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1 
 
 
NOVAS MÍDIAS E NOVAS TECNOLOGIAS 
1 
 
 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 
CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA: PROBLEMATIZANDO O CONCEITO .... 4 
JORNALISMO DIGITAL: DO BOOM AOS DIAS ATUAIS. UMA 
REFLEXÃO SOBRE A NECESSIDADE DA CONVERGÊNCIA DE MEIOS 
DECORRENTE DA MUDANÇA DE HÁBITOS DE CONSUMO DA NOTICIA .. 19 
O CONCEITO DE CONVERGÊNCIA .................................................... 22 
O CONSUMO DA NOTÍCIA ................................................................... 25 
AS NOVAS MÍDIAS COMO MEIOS DE RESISTÊNCIA FRENTE AO 
CONTROLE DA INFORMAÇÃO ...................................................................... 32 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
 
A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas 
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Ao tomar emprestados conhecimentos e teorias de outras áreas, como a 
Sociologia e a Computação, por exemplo, os estudos em cibercultura são ricos 
em terminologia. 
O campo é dotado de uma multiplicidade de termos e expressões que, 
muitas vezes, desaparecem tão rápido quanto surgiram. Em outros casos, no 
entanto, permanecem, ainda que se tornem objeto de contestação, como a 
própria palavra que intitula a área. (FELINTO, 2011) 
O título desse paper é constituído de termos recorrentes na cibercultura, 
pelo menos a partir dos anos 2000: interatividade, participação e convergência. 
O objetivo principal dessa reunião de palavras-chave é tensionar um 
debate a partir de uma problematização que resulte de um cruzamento entre os 
conceitos. 
A motivação dessa tarefa surge da observação acerca de banalizações, 
equívocos ou descuidos quanto ao uso dos termos em determinados casos, 
tanto na imprensa quanto na academia. 
Esforços já foram realizados no intuito de esclarecer cada um dos 
conceitos, como no caso da interatividade (LÉVY, 1993; THOMPSON, 1998; 
LEMOS, 2002; PRIMO, 2007) e da convergência, de modo que não se pretende 
aqui detalhar cada um dos termos, embora um breve referencial teórico sobre 
cada um mereça ser explorado tendo em vista a consistência de um 
embasamento para a discussão que se pretende estabelecer. 
O contexto de convergência midiática, no qual se propõe relacionar 
interatividade e participação, é caracterizado por transformações de caráter 
técnico, social e cultural, de modo que a própria noção de convergência deve ser 
pensada a partir desses três níveis. 
As reflexões são feitas com base nessas transformações, sempre 
impulsionadas por um movimento dialético entre esses níveis, buscando apontar 
4 
 
 
questões pertinentes à sociabilidade a partir de argumentações que transitam 
por diferentes vieses desse contexto de convergência. 
 
CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA: PROBLEMATIZANDO O 
CONCEITO 
Em termos de mídia, Jenkins (2008) não foi o primeiro a falar em 
convergência, muito menos sua obra hoje mais comentada, Cultura da 
Convergência, é o primeiro trabalho sobre o tema. 
Por mais que recentemente venha recebendo destaque, tanto na 
imprensa como no meio acadêmico, por Cultura da Convergência, Jenkins, 
desde o início dos anos 1990, já apresentava estudos sobre as relações entre 
diferentes meios de comunicação e seus produtos midiáticos. 
 Assim como ele, outros autores (MCLUHAN, 1964; POOL, 1990; 
SANTAELLA, 2003; CASTELLS, 2003; FRAGOSO, 2005, PELLANDA, 2003; 
MACHADO, 2003; NEGROPONTE, 1995; LÉVY, 1993) também já trabalhavam 
o assunto bem antes dessa exaltação ao termo que tem permeado a mídia e a 
academia. 
Muitas definições sobre convergência se baseiam no componente 
tecnológico, de acordo com Grant e Wilkinson (2009), que apontam a 
tecnologia digital e as redes de computadores como o núcleo da 
Interatividade e participação e contexto de convergência midiática, 
ideia de convergência midiática, ainda que, para eles, fatores 
organizacionais e sociais sejam de extrema importância na formação 
do conceito. 
No entanto, ainda que fundamental para sua definição, a tecnologia não 
é o único fator componente do conceito de convergência midiática, por isso o 
destaque para os níveis social e cultural, além do técnico, no início desse texto. 
Alerta-se para a necessidade de superação do caráter tecnicista do 
conceito, adotado por alguns autores como definidor do processo de 
convergência. No entanto, não negligencia-se tal caráter técnico; o que 
se promove é o seu posicionamento de maneira paralela aos 
caracteres social e cultural que também constituem o conceito. Ainda 
que focados no cenário do jornalismo, pode-se fazer uma apropriação 
5 
 
 
da argumentação de Salaverría e Avilés (2008), quando afirmam que 
se assiste a processos de convergência simultâneos nas esferas 
empresarial profissional e de conteúdo. 
Para os autores, sem dúvida, “todo esse fenômeno: convergência 
tecnológica”; e assim a dialética entre os níveis técnico, social e cultural já se 
torna mais transparente. 
Eles também percebem a atenção dada hoje ao conceito de convergência 
e recuperam os primeiros estudos sobre o mesmo, segundo eles, feitos há quase 
três décadas. 
 Tais análises, explicam, colocavam o elemento tecnológico como o 
principal responsável pelo desencadeamento do fenômeno. 
Os autores citam Pool (1990) e Negroponte (1995) que, em sua 
opinião, concediam destaque ao fator tecnológico na composição do 
conceito. Há, porém, que se relevar as diferenças contextuais em que 
tais autores teceram suas análises, sem deixar de lado o fato de que, 
enquanto Negroponte (1995) conduzia um posicionamento fortemente 
tecnicista, Pool (1990) deixava transparecer, se não uma Tradução da 
autora: “Todos esses fenômenos seriam impossíveis sem uma 
condição instrumental prévia que constitui a quarta grande dimensão 
desse fenômeno: a convergência tecnológica.” 
Um dos desafios impostos pelo termo convergência, de acordo Grant 
e Wilkinson (2009), é o de que vem sendo utilizado para se referir a 
fenômenos semelhantes ou relacionados a tecnologias de 
comunicação como, por exemplo, a transmissão de voz, dados e vídeo 
através de uma única conexão. 
A apropriação do termo é, no caso, absolutamente tecnicista, ainda que 
se possa pensar que a partir de tais possibilidades técnicas, alterações sociais 
e culturais advenham de novas práticas decorrentes de novos usos. 
Eles explicam que o termo é utilizado para representar a ausência de 
limites entre diferentes tipos de mídia e, ao mesmo tempo em que há uma 
extensa lista de aplicações para o termo, afirmam que há uma série de 
fenômenos distintos que podem se encaixar no conceito. Nãoé, então, de se 
surpreender a ocorrência frequente de múltiplas e diversas apropriações, ora de 
caráter exclusivamente técnico, ora social, ora cultural, ou mesclas desses tipos, 
6 
 
 
para designar um conceito de convergência, seja no âmbito científico, seja na 
imprensa. 
Grant e Wilkinson (2009) consideram que o traço comum entre esses 
fenômenos, que consideram como convergência, está na substituição 
das transmissões analógicas pelas digitais, que permitem o 
armazenamento e a manipulação de qualquer tipo de mensagem a 
partir do momento em que ela é convertida em bits binários. 
Qualquer semelhança com o que Negroponte (1995) dizia nos anos 1990 
seria mera coincidência? 
Essa semelhança, no entanto, é amenizada quando um alerta feito pelos 
próprios autores, e que vem agregado ao background desse texto, destaca que 
a convergência vai além dessa questão técnica, pois representa um conjunto 
muito mais amplo de fenômenos, de modo que não se limita apenas ao fator 
tecnológico de conversão do analógico para o digital. 
Esses fenômenos, na verdade, seriam dimensões de uma conjuntura 
mais extensa que caracterizaria o processo de convergência. 
Essas dimensões, de acordo com Grant e Wilkinson (2009), seriam: a 
produção de conteúdo para múltiplos meios; o que eles chamam de 
copropriedade de dois ou mais meios por uma mesma empresa 
servindo ao mesmo mercado; a colaboração entre meios e 
profissionais, não necessariamente da mesma empresa; e a 
coordenação entre meios e profissionais de forma a compartilhar 
informações. 
Os autores citam essas dimensões no âmbito do jornalismo, e não 
abordam a participação dos consumidores de conteúdo no processo de 
convergência, como se pode perceber em outros autores que trabalham o 
conceito de convergência, mas, ainda assim, suas considerações ressaltam a 
necessidade de se avançar a reflexão sobre o conceito para além de um 
entendimento unicamente técnico do processo. 
A necessidade de se repensar e problematizar as expressões 
“interatividade” e “participação” decorrem dessa busca pelo entendimento de um 
conceito de convergência, que demanda uma diferenciação entre os termos, na 
7 
 
 
medida em que também se permite compartimentar em função desses níveis 
técnicos, social e cultural. 
Utilizando a teoria dos meios, Jensen (2010) reflete sobre a 
convergência a partir da relação entre a materialidade e a ação dos 
indivíduos. Para o autor, essa teoria é a tradição de pesquisa que 
confere maior sustentação às condições materiais da comunicação 
humana e é a partir dela que ele propõe a divisão dos meios materiais 
em três graus. 
Os meios de primeiro grau, para Jensen (2010), de acordo com uma 
perspectiva histórica e com a teoria da comunicação, são considerados 
como meios de comunicação os corpos dos seres humanos e 
determinados utensílios e instrumentos. 
Em si, o corpo humano é uma condição material de comunicação 
necessária e suficiente; nossos corpos se tornam meios de comunicação 
produtivos e receptivos através da socialização e da aculturação. 
Em comparação, as ferramentas – utensílios de escrita ou instrumentos 
musicais – não são necessários nem suficientes, mas estendem, de maneira 
significativa, o corpo humano e suas capacidades comunicativas. 
Jensen (2010) diz que meios de primeiro grau externam mundos atuais 
e possíveis, de modo que habilitam as pessoas a se comunicarem 
umas com as outras sobre esses mundos para propósitos reflexivos e 
instrumentais. 
Como meios de segundo grau, Jensen (2010) considera os meios de 
massa como sendo os livros impressos, os jornais, os filmes, o rádio e 
a televisão, ou seja, todas as formas de instituições midiáticas e 
práticas comunicacionais baseadas no modelo um-todos. 
O autor toma como base a expressão “meios de massa”, utilizada por 
Walter Benjamin nos seus termos de reprodução e disseminação 
técnica, especificamente no campo das artes, porém com implicações 
no campo das comunicações. Jensen (2010) explica que essas 
características foram, em primeiro lugar, reproduzidas, armazenadas e 
apresentadas em um conteúdo específico através de um modelo de 
um-para-um. 
8 
 
 
Em segundo lugar, os meios de segundo grau, afirma o autor, estenderam 
radicalmente o potencial de disseminação do acesso à informação através do 
tempo e do espaço, independente da presença e do número de participantes. 
 É nos meios de terceiro grau que Jensen (2010) fala sobre a 
tecnologia digital e define essa categoria como metatecnologia. Para 
ele, o computador digital reproduz e promove uma recombinação de 
meios anteriores a ele em uma única plataforma material, utilizando a 
expressão metatecnologia a partir de Kay e Goldberg (1999/1977), que 
denominaram o computador de metameio. Reunindo textos, imagens 
e sons, Jensen (2010) explica que o meio digital se origina dos meios 
de massa, reunindo outras funcionalidades, como a interação face a 
face, as narrativas, os debates e os games. 
Além disso, prossegue, o meio digital integra os diferentes modelos de 
comunicação: uma-para-um, uma-para-muitos e muitos-para-muitos. Para ele, o 
principal exemplo de que o meio digital incorpora o terceiro grau dos meios 
materiais é o computador pessoal em rede, ou seja, a internet, e ele ainda cita 
os celulares, a portabilidade e a mobilidade das conexões. 
Assim, Jensen (2010, p. 70) afirma que “tenta elucidar com sua 
classificação em três diferentes graus de materialização dos meios é 
que práticas diversas decorrem desses níveis de materialidade.” 
Um meio material, explica, suporta práticas comunicativas diversas, assim 
como algumas práticas circulam de maneira adequada por vários meios; outras 
práticas são retomadas quando novas plataformas comunicacionais são 
incorporadas, quando surgem novos dispositivos tecnológicos, como, por 
exemplo, através das trocas de mensagens de texto por meio de telefones 
celulares. 
Ao contrário do que se pode inferir inicialmente, sua argumentação não 
condiz com a ideia de que os computadores e a internet 
caracterizariam o ideal de convergência pelo único e simples fato de 
reunirem todos os tipos de comunicação anteriormente existentes. 
Ainda que o ambiente digital seja propício para a reunião de diversos 
níveis de materialidade, Jensen (2010) toma como premissa o fato de 
que são as interações e as práticas comunicativas que caracterizam os 
intercâmbios comunicacionais responsáveis pelos processos de 
convergência e, nesse caso, a reflexão sobre tais processos requer a 
9 
 
 
qualificação de questões referentes à interatividade e à participação, 
diretamente relacionadas com os níveis social e cultural do conceito, 
além do nível técnico, evidentemente. 
No presente ambiente digital, apresenta-se um caso especial de um 
questionamento geral, subjacente à teoria dos meios sobre como 
potências materiais se tornam meios reais. Jensen (2010) resgata o 
conceito de “affordances” de James J. Gibson (1979), noção que, para 
Jensen (2010), ronda aspectos sociais e culturais dos meios de 
comunicação. Jensen (2010, p. 74) explica que “Suportes são, por um 
lado, as propriedades da natureza que as pessoas se referem e delas 
dependem, por outro lado, tais propriedades só se manifestam em 
relação a determinados organismos”. 
No caso das interações humanas, prossegue o autor, existem diferenças 
marcantes entre os objetos encontrados com os usos que são dados a esses 
objetos, e os objetos que são produzidos, que apresentam usos que são 
desenvolvidos em sequências mais ou menos complexas e colaborativas. 
É comum a apropriação de determinados objetos utilizados para a 
comunicação tendo em vista uma espécie de adaptação para determinados tipos 
de situações comunicacionais, e, no caso da comunicação digital, essas práticas 
são frequentes. 
Dessa forma, o entendimento desses suportes remete ao uso que lhesé dado. No caso dos meios de comunicação, segundo Jensen (2010, 
p. 75), “Os suportes dos meios são ao mesmo tempo gerais e 
programáveis”. 
No entanto, o autor diz que há uma dificuldade em se aplicar o conceito 
de Gibson de forma consciente e explícita, já que haveria uma 
inconsistência no momento da verificação do mesmo. Jensen (2010) 
cita Norman (1990), que encara o conceito de Gibson como o aspecto 
de design de determinado objeto, sugerindo que este deva ser utilizado 
além de suas características atuais, e isso se percebe em diversas 
ferramentas de cunho social presentes na web, frequentemente 
apropriadas por seus usuários para finalidades. 
Assim, o entendimento de Norman engloba não só a maneira como um 
objeto pode ser usado, como também suas propriedades atuais. No caso dos 
meios de comunicação, e mais propriamente no cenário dos meios digitais, o 
10 
 
 
entendimento desse conceito de suporte se dá no contexto dos diversos usos 
que podem ser realizados e hoje são dados através da apropriação feita por 
diferentes indivíduos inseridos em variados contextos comunicacionais, bem 
como participantes de diversificados processos de comunicação, de maneira que 
os suportes materiais podem e são muitas vezes utilizados além de suas 
características atuais. 
Essas apropriações podem ser realizadas com objetivos que resultam em 
diferentes níveis de interatividade e/ou participação, de forma que a 
materialidade relacionada com a designação dada pelo indivíduo a determinado 
suporte ou meio interfere na definição do caráter que reveste o conceito de 
convergência. 
Ao contrário de Norman, Gibson entende o suporte como uma 
possibilidade de ação capaz de ser realizada em um determinado 
ambiente, no qual o indivíduo se encontra naquele momento, porém, 
essa possibilidade independe da capacidade do indivíduo de percebê-
la. 
Jensen (2010) aponta que este fenômeno de fazer sem saber que se 
está fazendo tem sido referenciado na teoria social e cultural como 
conhecimento tácito, de modo que são ações e práticas que permitem 
aos indivíduos seguirem adiante. No caso dos meios de comunicação, 
o questionamento que Jensen (2010) faz a partir do conceito de Gibson 
é de como e por que alguns suportes materiais, e não outros, emergem 
como meios. 
A partir disso, Jensen (2010) busca explicar o termo “emergência”, que, 
segundo ele, refere-se a um processo cujo estado final é imprevisível. 
O autor cita o ciberespaço de William Gibson como um espaço através 
do qual a história dos meios se utiliza para mostrar como os usos 
sociais de uma tecnologia se modificaram muito ao longo do tempo ou 
mudaram completamente de rumo. 
Além disso, o autor afirma que as próprias mídias são capazes de 
reconfigurar as condições de comunicação, ou seja, que diferentes 
mídias suportam diferentes tipos de modificação. No caso dos meios 
digitais, afirma o autor, os indivíduos podem alterar não só arquivos 
individuais, mas também um sistema inteiro de comunicação, sua 
forma e seu conteúdo. 
11 
 
 
Logo, ao se tratar aqui do tensionamento entre interatividade e 
participação, nesse sentido, vai-se além da questão do conteúdo, já que, ao 
interferir no formato, extrapola-se os níveis de interatividade de maneira que o 
modelo de comunicação sofre impactos que reconfiguram a atuação de seus 
componentes não só na construção do conteúdo do processo comunicacional, 
mas também na constituição do próprio instrumento de comunicação que 
possibilita a produção do conteúdo. 
A presente estrutura midiática digital demonstra o quanto a internet e a 
web se desenvolveram ao longo dos anos, desde as primeiras formas de 
comunicação mediada por computador, e o quanto se desviaram de seus 
propósitos iniciais, direcionando-se para a sociabilidade e para o 
estabelecimento de processos de convergência midiática. 
Resultado de apropriações e usos diversos, a comunicação estabelecida 
via rede se expandiu atingindo os demais meios de comunicação, 
estabelecendo, além de novos modelos comunicacionais, novas práticas e 
formatos midiáticos, obrigando a reflexão sobre questões materiais e sociais que 
envolvem os processos comunicacionais que se desenvolvem através dos meios 
digitais e que promovem o desenvolvimento de uma cultura marcada pelo uso 
de novos tipos de ferramentas de comunicação. 
Diante de tais alterações, Jensen (2010) reflete sobre essa questão do 
suporte falando sobre a interação diária dos usuários de internet, 
argumentando que a comunicação em rede deve questionar não só o 
que a mídia faz com as pessoas, mas também o que as pessoas fazem 
com a mídia. 
O que interfere hoje nesse processo e que produz um impacto direto no 
conceito de convergência midiática refere-se ao grau de interatividade e/ou 
participação dos indivíduos nos processos comunicacionais estabelecidos nesse 
contexto de convergência. 
Se antes as tecnologias de comunicação serviam apenas para 
distribuição de conteúdos midiáticos, hoje servem também para produção e 
compartilhamento de conteúdo. 
12 
 
 
Dessa forma, provoca-se a reflexão sobre o conceito de convergência 
midiática, na medida em que essas características oscilam em função da 
materialidade dos suportes, questão que se encontra no nível técnico do conceito 
de convergência, e das apropriações realizadas pelos indivíduos no uso 
cotidiano das tecnologias de comunicação, temática que engloba os níveis 
sociais e culturais do fenômeno. Interatividade e participação em contexto de 
convergência midiática Um dos fatores que difere a internet dos demais meios 
de comunicação é a rapidez de seu alcance. 
A velocidade com que a internet vem se difundindo nas últimas três 
décadas não pode ser comparada com a velocidade de difusão de 
qualquer outro meio de comunicação, atesta Cardoso (2007), que 
recupera um questionamento de Castells quanto ao momento dessa 
difusão em alta velocidade. 
A resposta que Cardoso (2007) fornece à Castells divide-se entre 
razões de caráter tecnológico, como a popularização do computador e 
de outros aparelhos informáticos e comunicacionais, a facilidade de 
uso da web e o incentivo ao uso da internet no trabalho e na educação; 
e razões de caráter histórico, como uma realidade que atende à 
necessidade fundamental de uma sociedade com fortes raízes na 
evolução social, que se realiza através de uma ferramenta como a 
internet. 
Ao mesmo tempo em que usam, as pessoas dessa sociedade se 
apropriam e modificam essa tecnologia, possibilidade decorrente do caráter 
aberto do modelo de tal tecnologia e ausente em outras tecnologias anteriores, 
como a televisão, o telefone e o rádio, por exemplo 
Por isso a necessidade que esse trabalho levanta de se pensar 
transformações sociais, culturais e técnicas, numa época fortemente marcada 
pelo uso da internet para diversos tipos de atividades políticas, sociais e 
econômicas. 
A cultura da convergência pode ser entendida como um estágio de 
comunicação no qual muitas pessoas participam da formação de universos de 
pensamento direcionados em um mesmo sentido. Para desenvolver-se nesse 
sentido, a convergência precisa da interação das pessoas, realizada através das 
mídias. 
13 
 
 
Esta interação, por sua vez, depende do interesse criado pelos objetos 
que participam desta cultura, que pode ser iniciado através dos elementos 
estéticos destes. 
Em todos os estágios de comunicação desenvolvidos até a 
convergência, a interação, nos seus diversos níveis, mostra-se 
fundamental para a formação desta cultura em emergência. 
(FACCION, 2010) Faccion (2010) é aqui citada por destacar a 
interação como elemento fundamental do conceito de convergência, 
ao mesmo tempo em que vincula a ocorrência dessa interação à 
questão da conexão. 
A autora discorre sobre o conceito de convergência a partir de Jenkins 
(2008), afirmando que a convergência teria um caráterfundamental de 
interação, dependendo, por um lado, da competência tecnológica do 
que chama de “novas mídias”, responsáveis pela abertura de 
“caminhos de interatividade” e, por outro, estabelecendo “dois 
parâmetros de avaliação: a capacidade dos objetos de incitar a 
interação e o interesse da sociedade em interagir”. (FACCION, 2010) 
A partir dessas afirmações, Faccion (2010) elabora um entendimento 
de convergência que avança além de um entendimento meramente 
tecnológico; sua argumentação estrutura-se sob a premissa de que a 
convergência se dá não apenas em função da tecnologia, mas também 
por “processos de interação possibilitados e encorajados na 
comunicação”, de forma que o uso e a apropriação de tecnologias e 
conteúdos pelos indivíduos seja um fator determinante na efetivação 
de um processo de convergência midiática. 
A convergência pode ser entendida como um estado de comunicação 
alcançado após o envolvimento de diversas pessoas através do uso das mídias. 
Esse estado de comunicação pressupõe a criação de múltiplas manifestações 
que acrescentam pensamentos, interpretações e reapresentações de um objeto 
inicial, capaz de atrair o interesse de muitas pessoas. (FACCION, 2010) 
A abordagem desenvolvida por Faccion (2010) toma como ponto de 
partida a inserção das “novas mídias” dentro do cenário da 
comunicação, de forma que o uso e a apropriação dessas novas mídias 
pelos indivíduos colaborem para a concretização de um processo de 
convergência. 
14 
 
 
Tal postulado vai ao encontro do que Dizard Jr. (2000, p. 40- 41) 
discorre sobre esse tema. Para o autor, “a nova mídia não é apenas 
uma extensão linear da antiga”; a diferença consiste no fato de que ela, 
através da internet e de outros canais, expande a quantidade de 
recursos disponíveis para os consumidores; “em particular, a nova 
mídia está começando a prover conexões interativas entre o 
consumidor e o provedor de informação”. 
Essas conexões permitem a interatividade entre produtores e 
consumidores de informação, segundo o autor, fazendo com que os 
consumidores possam escolher quando e como querem receber o conteúdo 
midiático. Assim, a origem do conceito de convergência midiática, no âmbito da 
internet, está enraizada nessa característica do meio que permite a conexão 
entre os indivíduos, bem como entre as informações disponíveis on-line. 
É a interatividade proporcionada pela conectividade do meio que justifica 
o caráter social do entendimento sobre convergência midiática adotado aqui. 
Em um texto intitulado O que aconteceu antes do YouTube, Jenkins 
(2009, p. 144) afirma que muito do que já foi escrito sobre o YouTube 
sugere que algumas tecnologias possibilitaram o surgimento de 
“culturas participativas”, porém, acredita mesmo é no contrário: “o 
surgimento das culturas participativas de todas as espécies ao longo 
das últimas décadas estabeleceu o caminho para a assimilação 
pioneira, rápida adoção e usos diversos dessas plataformas.” 
O que Jenkins (2009, p. 145) na verdade tenta mostrar é que antes da 
digitalização da comunicação já havia um “longo histórico de produção 
de mídia” e que plataformas como o YouTube não foram o ponto de 
partida dessas produções. 
Ainda que mesmo sem a mistura de linguagens, os indivíduos sempre 
produziram e buscaram conteúdo, de uma forma ou de outra. O que de novo 
surgiu não foram as práticas, mas sim as maneiras, os suportes através dos 
quais passaram a ser realizadas. 
O caso do YouTube serve como ilustração desse raciocínio: Se o 
YouTube parece ter aparecido da noite para o dia, é porque já havia uma miríade 
de grupos esperando por algo como o YouTube; eles já tinham suas 
comunidades de prática que incentivavam a produção de mídia DIY, já haviam 
15 
 
 
criado seus gêneros de vídeos e construído redes sociais por meio das quais tais 
vídeos podiam trafegar. 
O YouTube pode representar o epicentro da cultura participativa atual, 
mas não representa o ponto de origem para qualquer das práticas culturais 
associadas a ele. (JENKINS, 2009, p. 145) A internet, a web e as tecnologias 
digitais de comunicação, dessa forma, foram responsáveis por potencializar 
práticas anteriormente existentes, facilitando atividades e contribuindo para 
alterações nos comportamentos dos indivíduos, mas não foram pioneiras em 
misturar elementos e linguagens de comunicação. 
Tais misturas iniciaram antes da configuração desse presente cenário 
digital, e o que mudou, e vem mudando, são os comportamentos dos indivíduos 
em torno dos conteúdos midiáticos. Por isso a crítica inicial que esse texto faz à 
exaltação excessiva e à apropriação, muitas vezes equivocada, da expressão 
“convergência midiática” e, a partir disso, propõe o tensionamento entre a 
interatividade e a participação num contexto de convergência, lucidamente 
delimitado. 
É importante verificar como, no início dessas misturas, os 
comportamentos dos indivíduos foram se modificando. 
Quando Santaella (2003) afirma que, nos idos dos anos 1980, os 
indivíduos começaram a abandonar a “inércia da recepção”, em função 
do surgimento de dispositivos como o controle remoto e o 
videocassete, que ampliaram as possibilidades de escolha dos 
indivíduos, é válido questionar como se deu esse abandono. 
O público começou a perceber a oferta de mais opções e passou a usar 
o controle remoto para fazer suas escolhas? Compraram pacotes de TV a cabo, 
videocassetes, personalizaram fitas cassete para escutarem em seus 
walkmans? Como se deu tal desprendimento? 
A diferenciação que Jenkins (2008) faz entre os termos participação e 
interatividade é útil para se entender como se deu esse abandono, a 
evolução de uma postura passiva para outra mais ativa, pois gera um 
raciocínio sobre as mudanças ocorridas desde as primeiras misturas 
entre linguagens até o contexto atual, dito convergente. 
16 
 
 
Para Jenkins (2008, p. 182), a interatividade é o “modo como as novas 
tecnologias foram planejadas para responder ao feedback do 
consumidor”, assim que podem existir diferentes níveis de 
interatividade em função de cada tecnologia de comunicação. Já a 
participação é “moldada pelos protocolos culturais e sociais”, 
(JENKINS, 2008, p. 183) mais ilimitada que a interatividade e 
controlada mais pelos consumidores dos produtos midiáticos que por 
seus produtores. 
Diante dessa diferenciação, poderia-se dizer que desde as primeiras 
misturas entre linguagens, que, como aponta Santaella (2003), se 
iniciaram em meados da década de 1980, o abandono da inércia da 
recepção foi abrindo o caminho para um cenário midiático mais 
interativo, em diferentes níveis, para, a partir do fim dos anos 1990, 
além de interativo, tornar-se mais participativo.8 No caso da televisão, 
por exemplo, Chagas (2010) atribui o anseio do telespectador por 
participação à busca de outros meios onde possa atuar de maneira 
mais ativa, e afirma que foi na internet que esse telespectador 
“encontrou espaço para ‘falar’, trocar informações e produzir 
conteúdo”. 
Em termos de comportamento do telespectador, Murray (2003) credita 
alterações do mesmo aos processos de digitalização da informação, 
passando de atividades sequenciais para atividades simultâneas. Se 
antes o telespectador assistia ao conteúdo televisivo para depois 
interagir, hoje realiza as duas ações ao mesmo tempo. 
Chagas (2010) afirma que, no Brasil, “mudanças no comportamento do 
telespectador e das produções já são identificadas, muito em função 
da popularização da Internet e do anseio por interagir e fazer parte da 
produção de conteúdo da TV”. 
A autora recorre a Jenkins, explicando que, para ele, “esta nova ‘prática 
interligada em rede’ de consumir produtos televisivos, estando 
conectado à web, configura os modos de consumo e produção dos 
produtos televisivos”. Ela diz que não se trata de assistir televisão pelo 
computador, mas sim no aparelhode televisão, comentando o 
conteúdo nas redes sociais on-line. 
Acompanhar o programa não é suficiente, ela explica; o telespectador, 
também internauta, quer compartilhar sua opinião sobre a programação, e o 
17 
 
 
registro dessa opinião na web é o que legitima esse público cada vez mais ativo 
na mídia. Interatividade ou participação? 
Qual o limite dessa interferência, se é que ela ocorre em determinados 
casos? 
As respostas a tais questionamentos abrangem implicações de caráter 
técnico, social e cultural que demandam atenção por terem um papel definidor 
na constituição do entendimento do processo de convergência. 
Pavlik (2008) cita uma pesquisa de John Carey sobre o uso de laptops 
paralelo ao uso da televisão, porém aponta algumas diferenças. A 
diferenciação entre interatividade e participação apresentada por 
Jenkins (2008) mostra a recorrente incidência de equívocos quanto ao 
uso dos termos e participação e m contexto de convergência midiática 
que soam interessantes no que se refere à materialidade dos meios. 
O autor destaca que a televisão não é móvel que nem o laptop e talvez 
não seja capaz de armazenar ou de disponibilizar todos os jogos de um time de 
futebol, por exemplo, como no caso da web, o que hoje já é algo questionável, 
em função dos canais pay-per-view. 
Um outro apontamento que Pavlik (2008) faz é de que o laptop é um 
dispositivo privado, ao contrário da televisão, que pode ser 
compartilhada com outras pessoas. 
No entanto, o autor não percebe o fato de que o telespectador pode 
acompanhar o jogo em canais coletivos, ou então interagindo com outros 
telespectadores, no caso, usuários de sites, e interagir com essas pessoas 
nessas páginas pelas quais acompanha os jogos, o que, dessa forma, tornaria, 
não o computador, mas o site, ou o ambiente no qual ele acompanha o jogo, em 
um espaço coletivo, acessado através do laptop. 
Novamente o questionamento deve ser realizado com relação à 
interatividade e à participação no contexto da convergência. 
Percebe-se hoje um cenário múltiplo, complexificado pela diversidade de 
dispositivos tecnológicos e pelas possibilidades de manifestação oferecidas aos 
indivíduos através dessas materialidades que passam a ser apropriadas para os 
mais diversos usos. 
18 
 
 
Apropriações e desvios complexificam a configuração midiática a partir de 
um movimento dialético entre a técnica, a cultura e a sociabilidade, borrando os 
limites entre interatividade e participação nos espaços on-line e off-line. 
Este paper resulta de uma tese de doutorado ainda em construção e, 
dessa forma, realiza um recorte no trabalho em andamento, discorrendo sobre 
uma das categorias que vêm sendo estudadas como constituintes do conceito 
de convergência midiática, a interatividade. 
Optou-se como estratégia tensionar a participação e a interatividade no 
contexto da convergência midiática com o objetivo de apontar que existem 
diferenças entre as duas características e que essas diferenças precisam ser 
pensadas não só em termos técnicos para a reflexão teórica sobre o processo 
de convergência, mas também em termos sociais e culturais. 
Inicialmente, o texto direcionou seu foco para o conceito de convergência, 
buscando expor o entendimento tomado como base e motivado pela 
necessidade de superação do caráter tecnicista adotado por alguns autores na 
definição do fenômeno. 
Buscou-se explorar o tema da convergência abordando os três níveis 
propostos, técnico, social e cultural, passando por questões referentes às 
materialidades dos suportes e dos meios e à apropriação realizada pelos 
indivíduos nos estabelecimentos dos processos comunicacionais e no consumo 
de produtos midiáticos. 
Em um segundo momento, o trabalho buscou enquadrar o conflito entre 
interatividade e participação como elementos constituintes do fenômeno, 
apontando situações em que os limites entre as duas características se tornam 
tênues e identificando como questões comportamentais, que, além de maneiras 
técnicas, interferem, social e culturalmente, na definição do processo de 
convergência midiática. 
Incitar a discussão e criar questionamentos que motivem o avanço teórico 
são as preocupações de origem desse trabalho, além dos objetivos inicialmente 
propostos. Dessa forma, sem a pretensão de esgotar o tema, as observações 
aqui expostas visam realizar essa contribuição ao campo. 
19 
 
 
JORNALISMO DIGITAL: DO BOOM AOS DIAS ATUAIS. UMA 
REFLEXÃO SOBRE A NECESSIDADE DA CONVERGÊNCIA DE 
MEIOS DECORRENTE DA MUDANÇA DE HÁBITOS DE 
CONSUMO DA NOTICIA 
O surgimento do jornalismo digital representa uma revolução na maneira 
de apurar, produzir e distribuir conteúdo jornalístico. 
Em 1995, Nicholas Negroponte, visionário pesquisador do MIT, em seu 
livro Vida Digital apresentou como seria o cotidiano das pessoas inserido em 
mundo digital, que até aquele momento, parecia algo muito distante. 
Ele inicia a discussão afirmando que a melhor maneira de avaliar os 
méritos e as consequências da vida digital é refletir sobre a diferença entre bits 
e átomos. O papel (átomo) vai cedendo lugar a impulsos eletrônicos (bits) que 
podem viajar a grandes velocidades pelas autoestradas da informação 
(NEGROPONTE, 1995). 
O jornalismo nas redes digitais, e especialmente na Internet, é um 
fenômeno relativamente recente, com uma expansão paralela à da World Wide 
Web (www) e com seus inícios em 1994. 
O estudo do novo fenômeno começa em vários países simultaneamente, 
favorecido, por sua vez, pela potencialização da comunicação entre acadêmicos 
(correio eletrônico, listas de discussão, fóruns, blogs, etc) aproximando 
sobremaneira pesquisadores da comunidade acadêmica internacional. 
A expansão destas novas formas de comunicação global favoreceu o 
conhecimento mútuo de diferentes grupos de pesquisa, possibilitando a 
formação de redes cada vez mais amplas e coesas (NOCI, PALACIOS, 2008). 
O estudo do jornalismo digital (também conhecido por jornalismo online, 
ciberjornalismo, jornalismo interativo e jornalismo multimídia) não atraiu a 
atenção de estudiosos e profissionais da área de comunicação até o início dos 
anos 90. 
Kevin Kawamoto (2003) conta que alguns educadores das escolas de 
comunicação assim como respeitados jornalistas acreditavam que 
20 
 
 
tanto a Internet quanto a World Wide Web não eram nada mais do que 
modismos e assim não mereciam ser levadas a sério. 
Porém, nos dias de hoje, poucos discordariam da importância das mídias 
digitais e de seu papel duradouro no panorama global dos meios de 
comunicação, assim como do impacto significante na sociedade em relação a 
indústria editorial, fonográfica e televisiva causado pelo surgimento da tecnologia 
digital. 
O autor propõe uma única definição do termo jornalismo digital: o uso de 
tecnologias digitais para pesquisar, produzir e distribuir (ou tornar acessível) 
notícias e informações para uma audiência informatizada. Mesmo assim, ele 
alerta que a definição de jornalismo digital está em constante transformação 
devido aos avanços tecnológicos, e mais importante ainda, devido a mudanças 
no jornalismo como instituição assim como conceito. 
Em meados da década de 1990, o termo jornalismo digital ou 
ciberjornalismo referia-se, na maioria das vezes, às versões desenvolvidas para 
a web de jornais impressos, diários e de modelo comercial. 
Eram poucas, ou praticamente nenhuma, as alterações na forma de 
narrativa jornalística. Após aprontar o conteúdo da edição do produto impresso, 
tal conteúdo era disponibilizado na web (MIELNICZUK, 2008). 
Contudo esse panorama mudou. Atualmente, os sites noticiosos 
passaram a não somente reproduzir o conteúdo divulgado em sua versão 
impressa, mas também a disponibilizar informações adicionais sobre o assunto 
que não foram incluídas na versão impressa ou, informações complementares 
como por exemplo: vídeos, animações, entreoutros recursos multimídia. 
Ou seja: o meio digital propicia a viabilização de produzir e distribuir 
conteúdo multimídia de forma rápida e precisa a fim de possibilitar a 
interatividade e com isso, despertar o interesse e a participação do público. 
Além disso, nestas publicações, o leitor tem acesso a bancos de dados, 
arquivos eletrônicos com edições passadas, fóruns de discussão e sistema de 
bate-papo em tempo real, mecanismos de busca em classificados online, 
21 
 
 
notícias atualizadas a todo o instante e uma série de outros serviços, só 
possíveis graças ao suporte digital (Informação eletrônica). 
Kevin Kawamoto (2003) cita e explica algumas características do 
jornalismo digital: 
- Hipertextualidade – a ligação e as camadas de informação digital por 
meio de uma estrutura não-linear hierárquica. 
- Interatividade – o processo de engajamento humano ativo ou da 
participação da máquina no processo de captação e compartilhamento da 
informação. 
- não-Linearidade – um sistema flexível de ordenação da informação que 
não necessariamente adere à lógica dos padrões tradicionais, cronológicos ou 
convencionais de narração. 
- Multimídia – o uso de mais de um tipo de mídia em um único produto. 
Ou seja, a mistura de áudio, vídeo e dados, que o visionário Nicholas 
Negroponte, em 1995, já havia dado uma explicação bastante simplificada: nada 
mais é do que bits misturados. 
- Convergência – a fusão ou a confusão de tecnologias e serviços. 
- Customização E Personalização – a habilidade de moldar a natureza do 
conteúdo e serviço a fim de atender necessidades e desejos individuais. 
Para David Carlson (2003), dentre as inúmeras vantagens do 
jornalismo digital, a mais importante delas refere-se a seu potencial. 
Segundo ele, é por isso que tantos jornais e empresas de comunicação 
estão investindo cada vez mais na área. 
O jornalismo online tem o poder de extrair as melhores coisas das mídias 
tradicionais (jornais, revistas, rádio e televisão), e “reembalar” em um produto 
novo e único carregando os aspectos positivos das mídias já existentes e 
poucos, caso existam, dos negativos. 
É nesse ponto, que uma das características do jornalismo digital, 
citadas por Kevin Kawamoto (2003) é trazida em foco: a da 
convergência. A reflexão sobre o significado da palavra convergência 
abrange diversas áreas do conhecimento. 
22 
 
 
É extensa a discussão não somente conceitual, mas também quanto à 
sua aplicabilidade em diferentes cenários. 
O termo “convergência” tem sido utilizado exaustivamente e 
diversificadamente em toda a literatura que envolve o status das mídias 
contemporâneas, as tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs), a 
cibercultura, as linguagens e narrativas, apenas para ficarmos no campo maior 
da Ciências da Comunicação (SAAD 2007). 
No plano internacional, as primeiras reflexões acadêmicas sobre 
convergência multimídia apareceram no fim dos anos 1970. 
Foi quando autores como Nicholas Negroponte (1979) começaram a 
se referir ao fenômeno, então nascente, da digitalização e suas 
consequências na difusão e combinação de linguagens textuais e 
audiovisuais (SALAVERRÍA 2007). 
No Brasil, com o surgimento do jornalismo digital em meados da década 
de 90, o fenômeno da convergência jornalística passou a ser considerado algo 
possível, porém ainda distante da realidade vivida dentro das redações 
midiáticas. 
A visão de convergência ainda se encontrava atrelada à ideia de 
convergência puramente tecnológica, que propõem que muitas partes de 
equipamento digital vão se convergir a uma única caixa na sala-de-estar 
(QUINNS 2005). 
 
 
O CONCEITO DE CONVERGÊNCIA 
Atualmente, é praticamente impossível não se deparar com o termo 
convergência quando se pensa sobre o futuro da tecnologia, dos meios de 
comunicação e dos grandes grupos empresariais. 
Qualquer que seja o termo escolhido: fusão, integração ou convergência, 
todos eles acabam conduzindo-nos à uma mesma ideia. 
23 
 
 
O autor Rich Gordon, em artigo publicado na Online Journalism Review 
em 2003, afirma que o termo “convergência” vem, originalmente, do 
mundo da ciência e da fusão é normalmente o termo utilizado quando 
duas grandes empresas se unem matemática e o atrela ao cientista 
William Derham que fez importantes contribuições ao estudo da física 
no século XVIII. 
Além dele, Charles Darwin também utilizou o termo, em 1866, na edição 
da famosa obra A Origem das Espécies. 
Para Gordon, o processo de convergência digital só se tornará 
realidade quando ocorrerem mudanças tecnológicas em todos os 
estágios de estrutura da informação: criação, distribuição e consumo 
de conteúdo. 
Mas, antes que esse dia chegue, e mesmo que ele nunca chegue, a 
convergência em outras formas, está afetando as empresas que produzem 
informação e entretenimento, assim como as pessoas que trabalham nela 
(Gordon, 2003). 
Convergência é um conceito que está em evolução de maneira emergente 
em várias partes do mundo. A definição do termo varia dependendo da 
perspectiva de quem a estuda. 
Logo, a palavra tende a possuir tantas definições quanto o número de 
pessoas que a pratica ou a estuda. Isso porque convergência varia de país para 
país e de cultura para cultura considerando o panorama organização em que 
está inserido. 
Além disso, a convergência midiática faz com que a notícia esteja 
disponível no momento em que as pessoas a querem consumi-la, ao invés do 
público ter que esperar para consumi-la somente quando as redes de emissoras 
e jornais a disponibilizam. 
As empresas de comunicação ao redor do mundo têm abraçado a 
convergência dos meios em diferentes velocidades, frequentemente mais rápido 
do que em empresas nos Estados Unidos da América (QUINNS, 2005, p. 3). 
24 
 
 
Grande parte do investimento no contexto enfatiza o consenso em superar 
a dificuldade de uma definição mais especifica, menos abrangente e mais 
concisa do termo convergência. 
E essa discrepância conceitual afeta tanto a literatura acadêmica quanto 
a profissional. No entanto, ambas divergem. 
A literatura acadêmica tende a inclinar-se para definições que abrangem 
diversas áreas da comunicação social e, portanto, tendem a ser definições mais 
amplas e multidimensionais. 
Por sua vez, a definições profissionais tendem e ser mais reducionistas e 
muitas vezes limitadas aos aspectos logísticos da mídia, em especial, o 
funcionamento das redações e dos processos de produção. 
Logo, a convergência dos meios pode ser considerada a janela de 
oportunidade para que a mídia tradicional se alinhe com as tecnologias do século 
XXI. 
A digitalização da mídia e a tecnologia de informação decorrentes da 
transformação dos meios de comunicação são importantes fatores que 
contribuem para a convergência dos meios (GERSHON 2000; FIDLER 1997 
citado por LAWSON-BORDERS, 2003). 
Sendo assim, o conceito de convergência jornalística se refere a um 
processo de integração de meios de comunicação tradicionalmente separado 
que afeta as empresas, a tecnologia, os profissionais e o público em todas as 
fases de produção, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo 
(SALAVERRIA, 2007). 
Para Elizabeth Saad Corrêa (2008), o termo convergência, quando 
associado às mídias digitais, é abordado por uma diversidade de 
pontos de vista, pertinente, em sua maioria, mas que 
metodologicamente têm o potencial de confundir propostas. 
Numa rápida passada d’olhos, convergência pode ser associada 
equipamentos e sistemas de acesso às redes digitais, a estruturas 
organizacionais, a diferentes níveis de processos de produção do conteúdo 
25 
 
 
midiático, às políticas públicas de uso e acesso às TICs, aos modelos de 
negócios, em oposição a visões fragmentadas, entre muitas possibilidades. 
O que temos, na pratica, é o uso do termo em múltiplos contextos e, em 
algumas vezes, com definiçõesambíguas. 
Para Jenkins (2008), autor do livro A Cultura da Convergência, 
convergência é um termo esquivo, usado em contextos múltiplos, e 
frequentemente ambíguo em sua definição. 
O fenômeno de convergência não é um simples processo de recuperação 
de informação eletronicamente, mas sim um fenômeno que ocorre em múltiplos 
níveis por meio de cinco processos: tecnológico, econômico, social, global e 
cultura No artigo Integrating New Media and Old Media: Seven Observations of 
Convergence as a Strategy for Best Practices in Media Organizations, a 
pesquisadora Gracie LawsonBorder afirma que “as definições para o termo 
convergencia variam, mas na maioria dos casos é o encontro da mídia 
tradicional, como por exemplo: revistas, jornais impressos, rádio e televisão com 
a mídia moderna: computadores e internet a fim de distribuir conteúdo (Lawson-
Border, 2003, p.92). 
 
 
O CONSUMO DA NOTÍCIA 
A necessidade de mudar a forma de jornalismo praticada nas redações 
do mundo inteiro no que se refere à produção e à distribuição da notícia, tornou-
se nesse grande fenômeno chamado convergência jornalística. 
Porém, segundo Kerry J. Northrup (2006), o desencadeamento desse 
processo é devido à pequenas mudanças percebidas no 
comportamento do público quanto ao consumo da notícia, sendo que 
a soma delas foi gradativamente minando os modelos convencionais 
de publicação. 
Na época das audiências de massa e da mídia de massa, o consumo da 
notícia era uma atividade planejada e inserida nas rotinas diárias das pessoas. 
26 
 
 
A leitura do jornal impresso era (e ainda é para pessoas mais tradicionais) 
uma atividade para ser feita ao tomar o café da manhã; à noite era hora do 
noticiário televisivo; e ao longo da semana e consequentemente do mês, era feita 
a leitura das revistas entregues nas residências por meio de assinaturas. Por 
muito tempo, estas eram as fontes disponíveis para o consumo de notícias. 
Atualmente, de acordo com Northrup, as pessoas consomem 
informação de uma maneira praticamente involuntária, o que ele 
denomina consumo de notícias incidental: alguns segundos de um 
canal à cabo de jornalismo 24 horas, enquanto mudam o canal da 
televisão; o programa de rádio com as notícias da hora, enquanto 
dirigem e escutam música; uma olhada por todas as manchetes de 
jornais pregados nos quiosques nas ruas; comentários gerais postados 
nas paredes da cantina do local de trabalho; comentários das notícias 
na homepage do Yahoo enquanto procuram por alguma coisa online; 
resumos de e-mails mal digitalizados; e até mesmo, na hora do jantar, 
o cônjuge comenta alguma coisa vista em algum outro lugar qualquer. 
Apesar destes processos darem a impressão de deixarem a sociedade 
mal informada, pesquisas mostram que as pessoas estão passando mais tempo 
consumindo notícias em diferentes formatos do que faziam antes em um único 
meio. 
A diferença então é que as pessoas não estão mais se prendendo à um 
só meio ou à apenas uma marca como fonte única de informação. Sendo assim, 
estas mudanças devem ser entendidas dentro do contexto do aumento do 
consumo de mídia, combinado com a diminuição da procura por um único canal 
midiático. 
Essa nova postura adotada pelo público são consequências do 
surgimento do jornalismo digital. Este é o ponto central do problema que 
representa a convergência para os pensadores convencionais que estão entre 
os editores dos meios mainstream. 
Os formatos de distribuição dos meios são aqueles da época do público 
de massa e por isso das rotinas de consumo. 
Seus processos e tecnologias de produção para estes produtos são 
desenvolvidos em torno dos lugares e horários específicos para consumo. Seus 
27 
 
 
instrumentos de medição e fluxo de receitas ainda estão geralmente baseadas 
na captura e na retenção de fatias de um mercado estático ao invés de um 
mercado em constantes transformações (Northrup, 2006). 
Além disso, houve a fragmentação da audiência. Logo, as empresas 
midiáticas perceberam que a única maneira de atingir esse público fragmentado 
é por meio da adoção de uma abordagem multimídia. 
Sendo assim, torna-se evidente que em um mercado onde o consumo da 
notícia é amplamente incidental, um provedor de notícias bem-sucedido deve 
estar em todos os lugares, em todas as horas, nos mais diferentes formatos. 
As empresas de comunicação no Brasil, nos dias de hoje, já se mostram 
preocupadas com esse panorama e já começaram a buscar soluções e tomar 
medidas para acompanhar essa transformação. 
Os grupos comunicacionais já entenderam que a sua forma de trabalho 
também deve mudar já que a postura do público em relação ao consumo da 
notícia mudou. 
Não adianta mais produzir conteúdo da mesma forma como era feito há 
10 anos, uma vez que o público não o recebe da mesma forma. Os produtores 
de conteúdo não podem continuar a produzir um produto pelo qual o público não 
demonstra mais interesse. 
O consumo da notícia mudou, logo a produção e a distribuição da notícia 
deve acompanhar essa mudança. As empresas que não seguirem essa 
tendência estão fadadas a perder espaço no mercado. 
A importância desmesurada do impacto das tecnologias digitais na cultura 
popular, nos mercados financeiros, na saúde, telecomunicações, transportes e 
gerenciamento organizacional leva a uma simples observação: o maior impacto 
que essas tecnologias produziram, e ainda produzirão, é no relacionamento 
entre pessoas e entre organizações. 
A chamada “revolução da informação”, é na verdade, e mais 
precisamente, uma “revolução no relacionamento”. Qualquer um que esteja 
envolvido hoje com essas incríveis tecnologias e pense no impacto que elas 
28 
 
 
provocarão amanhã, deve aceitar o conselho de redirecionar sua visão de mundo 
para a questão do relacionamento. 
Para o jornalista cabe, então, o papel de navegar por cidades reais e criar 
relacionamentos por comunidades virtuais. Do relato de realidades local, ainda 
fundamental para seu exercício profissional, vemos o jornalista identificando e 
interligando essas localidades no mundo virtual (SAAD, 2008). 
Outra importância, não menos importante, que justifica o grande interesse 
das empresas de comunicação em produzir e distribuir conteúdo online é porque 
elas já perceberam que é possível criar produtos novos e melhores, distribuí-los 
gratuitamente e ainda aumentar os lucros da empresa. 
Algumas já entenderam que distribuir conteúdo gratuitamente é atrair um 
número tão grande de leitores que o número de anunciantes, interessados em 
alcançar esses leitores, passa a ser maior ainda (CARLSON, 2003). 
Além disso, não há dúvidas entre os pesquisadores que, certamente, não 
há uma definição única e aceita de forma unânime sobre o conceito de 
convergência. Porém, o que é unânime entre os estudiosos é afirmar que 
independente das vantagens ou desvantagens trazidas pelo fenômeno da 
convergência digital no meio jornalístico, ele veio para ficar e é ele que norteará 
o futuro da comunicação no século XXI (QUINNS, 2005). 
"Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o 
que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de 
procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, 
informações e ideias por qualquer meio de expressão" (ONU, 1948: 
10). 
A partir do texto extraído da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
datada de 1948, é possível visualizar o caráter imperioso da informação, que é 
apontada por diversos documentos normativos como um direito humano 
fundamental, assim tal apontamento implica na observação dos fenômenos e 
atores sociais que permeiam tal direito de ampla e massificada importância no 
contexto hodierno. 
A luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil tem 
como pressupostos essenciais à pluralidade de vozes nos veículos eletrônicos 
29 
 
 
de comunicação, a possibilidade da visualizaçãoda cultura de forma 
heterogênea, regionalização de hábitos e costumes na mídia e uma ampla 
participação dos cidadãos no contexto informativo e comunicacional. 
Assim, a informação e a comunicação sempre foram os vetores dos 
poderes dominantes, também compõem os poderes alternativos, ou seja, 
àqueles ligados as resistências e mudanças sociais, é nesse contexto que se 
alicerça o presente trabalho, alcançando a configuração reflexiva da mudança 
necessária nos vértices de informação e comunicação do Brasil. 
Nesse sentido, o poder de influência sobre o pensamento das pessoas é 
exercido através da comunicação de forma que se constitui em uma ferramenta 
de resultado incerto, contudo fundamental. Imperioso registrar que por meio da 
ingerência exercida sobre o pensamento dos povos que os poderes se 
constituem em sociedades, e que as sociedades evoluem e mudam. 
Os meios de comunicação potencializam a construção de pesos 
simbólicos que se difundem na esfera pública, dando suporte a diversas pautas 
da sociedade. 
Nesse seguimento, a esfera pública pode ser descrita como uma rede 
adequada para a comunicação de conteúdos de posição e opiniões. Nela os 
fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem 
em opiniões públicas enfeixadas em termos específicos. 
Destarte, a comunicação é um processo cuja construção se dá mediante 
espaços onde o diálogo, a pluralidade de vozes e a dissidência são respeitados, 
vez que a informação constitui-se pedra angular no regime democrático, 
balizando relações e interesses políticos, econômicos e culturais, sobretudo 
hodiernamente, visto que esta passou a constituir-se como um bem jurídico de 
alta relevância, seja para a tomada de decisões pessoais, para o conhecimento 
da realidade ou para se obter consciência plena ao se decidir. 
Como entraves postos à agenda política de democratização dos veículos 
de comunicação no Brasil são possíveis destacar alguns fatores, todavia 
imperioso prescrever o ponto específico referente à legislação, uma vez que os 
dispositivos da Carta da República de 1988 não foram regulamentados. 
30 
 
 
Na mesma senda, no país ainda vigora o Código Nacional de 
Telecomunicações – Lei 4.117/1962, que se traduz em uma legislação que 
mistura comunicação social com telecomunicações, campos distintos, além de 
que possui os resquícios da sociedade da época onde foi formulado, ou seja, 53 
anos atrás, período onde 70% da população brasileira vivia no campo, o que 
flagrantemente denota que tal composição normativa não contempla as 
mudanças sociais, políticas, culturais e, especialmente, tecnológicas observadas 
nos dias de hoje. 
A partir dessa configuração de falta de regulação econômica de mercado 
no âmbito da comunicação social, falta de regulamentação dos dispositivos 
constitucionais e de um marco regulatório essencial e efetivo, diversas práticas 
de controle e monopólio da informação e comunicação cristalizaram-se no 
cenário social brasileiro ao longo do tempo e da história, o que sedimenta um 
processo que ocorre em função da necessidade de elevados investimentos, 
conduzindo a integração horizontal, vertical e cruzada da indústria de 
comunicações, isto é, a ação coordenada de várias empresas no mesmo grupo, 
torna-se inevitável e mais eficiente do que a de empresas isoladas (Santos, 
2010: 02). 
Dentro desse aspecto, Lima aponta quatro principais modalidades ou 
estruturas de controle e propriedade dos meios de comunicação que se observa 
no Brasil. São elas concentração horizontal, concentração vertical, propriedade 
cruzada e monopólio em cruz. 
A primeira corresponde à monopolização dentro de uma mesma área do 
setor, e no Brasil, tem-se a televisão, paga ou aberta, como exemplo desse modo 
de concentração. 
 A segunda forma, qual seja a concentração vertical, diz respeito a 
integração das diferentes etapas da cadeia de produção e distribuição, quando 
um único grupo controla desde os vários aspectos da produção de programas 
de televisão até a sua veiculação, comercialização e distribuição. 
A propriedade cruzada consiste na propriedade, pelo mesmo grupo, de 
diferentes tipos de mídia do setor de comunicações, como, por exemplo, a 
empresa RBS (Rede Brasil Sul) afiliada da Rede Globo no Estado do Rio Grande 
31 
 
 
do Sul, que tem sob a sua propriedade empresas de TV, rádios, jornais e portais 
na Internet. 
Por fim, tem-se o monopólio em cruz, que se traduz na reprodução, em 
nível local e regional, dos oligopólios da propriedade cruzada. 
Afirma-se que na grande maioria dos estados da Federação, os sistemas 
regionais de comunicações são constituídos por dois braços principais, 
geralmente ligadas às Organizações Globo, reproduzindo, desta forma, os 
ideários e interesses do grupo controlador. 
Logo, o que se pode verificar é uma configuração no cenário brasileiro de 
ineficácia da atuação estatal, tanto na regulação econômica do setor, quanto na 
participação efetiva do Congresso Nacional na elaboração de um marco 
regulatório para os meios de comunicação, de forma a coibir que as modalidades 
e práticas de controle, propriedade e ingerência nos meios de comunicação 
acabem por sedimentar-se ainda mais. 
Na mesma senda, ineficácia do Poder Executivo em promover a 
regulamentação específica de textos normativos constitucionais sobre a matéria, 
e também através de seus órgãos de fiscalização e agências de regulação, que 
poderiam desempenhar atividade extremamente valiosa na observância do 
cumprimento da legislação e da Constituição Federal. 
Assim, é fato que a mídia – entendida como o complexo de meios de 
comunicação que envolve mensagem e recepção, por formas diversas, cuja 
manipulação dos elementos simbólicos é sua característica central (Eagleton, 
1991) – representa uma forma de poder que, nas sociedades “de massa” possui 
papéis extremamente significativos, tais como, influir na formação das agendas 
públicas e governamentais, intermediar relações sociais entre grupos distintos 
(Capelato, 1988), influenciar a opinião de inúmeras pessoas sobre temas 
específicos, participar de contendas políticas, em sentido lato (defesa ou veto de 
uma causa, por exemplo) ou estrito (apoio a governos, partidos ou candidatos), 
e atuar como aparelhos ideológicos capazes de organizar interesses (Fonseca, 
2011). 
32 
 
 
Nesse pressuposto, como uma agência de poder que os meios de 
comunicação devem ser entendidos, repercutindo em todas as esferas sociais, 
guiando acontecimentos políticos e jurídicos, bem como o destino da nação a 
partir do agendamento realizado nos diversos assuntos de relevância social e de 
sensível importância política e econômica. 
Entretanto, de forma a lutar e firmar-se como formas de resistência ao 
controle e monopólio da comunicação e da difusão da informação no Brasil que 
despontam as novas mídias, atuando como ferramentas efetivas na 
descentralização da informação. Sobre tal tema que se passa a destacar em 
tópico a seguir. 
 
AS NOVAS MÍDIAS COMO MEIOS DE RESISTÊNCIA FRENTE 
AO CONTROLE DA INFORMAÇÃO 
Os meios de comunicação no Brasil, jornais, revistas e periódicos, 
passando pelo rádio e, posteriormente e com maior relevância pela televisão, 
ocuparam sempre papel central como agências difusoras de acontecimentos de 
notório interesse público e também de assuntos de relevância jurídica, política e 
social. Todavia, essa infraestrutura informacional passa a se modificar com o 
aperfeiçoamento dos meios técnico-científicos informacionais e mais 
especialmente com o surgimento da Internet em bancos acadêmicos e depois 
de forma comercial. 
Falar em mídia eletrônica é quase impossível sem se referir a um novo 
conceito de comunicação, que se resolveu chamar de comunicação interativa. 
A proliferação de novas tecnologias de informação e comunicação, aliada 
a uma necessidade latente nos receptores da informação eque desperta 
diuturnamente nessas pessoas – a possibilidade de interferir no conteúdo das 
mensagens recebidas –, gera novas expectativas na sociedade (Dantas, 2009: 
01-02). 
Logo, as novas mídias se revestem da utilização de equipamentos digitais 
e eletrônicos, como celulares, computadores e outros dispositivos, tais como a 
TV digital, por exemplo, mas com a potencialidade da interatividade, onde existe 
33 
 
 
a possibilidade de o indivíduo manifestar-se. Nesse seguimento, o atual embate 
entre a mídia tradicional e as novas mídias alcançou um patamar bastante alto. 
Os responsáveis pelo segmento de mercado estão respondendo, mas 
talvez não suficientemente rápido ou completamente. 
Para Dizard Jr. (2000: 23): A mídia de massa, historicamente, significa 
produtos de informação e entretenimento centralmente produzidos e 
padronizados, distribuídos a grandes públicos através de canais 
distintos. 
Os novos desafiantes eletrônicos modificam todas essas condições. 
Muitas vezes, seus produtos não se originam de uma fonte central. Além disso, 
a nova mídia em geral fornece serviços especializados a vários pequenos 
segmentos de público. Entretanto, sua inovação mais importante é a distribuição 
de produtos de voz, vídeo e impressos num canal eletrônico comum, muitas 
vezes em formatos interativos bidirecionais que dão aos consumidores maior 
controle sobre os serviços que recebem, sobre quando obtê-los e sob que forma. 
Nesse sentido, a Internet se consolida como uma nova mídia sem 
precedentes, ao associar elementos mais atrativos presentes nos demais meios. 
Ela consegue se utilizar da velocidade na transmissão da notícia que o rádio 
apresenta, do entretenimento e das imagens atraentes com diversos recursos 
visuais que a TV propicia tudo isso associado a novas técnicas de vídeo e 
animação, criadas especialmente para o mundo virtual. 
Além disso, a Internet permite uma experiência ímpar de aproximar 
emissor e receptor, algo que somente ocorria em uma comunicação 
interpessoal, jamais mediante a utilização de um meio de comunicação de massa 
(Oliveira 2013: 332). 
A imagem acima traduz o esquema comparativo realizado entre uma 
mídia tradicional, ou de comunicação de massa e uma nova mídia, como a TV 
digital, que possibilita a interação entre emissor e receptor. 
No novo modelo de comunicação, o emissor oferece ao receptor várias 
alternativas interativas de acesso a determinado programa. 
34 
 
 
A mensagem chega ao receptor nos moldes normais, mas este tem como 
modificar o conteúdo recebido, interagindo com o sinal por meio do controle 
remoto. 
Assim, ele pode, por exemplo, conforme sua conveniência: assistir o 
programa sob vários ângulos, isolar som e imagem. Interromper o programa 
temporariamente para assisti-lo na íntegra depois, assistir a dois programas 
simultaneamente, trocar mensagens de voz e texto com outros telespectadores, 
enviar e-mails e realizar compras enquanto assiste ao programa. 
Além disso, o receptor pode dar retorno imediato ao emissor por e-mail, 
VoIP (telefonia pela Internet) ou outro dispositivo instalado em seu controle 
remoto. 
A emissora de televisão pode medir a audiência em tempo real (Dantas 
2009: 15). Assim, um dos pontos que caracteriza a informação na Era Digital diz 
respeito aos seus usos e finalidades, uma vez que na Era Industrial o bem 
produzido tinha finalidade única, de modo que na contemporaneidade, na 
indústria da informação os bens podem ser amplamente duplicados e 
disseminados. 
Da mesma forma que o Brasil, diversos outros países e Estados foram 
transformados a partir da adoção e uso das Tecnologias da Informação e 
Comunicação (TIC), como, por exemplo, a Irlanda, que nas práticas 
administrativas daquele país propiciou a abertura de espaço a novos atores e a 
automatização dos processos online, que serviram para diminuir as relações de 
clientelismo entre Estado e sociedade naquele país (Komito, 1999). 
Primeiramente porque, com as privatizações, os novos atores são 
também novos corretores que concorrem com o Estado na oferta de serviços e 
bens, diminuindo, assim, os "preços" que os políticos cobravam por sua 
intervenção. 
Em segundo plano, de acordo com o mesmo autor, a partir da adoção de 
novas instâncias de controle do mercado, os cidadãos passaram a ter maior 
conhecimento sobre o progresso dos procedimentos produzidos, reduzindo a 
35 
 
 
dependência da intervenção política para obterem-se respostas sobre o acesso 
aos serviços e bens oferecidos. 
Para Komito (1999), mesmo que as decisões governamentais se 
mantenham sujeitas à influência privada e, consequentemente, ao 
clientelismo, a abertura de informações e o acesso direto ao Estado, 
facilitado pela Internet, podem servir como instrumentos de bloqueio 
das negociações ocultas entre clientes e patrões. 
A proliferação de novos espaços de exercício da cidadania em rede 
permite a ampliação da participação social, o que se verifica de forma muito ativa 
nos dias de hoje, uma vez que redes sociais são utilizadas para manifestações 
e declarações sobre os mais diversos assuntos. 
Logo, a manifestação de ideias junto a blogs e redes sociais é uma 
tendência mundial, e muitos desses espaços alcançaram notoriedade e 
reconhecimento da opinião pública igual ou até maior do que muitos meios de 
comunicação de massa tradicionais (Oliveira 2013: 323). 
 Na blogosfera a facilidade de produção de conteúdo pelo cidadão comum 
é um convite, não apenas para relatos do seu dia a dia, mas também para a 
prática de ativismo em prol das mais diversas causas. 
Assim, conforme expõe Orihuela (2007: 09-10) a blogosfera faz parte 
do novo cenário midiático e complementa as funções dos meios de 
comunicação tradicionais ao trazer textura e ponto de vista pessoal ao 
modo como os temas da atualidade são abordados, uma vez que gera 
agendas paramidiáticas (que extrapolam a comunicação) de grande 
interesse para as comunidades especializadas. 
 Dentro desse cenário, que as novas mídias, tecnologias digitais 
começam a arregimentar-se como ferramentas de luta e de resistência aos 
meios de comunicação tradicionais, uma vez que a democratização ou regulação 
do setor é ainda um ponto a ser conquistado pela sociedade civil. 
Segundo Castells, a "política informacional" compõe o quadro de que 
as sociedades contemporâneas são fundamentalmente midiáticas, isto 
é, suas relações sociais e de poder são intermediadas pelas diversas 
modalidades da mídia. 
36 
 
 
O jogo político (partidário e parlamentar) teria de se adequar às regras 
definidas pela mídia, em que o espetáculo e o entretenimento se fundem 
emergindo a possibilidade de uma interação plural, que propicia uma diversidade 
de diálogos junto aos espaços público virtual, atuando da mesma forma, como 
instrumentos altamente relevantes na busca pela democratização desses meios 
de comunicação e funcionando, dentro dessa arquitetura, como ferramentas de 
resistência a esse controle da informação. 
O que significa ser jornalista no século XXI? Por meio do questionamento, 
Carlos Sandano, que é professor do curso de Jornalismo da Universidade 
Mackenzie, em São Paulo, efetua, no livro Para além do código digital, uma 
atualização de conceitos caros à teoria do jornalismo, como a objetividade e a 
neutralidade, à luz das novas tecnologias da informação. 
Porém, o autor não se restringe à análise desses conceitos: trata-se, na 
verdade, da reflexão sobre uma série de valores vinculados ao jornalismo com o 
objetivo de pensar a significação dessa atividade na contemporaneidade. 
Valores como a autonomia e a responsabilidade, valores epistemológicos e 
valores sociais... 
Como esses valores podem ser trabalhados em um mundo embebido em 
produção e em consumo de informação por meio de uma rede digital que 
funciona em tempo real? 
Qual o papel do jornalista nesse mundo carregado de signose no qual os 
limites entre produtores e consumidores de informação ficam turvos? 
Como lidar com os embates entre culturas diversas em um ambiente 
globalizado? 
Sandano vai atrás desses valores, mas, desde a Introdução, deixa claro 
que não se trata de propor uma nova deontologia do jornalismo. 
Na verdade, o autor recusa a visão estritamente deontológica, no sentido 
de uma diretriz normativa, pragmática e técnica, já que esta limitaria a pluralidade 
inerente ao dialogismo, aspecto fundamental do trabalho jornalístico. Ou seja, 
Sandano pensa valores para o Jornalismo sem trabalhar com universais e sem 
abdicar dos valores que definem a prática, atualizando-os. 
37 
 
 
Trata-se de “uma busca epistemológica sobre o que seria uma prática 
virtuosa do jornalismo, discutindo o que são essas virtudes e como estas são 
entendidas desde diferentes estratégias” (SANDANO, p. 18). 
Virtudes e estratégias que têm impacto direto na realidade, na formação 
e no fortalecimento do espaço público democrático. 
O jornalismo, assim, é pensado como uma forma de conhecimento e como 
um articulador de um campo dialógico. 
O autor trabalha a diferença entre deontologia e epistemologia com base 
no conceito de autonomia na ciência: o cientista precisa de autonomia em 
relação a constrangimentos externos para o pleno exercício da pesquisa, 
constrangimentos como, por exemplo, crenças religiosas e ideológicas, 
restrições estatais etc. 
O cientista precisa da autonomia para alcançar seus resultados e a 
sociedade precisa que a ciência seja autônoma para se beneficiar das pesquisas 
científicas. 
Da mesma forma, a autonomia Jornalismo e novas tecnologias da 
informação: do digital ao dialógico também é um valor para a prática jornalística: 
tanto um valor cognitivo (compartilhado epistemologicamente por um grupo 
profissional) como um valor social para a democracia (ou seja, afeta outros 
grupos sociais). 
Segundo Sandano, a deontologia restringe a autonomia, subordinando 
a prática jornalística ao estado, ao código civil ou aos regimentos 
internos das redações. 
A normatividade reduz os valores a universais que não se verificam como 
tais, dadas as diferenças entre práticas jornalísticas em diferentes países (o 
autor cita a diferença entre a “precisão norte-americana” e a “agressividade 
inglesa” no caso do escândalo envolvendo o News of the World, mostrando 
discursos de jornalistas favoráveis e desfavoráveis a ambas as práticas), em um 
mesmo país (com diferentes jornais que estabelecem graus diferenciados de 
autonomia, com relação, por exemplo, a determinadas posições ideológicas, 
partidos políticos etc.) e até em um mesmo veículo (ao mostrar que a censura 
38 
 
 
imposta pelo poder autoritário do estado pode ser comparada ao processo de 
restrição que os próprios jornalistas impõem aos seus companheiros de trabalho 
por meio de uma hierarquia rígida nas redações). 
A vantagem da abordagem epistêmica “é reconhecer os limites da 
autonomia, possibilitando trabalhar de modo dialógico seus valores intrínsecos 
(cognitivos) com valores externos (sociais, culturais, morais)” (SANDANO, p. 57). 
Assim, a deontologia se baseia em um “deve-ser”, enquanto a 
epistemologia se abre para o “ser”, para “o que-poderiaser”, articulando valores 
sociais e cognitivos. Passa-se, assim, de um paradigma normativo autoritário 
para a complexidade das relações intersubjetivas. 
O jornalista deixa, assim, de ser visto como um mero técnico que executa 
normas para assumir a responsabilidade como mediador discursivo, como 
articulador de um campo dialógico e polissêmico. 
Sandano parte do conceito de relativismo na filosofia da ciência, 
especialmente em Feyerabend, para, então, analisar os conceitos de 
objetividade e neutralidade. 
O relativismo não seria uma exigência metodológica, mas uma postura de 
abertura dialógica para o outro. Não significa que todas as perspectivas são 
igualmente válidas, mas implica a importância de se considerar a pluralidade de 
visões de mundo. Não se nega, assim, a possibilidade de um conhecimento 
objetivo, mas ressalta-se que a objetividade está inserida em um sistema 
complexo de múltiplas diferenças. 
O autor também lança mão da perspectiva construtivista, no sentido de 
reconhecer que o conhecimento da realidade é uma forma de intervir na 
transformação da própria realidade. 
A crítica à objetividade não se trata, portanto, de uma crítica à objetividade 
como valor cognitivo no jornalismo. Esse valor continua a ser importante. 
O problema é considerá-lo isoladamente, distanciado de outros 
valores, como os sociais, por exemplo. Sandano efetua a articulação 
da objetividade com o conceito de empatia, entendida, resumidamente, 
como abertura subjetiva a valores exógenos, como uma capacidade 
39 
 
 
dialógica de aprendizagem com o diferente, de interação com culturas 
e visões de mundo distintas da nossa. 
Assim, partindo de uma ideia de objetividade distante do sentido de uma 
ação livre de juízos de valor, e articulando essa ideia com o conceito de empatia, 
o autor propõe o conceito de “neutralidade inclusiva”. 
Haveria uma “neutralidade restritiva”, baseada em uma ideia positivista de 
objetividade científica, que significa ausência de juízos de valor, e, contrapondo-
se a ela, uma “neutralidade inclusiva”, baseada no relativismo e na relação entre 
objetividade e empatia, que remete à inclusão da maior variedade possível de 
vozes (polifonia) e de sentidos (polissemia). 
Com base em uma “neutralidade inclusiva”, a prática jornalística passa a 
funcionar em um regime de interação não mais de sujeito-objeto, mas de sujeito-
sujeito, e “o jornalismo deixa assim de ser entendido como o relato objetivo da 
verdade e passa a articular objetivamente as perspectivas subjetivas” (Sandano, 
p. 91). 
Articulando objetividade e empatia, passa-se, assim, de uma neutralidade 
negativa (ausência de juízos de valor) para uma neutralidade positiva (maior 
inclusão de vozes e sentidos distintos). 
O autor analisa, como exemplo, a cobertura jornalística e os debates 
sobre a relação conflituosa entre Ocidente e Oriente com base nas 
manifestações a respeito da divulgação do vídeo Innocence os muslims e das 
charges satíricas representando Maomé, do semanário francês Charlie Hebdo. 
Verifica-se, assim, como o jornalismo atua em situações de conflitos 
comunicacionais. O autor dividiu o corpus de análise em quatro grupos, em um 
movimento que vai do maior fechamento para a maior inclusão possível de 
perspectivas. 
Temos, assim, o grupo da “Restrição dogmática” (incompreensão 
deliberada e fechamento total a outras perspectivas, na qual a possibilidade de 
comunicação dialógica é mínima); da “Restrição objetiva” (submete o 
entendimento às normas técnicas em uma abordagem descontextualizada 
descritiva, na qual as contradições da realidade social são resolvidas colocando-
40 
 
 
se duas opiniões dicotômicas lado a lado); da “Restrição subjetiva” (abordagem 
descontextualizada interpretativa que reduz a complexidade a uma perspectiva 
unidimensional); e, por fim, da “Restrição autoral e tolerante” (a abertura 
dialógica significando uma visão crítica dos próprios paradigmas). Porém, é 
preciso ressaltar que, ao fazer essa diferenciação, Sandano não pretende uma 
normatização técnica da prática jornalística. 
 A “restrição autoral e tolerante” não seria a melhor e a única forma de 
retratar a realidade, seria aquela que fornece uma resposta melhor para a 
comunicação entre diferentes visões de mundo, comunicação esta que se 
verifica de forma intensa e constante no ambiente globalizado e no mundo das 
redes digitais. 
 “A narrativa jornalística não se formaria pelo consenso, mas sim pela 
articulação coerente das controvérsias e das contradições presentes 
no fato (dado empírico)” (SANDANO, p. 121). 
No último Verifica a presença de um embate entre “apocalípticos”

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