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P O L U I Ç Ã O ATMOSFÉRICA JEFERSON SANTOS SANTANA 1º EDIÇÃO | 2020 SÃO PAULO - SP 1º EDIÇÃO | 2020 SÃO PAULO - SP POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA JEFERSON SANTOS SANTANA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EXPEDIENTE COORDENAÇÃO GERAL Nelson Boni COORDENAÇÃO/ PROJETO GRÁFICO E CAPA João Guedes COORDENAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS Hikaro Queiroz COORDENAÇÃO DE REVISÃO ORTOGRÁFICA Esthela Malacrida AUTOR(ES) Jeferson Santos Santana DIAGRAMAÇÃO João Guedes 1º EDIÇÃO | 2020 SÃO PAULO - SP APRESENTAÇÃO Prezado aluno, N esta obra apresentaremos os aspectos mais usuais referentes à poluição atmosférica con-siderando as suas complexidades e fenômenos envolvidos. O livro é dividido em quatro Capítulos o qual estão distribuídos através dos aspectos gerais envolvendo a água até legislações vigentes à mesma. Na Unidade 01 há uma abordagem sobre a origem e composição da at- mosfera, a importância dos principais gases presentes, sua estruturação e suas principais propriedades. A Unidade 02 apresenta uma contextualização histórica a respeito da poluição mundial, os efeitos que as mesmas causam no meio ambiente e uma prévia abordagem sobre a qualidade do ar nos interiores. Na Unidade 03 há uma apresentação dos principais poluentes atmosféricos e seus efeitos como os óxidos de enxofre, nitrogênio e material particulado. A última unidade (Unidade 04) há uma visão geral do im- pacto de alguns poluentes específicos em processos globais como o efeito estufa, redução da camada de ozônio junta- mente com uma abordagem sobre os aspectos legislativos e de qualidade do ar envolvidos. Para melhor localização no estudo, os capítulos do livro são apresentados de forma sequencial para melhor aprendizagem. 4 SUMÁRIO UNIDADE 1 A ATMOSFERA TERRESTRE ���������������������������� 6 CAPÍTULO 1 ATMOSFERA TERRESTRE �������������������������������������������� 8 1.1 ORIGEM E COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA .................................. 9 1.2 IMPORTÂNCIA DOS PRINCIPAIS GASES ATMOSFÉRICOS ........ 14 CAPÍTULO 2 ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES �����������������19 2.1 CAMADAS E SUB-CAMADAS ATMOSFÉRICAS ........................... 21 2.2 ESTRUTURA VERTICAL DA ATMOSFERA ................................... 23 2.3 VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS ....................................................... 26 2.4 PROCESSOS ADIABÁTICOS ATMOSFÉRICOS ............................ 30 2.5 ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA ................................................... 31 UNIDADE 2 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA – CONCEITOS HISTÓRICOS E EFEITOS ������������������������������� 40 CAPÍTULO 3 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ������������������������������������������42 3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA POLUIÇÃO MUNDIAL ..... 43 CAPÍTULO 4 EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ���������������������������53 4.1 EFEITOS NO ECOSSISTEMA ....................................................... 58 4.2 EFEITOS DA POLUIÇÃO SOBRE ÁREAS URBANAS .................... 60 4.3 EFEITOS NA SAÚDE HUMANA .................................................... 63 4.4 POLUIÇÃO DO AR EM INTERIORES ........................................... 67 5 UNIDADE 3 POLUENTES ATMOSFÉRICOS ������������������������ 77 CAPÍTULO 5 PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS �����������������������79 5.1 ALDEÍDOS .................................................................................. 81 5.2 HIDROCARBONETOS (HCs) ....................................................... 82 5.3 ÓXIDOS DE ENXOFRE ................................................................ 88 5.4 ÓXIDOS DE NITROGÊNIO ........................................................... 90 5.5 TÓPICO ESPECIAL: CHUVA ÁCIDA ............................................. 91 5.6 MONÓXIDO DE CARBONO .......................................................... 94 5.7 COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS ........................................ 95 5.8 CARBONO NEGRO ...................................................................... 98 5.9 OZÔNIO (SMOG FOTOQUÍMICO) .............................................. 100 5.10 MATERIAL PARTICULADO (MP) ............................................... 104 5.11 CLOROFLUORCARBONO (CFC) ................................................ 108 UNIDADE 4 IMPACTOS, LEGISLAÇÃO E QUALIDADE ATMOSFÉRICA ������������������������� 115 CAPÍTULO 6 IMPACTOS NO AMBIENTE ����������������������������������������� 117 6.1 EFEITO ESTUFA ........................................................................ 118 6.2 REDUÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO ........................................ 123 CAPÍTULO 7 ASPECTOS LEGISLATIVOS SOBRE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ���������������������������������������� 128 CAPÍTULO 8 QUALIDADE DO AR ������������������������������������������������� 132 8.1 MODELOS DE QUALIDADE DO AR ........................................... 140 UNIDADE 1 UNIDADE 1. A ATMOSFERA TERRESTRE A ATMOSFERA TERRESTRE Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Nesta primeira unidade ocorrerá uma abordagem sobre a origem e composição da atmosfera, a importância dos prin- cipais gases presentes, sua estruturação e suas principais propriedades. Conteúdos da Unidade A unidade contará com 2 capítulos (nomeados Capítulo 01 e 02), no qual no Capítulo 01 verificaremos a origem e com- posição terrestre, os aspectos e substâncias envolvidas na formação da Terra e a importância de tais gases. No capítulo 02 contará com uma descrição da estruturação da atmosfe- ra e suas devidas propriedades, a camada limite atmosféri- ca e as suas variáveis e os processos adiabáticos envolvidos. Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá as- sinalando os assuntos, à medida que for estudando. CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1. ATMOSFERA TERRESTRE –ATMOSFERA TERRESTRE– 9 1.1 ORIGEM E COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA Vista do espaço interplanetário, a Terra é uma bela es- fera azul salpicada de farrapos brancos. Foram os astronau- tas das missões Apollo quem tiveram o privilégio de sentir pela primeira vez a emoção resultante da visão desse espe- táculo deslumbrante: a imagem da Terra vista do espaço. Com efeito, a imagem da Terra vista da Lua é muito diferen- te daquela que temos da Lua a partir da Terra, e a diferença reside na atmosfera terrestre. O meio ambiente global possui 4 domínios: a atmos- fera, predominantemente gasosa; a hidrosfera, que engloba a massa líquida planetária; a litosfera, constituída de sua parte sólida; e a biosfera, dos seres vivos. Mas esse meio ambiente não surgiu do nada, ao contrário, resulta de ex- traordinárias mudanças ocorridas ao longo do tempo, que a ciência procura desvendar e explicar. Uma tentativa de resumir a história do surgimento da atmosfera de nosso planeta, dentro do grande processo de transformação que se deu após a explosão do ovo cósmico na Criação do mundo, poderia resultar num quadro crono- lógico como o que se segue na Tabela 1.1: Tabela 1.1 - Períodos terrestres e eventos Período Evento 5 bilhões de anos atrás Formação da Terra –ATMOSFERA TERRESTRE– 10 Período Evento Primeiros 500 mi- lhões de anos Atmosfera densa emergiu do vapor e dos gases expelidos durante a desgaseificação do interior do planeta: o hidrogênio (H2), o vapor d’água (H2O), o metano (CH4) e óxidos de carbono. 4 bilhões de anos atrás Formação da hidrosfera, resultando em ocea- nos de água, nos quais ocorreu sedimentação. Antes de 3,5 bi- lhões de anos atrás Atmosfera provavelmente consistia de dióxi- do de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), vapor de água (H2O), Nitrogênio (N2) e Hidrogênio (H2) Assim, a formação da Terra é recente em relação à ori- gem do universo. E o surgimento da atmosfera resultou da emersão de vapores e gases provindos do interior do pla- neta, predominando inicialmente o hidrogênio (H2) a água (H2O), o metano (CH4) e óxidos de carbono. Até o período delimitado pelos estudiosos em 3,5 bilhões de anos atrás, o dióxido e o monóxido de carbono (CO2 e CO), a água (H2O), o nitrogênio (N2) e o hidrogênio (H2) já constituíama at- mosfera terrestre. A hidrosfera, por sua vez, somente se for- mou há cerca de quatro bilhões de anos, com o surgimento dos oceanos. Não existe acordo sobre a constituição da atmosfera da Terra à época. O estudo das composições de nuvens de poeira estelar e de certos meteoritos ou, ainda, de gases presos em rochas antigas, fornece pistas que orientam as pesquisas. Com base nesses dados, as hipóteses estudadas focam-se na interação entre os elementos mais comuns - hidrogênio, carbono, oxigênio e nitrogênio -, agrupados em –ATMOSFERA TERRESTRE– 11 compostos simples, propondo atmosferas primitivas ora mais, ora menos redutoras, atingidas por radiação ultravio- leta proveniente do Sol. A atividade vulcânica e o resfria- mento do Planeta contribuíram para uma mudança da at- mosfera original, acrescentando dióxido de carbono (CO2) e dióxido de enxofre (SO2) e diminuindo a concentração de CH4. Não se cogita a presença do gás oxigênio, cujas mo- léculas corrosivas surgiram como resultado do metabolis- mo dos seres vivos fotossintetizantes, que apareceram mais tarde, há cerca de 2,7 bilhões de anos. Estima-se que um acúmulo rápido de O2 tenha ocorrido em torno de 2 bilhões de anos atrás, atribuído ao provável esgotamento dos rea- gentes passivos disponíveis e à proliferação de cianobacté- rias fotossintetizadoras. Atualmente, a composição do ar não é constante nem no tempo, nem no espaço. Contudo se removêssemos as partículas suspensas, vapor d’água e certos gases variáveis, presentes em pequenas quantidades, encontraríamos uma composição muito estável sobre a Terra, até uma altitude de ~80 km, conforme apresentado na Tabela 1.2. Tabela 1.2 - Principais gases do ar seco. Gás Porcentagem (%) Partes por Milhão (ppm) Nitrogênio 78,08 780.000,0 Oxigênio 20,95 209.460,0 Argônio 0,93 9.340,0 Dióxido de carbono 0,035 350,0 Neônio 0,0018 18,0 –ATMOSFERA TERRESTRE– 12 Gás Porcentagem (%) Partes por Milhão (ppm) Hélio 0,00052 5,2 Metano 0,00014 1,4 Kriptônio 0,00010 1,0 Óxido nitroso 0,00005 0,5 Hidrogênio 0,00005 0,5 Ozônio 0,000007 0,07 Xenônio 0,000009 0,09 O nitrogênio e o oxigênio ocupam até 99% do volume do ar seco e limpo. A maior parte do restante (1%) é ocupa- da pelo gás inerte argônio. Embora estes elementos sejam abundantes eles têm pouca influência sobre os fenômenos do tempo. A importância de um gás ou aerossol atmosférico não está relacionada à sua abundância relativa. Por exemplo, o dióxido de carbono, o vapor d’água, o ozônio e os aerossóis ocorrem em pequenas concentrações, mas são importantes para os fenômenos meteorológicos ou para a vida. Chama-se atmosfera terrestre a camada composta por radiação, gases e material particulado (aerossóis) que envolvem a Terra e se estendem por centenas de quilôme- tros presos à Terra devido a força gravitacional. Os limites inferiores da atmosfera são, obviamente, as superfícies da crosta terrestre e dos oceanos. Contudo, os seus limites su- periores não são bem definidos porque, com o aumento da altitude, a atmosfera vai se tornando cada vez mais tênue, em relação ao seu conteúdo de matéria, até que ela se con- funda com o meio interplanetário. –ATMOSFERA TERRESTRE– 13 A composição da atmosfera, no que tange a matéria, pode variar bastante com a altitude. Outro fator compli- cador nessa determinação é que componentes materiais normalmente ausentes podem, eventualmente, ser intro- duzidos na atmosfera. Eles podem ter origem em processos naturais (erupções vulcânicas, por exemplo) ou ser resul- tantes de atividades humanas. Quando nos conscientizamos que mais de 99% da massa de toda a atmosfera está confinada aproximada- mente dentro dos primeiros 30 km sobre nossas cabeças, e que troposfera (a camada da atmosfera terrestre onde vi- vemos) é uma região de apenas 15 km de espessura e que contém 85% da massa de toda a atmosfera, conclui-se que vivemos em um ‘mundo realmente pequeno’ e que nós hu- manos, que povoamos a biosfera deste planeta, temos tido um modo de vida, naquilo que se convencionou chamar de ‘sociedade moderna’, que está definitivamente afetando a qualidade da nossa e de muitas outras formas de vida. O principal problema é que a sociedade moderna está emitin- do para a atmosfera uma quantidade muito grande de gases estufa; como resultado, existe hoje uma expectativa que o efeito estufa vá se intensificar pelo acréscimo desses gases na atmosfera. Por conseguinte a temperatura média do planeta de- verá aumentar. Todavia, considerando que não existe um consenso de que isso realmente irá ocorrer, pois a huma- nidade também está aumentando a quantidade de material particulado na atmosfera e, paralelamente, um pequeno –ATMOSFERA TERRESTRE– 14 aquecimento resultante do efeito estufa evaporaria mais água do mar, resultando em um número maior de nuvens. Tanto essas nuvens como o material particulado em maior quantidade na atmosfera podem refletir maior quantidade de energia proveniente do sol e, portanto, deixar que menos energia chegue à superfície do planeta causando um res- friamento global. O conhecimento da composição e comportamento da atmosfera possui uma grande e fundamental relevância para os processos biológicos já que processos físicos e quí- micos que ocorrem na atmosfera protegem os organismos da exposição à radiação ultravioleta em níveis perigosos, além de que a atmosfera contém os gases e os componentes da radiação necessários para os processos vitais na Terra como, por exemplo, respiração e fotossíntese. 1.2 IMPORTÂNCIA DOS PRINCIPAIS GASES ATMOSFÉRICOS 1.2.1 Nitrogênio Embora seja o constituinte mais abundante na atmos- fera, o nitrogênio, paradoxalmente não desempenha ne- nhum papel relevante, em termos químicos ou energéticos, nas vizinhanças da superfície terrestre. Na alta atmosfera, no entanto, esse gás absorve um pouco de energia solar de pequeno comprimento de onda (no domínio do ultraviole- ta), passando à forma atômica. –ATMOSFERA TERRESTRE– 15 1.2.2 Oxigênio e Ozônio O oxigênio desempenha um papel fundamental para os seres vivos, ou seja, torna possível a vida aeróbica no planeta. A ele deve-se a oxidação de compostos orgânicos, através do processo fisiológico da respiração, como mostra a Equação 1.1: [𝐶𝑎𝑟𝑏𝑜𝑖𝑑𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠]+[𝑂𝑥𝑖𝑔ê𝑛𝑖𝑜]→[𝐺á𝑠 𝐶𝑎𝑟𝑏ô𝑛𝑖𝑜]+[Á𝑔𝑢𝑎]+[𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎] (Equação 1.1) O ozônio (O3) é um dos gases que compõe a atmosfera e cerca de 90% de suas moléculas se concentram entre 20 e 35 km de altitude, região denominada Camada de Ozônio. Sua importância está no fato de ser o único gás que filtra a radiação ultravioleta do tipo B (UV-B), nociva aos seres vivos. O ozônio tem funções diferentes na atmosfera, em função da altitude em que se encontra. Na estratosfera, o ozônio é criado quando a radiação ultravioleta, de origem solar, interage com a molécula de oxigênio, quebrando-a em dois átomos de oxigênio (O). O átomo de oxigênio liberado une-se a uma molécula de oxigênio (O2), formando assim o ozônio (O3), o qual pode ser regenerado através do Ciclo de Chapman, conforme apresentado pela Equação 1.2: 𝑂2+ℎ𝑣 →𝑂+𝑂 𝑂+𝑂2→ 𝑂3 𝑂3+𝑂 →2𝑂2 (Equação 1.2) Na região estratosférica, 90% da radiação ultravio- leta do tipo B é absorvida pelo ozônio. Ao nível do solo, –ATMOSFERA TERRESTRE– 16 na troposfera, o ozônio perde a sua função de protetor e se transforma em um gás poluente, responsável pelo aumen- to da temperatura da superfície, junto com o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso. Nos seres humanos a exposição à radiação UV-B está associada aos riscos de danos à visão, ao enve- lhecimento precoce, à supressão do sistema imunológico e ao desenvolvimento do câncer de pele. Os animais também sofrem as consequências do aumento da radiação. Os raios ultravioletas prejudicam os estágios iniciais do desenvol- vimento de peixes, camarões, caranguejos e outras formas de vida aquáticas e reduz aprodutividade do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, provocando desequilí- brios ambientais. 1.2.3 Gás Carbônico Na atmosfera, o carbono está ligado ao oxigênio, for- mando o gás carbônico (CO2). Pelo processo da fotossínte- se, o CO2 é retirado do ar para a fabricação de alimento para as plantas na terra e aos fitoplânctons nos oceanos, lagos e rios. Nos últimos 200 anos, a concentração de CO2 na at- mosfera já aumentou 27% como fruto da crescente queima de combustíveis fósseis, pelo desmatamento das florestas e pelas mudanças no uso da terra. Com a queima de combus- tíveis fósseis, o carbono armazenado é oxidado e liberado para a atmosfera em forma de CO2. A emissão de dióxido de carbono para a atmosfera é, na maior parte, resultado de processos de combustão –ATMOSFERA TERRESTRE– 17 derivados do petróleo e carvão. Os países desenvolvidos são os principais consumidores de energia e grandes emissores de dióxido de carbono para a atmosfera. Com apenas 20% da população do planeta vivendo nessas regiões, esses paí- ses emitem cerca de 51% de todo o dióxido de carbono que chega à atmosfera. Como resultado dessa condição, um mo- rador dos Estados Unidos emite, em média, 2,5 vezes mais dióxido de carbono que um europeu, 5 vezes mais que um sul-americano e 8 vezes mais que uma africano. Em nações em desenvolvimento, como o Brasil e países da África, a emissão de dióxido de carbono é principalmente resultante de atividades de queima de áreas naturais de florestas ou cerrados (savanas na África). 1.2.4 Vapor d’água Além do ar seco e puro a atmosfera terrestre apresenta uma proporção variável de vapor d’água, cuja variação pro- move grandes modificações na superfície da Terra, influen- ciando diretamente os seres vivos. A variação na proporção do vapor d’água na atmosfera ocorre devido alterações na temperatura, maior ou menor presença de fontes de vapor d’água, entre outras. A presença de vapor d’água na baixa atmosfera terrestre, medida em percentagem com base em volume, varia desde praticamente 0% nos desertos quentes, onde praticamente não existe a presença de água, e nas re- giões polares, onde a temperatura é muito baixa e o ar tem reduzida capacidade de reter água na forma de vapor, até –ATMOSFERA TERRESTRE– 18 um máximo de 5 a 6% em regiões muito quentes e úmidas, podendo-se considerar um valor médio entre 2 e 3%. O vapor d’água atua como um termorregulador da at- mosfera terrestre, atenuando variações acentuadas na tem- peratura do ar, sendo também o principal absorvente seletivo da radiação solar. A passagem da água da fase líquida para a fase de vapor (evaporação) é um processo que consome ener- gia na ordem de 2,45 MJ.kg-1 (calor latente de evaporação) a qual será cedida novamente ao ambiente durante o proces- so de condensação deste vapor. Quando a água se congela, são liberados cerca de 0,335 MJ kg-1 (calor latente de fusão) e a mesma quantidade de energia, por consequência, é ne- cessária para derreter o gelo ou a neve. Assim, os processos de consumo e liberação de energia nas mudanças de fase da água promovem mecanismos de transporte de grande quan- tidade de calor cíclico na superfície da terra. CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2. ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 20 A atmosfera é apenas um dos cinco sistemas que deter- minam o clima na Terra além da criosfera (designa toda re- gião cuja superfície terrestre é coberta por gelo e neve), bios- fera (conjunto de todos os ecossistemas do planeta, ou seja, a camada da Terra que contém organismos vivos), litosfera (é a camada da Terra que compõe a sua superfície sólida) e hidrosfera (corresponde a toda parte líquida contida no pla- neta), conforme visualiza-se na Figura 2.1: Figura 2.1 - Constituição do planeta Terra Sua função é promover a distribuição da energia tér- mica proveniente do Sol, reduzindo as amplitudes entre as temperaturas diurnas e noturnas e, portanto, determinan- do o modo como a energia solar entra e sai do planeta. Segundo o critério técnico, a atmosfera está dividi- da em quatro camadas aproximadamente homogêneas –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 21 - a troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera - junto com a ionosfera e a exosfera, sendo as primeiras separa- das por três zonas de transição: tropopausa, estratopausa e mesopausa. No estudo dessas camadas, não se pode perder de vista que se trata de um meio fluido; assim, não se pode esperar que existam limites definidos entre elas. Tampouco pode ser esquecido que o critério térmico se baseia na dis- tribuição vertical média da temperatura do ar, que será abordado mais adiante. 2.1 CAMADAS E SUB-CAMADAS ATMOSFÉRICAS 2.1.1 Troposfera Região mais baixa da atmosfera que está compreen- dida da superfície até o limite superior, chamada de tro- popausa que está à aproximadamente 10 km. A troposfera contém a maior parte da massa da atmosfera e se caracteri- za por movimentos verticais acentuados, conteúdo de vapor d’água apreciável, nuvens e outros fenômenos. 2.1.2 Estratosfera É a região da atmosfera situada acima da troposfera. Estende-se desde a tropopausa até a uma altitude compre- endida entre 50 e 55 km. Os fenômenos meteorológicos ob- servados são muito diferentes dos da troposfera. 2.1.3 Mesosfera A uma altitude de aproximadamente de 50 km, a tem- peratura deixa de aumentar. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 22 2.1.4 Termosfera Região que se caracteriza por um aumento progressi- vo de temperatura. 2.1.5 Ionosfera Ionosfera é uma das camadas da atmosfera terres- tre, caracterizada por conter cargas de íons e elétrons e por abranger entre os 60 km e 500 km de altitude. 2.1.6 Exosfera É camada superior e que permite a mudança gradati- va da Atmosfera Terrestre em espaço interplanetário, sem limite definido. A Figura 2.2 apresenta as regiões citadas. Figura 2.2 - As camadas da atmosfera terrestre. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 23 2.2 ESTRUTURA VERTICAL DA ATMOSFERA O ar é compressível, isto é, seu volume e sua densidade são variáveis. A força da gravidade comprime a atmosfera de modo que a máxima densidade do ar (massa por unidade de volume) ocorre na superfície da Terra. O decréscimo da den- sidade do ar com a altura é bastante rápido (decréscimo ex- ponencial) de modo que na altitude de ~5,6 km a densidade já é a metade da densidade ao nível do mar e em ~16 km já é de apenas 10% deste valor e em ~32 km apenas 1%. O rápido decréscimo da densidade do ar significa também um rápido declínio da pressão do ar com a altitude. A pressão da atmos- fera numa determinada altitude é simplesmente o peso da coluna de ar com área de seção reta unitária, situada acima daquela altitude. No nível do mar a pressão média é de ou , que corresponde a um peso de 1kg de ar em cada . O perfil vertical médio da pressão do ar é mostrado na Figura 2.3. Figura 2.3 - Classificação das camadas da atmosfera segundo a temperatura (Fonte: http://espacodosol.com, 2017) –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 24 A tropopausa é denominada de “armadilha fria”, pois é onde o ar ascendente chega ao seu lugar limite, ou seja, ao chegar na tropopausa o ar ascendente será espalhado para os lados pois não consegue ultrapassá-la, porque nessa re- gião o ar é mais leve e mais quente, o que impede a passagem do ar ascendente para a camada superior. Isso é importante para a dinâmica e a química da troposfera, para a formação das nuvens e condições meteorológicas. Essa ascendência do ar ocorre porque o ar quente é mais leve do que o ar frio. Assim, quando a superfície terrestre é aquecida pela luz do Sol, o ar que se encontra próximo à superfície da Terra aquece e torna-se mais leve do que o ar em maiores altitu- des, ocorrendo então o fenômeno de convecção1 do ar. O processo de convecção mantém a continuidade, enquanto houver a ascensão do ar quente proveniente da superfície, e o rebaixamento do ar frio paraa superfície. Por esta razão, é difícil para as gotículas de água e para os compostos quími- cos atravessarem esta barreira invisível da temperatura na tropopausa. Desse modo, a maioria da química do ar e das alterações meteorológicas como chuvas, geadas e outras precipitações ocorrem na troposfera. Constata-se que, com a impossibilidade da ascensão da água a regiões superiores da troposfera, há consequentemente a impossibilidade da 1 A convecção é a forma de transmissão do calor que ocorre principalmente nos fluidos (líquidos e gases). Diferentemente da condução onde o calor é transmitido de átomo a átomo sucessivamente, na convecção a propagação do calor se dá através do movimento do fluido envolvendo transporte de matéria. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 25 formação de nuvens nessas camadas atmosféricas, pois as nuvens são constituídas de gotículas de água. 2.2.1 A camada limite atmosférica A camada limite atmosférica (CLA) ou camada limite planetária (CLP) é a região da atmosfera diretamente in- fluenciada pelas trocas de momentum, calor e vapor d’água que ocorrem entre superfície terrestre e a atmosfera. Isto corresponde a uma camada de 1 ou 2 km acima da super- fície terrestre, onde movimentos turbulentos que ocorrem numa escala temporal de uma hora ou menos dominam o escoamento. Forçantes que induzem estas trocas entre a atmosfera e a superfície incluem atrito com a superfície, evaporação, transpiração, transferência de calor, emissão de poluentes e modificações no escoamento induzido pela topografia. Sua importância deve-se ao fato de que a gran- de maioria das atividades humanas origina-se, ocorrem e geram consequências dentro desta camada. Nesta camada o fenômeno da turbulência está fortemente presente, e ela é fundamental por ser muito mais eficiente no transporte de massa, calor e momentum2 do que a difusão molecular pura. A CLA está representada pela Figura 2.4. 2 Um gás perfeito (ideal) é definido como aquele em que não há interação entre as par- tículas do gás. Embora esse critério nunca seja satisfeito, a aproximação é válida quando a energia de interação entre as partículas é muito menor que sua energia térmica. A fonte microscópica de pressão em um gás perfeito é o bombardeamento de partículas. A reflexão, ou absorção, dessas partículas em uma superfície real ou imaginária resulta em transferência de momentum para essa superfície, o qual, segundo a 2a. Lei de Newton esse momentum transferido exerce uma força na superfície. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 26 Figura 2.4 - Camada limite atmosférica (Fonte: IAG/USP) 2.3 VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS 2.3.1 Umidade relativa do ar (UR) Umidade relativa do ar (grau higrométrico do ar) é a razão entre a pressão de vapor d’água na atmosfera (p) e a pressão de vapor d’água saturado (P): (Equação 2.1) Assim, em um ambiente saturado, a umidade relativa do ar é igual a 1. A Tabela 1.2 mostra a densidade do va- por d’agua saturado para alguns valores de temperaturas. Considere um ambiente onde m e a massa de vapor d’agua presente na sua atmosfera e M a massa de vapor d’agua ne- cessária para saturá-lo. A umidade relativa do ar é igual a: –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 27 (Equação 2.2) 2.3.2 Ventos Vento é o ar em movimento sobre a superfície da Terra. Ele move-se em um espectro de vórtices que variam na escala de turbulência visível na fumaça de cigarros até movimentos giratórios de dimensões continentais, como os existentes nos ciclones e anticiclones. Ele atua para homo- geneizar as diferenças horizontais de pressão, temperatura ou umidade, embora tal homogeneização nunca seja alcan- çada, pois novas diferenças são continuamente criadas. O comportamento de cada vórtice, não importando seu tama- nho ou duração, obedece às conhecidas leis físicas. No entanto, deve ser enfatizado desde o início que sis- temas de tempo não são entidades isoladas. Todos os mo- vimentos atmosféricos são interconectados pela circulação geral da atmosfera, conforme apresentado na Figura 2.5 cujo os escoamentos de superfície e altos níveis são ligados por padrões de movimentos ascendentes e descendentes, e grandes distúrbios em uma área podem muito bem ter re- percussões em outras. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 28 Figura 2.5 - Circulação geral da atmosfera 2.3.3 Radiação O Sol é a fonte de energia que controla a circulação da atmosfera. O Sol emite energia em forma de radiação eletromagnética, da qual uma parte é interceptada pelo sis- tema Terra-atmosfera e convertida em outras formas de energia como, por exemplo, calor e energia cinética da cir- culação atmosférica. É importante notar que a energia pode ser converti- da, mas não criada ou destruída. É a lei da conservação da energia. A energia solar não é distribuída igualmente sobre a Terra. Esta distribuição desigual é responsável pelas –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 29 correntes oceânicas e pelos ventos que, transportando calor dos trópicos para os polos, procuram atingir um balanço de energia. 2.3.4 Precipitação Entende-se por precipitação a água proveniente do vapor de água da atmosfera depositada na superfície ter- restre sob qualquer forma: chuva, granizo, neblina, neve, orvalho ou geada. Para que ocorra o resfriamento do ar úmido, há necessi- dade de sua ascensão, que pode ser devida aos seguintes fato- res: ação frontal de massas de ar; convecção térmica; e relevo. A maneira com que o ar úmido ascende caracteriza o tipo de precipitação. Dentre os elementos necessários à for- mação de precipitação destacam-se: • Umidade atmosférica: (devido à evapotranspiração); • Mecanismo de resfriamento do ar: (ascensão do ar úmido): quanto mais frio o ar, menor sua capaci- dade de suportar água em forma de vapor, o que culmina com a sua condensação. Pode-se dizer que o ar se resfria na razão de 1ºC por 100 m, até atin- gir a condição de saturação; • Presença de núcleos higroscópios; • Mecanismo de crescimento das gotas: • Coalescência: processo de crescimento de- vido ao choque de gotas pequenas originando outra maior; –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 30 • Difusão de vapor: condensação do vapor d’água sobre a superfície de uma gota pequena. 2.4 PROCESSOS ADIABÁTICOS ATMOSFÉRICOS Um processo adiabático é definido como aquele em que não há troca de calor entre o sistema e o meio (Equação 2.3), ou seja: 𝑄=0 (Equação 2.3) Para entender os processos adiabáticos na atmosfera é usual pensar nas correntes ascendentes e descendentes de ar como se fossem compostas de unidades discretas de massa, chamadas parcelas de ar, o qual atua: • Termicamente isoladas do ambiente de modo que sua temperatura muda adiabaticamente quando sobem ou descem; • Tendo a mesma pressão do ar ambiente no mesmo nível, que é suposto em equilíbrio hidrostático; • Movendo-se com lentidão suficiente para que sua energia cinética seja uma fração omissível de sua energia total. Quaisquer diferenças de pressão entre a parcela e seu ambiente provocam ondas acústicas que produzem um rá- pido ajustamento. Diferenças de temperatura, por outro lado, são eliminadas por processos muito mais lentos. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 31 2.5 ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA A classificação da estabilidade atmosférica é necessá- ria para quantificar a capacidade de dispersão da atmosfera ambiente, sendo importante na caracterização das estima- tivas da dispersão local a curtos e longos prazos. Dentre os vários tipos de classificação empregados existem aqueles que são baseadas na disponibilidade de parâmetros e va- riáveis meteorológicas e na avaliação de processos atmos- féricos que ocorrem na baixa atmosfera, em particular na Camada Limite Atmosférica. A classificação da estabilidade (estática) atmosférica usando o gradiente de temperatu- ra potencial virtual tem um caráter local que é dado pela Tabela 2.1: Tabela 2.1 - Estabilidade estática e o gradiente de temperatura potencialvirtual 𝜕𝜃𝑣 ⁄𝜕𝑧 Estabilidade Atmosférica Atmosfera > 0 Estável Subadiabática = 0 Neutra Adiabática < 0 Instável Superadiabática (Fonte: BERNARDES, 2017) 𝜃𝑣 =𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑝𝑜𝑡𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑒𝑚 𝑓𝑢𝑛çã𝑜 𝑑𝑎 𝑎𝑙 𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑧=𝑎𝑙 𝑡𝑢𝑟𝑎 Atmosfericamente pode-se entender como: • Atmosfera adiabática: temperatura diminui com a altura de 1 ° C por cada 100 metros, isto é, –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 32 quando o gradiente térmico vertical assume o valor de -1 ° C/100 m. • Atmosfera subadiabática: A atmosfera é dita em um estado subadiabático quando a queda da temperatura é inferior a 1 ° C por cada 100 metros. • Atmosfera superadiabática: A atmosfera é dita em um estado superadiabático quando a queda da temperatura for superior a 1 °C por cada 100 me- tros. A condição superadiabática favorece a convec- ção forte, instabilidade e turbulência. Do ponto de vista da poluição do ar, essa condição é desejada por dispersar rapidamente os poluentes da atmosfera. Uma camada da atmosfera se encaixa na classificação instável se uma parcela de ar que ali entra e transita, o faz de- vido a sua própria flutuabilidade. Deve-se ressaltar que, even- tualmente, uma parcela de ar não atravessa a camada instável toda, assim, uma única parcela não pode ser usada para clas- sificar a camada inteira, como vemos na Figura 2.6 (c, e, f, as linhas pontilhadas mostram a movimentação de diferentes parcelas). Assim, a camada é definida a partir da movimenta- ção de todas as parcelas dentro dela. A camada atmosférica se encontra estável quando o gradiente de temperatura potencial virtual é positivo e quando as parcelas de ar não conseguem ascender por sua própria flutuabilidade, sendo forçadas a per- manecer em estado de equilíbrio. E é chamada neutra, quando não for instável e quando não houver gradiente de temperatu- ra potencial virtual. –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 33 Figura 2.6 - Classificação da estabilidade atmosférica segundo o perfil de temperatura potencial virtual (BERNARDES, 2008) A classificação de Pasquill é uma das mais utilizadas em questões de estudos de estabilidade atmosférica basean- do-se em condições meteorológicas, ela se caracteriza pelas propriedades dispersivas da atmosfera. Tal caracterização proposta por Pasquill divide as condições de estabilidade em seis classes: Classe A – extremamente instável; Classe B – instável; Classe C – ligeiramente instável; Classe D – neutra; Classe E – ligeiramente estável e Classe F – está- vel. A Tabela 2.2 apresenta de forma simplificada a classe –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 34 de estabilidade em função da velocidade do vento, insola- ção e condições do céu. Tabela 2.2 - Classes de estabilidade proposta por Pasquill-Gifford (NERIS, 2016) Velocidade do vento (m/s) Período diurno (Insolação) Período noturno de Nebulosidade Forte Moderada Fraca Nublado (4/8) Pouco Nublado (>4/8) < 2 A A – B B 2 – 3 A – B B C E F 3 – 5 B B – C C D E 5 – 6 C C – D D D D > 6 C D D D D Notas: • Insolação é a taxa de radiação solar incidente por unidade de superfície terrestre; • Forte insolação corresponde a I > 700 Wm-2, inso- lação Moderada corresponde a 350 ≤ I ≤ 700 Wm-2 e fraca insolação corresponde a I < 350 Wm-2; • Para A-B, B-C, etc. tome a média dos valores de A e B para as variáveis que dependem desta classificação; • Noite refere-se ao período de 1 hora antes do pôr do sol até uma hora antes do alvorecer; • Indiferente à velocidade do vento, a categoria neu- tra D deve ser assumida para condições encobertas durante o dia ou noite e para quaisquer condições –ESTRUTURA ATMOSFÉRICA E PROPRIEDADES– 35 de céu durante a hora precedendo ou seguinte à noite. As maiores vantagens do esquema de classificação de estabilidade de Pasquill estão na simplicidade e confiança relativa nas mensurações que são disponíveis (i.e.: radiação solar, velocidade do vento e nebulosidade). 36 ─ EXERCÍCIOS ─ EXERCÍCIOS PROPOSTOS - UNIDADE 1 1) (IBFC – 2013) A composição do ar não é constante nem no tempo, nem no espaço. Contudo, se removêssemos as partículas suspensas, vapor d’água e certos gases variáveis, presentes em pequenas quantidades encontraríamos uma composição muito estável sobre a Terra, até uma altitude de aproximadamente 80 km. Assinale a alternativa correta que apresenta os principais gases constituintes da atmos- fera terrestre. a) Nitrogênio, Oxigênio, Argônio, Dióxido de carbono, Neônio, Hélio, Metano, Kriptônio, Irídio, Hidrogênio, Ozônio, Xenônio. b) Nitrogênio, Oxigênio, Argônio, Dióxido de carbono, Neônio, Hélio, Metano, Kriptônio, Óxido nitroso, Hidrogênio, Ozônio, Xenônio. c) Nitrogênio, Oxigênio, Argônio, Dióxido de carbono, Neônio, Hélio, Metano, Irídio, Óxido nitroso, Hidrogênio, Ozônio, Xenônio. d) Nitrogênio, Oxigênio, Argônio, Dióxido de carbono, Neônio, Hélio, Irídio, Kriptônio, Óxido nitroso, Hidrogênio, Radônio, Ozônio. 2) (FCC – 2016) Sobre a interação oceano-atmosfera é correto afirmar que: a) As variações de salinidade oceânica são causadas pela re- moção de sal para consumo humano. 37 ─ EXERCÍCIOS ─ b) O sol influencia a circulação oceânica porque causa varia- ções na transparência e na dispersão de sólidos da água do mar, que por sua vez controlam a densidade da água do mar. c) As variações de temperatura do mar são causadas por fluxos de calor através da interface águas rasas – águas profundas. d) O sol influencia a circulação oceânica por meio da circula- ção atmosférica; esta é a chamada circulação induzida pelo vento. e) As transições gelo-água nas regiões polares contribuem para o aumento da salinização dos oceanos. 3) (CESGRANRIO – 2011) A atmosfera terrestre possui uma estrutura vertical extremamente variável, em termos de composição, temperatura, umidade, pressão, entre outras. Para fins acadêmicos, costuma-se dividir a atmosfera em várias camadas. A camada cujo limite superior se encontra a, aproximadamente, 50 km de altitude, na qual a tempera- tura cresce devido à absorção de radiação pelo ozônio pre- sente nessa região, é denominada: a) Estratosfera. b) Troposfera. c) Mesosfera. d) Termosfera. e) Ionosfera. 38 ─ EXERCÍCIOS ─ 4) (CESPE – 2012) Acerca dos conceitos básicos de meteoro- logia e climatologia, julgue o item seguinte: No processo adiabático, que é uma transformação dinâmi- ca, há troca de calor entre o sistema e sua vizinhança. O mesmo encontra-se: ( ) Correto ( ) Incorreto 5) (CESGRANRIO – 2012) Admitindo-se que uma dada ca- mada da atmosfera esteja praticamente em equilíbrio hi- drostático, a estabilidade atmosférica é determinada pela comparação da temperatura de uma parcela de ar em mo- vimento com o perfil de temperatura do ar ambiente em torno dessa parcela. Uma condição de estabilidade ocorre quando uma parcela de ar: a) Ascendente torna-se mais fria que o ar ambiente, sendo, portanto, forçada a retornar à sua posição original. b) Ascendente torna-se mais quente que o ar ambiente e con- tinua a subir. c) Ascendente torna-se mais quente que o ar ambiente, sen- do, portanto, forçada a retornar à sua posição original. d) Descendente torna-se mais quente que o ar ambiente e continua a descer. e) Descendente torna-se mais fria que o ar ambiente, sendo, portanto, forçada a retornar à sua posição original. 39 ─ EXERCÍCIOS ─ � GABARITO 1) B 2) D 3) A 4) Incorreto 5) A UNIDADE 2 UNIDADE 2. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA – CONCEITOS HISTÓRICOS E EFEITOS 41 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA – CONCEITOS HISTÓRICOS E EFEITOS Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Esta unidade apresenta uma contextualização histórica a respeito da poluição mundial, os efeitos que as mesmas causam no meio ambiente e uma prévia abordagem sobre a qualidade do ar nos interiores. Conteúdos da Unidade A unidade contará com 2 capítulos (nomeados Capítulo 03 e 04), no qual no capítulo 03 verificaremos a contextualiza- ção histórica a respeitos dos poluentesatmosféricos. No ca- pítulo 04 verificaremos os efeitos destes poluentes no meio ambiente e a Qualidade do Ar em interiores. Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá as- sinalando os assuntos, à medida que for estudando. CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 43 3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA POLUIÇÃO MUNDIAL Nos primórdios da história terrestre, os vulcões já eram responsáveis pelo lançamento de poluentes na atmos- fera. Uma das razões das tribos serem nômades era mudar, periodicamente, para longe do mau cheiro dos resíduos gerados de animais, vegetais e humanos. Quando as tribos humanas aprenderam a usar o fogo, eles o utilizaram, du- rante milênios, de uma forma que alteravam a qualidade do ar no interior do local onde viviam, respirando os produtos da combustão incompleta. Em algumas partes primitivas do mundo, onde ainda vivem algumas tribos, tal fato ainda pode ser observado. Após a invenção da chaminé, os produ- tos da combustão foram removidos e o cheiro do cozimento deixou de fazer parte das moradias, mas, durante séculos, a queima livre nos fogões causou emissões. No passado, in- cêndios florestais, naturais ou causados pelo homem, assim como processos primitivos de aquecimento doméstico e co- zimento de alimentos eram incômodos à população local. Com o advento da industrialização, ocorrido na Inglaterra, no século XVIII, novos processos produtivos foram descobertos, objetivando maiores quantidades e melhor qualidade dos produtos, sempre visando maio- res lucros. Dadas as grandes extensões territoriais inex- ploradas dessa época, as consequências da ação humana sobre o meio ambiente não foram claramente percebidas pelos produtores. Devido ao crescimento das populações e das necessidades de consumo, as indústrias cresceram –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 44 consideravelmente em número, áreas de atuação e varie- dade de produtos. Entretanto, a disciplina e a preocupação com o meio ambiente natural não se fizeram presentes du- rante muitos anos, tendo como resultado problemas am- bientais de grandes dimensões. Dentre os diversos problemas ocasionados pelo mo- delo de desenvolvimento capitalista pode-se mencionar a poluição atmosférica. No começo da era capitalista, no pe- ríodo da revolução industrial grande parte (senão a totali- dade) da poluição atmosférica era proveniente das indús- trias, classificadas como fontes estacionárias. No entanto, o surgimento dos motores de combustão interna provocou o surgimento de uma fonte móvel que se disseminaria ao longo das décadas como objeto de desejo de todos os seres humanos: o automóvel. A poluição atmosférica pode ser definida como a pre- sença de substâncias nocivas, na atmosfera, em quantidade suficiente para afetar sua composição ou equilíbrio, preju- dicando o meio ambiente e as mais variadas formas de vida. Este tipo de poluição causa sérios impactos não só na vida humana, como também na vida animal e vegetal, além da deterioração de bens culturais de lazer e da inutilização ou depreciação dos recursos naturais. Na Inglaterra, foram verificados efeitos adversos da poluição do ar sobre a saúde da população desde os anos 1840, surgindo diversas iniciativas para introduzir no país leis que obrigassem as indústrias a reduzirem as emissões de poluentes, destacando-se nesse período a edição do Ato –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 45 de Saúde Pública, em 1848, e do primeiro Alkali Act, em 1863. Nessa época, foram identificados diversos problemas nas regiões próximas às plantas industriais, decorrentes das emissões de poluentes do ar que, além de danos à saú- de, causavam extensos danos à vegetação. Esses acontecimentos refletiram em episódios de poluições excessivas, que geraram um aumento no núme- ro de mortalidades em algumas cidades da Europa e dos Estados Unidos. As primeiras manifestações organizadas em defesa do meio ambiente surgiram somente no século XX no pós-II Grande Guerra, quando o homem tomou consciência de que poderia acabar definitivamente com o planeta e com todas as espécies, inclusive a própria. Após a explosão das bombas de Hiroshima e Nagasaki (ocorridas em 1945 ocasionando cerca de 200 mil mortos e inúmeras pessoas com sequelas tardias) iniciaram-se na Europa manifestações pacifistas contra o uso de energia nuclear em função das conseqüências desastrosas para a humanidade e o meio ambiente. Pode-se destacar o mais grave dos episódios ocorri- do em 1952, na cidade de Londres, provocado pelo “Grande Nevoeiro” (Figura 3.1) em que uma quantidade demasiada de poluentes permaneceu sobre a cidade durante três dias, ocasionando um aumento de quatro mil mortes em relação à média do mesmo período. –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 46 Figura 3.1 - Foto do Grande Nevoeiro de Londres de 1952 O grande número de mortes deu um importante im- pulso aos movimentos ambientais, e levou a uma reflexão acerca da poluição do ar, pois a fumaça havia demonstrado grande potencial letal. Desastres ambientais provocados por episódios agu- dos de poluição atmosférica serviram como primeiros aler- tas à opinião pública quanto à questão ambiental. O inci- dente de Donora não foi nem o primeiro nem o de mais grave ocorrência. Em 1930, no Vale do Meuse, na Bélgica, por exemplo, um período de intensa névoa numa região altamente industrializada provocou a morte de sessenta pessoas. A importância de Donora reside na reação que ela provocou na opinião pública, no governo, e, principalmen- te, na comunidade científica. Esta inversão térmica levou à primeira pesquisa sistemática quanto às consequências para a saúde humana da poluição atmosférica, pesquisa que –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 47 contou com ampla divulgação, alimentando as incipientes pressões contra a poluição. Depois dos três episódios dramáticos ocorridos: no Vale do Mosa, Bélgica, em 1930; em Donora, Pensilvânia, em 1948; e em Londres, as autoridades foram alertadas para as graves consequências causadas por períodos agu- dos de poluição. Desde então, multiplicaram-se os estudos sobre os efeitos da poluição do ar na saúde humana. Então, novas regulamentações legais foram baixadas, restringindo o uso de combustíveis sujos na indústria e banindo a fuma- ça negra. Nos anos seguintes, uma série de normas legais como o Clean Air Act 1956 e o Clean Air Act 1968, restrin- giram a poluição do ar. O desastre de Minamata remonta ao início do século passado, quando, em 1908, a Nippon Nitrogen Fertilizer (NN) instalou-se na cidade. Em 1935 transformou-se em grande potência, sendo responsável por 50% da produção japonesa de acetaldeído e compostos derivados do ácido acético. Em 1941, começou a produzir cloreto de vinila. Durante a Segunda Guerra Mundial adotou o nome pelo qual é conhecido, Chisso Co. A companhia usava sulfato de mercúrio para a catálise na produção do ácido acético e seus derivados, e cloreto de mercúrio para a catálise do cloreto de vinila. Durante o processo químico de metilação do ace- tileno, parte do mercúrio também era metilado, liberando grandes quantidades do metal nos efluentes da fábrica. Os rejeitos eram lançados diretamente no mar de Yatsuchiro –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 48 até por volta de 1950 quando a descarga foi aparentemente redirecionada para a baía de Minamata. A partir de 1953, começaram os primeiros casos hu- manos da doença, porém a epidemia de envenenamento não chamou atenção das autoridades da saúde pública até 1956 começou a ocorrer uma enfermidade estranha em me- ados do século XX. Primeiro ela foi reconhecida nos passa- dos que perdiam a coordenação motora, voavam de forma descontrolada e caíam no solo, além dos gatos que “enlou- queciam”, correndo em círculos e espumando pela boca. A afecção, conhecida pelos pescadores locais como “doença da dança dos gatos”, afetou posteriormente as pessoas, par- ticularmente as famílias de pescadores. Os primeiros sinto- mas eram sutis: fadiga, irritabilidade, dores de cabeça, falta de sensibilidadenos braços e nas pernas e dificuldade de de- glutição. Os sintomas mais graves envolviam os órgãos sen- soriais e perdiam a coordenação motora. Aproximadamente 20.000 pessoas se declararam afetadas. No fim, segundo o governo japonês, quase 3.000 pessoas foram afetadas e perto de 1.800 morreram. As pessoas afetadas viviam em uma pequena área e boa parte das proteínas de sua dieta vinha do peixe da baía de Minamata Um fator que marcou profundamente a conscientiza- ção sobre os danos ocasionados pelo avanço tecnológico/ industrial, foi o livro “A Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, lançado nos Estados Unidos, em 1962 que alcan- çou uma imensa repercussão. Os impactos provocados pela publicação do livro abalou uma unanimidade estabelecida –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 49 em torno dos benefícios proporcionados pelos inseticidas, como também a fé cega no conhecimento científico que po- voava o imaginário coletivo do povo americano, que, por sua vez, era respaldada pelo projeto desenvolvimentista im- plementado pelos Estados Unidos. O DDT1 gozava de alto conceito com uma folha de re- levantes serviços prestados à máquina de guerra dos EUA, sobretudo, por ter protegido as tropas americanas das pica- das e da enfermidade provocada pelo mosquito da malária na guerra do Pacífico. Finda a guerra, os poderes do DDT foram empregados na agricultura para matar insetos até chegarem ao âmbito doméstico. Desde então o DDT con- taminou o leite materno e atingiu as áreas mais remotas do mundo tanto pelo espalhamento em suas pulverizações, principalmente aéreas, quanto pela venda nas grandes em- presas agroquímicas na forma de produto comercial. Assim a notoriedade deste agrotóxico além de ter alcançado um crescimento sem precedentes, o uso cotidiano fez com que o substantivo inseticida (DDT) fosse transformado em verbo. Essa obra de Rachel Carson trouxe à tona os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos, particularmente sobre o uso do DDT: 1 O Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) se tornou um dos mais conhecidos inseticidas de baixo custo. Começou a ser utilizado na Segunda Guerra Mundial para eliminar insetos e combater as doenças emitidas por eles como a Malária, Tifo e Febre amarela, era usado também por fazendeiros para controlar pestes agrícolas. O DDT demora de 4 a 30 anos para se degradar, o principal problema é sua ação indiscriminada, que atinge tanto as pragas quanto o resto da fauna e flora da área afetada, além de se infiltrar na água conta- minando os mananciais, esse inseticida interrompe o equilíbrio natural no meio ambiente. –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 50 • Penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do ho- mem, aumentando o risco de causar câncer e da- nos genéticos; • Não só atingia as pragas, mas um número incon- tável de outras espécies, silenciando pássaros, pei- xes, até mesmo crianças; • Permanecia tóxico no ambiente mesmo com sua diluição pela chuva, sendo que as espécies conta- minadas poderiam migrar para outros ambientes, levando os possíveis riscos de contaminação para alvos bem mais distantes que sua origem. Pode-se dizer que esse estudo foi um marco na des- mistificação do milagre da ciência em prol da agricultura, pois transferiu o debate restrito à academia para a socieda- de em geral, iniciando um processo que culminou na neces- sidade de controle e regulação desses produtos, bem como a fabricação de substâncias menos agressivas ao homem e ao seu meio ambiente. Isso ficou claro com o passar dos anos, com o surgimento de vários problemas ambientais e de saúde associados ao uso dos agrotóxicos, o que acabou concorrendo para o protocolo de Estocolmo (2001), assina- do por cerca de 120 países, que proibia ou restringia não só o DDT, mas de outras substâncias potencialmente poluen- tes, os chamados de Persistent Organic Pollutants (POPs). O impacto da poluição atmosférica na saúde tem sido avaliado mundialmente. Vários estudos, em diversas partes do mundo, têm demonstrado que a poluição atmosférica –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 51 está associada ao excesso de mortes e internações hospi- talares, em particular por doenças respiratórias e cardio- vasculares, além de outras enfermidades como o câncer, as malformações congênitas, a restrição do crescimento in- trauterino e distúrbios da fertilidade. Em âmbito nacional, diversos estudos realizados, particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, têm mostrado resultados similares aos encontrados em outras grandes metrópoles do mundo. Com número menor de investigações, têm-se detectado efeitos da poluição na saúde em outras cidades brasileiras. O Brasil passou por dois fenômenos que merecem destaque quando se fala de ambientes urbanos: a rápida industrialização, experimentada a partir do pós-guerra, e a urbanização acelerada que se seguiu. No curso desse pro- cesso, reflexo das políticas desenvolvimentistas então vi- gentes, uma série de regras de proteção ao meio ambiente e ao cidadão foram desrespeitadas ou mesmo desconside- radas. Entre as décadas de 50 e 90, a parcela da população brasileira que vivia em cidades cresceu de 36% para 75%. Não obstante os evidentes desequilíbrios ambientais decor- rentes desse processo, os espaços urbanos não receberam, na mesma proporção, a devida atenção por parte da mídia e dos governantes. Os elevados índices de industrialização e urbaniza- ção verificados no País, desde a década de 70, levaram o Governo Brasileiro a implementar medidas de controle da qualidade do ar, orientado para as emissões procedentes das indústrias (fontes fixas) e dos veículos automotores –POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 52 (fontes móveis). Em 1989, foi criado o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (PRONAR), por Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com o objetivo de “permitir o desenvolvimento econômi- co e social do país de forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes de poluição atmosférica, com vistas à melhora da qualidade do ar, ao atendimento dos padrões estabelecidos e o não comprometimento da qualidade do ar nas áreas considera- das não degradadas”. Para tal, tem como instrumentos os Padrões de Qualidade do Ar e Limites de Emissão na Fonte, Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade do Ar e Inventário de Fontes e Poluentes Atmosféricos. Em relação à classificação dos poluentes, os mesmo podem ser classificados em dois grupos: • Poluentes primários – São os poluentes emitidos di- retamente de fontes identificáveis como Monóxido de Carbono (CO), Compostos nitrogenados (NOx) e Materiais Particulados, entre outros. • Poluentes secundários – São os poluentes produzi- dos na atmosfera pela interação entre dois ou mais poluentes primários, com ou sem ativação fotoquí- mica como Ozônio (O3), Ácidos, entre outros. Os mesmos serão abordados mais detalhadamente em capitulo posterior. CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 4. EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 54 As fontes de poluição atmosférica são entendidas como qualquer processo natural ou antropogênico que pos- sa liberar ou emitir matéria ou energia para a atmosfera tornando-a contaminada ou poluída. São exemplos de fontes naturais de poluentes atmos- féricos as emissões de gases provocadas por erupções vul- cânicas (Figura 4.1), as atividades de geysers, a decom- posição de vegetais e animais, a ressuspensão de poeira do solo pelos ventos, a formação de gás metano em pântanos, os aerossóis marinhos, a formação de ozônio devido a des- cargas elétricas na atmosfera, os incêndios naturais em flo- res e os polens de plantas. Figura 4.1 - Emissão natural de poluentes atmosféricos via erupção vulcânica. São exemplos de fontes antropogênicas de poluentes atmosféricos os diversos processos e operações industriais; a queima de combustível para fins de transporte em veí- culos a álcool, gasolina e diesel ou qualqueroutro tipo de –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 55 combustível; queimadas na agricultura; incineração de lixo (Figura 4.2); poeiras fugitivas; produtos voláteis; equipa- mentos de refrigeração e ar condicionado, e sprays. Figura 4.2 - Emissão antropogênica de poluente atmosféricos via incineração de lixo A poluição do ar tem constituído um grave problema nos centros urbanos industrializados, provocando desequi- líbrios nos ecossistemas e efeitos nocivos na saúde humana. A Figura 4.3, apresentada um mapa, contido no Relatório de Saúde Mundial - Reduzindo riscos, promovendo a vida saudável publicado pela OMS em 2002, demonstrando a abrangência das doenças atribuíveis a fatores de risco am- biental por poluição atmosférica urbana. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 56 Figura 4.3 - Abrangência das doenças atribuíveis a fatores de risco ambiental por poluição atmosférica urbana. Nos próximos 10-20 anos, as doenças contagiosas con- tinuarão a ser o problema de saúde predominante para as populações dos países de baixos rendimentos. No entanto, calcula-se que no futuro ocorra uma epidemia de doenças crônicas em todos os países, incluindo nos países de baixos e médios rendimentos. A recolha de informação sobre casos não fatais de le- sões e doença tem sido frequentemente negligenciada no planejamento de saúde, devido à complexidade conceitu- al de aferição da morbilidade e deficiência das populações, bem como à dificuldade na definição dos termos. Com vista a ultrapassar esta dificuldade, foram lançados pelo Banco Mundial, com o apoio da OMS, os anos de vida ajustados à deficiência (DALYs – Disability-adjusted life years), que –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 57 conjugam a morbilidade e a mortalidade e servem para afe- rir o peso global da doença. O DALY é um indicador que procura medir simultane- amente o impacto da mortalidade e dos problemas de saú- de que afetam a qualidade de vida dos indivíduos. O DALY mede os anos de vida perdidos seja por morte prematura (YLL –Years of Life Lost – Anos de vida perdidos por mor- te prematura) ou incapacidade (YLD – Years Lived with Disability – Anos de vida vividos com incapacidade) em re- lação a uma esperança de vida ideal cujo padrão utilizado foi o do Japão, país com maior esperança de vida ao nascer do mundo (80 anos para homens e 82,5 anos para mulhe- res). O cálculo pode ser simplificado pela Equação 4.1: 𝐷𝐴𝐿𝑌=𝑌𝐿𝐷+𝑌𝐿𝐿 (Equação 4.1) Segundo a OMS, os altos níveis de poluição do ar são muitas vezes subproduto de políticas insustentáveis em se- tores como o de transportes. Na maioria desses casos, as estratégias mais saudáveis também são as mais econômicas em longo prazo, devido à redução de custos de cuidado com a saúde. Estudo realizados pelo Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo aplicado em 29 Regiões Metropolitanas brasileiras apresenta que a valoração econômica dos danos ambientais da poluição atmosférica, traduzidos em ter- mos de indicadores de saúde (DALY), revela um cenário –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 58 favorável à implementação de tecnologias menos poluen- tes, políticas públicas, alteração na matriz energética, po- tencializando recursos para outros investimentos que de- vam priorizar a saúde pública da população exposta aos poluentes atmosféricos. 4.1 EFEITOS NO ECOSSISTEMA Os primeiros trabalhos realizados para investiga- ção dos efeitos da poluição atmosférica sobre plantas eram principalmente estudos de campo, como os realizados em Stockhardt em 1849, com observações de que plantas que cresciam em regiões próximas a indústrias geralmente apre- sentavam crescimento alterado ou folhas danificadas (con- forme Figura 4.4), quando comparadas com plantas de regiões mais distantes. A preocupação das florestas de coní- feras da Europa e América do Norte começaram a apresentar alta taxa de mortalidade de suas árvores. A partir dessas pri- meiras observações foram se consolidando os trabalhos com câmaras de fumigação, onde era possível expor determinada espécie vegetal a doses conhecidas do poluente em estudo, identificando-se assim o efeito de cada poluente e sua con- centração na fisiologia e bioquímica da planta. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 59 Figura 4.4 - Exemplo de vegetal com folhas danificadas pela poluição atmosférica (Fonte: www.planfor.pt) Como exemplo, da influência da poluição atmosféri- ca em grandes centros urbanos, há a cidade de São Paulo. Estima-se que a população da cidade seja de aproximada- mente 11.000.000 de habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2009) e possui uma frota veicular registrada no município de 6.673.882 de automóveis, além dos veículos que circulam pela cida- de, mas possuem registro em outros locais. Esses veículos são potenciais fontes poluidoras, e em áreas mais centrais; o chamado centro expandido são as principais fontes de po- luição, já que as indústrias se encontram afastadas do cen- tro da cidade. O Parque Ibirapuera está localizado em uma área central da cidade e é um dos parques mais frequenta- dos pela população de São Paulo, é circundado por avenidas –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 60 com grande fluxo veicular. Sua vegetação é composta por diversas espécies e entre elas estão as mais frequentes nas ruas da cidade. As espécies arbóreas encontradas no Parque Ibirapuera permitem a compreensão do comportamento dessas espécies no contexto urbano com forte influência da poluição atmosférica. 4.2 EFEITOS DA POLUIÇÃO SOBRE ÁREAS URBANAS A atmosfera em presença de poluentes pode carregar partículas sólidas, sob forma de poeiras cuja heterogenei- dade permite se depositar material não metálico (SiO2), o qual, é capaz de criar condições de aeração diferencial1, produzindo tipos de corrosão localizada abaixo do depósito. Ainda, se ocorrer deposição de substâncias higroscópicas (como CaCl2, MgCl2, etc...) ocorrerá a aceleração do pro- cesso corrosivo. Há também, a possibilidade de formação de depósitos de sais como (NH4)2SO4 e o NaCl, capazes de produzir eletrólitos fortes. Finalmente pode ocorrer a de- posição de partículas metálicas de natureza eletroquímica diferente do material metálico exposto, formando inúmeras micro pilhas que corroem o metal mais anódico (A água do mar é altamente agressiva devido à presença de eletrólitos 1 Corrosão por aeração diferencial ocorre quando uma parte do metal é exposta a dife- rentes concentrações de ar ou é imersa em regiões do eletrólito diferentemente aerados (ou com outros gases dissolvidos); isto provoca um diferença de potencial entre as par- tes diferentemente aeradas. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 61 fortes, imprimindo um alto grau corrosivo à atmosfera ma- rinha, pela presença de névoa salina. A corrosão atmosférica é, talvez, a mais velha e conhe- cida forma de corrosão. Entretanto, os mecanismos que go- vernam as reações e os fatores que influenciam seus proces- sos foram seriamente estudados, somente após 1920. Altas concentrações, por exemplo, de dióxido de enxofre (SO2) no ar, aceleram a corrosão de aço e zinco. Este tipo de corrosão é, basicamente, controlada pela deposição de poluentes sobre o material exposto. O proces- so de deposição é determinado pela concentração do po- luente e a velocidade de deposição. Ambos os parâmetros são influenciados pelas condições atmosféricas, tais como, velocidade e direção dos ventos, perfil de temperatura, umi- dade relativa, radiação solar e altura da camada de inversão. Embora as atmosferas possam ser classificadas em cinco tipos básicos: urbana, industrial, marítima, rural ou mista há a possibilidade existir locais com microclimas e características diferentes da região em que se encontram aumentando-se ainda mais as variabilidades. Com relação à forma de corrosão atmosférica, esta pode ser classificada em três tipos: Seca, Úmida ou Molhada. • Corrosão atmosférica seca: ataque provocadopor uma reação gás-metal com formação de pelí- cula de óxido. Este tipo de corrosão é muito lento e não provoca maiores danos à superfície. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 62 • Corrosão atmosférica úmida: ocorre quando é formada uma película de eletrólito na superfície do metal, o que possibilita o ataque eletroquímico. A velocidade de corrosão dependerá da umidade relativa, poluentes atmosféricos e higroscopicida- de dos produtos de corrosão. • Corrosão atmosférica molhada: A umidade re- lativa é próxima a 100% e ocorre condensação na su- perfície metálica, observando-se que a superfície fica molhada com o eletrólito como, por exemplo, chuva e névoa salina depositadas nessa superfície metálica. A American Society for Testing and Materials (ASTM) realizou testes entre 1960 e 1964 para amostras de aço-carbono e estabeleceu valores para a taxa de corrosão em função do tipo de ambiente, que podem ser visualizados na Tabela 4.1. Tabela 4.1 - Valores das taxas de corrosão atmosférica para aços carbono. Tipo de Ambiente Taxa de corrosão (μm/ano) (média de dois anos) Região Polar 0,76 Área Industrial 15 – 84 Área Semi-Industrial 28 – 48 Região Marinha Tropical 51 – 61 Região Marinha Equatorial 132 – 1070 Área Rural 20 – 28 Assim como as condições climáticas, os outros parâ- metros que influenciam no comportamento da corrosão são –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 63 os poluentes, que podem causar aumento na condutividade do eletrólito, mudança na umidade relativa crítica e afetar os produtos de corrosão que poderiam proteger a superfície do metal. Os poluentes de maior relevância na corrosão at- mosférica são os cloretos e os compostos de enxofre como o dióxido e os sulfatos. 4.3 EFEITOS NA SAÚDE HUMANA Desde o começo do século XX, a poluição atmosférica nos centros urbanos tem sido identificada como um grave problema de saúde pública e tem sido demonstrado que tem vários efeitos deletérios sobre a saúde da população, mesmo em níveis que são considerados seguros na legisla- ção ambiental. Os gases e partículas ultrafinas provenientes da queima parcial de combustíveis fósseis em veículos au- tomotivos, principalmente o diesel, são os fatores respon- sáveis pela maior prevalência de asma brônquica e outras doenças alérgicas em populações residentes em áreas mais poluídas. A incidência e prevalência de doenças cardiovas- culares têm aumentado nas últimas décadas e tornou-se uma das principais causas de morte entre os adultos. Em áreas metropolitanas, o aumento dos níveis de poluentes atmosféricos constitui um fator de risco adicional para es- sas doenças. Inicialmente, os efeitos na saúde pareciam estar asso- ciados apenas a elevações súbitas da concentração dos po- luentes no ar, devidas á ocorrência de acidentes industriais em condições atmosféricas que não permitiam a dispersão –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 64 dos poluentes. Contudo, estudos epidemiológicos mais por- menorizados revelaram que os efeitos da poluição atmos- férica na saúde podem ocorrer em toda a gama de concen- trações dos poluentes. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mundialmente a poluição do ar seja responsável por 2 milhões de mortes prematuras. Embora se reconheça que, quando comparado com outros fatores ambientais, o risco relativo associado a este tipo de poluição é reduzido, a população exposta é elevada. Como tal, estudos epidemiológicos que permitam avaliar os efei- tos dos poluentes atmosféricos na saúde humana é um con- tributo importante no desenvolvimento de estratégias de redução desses efeitos. Os grupos mais suscetíveis aos efeitos deletérios da poluição atmosférica são crianças, idosos e indivíduos com doenças do aparelho respiratório e cardiovascular. Em rela- ção às crianças, as doenças do aparelho respiratório, em es- pecial as infecções respiratórias agudas, asma e bronquite, são as causas mais comuns de morbimortalidade2 e, além de condições nutricionais inadequadas e baixo nível socio- econômico, os altos níveis de poluição do ar são apontados como fatores de risco, tanto em países desenvolvidos com naqueles em desenvolvimento. Entre os idosos, apesar de 2 É um conceito da medicina que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional. A formação do conceito da morbimortalidade consiste na relação entre a morbilidade e a mortalidade, sendo que a primeira é referente ao número de indivíduos portadores de determinada doença em relação ao total da população analisada. Já a mortalidade é a estatística sobre as pessoas mortas num grupo específico. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 65 sua mortalidade estar mais relacionada a causas do apa- relho cardiovascular, as doenças do aparelho respiratório ainda são o principal motivo de internação. Nessa faixa etá- ria, a suscetibilidade à poluição atmosférica pode ser exa- cerbada pela debilidade física, baixa resiliência fisiológica do aparelho respiratório e outras doenças prevalentes. A literatura também refere associação entre altos índices de queimada e baixo peso ao nascer. Alguns estudos epidemiológicos no Brasil têm eviden- ciado associações de material particulado com a incidência de doenças ressaltando que os gases e partículas ultrafinas provenientes da queima de combustíveis, principalmente do diesel, são fatores responsáveis pela maior incidência de asma brônquica e outras doenças alérgicas em indivíduos. Em relação ao ozônio, se, comparado a outros poluen- tes, é o mais complexo e difícil de ser controlado. Este não é emitido diretamente, pois forma-se na baixa atmosfera através de reações fotoquímicas. Os picos de ozônio ocor- rem tipicamente em períodos de calor, elevada radiação solar e tempo seco o qual estudos encontraram associação entre o aumento de admissões por doenças respiratórias com o ozônio. Dentre os poluentes cotidianamente emitidos no am- biente ressalta-se o CO, que na corrente sanguínea apre- senta alta afinidade com a hemoglobina (Hb) componen- te das células hemácias e responsável pelo transporte de Oxigênio (O2) no corpo. O CO e a Hb formam o complexo Carboxihemoglobina (COHb), o qual impede que o O2 se –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 66 ligue à Hb e seja distribuído pelo corpo, conforme apresen- tado na Figura 4.5. G = grupo funcional Figura 4.5 - Complexo de Oxihemoglobina (à esquerda) e Carboxihemoglobina (á direita) (Fonte: http://www.wissensdrang.com) Níveis elevados de COHb podem ocasionar diminui- ção da percepção, da acuidade visual, vertigem, cefaleia, náuseas, vômitos, infarto agudo do miocárdio e, em eleva- das concentrações, pode causar morte por asfixia. Dentre as alterações que o CO ocasiona apresenta-se a diminuição da produção de adenosina trifosfato (ATP) minorando as reações oxidativas, que prejudicam a contração muscular. Entre os indivíduos que têm contato direto com o CO en- contram-se os mototaxistas, trabalhadores que utilizam motocicletas para o transporte de passageiros e cargas, cujos serviços são menos onerosos que os oferecidos pelos –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 67 taxis convencionais. Constituem trabalhadores do denomi- nado “transporte alternativo”, comuns no Brasil. 4.4 POLUIÇÃO DO AR EM INTERIORES Quando se fala em poluição atmosférica, normal- mente ela é associada a emissões provenientes dos carros e das indústrias. No entanto, vários estudos mostram que os ambientes interiores, como as habitações e os locais de trabalho, por vezes podem ter níveis de poluição superiores aos existentes no exterior. Inclusive, várias organizações nos EUA consideram a poluição do ar interior como um dos problemas de saúde ambiental mais relevantes, uma vez que pode aumentar significativamente o risco de doenças. A Qualidade do Ar nos Interiores (QAI) é uma ciência recente, surgida na década de 70 durante a crise energética em que, em países de clima frio, surgiram edifícios selados3como alternativa à racionalização de energia. Paralelamente, as inovações tecnológicas trouxeram para o cotidiano, ma- teriais de construção sintéticos, com apelo visual, de con- forto e praticidade, e proporcionando redução de custos às empresas e/ou clientes. A opção por mínimas taxas de troca de ar interno pelo externo, aliada a tais materiais, gerou um acúmulo de contaminantes nos interiores das edificações, que passaram a se mostrar sistematicamente mais poluídos 3 A tendência em se construir edifícios selados firmou-se principalmente por motivos estéticos, controle de ruído e processos de climatização, o que acabou provocando um aumento nos casos de problemas relacionados à qualidade do ar de tais ambientes. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 68 que as áreas externas. Outras causas de degradação da qua- lidade do ar interior são mencionadas por produtos utiliza- dos prioritariamente nos interiores (produtos de limpeza, purificadores de ar, eletrodomésticos, equipamentos ele- trônicos, roupas), hábitos pessoais (fumo, posse de animais de estimação, tempo gasto em ambientes internos) e ou- tros fatores ligados às edificações (condicionamento de ar, espaços reduzidos, poeira, mofo) entre outros. A Tabela 4.2 apresenta as fontes típicas de poluição em ambientes internos. Tabela 4.2 - Fontes típicas de poluição do ar em ambientes internos Ambiente Fontes Poluentes Residência Fumo Partículas respiráveis, CO, COVs, nicotina, HPA, fenóis, nitrosami- nas, NO2, CO e hidrocarbonetos gasosos Fogão a gás NO2, CO e hidrocarbonetos gasosos Fogão a lenha Partículas respiráveis, CO, HPA, NO2 Materiais de construção e mobiliário Formaldeído, COVs, radônio Superfícies e materiais úmidos Agentes biológicos Atividades de Limpeza Partículas respiráveis, COVs. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 69 Ambiente Fontes Poluentes Escritório Fumo Partículas respiráveis, CO, COVs, nicotina, HPA, fenóis, nitrosami- nas, NO2, CO e hidrocarbonetos gasosos. Materiais de construção e mobiliário Formaldeído, COVs, radônio Ar condicionado Agentes biológicos, ar externo Fotocopiadoras e im- pressoras a laser COVs, partículas respiráveis e ozônio Atividades de Limpeza Partículas respiráveis, COVs Transporte Fumo Partículas respiráveis, CO, COVs, nicotina, HPA, fenóis, nitrosaminas, NO2 Queima de combustíveis Material particulado, CO, HPA, NO2, aldeídos, COVs (Fonte: BRICKUS, 1999) Estudos da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) indicam que os níveis de concentração de po- luentes podem ser de duas a cinco vezes maiores em ambien- tes internos do que nos externos, mesmo em cidades alta- mente industrializadas. Esse fato, juntamente com o tempo de permanência em ambientes internos, faz com que os ris- cos à saúde humana sejam muito maiores nesses locais. De acordo com os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais da metade dos locais fechados como empresas, escolas, cinemas, residências e até hospitais tem ar de má qualidade. Essa baixa qualidade é causada, princi- palmente, pela má higienização dos aparelhos de ar condi- cionado e pela falta de controle periódico sobre as possíveis fontes de contaminação. –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 70 O ar insuflado é geralmente constituído de uma mis- tura de ar, retirado do ambiente e reciclado com o ar novo tomado ao exterior garantindo a renovação permanente do ar ambiente. Esta renovação atua duplamente: uma parte dos poluentes é retirada do ambiente com a parcela do ar que não é reciclado e é exaurida simultaneamente. A con- centração dos poluentes remanescente é reduzida por dilui- ção do ar novo introduzido. Todo o ar suprido ao ambiente passa por filtros, cuja eficiência de filtragem é determinada pelo tipo e grau de poluição esperada e pelo nível de quali- dade desejada para o sistema. Então, se houver um péssimo dimensionamento do ar condicionado central e dos filtros de ar, bem como da manutenção do sistema, resultará em um ar não renovado suficientemente, contribuindo para o aumento da concentração de poluentes químicos e biológi- cos do ar interno, devido a baixa taxa de renovação do ar. A qualidade do ar interior depende do grau em que o ar está livre de poluentes que podem ser irritantes ou prejudi- ciais para os ocupantes. Existem, ainda, dois tipos de poluen- tes: partículas e gases poluentes, que afetam a qualidade do ar. Para além dos problemas de saúde associados a uma deficiente QAI, há fatores, como os já referidos absenteísmo e perda de produtividade, que não sendo facilmente diag- nosticáveis e identificados, sabe-se que estão relacionados com a degradação do ar interior. Alguns estudiosos mencio- nam que as doenças causadas por um interior poluído es- tão entre as principais causas de pedidos de afastamento do trabalho, tanto nos Estados Unidos, como na Europa. Mais –EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA– 71 estudos recentes documentam que uma melhoria da QAI tem uma influência significativa e positiva na produtividade dos trabalhadores em escritórios como é demonstrado pela Figura 4.6. Figura 4.6 - Relação entre as taxas de ventilação e produtividade em escritórios. Dadas as consequências nos seres humanos de uma baixa qualidade de ar interior, criou-se na OMS um termo para caracterizar as doenças que estão relacionadas com Qualidade do Ar Interior. Como exemplo, pode-se citar a Síndrome dos Edifícios Doentes (SED). O termo SED é usa- do para descrever situações nas quais pelo menos 20% dos usuários de um determinado edifício experimentam efeitos adversos à saúde e ao conforto, que normalmente tendem a desaparecerem após curtos períodos de afastamento das pessoas afetadas, como por exemplo: irritação das muco- sas, efeitos neurotóxicos, sintomas respiratórios e cutâne- os, e alteração dos sentidos. 72 ─ EXERCÍCIOS ─ EXERCÍCIOS PROPOSTOS - UNIDADE 2 1) (IBFC - 2017) A poluição gerada nos grandes centros urba- nos tem origem, principalmente, na queima de combustí- veis fósseis, basicamente gasolina e diesel, que são deriva- dos do petróleo. Logo, são considerados recursos naturais não renováveis. Sobre a poluição atmosférica e seus impac- tos, assinale a alternativa incorreta. a) Os impactos locais são aqueles verificados nas áreas pró- ximas às fontes de poluição. Um dos principais efeitos da poluição atmosférica local é o dano que ela pode causar à saúde humana. b) O efeito smog (ou smog fotoquímico) é formado quando há a condensação de vapor d’água, porém, em associação com a poeira, fumaça e outros poluentes, o que dá um aspecto acinzentado ao ar. É muito comum a ocorrência desse fe- nômeno nas grandes cidades e metrópoles, sobretudo nos dias frios de inverno, quando ocorrem associados à presen- ça de uma inversão térmica. c) A qualidade do ar de uma região é influenciada diretamente pelos níveis de poluição atmosférica, os quais estão vincu- lados a um complexo sistema de fontes emissoras estacio- nárias (indústrias, queima de lixo, emissões naturais, entre outras) e móveis (veículos automotores, aviões, trens). A magnitude do lançamento dessas emissões, seu transporte e diluição na atmosfera, determinam o estado atual da qua- lidade do ar atmosférico. d) Os poluentes atmosféricos podem ser divididos em dois grandes grupos: poluentes primários e poluentes secundá- rios Os poluentes primários são emitidos diretamente por fontes naturais, como o ozônio e dióxido de carbono; já os 73 ─ EXERCÍCIOS ─ poluentes secundários são emitidos por fontes antrópicas como os óxidos de nitrogênio e de enxofre. e) Considera-se poluente atmosférico qualquer substância presente no ar e que pela sua concentração possa torná-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e à fora ou, ainda, prejudicial à segurança, ao uso da propriedade e atividades normais. 2) (FGV – 2014) Os chamados poluentes primários mais im- portantes, presentes na atmosfera,
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