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1 NOVAS MÍDIAS E NOVAS TECNOLOGIAS 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA: PROBLEMATIZANDO O CONCEITO .... 4 JORNALISMO DIGITAL: DO BOOM AOS DIAS ATUAIS. UMA REFLEXÃO SOBRE A NECESSIDADE DA CONVERGÊNCIA DE MEIOS DECORRENTE DA MUDANÇA DE HÁBITOS DE CONSUMO DA NOTICIA .. 19 O CONCEITO DE CONVERGÊNCIA .................................................... 22 O CONSUMO DA NOTÍCIA ................................................................... 25 AS NOVAS MÍDIAS COMO MEIOS DE RESISTÊNCIA FRENTE AO CONTROLE DA INFORMAÇÃO ...................................................................... 32 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 42 2 NOSSA HISTÓRIA A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Ao tomar emprestados conhecimentos e teorias de outras áreas, como a Sociologia e a Computação, por exemplo, os estudos em cibercultura são ricos em terminologia. O campo é dotado de uma multiplicidade de termos e expressões que, muitas vezes, desaparecem tão rápido quanto surgiram. Em outros casos, no entanto, permanecem, ainda que se tornem objeto de contestação, como a própria palavra que intitula a área. (FELINTO, 2011) O título desse paper é constituído de termos recorrentes na cibercultura, pelo menos a partir dos anos 2000: interatividade, participação e convergência. O objetivo principal dessa reunião de palavras-chave é tensionar um debate a partir de uma problematização que resulte de um cruzamento entre os conceitos. A motivação dessa tarefa surge da observação acerca de banalizações, equívocos ou descuidos quanto ao uso dos termos em determinados casos, tanto na imprensa quanto na academia. Esforços já foram realizados no intuito de esclarecer cada um dos conceitos, como no caso da interatividade (LÉVY, 1993; THOMPSON, 1998; LEMOS, 2002; PRIMO, 2007) e da convergência, de modo que não se pretende aqui detalhar cada um dos termos, embora um breve referencial teórico sobre cada um mereça ser explorado tendo em vista a consistência de um embasamento para a discussão que se pretende estabelecer. O contexto de convergência midiática, no qual se propõe relacionar interatividade e participação, é caracterizado por transformações de caráter técnico, social e cultural, de modo que a própria noção de convergência deve ser pensada a partir desses três níveis. As reflexões são feitas com base nessas transformações, sempre impulsionadas por um movimento dialético entre esses níveis, buscando apontar 4 questões pertinentes à sociabilidade a partir de argumentações que transitam por diferentes vieses desse contexto de convergência. CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA: PROBLEMATIZANDO O CONCEITO Em termos de mídia, Jenkins (2008) não foi o primeiro a falar em convergência, muito menos sua obra hoje mais comentada, Cultura da Convergência, é o primeiro trabalho sobre o tema. Por mais que recentemente venha recebendo destaque, tanto na imprensa como no meio acadêmico, por Cultura da Convergência, Jenkins, desde o início dos anos 1990, já apresentava estudos sobre as relações entre diferentes meios de comunicação e seus produtos midiáticos. Assim como ele, outros autores (MCLUHAN, 1964; POOL, 1990; SANTAELLA, 2003; CASTELLS, 2003; FRAGOSO, 2005, PELLANDA, 2003; MACHADO, 2003; NEGROPONTE, 1995; LÉVY, 1993) também já trabalhavam o assunto bem antes dessa exaltação ao termo que tem permeado a mídia e a academia. Muitas definições sobre convergência se baseiam no componente tecnológico, de acordo com Grant e Wilkinson (2009), que apontam a tecnologia digital e as redes de computadores como o núcleo da Interatividade e participação e contexto de convergência midiática, ideia de convergência midiática, ainda que, para eles, fatores organizacionais e sociais sejam de extrema importância na formação do conceito. No entanto, ainda que fundamental para sua definição, a tecnologia não é o único fator componente do conceito de convergência midiática, por isso o destaque para os níveis social e cultural, além do técnico, no início desse texto. Alerta-se para a necessidade de superação do caráter tecnicista do conceito, adotado por alguns autores como definidor do processo de convergência. No entanto, não negligencia-se tal caráter técnico; o que se promove é o seu posicionamento de maneira paralela aos caracteres social e cultural que também constituem o conceito. Ainda que focados no cenário do jornalismo, pode-se fazer uma apropriação 5 da argumentação de Salaverría e Avilés (2008), quando afirmam que se assiste a processos de convergência simultâneos nas esferas empresarial profissional e de conteúdo. Para os autores, sem dúvida, “todo esse fenômeno: convergência tecnológica”; e assim a dialética entre os níveis técnico, social e cultural já se torna mais transparente. Eles também percebem a atenção dada hoje ao conceito de convergência e recuperam os primeiros estudos sobre o mesmo, segundo eles, feitos há quase três décadas. Tais análises, explicam, colocavam o elemento tecnológico como o principal responsável pelo desencadeamento do fenômeno. Os autores citam Pool (1990) e Negroponte (1995) que, em sua opinião, concediam destaque ao fator tecnológico na composição do conceito. Há, porém, que se relevar as diferenças contextuais em que tais autores teceram suas análises, sem deixar de lado o fato de que, enquanto Negroponte (1995) conduzia um posicionamento fortemente tecnicista, Pool (1990) deixava transparecer, se não uma Tradução da autora: “Todos esses fenômenos seriam impossíveis sem uma condição instrumental prévia que constitui a quarta grande dimensão desse fenômeno: a convergência tecnológica.” Um dos desafios impostos pelo termo convergência, de acordo Grant e Wilkinson (2009), é o de que vem sendo utilizado para se referir a fenômenos semelhantes ou relacionados a tecnologias de comunicação como, por exemplo, a transmissão de voz, dados e vídeo através de uma única conexão. A apropriação do termo é, no caso, absolutamente tecnicista, ainda que se possa pensar que a partir de tais possibilidades técnicas, alterações sociais e culturais advenham de novas práticas decorrentes de novos usos. Eles explicam que o termo é utilizado para representar a ausência de limites entre diferentes tipos de mídia e, ao mesmo tempo em que há uma extensa lista de aplicações para o termo, afirmam que há uma série de fenômenos distintos que podem se encaixar no conceito. Nãoé, então, de se surpreender a ocorrência frequente de múltiplas e diversas apropriações, ora de caráter exclusivamente técnico, ora social, ora cultural, ou mesclas desses tipos, 6 para designar um conceito de convergência, seja no âmbito científico, seja na imprensa. Grant e Wilkinson (2009) consideram que o traço comum entre esses fenômenos, que consideram como convergência, está na substituição das transmissões analógicas pelas digitais, que permitem o armazenamento e a manipulação de qualquer tipo de mensagem a partir do momento em que ela é convertida em bits binários. Qualquer semelhança com o que Negroponte (1995) dizia nos anos 1990 seria mera coincidência? Essa semelhança, no entanto, é amenizada quando um alerta feito pelos próprios autores, e que vem agregado ao background desse texto, destaca que a convergência vai além dessa questão técnica, pois representa um conjunto muito mais amplo de fenômenos, de modo que não se limita apenas ao fator tecnológico de conversão do analógico para o digital. Esses fenômenos, na verdade, seriam dimensões de uma conjuntura mais extensa que caracterizaria o processo de convergência. Essas dimensões, de acordo com Grant e Wilkinson (2009), seriam: a produção de conteúdo para múltiplos meios; o que eles chamam de copropriedade de dois ou mais meios por uma mesma empresa servindo ao mesmo mercado; a colaboração entre meios e profissionais, não necessariamente da mesma empresa; e a coordenação entre meios e profissionais de forma a compartilhar informações. Os autores citam essas dimensões no âmbito do jornalismo, e não abordam a participação dos consumidores de conteúdo no processo de convergência, como se pode perceber em outros autores que trabalham o conceito de convergência, mas, ainda assim, suas considerações ressaltam a necessidade de se avançar a reflexão sobre o conceito para além de um entendimento unicamente técnico do processo. A necessidade de se repensar e problematizar as expressões “interatividade” e “participação” decorrem dessa busca pelo entendimento de um conceito de convergência, que demanda uma diferenciação entre os termos, na 7 medida em que também se permite compartimentar em função desses níveis técnicos, social e cultural. Utilizando a teoria dos meios, Jensen (2010) reflete sobre a convergência a partir da relação entre a materialidade e a ação dos indivíduos. Para o autor, essa teoria é a tradição de pesquisa que confere maior sustentação às condições materiais da comunicação humana e é a partir dela que ele propõe a divisão dos meios materiais em três graus. Os meios de primeiro grau, para Jensen (2010), de acordo com uma perspectiva histórica e com a teoria da comunicação, são considerados como meios de comunicação os corpos dos seres humanos e determinados utensílios e instrumentos. Em si, o corpo humano é uma condição material de comunicação necessária e suficiente; nossos corpos se tornam meios de comunicação produtivos e receptivos através da socialização e da aculturação. Em comparação, as ferramentas – utensílios de escrita ou instrumentos musicais – não são necessários nem suficientes, mas estendem, de maneira significativa, o corpo humano e suas capacidades comunicativas. Jensen (2010) diz que meios de primeiro grau externam mundos atuais e possíveis, de modo que habilitam as pessoas a se comunicarem umas com as outras sobre esses mundos para propósitos reflexivos e instrumentais. Como meios de segundo grau, Jensen (2010) considera os meios de massa como sendo os livros impressos, os jornais, os filmes, o rádio e a televisão, ou seja, todas as formas de instituições midiáticas e práticas comunicacionais baseadas no modelo um-todos. O autor toma como base a expressão “meios de massa”, utilizada por Walter Benjamin nos seus termos de reprodução e disseminação técnica, especificamente no campo das artes, porém com implicações no campo das comunicações. Jensen (2010) explica que essas características foram, em primeiro lugar, reproduzidas, armazenadas e apresentadas em um conteúdo específico através de um modelo de um-para-um. 8 Em segundo lugar, os meios de segundo grau, afirma o autor, estenderam radicalmente o potencial de disseminação do acesso à informação através do tempo e do espaço, independente da presença e do número de participantes. É nos meios de terceiro grau que Jensen (2010) fala sobre a tecnologia digital e define essa categoria como metatecnologia. Para ele, o computador digital reproduz e promove uma recombinação de meios anteriores a ele em uma única plataforma material, utilizando a expressão metatecnologia a partir de Kay e Goldberg (1999/1977), que denominaram o computador de metameio. Reunindo textos, imagens e sons, Jensen (2010) explica que o meio digital se origina dos meios de massa, reunindo outras funcionalidades, como a interação face a face, as narrativas, os debates e os games. Além disso, prossegue, o meio digital integra os diferentes modelos de comunicação: uma-para-um, uma-para-muitos e muitos-para-muitos. Para ele, o principal exemplo de que o meio digital incorpora o terceiro grau dos meios materiais é o computador pessoal em rede, ou seja, a internet, e ele ainda cita os celulares, a portabilidade e a mobilidade das conexões. Assim, Jensen (2010, p. 70) afirma que “tenta elucidar com sua classificação em três diferentes graus de materialização dos meios é que práticas diversas decorrem desses níveis de materialidade.” Um meio material, explica, suporta práticas comunicativas diversas, assim como algumas práticas circulam de maneira adequada por vários meios; outras práticas são retomadas quando novas plataformas comunicacionais são incorporadas, quando surgem novos dispositivos tecnológicos, como, por exemplo, através das trocas de mensagens de texto por meio de telefones celulares. Ao contrário do que se pode inferir inicialmente, sua argumentação não condiz com a ideia de que os computadores e a internet caracterizariam o ideal de convergência pelo único e simples fato de reunirem todos os tipos de comunicação anteriormente existentes. Ainda que o ambiente digital seja propício para a reunião de diversos níveis de materialidade, Jensen (2010) toma como premissa o fato de que são as interações e as práticas comunicativas que caracterizam os intercâmbios comunicacionais responsáveis pelos processos de convergência e, nesse caso, a reflexão sobre tais processos requer a 9 qualificação de questões referentes à interatividade e à participação, diretamente relacionadas com os níveis social e cultural do conceito, além do nível técnico, evidentemente. No presente ambiente digital, apresenta-se um caso especial de um questionamento geral, subjacente à teoria dos meios sobre como potências materiais se tornam meios reais. Jensen (2010) resgata o conceito de “affordances” de James J. Gibson (1979), noção que, para Jensen (2010), ronda aspectos sociais e culturais dos meios de comunicação. Jensen (2010, p. 74) explica que “Suportes são, por um lado, as propriedades da natureza que as pessoas se referem e delas dependem, por outro lado, tais propriedades só se manifestam em relação a determinados organismos”. No caso das interações humanas, prossegue o autor, existem diferenças marcantes entre os objetos encontrados com os usos que são dados a esses objetos, e os objetos que são produzidos, que apresentam usos que são desenvolvidos em sequências mais ou menos complexas e colaborativas. É comum a apropriação de determinados objetos utilizados para a comunicação tendo em vista uma espécie de adaptação para determinados tipos de situações comunicacionais, e, no caso da comunicação digital, essas práticas são frequentes. Dessa forma, o entendimento desses suportes remete ao uso que lhesé dado. No caso dos meios de comunicação, segundo Jensen (2010, p. 75), “Os suportes dos meios são ao mesmo tempo gerais e programáveis”. No entanto, o autor diz que há uma dificuldade em se aplicar o conceito de Gibson de forma consciente e explícita, já que haveria uma inconsistência no momento da verificação do mesmo. Jensen (2010) cita Norman (1990), que encara o conceito de Gibson como o aspecto de design de determinado objeto, sugerindo que este deva ser utilizado além de suas características atuais, e isso se percebe em diversas ferramentas de cunho social presentes na web, frequentemente apropriadas por seus usuários para finalidades. Assim, o entendimento de Norman engloba não só a maneira como um objeto pode ser usado, como também suas propriedades atuais. No caso dos meios de comunicação, e mais propriamente no cenário dos meios digitais, o 10 entendimento desse conceito de suporte se dá no contexto dos diversos usos que podem ser realizados e hoje são dados através da apropriação feita por diferentes indivíduos inseridos em variados contextos comunicacionais, bem como participantes de diversificados processos de comunicação, de maneira que os suportes materiais podem e são muitas vezes utilizados além de suas características atuais. Essas apropriações podem ser realizadas com objetivos que resultam em diferentes níveis de interatividade e/ou participação, de forma que a materialidade relacionada com a designação dada pelo indivíduo a determinado suporte ou meio interfere na definição do caráter que reveste o conceito de convergência. Ao contrário de Norman, Gibson entende o suporte como uma possibilidade de ação capaz de ser realizada em um determinado ambiente, no qual o indivíduo se encontra naquele momento, porém, essa possibilidade independe da capacidade do indivíduo de percebê- la. Jensen (2010) aponta que este fenômeno de fazer sem saber que se está fazendo tem sido referenciado na teoria social e cultural como conhecimento tácito, de modo que são ações e práticas que permitem aos indivíduos seguirem adiante. No caso dos meios de comunicação, o questionamento que Jensen (2010) faz a partir do conceito de Gibson é de como e por que alguns suportes materiais, e não outros, emergem como meios. A partir disso, Jensen (2010) busca explicar o termo “emergência”, que, segundo ele, refere-se a um processo cujo estado final é imprevisível. O autor cita o ciberespaço de William Gibson como um espaço através do qual a história dos meios se utiliza para mostrar como os usos sociais de uma tecnologia se modificaram muito ao longo do tempo ou mudaram completamente de rumo. Além disso, o autor afirma que as próprias mídias são capazes de reconfigurar as condições de comunicação, ou seja, que diferentes mídias suportam diferentes tipos de modificação. No caso dos meios digitais, afirma o autor, os indivíduos podem alterar não só arquivos individuais, mas também um sistema inteiro de comunicação, sua forma e seu conteúdo. 11 Logo, ao se tratar aqui do tensionamento entre interatividade e participação, nesse sentido, vai-se além da questão do conteúdo, já que, ao interferir no formato, extrapola-se os níveis de interatividade de maneira que o modelo de comunicação sofre impactos que reconfiguram a atuação de seus componentes não só na construção do conteúdo do processo comunicacional, mas também na constituição do próprio instrumento de comunicação que possibilita a produção do conteúdo. A presente estrutura midiática digital demonstra o quanto a internet e a web se desenvolveram ao longo dos anos, desde as primeiras formas de comunicação mediada por computador, e o quanto se desviaram de seus propósitos iniciais, direcionando-se para a sociabilidade e para o estabelecimento de processos de convergência midiática. Resultado de apropriações e usos diversos, a comunicação estabelecida via rede se expandiu atingindo os demais meios de comunicação, estabelecendo, além de novos modelos comunicacionais, novas práticas e formatos midiáticos, obrigando a reflexão sobre questões materiais e sociais que envolvem os processos comunicacionais que se desenvolvem através dos meios digitais e que promovem o desenvolvimento de uma cultura marcada pelo uso de novos tipos de ferramentas de comunicação. Diante de tais alterações, Jensen (2010) reflete sobre essa questão do suporte falando sobre a interação diária dos usuários de internet, argumentando que a comunicação em rede deve questionar não só o que a mídia faz com as pessoas, mas também o que as pessoas fazem com a mídia. O que interfere hoje nesse processo e que produz um impacto direto no conceito de convergência midiática refere-se ao grau de interatividade e/ou participação dos indivíduos nos processos comunicacionais estabelecidos nesse contexto de convergência. Se antes as tecnologias de comunicação serviam apenas para distribuição de conteúdos midiáticos, hoje servem também para produção e compartilhamento de conteúdo. 12 Dessa forma, provoca-se a reflexão sobre o conceito de convergência midiática, na medida em que essas características oscilam em função da materialidade dos suportes, questão que se encontra no nível técnico do conceito de convergência, e das apropriações realizadas pelos indivíduos no uso cotidiano das tecnologias de comunicação, temática que engloba os níveis sociais e culturais do fenômeno. Interatividade e participação em contexto de convergência midiática Um dos fatores que difere a internet dos demais meios de comunicação é a rapidez de seu alcance. A velocidade com que a internet vem se difundindo nas últimas três décadas não pode ser comparada com a velocidade de difusão de qualquer outro meio de comunicação, atesta Cardoso (2007), que recupera um questionamento de Castells quanto ao momento dessa difusão em alta velocidade. A resposta que Cardoso (2007) fornece à Castells divide-se entre razões de caráter tecnológico, como a popularização do computador e de outros aparelhos informáticos e comunicacionais, a facilidade de uso da web e o incentivo ao uso da internet no trabalho e na educação; e razões de caráter histórico, como uma realidade que atende à necessidade fundamental de uma sociedade com fortes raízes na evolução social, que se realiza através de uma ferramenta como a internet. Ao mesmo tempo em que usam, as pessoas dessa sociedade se apropriam e modificam essa tecnologia, possibilidade decorrente do caráter aberto do modelo de tal tecnologia e ausente em outras tecnologias anteriores, como a televisão, o telefone e o rádio, por exemplo Por isso a necessidade que esse trabalho levanta de se pensar transformações sociais, culturais e técnicas, numa época fortemente marcada pelo uso da internet para diversos tipos de atividades políticas, sociais e econômicas. A cultura da convergência pode ser entendida como um estágio de comunicação no qual muitas pessoas participam da formação de universos de pensamento direcionados em um mesmo sentido. Para desenvolver-se nesse sentido, a convergência precisa da interação das pessoas, realizada através das mídias. 13 Esta interação, por sua vez, depende do interesse criado pelos objetos que participam desta cultura, que pode ser iniciado através dos elementos estéticos destes. Em todos os estágios de comunicação desenvolvidos até a convergência, a interação, nos seus diversos níveis, mostra-se fundamental para a formação desta cultura em emergência. (FACCION, 2010) Faccion (2010) é aqui citada por destacar a interação como elemento fundamental do conceito de convergência, ao mesmo tempo em que vincula a ocorrência dessa interação à questão da conexão. A autora discorre sobre o conceito de convergência a partir de Jenkins (2008), afirmando que a convergência teria um caráterfundamental de interação, dependendo, por um lado, da competência tecnológica do que chama de “novas mídias”, responsáveis pela abertura de “caminhos de interatividade” e, por outro, estabelecendo “dois parâmetros de avaliação: a capacidade dos objetos de incitar a interação e o interesse da sociedade em interagir”. (FACCION, 2010) A partir dessas afirmações, Faccion (2010) elabora um entendimento de convergência que avança além de um entendimento meramente tecnológico; sua argumentação estrutura-se sob a premissa de que a convergência se dá não apenas em função da tecnologia, mas também por “processos de interação possibilitados e encorajados na comunicação”, de forma que o uso e a apropriação de tecnologias e conteúdos pelos indivíduos seja um fator determinante na efetivação de um processo de convergência midiática. A convergência pode ser entendida como um estado de comunicação alcançado após o envolvimento de diversas pessoas através do uso das mídias. Esse estado de comunicação pressupõe a criação de múltiplas manifestações que acrescentam pensamentos, interpretações e reapresentações de um objeto inicial, capaz de atrair o interesse de muitas pessoas. (FACCION, 2010) A abordagem desenvolvida por Faccion (2010) toma como ponto de partida a inserção das “novas mídias” dentro do cenário da comunicação, de forma que o uso e a apropriação dessas novas mídias pelos indivíduos colaborem para a concretização de um processo de convergência. 14 Tal postulado vai ao encontro do que Dizard Jr. (2000, p. 40- 41) discorre sobre esse tema. Para o autor, “a nova mídia não é apenas uma extensão linear da antiga”; a diferença consiste no fato de que ela, através da internet e de outros canais, expande a quantidade de recursos disponíveis para os consumidores; “em particular, a nova mídia está começando a prover conexões interativas entre o consumidor e o provedor de informação”. Essas conexões permitem a interatividade entre produtores e consumidores de informação, segundo o autor, fazendo com que os consumidores possam escolher quando e como querem receber o conteúdo midiático. Assim, a origem do conceito de convergência midiática, no âmbito da internet, está enraizada nessa característica do meio que permite a conexão entre os indivíduos, bem como entre as informações disponíveis on-line. É a interatividade proporcionada pela conectividade do meio que justifica o caráter social do entendimento sobre convergência midiática adotado aqui. Em um texto intitulado O que aconteceu antes do YouTube, Jenkins (2009, p. 144) afirma que muito do que já foi escrito sobre o YouTube sugere que algumas tecnologias possibilitaram o surgimento de “culturas participativas”, porém, acredita mesmo é no contrário: “o surgimento das culturas participativas de todas as espécies ao longo das últimas décadas estabeleceu o caminho para a assimilação pioneira, rápida adoção e usos diversos dessas plataformas.” O que Jenkins (2009, p. 145) na verdade tenta mostrar é que antes da digitalização da comunicação já havia um “longo histórico de produção de mídia” e que plataformas como o YouTube não foram o ponto de partida dessas produções. Ainda que mesmo sem a mistura de linguagens, os indivíduos sempre produziram e buscaram conteúdo, de uma forma ou de outra. O que de novo surgiu não foram as práticas, mas sim as maneiras, os suportes através dos quais passaram a ser realizadas. O caso do YouTube serve como ilustração desse raciocínio: Se o YouTube parece ter aparecido da noite para o dia, é porque já havia uma miríade de grupos esperando por algo como o YouTube; eles já tinham suas comunidades de prática que incentivavam a produção de mídia DIY, já haviam 15 criado seus gêneros de vídeos e construído redes sociais por meio das quais tais vídeos podiam trafegar. O YouTube pode representar o epicentro da cultura participativa atual, mas não representa o ponto de origem para qualquer das práticas culturais associadas a ele. (JENKINS, 2009, p. 145) A internet, a web e as tecnologias digitais de comunicação, dessa forma, foram responsáveis por potencializar práticas anteriormente existentes, facilitando atividades e contribuindo para alterações nos comportamentos dos indivíduos, mas não foram pioneiras em misturar elementos e linguagens de comunicação. Tais misturas iniciaram antes da configuração desse presente cenário digital, e o que mudou, e vem mudando, são os comportamentos dos indivíduos em torno dos conteúdos midiáticos. Por isso a crítica inicial que esse texto faz à exaltação excessiva e à apropriação, muitas vezes equivocada, da expressão “convergência midiática” e, a partir disso, propõe o tensionamento entre a interatividade e a participação num contexto de convergência, lucidamente delimitado. É importante verificar como, no início dessas misturas, os comportamentos dos indivíduos foram se modificando. Quando Santaella (2003) afirma que, nos idos dos anos 1980, os indivíduos começaram a abandonar a “inércia da recepção”, em função do surgimento de dispositivos como o controle remoto e o videocassete, que ampliaram as possibilidades de escolha dos indivíduos, é válido questionar como se deu esse abandono. O público começou a perceber a oferta de mais opções e passou a usar o controle remoto para fazer suas escolhas? Compraram pacotes de TV a cabo, videocassetes, personalizaram fitas cassete para escutarem em seus walkmans? Como se deu tal desprendimento? A diferenciação que Jenkins (2008) faz entre os termos participação e interatividade é útil para se entender como se deu esse abandono, a evolução de uma postura passiva para outra mais ativa, pois gera um raciocínio sobre as mudanças ocorridas desde as primeiras misturas entre linguagens até o contexto atual, dito convergente. 16 Para Jenkins (2008, p. 182), a interatividade é o “modo como as novas tecnologias foram planejadas para responder ao feedback do consumidor”, assim que podem existir diferentes níveis de interatividade em função de cada tecnologia de comunicação. Já a participação é “moldada pelos protocolos culturais e sociais”, (JENKINS, 2008, p. 183) mais ilimitada que a interatividade e controlada mais pelos consumidores dos produtos midiáticos que por seus produtores. Diante dessa diferenciação, poderia-se dizer que desde as primeiras misturas entre linguagens, que, como aponta Santaella (2003), se iniciaram em meados da década de 1980, o abandono da inércia da recepção foi abrindo o caminho para um cenário midiático mais interativo, em diferentes níveis, para, a partir do fim dos anos 1990, além de interativo, tornar-se mais participativo.8 No caso da televisão, por exemplo, Chagas (2010) atribui o anseio do telespectador por participação à busca de outros meios onde possa atuar de maneira mais ativa, e afirma que foi na internet que esse telespectador “encontrou espaço para ‘falar’, trocar informações e produzir conteúdo”. Em termos de comportamento do telespectador, Murray (2003) credita alterações do mesmo aos processos de digitalização da informação, passando de atividades sequenciais para atividades simultâneas. Se antes o telespectador assistia ao conteúdo televisivo para depois interagir, hoje realiza as duas ações ao mesmo tempo. Chagas (2010) afirma que, no Brasil, “mudanças no comportamento do telespectador e das produções já são identificadas, muito em função da popularização da Internet e do anseio por interagir e fazer parte da produção de conteúdo da TV”. A autora recorre a Jenkins, explicando que, para ele, “esta nova ‘prática interligada em rede’ de consumir produtos televisivos, estando conectado à web, configura os modos de consumo e produção dos produtos televisivos”. Ela diz que não se trata de assistir televisão pelo computador, mas sim no aparelhode televisão, comentando o conteúdo nas redes sociais on-line. Acompanhar o programa não é suficiente, ela explica; o telespectador, também internauta, quer compartilhar sua opinião sobre a programação, e o 17 registro dessa opinião na web é o que legitima esse público cada vez mais ativo na mídia. Interatividade ou participação? Qual o limite dessa interferência, se é que ela ocorre em determinados casos? As respostas a tais questionamentos abrangem implicações de caráter técnico, social e cultural que demandam atenção por terem um papel definidor na constituição do entendimento do processo de convergência. Pavlik (2008) cita uma pesquisa de John Carey sobre o uso de laptops paralelo ao uso da televisão, porém aponta algumas diferenças. A diferenciação entre interatividade e participação apresentada por Jenkins (2008) mostra a recorrente incidência de equívocos quanto ao uso dos termos e participação e m contexto de convergência midiática que soam interessantes no que se refere à materialidade dos meios. O autor destaca que a televisão não é móvel que nem o laptop e talvez não seja capaz de armazenar ou de disponibilizar todos os jogos de um time de futebol, por exemplo, como no caso da web, o que hoje já é algo questionável, em função dos canais pay-per-view. Um outro apontamento que Pavlik (2008) faz é de que o laptop é um dispositivo privado, ao contrário da televisão, que pode ser compartilhada com outras pessoas. No entanto, o autor não percebe o fato de que o telespectador pode acompanhar o jogo em canais coletivos, ou então interagindo com outros telespectadores, no caso, usuários de sites, e interagir com essas pessoas nessas páginas pelas quais acompanha os jogos, o que, dessa forma, tornaria, não o computador, mas o site, ou o ambiente no qual ele acompanha o jogo, em um espaço coletivo, acessado através do laptop. Novamente o questionamento deve ser realizado com relação à interatividade e à participação no contexto da convergência. Percebe-se hoje um cenário múltiplo, complexificado pela diversidade de dispositivos tecnológicos e pelas possibilidades de manifestação oferecidas aos indivíduos através dessas materialidades que passam a ser apropriadas para os mais diversos usos. 18 Apropriações e desvios complexificam a configuração midiática a partir de um movimento dialético entre a técnica, a cultura e a sociabilidade, borrando os limites entre interatividade e participação nos espaços on-line e off-line. Este paper resulta de uma tese de doutorado ainda em construção e, dessa forma, realiza um recorte no trabalho em andamento, discorrendo sobre uma das categorias que vêm sendo estudadas como constituintes do conceito de convergência midiática, a interatividade. Optou-se como estratégia tensionar a participação e a interatividade no contexto da convergência midiática com o objetivo de apontar que existem diferenças entre as duas características e que essas diferenças precisam ser pensadas não só em termos técnicos para a reflexão teórica sobre o processo de convergência, mas também em termos sociais e culturais. Inicialmente, o texto direcionou seu foco para o conceito de convergência, buscando expor o entendimento tomado como base e motivado pela necessidade de superação do caráter tecnicista adotado por alguns autores na definição do fenômeno. Buscou-se explorar o tema da convergência abordando os três níveis propostos, técnico, social e cultural, passando por questões referentes às materialidades dos suportes e dos meios e à apropriação realizada pelos indivíduos nos estabelecimentos dos processos comunicacionais e no consumo de produtos midiáticos. Em um segundo momento, o trabalho buscou enquadrar o conflito entre interatividade e participação como elementos constituintes do fenômeno, apontando situações em que os limites entre as duas características se tornam tênues e identificando como questões comportamentais, que, além de maneiras técnicas, interferem, social e culturalmente, na definição do processo de convergência midiática. Incitar a discussão e criar questionamentos que motivem o avanço teórico são as preocupações de origem desse trabalho, além dos objetivos inicialmente propostos. Dessa forma, sem a pretensão de esgotar o tema, as observações aqui expostas visam realizar essa contribuição ao campo. 19 JORNALISMO DIGITAL: DO BOOM AOS DIAS ATUAIS. UMA REFLEXÃO SOBRE A NECESSIDADE DA CONVERGÊNCIA DE MEIOS DECORRENTE DA MUDANÇA DE HÁBITOS DE CONSUMO DA NOTICIA O surgimento do jornalismo digital representa uma revolução na maneira de apurar, produzir e distribuir conteúdo jornalístico. Em 1995, Nicholas Negroponte, visionário pesquisador do MIT, em seu livro Vida Digital apresentou como seria o cotidiano das pessoas inserido em mundo digital, que até aquele momento, parecia algo muito distante. Ele inicia a discussão afirmando que a melhor maneira de avaliar os méritos e as consequências da vida digital é refletir sobre a diferença entre bits e átomos. O papel (átomo) vai cedendo lugar a impulsos eletrônicos (bits) que podem viajar a grandes velocidades pelas autoestradas da informação (NEGROPONTE, 1995). O jornalismo nas redes digitais, e especialmente na Internet, é um fenômeno relativamente recente, com uma expansão paralela à da World Wide Web (www) e com seus inícios em 1994. O estudo do novo fenômeno começa em vários países simultaneamente, favorecido, por sua vez, pela potencialização da comunicação entre acadêmicos (correio eletrônico, listas de discussão, fóruns, blogs, etc) aproximando sobremaneira pesquisadores da comunidade acadêmica internacional. A expansão destas novas formas de comunicação global favoreceu o conhecimento mútuo de diferentes grupos de pesquisa, possibilitando a formação de redes cada vez mais amplas e coesas (NOCI, PALACIOS, 2008). O estudo do jornalismo digital (também conhecido por jornalismo online, ciberjornalismo, jornalismo interativo e jornalismo multimídia) não atraiu a atenção de estudiosos e profissionais da área de comunicação até o início dos anos 90. Kevin Kawamoto (2003) conta que alguns educadores das escolas de comunicação assim como respeitados jornalistas acreditavam que 20 tanto a Internet quanto a World Wide Web não eram nada mais do que modismos e assim não mereciam ser levadas a sério. Porém, nos dias de hoje, poucos discordariam da importância das mídias digitais e de seu papel duradouro no panorama global dos meios de comunicação, assim como do impacto significante na sociedade em relação a indústria editorial, fonográfica e televisiva causado pelo surgimento da tecnologia digital. O autor propõe uma única definição do termo jornalismo digital: o uso de tecnologias digitais para pesquisar, produzir e distribuir (ou tornar acessível) notícias e informações para uma audiência informatizada. Mesmo assim, ele alerta que a definição de jornalismo digital está em constante transformação devido aos avanços tecnológicos, e mais importante ainda, devido a mudanças no jornalismo como instituição assim como conceito. Em meados da década de 1990, o termo jornalismo digital ou ciberjornalismo referia-se, na maioria das vezes, às versões desenvolvidas para a web de jornais impressos, diários e de modelo comercial. Eram poucas, ou praticamente nenhuma, as alterações na forma de narrativa jornalística. Após aprontar o conteúdo da edição do produto impresso, tal conteúdo era disponibilizado na web (MIELNICZUK, 2008). Contudo esse panorama mudou. Atualmente, os sites noticiosos passaram a não somente reproduzir o conteúdo divulgado em sua versão impressa, mas também a disponibilizar informações adicionais sobre o assunto que não foram incluídas na versão impressa ou, informações complementares como por exemplo: vídeos, animações, entreoutros recursos multimídia. Ou seja: o meio digital propicia a viabilização de produzir e distribuir conteúdo multimídia de forma rápida e precisa a fim de possibilitar a interatividade e com isso, despertar o interesse e a participação do público. Além disso, nestas publicações, o leitor tem acesso a bancos de dados, arquivos eletrônicos com edições passadas, fóruns de discussão e sistema de bate-papo em tempo real, mecanismos de busca em classificados online, 21 notícias atualizadas a todo o instante e uma série de outros serviços, só possíveis graças ao suporte digital (Informação eletrônica). Kevin Kawamoto (2003) cita e explica algumas características do jornalismo digital: - Hipertextualidade – a ligação e as camadas de informação digital por meio de uma estrutura não-linear hierárquica. - Interatividade – o processo de engajamento humano ativo ou da participação da máquina no processo de captação e compartilhamento da informação. - não-Linearidade – um sistema flexível de ordenação da informação que não necessariamente adere à lógica dos padrões tradicionais, cronológicos ou convencionais de narração. - Multimídia – o uso de mais de um tipo de mídia em um único produto. Ou seja, a mistura de áudio, vídeo e dados, que o visionário Nicholas Negroponte, em 1995, já havia dado uma explicação bastante simplificada: nada mais é do que bits misturados. - Convergência – a fusão ou a confusão de tecnologias e serviços. - Customização E Personalização – a habilidade de moldar a natureza do conteúdo e serviço a fim de atender necessidades e desejos individuais. Para David Carlson (2003), dentre as inúmeras vantagens do jornalismo digital, a mais importante delas refere-se a seu potencial. Segundo ele, é por isso que tantos jornais e empresas de comunicação estão investindo cada vez mais na área. O jornalismo online tem o poder de extrair as melhores coisas das mídias tradicionais (jornais, revistas, rádio e televisão), e “reembalar” em um produto novo e único carregando os aspectos positivos das mídias já existentes e poucos, caso existam, dos negativos. É nesse ponto, que uma das características do jornalismo digital, citadas por Kevin Kawamoto (2003) é trazida em foco: a da convergência. A reflexão sobre o significado da palavra convergência abrange diversas áreas do conhecimento. 22 É extensa a discussão não somente conceitual, mas também quanto à sua aplicabilidade em diferentes cenários. O termo “convergência” tem sido utilizado exaustivamente e diversificadamente em toda a literatura que envolve o status das mídias contemporâneas, as tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs), a cibercultura, as linguagens e narrativas, apenas para ficarmos no campo maior da Ciências da Comunicação (SAAD 2007). No plano internacional, as primeiras reflexões acadêmicas sobre convergência multimídia apareceram no fim dos anos 1970. Foi quando autores como Nicholas Negroponte (1979) começaram a se referir ao fenômeno, então nascente, da digitalização e suas consequências na difusão e combinação de linguagens textuais e audiovisuais (SALAVERRÍA 2007). No Brasil, com o surgimento do jornalismo digital em meados da década de 90, o fenômeno da convergência jornalística passou a ser considerado algo possível, porém ainda distante da realidade vivida dentro das redações midiáticas. A visão de convergência ainda se encontrava atrelada à ideia de convergência puramente tecnológica, que propõem que muitas partes de equipamento digital vão se convergir a uma única caixa na sala-de-estar (QUINNS 2005). O CONCEITO DE CONVERGÊNCIA Atualmente, é praticamente impossível não se deparar com o termo convergência quando se pensa sobre o futuro da tecnologia, dos meios de comunicação e dos grandes grupos empresariais. Qualquer que seja o termo escolhido: fusão, integração ou convergência, todos eles acabam conduzindo-nos à uma mesma ideia. 23 O autor Rich Gordon, em artigo publicado na Online Journalism Review em 2003, afirma que o termo “convergência” vem, originalmente, do mundo da ciência e da fusão é normalmente o termo utilizado quando duas grandes empresas se unem matemática e o atrela ao cientista William Derham que fez importantes contribuições ao estudo da física no século XVIII. Além dele, Charles Darwin também utilizou o termo, em 1866, na edição da famosa obra A Origem das Espécies. Para Gordon, o processo de convergência digital só se tornará realidade quando ocorrerem mudanças tecnológicas em todos os estágios de estrutura da informação: criação, distribuição e consumo de conteúdo. Mas, antes que esse dia chegue, e mesmo que ele nunca chegue, a convergência em outras formas, está afetando as empresas que produzem informação e entretenimento, assim como as pessoas que trabalham nela (Gordon, 2003). Convergência é um conceito que está em evolução de maneira emergente em várias partes do mundo. A definição do termo varia dependendo da perspectiva de quem a estuda. Logo, a palavra tende a possuir tantas definições quanto o número de pessoas que a pratica ou a estuda. Isso porque convergência varia de país para país e de cultura para cultura considerando o panorama organização em que está inserido. Além disso, a convergência midiática faz com que a notícia esteja disponível no momento em que as pessoas a querem consumi-la, ao invés do público ter que esperar para consumi-la somente quando as redes de emissoras e jornais a disponibilizam. As empresas de comunicação ao redor do mundo têm abraçado a convergência dos meios em diferentes velocidades, frequentemente mais rápido do que em empresas nos Estados Unidos da América (QUINNS, 2005, p. 3). 24 Grande parte do investimento no contexto enfatiza o consenso em superar a dificuldade de uma definição mais especifica, menos abrangente e mais concisa do termo convergência. E essa discrepância conceitual afeta tanto a literatura acadêmica quanto a profissional. No entanto, ambas divergem. A literatura acadêmica tende a inclinar-se para definições que abrangem diversas áreas da comunicação social e, portanto, tendem a ser definições mais amplas e multidimensionais. Por sua vez, a definições profissionais tendem e ser mais reducionistas e muitas vezes limitadas aos aspectos logísticos da mídia, em especial, o funcionamento das redações e dos processos de produção. Logo, a convergência dos meios pode ser considerada a janela de oportunidade para que a mídia tradicional se alinhe com as tecnologias do século XXI. A digitalização da mídia e a tecnologia de informação decorrentes da transformação dos meios de comunicação são importantes fatores que contribuem para a convergência dos meios (GERSHON 2000; FIDLER 1997 citado por LAWSON-BORDERS, 2003). Sendo assim, o conceito de convergência jornalística se refere a um processo de integração de meios de comunicação tradicionalmente separado que afeta as empresas, a tecnologia, os profissionais e o público em todas as fases de produção, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo (SALAVERRIA, 2007). Para Elizabeth Saad Corrêa (2008), o termo convergência, quando associado às mídias digitais, é abordado por uma diversidade de pontos de vista, pertinente, em sua maioria, mas que metodologicamente têm o potencial de confundir propostas. Numa rápida passada d’olhos, convergência pode ser associada equipamentos e sistemas de acesso às redes digitais, a estruturas organizacionais, a diferentes níveis de processos de produção do conteúdo 25 midiático, às políticas públicas de uso e acesso às TICs, aos modelos de negócios, em oposição a visões fragmentadas, entre muitas possibilidades. O que temos, na pratica, é o uso do termo em múltiplos contextos e, em algumas vezes, com definiçõesambíguas. Para Jenkins (2008), autor do livro A Cultura da Convergência, convergência é um termo esquivo, usado em contextos múltiplos, e frequentemente ambíguo em sua definição. O fenômeno de convergência não é um simples processo de recuperação de informação eletronicamente, mas sim um fenômeno que ocorre em múltiplos níveis por meio de cinco processos: tecnológico, econômico, social, global e cultura No artigo Integrating New Media and Old Media: Seven Observations of Convergence as a Strategy for Best Practices in Media Organizations, a pesquisadora Gracie LawsonBorder afirma que “as definições para o termo convergencia variam, mas na maioria dos casos é o encontro da mídia tradicional, como por exemplo: revistas, jornais impressos, rádio e televisão com a mídia moderna: computadores e internet a fim de distribuir conteúdo (Lawson- Border, 2003, p.92). O CONSUMO DA NOTÍCIA A necessidade de mudar a forma de jornalismo praticada nas redações do mundo inteiro no que se refere à produção e à distribuição da notícia, tornou- se nesse grande fenômeno chamado convergência jornalística. Porém, segundo Kerry J. Northrup (2006), o desencadeamento desse processo é devido à pequenas mudanças percebidas no comportamento do público quanto ao consumo da notícia, sendo que a soma delas foi gradativamente minando os modelos convencionais de publicação. Na época das audiências de massa e da mídia de massa, o consumo da notícia era uma atividade planejada e inserida nas rotinas diárias das pessoas. 26 A leitura do jornal impresso era (e ainda é para pessoas mais tradicionais) uma atividade para ser feita ao tomar o café da manhã; à noite era hora do noticiário televisivo; e ao longo da semana e consequentemente do mês, era feita a leitura das revistas entregues nas residências por meio de assinaturas. Por muito tempo, estas eram as fontes disponíveis para o consumo de notícias. Atualmente, de acordo com Northrup, as pessoas consomem informação de uma maneira praticamente involuntária, o que ele denomina consumo de notícias incidental: alguns segundos de um canal à cabo de jornalismo 24 horas, enquanto mudam o canal da televisão; o programa de rádio com as notícias da hora, enquanto dirigem e escutam música; uma olhada por todas as manchetes de jornais pregados nos quiosques nas ruas; comentários gerais postados nas paredes da cantina do local de trabalho; comentários das notícias na homepage do Yahoo enquanto procuram por alguma coisa online; resumos de e-mails mal digitalizados; e até mesmo, na hora do jantar, o cônjuge comenta alguma coisa vista em algum outro lugar qualquer. Apesar destes processos darem a impressão de deixarem a sociedade mal informada, pesquisas mostram que as pessoas estão passando mais tempo consumindo notícias em diferentes formatos do que faziam antes em um único meio. A diferença então é que as pessoas não estão mais se prendendo à um só meio ou à apenas uma marca como fonte única de informação. Sendo assim, estas mudanças devem ser entendidas dentro do contexto do aumento do consumo de mídia, combinado com a diminuição da procura por um único canal midiático. Essa nova postura adotada pelo público são consequências do surgimento do jornalismo digital. Este é o ponto central do problema que representa a convergência para os pensadores convencionais que estão entre os editores dos meios mainstream. Os formatos de distribuição dos meios são aqueles da época do público de massa e por isso das rotinas de consumo. Seus processos e tecnologias de produção para estes produtos são desenvolvidos em torno dos lugares e horários específicos para consumo. Seus 27 instrumentos de medição e fluxo de receitas ainda estão geralmente baseadas na captura e na retenção de fatias de um mercado estático ao invés de um mercado em constantes transformações (Northrup, 2006). Além disso, houve a fragmentação da audiência. Logo, as empresas midiáticas perceberam que a única maneira de atingir esse público fragmentado é por meio da adoção de uma abordagem multimídia. Sendo assim, torna-se evidente que em um mercado onde o consumo da notícia é amplamente incidental, um provedor de notícias bem-sucedido deve estar em todos os lugares, em todas as horas, nos mais diferentes formatos. As empresas de comunicação no Brasil, nos dias de hoje, já se mostram preocupadas com esse panorama e já começaram a buscar soluções e tomar medidas para acompanhar essa transformação. Os grupos comunicacionais já entenderam que a sua forma de trabalho também deve mudar já que a postura do público em relação ao consumo da notícia mudou. Não adianta mais produzir conteúdo da mesma forma como era feito há 10 anos, uma vez que o público não o recebe da mesma forma. Os produtores de conteúdo não podem continuar a produzir um produto pelo qual o público não demonstra mais interesse. O consumo da notícia mudou, logo a produção e a distribuição da notícia deve acompanhar essa mudança. As empresas que não seguirem essa tendência estão fadadas a perder espaço no mercado. A importância desmesurada do impacto das tecnologias digitais na cultura popular, nos mercados financeiros, na saúde, telecomunicações, transportes e gerenciamento organizacional leva a uma simples observação: o maior impacto que essas tecnologias produziram, e ainda produzirão, é no relacionamento entre pessoas e entre organizações. A chamada “revolução da informação”, é na verdade, e mais precisamente, uma “revolução no relacionamento”. Qualquer um que esteja envolvido hoje com essas incríveis tecnologias e pense no impacto que elas 28 provocarão amanhã, deve aceitar o conselho de redirecionar sua visão de mundo para a questão do relacionamento. Para o jornalista cabe, então, o papel de navegar por cidades reais e criar relacionamentos por comunidades virtuais. Do relato de realidades local, ainda fundamental para seu exercício profissional, vemos o jornalista identificando e interligando essas localidades no mundo virtual (SAAD, 2008). Outra importância, não menos importante, que justifica o grande interesse das empresas de comunicação em produzir e distribuir conteúdo online é porque elas já perceberam que é possível criar produtos novos e melhores, distribuí-los gratuitamente e ainda aumentar os lucros da empresa. Algumas já entenderam que distribuir conteúdo gratuitamente é atrair um número tão grande de leitores que o número de anunciantes, interessados em alcançar esses leitores, passa a ser maior ainda (CARLSON, 2003). Além disso, não há dúvidas entre os pesquisadores que, certamente, não há uma definição única e aceita de forma unânime sobre o conceito de convergência. Porém, o que é unânime entre os estudiosos é afirmar que independente das vantagens ou desvantagens trazidas pelo fenômeno da convergência digital no meio jornalístico, ele veio para ficar e é ele que norteará o futuro da comunicação no século XXI (QUINNS, 2005). "Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão" (ONU, 1948: 10). A partir do texto extraído da Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948, é possível visualizar o caráter imperioso da informação, que é apontada por diversos documentos normativos como um direito humano fundamental, assim tal apontamento implica na observação dos fenômenos e atores sociais que permeiam tal direito de ampla e massificada importância no contexto hodierno. A luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil tem como pressupostos essenciais à pluralidade de vozes nos veículos eletrônicos 29 de comunicação, a possibilidade da visualizaçãoda cultura de forma heterogênea, regionalização de hábitos e costumes na mídia e uma ampla participação dos cidadãos no contexto informativo e comunicacional. Assim, a informação e a comunicação sempre foram os vetores dos poderes dominantes, também compõem os poderes alternativos, ou seja, àqueles ligados as resistências e mudanças sociais, é nesse contexto que se alicerça o presente trabalho, alcançando a configuração reflexiva da mudança necessária nos vértices de informação e comunicação do Brasil. Nesse sentido, o poder de influência sobre o pensamento das pessoas é exercido através da comunicação de forma que se constitui em uma ferramenta de resultado incerto, contudo fundamental. Imperioso registrar que por meio da ingerência exercida sobre o pensamento dos povos que os poderes se constituem em sociedades, e que as sociedades evoluem e mudam. Os meios de comunicação potencializam a construção de pesos simbólicos que se difundem na esfera pública, dando suporte a diversas pautas da sociedade. Nesse seguimento, a esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos de posição e opiniões. Nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em termos específicos. Destarte, a comunicação é um processo cuja construção se dá mediante espaços onde o diálogo, a pluralidade de vozes e a dissidência são respeitados, vez que a informação constitui-se pedra angular no regime democrático, balizando relações e interesses políticos, econômicos e culturais, sobretudo hodiernamente, visto que esta passou a constituir-se como um bem jurídico de alta relevância, seja para a tomada de decisões pessoais, para o conhecimento da realidade ou para se obter consciência plena ao se decidir. Como entraves postos à agenda política de democratização dos veículos de comunicação no Brasil são possíveis destacar alguns fatores, todavia imperioso prescrever o ponto específico referente à legislação, uma vez que os dispositivos da Carta da República de 1988 não foram regulamentados. 30 Na mesma senda, no país ainda vigora o Código Nacional de Telecomunicações – Lei 4.117/1962, que se traduz em uma legislação que mistura comunicação social com telecomunicações, campos distintos, além de que possui os resquícios da sociedade da época onde foi formulado, ou seja, 53 anos atrás, período onde 70% da população brasileira vivia no campo, o que flagrantemente denota que tal composição normativa não contempla as mudanças sociais, políticas, culturais e, especialmente, tecnológicas observadas nos dias de hoje. A partir dessa configuração de falta de regulação econômica de mercado no âmbito da comunicação social, falta de regulamentação dos dispositivos constitucionais e de um marco regulatório essencial e efetivo, diversas práticas de controle e monopólio da informação e comunicação cristalizaram-se no cenário social brasileiro ao longo do tempo e da história, o que sedimenta um processo que ocorre em função da necessidade de elevados investimentos, conduzindo a integração horizontal, vertical e cruzada da indústria de comunicações, isto é, a ação coordenada de várias empresas no mesmo grupo, torna-se inevitável e mais eficiente do que a de empresas isoladas (Santos, 2010: 02). Dentro desse aspecto, Lima aponta quatro principais modalidades ou estruturas de controle e propriedade dos meios de comunicação que se observa no Brasil. São elas concentração horizontal, concentração vertical, propriedade cruzada e monopólio em cruz. A primeira corresponde à monopolização dentro de uma mesma área do setor, e no Brasil, tem-se a televisão, paga ou aberta, como exemplo desse modo de concentração. A segunda forma, qual seja a concentração vertical, diz respeito a integração das diferentes etapas da cadeia de produção e distribuição, quando um único grupo controla desde os vários aspectos da produção de programas de televisão até a sua veiculação, comercialização e distribuição. A propriedade cruzada consiste na propriedade, pelo mesmo grupo, de diferentes tipos de mídia do setor de comunicações, como, por exemplo, a empresa RBS (Rede Brasil Sul) afiliada da Rede Globo no Estado do Rio Grande 31 do Sul, que tem sob a sua propriedade empresas de TV, rádios, jornais e portais na Internet. Por fim, tem-se o monopólio em cruz, que se traduz na reprodução, em nível local e regional, dos oligopólios da propriedade cruzada. Afirma-se que na grande maioria dos estados da Federação, os sistemas regionais de comunicações são constituídos por dois braços principais, geralmente ligadas às Organizações Globo, reproduzindo, desta forma, os ideários e interesses do grupo controlador. Logo, o que se pode verificar é uma configuração no cenário brasileiro de ineficácia da atuação estatal, tanto na regulação econômica do setor, quanto na participação efetiva do Congresso Nacional na elaboração de um marco regulatório para os meios de comunicação, de forma a coibir que as modalidades e práticas de controle, propriedade e ingerência nos meios de comunicação acabem por sedimentar-se ainda mais. Na mesma senda, ineficácia do Poder Executivo em promover a regulamentação específica de textos normativos constitucionais sobre a matéria, e também através de seus órgãos de fiscalização e agências de regulação, que poderiam desempenhar atividade extremamente valiosa na observância do cumprimento da legislação e da Constituição Federal. Assim, é fato que a mídia – entendida como o complexo de meios de comunicação que envolve mensagem e recepção, por formas diversas, cuja manipulação dos elementos simbólicos é sua característica central (Eagleton, 1991) – representa uma forma de poder que, nas sociedades “de massa” possui papéis extremamente significativos, tais como, influir na formação das agendas públicas e governamentais, intermediar relações sociais entre grupos distintos (Capelato, 1988), influenciar a opinião de inúmeras pessoas sobre temas específicos, participar de contendas políticas, em sentido lato (defesa ou veto de uma causa, por exemplo) ou estrito (apoio a governos, partidos ou candidatos), e atuar como aparelhos ideológicos capazes de organizar interesses (Fonseca, 2011). 32 Nesse pressuposto, como uma agência de poder que os meios de comunicação devem ser entendidos, repercutindo em todas as esferas sociais, guiando acontecimentos políticos e jurídicos, bem como o destino da nação a partir do agendamento realizado nos diversos assuntos de relevância social e de sensível importância política e econômica. Entretanto, de forma a lutar e firmar-se como formas de resistência ao controle e monopólio da comunicação e da difusão da informação no Brasil que despontam as novas mídias, atuando como ferramentas efetivas na descentralização da informação. Sobre tal tema que se passa a destacar em tópico a seguir. AS NOVAS MÍDIAS COMO MEIOS DE RESISTÊNCIA FRENTE AO CONTROLE DA INFORMAÇÃO Os meios de comunicação no Brasil, jornais, revistas e periódicos, passando pelo rádio e, posteriormente e com maior relevância pela televisão, ocuparam sempre papel central como agências difusoras de acontecimentos de notório interesse público e também de assuntos de relevância jurídica, política e social. Todavia, essa infraestrutura informacional passa a se modificar com o aperfeiçoamento dos meios técnico-científicos informacionais e mais especialmente com o surgimento da Internet em bancos acadêmicos e depois de forma comercial. Falar em mídia eletrônica é quase impossível sem se referir a um novo conceito de comunicação, que se resolveu chamar de comunicação interativa. A proliferação de novas tecnologias de informação e comunicação, aliada a uma necessidade latente nos receptores da informação eque desperta diuturnamente nessas pessoas – a possibilidade de interferir no conteúdo das mensagens recebidas –, gera novas expectativas na sociedade (Dantas, 2009: 01-02). Logo, as novas mídias se revestem da utilização de equipamentos digitais e eletrônicos, como celulares, computadores e outros dispositivos, tais como a TV digital, por exemplo, mas com a potencialidade da interatividade, onde existe 33 a possibilidade de o indivíduo manifestar-se. Nesse seguimento, o atual embate entre a mídia tradicional e as novas mídias alcançou um patamar bastante alto. Os responsáveis pelo segmento de mercado estão respondendo, mas talvez não suficientemente rápido ou completamente. Para Dizard Jr. (2000: 23): A mídia de massa, historicamente, significa produtos de informação e entretenimento centralmente produzidos e padronizados, distribuídos a grandes públicos através de canais distintos. Os novos desafiantes eletrônicos modificam todas essas condições. Muitas vezes, seus produtos não se originam de uma fonte central. Além disso, a nova mídia em geral fornece serviços especializados a vários pequenos segmentos de público. Entretanto, sua inovação mais importante é a distribuição de produtos de voz, vídeo e impressos num canal eletrônico comum, muitas vezes em formatos interativos bidirecionais que dão aos consumidores maior controle sobre os serviços que recebem, sobre quando obtê-los e sob que forma. Nesse sentido, a Internet se consolida como uma nova mídia sem precedentes, ao associar elementos mais atrativos presentes nos demais meios. Ela consegue se utilizar da velocidade na transmissão da notícia que o rádio apresenta, do entretenimento e das imagens atraentes com diversos recursos visuais que a TV propicia tudo isso associado a novas técnicas de vídeo e animação, criadas especialmente para o mundo virtual. Além disso, a Internet permite uma experiência ímpar de aproximar emissor e receptor, algo que somente ocorria em uma comunicação interpessoal, jamais mediante a utilização de um meio de comunicação de massa (Oliveira 2013: 332). A imagem acima traduz o esquema comparativo realizado entre uma mídia tradicional, ou de comunicação de massa e uma nova mídia, como a TV digital, que possibilita a interação entre emissor e receptor. No novo modelo de comunicação, o emissor oferece ao receptor várias alternativas interativas de acesso a determinado programa. 34 A mensagem chega ao receptor nos moldes normais, mas este tem como modificar o conteúdo recebido, interagindo com o sinal por meio do controle remoto. Assim, ele pode, por exemplo, conforme sua conveniência: assistir o programa sob vários ângulos, isolar som e imagem. Interromper o programa temporariamente para assisti-lo na íntegra depois, assistir a dois programas simultaneamente, trocar mensagens de voz e texto com outros telespectadores, enviar e-mails e realizar compras enquanto assiste ao programa. Além disso, o receptor pode dar retorno imediato ao emissor por e-mail, VoIP (telefonia pela Internet) ou outro dispositivo instalado em seu controle remoto. A emissora de televisão pode medir a audiência em tempo real (Dantas 2009: 15). Assim, um dos pontos que caracteriza a informação na Era Digital diz respeito aos seus usos e finalidades, uma vez que na Era Industrial o bem produzido tinha finalidade única, de modo que na contemporaneidade, na indústria da informação os bens podem ser amplamente duplicados e disseminados. Da mesma forma que o Brasil, diversos outros países e Estados foram transformados a partir da adoção e uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como, por exemplo, a Irlanda, que nas práticas administrativas daquele país propiciou a abertura de espaço a novos atores e a automatização dos processos online, que serviram para diminuir as relações de clientelismo entre Estado e sociedade naquele país (Komito, 1999). Primeiramente porque, com as privatizações, os novos atores são também novos corretores que concorrem com o Estado na oferta de serviços e bens, diminuindo, assim, os "preços" que os políticos cobravam por sua intervenção. Em segundo plano, de acordo com o mesmo autor, a partir da adoção de novas instâncias de controle do mercado, os cidadãos passaram a ter maior conhecimento sobre o progresso dos procedimentos produzidos, reduzindo a 35 dependência da intervenção política para obterem-se respostas sobre o acesso aos serviços e bens oferecidos. Para Komito (1999), mesmo que as decisões governamentais se mantenham sujeitas à influência privada e, consequentemente, ao clientelismo, a abertura de informações e o acesso direto ao Estado, facilitado pela Internet, podem servir como instrumentos de bloqueio das negociações ocultas entre clientes e patrões. A proliferação de novos espaços de exercício da cidadania em rede permite a ampliação da participação social, o que se verifica de forma muito ativa nos dias de hoje, uma vez que redes sociais são utilizadas para manifestações e declarações sobre os mais diversos assuntos. Logo, a manifestação de ideias junto a blogs e redes sociais é uma tendência mundial, e muitos desses espaços alcançaram notoriedade e reconhecimento da opinião pública igual ou até maior do que muitos meios de comunicação de massa tradicionais (Oliveira 2013: 323). Na blogosfera a facilidade de produção de conteúdo pelo cidadão comum é um convite, não apenas para relatos do seu dia a dia, mas também para a prática de ativismo em prol das mais diversas causas. Assim, conforme expõe Orihuela (2007: 09-10) a blogosfera faz parte do novo cenário midiático e complementa as funções dos meios de comunicação tradicionais ao trazer textura e ponto de vista pessoal ao modo como os temas da atualidade são abordados, uma vez que gera agendas paramidiáticas (que extrapolam a comunicação) de grande interesse para as comunidades especializadas. Dentro desse cenário, que as novas mídias, tecnologias digitais começam a arregimentar-se como ferramentas de luta e de resistência aos meios de comunicação tradicionais, uma vez que a democratização ou regulação do setor é ainda um ponto a ser conquistado pela sociedade civil. Segundo Castells, a "política informacional" compõe o quadro de que as sociedades contemporâneas são fundamentalmente midiáticas, isto é, suas relações sociais e de poder são intermediadas pelas diversas modalidades da mídia. 36 O jogo político (partidário e parlamentar) teria de se adequar às regras definidas pela mídia, em que o espetáculo e o entretenimento se fundem emergindo a possibilidade de uma interação plural, que propicia uma diversidade de diálogos junto aos espaços público virtual, atuando da mesma forma, como instrumentos altamente relevantes na busca pela democratização desses meios de comunicação e funcionando, dentro dessa arquitetura, como ferramentas de resistência a esse controle da informação. O que significa ser jornalista no século XXI? Por meio do questionamento, Carlos Sandano, que é professor do curso de Jornalismo da Universidade Mackenzie, em São Paulo, efetua, no livro Para além do código digital, uma atualização de conceitos caros à teoria do jornalismo, como a objetividade e a neutralidade, à luz das novas tecnologias da informação. Porém, o autor não se restringe à análise desses conceitos: trata-se, na verdade, da reflexão sobre uma série de valores vinculados ao jornalismo com o objetivo de pensar a significação dessa atividade na contemporaneidade. Valores como a autonomia e a responsabilidade, valores epistemológicos e valores sociais... Como esses valores podem ser trabalhados em um mundo embebido em produção e em consumo de informação por meio de uma rede digital que funciona em tempo real? Qual o papel do jornalista nesse mundo carregado de signose no qual os limites entre produtores e consumidores de informação ficam turvos? Como lidar com os embates entre culturas diversas em um ambiente globalizado? Sandano vai atrás desses valores, mas, desde a Introdução, deixa claro que não se trata de propor uma nova deontologia do jornalismo. Na verdade, o autor recusa a visão estritamente deontológica, no sentido de uma diretriz normativa, pragmática e técnica, já que esta limitaria a pluralidade inerente ao dialogismo, aspecto fundamental do trabalho jornalístico. Ou seja, Sandano pensa valores para o Jornalismo sem trabalhar com universais e sem abdicar dos valores que definem a prática, atualizando-os. 37 Trata-se de “uma busca epistemológica sobre o que seria uma prática virtuosa do jornalismo, discutindo o que são essas virtudes e como estas são entendidas desde diferentes estratégias” (SANDANO, p. 18). Virtudes e estratégias que têm impacto direto na realidade, na formação e no fortalecimento do espaço público democrático. O jornalismo, assim, é pensado como uma forma de conhecimento e como um articulador de um campo dialógico. O autor trabalha a diferença entre deontologia e epistemologia com base no conceito de autonomia na ciência: o cientista precisa de autonomia em relação a constrangimentos externos para o pleno exercício da pesquisa, constrangimentos como, por exemplo, crenças religiosas e ideológicas, restrições estatais etc. O cientista precisa da autonomia para alcançar seus resultados e a sociedade precisa que a ciência seja autônoma para se beneficiar das pesquisas científicas. Da mesma forma, a autonomia Jornalismo e novas tecnologias da informação: do digital ao dialógico também é um valor para a prática jornalística: tanto um valor cognitivo (compartilhado epistemologicamente por um grupo profissional) como um valor social para a democracia (ou seja, afeta outros grupos sociais). Segundo Sandano, a deontologia restringe a autonomia, subordinando a prática jornalística ao estado, ao código civil ou aos regimentos internos das redações. A normatividade reduz os valores a universais que não se verificam como tais, dadas as diferenças entre práticas jornalísticas em diferentes países (o autor cita a diferença entre a “precisão norte-americana” e a “agressividade inglesa” no caso do escândalo envolvendo o News of the World, mostrando discursos de jornalistas favoráveis e desfavoráveis a ambas as práticas), em um mesmo país (com diferentes jornais que estabelecem graus diferenciados de autonomia, com relação, por exemplo, a determinadas posições ideológicas, partidos políticos etc.) e até em um mesmo veículo (ao mostrar que a censura 38 imposta pelo poder autoritário do estado pode ser comparada ao processo de restrição que os próprios jornalistas impõem aos seus companheiros de trabalho por meio de uma hierarquia rígida nas redações). A vantagem da abordagem epistêmica “é reconhecer os limites da autonomia, possibilitando trabalhar de modo dialógico seus valores intrínsecos (cognitivos) com valores externos (sociais, culturais, morais)” (SANDANO, p. 57). Assim, a deontologia se baseia em um “deve-ser”, enquanto a epistemologia se abre para o “ser”, para “o que-poderiaser”, articulando valores sociais e cognitivos. Passa-se, assim, de um paradigma normativo autoritário para a complexidade das relações intersubjetivas. O jornalista deixa, assim, de ser visto como um mero técnico que executa normas para assumir a responsabilidade como mediador discursivo, como articulador de um campo dialógico e polissêmico. Sandano parte do conceito de relativismo na filosofia da ciência, especialmente em Feyerabend, para, então, analisar os conceitos de objetividade e neutralidade. O relativismo não seria uma exigência metodológica, mas uma postura de abertura dialógica para o outro. Não significa que todas as perspectivas são igualmente válidas, mas implica a importância de se considerar a pluralidade de visões de mundo. Não se nega, assim, a possibilidade de um conhecimento objetivo, mas ressalta-se que a objetividade está inserida em um sistema complexo de múltiplas diferenças. O autor também lança mão da perspectiva construtivista, no sentido de reconhecer que o conhecimento da realidade é uma forma de intervir na transformação da própria realidade. A crítica à objetividade não se trata, portanto, de uma crítica à objetividade como valor cognitivo no jornalismo. Esse valor continua a ser importante. O problema é considerá-lo isoladamente, distanciado de outros valores, como os sociais, por exemplo. Sandano efetua a articulação da objetividade com o conceito de empatia, entendida, resumidamente, como abertura subjetiva a valores exógenos, como uma capacidade 39 dialógica de aprendizagem com o diferente, de interação com culturas e visões de mundo distintas da nossa. Assim, partindo de uma ideia de objetividade distante do sentido de uma ação livre de juízos de valor, e articulando essa ideia com o conceito de empatia, o autor propõe o conceito de “neutralidade inclusiva”. Haveria uma “neutralidade restritiva”, baseada em uma ideia positivista de objetividade científica, que significa ausência de juízos de valor, e, contrapondo- se a ela, uma “neutralidade inclusiva”, baseada no relativismo e na relação entre objetividade e empatia, que remete à inclusão da maior variedade possível de vozes (polifonia) e de sentidos (polissemia). Com base em uma “neutralidade inclusiva”, a prática jornalística passa a funcionar em um regime de interação não mais de sujeito-objeto, mas de sujeito- sujeito, e “o jornalismo deixa assim de ser entendido como o relato objetivo da verdade e passa a articular objetivamente as perspectivas subjetivas” (Sandano, p. 91). Articulando objetividade e empatia, passa-se, assim, de uma neutralidade negativa (ausência de juízos de valor) para uma neutralidade positiva (maior inclusão de vozes e sentidos distintos). O autor analisa, como exemplo, a cobertura jornalística e os debates sobre a relação conflituosa entre Ocidente e Oriente com base nas manifestações a respeito da divulgação do vídeo Innocence os muslims e das charges satíricas representando Maomé, do semanário francês Charlie Hebdo. Verifica-se, assim, como o jornalismo atua em situações de conflitos comunicacionais. O autor dividiu o corpus de análise em quatro grupos, em um movimento que vai do maior fechamento para a maior inclusão possível de perspectivas. Temos, assim, o grupo da “Restrição dogmática” (incompreensão deliberada e fechamento total a outras perspectivas, na qual a possibilidade de comunicação dialógica é mínima); da “Restrição objetiva” (submete o entendimento às normas técnicas em uma abordagem descontextualizada descritiva, na qual as contradições da realidade social são resolvidas colocando- 40 se duas opiniões dicotômicas lado a lado); da “Restrição subjetiva” (abordagem descontextualizada interpretativa que reduz a complexidade a uma perspectiva unidimensional); e, por fim, da “Restrição autoral e tolerante” (a abertura dialógica significando uma visão crítica dos próprios paradigmas). Porém, é preciso ressaltar que, ao fazer essa diferenciação, Sandano não pretende uma normatização técnica da prática jornalística. A “restrição autoral e tolerante” não seria a melhor e a única forma de retratar a realidade, seria aquela que fornece uma resposta melhor para a comunicação entre diferentes visões de mundo, comunicação esta que se verifica de forma intensa e constante no ambiente globalizado e no mundo das redes digitais. “A narrativa jornalística não se formaria pelo consenso, mas sim pela articulação coerente das controvérsias e das contradições presentes no fato (dado empírico)” (SANDANO, p. 121). No último Verifica a presença de um embate entre “apocalípticos”
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