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Ficha 06 – Tecnologia de Carnes e Derivados A definição fornecida pelo RISPOA sobre carnes de açougue são as massas musculares maturadas e demais tecidos que as acompanham, incluindo ou não a base óssea correspondente, procedente de animais abatidos sob inspeção veterinária oficial. O Brasil é um país que produz e exporta muita carne bovina, com estimativas que indicam sermos o principal exportador mundial. As carnes em geral são compostas por água, proteína, gordura, substâncias insolúveis (como colágeno, elastina e reticulina) e substâncias nitrogenadas não- proteicas (como aminoácidos livres, peptídeos, nucleotídeos e creatina). A porcentagem desses elementos depende do tipo de corte e de como o cultivo foi feito, com a influência de parâmetros como atividades físicas do gado, ração dada e outros. O processamento dessa carne pode ser feito de diversas maneiras, como curar, defumar, enlatar, cozinhar, congelar, desidratar, produzir derivados com umidade intermediária e usar aditivos como produtos químicos ou enzimas. Processos simples como moer, cortar e misturar não são considerados. ► Abate do Gado: Todos os animais devem apresentar os documentos de sanidade, em que os animais são recebidos e acomodados nos currais para que realizam as etapas de repouso, jejum e dieta hídrica, feitos em 24 horas segundo o RISPOA. Após essas etapas, os animais passam por um banho de aspersão, chegando ao box de insensibilização. ● Repouso e Dieta Hídrica: Os animais ficam por, no mínimo, 24 horas em repouso antes do abate. Aqui, temos o objetivo de reduzir o conteúdo ruminal para facilitar a evisceração da carcaça e reestabelecer as reservas de glicogênio muscular, que foram reduzidas pelo estresse da viagem. ● Banho de Aspersão: É realizada com água hiperclorada com fungistático e sob pressão de 3 atmosferas, eliminando sujidades visíveis e reduzindo a disseminação de contaminantes para a sala de abate, principalmente no momento da esfola. ● Atordoamento: Também chamado de insensibilização, é considerado a primeira operação do abate. Refere-se ao processo de concussão cerebral, visando facilitar a sangria e evitar lesão do bulbo, impedindo a paralisação do coração e dos pulmões. Nos bovinos, é feito com pistola pneumática de forma rápida para não causar sofrimento ao animal. ● Sangria: É realizada com a abertura sagital da barbela e secção da aorta anterior no início das artérias carótidas e final das veias jugulares. O objetivo é retirar a maior quantidade de sangue possível da intimidade das massas e órgãos, obtendo melhor coloração da carne e aumento do tempo de meia-vida útil. O sangue é recolhido pela canaleta de sangria. ● Estimulação Elétrica: É feita para acelerar a glicose, gerando declínio do pH muscular para 6,0 nas 3 primeiras horas. Isso aumenta a maciez em até 35%, fragmentando miofibrilas. ● Esfola: Começam pela desarticulação de uma das patas, retirando a pele da parte externa e arrancando por tração física. É feito de forma simultânea na região dos dianteiros e dos traseiros, feito por operários devidamente capacitados. ● Evisceração: É o início da parte limpa da esteira. É realizada pela abertura da cavidade torácica, abdominal e pélvica, com posterior retirada de vísceras (que são embaladas e comercializadas). A carcaça é dividida em duas metades, com a retirada de gânglios, gordura, pelos e outros. A carne não pode esfriar nesta etapa! ● Lavagem de Meia-Carcaça: O objetivo deste processamento é eliminar esquírolas ósseas, sangue e coágulos, lavando as meias-carcaças de forma manual com jatos de água tratada com temperatura em torno de 38 ºC e sob pressão de 3 atmosferas. ● Resfriamento das Meias-Carcaças: São levadas para câmaras de resfriamento, onde permanecem por, no mínimo, 24 horas a uma temperatura controlada de 2 ºC, visando a perda de calor sensível. É neste período que ocorrem todas as reações bioquímicas para a transformação do músculo em carne e o declínio do pH. ● Quarteamento: Depois do resfriamento, as carcaças são divididas em traseiro, dianteiro e ponta de agulha na sala de desossa. Os quartos são acondicionados em trilhos dentro das câmaras pulmão sob temperatura em torno de 5 ºC para serem enviados posteriormente para a desossa ou expedição. ► Abate Halal: É um abate religioso em que o profissional deve ser capacitado técnica e religiosamente para garantir que o animal não sofra e seja viável para consumo mussumano. Veja: ► Abate Kosher: Também é um abate religioso, porém com foco para as leis religiosas judaicas. ► Alterações Post-Mortem do Músculo: Depois da eutanásia do animal, temos falha da circulação sanguínea provocada pela sangria, interrompendo o oxigênio e nutrientes e quebrando o sistema de eliminação dos produtos resultantes do metabolismo celular. Essa quebra provoca alterações químicas e físicas, transformando o músculo em carne. A fibra muscular modifica seu metabolismo para manter sua taxa de ATP suficiente para realizar suas funções vitais, mesmo no Post-Mortem. Com a falta de oxigênio e Nutrientes, a única fonte de ATP se torna o metabolismo anaeróbico do glicogênio, promovendo: ✓ Queda da taxa de ATP e a contração da actina-miosina; ✓ Acúmulo de ácido láctico; ✓ Queda do pH da fibra muscular. No início do abate, o pH do músculo de animal varia de 7,0 a 7,3, que varia após a sua transformação em 24 horas para pH de 5,5. A temperatura influencia na velocidade de glicólise post-mortem, em que temperatura mais elevadas aceleram a queda de pH, gerando defeitos na carne. Os defeitos são: ✓ Dry Firm and Dark (DFD): O animal foi abatido enquanto estava estressado, sem repor o glicogênio para glicólise e, consequentemente, não reduzindo o pH. Gera uma carne dura e escura. ✓ Pale Soft and Exudative (PSE): Consiste na diminuição muito brusca do pH na primeira hora após o abate, gerado provavelmente pela produção de ácido láctico antes mesmo do abate. As mudanças físicas que podem ocorrer são: ✓ Rigidez Cadavérica: Gerada pela contração do sarcômero encurtado e relaxamento do sarcômero estendido, mediados pelo cálcio. ✓ Cold Shortning: Neste caso, submetemos a carcaça a temperaturas muito baixas antes do Rigor Mortes, paralisando a bomba de cálcio e promovendo o acúmulo de cálcio no sarcômero e, consequentemente, uma contração muito forte que leva ao encurtamento da fibra em até 50%, gerando uma carne dura. Por fim, temos o processo de maturação, que é a transformação do músculo em carne propriamente dita. Esta etapa determina o relaxamento lento do músculo, provocando o seu amolecimento após pelo menos 15 dias (se armazenados sob refrigeração). O cálcio associado ao baixo pH ativa as proteinases endógenas (catepsinas e calpainas), que degradam miosina e actina. ● Capacidade de Retenção de Água (CRA): A carne possui uma aptidão em reter água de forma total ou parcial. A água pode ter origem própria ou aplicada durante forças externas (compressão, impacto e cisalhamento) ou ao longo de um determinado processo (maturação, cozimento e congelamento). A retenção de água também afeta a qualidade da cor, textura, firmeza, maciez e suculência da carne e pode ser afetado pelo pH, sal, temperatura, quelantes e fosfatos. ▪ Influência da Cor: É a primeira característica sensorial e está associada ao tempo de armazenamento, vida útil, dureza e suculência. A carne possui dois pigmentos principais, que são a hemoglobina e a mioglobina (hemoglobina é perdida na sangria). Aspectos como idade, sexo, atividade física e músculo afetam a cor da carne, que idealmente é vermelho brilhante. ► Produtos Cárneos: São produtos alimentícios total ou parcialmente produzidos com carnes, miúdos ou subprodutos comestíveis procedentes dos animais de abate. ● Cura de Carnes: Consiste na conservação doproduto por um período mais longo, evitando a contaminação por Clostridium botulinum. Para isso, adicionamos alguns ingredientes: 1. Coreto de sódio: É um agente desidratante, que inibe o crescimento microbiano e realiza a extração das proteínas miofibrilares. É um agente essencial de sabor e, se utilizado isoladamente, pode resultar em um produto seco, de textura inadequada e muito salgado. Oxida a mioglobina gerando cor indesejada, que geralmente é evitado com a adição de açúcar. 2. Açúcar: Melhora o sabor, equilibra o efeito picante do sal e ajuda a reduzir a perda excessiva de umidade causada pelo sal. Pode ser substituído por xarope de milho, xarope de glicose, mel e outros. 3. Nitratos e Nitritos: Inibe o crescimento de patógenos (principalmente o Clostridium botulinum), estabiliza a cor dos produtos curados, retarda a rancificação oxidativa e desenvolve sabor. Seu mecanismo de ação é dado pela redução de nitrato a nitrito, que interage com a água e forma o ácido nitroso, que por sua vez possui efeito antimicrobiano e fixador de cor. Apesar de parecer tudo maravilhoso, são bastante tóxicos em excesso. O nitrito se liga à hemoglobina, reduzindo a eficiência no transporte de oxigênio sanguíneo e causando cianose, fadiga, dispneia, cefaleia e morte. Os nitritos também podem reagir com aminas secundárias formando nitrosaminas, que são cancerígenas e mutagênicas. 4. Ascorbato de Sódio: São usados como coadjuvantes de cura, melhorando a cor da carne por potencializar o efeito dos nitritos. Também bloqueiam a formação de N-nitrosaminas e protegem contra a rancificação de gorduras em carnes picadas. 5. Fosfatos: Aumentam a capacidade de reter água do alimento, melhorando o rendimento, a suculência do alimento, a propriedade de fatiamento e a liga entre as peças do músculo. É proibido colocar fosfato em carcaças porque aumenta a quantidade de água da carcaça. 6. Extensores: São úteis em produtos cárneos diversos, como presunto, mortadela, linguiça e outros. Dão características como: ✓ Volume da formulação; ✓ Evita coalescência da gordura; ✓ Melhora o rendimento na cocção; ✓ Substituto de gordura; ✓ Reduz os custos em formulações. Podem ser proteicos, como proteína de soja, de leite, glúten e albumina, ou de fonte de carboidratos, como gomas, pectina, amidos modificados e derivados de celulose. ● Moagem e Mistura: A moagem consiste na subdivisão da matéria-prima em partículas, proporcionando melhor homogeneização do produto final e maior exposição das proteínas. A carne sofre esse processo antes do embutimento, realizado no equipamento Cutter ou misturador horizontal com braços helicoidais. ● Cozimento: Causa alterações físicas evidentes por conta da coagulação das proteínas na superfície da carne, como a mudança da cor vermelha para cinza ou marrom acinzentado. ● Emulsão: Refere-se a um sistema de duas fases, com a fase dispersa formada por partículas de gordura sólida ou líquida e a fase continua formada por água que contém proteínas solúveis suspensas, formando uma matriz que encapsula os glóbulos de gordura. ● Pasteurização: Inativa as enzimas e destrói os microrganismos sensíveis a temperaturas mais elevadas sem modificar o valor nutritivo e as características sensoriais do alimento, aumentando o tempo de prateleira. ● Fermentação: Utiliza o crescimento controlado de microrganismos selecionados, modificando textura, sabor, aroma e propriedades nutricionais. São adicionadas fontes de açúcares que servem como substrato para essas bactérias, que liberam ácido e outros compostos. ● Secagem ou Desidratação: Deve ser efetuada cuidadosa e uniformemente, retirando o máximo de água para evitar a deterioração rápida do alimento. ● Defumação: Consiste na aplicação de fumaça produzida por combustão incompleta de algumas madeiras com a finalidade de conferir aroma, sabor e cor característicos, além de prolongar a vida útil. O contato com o calor e a fumaça faz com que a superfície fique ressecada e a coloração seja estabilizada, também criando barreiras físicas e químicas eficientes contra a penetração e atividade de microrganismos. ● Apertização: Aplicação de processo térmico a um alimento em uma embalagem hermética, resistente ao calor, em temperatura e tempos definidos cientificamente para atingir esterilização comercial. ► Produtos Cárneos ● Produtos Cárneos Frescos: São elaborados à base de carne com ou sem gordura, acrescidas ou não de condimentos, especiarias e aditivos e que não são submetidas a tratamento de dessecação, cocção ou salga. Podem ser embutidos ou não. Exemplo: Hamburgueres, bacon, pasteis, tortas e outros. Devem ser mantidos sob refrigeração. ● Produtos Cárneos Crus Condimentados: São produtos elaborados com peças de carne inteira ou pedaços identificáveis submetidos à ação do sal, especiarias e condimentos. Não são submetidos a tratamento térmico. Exemplo: Espetinhos e lombo suíno. Devem ser mantidos sob refrigeração. ● Produtos Cárneos Tratados pelo Calor: São elaborados a base de carne e/ou miúdos comestíveis acrescidos de especiarias e condimentos, submetidos à ação do calor que alcança seu interior a temperatura suficiente para conseguir a coagulação total das proteínas. O tratamento térmico promove a coagulação total das proteínas, ligação da massa, desenvolvimento das características sensoriais desejadas, inativação de enzimas cárneas e a destruição de microrganismos não esporulados. Exemplos: Mortadela, salsichas e presunto cozido. ● Embutidos Crus Curados: Feitos ao cortar em pedaços e picando carnes e gorduras com ou sem miúdos, não são incorporados especiarias, aditivos e condimentos, submetendo-os ao processo de maturação e, opcionalmente, defumação. São produtos que possuem fermentação microbiana, que leva ao acúmulo de ácido láctico e, consequentemente, decréscimo de pH. Exemplos: Salame e linguiça frescal. ● Produtos Cárneos Salgados: Carnes e produtos de retaliação são submetidos à ação do sal comum e demais ingredientes da salga, em forma sólida ou em salmoura, garantindo sua conservação pela redução da atividade de água. Podem ser temperados, secos ou defumados. Exemplos: Presunto serrano, presunto parma e charque. ● Subprodutos Cárneos: ✓ Couro; ✓ Sangue; ✓ Vísceras; ✓ Cabeça e fâneros; ✓ Gordura ou banha.
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