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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU CURSO DE DIREITO GEOVANNA DA SILVA DIAS FILIAÇÃO HOMOPARENTAL E A REPRODUÇÃO ASSISTIDA: O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR HOMOAFETIVO SÃO PAULO 2020 2 GEOVANNA DA SILVA DIAS FILIAÇÃO HOMOPARENTAL E A REPRODUÇÃO ASSISTIDA: O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR HOMOAFETIVO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial pata obtenção de grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Mestre Miguel Carlos Cristiano SÃO PAULO – SP 2020 3 TERMO DE APROVAÇÃO GEOVANNA DA SILVA DIAS FILIAÇÃO HOMOPARENTAL E A REPRODUÇÃO ASSISTIDA: O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR HOMOAFETIVO São Paulo,10 de dezembro de 2020. Banca Examinadora ____________________________________________ Prof. Mestre Miguel Carlos Cristiano _____________________________________________ Prof. Mestre Rubens Ferreira Jr. 4 AGRADECIMENTOS Antes de tudo gostaria de relatar minha eterna e profunda gratidão à Deus por ter me sustentado até aqui e a Virgem Maria por sempre passar à frente nos momentos mais difíceis. Como realizar um trabalho cujo tema central é família, sem falar da minha família? Agradeço as minhas irmãs e minha mãe, por estarem comigo, por me apoiarem e me incentivarem a buscar sempre o melhor para a minha vida. Quero que saibam que através desse trabalho pude mais uma vez entender a importância de se ter uma família que acolhe, que ama, que respeita e apoia. A vocês, o meu mais puro e sincero amor. E de forma especial, agradeço ao meu amigo e irmão de alma que amo muito, Alex Monteiro que foi minha inspiração para escrever sobre este tema, obrigada por ser esse ser humano incrível. Ao Prof. Mestre Miguel Carlos Cristiano pelo tempo, atenção, paciência e por acreditar na minha capacidade. Agradeço também ao sempre querido professor Felipe Matte Russumanno pelas valiosas colaborações, sugestões e amizade. Agradeço ainda aos meus colegas de classe, em especial a Amanda Santana, Niedja Lavor, Regiane Spatafora e Milena Cardoso que nos momentos de desânimo souberam me apoiar e incentivar e nos momentos de alegria souberam multiplicar felicidade. E, finalmente, agradeço ao professor participante da banca examinadora, por contribuir com a minha formação. 5 RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso tem por escopo abordar o direito que os casais homoafetivos têm ao planejamento familiar e a importância que a Reprodução Humana Assistida possui na constituição de suas famílias. Busca-se analisar de forma pormenorizada os avanços que a família no Brasil teve desde a promulgação Constituição Federal de 1988, bem como apresentar os tipos de entidades familiar que existe em nossa sociedade e suas referidas mudanças. Pretende-se ainda demonstrar a importância de os casais homoafetivos terem seu direito à filiação reconhecido, desmistificando o fato de o casal ser homossexual não significa necessariamente que seus comportamentos e condutas fará deles pais que não possuam condições de oferecer um lar feliz, com amor, afeto, educação e respeito. Aborda-se também, quais as técnicas de Reprodução Humana Assistida utilizadas pelos casais homoafetivos e o que o Conselho Federal de Medicina diz a este respeito e como foi a evolução das resoluções por ele realizadas. Outro ponto importante desse estudo é apresentar a evolução da família homoparental, no seu mais íntimo conceito e sua incessante luta para que se possa ter o direito de constituir sua própria família, construir sua própria história livres de preconceito, discriminação e opressão. Palavras-chaves: Reprodução Humana Assistida; direito ao planejamento familiar; Constituição Federal de 1988; casal homoafetivo; família homoafetiva. 6 ABSTRACT The present work of completion of the course aims to address the right that homoaffective couples have to family planning and the importance that Assisted Human Reproduction has in the constitution of their families. We seek to analyze in detail the advances that the family in Brazil has had since the promulgation of the Federal Constitution of 1988, as well as to present the types of family entities that exist in our society and its aforementioned changes. It is also intended to demonstrate the importance of homoaffective couples having their right to recognized affiliation, demystifying the fact that the couple is homosexual does not necessarily mean that their behaviors and behaviors will make them parents who are not able to offer a happy home, with love, affection, education and respect. It also discusses the techniques of Assisted Human Reproduction used by homoaffective couples and what the Federal Council of Medicine says in this regard and how was the evolution of the resolutions made by it. Another important point of this study is to present the evolution of the homoparental family, in its most intimate concept and its incessant struggle so that one can have the right to constitute its own family, to build its own history free of prejudice, discrimination and oppression. Keywords: Assisted Human Reproduction; right to family planning; Federal Constitution of 1988; homoaffective couple; homoaffective family. 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CFM Conselho Federal de Medicina CNJ Conselho Nacional de Justiça ECA Estatuto da Criança e do Adolescente FTI Fertilização In Vitro IBDFAM Instituto Brasileiro de Direito da Família IBGE Instituto brasileiro de geografia e estatística RHA Reprodução Humana Assistida STF Supremo Tribunal Federal TRA Técnicas de Reprodução Assistida 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1. O CONCEITO DE FAMÍLIA ........................................................................................ 10 1.1 A Família no Brasil com Base na Constituição Federal de 1988 .............................. 11 1.2 Os Tipos de Família ................................................................................................... 13 1.2.1 Matrimonial ............................................................................................................ 13 1.2.2 Informal .................................................................................................................. 15 1.2.3 Homoafetiva ........................................................................................................... 15 1.2.4 Monoparental ......................................................................................................... 16 1.2.4 Parental ou Anaparental ......................................................................................... 16 1.2.5 Pluriparental, Composta ou Mosaico ..................................................................... 17 1.2.6 Eudemonista ........................................................................................................... 18 2. OS PRINCÍPIOS QUE AMPARAM O PLURALISMO FAMILIAR ....................... 19 2.1 Da Dignidade da Pessoa Humana .............................................................................. 19 2.2 Da Igualdade .............................................................................................................. 20 2.3 Da Liberdade .............................................................................................................. 20 2.4 Da Afetividade ...........................................................................................................21 3. RECONHECIMENTO DA FAMILIA HOMOPARENTAL E O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR ........................................................................................... 22 3.1 A Família Homoafetiva e seu Reconhecimento Legal .............................................. 22 3.2 Direito Ao Planejamento Familiar ............................................................................. 23 4 A CONQUISTA AO DIREITO DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA POR CASAIS HOMOAFETIVOS ................................................................................................................. 25 4.1 A Reprodução Assistida ............................................................................................. 25 4.2 Reprodução Humana para os Casais Homoafetivos .................................................. 26 4.3 Técnicas Utilizadas pelos Casais Homoafetivos........................................................ 28 4.4 A Importância Do Reconhecimento Do Direito À Filiação Dos Casais Homoafetivos 30 4.5 A inexistência De Danos Aos Menores na Convivência com casais homoafetivos .. 32 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 36 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 37 9 INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 trouxe transformações importantes acerca da proteção dos direitos humanos que repercutiu especialmente no Direito das Famílias que trata das relações familiares e das obrigações inerentes dessas relações, como por exemplo o casamento, união estável, relações de parentesco, guarda etc. O presente trabalho, tem como escopo abordar a importância que essas transformações tiveram na conquista do direito ao planejamento familiar, bem como o reconhecimento do direito à filiação e consequentemente o direito reprodução assistida. É notável nos dias atuais em como o conceito de família vêm se abrangendo cada vez mais, ao longo da história foram formando diversas entidades familiar, dentre elas a família homoafetiva é a mais revolucionando, levando-se em consideração a quebra do parâmetro comum de família, por haver nessa entidade, a união de pessoas do mesmo sexo, que através do sistema judicial, foi reconhecida como entidade familiar por unanimidade pelo STF. Depois do reconhecimento da união estável homoafetiva, o Conselho Federal de Medicina, regulou através da Resolução n 2168/2017 o acesso dos casais homoafetivos às técnicas de RHA, aproximando o sonho de constituir um projeto parental, em realidade, aproximando ainda mais o reconhecimento de igualdade de direito entre a tradicional família heterossexual com as novas entidades familiares (pluriparental, homoafetiva, monoparental etc.) O proposito deste trabalho, limita-se a abordar também a inexistência de danos aos menos que convivem com casais homoafetivos, sendo certo uma pessoa ou casal homoafetivo detém da mesma aptidão para o desempenho da parentalidade como qualquer casal heterossexual. O que se deve buscar dentro dessa relação é o melhor interesse da criança e do adolescente, inadmitindo qualquer atitude desrespeitosa, discriminatória e preconceituosa seja na cor, na raça, no sexo, nacionalidade, religião ou qualquer outra. 10 1. O CONCEITO DE FAMÍLIA A família ao decorrer dos anos passou por uma intensa transformação e vêm evoluindo constantemente, desde os tempos mais remotos até a atualidade, trazendo para nós os mais diversos tipos de família. Desta forma, este capítulo será destinado às Instituições Familiares, seus conceitos e mutações sofridas ao passar anos. Serão abordados os diversos significados de família, como por exemplo a família matrimonial e a família informal, a primeira é compreendida como sendo célula viral da sociedade, fundada no matrimônio (um vínculo perpétuo entre um homem e uma mulher), esse conceito de família tem como base o casamento civil e/ou religioso. Em contrapartida a família informal se dá pela convivência sem que a união do casal tenha sido oficializada. A família é a base da sociedade, mas, décadas atrás sua formação era estabelecida unicamente pelo casamento, e não havia o que se falar em outro meio de constituição, como a união estável. Mas, para o avanço da sociedade igualitária e digna, o legislador constituinte de 1988, positivou o que já era costume: o reconhecimento de entidade familiar aos homens e mulheres unidos pela união estável, ampliando então, seu conceito de família de forma igualitária a todos os seus membros. Nesse sentido, a Constituição Federal, traz em seu artigo 226, que a família, assim como no casamento, poderá também ser reconhecida como entidade familiar na união estável entre homem e mulher e não só isso, passa a ser vinculada a tal entidade quaisquer um dos pais e seus descendentes: “§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Segundo Sílvio de Salvo Venosa, é importante considerar a família em seu conceito amplo, como parentesco, ou seja, o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Nessa compreensão, inclui-se o cônjuge, que não é considerado parente1. Em uma definição mais limitada, entende-se que família é tão somente formada por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder. Embora a Constituição Federal tenha alargado o seu conceito de entidade familiar e suas estruturas de convívio, o Código Civil de 2002 não deu tanta importância assim, visto 1 VENOSA, Silva de Salvo. Direito civil: família. 17. Ed. São Paulo: Atlas, 2017. P. 17. 11 que continua sendo abordado o direito de família, que trata meramente, de uma modalidade familiar: a constituída pelo matrimônio. Para isso, é importante destacar a importância do Projeto de Lei, PL 674/2007, chamado Estatuto das Famílias, elaborado pelo IBDFAM, que nos dizeres de Sílvio de Salvo Venosa, visa definitivamente abandonar os paradigmas da vetusta família patriarcal, insistentemente presente no mais recente Código de 20022. Tal Projeto traz à pauta também a substituição legal da palavra “família” por “famílias” no plural. A jurista, membra do IBDFAM e colaboradora do Projeto Estatuto das Famílias enfatiza que como a lei não acompanha as mudanças por que passa a família, acaba nas mãos da doutrina e da jurisprudência a responsabilidade de construir toda uma nova base doutrinária que atenda aos reclamos de uma sociedade sempre em ebulição.3 Portanto, não há como obter apenas um conceito para Família, seria errôneo não reconhecer que tal conceito é foi e sempre será mutável ao decorrer da evolução da humanidade. Esse processo evolutivo apenas contribuiu para a criação de situações na esfera judicial, como por exemplo, o reconhecimento das famílias homoafetivas. 1.1 A Família no Brasil com Base na Constituição Federal de 1988 O Estado Brasileiro sempre se dedicou ao Instituto Familiar, ainda que por um longo período apenas a família matrimonial era reconhecida. A Constituição de 1988 não poupou esforços para designar à família um tratamento constitucional mais extensivo, uma vez que expandiu seus efeitos jurídicos da família tradicional matrimonial, para além dela. Vale ressaltar que, anteriormente à Constituição Federal de 1988, apenas a família advinda do casamento tinha o reconhecimento e a proteção do Estado, embora houvesse as demais entidades familiares, essas não eram reconhecidas no âmbito jurisdicional. A união estável que até então não adquiriu o devido reconhecimento familiar, passou a ter respaldo jurídicoe amparo constitucional, abrindo-se espaço para um novo conceito de família. O que merece ser observado também é que o legislador constituinte, ao dedicar o capítulo Vll, sob o título: Da Família, Do Adolescente, Do jovem e do Idoso, sendo os artigos 2 Ibid., p.18. 3 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. P. 14. 12 226 até o 230 destinados à família e sua formação, teve como princípio o fato da mesma ser o início de toda a sociedade. Nesse sentido, podemos dizer que a dignidade da pessoa humana é o ponto central das normas constitucionais, no qual o Estado garantiu às entidades familiares proteção independente da forma que se constituiu. É na Constituição Federal que a família encontra amparo bem como a garantia de uma vida digna e saudável, com características progressistas que trazem proteção às mais diversas formações familiares. Nesse diapasão, Paulo Nader, pontua que: No art. 226 tem-se a indicação das entidades familiares, o princípio de igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges, a obrigatoriedade estatal de proteção e assistência à família, a previsão do divórcio. Tais deveres do Estado independem da modalidade de entidade familiar, modus in rebus. A Constituição não distingue, para efeito de direitos e deveres, as formas de instituição da família.4 Além disso, a Constituição Federal enfatiza em seu artigo 227, caput, no sentido de proteger a instituição familiar que: Art. 227. É dever da Família, da sociedade, e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade, e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Apesar do reconhecimento do Estado quanto às Entidades Familiares, os problemas das pessoas que viviam em união estável, estavam longe de acabar. Por esta razão, o legislador procurou uma forma de preencher tais lacunas, criando a Lei 8.971/94 que assegurou essas pessoas o direito a alimentos e à sucessão, porém somente se essas fossem solteiras, judicialmente separadas, divorciadas ou viúvas, descartando os separados de fato. Ainda, identificou como estáveis as relações de no mínimo cinco anos de relacionamento, ou das que tenha nascido prole5. Posteriormente, houve a edição da Lei 9.278/96, que teve maior campo de abrangência. Não quantificou prazo de convivência e admitiu como estáveis as relações entre pessoas separadas de fato.6 Seguindo esse raciocínio, Rolf Madaleno traz as seguintes observações pertinentes: 4 NADER, Paulo. Curso de direito civil, v. 5: direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2016. P. 69. 5 BRASIL, LEI 8.917/94 Regula o direito dos companheiros a alimentos e à sucessão. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 29 de dezembro de 1994. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8971.htm>. Acesso em: 19 out. 2020. 6 DIAS, Op. Cit. nota 3, p. 410. 13 Outro aspecto positivo da segunda lei da convivência foi o fato de ela não repetir o equívoco antecedente, de só configurar as uniões estáveis com existência fática mínima de cinco anos, ou por qualquer tempo se houvesse prole. Sempre foi tarefa dos tribunais e não do legislador definir a união estável, valendo-se de subsídios indicados de longo tempo pela doutrina, como a ostensividade ou notoriedade das relações, a comunidade de vidas, a fidelidade, a continuidade da relação e a dependência econômica.7 Desta forma, a constitucionalização do Direito das Famílias percorreu um caminho sucessivo, que colocou a dignidade humana e os direitos de liberdade acima do tão tradicional matrimônio. A incrementação das novas espécies de família, além das já citadas anteriormente, foi uma grande ruptura, onde o Estado, por certo, reconheceu um fato social antes discriminado. 1.2 Os Tipos de Família Quando nos deparamos com o conceito família, automaticamente remetemos essa palavra ao exemplo tradicional: um homem e uma mulher, seguindo o convencional plano de se casar com o famoso “até que a morte nos separe”, e com o dever de ter filhos. Mas essa realidade implantada há séculos não é a que vigora em grande quantidade. Atualmente estamos acostumados com as famílias que se distanciam do perfil tradicional8. O convívio com as diversas entidades familiares, como por exemplo da anaparental, monoparental e homoafetivas, faz com que reconheçamos sua diversidade. Felizmente a sociedade evolui, e hoje já é possível falar em diversas estruturas familiares, além das já trazidas pela Constituição Federal de 1988. Sabemos que muito ainda precisa ser conquistado em relação aos tais conceitos, mas é importante que não só a legislação, mas também a sociedade, possam reconhecer todos os tipos de família de forma igualitária. 1.2.1 Matrimonial Até o advento da República, em 1889, só existia o casamento religioso. Ou seja, os não católicos não tinham acesso ao matrimônio. O casamento civil só surgiu em 1891. Ainda assim, o caráter sagrado do matrimônio foi absorvido pelo direito, tanto que o conceito de 7 MADALENO, Rolf. Direito de família.8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. P. 1431. 8 DIAS. Op. Cit., nota 6, p. 228. 14 família, identificado com o casamento indissolúvel, mereceu consagração em todas as Constituições Federais do Brasil.9 Apesar de vivermos em um país Laico, a Igreja e o Estado caminhavam juntos na definição de entidade familiar, visto que, tal título era reconhecido apenas às pessoas que tiveram sua união concretizada através do matrimônio. O propósito do casamento era visto em sua maioria como forma de reprodução e regulagem de atividade sexual, como bem pontua Maria Berenice Dias: Assim, diante da consagração pela igreja do sacramento indissolúvel da união entre um homem e uma mulher, nasce a concepção de débito conjugal na medida em que a prática sexual constituía um dos deveres obrigatórios do casamento. Ademais a isso, o casamento poderia ser anulado se algum dos cônjuges fosse estéril ou impotente, o que demonstra a necessidade de procriação para a formação familiar. Percebe-se que o casamento era um patrimônio assegurador da família e, por conseguinte, dos filhos futuros, tendo em vista que a preservação máxima era do estado civil de casado sem qualquer relação de afeto primordial reinante na família, ou seja, não era essencial o amor, o afeto nas relações familiares.10 Antes da Constituição de 1988, “o casamento era a única forma admissível de formação da família”11, e somente a partir desse ponto é que houve o amparo legal às outras formas de entidades familiares. Ainda, o Código Civil dispõe em seu artigo 1.513 que é defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. 12 Para o jurista Paulo Nader, o casamento, como todo negócio jurídico é ato de vontade formalizado segundo o esquema da lei. Faticamente a família pode instituir-se independente do casamento, sem a intervenção do Estado, optando ou não o casal por uma cerimônia religiosa.13 É fato que a manifestação de vontade é fundamental para a validação do casamento, seja ela celebrada no civil, seja ela celebrada no religioso. Ainda a interferência do Estado é não mais que para regularizar o instituto, seguindo da manifestação livre de vontade de duas pessoas para a formação de uma união com o objetivo de constituir uma família. 9 Ibid., p. 255. 10 Id. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010., P. 44. 11Id. Manual de direito das famílias. 4. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. P. 235. 12 BRASIL. Código Civil (2002). DiárioOficial da União. Brasília, DF, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 19 out. 2020. 13 NADER. Op. cit., nota 4, p.92. 15 1.2.2 Informal A família informal é tida como aquela que se constitui a partir de uma união não oficializada legalmente, as oriundas de relações extramatrimoniais, consideras de adulterinas ou concubinárias. Esta entidade familiar, é, expressamente, um resultado claro à evolução da sociedade. Levando o nome de concubinato, em 1988 entrou para o reconhecimento de entidade familiar previsto na Constituição Federal, trocando sua expressão por união estável. Maria Berenice explica que Código Civil impõe requisitos para o reconhecimento da união estável, gera deveres e cria direitos aos conviventes. Assegura alimentos, estabelece o regime de bens e garante ao sobrevivente direitos sucessórios14. Nesse sentido, resta claro que o legislador aproximou o aspecto da união estável da do casamento, dando enfim, a identificação digna a este tipo de instituição familiar. 1.2.3 Homoafetiva Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável homoafetiva como entidade familiar. Em seguida, o Tribunal, por votação unanime decidiu que as uniões estáveis entre casais gays deveria seguir as mesmas regras e ter as mesmas consequências que aquelas entre casais heterossexuais. Como alguns cartórios não reconhecia o direito de registro de união estável aos casais homoafetivos, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça publicou a Resolução n. 173/2013 que determina que todos os cartórios do Brasil não poderão recusar a celebração de casamentos civis de casais do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável homoafetiva. 15 Desta forma, não podemos dizer que os casais homoafetivos lutaram para ter o direito ao reconhecimento como entidade familiar, e sim lutaram para ter o tão semente 14 DIAS, Op. cit., nota 3, p. 237. 15STJ. Resolução sobre casamento civil entre pessoas do mesmo sexo é aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: <https://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternaciona lDestaques&idConteudo=238515#:~:text=A%20partir%20desta%20quinta%2Dfeira,como%20estabelece%20a %20Resolu%C3%A7%C3%A3o%20n>. Acesso em: 19 out. 2020. 16 reconhecimento de um direito que já estava positivado antes de 2011, já que somos todos iguais perante a lei. 1.2.4 Monoparental A família monoparental é prevista pela Constituição Federal e está expressa em seu artigo 226, parágrafo 4º “entende-se também como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”16 Nesse sentido, Maria Berenice Dias, conceitua muito bem: O enlaçamento dos vínculos familiares constituídos por um dos genitores com seus filhos, no âmbito da especial proteção do Estado, subtrai a conotação de natureza sexual do conceito de família. Tais entidades familiares receberam em sede doutrinária o nome de família monoparental, como forma de ressaltar a presença de somente um dos pais na titularidade do vínculo familiar17. Aqui, resta apenas ressaltar que a Constituição Federal de 1988 atuou corretamente ao reconhecer essa entidade familiar, já que essa é a realidade da maioria da população brasileira e merecia ser reconhecido juridicamente. 1.2.4 Parental ou Anaparental Aqui vemos um tipo de vínculo familiar que não foi previsto pelo legislador, compondo então mais uma entidade familiar nessa imensa lista de famílias não amparadas pela lei. Sua característica principal se pauta na única e exclusivamente convivência, seja ela entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes. Maria Berenice Dias, nos ensina que a “diferença de gerações não pode servir de parâmetro para o reconhecimento de uma estrutura familiar. Não é a verticalidade dos vínculos parentais em dois planos que autoriza reconhecer a presença de uma família merecedora da proteção jurídica”18 Ou seja, não se encontra aqui a necessidade de um vínculo sanguíneo, pois o que configura este laço familiar é a convivência. Com base nisso, pode-se afirmar que duas amigas 16 CRFB, art. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. (BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 19 out. 2020. 17 DIAS, Op. Cit., nota 3, p. 241. 18 Ibid., p. 242. 17 ou primas que moram juntas e convivem, pode ter vínculo familiar reconhecido, adquirindo então todos os direitos pertinentes ao Direito das Famílias. 1.2.5 Pluriparental, Composta ou Mosaico Os últimos dados concretos divulgados pelo IBGE revelam que só no ano de 2018 foram registrados entre ações judiciais e extrajudiciais, 385.246 divórcios.19 A partir dessa informação, é nítido perceber que com a facilitação do processo de divórcio, os casais adquiriram possibilidade de romper a relação conjugal de forma mais rápida, e com isso, constituir novas famílias, com novos parceiros. Cuida-se da chamada família “pluriparental”, “composta” ou “mosaico”, formada não só pela união do casal, mas também dos filhos oriundos de relacionamentos anteriores. Maria Berenice Dias, relata que a cada dia cria-se expressão na tentativa de identificar as famílias que resultam da pluralidade das relações parentais, especialmente fomentadas pelo divórcio, pelo recasamento, seguidos das famílias não matrimoniais e das desuniões. 20 A família pluriparental como é mais conhecida, não vem regulamentada pelo ordenamento constitucional ou civil, sendo tratada somente no artigo 69, parágrafo 2º do Projeto do Estatuto das Famílias: “Família pluriparental é a constituída pela convivência entre irmãos, bem como as comunhões afetivas estáveis existentes entre parentes colaterais.”21 Outro ponto importante é esclarecer que estar inserido nessa espécie de família, não implica na entidade monoparental que já vimos aqui, até porque o vínculo estabelecido com o genitor e sua prole não se compromete quanto este se submete à uma nova união, como bem pontua Maria Berenice Dias: Nestas novas famílias, é equivocada a tendência de considerar como monoparental o vínculo do genitor com o seu filho, até porque o novo casamento dos pais não importa em restrições aos direitos e deveres com relação aos filhos (CC 1.579 parágrafo único).22 Ademais, é previsto no ECA em seu artigo 41, parágrafo 1º, a possibilidade de adoção pelo companheiro (a) do cônjuge do genitor (a), a chamada adoção unilateral. Mas claro, que 19 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatística do Registro Civil. Disponível em <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9110-estatisticas-do-registro-civil.html>. Acesso em: 20 out. 2020. 20 DIAS. Op. cit., nota 3, p. 244. 21 PLS 470/2013. Estatuto das Famílias. Disponível em: <https://www.ibdfam.org.br/artigos/338/Estatuto+das+Fam%C3%ADlias>. Acesso em 20 out. 2020. 22 DIAS, Op. cit., nota 20, p. 244. 18 para haver uma adoção legal é indispensável o aval do pai registral. A Lei 11.924/0923 admitiu a possibilidade de o enteado agregar o nome do padrasto ou madrasta, permanecendo ainda o poder familiar do genitor (a). 1.2.6 Eudemonista A busca da felicidade, a supremacia do amor, a vitória da solidariedade enseja o reconhecimento do afeto como único modo eficaz de definição da família e de preservação da vida. As relações afetivas são elementos constitutivos dos vínculos interpessoais. A possibilidade de buscar formas de realização pessoal e gratificação profissional é a maneira de as pessoas se converteremem seres socialmente úteis.24 Como bem pontuado acima pela nossa jurista Maria Berenice Dias, a família eudemonista é um conceito moderno que se remete àquelas famílias que buscam uma satisfatória realização de seus membros, caracterizando-se pela empatia, afeto recíproco, respeito, amor e tudo que uma boa relação precisa compor para obter sucesso na sua convivência, independente do vínculo biológico. O eudemonismo pode também variar conforme as noções do que é, de fato, a felicidade. Assim, os cirenaicos acentuam o prazer sensual; os estóicos salientam o desapego em relação a bens mundanos, como a riqueza e a amizade. Tomás de Aquino dá mais atenção à felicidade como contemplação eterna de Deus e assim por diante.25 Ainda que a família eudemonista não seja encontrada expressamente no ordenamento jurídico de nosso país, ela está cada vez mais presente na atual sociedade moderna. 23 BRASIL. Código Civil (2002). Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11924.htm>. Acesso em 20 out. 2020. 24 DIAS. Op. cit., nota 3, p. 248. 25 BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 132 19 2. OS PRINCÍPIOS QUE AMPARAM O PLURALISMO FAMILIAR O Princípio do Pluralismo das Entidades Familiares, foi celebrado a partir da Constituição Federal 1988, que ampliou o Direito das Famílias, que até então só eram reconhecidas famílias as que provinham do casamento. Nesse sentido, Rolf Madaleno explica que: O princípio do pluralismo das entidades familiares, consagrado pela Carta Política de 1988, que viu no matrimônio apenas uma das formas de constituição da família, admitindo, portanto, outros modelos que não se esgotam nas opções exemplificativamente elencadas pela Constituição Federal, não havendo mais dúvida alguma acerca da diversidade familiar depois do reconhecimento pelo STF das uniões homoafetivas, que terminou com qualquer processo social de exclusão de famílias diferentes.26 (grifos do texto original) Com isso entendemos que o princípio do pluralismo das entidades familiares, foi o marco para que o Estado reconhecesse legalmente a existente de várias possibilidades de formação familiar. 2.1 Da Dignidade da Pessoa Humana Outros princípios que amparam o pluralismo familiar é a da Dignidade Humana, que de todos os que nossa Carta Maior traz, é o princípio maior. É o que originou todos os demais. No dizer de Daniel Sarmento, representa o epicentro axiológico da ordem constitucional, irradiando efeitos sobre todo o ordenamento jurídico e balizando não apenas os atos estatais, mas toda a miríade de relações privadas que se desenvolvem no seio da sociedade.27 É neste princípio que o Estado assegura condições existenciais mínimas para uma vida saudável, digna de respeito, amor, felicidade e liberdade. Maria Berenice Dias, enfatiza que a dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para viver. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares - o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum -, permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas28. 26 MADALENO. Op. cit., nota 7, p. 66. 27 DIAS. Op. cit., nota 20, p. 73. 28 Ibid., p. 75. 20 2.2 Da Igualdade Outro princípio que se destaca é o Princípio da Igualdade, que possui previsão no artigo 5, caput da Constituição Federal: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade.” 29 Após séculos de tratamento discriminatório, a desigualdade de gêneros foi banida da Constituição, e hoje somos considerados iguais perante a lei. Mas, a igualdade não isenta o fato de sermos diferentes no gênero, e esses não podem ser ignorados pelo direito. De tudo isso, o desafio é considerar as saudáveis e naturais diferenças entre os sexos dentro do princípio da igualdade. Já está superado o entendimento de que a forma de implementar a igualdade é conceder à mulher o tratamento diferenciado de que os homens sempre desfrutaram. O modelo não é o masculino, e é preciso reconhecer as diferenças, sob pena de ocorrer a eliminação das características femininas.30 Conclui-se, portanto, que o princípio constitucional da igualdade, assegura a todos, independente de raça, cor, sexo, orientação sexual, conceitos políticos e religiosos, tratamento igual pela a lei. 2.3 Da Liberdade O princípio da liberdade é um dos mais importantes dentro do Direito das Famílias, ela está presente no Código Civil ao proibir a interferência do Estado ou qualquer outra pessoa na construção familiar (artigo 1.513), está no livre planejamento familiar (artigo 1565), a forma de administração de um patrimônio familiar (artigos 1642 e 1643) e ao pleno exercício do poder familiar (artigo 1634). Além desses exemplos, outros que garantem a liberdade e a integridade física das pessoas, como bem pontua Rolf Madaleno é o direito à vida; a liberdade de locomoção; de expressão; tal qual na liberdade de expressão ingressa a liberdade de imprensa, o sigilo de correspondência, 29 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 out. 2020. 30 DIAS. Op. cit., nota 20, p. 77. 21 o livre-direito à manifestação do pensamento e a liberdade de consciência e da autodeterminação da pessoa. 31 O que resta salientar, é que esse princípio deve ser respeitado pelo estado, já que cada entidade familiar possui sua forma de criar e educar seus filhos, havendo apenas a intervenção do Estado em casos específicos. 2.4 Da Afetividade O Princípio da Afetividade, em seu sentido amplo, diz respeito a evolução do direito das famílias, mostrando de forma agradável os diversos tipos de entidade familiar, reconhecidos ou não juridicamente. Maria Berenice Dias, conceitua que a afetividade é o princípio que fundamenta o direito das famílias na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia em face de considerações de caráter patrimonial ou biológico.32 Sendo que este princípio fundado no sentimento de proteção, dedicação, amor e respeito, não possui previsão legal em nossa legislação pátria, sua extração é feita a partir de outros princípios, tais como o da proteção integral, felicidade, e as que já citamos aqui. 31 MADALENO. Op. cit., nota 7, p. 139. 32 DIAS. Op. cit., nota 20, p. 84. 22 3. RECONHECIMENTO DA FAMILIA HOMOPARENTAL E O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR 3.1 A Família Homoafetiva e seu Reconhecimento Legal A família homoafetiva, é relativamente um conceito novo comparado à família matrimonial constituído pelo casamento e a família informal, constituída através da união estável entre homem e mulher. Essa nova entidade familiar que tem como característica a união de pessoas do mesmo sexo e se tem como principal objetivo o afeto, amor, carinho e respeito mútuo e recíproco. Esse conceito surgiu com a necessidade de acompanhar a evolução da sociedade bem como na sua forma de pensar nas relações afetivas entre indivíduos. Em 05 de maio de 2011 o Supremo Tribunal Federal decidiu equiparar as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres.Essa decisão reconheceu de forma unanime as uniões homoafetivas como uma entidade familiar como outro qualquer. Assim, entendeu o Ayres Britto em seu voto: “Entidade familiar” não foi usada para designar um tipo inferior de unidade doméstica, porque apenas a meio caminho da família que se forma pelo casamento civil. Não foi e não é isso, pois inexiste essa figura da sub-família, família de segunda classe ou família “mais ou menos” (relembrando o poema de Chico Xavier). O fraseado apenas foi usado como sinônimo perfeito de família, que é um organismo, um aparelho, uma entidade, embora sem personalidade jurídica. Logo, diferentemente do casamento ou da própria união estável, a família não se define como simples instituto ou figura de direito em sentido meramente objetivo. Essas duas objetivas figuras de direito que são o casamento civil e a união estável é que se distinguem mutuamente, mas o resultado a que chegam é idêntico: uma nova família, ou, se se prefere, Uma nova “entidade familiar”, seja a constituída por pares homoafetivos, seja a formada por casais heteroafetivos33 Com isso, em 14 de maio de 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aprovou a resolução n. 175 que obriga todos os cartórios do país a celebrarem casamentos dentre pessoas do mesmo sexo. 33STJ. Julgamento: ADI 4.277. Relator: Ayres Britto. DJ: 05/05/2011. Conjur. 2011. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-ayres-britto-julgamento.pdf> Acesso em: 21 out. 2020. 23 3.2 Direito Ao Planejamento Familiar O planejamento familiar é direito de todo o cidadão e se caracteriza pela o Princípio do Livre Planejamento Familiar que tem seu fundamento legal no artigo 226, § 7o da Constituição Federal, que assim dispõe: Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas No referido artigo, a Constituição Federal define “família” como entidade instituída mediante casamento ou união estável, biológica ou adotiva, ampliando o conceito para qualquer tipo de relação de afetividade com característica de família.34 Tal princípio é regulamentado também pela lei n. 9.263/1996, que certifica a todos os cidadãos o planejamento familiar de maneira livre, não podendo o Estado, a sociedade ou qualquer outra pessoa estabelecer limites para o seu exercício dentro da autonomia de cada indivíduo. O direito ao planejamento familiar deve ser de livre decisão de todo o casal, independentemente de sua formação ou orientação sexual, devendo o Estado disponibilizar recursos educacionais ou científicos para que esse direto seja exercido em sua integridade. Nesse contexto, a socioafetividade surge associada à parentalidade e a alguns aspectos. Com isso, o artigo 1.593 do Código Civil definiu que o parentesco poderia ser natural ou civil, conforme resulte da consanguinidade ou outra origem 35. E ainda, nesse mesmo rol incluíram a adoção, por parentesco socioafetivo ou por reprodução assistida. Por entender que as famílias socioafetivas são laços de afeto e solidariedade entre seus membros, abriram precedentes necessários para que casais homoafetivos em união estável pudessem lutar para ter suas famílias e filhos por parentesco sanguíneo e não apenas afetivo36. 34 Araujo AP, Oliveira CA, Germano EL, Santos TAS. O pluralismo familiar e a liberdade de constituição de uma comunhão da vida familiar. Judicare. 2016. Disponível em: <http://ienomat.com.br/revistas/mtac/index.php/mtac/article/view/69>. Acesso em: 21 out. 2020. 35 BRASIL. Código Civil (2002). Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 21 out. 2020. 36SILVA, José Lenartte da Silva; COSTA, Moan Jéfter Fernandes; TÁVORA, Rafaela Carolini de oliveira; VALENÇA, Cecília Nogueira. Planejamento para famílias homoafetivas: releitura da saúde publica brasileira. Revista Bioética, 2019. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-80422019000200276> Acesso em: 21 out. 2020. 24 Sendo assim, para o planejamento familiar deve se levar em conta todos os requisitos referentes à dignidade humana e à paternidade responsável, tendo por base os princípios legais da igualdade de direito e deveres entre os cônjuges, para que se possa garantir também o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde.37 Portanto nessa série de ações inclui-se o direito ao planejamento, para que não haja qualquer exclusão por parte da população e assim cumprir seu papel de assegurar a todos o equilíbrio de natalidade no ambiente familiar e facultar aos casais homoafetivos o direito de usufruir do acesso a técnicas de reprodução assistida. 37 Pereira CMS. Instituições de direito civil: direito de família. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense; 2010. v. 5.disponivel em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2012000200015> Acesso em: 21 out. 2020. 25 4 A CONQUISTA AO DIREITO DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA POR CASAIS HOMOAFETIVOS 4.1 A Reprodução Assistida A reprodução assistida é um conjunto de técnicas realizadas por médicos especializados que tende a viabilizar uma gestação, muitas vezes em razão da deficiência da função reprodutiva, do risco de transmissão de doenças hereditárias, da total infertilidade do casal ou da impossibilidade de reprodução, sendo esse último, a situação que muitos casais homoafetivos se encontram. Nesse sentido a biomédica Tatiana Holanda Henriques nos explica que se entendem como TRA todos os procedimentos clínicos e laboratoriais que visam obter uma gestação, substituindo ou facilitando etapas deficientes do processo reprodutivo natural.38 Partindo desse pressuposto, Maria Berenice Dias, aponta: As expressões “fecundação artificial”, “concepção artificial” e “inseminação artificial” incluem todas as técnicas de reprodução assistida que permitem a geração de vida, independentemente do ato sexual, por método artificial, científico ou técnico. A fecundação resultante de reprodução medicamente assistida é utilizada em substituição à concepção natural, quando houver dificuldade ou impossibilidade de um ou de ambos de gerar. São técnicas de interferência no processo natural, daí o nome de reprodução assistida.39 Nesse sentido, Breuner conclui que: “...o direito de gerar e, de assim constituir uma família deve ser respeitado, sendo ele por processo natural ou auxiliado pela medicina, conforme os princípios constitucionais que asseguram o direito à intimidade, à saúde e a formação de família.Infere-se do direito ao livre exercício do planejamento familiar a liberdade das pessoas em buscar a concepção de um filho, mesmo que, para realizar o projeto parental, precisem recorrer aos métodos científicos e, igualmente, o direito de não gerar, recorrendo também à ciência para evitar uma gravidez indesejada.”40 Assim, é totalmente possível compreender que o direito de gerar filhos, independente do estado civil, orientação religião ou orientação sexual, é necessário tão somente a livre vontade do indivíduo para que esse tenha acesso aos meios necessários para que o seu planejamento familiar, possa enfim se concretizar. 38 LEITE, Tatiana Henriques; HENRIQUES, Rodrigo Arruda de Holanda. Resolução CFM 1.957/10:principais mudanças na prática da reprodução humana assistida .Revista Bioética,Brasília, v. 20, n. 3,2012. Quadrimestral, p. 414. 39 DIAS. Op. cit., nota 20, p. 361. 40 BRAUNER, Maria Cláudia Crespo. Direito, sexualidade e reprodução humana: conquistas médicas e o debate bioético. Riode Janeiro: Renovar, 2003, p.141. 26 4.2 Reprodução Humana para os Casais Homoafetivos Ao tratar de famílias homoafetivas, é notável que o casal seja constituído por duas mulheres ou dois homens com ou sem filhos. A partir disso, o casal possuído a vontade de ter filhos, não poderá haver empecilhos ao livre planeamento familiar, sobretudo com os grandes avanços da biotecnologia, o qual permite que os casais compostos pelo o mesmo sexo obtenha êxito na realização do projeto parental por meio da reprodução humana assistida.41 No que diz respeito à legislação, no Brasil por não haver lei que ampare a reprodução humana assistida, o Concelho Federal de Medicina (CFM), editou, como forma de preencher tal lacuna, a primeira norma sobre a utilização das técnicas de RHA (Reprodução Humana Assistida), através da Resolução n. 1.358/92 Ao decorrer dos anos a referida resolução sofreu extensas modificações, com o objetivo de acompanhar as alterações e inovações sociais e tecnológicas vividas pela a sociedade. O que vale a pena ressaltar é que em decorrência da Ação Direta de Inconstitucionalidade 424.277 (ADI 4.277) e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 132 (ADPF 132) pelo STF julgadas no ano de 2011, o pleno dessa Suprema Corte reconheceu e qualificou como entidade familiar a união estável homoafetiva, e em decorrência dessa decisão o CFM modificou a Resolução anterior substituindo-a pela Resolução n. 2.013/ 2013. Nessa nova resolução buscou-se incluir os casais homoafetivos, permitindo o uso da técnica de reprodução em laboratório a relacionamentos homoafetivos, oferecendo a viabilidade da gestação para casais do mesmo sexo. 43 Conforme a sociedade foi se desenvolvendo as normas não poderiam ficar estacionadas, e com o CFM não foi diferente, houve novamente uma edição da Resolução anterior para a Resolução n. 2.121/2015, a qual ampliou o uso das técnicas de RA, em que se permitiu a gestação compartilhada para as uniões homoafetivas femininas e foi ampliado o parentesco para 41 SOUZA, Marise Cunha. Os Casais Homoafetivos e a Possibilidade de Procriação com a Utilização do Gameta de um deles e de Técnicas de Reprodução Assistida. Revista da EMERJ, v. 13, nº 52, 2010.. Disponível em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista52/Revista52_141.pdf> Acesso em 30 de outubro de 2020. 42 STJ. Op. cit., nota 32. 43 VIEIRA, Tereza Rodrigues; MIRANDA, Claudineia Aparecida. Reprodução assistida para casais homoafetivos. CONSULEX: Revista Jurídica, Brasília. N.410, p20-21, fev. 2014. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/casais-gays-ganham-direito-ao-uso-de-fertilizacao-in-vitro- 8336429> Acesso em: 30 out. 2020. 27 o útero de substituição. 44 E, como bem pontua José Hiran da Silva Gallo e Giselle Crosara Lettieri Gracindo: Os casais homossexuais encontram barreiras naturais para se reproduzir; portanto, é papel da ciência auxiliá-los e possibilitar que tenham as mesmas oportunidades de constituir família. É também função da justiça proporcionar segurança jurídica a esses casais, garantindo que a formação da família não se dê apenas por meio de adoção de crianças órfãs – apesar de tratar- se de gesto louvável –, mas que possam ter filhos biológicos. Com base nas normas éticas atuais sobre o tema, nota-se maior inclusão desses casais no uso das técnicas.45 Em 2017 o Conselho Federal de Medicina elaborou nova Resolução n. 2.168/2017, mas não houve nenhuma alteração considerável, até porque nesta última atualização as novas utilização das técnicas de reprodução assistida a possibilidade de cessão temporária do útero permaneceu a mesma, as pessoas que podem ceder o útero temporariamente, que são os parentes de primeiro a quarto graus, (primeiro grau mãe/filha; segundo grau avó/irmã/cunhada; terceiro grau tia/sobrinha; quarto grau prima) poderiam participar do processos de gestação de substituição, sendo que demais casos ficam sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina.46 Entretanto em outubro deste ano, houve uma alteração considerável na resolução n. 2.283/2020, nesta nova resolução o CFM resolveu alterar a redação do item 2 do inciso ll que trata sobre “Pacientes das técnicas de RA”, ampliando o acesso às técnicas aos transgêneros47. Até a conclusão da presente pesquisa, o projeto de Lei n. 115/2015 que constitui o Estatuto da Reprodução Assistida para regulamentar a aplicação e utilização das técnicas de RHA, bem como seus efeitos no âmbito das relações civis e sociais, encontra-se pendente de aprovação pela Câmara. 44 NAMBA, Edison Tetsuzo. Reprodução assistida: disciplinamento ético por Resoluções. Estado de direito. Disponível em: <http://estadodedireito.com.br/reproducao-assistida-disciplinamento-etico-por-resolucoes2/> Acesso em: 30 out. 2020. 45 GALLO, José Hiran da Silva; GRACINDO, Giselle Crosara Lettieri. Reprodução assistida, direito de todos. E o registro do filho, como proceder?. Scielo PDF. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/bioet/v24n2/1983- 8034-bioet-24-2-0250.pdf> Acesso em: 30 out. 2020. 46 BRASIL. Conselho Federal De Medicina. Reprodução assistida: CFM anuncia novas regras para o uso de técnicas de fertilização e inseminação no país. Portal CFM. Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27275:2017-11-09-13-06- 20&catid=3> Acesso em: 30 out. 2020 47 BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução 2.283/2020. Altera a redação do item 2 do inciso ll, “Pacientes das técnicas de RA”, da Resolução CMG n. 2.168/2017, aprimorando o texto do regulamento de forma a tornar a norma mais abrangente e evitar interpretações contrárias ao ordenamento jurídico. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2020/2283. Acesso em: 03 dez. 2020. 28 4.3 Técnicas Utilizadas pelos Casais Homoafetivos No que diz respeito à efetiva utilização das técnicas de RHA pelos casais homoafetivos, podemos dividi-las em suas óticas, quais sejam, a utilização das técnicas por casais formados por duas mulheres e a técnica utilizada por casais constituídos por dois homens. É certo que para os casais homoafetivos constituídos por mulheres possuem maior chance, levando-se em consideração a fisiologia feminina, para gestação. Assim, para casais femininas existem duas possibilidades: A primeira é a inseminação utilizando de sêmen doado, seja através de um banco de sêmen ou de pessoas próximas, no caso das mulheres, que já possuem os óvulos necessários para a fecundação, o que falta são os espermatozoides. Esse procedimento pode ser feito anonimamente e, neste caso, as mulheres escolhem o doador por meio de características físicas.48 Já a segunda alternativa é a fertilização in vitro. Neste caso, uma delas poderá ter seu óvulo fecundado por espermatozoide doado e ela mesma continuar a gravidez ou o óvulo fecundado de uma pode ser colocado do útero da parceira que vai engravidar, permitindo que as duas tenham participação no processo, também chamada de gestação compartilhada. 49 No que diz respeito aos casais masculinos, a FIV é a única opção e essa costuma a ser um pouco mais complicada: o casal deverá encontrar uma mulher na família (como já descrito anteriormente) para participar do processo e assim ceder temporariamente seu útero e levar adiante a gestação, observando dos dispostos contidos na Resolução n. 2.168/2017. Para a realização da fecundação, podem ser usados os espermatozoides de um dos homens ou de ambos. A decisão sobre isso pode ser baseada na avaliação de esperma, histórico de saúde familiar e no aconselhamento do especialista em reprodução humana assistida. Os óvulos são doados e oriundos ou de banco de óvulos ou de alguma mulher conhecida e o útero pode ser da mesma mulher que doou o óvulo ou de outra mulher. 50 Além disso, a doação deóvulo acompanha as normas estabelecidas pela Resolução n. 2.168/2017 do CFM, sendo assim, a doação em hipótese alguma terá caráter lucrativo ou 48 SOCIEDADE BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA. Resolução do CFM garante a casais homossexuais o direito de recorrer aos tratamentos de reprodução humana assistida para ter filhos. Notícias SBRA. Disponível em: <http://sbra.com.br/destaques/184-resolucao-do-cfm-garante-a-casais-homossexuais-o- direito-de-recorrer-aos-tratamentos-de-reproducao-humana-assistida-para-ter-filhos> Acesso em: 01 nov. 2020. 49 CLÍNICA DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA PROCRIAR. Fertilização in vitro para casais homoafetivos. Procriar Tratamentos. Disponível em: <http://www.procriar.com.br/fertilizacao-in-vitro-para- casais-homoafetivos> Acesso em: 01 nov. 2020. 50 SOCIEDADE BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA. Resolução do CFM garante a casais homossexuais o direito de recorrer aos tratamentos de reprodução humana assistida para ter filhos. Notícias SBRA. Disponível em: <http://sbra.com.br/destaques/184-resolucao-do-cfm-garante-a-casais-homossexuais-o- direito-de-recorrer-aos-tratamentos-de-reproducao-humana-assistida-para-ter-filhos> Acesso em: 02 nov. 2020. 29 comercial e os doares não podem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, exceto em situações especificas em que poderá ser fornecidos informações a respeito dos doadores por motivos médicos e tão somente para eles. E mais, a mulher que for gerar o bebê não pode ter mais de 50 (cinquenta) anos de idade e as técnicas de RA só poderão ser utilizadas quando há grande probabilidade de sucesso. E no caso de doação temporária de útero, o CFM estabelece que existem documentos e observações que deverão obrigatoriamente constar no prontuário da paciente. 51 Nesses casos de fertilização in vitro é realizada por meio da coleta de óvulos e sêmen que posteriormente são transferidos para uma placa de petri, onde haverá fecundação. Depois de um tempo que o óvulo é fecundado (zigoto), é transferido para o útero de uma terceira pessoa, que é chamada de mãe hospedeira ou substituta e que fará a gestação, que se chama fertilização in vitro por gestação ou substituição.52 Nos dois casos apresentados, o Conselho Federal de Medicina apresenta que o número de embriões transferidos para o útero feminino deverá seguir as determinações de acordo com a idade. As mulheres de até 35 anos de idade poderá ser transferido até 02 embriões, as mulheres entre 36 e 39 anos serão de até 03 embriões, já para as mulheres de 40 anos de idade ou mais, serão de até 04 embriões. E nas circunstâncias de doação de óvulos e embriões, é avaliado a idade da doadora no momento da coleta dos óvulos e a quantidade de embriões a serem transferidos não podem ser mais que quatro. Diante disso, todas as normas relativas as técnicas de RHA trazem consigo oportunidades para que as famílias contemporâneas tenham um maior planejamento reprodutivo e possam assim desfrutar de um dos direitos essenciais: o direito à felicidade. 51 O CFM fixa diversos critérios para o uso das técnicas de reprodução assistida na Resolução n°2.168/2017. Das quais: 3. Nas clínicas de reprodução assistida, os seguintes documentos e observações deverão constar no prontuário da paciente: 3.1. Termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos pacientes e pela cedente temporária do útero, contemplando aspectos biopsicossociais e riscos envolvidos no ciclo gravídico - puerperal, bem como aspectos legais da filiação; 3.2. Relatório médico com o perfil psicológico, atestando adequação clínica e emocional de todos os envolvidos; 3.3. Termo de Compromisso entre o(s) paciente(s) e a cedente temporária do útero (que receberá o embrião em seu útero), estabelecendo claramente a questão da filiação da criança; 3.4. Compromisso, por parte do(s) paciente(s) contratante(s) de serviços de RA, de tratamento e acompanhamento médico, inclusive por equipes multidisciplinares, se necessário, à mãe que cederá temporariamente o útero, até o puerpério; 3.5. Compromisso do registro civil da criança pelos pacientes (pai, mãe ou pais genéticos), devendo esta documentação ser providenciada durante a gravidez; 3.6. Aprovação do cônjuge ou companheiro, apresentada por escrito, se a cedente temporária do útero for casada ou viver em união estável. Disponível em: <https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2168> Acesso em: 02 nov. 2020. 52 SOUZA, Marise Cunha. Os Casais Homoafetivos e a Possibilidade de Procriação com a Utilização do Gameta de um deles e de Técnicas de Reprodução Assistida. PDF Disponível em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista52/Revista52_141.pdf> Acesso em: 02 nov. 2020. 30 4.4 A Importância Do Reconhecimento Do Direito À Filiação Dos Casais Homoafetivos O reconhecimento do direito à filiação dos casais homoafetivos é, sobretudo, excepcionalmente importante na sociedade atual, principalmente ao que tange a realidade social e as variadas mudanças ocorridas no conceito familiar. Com o a vinda da Constituição de 1988 o conceito de entidade família, como visto no capítulo 1 (um) foi ampliado, a jurisprudência vem fazendo o seu papel importantíssimo ao projetar nesse conceito de família, outras estruturas de convívio, como por exemplo a união homoafetiva, celebrado pelo Supremo Tribunal Federal, quando a Suprema Corte não só reconheceu como qualificou como entidade familiar a união estável das pessoas do mesmo sexo (vide cap. 3). Com todo o reconhecimento dado à união homoafetiva, bem como a ampliação do conceito de família, não se define o vínculo de filiação pela origem genética, pois com a evolução da sociedade e a criação de novos conceitos temos outras realidades, tais como filiação social (reconhecimento jurídico de maternidade ou paternidade com base no afeto, sem que haja vinculo de sangue entre as pessoas.)53. No ponto de vista de Maria Berenice Dias: “No atual estágio da sociedade, não mais interessa a origem da filiação. Popularizaram os métodos de reprodução assistida homóloga e heteróloga, a doação de óvulos e espermatozoides, a gravidez por substituição. E isso sem falar ainda na clonagem humana. Ditos avanços ocasionaram uma reviravolta nos vínculos de filiação. A partir do momento em que se tornou possível interferir na reprodução humana, a procriação deixou de ser um fato natural para subjugar-se à vontade do homem. A identificação dos vínculos de parentalidade não pode mais ser buscada exclusivamente no campo genético, pois situações fáticas idênticas ensejam soluções substancialmente diferentes. A acessibilidade dos métodos reprodutivos permite a qualquer pessoa realizar o sonho de ter filhos. parentesco deixou de manter, necessariamente, correspondência com o vínculo consanguíneo. Basta lembrar a adoção, a fecundação heteróloga e a filiação socioafetiva. A disciplina da nova filiação há que se edificar sobre os pilares constitucionalmente fixados: a plena igualdade entre filhos, a desvinculação do estado de filho do estado civil dos pais e a doutrina da proteção integral.”54 Diante disto, podemos destacar que existem três forma de configurar o vínculo parental, sendo o primeiro o critério jurídico que está previsto no Código Civil brasileiro; outro critério é o biológico que para este o exame e DNA é necessário, e por fim o critério socioafetivo, esse último se embasa no princípio do melhor interesse da criança que falaremos a seguir, e no princípio da dignidade da pessoa humana. 53 Ministério Público do Paraná. Direito de família – filiação socioafetiva. Disponível em: http://mppr.mp.br/pagina-6666.html. Acesso em: 02 nov. 2020. 54Dias. Op. Cit., nota 1, p.658. 31 O vínculo que há entre ascendente e descendente ante a sociedade se faz a partir da certidão de registro de nascimento, disposto pelo artigo 1603 do CódigoCivil Brasileiro55. O registro civil de nascimento é um direito fundamental e uma garantia do direito de identidade, já que tal registro é o que oficializa a existência de uma pessoa. E mais, o documento é excepcional para que o indivíduo possa praticar todos os atos da vida civil. Vale pontuar que o direito de origem, nome, nacionalidade, identidade, registro civil, filiação e igualdade são inerentes a toda criança, abolindo qualquer ato de discriminação. Durante muitos anos, para que o indivíduo fosse registrado civilmente, era necessário um casal heterossexual para nomeá-lo, não sendo permitido a realização de filiação homoparental. Mas, como tudo na sociedade evoluiu, esse preceito já não faz mais parte de nossa atual realidade. 56 Em 2016 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), considerando os preceitos constitucionais de igualdade entre filhos e o amplo conceito de entidade familiar, além do princípio da afetividade e da igualdade da pessoa humana, elaborou o Provimento n. 52 de março e 201657, alterado pelo Provimento n. 63 de 201758, unificando em todo o território brasileiro o registro de nascimento e a emissão da certidão para filhos tanto de casais heteroafetivos, quanto de casais homoafetivos. Tal provimento garantiu o casal homoafetivo o direito de registrar o nascimento da criança em nome de ambos, sem distinção quanto a sua ascendência. O que ficou claro nesse posicionamento do CNJ foi que já havia sido decidido pelo Supremo Tribunal Federal em 05 de maio de 2011, no julgamento da ADPF n. 132/RJ e da ADI n. 4277/DF, no qual foi reconhecida a união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, com eficácia erga omnes e efeito vinculante para toda a Administração Pública e todos os órgão do Poder Judiciário. Com o efetivo Provimento, os oficiais registradores foram proibidos de se recusar a registrar as crianças geradas por meio da RHA, sejam eles filhos de heterossexuais, sejam eles filhos de homoafetivos. E caso o cartório vier a recusar-se, os oficiais poderão responder um 55 BRASIL. Código Civil (2002). Art. 1.603. A filiação prova-se pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> . Acesso em: 02 nov 2020. 56 GALLO, José Hiran da Silva; GRACINDO, Giselle Crosara Lettieri. Reprodução assistida, direito de todos. E o registro do filho, como proceder?. Scielo PDF. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/bioet/v24n2/1983- 8034-bioet-24-2-0250.pdf Acesso em: 04 nov. 2020. 57 CNJ. Provimento n° 52 de 14 de março de 2016. Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2514> Acesso em: 04 nov. 2020. 58 CNJ. Provimento n. 63 de 2017. Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos- normativos?documento=2525> Acesso em: 04 nov. 2020. 32 processo disciplinar perante a Corregedoria dos Tribunais de Justiça nos Estados59. A título de curiosidade, no artigo 16º, §2º, do Provimento n. 63, é descrito que: No caso de filhos de casais homoafetivos, o assento de nascimento deverá ser adequado para que constem os nomes dos ascendentes, sem referência a distinção quanto à ascendência paterna ou materna. Assim, o direito à filiação torna-se essencial à pessoa humana, que simplesmente independe da orientação sexual. Além do mais, como já vimos, o princípio do planejamento familiar permite que as pessoas se formem livres de qualquer imposição de modelos, principalmente o famoso modelo de “família tradicional brasileira”. Além do mais o ordenamento jurídico brasileiro é bem claro quando o assunto é discriminação entre os filhos, conforme bem dispõe o artigo 227, § 660, da Constituição Federal, e no artigo 1.596 do Código Civil 61. Desta forma, tornou-se juridicamente possível resguardar todos os direitos e deveres inerentes às entidades familiares, independente da forma que ela foi constituída, seja heteroafetiva ou homoafetiva. 4.5 A inexistência De Danos Aos Menores na Convivência com casais homoafetivos O assunto mais comum quando se fala em adoção por casais homoafetivos é referente a possibilidade de a orientação sexual dos pais interferir no desenvolvimento da afetividade dos filhos, como se a convivência os influenciasse a tornarem homossexuais, logo em seguida, questionam-se possíveis prejuízos decorrentes da ausência dos dois referenciais básicos – paterno e materno- na educação do adotando. E juntamente com esses, levantam-se outros, 59 CNJ. Corregedoria regulamenta registro de criança gerada por reprodução assistida. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/corregedoria-regulamenta-registro-de-crianca-gerada-por-reproducao-assistida/>. Acesso em: 05 nov. 2020. 60 BRASIL. Constituição Federal. Art. 227,§ 6º. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Disponível em: Acesso em: 7 nov. 2020. 61 BRASIL. Código Civil. Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10623105/artigo-1596-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 > Acesso em: 07 nov. 2020. 33 encarregado de preconceito sobre a estrutura psíquica da criança ou do adolescente na sua vida social.62 A respeito disso, segundo Jamilly Steffane Liberato da Costa: As pesquisas cientificas comprovam que não há prejuízo, de ordem psicológica ou educacional, para o infante que é criado por dois pais ou duas mães. Logo, falta amparo científico para afirmar que a ausência de referencial masculino ou feminino o impossibilita de se desenvolver de modo saudável, uma vez que o papel materno e paterno é cumprido independente do sexo da pessoa que o desempenha.63 Acerca do tema o Dr. Drauzio Varella expõe seu ponto de vista : sempre existiram maiorias de homens e mulheres heterossexuais e uma minoria de homossexuais. O espectro da sexualidade humana é amplo e de alta complexidade, no entanto, vai dos heterossexuais empedernidos, aos que não têm o mínimo interesse pelo sexo oposto. Como o presente não nos faz crer que essa ordem natural vá se modificar, por que é tão difícil aceitarmos a biodiversidade sexual da nossa espécie? Por que insistirmos no preconceito contra um fato biológico, inerente à condição humana? Em contraposição ao comportamento adotado em sociedade, a sexualidade humana não é questão de opção individual, como muitos gostariam que fosse. Ela simplesmente se impõe a cada um de nós. Simplesmente é! Sobre o tema a Psicóloga e Psicanalista Maria Antonieta relata que as evidências que, no campo as psicologia e psicanálise, uma pessoa ou casal homossexual detém a mesma aptidão para o desempenho da parentalidade, em nada influenciando a orientação sexual no comportamento dos filhos adotados. 64 Dentro da psicanálise a adoção homoparental quanto ao exercício da maternidade e paternidade, Sérgio Laia afirma que tais exercícios não correspondem necessariamente a uma mulher e a um homem, pois a correspondência dessas funções com a sexualidade de quem responde por cada uma delas processa-se por contingência. Na pluraridade das soluções da constituição subjetiva de uma criança, não há uma norma universal para a “criação correta” de crianças, erros e acertos podem acontecer tanto numa família constituía tradicionalmente por seus pais biológicos quanto em “famílias substitutas”. 65 62CRISTO, Isabella. Adoção por casais homoafetivos e o melhor interesse da criança. Disponível em: <https://www.ibdfam.org.br/artigos/1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melhor+interesse+da+crian%C3%A7a>. Acesso em: 08 nov. 2020. 63 COSTA, Jamilly Steffane Liberato da et al. Adoção homoparental conjunta: famílias socioafetivas e a concretização do melhor interesse da criança e do adolescente. Revista dos Tribunais. Vol. 957. Ano 104. p.104. São Paulo: Ed. RT, jul. 2015. 64 MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Homoparentalidade e superação de preconceitos. Revista Jurídica Consulex, n. 123, p. 29-30, 01 de jul. de 2010. 65 LAIA, Sergio. A adoção por pessoas homossexuais e em casamentos homoafetivos: uma perspectiva psicanalítica. In: Adoção: um direito de todos e todas. Cartilha do Conselho Federal de Psicologia (CFP). - Brasília, CFP, 2008.p. 34 34 Sendo assim, a ideia de que para o crescimento saudável de uma criança é necessário a estruturação pai e mãe para que a criança cresça tendo contato com funções de normalização e atenção, sendo certo que tudo isso são meras atribuições de gênero impostas pela sociedade. Já no que diz respeito a adoção, ela não pode estar relacionada à orientação sexual ou à realidade familiar do adotante, sob pena de infringir-se o mais sagrado cânone do respeito à dignidade humana, que se sintetiza no princípio da igualdade e na vedação de tratamento discriminatório de qualquer ordem. 66 A dificuldade em deferir adoções exclusivamente pela orientação sexual ou identidade de gênero dos pretendentes acaba impedindo que expressivo número de crianças sejam subtraídas da marginalidade. Imperioso arrostar nossa realidade social, com um enorme contingente de menores abandonados ou em situação irregular, quando poderiam ter uma vida cercada de carinho, afeto e atenção.67 Desta forma, mediante a inexistência de danos as crianças adotadas por casais homoafetivos, é que se deve buscar o seu melhor interesse, em observância ao artigo 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual dispõe que “a adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos”68. Uma vez que são as crianças e adolescentes que precisam ter sua tutela priorizada sobre os demais. O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente foi incorporado ao direito brasileiro e tornou-se mais conhecido a partir do advento da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), embora não conste expressamente nestes diplomas legais. Se encaixa num “quadro” maior e mais complexo, denominado de Doutrina da Proteção Integral (art. 1º do ECA) que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, originário da Convenção Internacional dos Direitos da Criança.69 Segundo Guilherme Calmon Nogueira da Gama 70, o princípio do melhor interessa da criança representa grandes mudanças nas relações paterno-materno-filiais em que o filho deixa de ser considerado objeto para ser a pessoa merecedora de tutela do ordenamento jurídico, mas com absoluta prioridade comparativamente aos demais membros de sua família. 66 CRISTO. Op. cit., nota 61. 67 DIAS, Maria Berenice. A adoção homoafetiva. Disponível em <http://www.mariaberenice.com.br> Acesso em: 11 nov. 2020. 68 DEUS, Enézio de. Adoção homoafetiva e inconstitucionalidade. Instituto Brasileiro de Direito de Família, 06 de março de 2009. Disponível em: <http://ibdfam.org.br/artigos/491/Ado%C3%A 7%C3%A3o+Homoafetiva+e+Inconstitucionalidade>. Acesso em: 11 nov. 2020. 69CRISTO. Op. cit., nota 61. 70 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A nova filiação: o biodireito e as relações parentais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 456-467. 35 A Constituição Federal em seu artigo 227, traz diversos direitos fundamentais da criança e do adolescente, e suas disposições passaram a ser levadas como princípios de direito. Ele é conhecido como o preceito-síntese da referida Doutrina da Proteção Integral, pela qual, crianças e adolescentes também são dotadas de cidadania e o Estado deve tomar todas as medidas necessárias à sua proteção, mantendo-as a salvo de toda e qualquer forma de violência, negligência, maus tratos físicos ou mentais, abandono ou exploração de qualquer espécie, e responsabilizando aqueles que praticarem tais atos.71 Segundo essa doutrina, o princípio do melhor interesse da criança deve ser interpretado de forma ampla, não admitindo qualquer elemento discriminatório, seja cor, raça, sexo, nacionalidade, religião, origem social ou qualquer outra. Por fim, conclui-se que o princípio do melhor interesse do menor deve ser posto como base para que as questões jurídicas relacionadas à criança e ao adolescente no que diz respeito a adoção homoparental sejam solucionadas. Levando-se em conta os estudos realizados por experts que aqui foram apresentados, inexiste danos de qualquer ordem que o adotado possa a vir sofrer. 71 CRISTO. Op. cit., nota 61. 36 CONCLUSÃO O presente trabalho teve por objetivo analisar a conquista dos direitos à reprodução assistida por casais homoafetivos para a concretização do projeto parental, com enfoque na importância do reconhecimento do direito à filiação homoparental. A evolução da sociedade possibilitou o avanço na política ao expandir o conceito de família, criando assim o Direito das Famílias, que não mais se limita ao modelo patriarcal e matrimonial, sendo fundado, também na afetividade para que seja dado o reconhecimento aos laços de parentesco e aos direitos de filiação. A Constituição Federal de 1988 ter sido extremamente importante nessa transformação e ampliação no conceito de entidade familiar colocando como premissa a proteção à dignidade da pessoa humana, bem como proteção o direito à liberdade, igualdade e segurança. Com a constitucionalização desses direitos, houve a possibilidade de analisar os direitos reprodutivos dos homossexuais, buscando garantir ainda mais o exercício e proteção de seus direitos, independente de gênero e de orientação sexual. Desta forma, o Supremo Tribunal Federal , através dos julgados reconheceu, definitivamente a relação homoafetiva como unidade familiar, através dos julgados da ADI nº 4277 e da ADPF nº 132, possibilitando a formalização da união entre pessoas do mesmo sexo. Após essa regularização juntamente com a procura dos casais homoafetivos em concretizar seu projeto parental, o Conselho Federal de Medicina que cuidava dos procedimentos de reprodução assistida emitiu a Resolução n 2.283/2020 que permitia de forma expressa o acesso desses casais, sejam gays ou lésbicas e os transgêneros às técnicas de reprodução assistida. É fato que a luta dos casais homoafetivos por igualdade, não parou por aí, após a conquista do direito à reprodução assistida um dos assuntos mais comentados foram os danos que uma criança advinda tanto de uma reprodução assistida quanto de uma adoção poderia vir caso fossem criadas por casais homoafetivos. Sobre isso foram realizadas diversas pesquisas científicas que comprovaram que inexiste prejuízo seja ela psicológica, seja ela educacional. É pacífico o entendimento de que o convívio da criança com pais homossexuais não coloca em risco o seu desenvolvimento saudável. 37 BIBLIOGRAFIA Araujo AP, Oliveira CA, Germano EL, Santos TAS. O pluralismo familiar e a liberdade de constituição de uma comunhão da vida familiar. Judicare. 2016. BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 132. BRASIL, LEI 8.917/94 Regula o direito dos companheiros a alimentos e à sucessão. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 29 de dezembro de 1994. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8971.htm. BRASIL. Código Civil (2002). Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. BRASIL. Conselho Federal De Medicina. Reprodução
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