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Direitos Humanos - Tema 02 - Modulo 02 - Os argumentos teóricos e as críticas aos Direitos Humanos

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Direitos Humanos
Tema 02: Modulo 02: Os argumentos teóricos e as críticas aos Direitos Humanos
Fundamentação e reconstrução de Direitos Humanos
Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que eles são frutos de um processo histórico que combinou ideias, pensamentos e necessidades de muitos momentos e grupos. 
Atualmente, rejeitamos as ideias de um rei com todo o poder concentrado em suas mãos e de umas sociedades que define nosso lugar social desde o nascimento sem chances de definirmos nossas próprias vidas, mas nem sempre foi assim. 
Para que direitos como a limitação de poder e o princípio de igualdade se efetivassem como tratados ou leis, foi preciso construir uma grande argumentação teórica baseada em tradicionais correntes jurídicas filosóficas.
Os Direitos Humanos podem ser justificados por, pelo menos, três correntes filosóficas: jusnaturalista, positivista e moral.
Jusnaturalismo - No jusnaturalismo, o direito é visto como algo intrínseco e natural ao ser humano e às leis, como resultados desse pensamento, funcionando antes mesmo de serem legalizadas pelas constituições ou pelo Estado.
Na Antiguidade, os direitos jusnaturalistas foram interpretados como direitos de origem divina e, posteriormente, na Modernidade, foram entendidos pelo uso da razão humana e vistos como direitos naturais.
Segundo essa corrente, eles existem, pois haveria uma demanda natural da sociedade por certos princípios, sendo os direitos uma consequência natural da organização dos homens e mulheres, existindo independentemente de qualquer constituição ou diploma legal.
Exemplo: Para compreensão do pensamento jusnatural temos o direito à vida. Os jusnaturalistas acreditavam que se as pessoas têm naturalmente a ideia de que tirar a vida de outro ser humano é um ato injusto, seria desnecessário uma lei para impedir que as pessoas se matem.
Atenção: O uso do argumento jusnatural para defender os Direitos Humanos, no entanto, sofre uma crítica, pois, acompanhando o seu desenvolvimento histórico, entende-se que os Direitos Humanos não são pré-existentes ou uma necessidade natural da vida em sociedade.
Como nos mostra a história, os Direitos Humanos seriam fruto da evolução, da necessidade e do entendimento de um grupo. Na crítica ao fundamento jusnaturalista, podemos ressaltar o questionamento feito pela professora Lynn Hunt sobre a natureza “autoevidente”, definida pela Declaração de Independência dos Estados Unidos; se esses são direitos tão óbvios por que eles precisam ser reafirmados de tempos em tempos?
Positivismo - A corrente jurídica do positivismo entende que os direitos não são elementos naturais numa sociedade. Eles seriam o resultado de discussões e entendimentos do Estado, que decide pela oficialização e pela legalização de uma certa norma.
Segundo essa corrente, o direito só existe por determinação legal, ou seja, os Direitos Humanos só passam a existir quando são institucionalizados e recebem o reconhecimento em forma de lei, em constituições ou em tratados internacionais.
Para os positivistas não existem direitos como ideias, e os Direitos Humanos são apenas o que a lei determina que são Direitos Humanos. Se estão representados apenas por declarações, eles não existem e ninguém tem a obrigação de segui-los.
Atenção: A crítica acusa que a interpretação literal do que é um direito enfraquece a proteção dos Direitos Humanos, pois deixa de fora uma série de direitos de grande importância, que são reconhecidos pela comunidade ou que ainda estão sendo discutidos, antes de ser inscritos em alguma legislação. Considerar apenas o que está previsto em lei implica numa redução de direitos.
Moralismo - A corrente moralista, como a jusnaturalista, defende que os direitos são normas que não precisam da sua oficialização em leis e constituições para ter validade; sua importância está diretamente relacionada às necessidades e aos valores da sociedade em que estão inseridos. Mas, diferentemente do jusnaturalismo, o direito moral não acontece naturalmente na sociedade, ele se baseia nas necessidades e nos valores específicos morais e éticos de um determinado grupo.
Exemplo: Não há uma lei que obrigue que as pessoas precisam respeitar uma fila que tenha se formado, ninguém será preso por furar uma fila. Em algumas culturas, essa regra é importantíssima, e você pode até mesmo se ausentar da fila por algum motivo que, ao retornar terá seu lugar garantido, enquanto, em outros grupos, passar à frente de uma pessoa que estava desatenta não é um grande problema, e é até normal.
Atenção: A crítica a essa corrente aponta também para uma limitação que põe em risco os direitos, pois, se cada sociedade possui seu próprio conjunto de valores e tem um entendimento moral, vários direitos humanos diferentes seriam reivindicados pelo mundo, e o conjunto se enfraqueceria como um direito universal.
Construção Teórica dos Direitos Humanos
Apesar das diferenças evidentes, essas três teorias não se contradizem nem disputam entre si, elas se complementam e colaboram para que os direitos humanos tenham sustentação e atuação mais forte na sociedade.
É importante lembrar que a Declaração Universal de Direitos Humanos e os demais tratados da ONU são declarações de intenção, ou seja, não são leis válidas por si só. Eles estão baseados nas teorias moral e jusnatural e precisam do esforço e das estruturas legais dos países inscritos nas Nações Unidas para que se positivem, ou seja, que se tornem legais e, de fato, possam ser acessados com mais efetividade por todos.
Entretanto, sem o entendimento jusnatural e sem uma base moral e os esforços das Nações Unidas, os defensores desses direitos não têm argumentos no debate, a fim de conseguir valor legal em todos os lugares do mundo e, assim, alcançar toda a família humana.
Para refletirmos, se os direitos humanos fossem somente de natureza jusnatural, sem apoio moral, ou seja, se não estivessem de acordo com os valores da sociedade, não haveria um entendimento da sua urgência e eles não teriam aplicação prática na sociedade. Da mesma forma, se os direitos humanos não tivessem uma argumentação baseada nos valores morais da sociedade, dificilmente eles conseguiriam se transformar em discussões e, posteriormente, em leis, e não seriam positivados.
Vejamos o direito defendido pelo artigo 5º da declaração de 1945, que diz que “ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”. Pela doutrina jusnatural, ninguém deveria ser submetido à tortura, pois isso é um direito autoevidente, é um entendimento natural que isso não deve acontecer, mas, se o ato não for ilegal naquela nação, ou se aquele valor não estiver inscrito também na moral daquela sociedade em questão, corre-se o risco de que se ignore o senso comum e a tortura, de fato, aconteça.
Para entendermos a complexidade dessas correntes, também podemos pensar nas discussões do Tribunal de Nuremberg, uma corte internacional formada ao final da Segunda Guerra Mundial para julgar os oficiais de alta patente do regime nazista alemão pela acusação dos crimes contra a humanidade.
Na ocasião, a defesa dos militares nazistas foi montada sob o argumento de que seus atos eram legais dentro do sistema de leis alemãs vigente no momento das ações, ou seja, quando os crimes foram cometidos, nos locais em que foram cometidos, eles não infringiram nenhuma lei.
Nesta argumentação, pela corrente jusnaturalista, deve-se descartar o argumento da legalidade e se condenar os atos como crimes, por se tratar de atitudes que deveriam ser naturalmente rejeitadas por todos. Por outro lado, a ideologia positivista alega legitimidade dos atos dentro do sistema legal da nação onde ocorreram.Essa corrente ficou abalada e foi amplamente questionada por ter dado respaldo legal a ações dessa natureza, legitimando atuações com indiferença aos valores éticos. 
Ruptura e Reconstrução dos Direitos Humanos
Além do debate sobre a legalidade, as políticas dos regimes fascistas foram um marco para as discussões sobre violaçãode direitos e a responsabilidade da comunidade internacional em situações como essa.
A filósofa alemã Hannah Arendt produziu importantes reflexões sobre o tema já que parecia que, apesar do debate político e teórico que havia sobre direitos universais até a primeira metade do século XX, todo o esforço político e filosófico não produzira efeitos práticos na sociedade.
Analisando os acontecimentos daquela época, Arendt, que escreveu seus estudos na metade do século XX, propôs que havia acontecido uma ruptura nos Direitos Humanos, não somente por parte dos regimes totalitários, de direita ou de esquerda – incluindo-se o regime stalinista na União Soviética -, mas também por conta das políticas imperialistas praticadas naquela época, quando alguns países impuseram políticas racistas de exploração e domínio sobre diversos povos africanos e asiáticos.
Se, após anos de debate sobre o assunto, o mundo vivenciou tais políticas bárbaras de desrespeito à vida, era necessário refletir e criar novas condições para uma reconstrução dos direitos universais.
Segundo a filósofa, uma questão para se reconstruir esses direitos era dar atenção aos homens e mulheres que perderam seu lugar na sociedade e na política, sejam por eles serem minorias ou por terem tido necessidade de sair de seu local de origem, tornando-se apátridas ou refugiados.
Esse foi o problema fundamental que se agravou no período entreguerras. Após a dissolução dos impérios ao final da Primeira Guerra Mundial, alguns grupos, como os armênios, os húngaros e os romenos, perderam sua nacionalidade e se tornaram apátridas.
Outros grupos tiveram de sair e se refugiar em outros países, como milhares de judeus alemães, que fugiram das políticas antissemitas do regime nazista (neste grupo encontra-se a própria Hannah Arendt e seus familiares). Houve, ainda, aqueles que sofreram perseguições por suas escolhas religiosas, de afetividade ou por convicções políticas, como os anarquistas e os comunistas.
Houve, nesse período, um grande deslocamento geográfico de pessoas pela Europa. Ao fugir de suas terras, elas entraram como imigrantes em outros países, perdendo a proteção legal do Estado.
Para Arendt, o grupo dos apátridas foi o que teve a situação mais angustiante e o que mais precisava de atenção, pois, além de terem perdido seus direitos, eles não eram reconhecidos como iguais perante a lei, já que a lei nem existia mais para eles.
Ao ser expulso da sua comunidade, o apátrida se vê isolado e destituído da sua humanidade. Com tantas pessoas sem proteção de um Estado, surge a necessidade de uma política internacional que garanta o atendimento dos direitos a essas pessoas independentemente da sua situação.
A ideia central de Hannah Arendt para a reconstrução dos direitos humanos é a de que o primeiro direito a ser defendido tem de ser o direito a se ter direitos. Se há lugares no mundo onde indivíduos não têm acesso a nenhum direito ou lhes é negado até mesmo o direito a participar dos debates políticos; não tendo acesso a todo esse sistema internacional, ele está excluído.
Esta nova situação, na qual a humanidade assumiu antes um papel atribuído à natureza, ou à história, significaria nesse contexto que o direito a ter direito, ou o direito de cada indivíduo a pertencer à humanidade deveria ser garantido pela própria humanidade. (ARENDT, 2004, p. 332)
Em outras palavras, seria necessário garantir que todos os homens e mulheres sem condições ou exceções obtenham proteção jurídica na mesma medida que todos os demais. O indivíduo deveria ser reconhecido como cidadão do mundo ou, como foi dito na declaração da ONU, integrante da família humana, sem diferença entre nativo e estrangeiro.
Se o indivíduo precisa ter direitos acima do Estado, ele também necessita de um Estado para transformar o princípio dos Direitos Humanos em lei na sociedade onde vive.
Os Direitos Humanos são progressivamente conquistados e devem ser continuamente defendidos, baseando-se em argumentos bem construídos, a partir de suporte teórico e ações positivas. Observando as rupturas sofridas, entendemos que seu estabelecimento não é definitivo e precisa ser questionado e redefinido de tempos em tempos.

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