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Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade Acadêmica de Ciências Tecnológicas Curso de Graduação em Engenharia Química Disciplina de Laboratório de Fenômenos e Operações de Transferência de Calor Professora: Camila da Silva Gonçalves SECAGEM DE SÓLIDOS Júlia Goedert1, Morgane Mensch 1, Manoella Neves Pereira 1. 1Curso de Engenharia Química. Universidade do Sul de Santa Catarina. Palavras Chave: Secagem, calor, sólidos. Introdução Energia térmica é a fração da energia interna de um corpo que pode ser transferida devido a uma diferença de temperaturas. Esta fração é composta pelas formas de energia microscópicas, energia sensível e energia latente. Por exemplo, um corpo colocado num meio a uma temperatura diferente da que possui, recebe ou perde energia, aumentando ou diminuindo a sua energia térmica (ou interna, armazenada). Esta energia térmica transferida “para o” ou “do” corpo é designada por “calor” e o processo é designado por transferência de calor (FERREIRA et al., 2018). Operações de desidratação e secagem são processos importantes nas indústrias químicas e de alimentos, no armazenamento de grãos e outros tipos de produtos biológicos, uma vez que, durante a secagem desses, podem ocorrer variações nas características físicas, químicas e biológicas nos sólidos que secam. Devido a isso, torna-se importante o conhecimento dos efeitos da secagem sobre as propriedades químicas e biológicas dos sólidos, uma vez que essas afetam sensivelmente os fenômenos de transferência de calor e de massa (LIMA et al., 2003). A operação de secagem é utilizada para facilitar o carregamento, descarregamento, transporte pneumático. Utilizada também para reduzir os custos de transporte de matérias primas, aumentar a vida de prateleira do produto ou para simplesmente cumprir especificações no que diz a respeito de uma matéria-prima ou de um produto (LINDEMANN & SCHMIDT, 2010). A secagem é a remoção de uma substância volátil (geralmente água) de um produto sólido. E a quantidade de água presente no sólido é chamada de umidade (PARK, et al., 2007). A secagem de um sólido úmido, é feita mediante passagem de uma corrente de ar atmosférico aquecido pelo mesmo a uma temperatura e umidade fixas (FOUST, 1982). Dessa forma, de acordo com PARK, et al. (2007), observa-se que dois fenômenos ocorrem simultaneamente quando um sólido úmido é submetido à secagem: Transferência de calor do ambiente para evaporar a umidade superficial. Esta transferência depende de condições externas de temperatura, umidade do ar, fluxo e direção de ar, área de exposição do sólido (forma física) e pressão. Transferência de massa (umidade) do interior para a superfície do material e sua subsequente evaporação devido ao primeiro processo. O movimento interno da umidade no material sólido é função da natureza física do sólido, sua temperatura e conteúdo de umidade. De acordo com FOUST (1982), os sólidos, em geral, possuem uma curva de secagem bem definida, decrescente ao longo do período da secagem, como o demonstrado na Figura 1. E outra curva, que representa a taxa de secagem do produto em relação ao tempo, demonstrado pela Figura 2. http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?option=com_content&task=view&id=205&Itemid=370#eq2 http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?option=com_content&task=view&id=205&Itemid=370#eq2 http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?option=com_content&task=view&id=205&Itemid=370#fig8 Figura 1 – Curva de secagem umidade vs tempo Fonte: FOUST, 1982. Figura 2 – Curva de taxa de secagem vs umidade Fonte: FOUST, 1982. Na Figura 2, o segmento AB corresponde ao período em que o sólido se adapta às condições de secagem, e sua velocidade atinge um valor constante, essa igualdade se mantém durante o segmento BC. O ponto C corresponde ao fim do período de secagem constante, e a umidade, nesse ponto, é conhecida como umidade crítica. No segmento CD, cada vez menos líquido está na superfície do sólido para evaporar, e se torna cada vez mais seco. Do ponto D em diante, tem-se o segundo período de velocidade decrescente, em que a umidade diminui até alcançar a umidade de equilíbrio para as condições de temperatura e umidade relativa do ar. Quando a umidade de equilíbrio (teor mínimo de umidade) é atingida, cessa-se o processo de secagem (CELESTINO, 2010). A umidade de equilíbrio é atingida quando o sólido é deixado por tempo suficientemente longo em determinada condição de temperatura e umidade relativa do ar (CELESTINO, 2010). Para o cálculo da umidade em base seca (X), utiliza-se Equação 1. 𝑋 = 𝑚á𝑔𝑢𝑎 𝑚𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑜 (Equação 1) Onde: m água – massa de água (g) m sólido seco – massa do sólido seco (g) Para o cálculo da taxa de secagem, utiliza-se a Equação 2. 𝑁𝑐 = Á𝑔𝑢𝑎_𝑒𝑣𝑎𝑝 ∆𝑡 .𝐴 (Equação 2) Onde: Nc – taxa de secagem (g/min.m²) Água_evap – Água evaporada (g) ∆t – intervalo de tempo (min) A – área de transferência (m²) O coeficiente convectivo de transferência de massa experimental pode ser calculado através da Equação 3 e o de calor a partir da Equação 4. 𝑁𝑐 = 𝐾𝑦 . (𝑦𝑠 − 𝑦) (Equação 3) Onde: Nc – taxa de secagem (g/min.m²) Ky – coeficiente convectivo de transferência de massa (mol/m².s) ys – umidade de saturação do ar y – umidade do ar nas condições do experimento 𝐶𝑠 = ℎ 𝑀𝐵 . 𝐾𝑦 (Equação 4) Onde: Cs – calor específico (J/g.K) h – coeficiente de transferência de calor (W/m².K) MB = peso molecular do ar seco (g/gmol) Ky – coeficiente convectivo de transferência de massa (mol/m².s) Para a determinação umidade de saturação do ar utiliza-se a carta psicrométrica. Para o valor de taxa de secagem utiliza-se a média entre os pontos do gráfico A, B, C e D. A umidade do ar (y) é representada pela Equação 5. 𝑦 = 0,622 . ( 𝛼 𝑃𝑎𝑡𝑚− 𝛼 ) (Equação 5) Sendo que: 𝛼 = exp {60,43 − [ 6834,27 (𝑇𝑏𝑢 + 273,15) ] − 5,17. 𝐿𝑛(𝑇𝑏𝑢 + 273,15)} − 0,2. (𝑇𝑏𝑠 − 𝑇𝑏𝑢). (𝑇𝑏𝑠 + 273,15) Onde: Patm – pressão atmosférica local (Pa) Tbs – temperatura do bulbo seco do ar (ºC) Tbu – temperatura do bulbo úmido do ar (ºC) Para a determinação dos coeficientes convectivos de transferência de massa e calor teóricos, utiliza-se a Equação 6. E para a determinação do tempo de secagem, utiliza-se a Equação 7. 𝑀𝑠𝑠.(𝑋𝑐−𝑋) 𝐴.𝜃 = ℎ.(𝑇−𝑇𝑤) λ = 𝐾𝑦. 𝑀𝐵 . (𝑊𝑊 − 𝑊) (Equação 6) 𝜃 = 𝑀𝑠𝑠.(𝑋−𝑋𝑐) 𝐴.𝑁𝑐 (Equação 7) Onde: 𝜃 – tempo de secagem (min) Mss – massa do sólido seco (g) X – umidade inicial Xc – umidade crítica A – área de transferência (m²) h – coeficiente de transferência de calor (W/m².K) T- temperatura do gás de secagem (K) Tw – temperatura do bulbo úmido (K) λ – calor de vaporização (J/g) Ky – coeficiente de transferência de massa (mol/m².s) MB – massa molecular do ar (g/gmol) Ww – umidade de saturação do ar W – umidade do ar nas condições do experimento Tem-se como objetivo a determinação das curvas típicas de secagem e dos coeficientes convectivos de transferência de calor e massa experimental e teórico. Metodologia O experimento foi realizado no Laboratório de termodinâmica da Universidade do sul de Santa Catarina (UNISUL). Pararealização do mesmo, utilizou-se um secador composto, basicamente, por: ventilador, psicrômetro, medidor de vazão (placa de orifício) ligado a um manômetro diferencial contendo água destilada colorida como fluido manométrico, aquecedores (resistências elétricas), câmara (túnel) de secagem, suporte para pendurar o corpo de prova ou bandeja, termopares ligados a um Indicador de temperatura e balança semi-analítica. O material a ser submetido ao processo de secagem foi areia. Ao ligar a chave geral e o soprador, regulou- se a vazão do ar se secagem no túnel de vento, cujo diâmetro é de 200mm e onde foi colocado o corpo de prova, em seguida, regulou-se a temperatura do ar de secagem para 65ºC, ligou-se o aquecimento e quando a temperatura se estabilizou, inseriu-se a bandeja com a amostra. Assim, anotou-se a massa inicial. Realizou-se a leitura de massa com intervalo de 10 em 10 minutos, afim de anotar a variação de massa em função do tempo. Após o término da leitura, deixou-se a amostra em estufa pelo período de 24 horas, afim de obter a massa de matéria seca. Resultados e Discussões A partir do módulo experimental, obtiveram- se as massas da amostra no intervalo de tempo de 10 minutos e as temperatura de bulbo seco e úmido. Os dados estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Dados obtidos no módulo experimental Tempo (min) Massa amostra (g) Temp. bulbo S. (ºC) Temp. bulbo u. (ºC) 0 425,44 24,90 22,60 10 419,65 24,90 22,60 20 404,58 25,00 22,70 30 392,20 25,20 22,80 40 378,70 25,20 22,90 50 364,20 25,30 22,90 60 353,99 25,40 23,00 70 352,65 25,40 23,10 80 352,19 25,50 23,10 90 352,18 Média Média ∞ 351,98 25,20 22,86 Fonte: Autores, 2018. De acordo com os dados experimentais, calculou-se a massa de água evaporada, a umidade em base seca (Equação 1) e a taxa de secagem (Equação 2). Os resultados encontram-se na Tabela 2. Tabela 2. Umidade e taxa de secagem Tempo (min) Agua evap. (g) X (ma/mss) Nc (g/(min*m²) 0 0,00 0,21 0,00 10 5,79 0,19 18,09 20 15,07 0,15 47,09 30 12,38 0,11 38,69 40 13,50 0,08 42,19 50 14,50 0,03 45,31 60 10,21 0,01 31,91 70 1,34 0,002 4,19 80 0,46 0,001 1,44 90 0,01 0,001 0,03 ∞ 0,00 0,00 0,00 Fonte: Autores, 2018. Assim, com a variação de massa da umidade em função do tempo determinou-se a curva de secagem, demonstrada na Figura 3. E com a variação da taxa de secagem em função do tempo, obteve-se outra curva de secagem, apresentada na Figura 4. Figura 3 – Curva de secagem Umidade vs Tempo Fonte: Autores, 2018. Figura 4 – Curva de secagem Umidade vs Tempo Fonte: Autores, 2018. A partir da análise do gráficos, nota-se que no trecho AB, a temperatura do sólido é menor que a temperatura ambiente. Então, o calor transferido do ar para o sólido é maior do que o calor retirado do sólido para a evaporação da água. No trecho BC, tem-se um período de taxa constante, ou seja, a temperatura do sólido é igual a temperatura do ambiente, logo, a velocidade de secagem deveria se apresentar sem inalterações com a diminuição do teor de umidade. Porém, de acordo com FOUST (1982), a temperatura do sólido e a velocidade de secagem podem aumentar ou diminuir para chegarem às condições de regime permanente. No trecho CD, tem-se um período de taxa decrescente. Este período se iniciou quando a umidade do sólido atingiu o seu valor crítico. No trecho DE continuou o período decrescente e a taxa de secagem caiu rapidamente. Assim, de acordo com os dados, determinou- se os coeficiente convectivos de transferência de calor e de massa experimentais, seguindo as 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0 20 40 60 80 100 U m id ad e Tempo (min) A B C D E 0 10 20 30 40 50 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 ta xa d e se ca ge m umidade A C D B E Equações 3 e 4, respectivamente. E os coeficiente convectivos de transferência de calor e de massa teóricos, forem calculados segundo a Equação 6. A Tabela 3, apresenta os resultados encontrados, e o erro experimental obtido. Tabela 3 – Coeficiente convectivo de transferência de calor e massa experimental e teórico Exp. Teórico Erro (%) h (W/m²K) 415,13 1908,71 78,25 Ky (mol/s.m²) 14,27 0,71 95,02 Fonte: Autores, 2018. De acordo com os dados obtidos na Tabela 3, pôde-se observar que a diferença entra o h teórico e o experimental foi de 78,25%. E a diferença entre o Ky teórico e experimental foi de 95,02%. Como a equação de coeficiente convectivo de transferência de calor e massa teórico é denominada empírica, ou seja, desenvolvida experimentalmente, o h experimental é dito mais confiável que o teórico. Caso o h experimental não consiga ser definido, é recorrido ao h teórico para os cálculos e análise de resultados. Conclusão Após a determinação das curvas típicas de secagem e dos coeficientes convectivos de transferência de calor e massa experimental e teórico, percebeu-se que o h teórico apresentou valor maior do que o obtido experimentalmente, e que o Ky teórico apresentou valor menor do que o obtido experimentalmente. Isso pode estar correlacionado com a falta de calibração do equipamento de secagem na utilização do mesmo, a fatores climáticos, como tempo úmido no dia da realização da prática, a imperícia dos experimentadores, entre outros. Deve-se ressaltar que o erro obtido pode ser considerado aceitável, visto que a equação do h experimental é calculado de maneira empírica, sendo mais fundamentado do que o h teórico. Referências Bibliográficas CELESTINO, S. M. C. Princípios de Secagem de Alimentos. Planaltina, DF: Embrapa, 2010. FERREIRA, A.; BERNARDO, F. P.; GRANJO, J.; FERREIRA, L.; CARVALHO, M. G; RASTEIRO, M. G. Separações e Operações Unitárias. Universidade de Coimbra: Portugal, 2018. Disponível em: <http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?optio n=com_content&task=view&id=248&Itemid=422 >. Acesso em: 10/10/2018. FOUST, A.S. Princípios das Operações Unitárias. 2ª Ed, Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Dois, 1982. LIMA, L. A.; SILVA, J. B; LIMA, A. G. B. Transferência De Calor E Massa Durante A Secagem De Sólidos Com Forma Arbitrária: Uma Abordagem Concentrada. Jaboticabal, PB: UFPB, 2003. LINDEMANN, C; SCHMIDT, V.W. Relatório de Laboratório de Operações Unitárias: Secagem em leite de jorro. Rio Grande, Curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande, 2010. PARK, K.J.; ANTONIO, G.C.; OLIVEIRA, R.A.; PARK, K.J.B. Apostila de conceitos de processo e equipamentos de secagem, Campinas, CT&EA – Centro de Tecnologia e Engenharia Agroindustrial, 2007.
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