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bdcdcdcdcdcdcdcdcdcdcdca e g f h e g f h e g f h e g f h e g f h e g f h e g f h e g f h jlklklklklklklklklklklki 4 POEMAS DE BARBOSA DE FREITAS LITERATURA CEARENSE PROF. HUMBERTO DE ARAÚJO IFCe – Umirim BIBLIOGRAFIA cOnsuLtAdA AZEVEdO, Sânzio de. Literatura Cearense. Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976 FREItAs, Barbosa de. Poesias. Organização e Introdução de Sânzio de Azevedo. Fortaleza: Edições Poetaria, 2004 2 Adeus ao Ceará Adeus! Eu vou partir, amigos caros. Já do navio se resvala a proa O vento da bandeira açouta as fímbrias E a jangada atrevida às águas voa. Lá do Oriente a majestosa estrela Banha de luzes do oceano as vagas. Será a estrela que guiava os magos Pelo deserto às promissoras plagas?… Adeus, ó minha pátria, ó mãe de bravos, — Fortes na pugna e depois d’ela heróis Adeus Atenas d’esta Grécia nova, Que tens na fronte por grinalda os sóis. Adeus, ó brisas, que correis nas selvas; Relvosas tendas da tapuia grei; Matas sombrias, onde em tempos idos Bramia em guerras esse povo rei. Manda o destino que me aparte, e cedo. Destes primores que te dera Deus. É tarde, é tarde! meus amigos, parto, Adeus, morenas; azulados céus! 3 Adeus, ó fontes, meus floridos prados, Ai, borboletas do meu Cariri! Ai. mãe querida, — Minha doce estrela! Modesta tenda, berço onde eu nasci!… E, quando o barco se imergir, ligeiro, Entre os abismos, entre o mar e o ceu, Se um canto triste vos ferir as ouças Não o maldigam, esse canto é meu! É que talvez do viajor perdido. A fronte ardente para o mar pendeu! É que o proscrito no horizonte escuro Sua sentença mortuária leu. Oh! como brame este convulso oceano! S’empina, freme n’um feroz rugir! Recua, investe, cobre a praia a espuma, Respira e s’ergue p’ra outra vez cair!… E sobre o dorso deste mar bravio Que eu peregrino, sem futuro e norte, Talvez me abrace a esse anjo pálido, Fantasma ou sonho, qu,e se chama — morte. 4 Quando alta noite. sob um céu profundo. Sentar-se triste da luzerna à luz, Ao som da vaga bipartida ao meio, Sustendo ao ombro da saudade a cruz, Eu jurarei perante os astros claros: — Minha pátria, ó jardim onde eu nasci, Em terra estranha, seja eu rico· ou pobre, Meu viver tão somente é para ti.” — Adeus, ó serros gigantescos, onde Nas tardes rubras o condor respira! Mangueira altiva onde no tronco anoso Lindas cantigas descantei na lira! Filhos do norte que a cerviz não curvam, Que amais as glórias dos passados seus, Nas asas brancas das cheirosas brisas Ouvi-me, ouvi-me o derradeiro — adeus!… Maranguape, 1876 A 5 * * * Borboleta que voejas Entre as flores do jardim, Sacode as lúcidas asas Vem voejar sobre mim. Descuidosa sei que vives Entre amor, entre perfumes, E nem sabes que pereço Entre as chamas dos ciúmes! Vives de mel, mariposa, Teu ninho é feito de luz; E nem sabes que carrego, Sem Cireneu, minha cruz! Sê feliz! Vive contente! Sê feliz, anjo d’amor! E nem sabes que cultivo No meu jardim tanta flor! Fortaleza, 1881 A 6 Desfalecimento (Enfermo) É meia-noite! a lua esconde o rosto Da nuvem no sudário; a terra dorme. Omar soluça e a medo as praias beija Com o lábio frio, mórbido, disforme. Tfmida aragem, sacudindo as asas, Poisa furtiva à frança do pinheiro: A coruja fatal, fatal duende, Um pio solta, tétrico, agoureiro… Tudo repousa; calmaria enorme! Não fala a brisa, o céu é triste e mudo, A lua já não brilha, o mar se cala, Silêncio universal, silêncio é tudo! Eu apenas, oh Deus, sim, eu apenas No deserto areal velo, sozinho!… Sinto que avanço a última passada Ao termo funeral do meu caminho! Qual de Judá o filho, longe, longe, Minha tenda deixei, deixei amores. 7 Quero voltar, mas me vacila o passo, Meu horizonte é tinto de negrores! Se choro, o pranto m’incendeia as faces; Se brado, o grito fere-me a garganta; Se avanço o passo, cambaleio e tombo; Já não posso volver à terra santa! Sim, eu sei que pequei; mas eu bem vejo Que o meu perdão repousa no sacrário. Transviado levita, é lei, se cumpra: Quero subir também ao meu Calvário. Cumpra-se a lei; o açoite do infortúnio Não me faz renegar o meu destino! Amo a sandália que a distância afronta, Há nos transes da dor um — quê — divino. Como a espuma que bóia e a brisa impele Da vaga enorme sobre o manto azul; Como a noite furtiva, melindrosa, Da harpa santa de imortal Saul: Sinto minh’alma se abismar nos sonhos Que povoam os mundos de esperança. Sinto voltar sobre a campina agreste Onde. em tardes de .abril, brinquei criança. 8 Fatalidade! oh Deus! tudo se abisma! A verdade se estampa, eu bem a vejo No lábio frio da sombria tumba… Ouço da morte o estúpido bocejo!… Conta a lenda que tu, oh Deus supremo, Ao fazer-nos volver ao pó, ao nada, Fazes raiar no páramo em que habitas Uma divina e eterna madrugada. Sei que a tumba não fala; a terra apenas Cobra – usurária, um pouco de matéria. Um pouso me reserva! faz raiar A aurora eterna da mansão sidérea! Que importa ao caminheiro, se parado Contempla o céu, contempla a criatura, Se vê sumir-se a criação inteira Na vala sepulcral da morte impura?… Fortaleza, 26 de abril de 1882 A 9 Aos meus vinte e dois anos (Enfermo) Sombras da noite eterna, horríveis sombras! O que buscais em torno do meu leito?! Vireis trazer-me o bálsamo da vida, Ou alentar a esperança no meu peito? Sombras da noite eterna, horríveis sombras! Deixai, deixai-me em plácido sossego! Inda lobrigo, à tênue luz dos sonhos, Dos meus vergéis as gramas viridentes, Meus perfumosos lírios tão risonhos! Deixai, deixai-me em plácido sossego. Sinto saudades das manhãs de moço, De ti, Maria inocentinha hebreia! Mas… qual da noite a luz do fogo errante, De minha vida a lampa bruxuleia, Sinto saudades das manhãs de moço! Oh’ noites de luar, divinas noites, Quando no parque a sós brincava à toa!… Onde te ocultas tu, loiro passado, 10 Quando eu colhia os juncos da lagoa?!… Oh, noites de luar, divinas noites! E tu, oh minha turba de amiguinhos D’esse labor insano da inocência, Onde vos lança a fúria do destino, Onde os detém a mão da Providência?! E tu, oh! minha turba de amiguinhos! Sombras da noite eterna, horríveis sombras! Não me oculteis da vida a claridade… Não me lanceis tão cedo, oh impiedosas! Na enxovia fatal da eternidade! Sombras da noite eterna, horríveis sombras! * * * Não disse acaso Deus: — aí tens o mundo? “Vivei, gozai — aí tens o Paraíso”? Tudo lhe deu e a própria semelhança. Não lhe deu a mulher — a flor do riso?… Não disse acaso Deus: — aí tens o mundo? · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · É cedo ainda, oh pálidos coveiros! Ainda quero beber ventura, enganos… Quero cantar a minha doce aurora 11 Que me sorri aos meus vinte e dois anos! É cedo ainda, oh pálidos coveiros! Não vos receio a lúbrica risada, Mensageiros celestes ou do Averno! Hoje se morre aos cantos da Dalila, Ou mergulhado em ondas de falerno! Não vos receio a lúbrica risada. Não se agaccha o granito; afronta o raio; Não se esmorece à toa — é covardia! Seja ante o fundo tétrico do abismo, Seja no transe amargo da agonia, Não se agacha o granito; afronta o raio! * * * Sim, eu quero viver! amo os prazeres, Nos banquetes da vida eu sou feliz… Sinto-me forte quando fito os olhos Das morenas febris do meu país! Sim, eu quero viver! amo os prazeres!… · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · Ai, como é belo ter ventura, amores, Dormir, sonhar — n’um colo de serrana, Ao canto matinal das avezinhas — 12 Na palmeira ger,til, americana! Ai, como é beloter ventura, amores!… Entre amores, a vida é sempre bela! A tempestade — oásis de bonança, Na escuridão o pálido relâmpago Só nos parece um· riso de criança. Entre amores, a vida é sempre bela! · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · Tenho nojo do esquife, odeio as nênias; Causa-me tédio o sino que retumba; Maldigo o seco crepitar dos círios, Prostra-me a idéia da sombria tumba. Tenho nojo do esquife, odeio as nênias! Sabei agora, oh! lívidos fantasmas! Quando meu ser cair na dura estrada, Como a luz que se apaga à ventania, Voltarei sem temer ao grande nada! Sabei agora, oh! lívidos fantasmas! Fortaleza, 21 de abril de 1882 A
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