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______________ ¹ Graduada em Nutrição (jaquelinela@oi.com.br) ² Graduada em Nutrição (kaytebarbosa@hotmail.com) ³ Mestre em Administração de Recursos Humanos, professora da Universidade Tiradentes (mbalbinacarvalho@hotmail.com) SUSTENTABILIDADE EM UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Jaqueline Lima de Almeida¹ Kayte Barbosa de Santana² Maria Balbina de Carvalho Menezes³ GT10 - Práticas Investigativas na Educação Superior RESUMO A sustentabilidade desponta como um assunto recorrente nas Unidades de Alimentação e Nutrição. O presente artigo procede de um estudo de natureza epistemológica racional sobre a inserção da sustentabilidade nas UANs (UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO). Por esse viés, a metodologia utilizada baseou-se na análise e interpretação de textos onde se tomou como referência livros, periódicos, artigos e revistas, de modo que, trabalhou-se com as pesquisas de natureza exploratória, bibliográfica e descritiva. As categorias de análises priorizadas foram a sustentabilidade, e a importância do nutricionista nas UANs. Conclui-se que o nutricionista tem papel fundamental na implantação e manutenção da sustentabilidade dentro das UANs, mediante as ações em aspectos relacionados à produção, comercialização de refeições, funcionários e clientes, bem como a responsabilidade social e ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade. Unidades de Alimentação e Nutrição. Meio Ambiente. ABSTRACT The sustainability emerges as a recurring subject in Food and Nutrition Units. This article comes from a study of epistemological nature rational about the insertion of sustainability in the Food and Nutrition Units. For this bias, the methodology used was based on the analysis and interpretation of texts where were taken as reference books, journals, articles and magazines, so that worked with the research of an exploratory nature, bibliographic and descriptive. The analysis' categories prioritized were sustainability and the importance of the nutritionist in the Food and Nutrition Units. It is concluded that the nutritionist has a fundamental role in the implementation and maintenance of sustainability within the Food and Nutrition Units, through the actions in aspects related to production, marketing of meals, employees and customers, as well as social and environmental responsibility. KEYWORDS: Sustainability. Food and Nutrition Units. Environment. 02 1 INTRODUÇÃO A Unidade de Alimentação e Nutrição trata-se de unidade de trabalho ou órgão de uma empresa, que desempenha atividades relacionadas à alimentação e nutrição, sendo órgãos de estrutura administrativa simples, porém de funcionamento complexo (VEIROS, 2002). À vista disso, as UANs são unidades que pertencem ao setor de alimentação coletiva, cuja finalidade é administrar a produção de refeições nutricionalmente equilibradas com bom padrão higiênico-sanitário para consumo fora do lar, que possam contribuir para manter ou recuperar a saúde de coletividades, e ainda, auxiliar no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. (COLARES & FREITAS, 2007). As referidas unidades desempenham importante papel em termos de economia e de saúde pública, na medida em que afetam o estado nutricional e o bem-estar da população por meio da qualidade do alimento que produzem. Deste modo, as UANs devem se preocupar não só com a qualidade do alimento pronto, mas também com os fatores que podem interferir nesta qualidade, desde a escolha e o fornecimento de matéria-prima e equipamentos, o armazenamento até sua produção e consumo (AGUIAR, 2003). No contexto interno das unidades são desenvolvidas atividades que se enquadram nas funções técnicas, administrativas, comerciais, financeiras, contábeis, de segurança e aspectos relacionados à refeição, além do objetivo de satisfazer o comensal com o serviço oferecido. Conforme Veiros (2002, p. 46), “isto engloba desde o ambiente físico, incluindo tipo, conveniência e condições de higiene de instalações e equipamentos disponíveis, até o contato pessoal entre funcionários da UAN e os clientes, nos mais diversos momentos.” Desta forma, Aguiar (2003, p. 131) ressalta que “há necessidade não só de pessoal qualificado para garantir a produção de refeições seguras, equilibradas e saborosas, como também de infraestrutura e recursos físicos adequados”. Obviamente, esses meios devem ser provenientes de fontes confiáveis e seguras para que os custos de serviços com alimentação sejam reduzidos. Sobre a questão, Souza (2008, p.22), destaca que “dentre as funções inerentes ao nutricionista em UAN estão: responsabilizar-se sobre planejamento, organização, supervisão, controle de produção, minimização de desperdícios e melhoria da qualidade dos alimentos”. Assim, 03 constitui-se em atribuição desse profissional a adoção de estratégias de gerenciamento ambiental que visem minimizar impactos e maximizar a produtividade. Ainda na visão de Souza (2008) uma das preocupações que se deve ter é com o meio ambiente, pois, aplica-se também às Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) mesmo que, o processo de transformação da matéria-prima por meio da atividade deste setor gere grande quantidade de resíduos. Assim, é importante ter uma prática de trabalho que respeite o meio ambiente, onde se deve enfatizar a sustentabilidade. A sustentabilidade desponta como um assunto atual e recorrente nas Unidades de Alimentação e Nutrição, uma vez que o cenário mundial de saúde e a convivência social caracteriza-se pela necessidade constante de consciência dos profissionais do ramo sobre seus deveres e possibilidades de contribuição a sociedade e ao meio ambiente. (SPINELLI, 2009). Entretanto, o modelo econômico atual e a educação que é a variável mais importante para formação da consciência, em alguns países tem gerado alguns desequilíbrios sociais e uma compreensão confusa e inadequada do conceito de sustentabilidade. Com relação à sustentabilidade nas Unidades Produtoras de Refeição (neste caso denominadas Unidades de Alimentação e Nutrição), é importante refletir não só sobre o ambiente na perspectiva da sustentabilidade, como na importância do nutricionista. Isso porque o número crescente das Unidades Produtoras de Refeição para atender a demanda da sociedade atual referente à alimentação fora de casa exige uma postura ambiental, profissional e ecológica adequada para preservar os recursos naturais e minimizar os danos ao ambiente (COSTELLO & ABBAS et al., 2009; FRIEL & DANGOUR et al., 2009). Para que a sustentabilidade seja aplicada nas Unidades de Alimentação e Nutrição é de extrema importância que o nutricionista responsável conheça seu papel e suas funções no que diz respeito às atividades a serem executadas, tais como: ter um bom diálogo com os fornecedores sobre o desenvolvimento sustentável, preferir o fornecimento racional de alimentos (embalagens recicláveis, meios de transporte utilizados), dar preferência à sazonalidade para a elaboração do cardápio, a equipamentos que consumam menos água e energia, além de desenvolver programas de conscientização para os funcionários a fim de evitar os desperdícios. (BARTHICHOTO et al., 2013) A produção de resíduos sólidos provenientes dessas unidades em toda a cadeia de produção até a distribuição da refeição constitui-se um fator preocupante, sobretudo por comprometer 04 melhorias na qualidade de vida da sociedade. Faz-se necessária uma interação entre a gestão de resíduos com as rotinas operacionais dos serviços de alimentação. O gerenciamento ambiental no segmento de alimentação institucional deve ser implementado em todos os setores do serviço, tais como recebimento, pré-preparo, cocção e distribuição das refeições. Cada setor possui suas peculiaridades, sendo responsável pela geração de diferentes tipos e quantidades de resíduos. Assim, torna-seimprescindível a caracterização da geração de resíduos em cada setor da UAN (ABREU, SPINELLI & PINTO, 2009). Destarte, na tentativa de compreender de maneira mais efetiva a discussão sobre sustentabilidade na UAN, considerando a importância do assunto para os profissionais da área, levanta-se um questionamento relativo ao contexto do presente estudo: É possível realizar ações direcionadas as dimensões e aplicabilidades embasadas na importância do desenvolvimento sustentável em Unidades de Alimentação e Nutrição? Portanto, o desenho da metodologia do estudo confere-lhe caráter de pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória, uma vez que de acordo com Gil (2008, p.41) a pesquisa exploratória “tem o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. Assim sendo, o estudo justifica-se na possibilidade de compreender a melhor forma de aderir à sustentabilidade nas Unidades de Alimentação e Nutrição, pois segundo Veiros (2010, p.48) “a sustentabilidade é um assunto importante, inclusive para o nutricionista, por se reconhecer um cidadão consciente de seus deveres e de suas possibilidades de contribuir com a sociedade e o meio ambiente”. Dessa maneira, no transcorrer desse estudo, apresentam-se reflexões em diálogo com os autores acerca da sustentabilidade, tendo como princípio a busca do conhecimento para o esclarecimento dos problemas. Nesse sentido, o estudo tem como objetivo geral compreender a sustentabilidade nas Unidades de Alimentação e Nutrição e a importância do nutricionista nesse processo. Os objetivos específicos foram assim definidos: Fazer uma análise conceitual da sustentabilidade; compreender a sustentabilidade enquanto processo que envolve a cultura das Unidades Produtoras de Refeição; Verificar a importância do Nutricionista para as ações sustentáveis nas Unidades Produtoras de Refeição. 05 2 SUSTENTABILIDADE A abordagem epistemológica da gestão ambiental busca através da análise e reflexão as contribuições científicas, compreender e articular as múltiplas relações necessárias para a implantação de novos paradigmas que contemplem a complexidade teórica ambiental. Sobre a questão, Cavalcante, (1979, p. 25), afirma que: “a ciência é a fonte fornecedora dos problemas a serem estudados pela epistemologia e muitas das soluções devem ser procuradas e encontradas na própria ciência”. O desenvolvimento sustentável vem como uma forma de equilibrar as atividades essenciais para a vida do ser humano. Alguns autores ainda ressaltam que esse desenvolvimento vem sendo associado à perspectiva de um país em manter uma atividade por um longo prazo, ou até mesmo fazer com que não se esgote. (ARRUDA & QUELHAS, 2010). Desta forma, a asserção de outros estudiosos (ABREU, SPINELLI & PINTO, 2009, p. 45) demonstra que a não adoção de procedimentos sustentáveis (também denominados eco- friendly) pode ter um importante reflexo ambiental, considerando a geração de resíduos, a não adequação do descarte de produtos e embalagens, bem como a utilização de produtos químicos e de grandes quantidades de água nas diversas etapas do processo produtivo de refeições. Portanto, a sustentabilidade é o item central do tripé ambiental, social e econômico. Apesar disso, inúmeras vezes, a percepção que o profissional tem sobre sustentabilidade limita-se aos aspectos ambientais, uma vez que há inter-relações entre esses elos apresentados pela sustentabilidade no centro desta integração, indicando a forma possível de crescimento sustentável (VEIROS & PROENÇA, 2010). 2.1 Evolução do Conceito Conforme Atauri (2009, p. 5), a palavra sustentabilidade “surgiu de repente na língua inglesa com sustainable development que se trata de uma aplicação a qualquer ramo de investimento humano: comércio, finanças, medicina, biologia, ecologia, agricultura, arquitetura e engenharia”. A origem não é tão remota quanto parece ser, pois à medida que os países foram se industrializando, houve necessidade de um olhar mais atento e preciso em relação aos recursos naturais extraídos de maneira brusca do meio ambiente. Harmon & Gerald (2007, 06 p.1037) abordam a explanação descrita afirmando que “a sustentabilidade era alvo dos assuntos por volta dos anos 70, período que figuravam apenas em alguns círculos científicos”. Ainda seguindo a linha de pesquisa dos estudiosos citados acima, (HARMON & GERALD, 2007, p. 1038), nos discursos dos ambientalistas, “o assunto só se popularizou nas décadas seguintes, conforme a humanidade se atentou que a escassez de recursos naturais era causada pelo modelo econômico adotado pelo próprio homem”, e foi assim que, a sustentabilidade se tornou tema constante a ser debatido em várias organizações e instituições da sociedade. De acordo com Bacha et al. (2010, p.5), “as primeiras teorias de sustentabilidade estudadas começaram pelo campo das ciências ambientais e ecológicas envolvendo diferentes disciplinas como economia, sociologia, filosofia, política e Direito”. Ainda nas informações do autor, foi a partir dos anos 60 que o tema sustentabilidade ambiental começou a ter espaço no debate acadêmico e político, e nas últimas duas décadas foram observadas a urgência de discutir a sustentabilidade em prol do desenvolvimento social. Para Lima (2003, p.104) “o discurso da sustentabilidade também buscava responder às demandas e críticas do movimento ambientalista internacional”. Eles reivindicavam a inclusão de questões ambientalistas como prioridade da economia política. Esse tipo de discursão inovou a forma de olhar o mundo, já que foi incorporada uma visão de longo prazo que estava diretamente ligada com os problemas ambientais que iriam surgir a partir de estudos multidisciplinares, onde se aproximou a ciência natural e social com a abordagem da relação da sociedade e o ambiente. Análogo a esse aspecto histórico, Harmon & Gerald (2007, p. 10543) destaca que: [...] [o] Clube de Roma, criado em 1968, foi uma das primeiras organizações multinacionais que apontou os ricos de um crescimento econômico contínuo. O italiano Aurelio Peccei e o químico inglês Alexandre King, criadores da organização, publicaram em 1972 um relatório, cujo título era “Os limites do crescimento”, e ganharam uma atenção internacional já que esse relatório previa as tendências verificadas sobre a população mundial, poluição, industrialização, depreciação de recursos e produção de alimentos. Foi observado que se o crescimento continuasse desordenado os limites do planeta seriam atingidos em 100 anos. 07 Na década de 80, os países começaram a se conscientizar sobre a importância da sustentabilidade, houve uma preocupação em descobrir formas de promover o crescimento mundial sem prejudicar o meio ambiente, nem comprometer o bem estar das futuras gerações. A partir daí o termo sustentabilidade se tornou um assunto para causas sociais e ambientais, inclusive nos negócios que visam o lucro e a proteção do meio ambiente e melhora da qualidade de vida, (BACHA et al. 2010). 2.2 Análise Conceitual A noção de sustentabilidade é derivada do conceito de desenvolvimento sustentável disseminada mais intensamente a partir do relatório Nosso Futuro Comum (mais conhecido como Relatório Brundtland) em 1987. Nele, pressupõe-se a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento que contemple equidade social e sustentabilidade ambiental ao invés de focar apenas nos aspectos econômicos como os modelos de até então. (MEBRATU, 1997). Assim sendo, foi nesse Relatório Brundtland que a expressão “desenvolvimento sustentável” começou a ser utilizada sendo definida e resumida no documento, como se observa, [...] [um] processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucionalse harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas (MAGALHÃES, 2002, p. 25). Para Rodrigues et al. (2012, p. 6) uma definição que foi dita no relatório Nosso Futuro Comum de 1987, que ainda é utilizada considera o “desenvolvimento sustentável aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Dois conceitos importantes são relatados nessa definição, o de imprescindibilidade que está relacionado as necessidades essenciais para o ser humano; e a de noção dos limites, onde é possível saber até onde se pode ir sem prejudicar o meio ambiente. Outros autores também relacionam a definição de sustentabilidade com as necessidades da humanidade atual e da geração futura. Percebe-se isso ao observar o que diz Veiros (2010, p.46) “a definição de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, está acoplada ao 08 desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras”. De acordo com Claro et al. (2008, p. 292) “a sustentabilidade social está baseada num processo de melhoria na qualidade de vida da sociedade, pela redução das discrepâncias entre a opulência e a miséria, através de diversos mecanismos”. No que diz respeito aos mecanismos, podem ser trabalhados: acesso à educação, moradia, alimentação, nivelamento de padrão de renda, ou seja, são necessidades importantes para a sua sobrevivência e sua formação intelectual. Nos últimos 30 anos a preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável só vem aumentando. Antigamente os economistas achavam que a humanidade iria entrar no século dourado através do progresso da tecnologia, porém foi observado que o progresso já havia causado problemas ambientais em um grau muito alto, o que representava um verdadeiro desafio para a sobrevivência humana. Essa observação contribuiu para o desenvolvimento de estudos sobre o conceito de sustentabilidade e medidas de desenvolvimento sustentável. (MIKHAILOVA, 2004) As contraposições demonstram o quão importante é a preocupação com os recursos ambientais e os estudiosos salientam para os impactos que ocorrem no mundo moderno por práticas de produção e de consumo de alimentos de forma irracional, conduzem ao aumento do número de pesquisas e políticas nas quais o profissional de nutrição deve estar inserido. (PREUSS, 2009). 2.3 Sustentabilidade em UAN Considerando o crescente número de refeições realizadas diariamente fora de casa, o mercado de refeições coletivas do Brasil vem registrando saltos expressivos com aumento de mais de 100% entre 2003 e 2007, tornando o setor de alimentação coletiva importante para a economia nacional. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (ABERC), “o mercado de refeições coletivas forneceu no ano de 2008, cerca de 8,3 milhões de refeições por dia, o que movimenta cerca de R$ 9,5 bilhões de reais proporcionando mais de 180 mil empregos diretos” (ABERC, 2013, p. 23). 09 O campo da sustentabilidade encontra nas Unidades de Alimentação e Nutrição um local com vários aspectos a serem abordados, pois faz parte da natureza das operações de uma UAN o grande consumo de água e energia, além da grande produção de lixo. A melhora desses aspectos é um desafio para os gestores do serviço de alimentação, pois eles lutam para controlar os custos, atender as demandas e necessidades dos clientes, ao mesmo tempo. (SPINELLI, 2009) Para Rodrigues et al. (2012, p. 13) “é preciso que a alimentação saudável seja aliada a uma alimentação sustentável, ou seja, as matérias-primas industrializadas devem ser utilizadas moderadamente de forma a valorizar a sazonalidade do local.” Torna-se necessário conscientizar os gestores em relação aos aspectos importantes para a preservação do meio ambiente como o uso adequado da água, a produção e destino de resíduos sólidos, coleta seletiva de lixo, descarte adequado do óleo, entre outros. Todavia, estudos mostram que o desperdício começa pelos alimentos durante a colheita, transporte, pré-preparo, armazenamento, racionamento, e ao chegar à unidade existe a utilização de outros componentes como água, energia, gás, que também aumentam o desperdício. A Associação Brasileira de Restaurantes e Empresas de Entretenimento realizaram alguns cálculos constatando que aproximadamente 15% do que é fornecido para os clientes vai para o lixo, isso em empresas que têm um rigoroso controle em suas cozinhas, essa porcentagem causa um aumento de 5% do faturamento mensal, esse desperdício pode chegar até a 50% se o local não tiver um bom controle. (BRADCZ, 2003). Por conseguinte, o treinamento dos funcionários, para a conscientização quanto ao uso racional da água, energia, e demais recursos, é um aspecto importante em relação à sustentabilidade da UAN. Devem ser transmitidas orientações como: não deixar a torneira aberta enquanto realizam outra tarefa, não utilizar água em excesso para lavagem de pisos e equipamentos, como manipular alimentos para diminuir a produção de resíduos, entre outros. (SPINELLI, 2009) Em 2007 a faculdade UnB Planaltina (FUP) iniciou um Projeto de Extensão de Ação Continua (PEAC), cujo título é “Alimentação Sustentável: nutrição e educação com o objetivo de promover a saúde e alimentação saudável e sustentável nas comunidades”, realizando oficinas de culinária baseadas na alimentação regional, organizando viveiros, hortas e quintais verdes nas escolas, levantando recursos disponíveis na região de atuação, desenvolvendo 010 atividades de educação ambiental e nutricional, entre outros. Todos os conteúdos foram abordados de forma interdisciplinar com enfoque na educação para a sustentabilidade, educação alimentar e ambiental, segurança alimentar e ambiental, segurança alimentar e nutricional e destinação de resíduos. (RODRIGUES et al, 2012) Esse tipo de projeto é extremamente importante para fornecer a população o conhecimento sobre o tema sustentabilidade e alimentação, além de proporcionar aprendizados de várias estratégias simples para a preservação dos recursos naturais e uma alimentação saudável. O presente autor (RODRIGUES et al., 2012, p. 14) ressalta que “a avaliação do projeto é processual, sendo medida pelo interesse e participação nas atividades desenvolvidas.” Os impactos ambientais que ocorrem no mundo moderno por práticas de produção e de consumo de alimentos de forma irracional, para Preuss (2009, p. 3), “conduzem ao aumento do número de pesquisas e políticas nas quais o profissional de nutrição deve estar inserido”. Para Cordova (2006, p.30) “é notória a importância da integração de um profissional a equipe encarregada para desenvolver projetos sustentáveis em qualquer que seja a área de trabalho”. No caso de uma UAN o nutricionista que tenha a experiência no campo da produção de refeições, pode ser o responsável por desenvolver projetos sustentáveis através da observação e análise dos fatores pertinentes que interferem na produção, distribuição, padrão das refeições e na preservação do meio ambiente. Alusivo às aplicações dos preceitos da sustentabilidade em UANs, é primordial que o nutricionista conheça o seu papel e suas possíveis ações no fomento da sustentabilidade, tais como: favorecer um diálogo com os fornecedores sobre a abrangência do desenvolvimento sustentável, privilegiar o fornecimento racional de alimentos, na elaboração do cardápio dar preferência por alimentos da estação e\ou alimentos vindos de um modo de produção ambientalmente amigável, preferir equipamentos que consomem menos água e energia, e desenvolver programas de sensibilização junto aos funcionários para evitar o desperdício (CAMPOS & LEMOS 2005; PREUSS, 2009). Portanto, a sustentabilidade aplica-se a váriasdimensões, nomeadamente ambiental, econômica, social e da saúde. No que diz respeito ao sistema alimentar, a matéria-prima para a produção de alimentos e os recursos naturais utilizados para a transformação e distribuição dos mesmos devem ser harmoniosamente conservados, e não esgotados ou degradados, na 011 defesa da biodiversidade dos ecossistemas que as produzem. Os alimentos resultantes devem ser de valor nutricional equilibrado e benéfico para a saúde humana e estar acessíveis a toda a população a preços justos (PIMENTA & GOMES, 2012). 3. CONSIDERAÇÕES No estudo apresentado, pode-se observar que as UANs são passíveis de executarem ações que promovam o desenvolvimento sustentável, em razão do conjunto de questões consideradas durante todo o processo produtivo, desde o planejamento do cardápio e escolha dos gêneros alimentícios e fornecedores para os alimentos até a reciclagem e correto gerenciamento dos resíduos alimentares da unidade. É necessário que o profissional qualificado tenha uma atuação coerente com sua formação, e que, para, além disso, os demais aspectos envolvidos na produção e comercialização de refeições sejam cada vez mais pautados na sustentabilidade, visto que gerenciar uma UAN é preocupar-se com a unidade, com os seus funcionários e clientes, demonstrando uma atuação abrangente e coerente também com a responsabilidade social. Conclui-se que o nutricionista tem papel fundamental na implantação e manutenção da sustentabilidade dentro das UANs, mediante as ações em aspectos relacionados à produção, comercialização de refeições, funcionários e clientes, bem como a responsabilidade social e ambiental. 012 REFERÊNCIAS ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; ZANARDI, A. M. P. Gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição – Um modo de fazer. Editora Metha Ltda, 2009. AGUIAR, J. A; CALIL, R. M. Tempo e temperatura de pratos quentes servidos no serviço de alimentação escolar em Cajamar. Rev. Nutrição Brasil, v. 2, p. 134-139. São Paulo, 2003. ARRUDA, L.; QUELHAS, O. L. G. Sustentabilidade: Um Longo Processo Histórico de Reavaliação Critica da Relação Existente entre a Sociedade e o Meio Ambiente. SENAC, Vol.36, nº3. Rio de Janeiro, 2010. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS. ABERC. Manual prático de elaboração e serviço de refeições para coletividade São Paulo: ABERC; 9. ed., 2013. 221 p. 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