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PROGRAMA DE INTERVENÇÃO COM JOVENS OFENSORES: JOVENS/ADOLESCENTES MORADORES DAS PERIFERIAS E O TRÁFICO DE DROGAS NO BRASIL.

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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
FDUP
ESCOLA DE CRIMINOLOGIA
ANA BEATRIZ DIAS DANIEL, ISLA GOMES NEVES,
LUCIANA VAILLÉ DE MORAES, MARYNA MÜLLER
UNSER, MELISSA OLIVEIRA MACIEL, RAPHAELLA
GRASSI CARON
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO COM JOVENS OFENSORES:
JOVENS/ADOLESCENTES MORADORES DAS PERIFERIAS E O
TRÁFICO DE DROGAS NO BRASIL.
Porto
2020
ANA BEATRIZ DIAS DANIEL, ISLA GOMES NEVES, LUCIANA
VAILLÉ DE MORAES, MARYNA MÜLLER UNSER, MELISSA
OLIVEIRA MACIEL, RAPHAELLA GRASSI CARON
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO COM JOVENS OFENSORES:
JOVENS/ADOLESCENTES MORADORES DAS PERIFERIAS E O
TRÁFICO DE DROGAS NO BRASIL
Trabalho de avaliação distribuída apresentado a Prof.ª
Paula Cristina Brito Marques de Castro, como requisito
para obtenção de nota final na disciplina de Modelos de
Intervenção em Criminologia II.
Orientador: Prof. ª Paula Cristina Brito Marques de
Castro.
Porto
2020
Sumário
1. ASPECTOS TEÓRICOS…………………………………………………………………..4
1.1. Delimitando o problema: Notas acerca da violência juvenil no
Brasil………………..4
1.2. Limitações de desenvolvimento e condições que corroboram para o crime………….
1.3. Envolvimento dos jovens com tráfico de drogas no Brasil……………………...….
1.4. Estereótipos e dificuldade de inserção no mercado de trabalho………...………...
1.5. Tratamento jurídico conferido aos jovens infratores no Brasil………...………...…
1.6. Apresentação de programas aplicados no Brasil………...………...………...………...
1.7. Dados sobre a reincidência juvenil no âmbito do tráfico de drogas no Brasil………..
2. PROGRAMA DE INTERVENÇÃO………...………...………...………...…………..
2.1. Modelo utilizado como base………...………...………...………...………...………...
2.2. Instrumentos de avaliação utilizados………...………...………...………...………...
2.3. Critérios de inclusão e exclusão: Dados sociodemográficos dos participantes……
2.4. Atuando nas necessidades: Fatores de risco e necessidades criminógenas identificadas
2.5 Desenho da intervenção………...………...………...………...………...………...
2.6 Apoio, recursos e investimentos demandados………...………...………...………...
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS………...………...………...………...………...………...
1. Aspectos Teóricos
1.1. Delimitando o problema: Notas acerca da violência juvenil no Brasil
Nem sempre os assuntos que envolvem aspectos subjetivos do ser humano, tais como,
o desenvolvimento psíquico social, foram pautas de análises científicas. Assim, os estudos
voltados à questões como as relações interpessoais de jovens eram preteridos devido à
invisibilidades destes indivíduos enquanto contribuintes para o desenvolvimento social.
Para Savage (2009), em que pese o interesse na juventude ter nascedouro no século
XIX, apenas no século XX, sob um olhar capitalista, a juventude contemporânea passa a ter
importância social como forte mercado consumidor. Desse modo, quanto maior a alienação e
a impulsividade, maiores as chances desses jovens corresponderem à demanda dos anúncios
publicitários. Por isso, suas atitudes desenfreadas e impulsivas não só eram esperadas como
influenciadas.
No Brasil, tal desinteresse perdurou até que fosse editada a Constituição Federal da
República de 1988 que ensejou a realização de outros dispositivos, como uma série de
estatutos, para conferir a concretização de princípios basilares, tais como a dignidade à pessoa
humana, previsto no artigo 1º, inciso III. Desta necessidade nasceu o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e o Estatuto da Juventude. Trata-se de um fenômeno conhecido por
Constitucionalização do Direito Civil que consiste em conferir eficácia aos mandamentos
constitucionais dado que os antigos dispositivos ainda não estavam adaptados para atender às
necessidades que se mostravam cada vez mais latentes de soluções imediatas. Nesse sentido,
estes dispositivos utilizam-se de critérios objetivos (fator etário), para assim definir quem são
os jovens no Brasil [1], restando definido como juventude a fase de desenvolvimento de
pessoas com idade entre 15 aos 29 anos.
Antes da intervenção de um novo pensamento constitucional fruto de um viés fundado
em um Estado Democrático de Direito, o pensamento jurídico dominante estava permeado
pelo controle e redução de direitos, além de isentar o Estado e a sociedade como responsáveis
em conferir os meios para que estes jovens pudesse desenvolver, plenamente as suas
capacidades.
Nesta perspectiva, não atuavam como sujeito de direitos, mas sim como objetos
jurídicos - pelo antigo Código de Menores datado de 1979 - com funções reduzidas apenas ao
tratamento do aspecto criminal. Inclusive, era criminalizada a pobreza como fonte principal
dos crimes cometidos por jovens, de maneira a demonstrar uma visão preconceituosa sobre o
quadro de estigma social imputado juridicamente por uma população que possui não apenas
classe, mas, cor e gênero. Contudo, em respostas às normas - princípios e regras - trazidas
pela Constituição de 1998, os jovens no Brasil passaram a ser reconhecidos como sujeitos de
direitos, devendo ser amparados conjuntamente pela família, Estado e pela sociedade, com o
fito de reduzir os impactos que a forma peculiar de desenvolvimento social pode vir a
acarretar, principalmente, aquelas de ordem psicológicas mais a frente delineadas.
Assim, analisando que a intervenção da criminologia no comportamento juvenil não é
um fator recente e dado o aumento no número de situações violentas que envolve esse grupo,
não é possível apenas que seja feita uma análise simplista desta problemática reduzida tão
somente ao encarceramento em massa destes jovens. Nesse contexto, a história de grandes
exemplos de contenção em massa, como ocorreu nos Estados Unidos da América, têm
demonstrado que política de Law and Order (Lei e da Ordem), não funciona se outros
aspectos não estiverem em pauta. Assim, o papel do Estado não deve ser o de retirar o
“problema” da rua, mas sim buscar mecanismos de recuperação destes jovens. Além de
reformular como pensam o crime, e, principalmente, a visão estereotipada construída
socialmente, ao definir quem são os autores de crimes, sendo em sua grande maioria jovens,
negros e que residem em periferias com pouco perspectiva de vida.
1.2. Limitações de desenvolvimento e condições que corroboram para o crime
A adolescência e a juventude são períodos de transição do desenvolvimento humano
que envolvem diversas mudanças físicas e psicosociais (Papalia & Feldman, 2013). Por
envolver tantas transformações, se faz necessário compreender de forma multifatorial como a
fase de desenvolvimento em que esses sujeitos se encontram, influência no envolvimento com
atividades antissociais? No Brasil, a maioridade penal é de 18 anos. Dentro disso, quem
comete uma contravenção penal está sujeito às regras do Código Penal Brasileiro. Antes
disso, o menor é submetido às leis do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que
garante os direitos dos mesmos, ainda que tenham cometido algum delito. O ECA se dá, pois
entende-se que até os 18 anos o ser humano se encontra em uma condição de
desenvolvimento peculiar, de maneira que a sanção aplicada mediante infração necessita ser
pedagógica (Fundo das Nações Unidas para a Infância [UNICEF], 2006).
Com isso, é necessário pensar sobre o desenvolvimento moral nos
jovens/adolescentes. De acordo com Papalia e Feldman (2013), estudos recentes indicam que
o cérebro adolescente não está totalmente maduro depois da puberdade e que mesmo após a
chegada da juventude, a maioria dos sujeitos não desenvolvem o julgamento moral
plenamente. Além disso, apontam que, a partir da comparação entre pesquisas sobre
desenvolvimento moral - de Kohlberg e Piaget -, concluiu-se que mesmo atingindo um nível
de cognição maduro ao final da adolescência, o jovem pode não ter as competências morais
bem desenvolvidas, sendo estas necessárias para algumas ponderações que precisam ser feitas
frente a dilemas sociais. Questões desse cunho exigem dos seres humanos o desenvolvimento
da moralidade, e para isso, outros processos além da cognição influenciam analogamente,
como aspectospsicológicos, condição socioeconômica, autoconceito e ambiente familiar
(Morgado & Vale-Dias, 2014).
1.3. Envolvimento dos jovens com tráfico de drogas no Brasil
No âmbito da realidade brasileira, mostra-se imperiosa a análise de estudos
delimitados geograficamente, de maneira a permitir uma melhor compreensão acerca da
problemática da delinquência, principalmente daquela que se mostra predominante nas
comunidades periféricas: o tráfico de drogas. Nesse sentido, estes estudos apontam que,
jovens em contextos socioeconômicos desfavorecidos, tendem a apresentar um maior risco de
adotar comportamentos envolvendo a violência e o crime (Morgado & Vale-Dias, 2014)
(Fundo das Nações Unidas para a Infância [UNICEF], 2006) (Fernandes & Rodriguez, 2009),
sendo importante apontar que considerações da Organização Mundial da Saúde (OMS)
confirmam esta condição (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2015).
Nesse contexto, em um estudo feito pela ONG “Observatório de Favelas”, no qual
foram entrevistados 150 jovens inseridos na rede de tráfico de drogas em favelas do Rio de
Janeiro, e 111 adolescentes no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), foi
possível detectar alguns fatores que corroboram para o risco de envolvimento desses jovens
no tráfico (Fernandes & Rodriguez, 2009).
Posto isso, o primeiro fator apontado é a motivação econômica e a possibilidade de
contribuir para o sustento familiar, tendo em vista que a maioria destes jovens se encontra em
condição de desfavorecimento socioeconômico e exclusão social, de maneira que o tráfico
acaba por se configurar como uma forma de satisfazer o desejo de melhores condições de
vida, para as quais a sociedade lhes fecha as portas, sendo poucas as oportunidades de
ascensão no mercado de trabalho. A isto, soma-se o fator da busca por pertencimento e
reconhecimento social, no qual o tráfico apresenta a tão sonhada possibilidade de conquistar
não apenas uma identidade, mas também aceitação social e o exercício de algum
protagonismo na sociedade, tendo em vista que o traficante é visto como um indivíduo
respeitado, detentor de poder e dinheiro. Isso ocorre porque o jovem nasce em uma realidade
já historicamente constituída que interfere desfavoravelmente na construção de sua identidade
(Dias, 2013). Nesse âmbito, Machado e Kuhn (2015), também realizadores de uma análise
acerca das motivações para a inserção dos jovens no crime, ressaltam o desejo de poder e
reconhecimento perante às instâncias socializadoras - família, comunidade e sociedade - como
uma das principais justificativas.
Ademais, a desestruturação familiar foi também apontada como potencial
influenciador, sendo, nesse sentido, imprescindível compreender a família enquanto unidade
de primeira instância de socialização, que possui importância por se configurar como espaço
que irá produzir todo o conjunto de padrões comportamentais do jovem. Desse modo, com a
desestruturação, muitos deles acabam sendo privados da função socializante da família, o que
influencia na fragilidade do processo de internalização de valores morais, além do fato que,
devido à escassez de referências familiares, acabam por buscar modelos de identidade no
mundo do crime. Nesse sentido, são importantes os resultados da pesquisa de Morgado e
Vale-Dias (2014) que atestam a existência de fortes correlações entre a importância das
relações familiares para o ajustamento social dos comportamentos juvenis.
Por fim, foi suscitada pelo estudo a vulnerabilidade frente ao contexto de periferia. No
Brasil, os moradores dessas regiões são fortemente negligenciados pela falta de condições
estruturais e suporte social que garantam seus direitos de maneira plena (Fernandes &
Rodriguez, 2009), de forma que estas áreas apresentam um grande vácuo estatal, no qual o
Estado se ausenta, de maneira a não prestar serviços públicos necessários para a população
(Lopes, 2009). Assim, o traficante surge como uma figura de defensor local, como aquele que
zela pelo bem-estar da comunidade, na medida em que, na ausência do Estado, o substitui.
Ademais, outra circunstância a qual os jovens periféricos encontram-se submetidos é a
violência, responsável por provocar verdadeiros danos psicológicos e emocionais, de modo a
os tornar ainda mais violentos. Isso ocorre porque, por muitas vezes, as comunidades
apresentam um ambiente no qual a violência se tornou naturalizada na medida em que passou
a compor o cotidiano da população. Esta problemática se articula pela própria infraestrutura
existente dentro das comunidades, nas quais, por muitas vezes, o Estado se mostra ausente.
Assim, grupos ligados ao tráfico formulam uma espécie de estrutura de poder, assumindo, de
certa maneira, o papel estatal e impondo um regime dotado de leis próprias. Por isso, desde
pequenos, esses jovens internalizam o entendimento de que comportamentos violentos se
configuraram como respostas naturais, cabendo, nesse sentido, apontar que segundo a
psicanalista Anna Freud (1987, p. 34), “as pessoas violentas são aquelas que possuem o
equilíbrio interno perturbado, sua personalidade, muitas vezes é fruto do meio onde se
inserem”.
1.4. Estereótipos e dificuldade de inserção no mercado de trabalho
Um dos grandes problemas que os jovens encontram após cumprirem medidas
socioeducativas, é a dificuldade de inserção no mercado de trabalho. De acordo com Souza,
Esquivel e Fell (2017), o Brasil tem encontrado problemas na eficácia de medidas
socioeducativas em que o objetivo principal é ressocializar os adolescentes/jovens para evitar
a reincidência. Segundo o UNICEF (2006), dados indicam problemas graves na execução de
medidas socioeducativas de internação, como: a falta de projetos realmente pedagógicos,
calamidade do estado de conservação das unidades e práticas de abusos físicos e psíquicos
para com os internos. Dessa forma, infelizmente, são raras as experiências de medidas
socioeducativas bem-sucedidas, não cumprindo o propósito pedagógico original.
Além desta problemática, há também a rotulação social sob os jovens, que influencia
significativamente na dificuldade de inserção no mercado de trabalho e na possibilidade de
recomeçar de maneira socialmente aceitável, reprimindo a viabilidade de comportamentos
pró-sociais. Uma das vias responsáveis pela propagação da rotulação desses jovens é a mídia
brasileira, que faz a propagação de imagens estereotipadas dos jovens, focalizando em
primeiro plano os jovens negros e aqueles que apenas pela exterioridade são enquadrados
marginais. Estes jovens geralmente possuem o chamado “kit estigma”, que implica ser jovem,
do sexo masculino, negro, pobre e morador de periferia (Fundo das Nações Unidas para a
Infância [UNICEF], 2006). Por isso, A maioria dos empregadores se recusa a contratar jovens
que se encaixam nesse estereótipo reproduzido de maneira tão pejorativa pela sociedade.
Assim, Souza, Esquivel e Fell (2017) apontam que há uma contradição entre a expectativa
social sob os jovens que cometeram delitos (desejando que estes desenvolvam habilidades
pró-sociais) com o repúdio à eles, pois são tratados com total exclusão, mantendo-se
marcados pelo crime.
Há aqui uma relação significativa com a teoria da rotulação (Labelling Approach). A
partir desta, a criminalidade não é tida como derivada da conduta humana mas como
consequência de um processo em que se atribui tal qualidade (Penteado Filho, 2012). Assim
sendo, à rotulação cria um processo de estigma sob os condenados, em que a penalização
destes acaba por funcionar, para mais, como geradora de desigualdades, devido à reação da
sociedade, acarretando na marginalização social. Sendo assim, a criminalização primária
(cometimento do crime) produz a etiquetagem e essa, gera a criminalização secundária
(reincidência criminal) (Penteado Filho, 2012). Além disso, a rotulação é materializada em
atestados de antecedentes criminais e notícias midiáticas, que colaboram para que o sujeito
internalize essas representações,aumentando a possibilidade de formação da identidade
criminal.
A problemática da rotulação relaciona-se consoante com Becker (2008), indicando que
algumas punições tendem a ser mais severamente aplicadas a umas pessoas do que a outras.
Alguns estudos de delinquência juvenil esclarecem esta questão apontando que meninos de
classe média tem menos chance de chegar ao processo legal quando detidos, se comparado
com jovens de condição socioeconômica baixa, assim, percebe-se que a lei é distintamente
aplicada às pessoas dependendo da classe social e condição econômica a que pertencem
(Becker, 2008). Este fato é estrutural na sociedade brasileira, o que contribui para que jovens
em condições socioeconômicas desfavorecidas que cometeram delitos, esbarrem em grandes
barreiras para a reinserção social.
1.5. Tratamento jurídico conferido aos jovens infratores no Brasil
A construção do Direito da Criança e do Adolescente em solo constitucional ocorre,
no Brasil, com a sua positivação na Carta Constitucional de 1988. Esta, ao adotar a Doutrina
da Proteção Integral, já expressa na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito da
Criança, determina que estes direitos devem ser assegurados com absoluta prioridade nos
baldrames institucionais do Estado, obrigando não apenas este, mas também a família, a
comunidade e a sociedade na sua garantia. Nos considerandos da lei, o Texto Constitucional
de 1988 elencou à categoria de Direitos Fundamentais normas que tutelam a criança e o
adolescente, determinando, deste modo, uma proteção eficaz e não apenas epidérmica. Tal
cronograma de proteção, previsto no artigo 227 do Texto, foi estritamente regulamentada
através da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 – proclamada “Estatuto da Criança e do
Adolescente”.
De acordo com Gonçalves (2005), a Doutrina da Proteção Integral entende a criança
como sujeito de direitos, militando pela sua inclusão nos Códigos Legislativos da Federação.
O Estatuto, ao reafirmar os direitos individuais e coletivos assegurados na Constituição
Federal e acrescentar disposições específicas que sustentam os privilégios de toda a população
infanto-juvenil, derruba a passada dicotomia entre menor e criança. No que toca ao
adolescente autor de ato infracional, o ECA representou um avanço significativo ao garantir o
direito ao devido processo legal, o direito à defesa e a ênfase em medidas que se harmonizam
com o caráter socioeducativo. Segundo João Batista Costa Saraiva, o estatuto estrutura-se
baseado em três sistemas: de prevenção primária; o sistema de prevenção secundária; e, por
fim, o sistema de prevenção terciária, que resulta em medidas socioeducativas.
Nesse sentido, é sob a égide do ECA que são julgados crianças e adolescentes em
conflito com a lei nas Varas da Infância e da Juventude. Na letra do Estatuto, precisamente em
seu art 103, considera-se ato infracional todo comportamento definido como crime ou
contravenção penal. É, portanto, a condição necessária para a aplicação das medidas
socioeducativas. Uma vez confirmado o ato infracional, o juiz de direito poderá aplicar,
conforme previsão estatutária, especificamente em seu artigo 112, seis medidas
socioeducativas, levando-se em conta a capacidade do adolescente de cumpri-las, as
circunstâncias e a gravidade da infração. São elas: advertência; obrigação de reparar o dano;
prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de
semiliberdade; e, a mais rígida, a internação em estabelecimento educacional.
Na seara das medidas socioeducativas aplicáveis, salvo as medidas de advertência e
reparação do dano, as demais não possuem prazo determinado. Há, apenas, conforme definido
pelo legislador, limites máximos e mínimos para sua execução. Nesse sentido, o Estatuto
prevê a possibilidade de transição de medida de privação de liberdade para uma medida em
meio aberto. Para tanto, o juiz realiza, periodicamente, audiência especial para a reavaliação
da medida imposta, podendo decidir pela prorrogação, substituição ou revogação,
considerando, sobretudo, o desenvolvimento do jovem infrator e o êxito da ação
socioeducativa.
Imperioso ressaltar que aos menores de 18 anos, o art 27 do Código Penal Brasileiro
declara a inimputabilidade, fundada exclusivamente na idade. De modo que o déficit de idade,
por si só, faz da pessoa uma inimputável. O Estatuto da Criança e do Adolescente, por seu
turno, diferencia a criança do adolescente. O artigo 105 do diploma legal é elucidativo ao
estabelecer que aquela, estando abaixo dos 12 anos, deve ser submetida às medidas protetivas,
reguladas no artigo 98 do ECA, restando à segunda as medidas socioeducativas descritas no
artigo 112.
No que tange às diretrizes de aplicação das medidas socioeducativas, criou-se, com a
edição da Lei 12.594 de 2012, o Sistema Nacional Socioeducativo (SINASE) com a
finalidade de dispor e regulamentar as medidas destinadas aos adolescentes em razão de ato
infracional, estruturando-se em bases éticas e pedagógicas.
1.6. Apresentação de programas aplicados no Brasil
A Rede Rotas é um dos grupos autônomos de atuação do Observatório das Favelas -
organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) de pesquisa, consultoria e ação
pública - que comporta diferentes setores e atores que se debruçam diante da perceptível
problemática da violência urbana no Rio de Janeiro e da participação crescente de crianças e
adolescentes em atividades ilícitas, notadamente o tráfico de drogas. Nesse contexto, a Rede
Rotas, junto de lideranças comunitárias, ONGs, órgãos públicos e iniciativa privada,
desenvolveu, desde 2001, um trabalho de pesquisa longitudinal que resultou o estudo: “Rotas
de Fuga: Trajetória social de crianças, adolescentes e jovens no tráfico de drogas no varejo do
Rio de Janeiro”(Silva, Willadino, Lannes-Fernandes, Rodrigues & Nascimento, 2009) o qual
selecionou 230 jovens de 34 favelas do Rio de Janeiro entre os anos de 2004 e 2006.
O referido estudo elaborou o perfil e a dinâmica de envolvimento das crianças e
adolescentes no comércio varejista de drogas, bem como analisou o seu contexto social
comunitário. À luz das exigências demonstradas na pesquisa em questão, a vertente
institucional de Direitos Humanos do Observatório das Favelas criou o Programa Rotas de
Fugas (Lannes-Fernandes & Rodriguez, 2009), em 2003, que se desenvolveu, até 2006, em
duas das dezesseis favelas circunscritas na Zona da Maré no Rio de Janeiro, a Nova Holanda e
a Nova Maré. O programa teve como fim último o fortalecimento de ações integradas que,
num processo de formação continuada de caráter educacional e profissionalizante,
contribuíssem para que os jovens das periferias deixassem as estatísticas sobre a participação
no tráfico de drogas. Para tanto, o atuou com base nos seguintes eixos de intervenção:
produção de pesquisas; criação de metodologias interventivas para a saída da juventude do
tráfico de drogas; ações de prevenção nos campos educacional, cultural, social e econômico.
No que se refere ao método desenvolvido no programa, a atuação da Rede Rotas,
quanto às ações no campo da educação, desempenhou-se a partir de uma metodologia
intersetorial de acolhimento para a permanência do jovem na escola, visto este ser um fator de
proteção muito importante, bem como no acompanhamento escolar mediante o contínuo
diálogo entre às instituições de ensino da Maré e o Programa. Já as ações no campo
profissionalizante foram realizadas com uma abordagem voltada para a descoberta pessoal de
desejos e habilidades na área profissional. O Rota de Fugas também se dedicou a abordagens
individuais que foram dadas a partir do preenchimento da ficha social e consequente
elaboração do perfil do grupo alvo e suas principais demandas. Paralelamente, a equipe
técnica investiu em abordagens com as famílias através de visitas domiciliares, entrevistas e
reuniões em grupo que propunham uma reflexão conjunta acerca da constatação de que não
existem “receitas” prontasde educação dos filhos.
Além disso, o programa criou alternativa de caráter psicossocial que estimulou o
desejo de saída do tráfico de drogas. Entre as medidas, destacaram-se as abordagens em
grupo, como oficinas de fotografia, cartonagem, vídeo, bem como atividade externas
realizadas em idas mensais a museus, parques e teatros. Estes procedimentos de intervenção
estimularam o contato prático, lúdico e educativo das atividades em si em simultânea
transversalidade com as dimensões éticas, sociais e afetivas.
Portanto, ao longo da aplicação do Programa Rotas de Fuga, foi possível se chegar a
conclusões importantes sobre as trajetórias de vida da juventude intervencionada. Nessa
perspectiva, as oficinas permitiram o aumento da sociabilidade entre os participantes, o
desenvolvimento de um olhar mais crítico, consciente e rico sobre si e diante da favela, bem
como quanto às escolhas e perspectivas futuras, em especial, no que se refere aos estudos.
Além disso, a abordagem familiar permitiu o estreitamento de laços, a construção de uma
compreensão recíproca e o desenvolvimento de um diálogo permanente entre as famílias.
1.7. Dados sobre a reincidência juvenil no âmbito do tráfico de drogas no Brasil.
Segundo o art. 63 do Código Penal Brasileiro, considera-se como “reincidente” o
agente que volta a cometer um crime depois de ter transitado em julgado a sentença que o
tenha condenado por crime anterior. Nesse aspecto, a doutrina estabelece inúmeras correntes
divergentes acerca do momento do cometimento e do tipo da reincidência criminal existentes.
Para este trabalho, consideramos apenas a reincidência de mesmo tipo penal, o qual seja o
tráfico de drogas.
O Brasil apresenta níveis altos de reincidência de menores infratores, especialmente
para o tipo penal do tráfico de drogas. De acordo com dados do ano de 2018 da Fundação
Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa, localizada no Estado
de São Paulo), dos 1954 jovens reincidentes que cumpriam medidas socieducativas na
referida fundação somente no mês de fevereiro, 720 deles eram reincidentes por tráfico de
drogas, sendo esse o tipo penal de maior reincidência nesse centro socioeducativo.
No ano de 2018, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG), em
cooperação com o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), divulgou o
resultado da pesquisa “A reincidência juvenil no Estado de Minas Gerais”. Tais dados
demonstram que, o tráfico de drogas foi o ato infracional responsável pela reincidência no
Estado de Minas Gerais, nos anos de 2013 a 2017, de 35,1% dos jovens, motivando nova
medida de internação ou de semiliberdade.
A reincidência juvenil referente ao tráfico de drogas é um problema antigo no Brasil.
Dados da 2ª Vara da Infância e da Juventude do Estado do Rio de Janeiro, datados de 1993 a
2001, indicam que, com o passar dos anos, os atos infracionais relacionados ao tráfico de
drogas se tornaram os mais corriqueiros, ultrapassando os atos infracionais contra o
patrimônio (roubos e furtos), conforme tabela retirada do relatório de pesquisa “Perfil dos
Jovens em Conflito com a Lei no Rio de Janeiro”, realizada pela Universidade Estadual do
Rio de Janeiro que se encontra em anexo. A partir deste contexto, o presente trabalho buscou
desenvolver um Projeto de Modelo de Intervenção que fosse capaz de diminuir o índice de
reincidência juvenil no tráfico de substâncias ilícitas em território brasileiro, o qual será
desenvolvido a seguir.
2. Programa de Intervenção
O presente projeto resultou de pesquisas bibliográficas acerca da problemática dos
jovens com comportamentos delinquentes, especificamente, moradores de periferias do Rio
de Janeiro envolvidos no tráfico de drogas. A pesquisa consistiu na busca de materiais que
tratassem sobre assuntos como: tráfico de drogas e violência juvenil, programas de
intervenção com jovens delinquentes já utilizados, aspectos jurídicos da delinquência juvenil,
fatores que corroboram para o envolvimento dos jovens com o crime, reincidência criminal de
jovens com o tráfico de drogas, entre outros aspectos que foram considerados importantes,
todos dentro do contexto brasileiro.
Destaca-se que este projeto não baseou-se em uma pesquisa de campo experimental,
mas sim, bibliográfica e documental. As informações obtidas foram utilizadas para fim da
elaboração de um projeto de intervenção com jovens, visando a prevenção terciária (voltada
ao jovem que já foi recluso, objetivando sua recuperação e não reincidência criminal)
(Penteado Filho, 2012). A tentativa de elaborar um modelo de intervenção com jovens ocorre
pela demanda da disciplina de Modelos de Intervenção em Criminologia II, da licenciatura de
Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, destinando-se para propósito
acadêmico. Apesar disso, tenciona-se que esta atividade possa corroborar, para que no âmbito
dos modelos intervenção em criminologia haja um maior desenvolvimento e interesse dos
estudantes pela área.
2.1. Modelo utilizado como base
O modelo Risk-Needs-Responsivity (RNR) funda-se na teoria geral da personalidade e
na teoria cognitiva de aprendizagem social da conduta criminal (Bonta & Andrews, 2006) que
conciliam a personalidade do indivíduo ao ambiente social no qual está inserido. Assim, o
escolhemos como modelo inspirador para o nosso programa em virtude de Bonta e Andrews
(2006) identificarem, a partir do princípio da necessidade, alguns dos fatores de risco que
estão diretamente vinculados com o comportamento criminal, como: as atitudes pró-criminais,
o suporte social para o crime e a família/relações de pares. Nesse sentido, observamos que as
necessidades criminógenas referidas fazem-se presentes na realidade dos jovens envolvidos
com o tráfico de drogas no Brasil, de modo que estes se beneficiariam de uma intervenção que
possibilitasse à ressocialização dos mesmos e os afastasse dos índices de reincidência criminal
a partir de ações integradas nos âmbitos social, familiar e profissional, trabalhando suas
habilidades, pontos fortes e exigências - conforme o princípio da responsividade.
2.2. Instrumentos de avaliação utilizados
Na fase inicial do programa, se faz necessário coletar alguns dados caracterizantes
sobre os participantes. Para a coleta das informações, será aplicado um questionário que se
dividirá em seis (6) blocos temáticos. Os blocos serão os seguintes: 1) controle, 2)
identificação pessoal, 3) educação, 4) configuração familiar, 5) gostos e preferências e 6)
trabalho no tráfico. Este questionário foi baseado em um modelo do Programa Rotas de Fuga
intervencionado em uma periferia do Rio de Janeiro (Lannes-Fernandes & Rodriguez, 2009).
O bloco 1 será constituído de informações referentes a data da aplicação do questionário,
nome do entrevistador e o número do questionário. O bloco 2 contará com averiguações
acerca de dados sociodemográficos, informações sobre a comunidade, residência e uso de
drogas. No bloco 3, serão feitas questões referentes à alfabetização, frequência e grau de
escolaridade. No bloco 4 as questões irão se basear em informações sobre escolaridade e
profissão dos pais, informações sobre os irmãos, renda familiar, relações intrafamiliares e
envolvimento da família com tráfico de drogas. O bloco 5 constará perguntas sobre atividades
de lazer, onde são estabelecidas as amizades principais do sujeito, entre outros. Por fim, o
bloco 6 traz perguntas relativas ao envolvimento do jovem com o tráfico de drogas, como:
influência da possibilidade de auxiliar à família com ganho do tráfico, ocupação atual, fatores
que os levaram a entrar no tráfico, o que os mantém, e assim por diante.
Após, será utilizado o questionário YLS/CMI (Inventário de avaliação do risco de
reincidência e de gestão de caso para jovens - versão Portuguesa). O YLS/CMI foi criado para
mensurar o risco de reincidência criminal de jovens delinquentes e suas necessidades
criminógenas (aquelas quecolaboram para o envolvimento com o crime). A versão original
do instrumento é em inglês, porém, houve uma adaptação para tradução portuguesa por
Fonseca, Quintas, Serra, Coelho e Pimentel (2010), versão que foi definitiva e autorizada a ser
aplicada (Pimentel, Quintas, Fonseca & Serra, 2015). O YLS/CMI é constituído por 7
secções, sendo estas, (1) a avaliação dos riscos e das necessidades, (2) resumo dos riscos e das
necessidades, (3) avaliação de outras necessidades e considerações especiais, (4) avaliação
pessoal do nível geral de risco/necessidades do jovem, (5) nível de contacto, (6) plano de
gestão do caso e (7) (Re)avaliação da gestão do caso (Pimentel, Quintas, Fonseca & Serra,
2015).
A secção um, é composta por 42 itens distribuídos por oito domínios: (1) Delitos e
medidas anteriores e atuais; (2) Contexto familiar/Práticas parentais; (3) Educação/ Emprego;
(4) Relação com os pares; (5) Abuso de substâncias; (6) Tempos livres; (7)
Personalidade/Comportamento; (8) Atitudes/Orientação. Os itens do YLS/CMI são
compilados como presente (1) ou ausente (0), sendo possível calcular uma pontuação por cada
âmbito e uma pontuação ao final (0 a 42 pontos). Na secção dois do questionário, são feitos
cálculos para determinar o nível de risco de reincidência, sendo que, na pontuação final são
definidos 4 categorias de risco: Risco Baixo (0 a 8); Risco Moderado (9 a 22); Risco Alto (23
a 34) e Risco Muito Alto (35 a 42). Na terceira secção, são preenchidas a presença ou
ausência de outras necessidades e considerações especiais relacionadas com a família e com o
jovem. Na quarta secção, o aplicador pode estimar o nível de risco dos jovens, justificando,
caso divirja do nível de risco obtido no inventário. As últimas três divisões do inventário se
dirigem a gestão do caso. Na quinta secção, determina-se o nível de contato estabelecido com
o participante. Na sexta, elabora-se o plano de gestão do caso, assinalando os objetivos e as
ações necessárias para alcançar o plano. Por fim, a sétima secção, permite uma nova
verificação da gestão do caso por meio da sinalização de mudanças nos níveis de risco, dos
níveis de contato com o jovem e dos progressos ou revisões do plano, caso sejam necessários
(Pimentel, Quintas, Fonseca & Serra, 2015).
2.3. Dados sociodemográficos dos participantes: Critérios de inclusão e exclusão.
É importante compreender que, embora os projetos de intervenção em criminologia
tenham caráter científico, a sua aplicação encontra barreiras na subjetividade do indivíduo e
em seu contexto de vida. Nesse sentido, para que os métodos de intervenção estejam de
acordo com o perfil do público alvo, foram adotados alguns critérios de inclusão neste
projeto. Dessa forma, serão selecionadas pessoas do gênero masculino, com idade entre 14 e
19 anos, que apresentem grau de escolaridade ensino médio incompleto, sejam residentes na
Favela da Maré - situada no estado do Rio de Janeiro - por ser ela uma das regiões que mais
sofrem com a violência oriunda do tráfico de entorpecentes, para além de outras mazelas
sociais. Por isso, o perfil socioeconômico do jovem intervencionado deve ser condizente,
sendo admitidos aqueles que possuem renda familiar de no máximo 02 salários mínimos.
Além disso, serão admitidos no projeto jovens que já tenham cumprido medidas
socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990). Cabe
apontar que estas são destinadas a jovens de 12 aos 17 anos, podendo a medida de internação
ser estendida até a idade limite de 21 anos de idade, conforme preceitua o artigo 121, §5° da
Lei. Desta forma, o projeto leva em consideração a atuação em jovens que cumpriram medida
de internação, tendo progredido para o regime de semiliberdade. A condenação deve ter se
dado por transgressão à normas da Lei 11.343 de 2006, que instituiu o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas, estabelecendo normas para repressão à sua produção não
autorizada e ao seu tráfico ilícito.
Por fim, também será adotado como pré-requisito para a admissão no projeto a
voluntariedade dos jovens intervencionados em participar e cooperar com os técnicos para
que os objetivos traçados pelo programa sejam atingidos. Configura critério de exclusão o
acompanhamento de jovens em caráter coercitivo.
2.4. Atuando nas necessidades: Fatores de risco e necessidades criminógenas identificadas
Tendo em consideração o modelo RNR enquanto o escolhido como fundamento para o
desenho da presente intervenção, mostra-se imprescindível que a nossa atuação seja voltada
para a alteração dos fatores de risco dinâmicos. Dessa forma, à luz de todo o material colhido
e do estudo pelo grupo realizado, foram identificadas as necessidades criminógenas dos
indivíduos a serem trabalhadas, com o objetivo de suportar de maneira teórica os métodos que
serão adotados, a fim de que o programa apresente êxito. Desse modo, ao compreender um
fator de risco como uma necessidade que deve ser provida ao sujeito, de maneira a reduzir a
probabilidade de reincidência, deve haver o enfoque naqueles que são passíveis de alteração.
Por isso, as necessidades criminógenas se configuram como um princípio básico fundamental
para a redução dos fatores de risco em busca da reabilitação. Caso elas sejam ignoradas,
mostrar-se-ão como autênticos propulsores do crime.
Assim sendo, no âmbito dos jovens periféricos brasileiros envolvidos com o tráfico de
drogas, as principais necessidades encontradas dizem respeito à condição de
desfavorecimento econômico, desestruturação familiar, negligência Estatal, exclusão social,
busca por pertencimento e reconhecimento. Esses fatores relacionam-se com algumas
categorias de necessidades que podem ser encontradas no Central Eight, sendo este, um grupo
de oito fatores de maior risco/necessidade criminógenas considerados pelo modelo RNR
(Bonta & Andrews, 2006). Dessa forma, as necessidades criminógenas “condição de
desfavorecimento econômico”, “negligência e falta de suporte Estatal” e “exclusão social”
encontram-se associadas ao fator “suporte Social para o crime”. Já a necessidade “busca por
pertencimento e reconhecimento” associa-se com o fator de “atitudes pró-criminais” e por
último, a necessidade “desestruturação familiar” que se relaciona com o fator
“família/relações de pares”. Nesse viés, o programa será composto por módulos que terão
como pressupostos básicos as necessidades referidas, a fim de que seja trabalhado aquilo que
é necessário, ao implementar as estratégias corretas.
2.5. Desenho da intervenção
O programa de intervenção será estruturado em cinco etapas, sendo a primeira, uma sessão de
boas-vindas para os participantes, com um relato geral sobre a ideia do projeto; a segunda,
composta pelo “Módulo 1”, com o tema “social-cognitivo”; na terceira, consta o “Módulo 2”
cuja temática é a família; a quarta, “Módulo 3”, em que o foco será na área profissional; e a
última etapa, em que se dará o “Módulo 4”, que servirá para a explanação sobre os avanços
dos participantes e início do processo de avaliação da eficácia do programa. O programa terá
duração de 1 ano, uma média de 48 semanas, ocorrendo de janeiro a dezembro. O projeto
estará centrado nos módulos 1, 2 e 3, durante onze meses. Já o último mês será dedicado ao
módulo 4. O projeto contará com uma sessão por semana para cada módulo, até totalizarem o
número de sessões estipulados para cada um, durante o período previsto. Cada sessão terá em
média 90 minutos de duração e será aplicada em um grupo com 8 indivíduos. Incluirá a
presença de dois técnicos qualificados, que saibam atuar de maneira profissional e
comprometida, seguindo os procedimentos éticos, mas que ao mesmo tempo saibam ser
flexíveis e detenham a capacidade de se conectar com as pessoas.
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO: CRONOGRAMA DE
EXECUÇÃO
Etapas
Nº de
sessões Meses
Boas-vindas e Aplicação
dos Questionários 2 janeiro
Módulo 1 (social-cognitivo) 44
janeiro -
novembro
Módulo 2 (familiar)44
janeiro -
novembro
Módulo 3 (profissional) 28 janeiro - julho
Módulo 4 (conclusivo) 4 dezembro
Sessão de boas-vindas e aplicação dos questionários.
Neste primeiro momento, será realizada uma sessão de boas-vindas para os participantes do
programa e posteriormente, se dará à aplicação dos questionários mencionados no tópico 2.2
deste trabalho (YLS/CMI e o questionário de recolha de informações caracterizantes dos
sujeitos). Estes procedimentos ocorrerão em duas sessões da primeira semana da intervenção.
Módulo (1): Social - Distorções cognitivas.
À luz do entendimento de que a reação de uma pessoa não é determinada por uma
situação ou acontecimento em si, mas sim pela sua interpretação, neste módulo o empenho
será no sentido de trabalhar com as visões distorcidas que estes jovens possuem acerca dos
comportamentos que adotam e do olhar que têm sobre si mesmos. Nesse viés, de maneira a
realizar uma abordagem focada nas suas necessidades, serão trabalhados seus sentimentos de
exclusão social, rejeição, bem como autoconceito, autocontrole, e a busca por pertencimento e
reconhecimento. São estes fatores importantes, visto a influência do contexto sociocultural no
qual se encontram inseridos e dos processos de socialização pelos quais passaram, de maneira
a resultar em crenças disfuncionais acerca de si e dos outros. Desse modo, buscar-se-á que
estes jovens consigam compreender seus conflitos intrínsecos, de forma a suscitar no
reajustamento das distorções cognitivas, construídas ao longo do seu desenvolvimento.
Assim, este módulo se desenhará em 44 sessões que irão abordar os seguintes temas:
(1) “Autoconceito”, com o objetivo de promover uma análise acerca da compreensão que
cada um possui sobre si mesmo e como isso reflete em seu comportamento; (2) “A visão
sobre os outros”, de maneira a demonstrar como o olhar que temos sobre as outras pessoas
demonstra um pouco de nós mesmos; (3) “O que pensam de nós”, com o condão de apontar
como cada um constrói uma imagem a partir do que acredita que os outros pensam a seu
respeito; (4) “Rejeição?”, com o intuito de promover uma reflexão acerca das situações nas
quais não nos sentimos aceitos por outras pessoas, de forma a entender que isso faz parte da
vida e que devemos buscar as melhores maneiras para lidar com esse sentimento; (5) “Meu
lugar no mundo”, a fim de possibilitar que, por meio da cultura e manifestações culturais,
estes jovens desenvolvam sentimentos de pertencimento social; (6) “Crenças e valores”,
buscando promover a compreensão de como crenças e valores disfuncionais influenciam em
nossas avaliações, de maneira a provocar consequências emocionais e comportamentais
negativas; (7) “Interpretar e compreender”, relaciona-se com a sessão anterior e possui o
objetivo de trabalhar e confrontar as avaliações distorcidas dos comportamentos e
acontecimentos, procurando permitir o desenvolvimento de interpretações mais realistas; (8)
“Emoções”, com o condão de promover uma análise acerca das emoções e seus significados;
(9) “Gestão da raiva”, com o propósito de trabalhar a impulsividade e autocontrole, visando
munir estes jovens com respostas pacíficas e tolerantes; (10) “Solução de conflitos”, tendo
como finalidade fazer com que eles assimilem conceitos como a necessidade de pedir ajuda
quando necessário a importância de pedir desculpas, de maneira a fomentar o
desenvolvimento de respostas readaptativas e solucionadas de conflito. Os seis primeiros
temas serão desenvolvidos em 4 sessões cada enquanto os quatro últimos em 5.
Módulo (2): Familiar.
Sendo no seio familiar que ocorrem indispensáveis processos de exteriorização de
normas e valores sociais e entendendo como necessário trabalhar o indivíduo mantendo-o nos
seus contextos e junto das instâncias de socialização, o presente módulo tratará de estratégias
focalizadas na família. Para tanto, pretende-se medidas que visem o fortalecimento do vínculo
familiar, a modificação das dinâmicas familiares e dos padrões comportamentais. Para além
disso, objetiva, especificamente, o desenvolvimento de habilidades parentais e,
consequentemente, a melhora na expressão de afeto e cuidado.
Parte-se, neste módulo, do pressuposto de que, conforme postulado por Martinho
(2010), a ausência de vínculos familiares origina no jovem um sentimento de marginalização
e de exclusão, que poderá, tal como ocorre, dar origem ao fenômeno da delinquência juvenil.
A respeito da interação e fatores familiares que representam risco para o desenvolvimento das
crianças e dos adolescentes, Bolsoni-Silva e Marturano (2008) demonstraram que o ambiente
familiar e as práticas educativas parentais são fatores que podem tanto promover o
desenvolvimento de comportamentos socialmente adequados, os chamados fatores de
proteção, como favorecer o surgimento de comportamentos problemáticos.
Face aos objetivos previamente estabelecidos, o presente módulo dividir-se-á em 44
sessões, estas serão agrupadas, de maneira geral, em 3 blocos principais. Para tanto, o 1º
bloco, a ser realizado em 11 sessões, consistirá na realização de palestras e a exibição de
filmes que visem a sensibilização dos progenitores e cuidadores face à temática da
delinquência juvenil, enfatizando a relação entre a ausência de vínculos e a adoção de
comportamentos antissociais. Ao final de cada palestra, realizar-se-ão dinâmicas de grupo,
nas quais as famílias poderão interagir entre si por meio de atividades lúdicas e o
compartilhamento de experiências. Cumpre ressaltar, por fim, que essas dinâmicas de grupo
serão retomadas nas três últimas sessões do presente módulo.
No 2º bloco será realizado, dentro de 15 sessões, um programa de treino de
competências parentais, a ser desenvolvido por psicólogos e criminólogos, compreendendo,
inclusive, a divulgação de táticas acerca da forma como atuar no cotidiano com os jovens.
Relativamente às estratégias utilizadas nos referidos programas, prevalecem as sessões
temáticas em grupo, com a utilização de métodos expositivos, em formato de sala de aula. As
sessões serão, ainda, complementadas com visitas domiciliárias a cada família.
Ao fim do programa de treinamento das competências parentais, iniciam-se, no 3º
bloco, as sessões de terapia funcional familiar, a serem, também, desenvolvidas em 15
sessões. Nesse processo, as dificuldades de comunicação da família, quando existirem, serão
apontadas pelo terapeuta, sendo a melhora da comunicação um dos tópicos a serem tratados,
sendo necessário que se proceda à alteração dos programas de interação e comunicação no
seio familiar. Os encontros individuais com as famílias, seguindo o formato de terapia
cognitivo comportamental, serão desenhados de forma que, no início de cada um, elabora-se
uma agenda de trabalho colaborativo e se trabalha especificamente com alguns problemas
escolhidos, utilizando técnicas de resolução de problemas. Ao final de cada encontro, serão
dadas aos familiares tarefas importantes a serem desenvolvidas sem o terapeuta. O presente
módulo, por fim, nas 3 últimas sessões, como dito anteriormente, consistirá, mais uma vez, na
dinâmica de grupos por meio da realização de atividades lúdicas e o compartilhamento de
experiências entre as famílias ao longo de todo o processo de desenvolvimento do módulo.
Módulo (3): Desenvolvimento profissional.
O alto índice de evasão escolar conjugado ao baixo nível de escolaridade é uma
realidade para a juventude brasileira que reflete no trabalho informal e na associação às
atividades de caráter ilícito, como o tráfico de drogas. Nessa perspectiva, faz-se necessário
estimular o estudo e desenvolver competências profissionais, a fim de reinseri-los em
sociedade, provocar mudanças nas perspectivas de vida e reduzir os altos índices de
reincidência.
Sendo assim, o presente módulo do programa pretende criar estratégias integradas a
partir de parcerias com órgãos da administração pública e empresas privadas do Rio de
Janeiro que ofereçam oportunidadesde profissionalização a partir da contratação dos jovens
intervencionados como aprendizes, bem como disponibilizem recursos humanos, capital e
estrutura adequada para o prosseguimento da profissionalização pretendida aliada ao
desenvolvimento estudantil a ser efetuado nas sessões. Estas serão 28 no total e se dividirão
da seguinte maneira:
A 1ª até a 15ª sessões serão dedicadas à “leitura, escrita e oratória”. Neste contato
inicial, as 05 primeiras aulas deste módulo serão ministradas por 01 professor doutor em
pedagogia da UFRJ, acompanhado por um estagiário matriculado na graduação em pedagogia
da UFRJ (vide tópico 2.4.3) tendo como temática a leitura exclusivamente. As 05 aulas
sucessivas a estas (6ª a 10ª sessões) serão destinadas ao aprimoramento da escrita, de forma a
dar continuidade ao trabalho do professor e estagiário. Por fim, as últimas 05 aulas desta
“primeira parte” do módulo (11ª a 15ª sessões) serão dedicadas a um curso básico de oratória,
a ser ministrado por profissionais do CIEE/RJ (vide tópico 2.4.3).
A “segunda parte” deste módulo será destinada à oferta de cursos, todos ministrados
pelo CIEE/RJ, que visam melhorar as habilidades e capacidades gerais dos participantes, de
modo que eles possam utilizá-las em seu próximo emprego. Sendo assim, a 16ª até a 20ª
sessões ocupar-se-ão do curso de “Noções Básicas de Informática” sobre os programas Excel,
Word e Power Point, requisitos básicos para ingresso em vários programas de menor aprendiz.
A 21ª sessão será dedicada à realização de um “teste vocacional” em que os jovens terão a
oportunidade de utilizar tal ferramenta para o autoconhecimento e descoberta de suas
aptidões, a fim de relacioná-las a atividade desejada. Na 22ª e 23ª sessões os alunos irão
participar de um curso sobre “Conceitos Básicos de Logística”. Tal curso foi escolhido para
ingressar na base curricular deste Programa de Intervenção tendo em vista de nesta área
existir uma ampla e constante oferta de empregos no Brasil. Na 24ª e 25ª sessões será
ministrado aos participantes o curso “Desenvolvimento de Habilidades de Liderança" para
que os alunos sejam capazes de aprimorar habilidades que os façam se desenvolver no âmbito
profissional e pessoal. Na 26ª sessão, o CIEE/RJ ministrará uma palestra sobre “Dicas de
Entrevista”. O objetivo deste curso é ensinar os jovens a melhor maneira de se comportar
diante de um futuro empregador, e o que falar para conquistar a vaga.
A “terceira (e última) parte” deste módulo é composta pelas 27ª e 28ª sessão, a qual se
destinará a exposição de cursos técnico-profissionalizante do SENAC/SESC (vide tópico
2.4.3), de forma que, ao final da palestra, os jovens serão convidados a realizar sua matrícula
em qualquer um dos cursos disponibilizados pela instituição.
Ao final de todos os cursos ministrados pelo CIEE/RJ os intervencionados receberão
um certificado de participação. Desta forma, os jovens poderão acrescentá-lo em seu currículo
para o conhecimento de seu futuro empregador.
Módulo (4): Conclusivo - Entendendo o Percurso
Nesta etapa busca-se que o jovem intervencionado possua a capacidade de discernir
sobre o seu papel na sociedade e possa compreender os males da sua inserção no mercado do
crime, inclusive, como agentes para o aumento de outras tipologias criminológicas associadas
ao tráfico de drogas. Assim, na 1ª semana será aplicado o questionário YLS/CMI com o
objetivo de compreender a evolução psicossocial do intervencionado, bem como, para
verificar as condições específicas da efetividade do programa reabilitativo. Na 2º e 3ª
semanas os questionários serão avaliados pelos profissionais habilitados (psicólogos e
criminólogos) e na 4ª semana serão realizadas sessões de feedback individual sobre a
evolução e o percurso dos intervencionados no programa. Na 5ª e última semana o programa
será encerrado com o direcionamento deste jovens para cursos técnicos profissionalizantes, de
acordo as habilidades adquiridas e identificadas durante o Módulo 3 e pelo teste vocacional.
Posteriormente, haverá a realização de um evento de confraternização, para o encerramento
do programa de forma positiva.
2.5 Método de avaliação da eficácia do programa
Qualquer programa que procura obter resultados eficazes, precisa ser avaliado ao final
de sua aplicação para verificar sua efetividade. Pensando nisso, ao final da intervenção, será
feita uma avaliação em apenas um nível. Para isso, sucederá à aplicação do questionário
YLS/CMI antes e depois do desenvolvimento do programa, com o grupo experimental
(participantes da intervenção), e uma aplicação apenas ao final do processo, com o grupo
controle (será selecionado um grupo de oito jovens, dentro dos critérios de inclusão e
exclusão, que não participaram do programa). Objetiva-se com isso, avaliar as alterações do
grau dos riscos dinâmicos (necessidades criminógenas) dos sujeitos ao envolvimento com o
crime, analogamente com o grupo controle, para comparar quais as semelhanças e diferenças
dos resultados, possibilitando a análise do impacto da aplicação do programa sob o grupo
experimental, sendo que, caso não haja muitas diferenças, pode-se concluir que o programa
não obteve muitos resultados efetivos e que há outros fatores que precisam ser trabalhados. A
aplicação do YLS/CMI sob o grupo experimental ocorrerá primeiramente no Módulo 1 e
posteriormente no Módulo 4, juntamente com o grupo controle.
2.6 Apoio, recursos e investimentos demandados
O presente Projeto contará com o apoio dos seguintes parceiros: SENAC/SESC,
CIEE/RJ e UFRJ. No âmbito do desenvolvimento de competências em sede profissional, será
pleiteada parceria com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) que tem por
função representar os pleitos da atividade industrial no estado, sendo uma das maiores fontes
de absorção de jovens para o mercado de trabalho. Esta rede atua em paralelo ao estado para o
fomento de necessidades basilares, tais como educação, saúde, lazer e incentivo de esportes,
além de inserir jovens no mercado de trabalho, através de cursos técnico-profissionalizantes
oferecidos pelo SENAC e pelo SESC em múltiplas áreas do conhecimento.
Assim, após os jovens intervencionados realizarem o teste vocacional mencionado no
tópico 2.4.2 (módulo [3], sessão 21ª), eles serão encaminhados aos cursos que melhor
atenderem às suas demandas pessoais, tais como: petroquímica, automação, programação de
jogos digitais, dentre outros. Conforme já mencionado (módulo [3], sessão 28ª), o
SENAC/SESC matriculará os jovens em seus cursos, de forma gratuita, para que eles possam
aprimorar sua capacitação ao término do cumprimento das medidas socieducativas.
Já o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), é uma associação civil de direito
privado, sem fins lucrativos, reconhecida como entidade de assistência social que visa inserir
o jovem no mercado de trabalho. Para tanto, ela oferece ajuda a todos aqueles cadastrados em
uma de suas unidades regionais, a fim de possibilitar o seu ingresso em um programa de
estágio (para os que já se encontrem cursando uma graduação), ou de menor aprendiz. Além
disso, o CIEE oferta mensalmente cursos presenciais, gratuitos e de curta duração, acerca das
mais diversas áreas do conhecimento, a fim de possibilitar a capacitação desses jovens. Nesse
sentido, a sua contribuição neste Projeto de Intervenção se dará por meio do módulo
“profissional”, no qual professores parceiros da associação ministrarão aulas de informática,
oratória, conceitos básicos de logística, desenvolvimento de habilidades de liderança e
empreendedorismo. Além disso, o CIEE/RJ também se responsabilizará pelo empréstimo de
notebooks, no período de duração das aulas, aos jovens que participantes do projeto. Por fim,
o CIEE/RJ também os cadastrará em sua rede de dados, para que, assim que cumprirem sua
medida socioeducativa, possam inserir-se em uma atividade lícita do mercado de trabalho.
Por último, o projeto contará também com o apoioda Universidade Federal do Rio de
Janeiro, que atuará voluntariamente em todos os módulos aqui propostos. O setores de
Psicologia e Pedagogia da UFRJ se encarregarão de promover um Projeto de Extensão
Universitário para que, em conjunto com os professores da casa, um grupo de 06 alunos possa
acompanhar os trabalhos a serem desenvolvidos. Desta maneira, cada sessão proposta contará
com a presença de 02 professores doutores em psicologia, os quais serão responsáveis pelo
acompanhamento dos jovens participantes deste projeto, e a de 02 estudantes de psicologia,
que deverão auxiliar seus coordenadores de maneira geral. Quanto ao setor de Pedagogia, este
será responsável pelo fornecimento de recursos humanos de 01 professor doutor, que
ministrará as aulas previstas no módulo profissional, sessões 1ª a 10ª, e a de mais 01 estudante
que atuará como seu estagiário.
3. Considerações Finais
Considerando as intervenções propostas nos diferentes módulos deste programa,
objetiva-se mostrar para os jovens/adolescentes que se envolveram com o tráfico de drogas,
que é possível se desenvolver fora do meio criminoso e que após terem cometido algum ato
infracional, ainda existem possibilidades de transformação e melhoria de vida.
O programa em questão foi pensado com a finalidade de ressocializar o sujeito, já que
este se encontra em uma fase de desenvolvimento tão propícia à aprendizagem e
transformações. Dessa forma, o projeto possibilita continuar o processo de educação
pró-social mesmo após o cumprimento da medida socioeducativa, preparando-o de forma
perdurável para o convívio demandado pela sociedade, isto é, afastado da criminalidade. A
intenção do programa, é capacitar os jovens com habilidades técnicas e
comportamentais/cognitivas, além de, promover a melhora da coesão e relacionamento no
seio familiar, de maneira a objetivar a não reincidência criminal, por meio de métodos
reforçadores e não punitivos.
Em vista disso, acredita-se que os resultados das intervenções deste programa podem
ser benéficos pois, funcionam como uma ferramenta para minorar o envolvimento com o
tráfico de drogas entre os jovens, reverberando efeitos positivos para o sujeito, sua família,
sua comunidade e para a sociedade do Rio de Janeiro.
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