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ESTADOS UNIDOS 
O mundo olha para obama 
O novo presidente americano assume o cargo com a missão de consertar a economia mais poderosa do planeta 
Quando os 4 milhões de pessoas esperadas para a cerimônia de posse de 20 de janeiro estiverem tomando o rumo de casa e Barack Obama encontrar-se pela primeira vez no Salão Oval na condição de presidente dos Estados Unidos, a população do planeta vai respirar fundo e, mesmo que em segredo, torcer por seu sucesso. Não apenas porque sua eleição marca o ponto final de uma das mais desastradas administrações a ocupar a Presidência da maior potência do planeta mas também porque a missão - ou melhor, as missões - que se impõe a Obama é do interesse do mundo todo. Como se diz no mundo das empresas, somos todos stakeholders da futura administração Obama. O candidato que se elegeu com base em uma única palavra, mudança, será dentro de poucos dias o grande responsável por torná-la realidade. Do lado da diplomacia, Obama terá de reconstruir pontes com o resto do mundo. Um dos legados cruéis do unilateralismo de George W. Bush é a expansão do sentimento antiamericano. Caberá a Obama estender a mão a antigos aliados que viraram as costas para os Estados Unidos. Também estará na agenda do novo presidente manter duas guerras. No Iraque, depois de cinco sangrentos anos, os sinais de melhora finalmente começaram a aparecer em 2008. Mas ainda falta colocar no papel o inadiável plano de saída. Se as notícias do front iraquiano são positivas, no Afeganistão a escalada da violência provavelmente vai exigir um renovado compromisso - de homens, equipamentos e dinheiro. 
E dinheiro não está exatamente sobrando nos Estados Unidos. Obama vai assumir um país com uma dívida de mais de 10 trilhões de dólares e um déficit orçamentário de 1 trilhão de dólares projetado para 2009, incluindo na conta o fundo de salvamento dos bancos. Sua campanha eleitoral durou quase dois anos, e um ponto que nunca deixou de ser mencionado nos discursos do democrata foi a reforma do sistema público de saúde. Obama prometeu cobertura universal aos mais de 300 milhões de americanos. Já presidente eleito, anunciou um programa de investimentos em obras de infra-estrutura para reanimar a economia. O capital político está garantido pelo menos nos dois primeiros anos do governo, pois os democratas têm o controle das duas casas do Congresso. A história, entretanto, será bem diferente quando chegar a hora de desembolsar os recursos para esses dois projetos grandiosos. 
Ninguém faz nada sozinho, especialmente o executivo-chefe de uma máquina tão complexa e poderosa como o governo americano. A sabedoria das escolhas de Obama para os postos-chave de sua equipe econômica será posta à prova logo em 21 de janeiro, o primeiro dia dos Estados Unidos sob nova administração. Com as taxas de juro perto de zero, o Federal Reserve, o banco central americano, terá pouca margem de manobra para fazer a economia pegar no tranco. O indicado para o Tesouro, Timothy Geithner, já provou sua competência no manejo da crise dos Tigres Asiáticos, dez anos atrás, quando era subsecretário do Tesouro. Geithner também fez parte da tropa de elite que teve de encontrar às pressas as respostas para o terremoto financeiro causado pelo estouro da bolha imobiliária. Mas nunca na história um secretário do Tesouro assumiu o cargo com tanta responsabilidade. Além da magnitude da crise, os eventos do mês de outubro provocaram uma intervenção econômica impensável na pátria do neoliberalismo e mudaram para sempre a expectativa que se tem sobre a atuação do governo em tempos de turbulência. 
Manter as cada vez mais fluidas barreiras que separam o Estado da iniciativa privada será outra incumbência de Obama. Além das implicações práticas da ajuda às três grandes montadoras - decidida no governo Bush, é verdade, mas com apoio declarado do novo presidente -, não faltarão leituras doutrinárias sobre o papel da mão visível e pesada do Estado nas democracias de todo o mundo. Um artigo recente do jornalista Thomas Friedman, articulista do The New York Times, é um indicador da confusão ideológica que parece tomar conta do mundo. "É difícil evitar a conclusão de que os Estados Unidos e a China estão se tornando dois países, um sistema", escreveu Friedman, um trocadilho cruelmente preciso com a famosa frase usada pelo líder chinês Deng Xiaoping para descrever o convívio entre o comunismo da China e o capitalismo de Hong Kong. 
A única certeza que existe é que o primeiro ano de Obama será uma decepção. Não poderia ser diferente. Ele carrega as esperanças de milhões de americanos e de bilhões de não-americanos que não puderam votar em novembro, mas que contavam os dias para ver o fim de um governo que foi unanimidade em suas trapalhadas e erros de avaliação. Consertar esse legado desastroso e lidar com uma crise econômica cujas reais dimensões até hoje não são conhecidas são duas tarefas que podem consumir uma geração, não um mandato de quatro anos. E nessa conta não entram chineses, indianos e brasileiros, cujo ímpeto consumidor será determinante para uma recuperação mais rápida e menos dolorosa da economia mundial. Nas duas frentes mais importantes, a política externa e a economia, Obama montou equipes estreladas e de competência reconhecida. Antes mesmo de assumir, deu indicações claras de seu plano de ação nas áreas que exigirão cuidado mais urgente. E não parou por aí. Prometeu mudar o curso da política energética americana e abandonar o vício do petróleo com investimentos em energias renováveis. Ao mesmo tempo, não poderá ir de encontro aos poderosos interesses da indústria petrolífera do país. A alguns interlocutores, disse ser favorável a manter as políticas de abertura comercial. Para outros, disse que os americanos não mais perderão seus empregos para estrangeiros. Administrar a enorme expectativa criada em torno de sua imagem - e que ele sem dúvida ajudou a alimentar - já seria trabalho suficiente para encher a agenda de 2009 de Obama. Haja torcida. 
Sérgio Teixeira Jr. 
BRASIL 
As expectativas vão ditar o tom 
Num momento de grande incerteza, a percepção do futuro é um indicador fundamental para saber o que esperar da economia brasileira em 2009 
Num artigo recente, o economista Robert Shiller, professor da Universidade Yale que ficou célebre ao descrever a "exuberância irracional" da bolsa de valores americana nos anos 90, levantou mais um desafio para o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama. Para Shiller, além de colocar em prática medidas de estímulo à economia, Obama teria de lançar um plano para criar empregos para todos. "Se o novo presidente tivesse o pleno emprego como meta, e se os americanos acreditassem que isso poderia ser atingido, o problema de falta de confiança (da população no futuro da economia) poderia ser rapidamente resolvido." As declarações de Shiller tocam num dos temas mais debatidos da teoria econômica e que ganhou relevância ainda maior em razão da crise global: a importância que as expectativas têm para determinar o desempenho de uma economia. "A percepção do que pode ocorrer no futuro é um componente vital do capitalismo", diz o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos. "Sem isso, empresas, indivíduos e governos não conseguem se planejar." 
O tema foi abordado de forma profunda pela primeira vez pelo economista britânico John Maynard Keynes, nas primeiras décadas do século 20. Mais recentemente, alguns prêmios Nobel foram concedidos a economistas e psicólogos que voltaram a discutir o tema - um deles é o americano Robert Lucas, professor da Universidade de Chicago. Num momento de grande indefinição como o atual, as expectativas são um importante farol que indica o que pode ocorrer na economia mundial nos próximos meses. "As previsões se formam em cima de números reais do mercado e também por meio da troca de informações", diz Marco Aurélio Cabral, professor do Ibmec Rio de Janeiro. "Quando as empresas dizem que vão demitir, elas contribuem para formar expectativas." Damesma maneira, o desempenho das bolsas de valores, das vendas de Natal e até dos gastos do Estado é um indicador poderoso do que investidores, empresários e governo esperam do futuro. 
Nos Estados Unidos, para onde quer que se olhe, o clima é de pessimismo, e o cenário, de pesada retração econômica. Isso é verdade quando se observa a forte baixa da bolsa de Nova York - o Índice Dow Jones caiu mais de 30% em 2008 até meados de dezembro - e quando se constata a melancolia de vendedores em lojas e cafés localizados próximos a Wall Street, o coração financeiro americano. No Brasil, entretanto, as expectativas em relação a 2009 fazem o país viver um aparente paradoxo. De um lado, os números gerais sobre a economia pintam um quadro de euforia. O produto interno bruto cresceu 6,8% no terceiro trimestre de 2008, frente ao mesmo intervalo do ano anterior. É um recorde para o período desde 1996, quando o IBGE iniciou a nova metodologia de cálculo do PIB. O país também está menos vulnerável a choques externos - o saldo de reservas internacionais soma cerca de 200 bilhões de dólares e está entre os maiores do mundo. As empresas, porém, passaram os últimos meses se preparando para o pior. As montadoras deram férias coletivas a milhares de funcionários e algumas das maiores companhias do país, como a Vale, já reduziram a produção e anunciaram demissões. Só em novembro, a indústria paulista fechou 34 000 postos de trabalho, segundo a Fiesp. "As companhias estão se antecipando à provável piora da situação do país, e fazer cortes é uma decisão perfeitamente racional. A crise está aí, há motivos para se preocupar", diz Edmar Bacha, consultor sênior do banco Itaú BBA. 
Embora existam incertezas sobre como a crise global vai influenciar a economia brasileira de fato, restam poucas dúvidas de que haverá menos crescimento econômico. A previsão média de consultorias especializadas e analistas de bancos e corretoras indica que o PIB crescerá ao redor de 2,5% em 2009. Pode parecer exagero demitir e reduzir a produção para se preparar para um ano em que a expansão deverá ficar próxima da média histórica dos últimos dez anos. O problema, novamente, tem a ver com expectativas. "As empresas vinham investindo, construindo fábricas e contratando pessoal com base numa perspectiva de crescimento acelerado, superior a 5%. O panorama mudou radicalmente em pouco tempo, e agora elas têm de se adaptar", diz Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Consultoria e ex-diretor do Banco Central. "A inércia de 2008 fará o PIB crescer 1% em 2009. Portanto, quando se fala em crescimento de 2%, na verdade isso significa adicionar apenas 1 ponto percentual a esse resultado, o que é bastante ruim." 
Parte da freada da economia deverá ser causada pela queda das exportações. Tudo indica que o menor crescimento mundial e a diminuição dos preços das commodities irão reduzir a quantidade e o valor dos produtos brasileiros vendidos no exterior. Além disso, a expansão mais conservadora do crédito, que foi um dos principais motores do consumo e dos investimentos das empresas nos últimos três anos, também deverá contribuir para segurar a economia em 2009. De acordo com um relatório especial do banco Votorantim, o volume de empréstimos e financiamentos, que chegou a aumentar cerca de 30% recentemente, deve apresentar uma expansão de apenas "um dígito" em 2009. "A redução dos financiamentos afetará os mercados de produtos de maior valor, como os automóveis", diz o relatório. Onde o crédito já rareou, as conseqüências foram visíveis e danosas. As vendas de veículos baixaram 26% em novembro frente ao mês anterior, o que levou o governo a anunciar um pacote de ajuda ao setor, com o corte de impostos. Se não é suficiente para reverter a queda de vendas, o pacote é mais um sinal de que 2009 promete ser um ano bem mais complicado do que foi 2008. 
Giuliana Napolitano 
BRIC 
A china é o fiel da balança 
O tamanho da crise neste ano novo vai depender do comportamento do gigante asiático 
Há 30 anos, a China iniciava um novo capítulo de sua história de dois milênios como nação. Numa reunião em dezembro de 1978, o Partido Comunista Chinês, no poder desde 1949, ratificava as primeiras medidas de uma série de reformas que transformaram a atrasada nação asiática num dos principais dínamos da economia mundial. Nas últimas três décadas, a China protagonizou a mais impressionante transformação econômica da história. Nesse período, multiplicou seu produto interno bruto por 68, assumindo a posição de quarta maior economia do mundo, com PIB de 3,4 trilhões de dólares em 2007. O salto na produção de riquezas tirou da pobreza cerca de 200 milhões de pessoas. A transformação chinesa fica ainda mais palpável nas imagens dos modernos arranha-céus de cidades como Pequim e Xangai e pôde ser contemplada em cadeia global há poucos meses, durante a transmissão da Olimpíada. 
Tamanha transformação não teve impacto apenas na vida de chineses. Hoje, em meio a uma das mais desafiadoras crises, o mundo inteiro volta-se para a China. O país é uma espécie de comissão de frente de um conjunto maior, o dos emergentes, que ganham importância econômica e geopolítica, em particular o bloco batizado de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Os desdobramentos da crise sobre esses países, principalmente sobre a China, por sua dimensão e integração internacional, fará a diferença na economia em 2009. 
O ano novo nasce sob apreensão e dúvidas como há muito não ocorria. Entre previsões catastrofistas e otimistas, o cenário mais aceito entre economistas é o de um desempenho dos emergentes bem superior ao do mundo rico, que viverá uma crise de magnitude elevada. "Não que eles sejam capazes de salvar o mundo. Longe disso, mas continuarão a ganhar relevância", afirma Paulo Leme, diretor para mercados emergentes do banco Goldman Sachs. Todos, sem exceção, estão sofrendo as conseqüências da derrapada da economia americana. Um indicador do poderio da crise é o desempenho das exportações chinesas, que caíram 2% em novembro, depois de crescer 19% em outubro e 20% ao ano durante a década. Espera-se que, em 2009, as exportações avancem apenas 5%, devido à forte retração dos mercados americano e europeu, os mais abatidos pela derrocada financeira e consumidores de 40% das vendas chinesas. Haverá também redução de investimentos diretos estrangeiros, que jorraram nos últimos anos. 
O sucesso da China nas três últimas décadas impõe ao país a responsabilidade de produzir mais sucesso. Estima-se que o país tenha de crescer, pelo menos, 8% ao ano para absorver os 7 milhões de jovens que ingressam no mercado de trabalho anualmente. O discurso do presidente Hu Jintao durante as comemorações dos 30 anos das reformas acusou o peso da responsabilidade. "Ainda temos um longo caminho a percorrer antes de alcançar o grande objetivo. Não podemos relaxar", afirmou ele. O "grande objetivo" é a prosperidade do povo chinês. Um pacote do governo anunciado em novembro deve injetar quase 600 bilhões de dólares na economia nos próximos anos. A ênfase das medidas está no crescimento doméstico. Os investimentos deverão se materializar em compras de cimento e metais e no aumento do consumo de energia. Relatórios do Banco Mundial, do Bradesco e do Credit Suisse apostam que o governo chinês conseguirá levar o país a crescer entre 7% e 8% em 2009. 
Nem todos os emergentes têm governos em condições chinesas, com reservas de mais de 1 trilhão de dólares e contas com superávit de quase 5%. A Rússia enfrenta situação mais delicada. Possui uma estrutura produtiva incapaz de atender ao mercado doméstico, o que a deixa mais exposta à inflação - em 2008, deve fechar em 14%, a mais alta dos emergentes. Ainda assim, as projeções para a economia russa são de crescimento de 3%. A Índia, cujo crescimento em 2009 é previsto em 5,5%, não poderá contar com muita ajuda do governo, às voltas com um déficit de 8% do PIB. E o país ainda sente o trauma dos recentes ataques terroristas em Mumbai, centro econômico do país. O Brasil deve ter o crescimento mais modestodo bloco, em torno de 2,5%, embora esteja em melhor situação que a Rússia e a Índia. 
A crise atual está servindo, sobretudo, para trazer à tona uma reflexão fundamental para qualquer sociedade moderna: afinal, qual a função do Estado? Essa reflexão costuma ser distorcida tanto pelos que advogam em favor do Estado mínimo como pelos defensores de um Leviatã todo-poderoso. "Em ambos os casos, a discussão não leva ao avanço, mas ao embaçamento do real papel do que chamamos de Estado, um agente essencial para qualquer sociedade civilizada", diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. Argumentos enviesados servem ou para enfraquecê-lo e desprovê-lo de sua função de guardião das regras criadas pela própria sociedade ou para fortalecê-lo ao ponto de extrapolar seus domínios e transformá-lo num inibidor de iniciativas individuais, o maior motor de progresso da humanidade. 
Roberta Paduan 
NEGÓCIOS 
A ética em debate 
O esquema Madoff é só mais um capítulo da série de escândalos em Wall Street. Dá para recuperar o sistema da ganância desenfreada de seus integrantes? 
Arecente prisão de Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq e até recentemente um dos nomes mais cultuados da comunidade financeira internacional, coroou uma inacreditável seqüência de escândalos em Wall Street, o coração do sistema capitalista internacional. Da noite para o dia, descobriu-se que Madoff liderou durante anos uma fraude que pode ultrapassar a marca de 50 bilhões de dólares, capaz de posicioná-lo com destaque em qualquer ranking dos maiores esquemas de corrupção de que se tem notícia. Com mais esse capítulo, 2008 se inscreve definitivamente como um dos piores anos da história de Nova York, a cidade-símbolo das finanças globais. Não tanto pela queda abrupta das cotações e pelo subseqüente derretimento de fortunas construídas em anos anteriores - afinal, a instabilidade constitui a própria natureza do capitalismo financeiro, e cedo ou tarde as boas notícias voltarão. O que distingue o momento atual de outros períodos ruins para o mercado é a herança maldita em termos da crença nos pilares do sistema econômico. Desta vez, não foram crises na economia real, safras agrícolas frustradas, guerras ou um repique inflacionário que estiveram na origem das desvalorizações nas bolsas do mundo todo. A fonte dos problemas esteve, antes de tudo, no campo ético, na enorme falta de confiança. 
O que exatamente deu errado? É essa a discussão que vai consumir alguns dos melhores cérebros ao longo de 2009. O mal-estar que reina no mercado parte da percepção de que o esquema Madoff não foi apenas um escorregão bilionário de um empresário desonesto. Quando se olha o filme todo da crise financeira, o episódio Madoff não é lá muito diferente de tantos outros - a ponto de o economista Paul Krugman, o mais recente vencedor do prêmio Nobel, se referir à economia americana como a "economia Madoff": ganhos anuais milionários com base em produtos financeiros incompreensíveis; somas estrondosas aplicadas em investimentos de péssima qualidade, sempre com o aval das agências de risco. Em vez de cumprir seu papel de fazer o dinheiro circular das mãos de quem tem para as de quem precisa, o mercado financeiro transformou-se numa grande festa. Ao final dela, os investidores perderam quase tudo. Isso enquanto a fortuna dos homens pagos para cuidar de seu dinheiro, recebido de antemão quando o castelo de cartas ainda estava de pé, permanecia intacta. "Quão distinta, afinal, é a história de Madoff da indústria de investimentos como um todo?", pergunta Krugman. 
Não existem respostas fáceis para os problemas acumulados nos anos de euforia. Há pelo menos duas ordens de questões a ser enfrentadas. No primeiro grupo estão as de cunho técnico. O mundo financeiro necessariamente terá de evoluir, mas é preciso saber como a mudança se dará. Há consenso de que a regulação do sistema falhou. Ninguém sabe exatamente como consertá-la. Há consenso de que os ganhos de curtíssimo prazo dos gestores induzem ações irresponsáveis. Também nesse caso as soluções não são simples. As agências de avaliação de risco perderam o rumo em meio a um claro conflito de interesses - quem pagava pelos ratings eram as empresas a ser avaliadas. Pouco se avançou também nesse terreno. Certamente esses e outros pontos estarão em foco ao longo do ano que se inicia. 
Paralelamente ao debate econômico, é preciso que se busquem respostas também no terreno da ética propriamente dita - uma discussão que remonta aos gregos antigos e que certamente não será esgotada nos próximos 12 meses. Melhorias do sistema à parte, não dá para imaginar que os espaços para eventuais desvios de conduta sejam eliminados. Sempre haverá - felizmente - uma margem de manobra puramente individual. O que fazer se executivos desonestos se mostram afoitos para burlar as regras ao primeiro sinal de oportunidade? O que pode ser feito para incutir novamente valores num sistema que parece contaminado pela corrupção? 
A ironia é que as fraturas éticas do capitalismo surgem no momento de seu triunfo - quando até a ex-comunista China se vê no papel de estrela do sistema. Durante o período da Guerra Fria, a busca não era apenas de superioridade econômica. A disputa era igualmente ferrenha no campo dos valores - de um lado, a solidariedade do novo homem socialista, afinal liberto da milenar exploração de seus pares; de outro, a liberdade do indivíduo como ente supremo no reino capitalista, num ambiente de respeito às leis e ao direito do próximo. "Quando o capitalismo americano não precisou mais se preocupar com o comunismo, parece ter enlouquecido", escreveu recentemente o jornalista americano Thomas Friedman. A competição, engrenagem tão cara ao sistema capitalista, anda em falta no campo das idéias. Como não há sinal de outro sistema para confrontá-lo, desta vez a revolução ética terá de nascer de dentro do próprio capitalismo. 
André Lahoz
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