriza formar pessoas que cumpram ordens e sujeitem a hierarquia. 
Hoje, ao passarem pelos policiais armados que atuam como inspetores nos corredores, estudantes endireitam a coluna e batem continência. A rotina nos rígidos moldes militares inclui gritos de guerra antes de iniciar a jornada, além de distribuição de distintivos e de patentes para quem tem notas de destaque. Indisciplinas reiteradas levam à expulsão. Só nos cinco primeiros meses de 2015, cinco foram desligados por não se adequarem. O corpo docente também mudou, e a maioria dos professores antigos deixou a escola. (MARIZ, 2015)
Nessas escolas militares no século XXI as crianças e adolescentes que não adequam ao regime são advertidos e expulsos da escola, segundo Mariz (2015 p. 02) também há um grande número de educadores que não se adaptam ao sistema militar e transferem para outras escolas da rede públicas que não são militarizadas. Segundo Alencar (1999. p 28) existem alguns fatores que atrapalham a criatividade pessoal: Inibição/timidez; Falta de tempo/oportunidade; Repressão social; Falta de motivação. 
A criatividade pode ser conceituada como um processo resultante da interação do indivíduo com seu contexto social, histórico e cultural. Tudo isso, partindo do pressuposto que o indivíduo possuí experiência em um determinado conjunto de conhecimentos. (ALENCAR, 1999) 
Em um ambiente que alunos e professores são submetidos a um conjunto de normas e regras que não faz parte de seu contexto social, histórico e cultural, os mesmos tendem a diminuir a criatividade, visto que o espaço para inovação é restrito nesse modelo educacional. As escolas militares do século XXI utilizam mecanismos didáticos e pedagógicos similares aos usados no início do século XX. Podemos então classificar a militarização das escolas como um retrocesso a educação. 
Não cabem mais ojerizas à disciplina militar, desde que esteja entrosada com os preceitos democráticos, como o respeito à dignidade humana. Disciplina é ótima, e isso é comprovado pelos próprios estudiosos do comportamento humano. Nossos jovens não têm disciplina, respeito às instituições democráticas, aos idosos, aos bens públicos. Para eles, a democracia é oportunidade de se fazer o que se tem vontade. O ECA, para os jovens, não passa de oportunidade de se proteger da Justiça, da sociedade que quer limitar seus atos, mesmo que sejam violentos.
Moral e Cívica e OSPB eram duas matérias que existiam durante o Período Militar (1964 a 1985), entretanto, foram arrancadas da educação brasileira, como sendo péssimas matérias para a democracia. Eis o grande problema da ojeriza alucinada: não deram a devida análise às matérias. Poderiam ter subtraído o que achassem ser "militar" e deixado lições de civismo. (HENRIQUE, 2015)
Os que advogam a militarização das escolas, visualizam o ECA como um desserviço ao sistema educacional brasileiro, pois trata se de uma lei permissiva, que considera crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, e esses direitos contribuem para o aumento de atos de indisciplinas no ambiente escolar, e também são utilizados para proteger da justiça, ou seja, da punição. As matérias de Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira) faziam parte do currículo escolar. As matérias tornaram-se obrigatórias a partir de 1969, por meio do Decreto Lei nº 869, que determinava o ensino em escolas de todos os graus e modalidades. Elas eram caracterizadas pela exaltação do nacionalismo e do civismo nos alunos. 
Dispõe sobre a inclusão da Educação Moral e Cívica como disciplina obrigatória, nas escolas de todos os graus e modalidades, dos sistemas de ensino no País, e dá outras providências. OS MINISTROS DA MARINHA DE GUERRA, DO EXÉRCITO E DA AERONÁUTICA MILITAR, DECRETAM:
Art. 1º. É instituída, em caráter obrigatório, como disciplina e, também, como prática educativa, a Educação Moral e Cívica, nas escolas de todos os graus e modalidades, dos sistemas de ensino no País.
Art. 2º. A Educação Moral e Cívica, apoiando-se nas tradições nacionais, tem como finalidade:
	a) defesa do princípio democrático, através da preservação do espírito religioso, da dignidade da pessoa humana e do amor àliberdade com responsabilidade, sob a inspiração de Deus;
	
	b)
	a preservação, o fortalecimento e a projeção dos valores espirituais e éticos da nacionalidade;
	
	c)
	o fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade humana;
	
	d)
	a culto à Pátria, aos seus símbolos, tradições, instituições e aos grandes vultos de sua história;
	
	e)
	o aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à comunidade;
	
	f)
	a compreensão dos direitos e deveres dos brasileiros e o conhecimento da organização sócio-político-econômica do País;
	
	g)
	o preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento na moral, no patriotismo e na ação construtiva, visando ao bem comum;
	
	h)
	o culto da obediência à Lei, da fidelidade ao trabalho e da integração na comunidade. 
  
Art. 3º A Educação Moral e Cívica, com disciplina e prática, educativa, será ministrada com a apropriada adequação, em todos os graus e ramos de escolarização. § 1º Nos estabelecimentos de grau médio, além da Educação Moral e Cívica, deverá ser ministrado curso curricular de "Organização Social e Política Brasileira."     
 § 2º No sistema de ensino superior, inclusive pós-graduado, a Educação Moral e Cívica será realizada, como complemento, sob a forma de Estudos de Problemas Brasileiros," sem prejuízo de outras atividades culturais visando ao mesmo objetivo. (BRASIL, 1969) 
Observa se que o decreto acima mencionado foi promulgado com o intuito de formar pessoas submissas, utilizando a religiosidade como forma de controle social e negando a laicidade do Estado. A Educação Moral e Cívica estava presente em todas as grades curriculares até a pós-graduação. A lei 8.663 de 14 de julho de 1993, revoga o decreto-lei 869 de 12 de setembro de 1969, e outras providencias são tomadas quanto a formação curricular, entre elas destacamos como sendo de grande valia para a formação do Estado laico e democrático, a inserção das disciplinas da érea de Ciência Humanas e Sociais, ficando a critério das instituições de ensino.
Na Escola Fernando Pessoas na cidade de Valparaiso-Goiás o currículo do Ministério da Educação (MEC) é mantido, mas os militares adicionaram à grade aulas de música, cidadania, educação física militar, ordem unida, prevenção às drogas e Constituição Federal. Os militares exercem as funções administrativas das escolas militares em Goiás, o comandante e o subcomandante fazem parte do corpo diretivo e as coordenações de disciplina, que são responsáveis por fazer com que os alunos cumpram as regras da cartilha militar. As escolas militares não retiram as disciplinas da área de Ciências Humanas e Sociais da grade curricular, contudo, acrescenta algumas disciplinas na grade. Exceto as aulas de música e prevenção às drogas, as demais têm nomenclaturas que não condiz com em um Estado democrático.
Segundo Freller (2001. p. 16) a indisciplina é definida como uma forma que as crianças têm de comunicar que algo não vai bem. Partindo deste princípio, as escolas militarizadas não resolvem os problemas que causam atos de indisciplinas, considerando que a mesma é imposta aos alunos e os que não acatam disciplina militar são expulsos das escolas.
Considerações finais 
A indisciplina pode ser considerada um termômetro da sala de aula, ela anuncia que algo não vai bem. Ficar em silêncio e submeter as regras impostas não supõe participação, mostrar-se disciplinado em função disso, em nada contribui para a construção do saber. É indispensável continuar investindo no melhoramento da qualidade do ensino, principalmente nas escolas públicas, por tanto, é essencial o maior interesse das políticas públicas na educação, incentivando a formação e aperfeiçoamento do quadro docente. O professor precisa buscar soluções para enfrentar os problemas que dificultam o seu trabalho, sem negligenciar os alunos que são considerados indisciplinados, precisa aproveitar a bagagem de conhecimento e a diversidade que os alunos oferecem. A diversidade é cada vez maior dentro de uma sala de aula, é preciso fazer dela um campo rico de construção em que os alunos podem manifestar suas experiências e produzir conhecimento coletivamente. Pois os mesmos podem e devem ser ouvidos na construção de uma sociedade de indivíduos de direitos.
Referências
ALENCAR, Eunice ML Soriano. Barreiras à criatividade pessoal: desenvolvimento de um instrumento de medida. 1998.
AQUINO, Júlio Groppa, Indisciplina na Escola, alternativas teóricas e práticas/ Organização Júlio Grappo Aquino. São Paulo – Summus: 1996. 
_______ Autoridades e autonomias na escola: alternativas teóricas e práticas. Organização Júlio Grappo Aquino. São Paulo – Summus: 1998.
CARVALHO, José Sérgio F. Os sentidos da (in)disciplina: regras e métodos como praticas sociais. São Paulo – Summus: 1996.
FERREIRA, Luiz Antônio Miguel. A Indisciplina escolar e o ato infracional. 2001.
FRELLER, C.C. Trabalhando com pais sobre indisciplina escolar: um desafio para o psicólogo, IPUSP, Psicologia da Educação, 2001, disponível em: <http://168.96.200.17/ar/libros/anped/2001T.PDF>. Acesso em: abr. 2004. 
HENRIQUE, Sérgio Henrique S. Pereira. Escola militarizada: incompatibilidade com a democracia?. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4422, 10 ago. 2015. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/41041)
MARIZ, Renata. Polícia assume escola em área violeta de Manaus e impões rotina militar. 2015. http://oglobo.globo.com/sociedade/policia-assume-escola-em-area-violenta-de-manaus-impoe-rotina-militar-16590532
PARRATI-DAYAN, Silvia. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto, 2012. 
PINHEIRO, Maria do Carmo Morales. A constituição do conceito de infância e algumas questões relativas ao corpo: da idade média à modernidade, Revista Poiesis Vol. 01 N° 01. 2003. 
REGO, Teresa Cristina A. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygostiskiana. São Paulo. Summus: 1996.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1995. 
 Discurso sobre as origens e os fundamentos da desigualdade entre os homens.

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