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Serviço Social e Processos de Trabalho (1)

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A relação capital versus trabalho 
APRESENTAÇÃO
O trabalho exerce uma função central na vida dos indivíduos e é definido por Marx como uma 
interação entre o homem e a natureza, de modo a satisfazer uma necessidade humana. No 
entanto, no modo de produção capitalista existem muitas contradições relacionadas ao mundo 
do trabalho decorrentes do sistema vigente.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá os conceitos de capital e trabalho 
apresentados por Karl Marx, assim como as suas relações na sociedade capitalista e o 
desenvolvimento do capitalismo em meio ao mundo globalizado.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Explicar os conceitos de capital e trabalho para Karl Marx.•
Analisar as relações de capital e trabalho no modelo capitalista de produção.•
Descrever o processo de desenvolvimento do capitalismo no mundo globalizado.•
INFOGRÁFICO
A mais-valia é um conceito criado por Karl Marx. Tal conceito relaciona a força de trabalho 
com o tempo de realização desse trabalho e com o lucro obtido pelo empregador. A mais-valia 
tem como característica principal a desigualdade entre o valor do trabalho e a remuneração 
recebida pelo trabalhador pela venda da sua força de trabalho.
Confira no Infográfico a seguir um pouco mais sobre esse importante conceito incorporado por 
Marx.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
CONTEÚDO DO LIVRO
É importante destacar que não existe o trabalho humano sem consciência, sem uma finalidade a 
ser alcançada, pois todo o trabalho busca a satisfação de uma necessidade. No entanto, com a 
expansão do capital e a sua mundialização, tem-se não apenas mudanças na estrutura econômica 
e financeira, mas também na forma de produção e estrutura de trabalho propriamente dita.
No capítulo A relação capital versus trabalho, da obra Questão social, direitos humanos e 
diversidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai compreender melhor a 
relação entre o trabalho e sociedade capitalista, de acordo com as ideias de Marx.
Boa leitura.
QUESTÃO SOCIAL, 
DIREITOS HUMANOS 
E DIVERSIDADE
Daniella Tech Doreto
A relação capital 
versus trabalho
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar os conceitos de capital e de trabalho para Karl Marx.
  Analisar as relações de capital e trabalho no modelo capitalista de 
produção.
  Descrever o processo de desenvolvimento do capitalismo no mundo 
globalizado.
Introdução
O trabalho exerce uma função central na vida dos indivíduos. Ele é definido 
por Marx como a interação que ocorre entre homem e natureza a fim de 
satisfazer uma necessidade humana. No entanto, no modo de produção 
capitalista existem muitas contradições relacionadas ao mundo do trabalho. 
Com a expansão do capital e a sua mundialização, ocorreram não apenas 
mudanças na estrutura econômica e financeira, mas também modificações 
na forma de produção e no sistema de trabalho propriamente dito. 
Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos de capital e trabalho 
formulados por Karl Marx. Além disso, você vai ver como esses elementos 
se configuram na sociedade capitalista e estudar o desenvolvimento do 
capitalismo no mundo globalizado.
Conceitos de capital e trabalho por Karl Marx
Karl Marx foi um fi lósofo que viveu entre 1818 e 1883. Sua obra infl uenciou 
ciências como a economia, a sociologia, a história e tantas outras. Além 
disso, suas ideias têm especial importância para o Serviço Social. De forma 
ampla, você pode considerar que Marx realizou uma análise da sociedade 
moderna tentando compreender a sua estrutura, a sua consolidação e o seu 
desenvolvimento associado ao capitalismo. Ele também estudou a categoria 
trabalho e a sua relação com o capital.
Como você sabe, o trabalho exerce uma função central na vida dos in-
divíduos. Marx define o trabalho como uma interação entre o homem e a 
natureza. Assim, os elementos da natureza são modificados mediante uma 
ação humana consciente, realizada com vistas a determinado objetivo. É por 
meio do trabalho que o ser humano se apropria da natureza para satisfazer 
necessidades e objetivos pessoais. 
Navarro e Padilha (2007) apontam que, ao atuar sobre a natureza, o ho-
mem modifica a si próprio, uma vez que, ao término desse processo, ele não 
é o mesmo. Isso porque, ao transformar a natureza, novas necessidades e 
questionamentos vão surgindo. Isso faz com que o homem volte seu olhar 
para aspectos inexistentes para ele até então. As autoras acrescentam ainda 
que o trabalho humano não existe sem consciência, sem uma finalidade a ser 
alcançada. Todo trabalho busca a satisfação de uma necessidade. 
Para Marx (1989, p. 208):
O processo de trabalho, que descrevemos em seus elementos simples e abs-
tratos, é atividade dirigida com o fim de criar valores de uso, de apropriar 
os elementos naturais às necessidades humanas; é condição necessária do 
intercâmbio material entre o homem e a natureza; é condição natural eterna 
da vida humana, sem depender, portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo 
antes comum a todas as suas formas sociais.
Em outras palavras, o processo de trabalho atribui à atividade humana 
valores de uso, pois “[...] a existência de cada elemento da riqueza material 
não existe na natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade especial 
produtiva, adequada a seu fim, que assimila elementos específicos da natureza 
a necessidades humanas específicas [...]” (MARX, 1985, p. 50).
Paralelamente à noção de trabalho, outros conceitos diretamente relacio-
nados a ela foram introduzidos por Marx, como o de meios de produção. 
Segundo a teoria marxista, os meios de produção são o conjunto constituído 
pelos meios e objetos de trabalho. Ou seja, são todos os elementos que perpas-
sam a relação entre o homem e o trabalho desenvolvido por ele no processo de 
transformação da natureza. Assim, os meios de trabalho podem ser entendidos 
como aqueles elementos fundamentais para o processo de trabalho. Esses 
elementos funcionam como precondição para que o trabalho aconteça. É o 
caso de instrumentos, ferramentas, entre outros. Os objetos de trabalho, por 
sua vez, podem ser entendidos como os elementos sobre os quais o trabalho 
é aplicado, assim como os recursos da natureza e as matérias-primas.
A relação capital versus trabalho2
Como você viu, para que o trabalho aconteça, é necessária a ação humana, 
ou seja, a força de trabalho. Esta última e os meios de produção definidos 
anteriormente constituem as forças produtivas, de acordo com a teoria mar-
xista. Além disso, as forças produtivas, juntamente às relações de produção, 
compõem o chamado modo de produção, que é a forma como a sociedade está 
organizada. O modo de produção pode ser, por exemplo, escravista, feudalista, 
capitalista, socialista, entre outros. 
Essas considerações são importantes pois Marx apresenta um ponto de 
vista amplo sobre a questão do trabalho. Ele vai além da ação humana so-
bre a natureza para a satisfação das necessidades básicas. Marx insere esse 
processo no contexto da sociedade e de seu desenvolvimento, afirmando 
que o trabalho deve ser historicamente determinado. No modo de produção 
capitalista, existem muitas contradições relacionadas ao mundo do trabalho 
(NAVARRO; PADILHA, 2007). Nesse sentido, faz-se necessário apresentar 
o que Marx chamou de capital.
Bottomore (2012), no Dicionário do Pensamento Marxista, aponta que, 
genericamente, o capital é algo específico do capitalismo e que nesse sistema a 
produção do capital prevalece sobre qualquer outro tipo de produção. Segundo 
o autor, o “[...] capital tem a ver com fazer dinheiro, mas os bens que fazem 
dinheiro encerram uma relação particular entre os que têm dinheiro e os que 
não o têm, de modo que não só o dinheiro é feito, como também as relações 
de propriedades privadas [...]” (BOTTOMORE, 2012, p. 64). Nesse sentido:
O capital não é uma coisa,mas uma relação de produção definida, pertencente 
a uma formação histórica particular da sociedade, que se configura em uma 
coisa e lhe empresta um caráter social específico [...] são os meios de produção 
monopolizados por um certo setor da sociedade, que se confrontam com a 
força de trabalho viva enquanto produtos e condições de trabalho tomados 
independentes dessa mesma força de trabalho que são personificados em vir-
tude dessa antítese, no capital. Não são apenas os produtos dos trabalhadores 
transformados em forças independentes, produtos que dominam e compram 
de seus produtores, mas também, e sobretudo, as forças sociais e [...] a forma 
desse trabalho, que se apresentam aos trabalhadores como propriedade de 
seus produtos. Estamos, portanto, no caso, diante de uma determinada forma 
social, à primeira vista muito mística, de um dos fatores de um processo de 
produção social historicamente produzido (BOTTOMORE, 2012, p. 64).
Como você pode notar, a definição de capital não é algo simples. Marx 
explora seus vários significados. Vale enfatizar, no entanto, a intrínseca relação 
existente entre o capital e o trabalho, especialmente no contexto do capitalismo, 
como Marx tanto destaca em suas obras.
3A relação capital versus trabalho
Capital e trabalho no modelo capitalista 
de produção
Para refl etir sobre a relação entre capital e trabalho, é interessante recorrer à 
análise que Navarro e Padilha (2007) fazem sobre a importância do trabalho para 
os indivíduos. Segundo as autoras, o trabalho representa uma fonte de experiência 
psicossocial, já que exerce papel central na vida das pessoas, ocupando boa parte 
do espaço e do tempo da vida cotidiana. Assim, o trabalho “[...] não é apenas 
meio de satisfação das necessidades básicas, é também fonte de identifi cação e 
de autoestima, de desenvolvimento das potencialidades humanas, de alcançar 
sentimento de participação nos objetivos da sociedade. Trabalho e profi ssão 
(ainda) são senhas de identidade [...]” (NAVARRO; PADILHA, 2007, p. 14).
Assim, é por meio do trabalho que o homem se torna um ser social. De acordo 
com Barroco (2010, p. 26), “[...] o trabalho é o fundamento ontológico-social 
do ser social; é ele que permite o desenvolvimento de mediações que instituem 
a diferencialidade do ser social em face de outros seres da natureza [...]”. O 
autor ainda complementa: “[...] as mediações, capacidades essenciais postas em 
movimento através de sua atividade vital, não são dadas a ele [ser social]; são 
conquistadas no processo histórico de sua autoconstrução pelo trabalho. São 
eles: a sociabilidade, a consciência, a universalidade e a liberdade [...]”. 
O trabalho, enquanto responsável pela reprodução do ser social, adquire 
um caráter universal e sócio-histórico. Assim, ele não é obra de um indivíduo. 
É, antes, uma cooperação entre os homens, ou seja, só se objetiva socialmente 
e de maneira determinada. Além de responder a demandas sócio-históricas, 
o trabalho gera formas de interação como a linguagem, as representações e 
os costumes que compõem a cultura (BARROCO, 2010).
Para Navarro e Padilha (2007), o trabalho é fonte de humanização e res-
ponsável pelo surgimento do ser social. Contudo, sob a lógica do capital, ele 
se torna alienado e perde o seu sentido principal: produzir coisas úteis, que 
atendem às necessidades humanas. Assim, passa a atender aos interesses do 
capital. No sistema capitalista, há uma separação clara entre o trabalho e os 
meios de produção. Afinal, o proprietário da força de trabalho vende-a ao 
proprietário dos meios de produção, recebendo em troca uma remuneração 
(salário). Segundo Marx (1989), isso acontece pois o trabalhador foi previamente 
afastado de toda propriedade e sente-se obrigado a vender a única coisa que 
possui, o seu trabalho, para assegurar a sua sobrevivência, passando a adquirir 
a condição de trabalhador assalariado. Dessa forma, de acordo com o filósofo, 
o trabalho é visto como algo alheio ou estranho ao trabalhador, que se dedica 
a um objeto que não pertence a ele (MARX, 1989).
A relação capital versus trabalho4
Na sociedade capitalista contemporânea, em razão da apropriação privada 
dos meios de produção e da maneira pela qual a vida social se reproduz, o 
trabalho deixa de lado a sua potência emancipadora. Assim, “[...] invertendo 
seu caráter de atividade livre, consciente, universal e social, propicia que os 
indivíduos que realizam o trabalho não se reconheçam nele como sujeitos [...]” 
(BARROCO, 2010, p. 33). Isso faz com que o trabalhador torne-se alienado no 
processo de trabalho que lhe fornece identidade humana: “[...] o trabalhador 
se aliena do objeto que ele mesmo criou; com isso se aliena da atividade, da 
relação — consigo mesmo e com os outros [...]” (BARROCO, 2010, p. 34).
Netto (1994, p. 74) considera a alienação no contexto da sociedade capi-
talista como um complexo de causalidades e resultantes histórico-sociais. 
Tal complexo 
[...] desenvolve-se quando os agentes sociais particulares não conseguem 
discernir e reconhecer nas formas sociais o conteúdo e o efeito de sua ação 
e intervenção; assim, aquelas formas e, no limite, a sua própria motivação à 
ação lhes aparecem como alheias e estranhas [...].
Para Barroco (2010, p. 34):
O trabalhador é alienado da totalidade do processo de trabalho, ou seja, da 
propriedade dos meios de trabalho, do controle sobre o processo de trabalho 
e de seu produto final. Como trabalhador assalariado, ele só dispõe de sua 
força de trabalho, entrando no processo em condições desiguais; durante o 
processo, sua participação é fragmentada, pois ele não tem controle sobre 
a totalidade do mesmo; utiliza suas capacidades de forma limitada e não se 
apropria do produto do seu trabalho. Sai do processo tendo criado um valor 
a mais — a mais valia, que excede o valor de seu salário e é apropriado 
pelo capital — e um produto que não lhe pertence com o qual ele não se 
identifica; o seu salário lhe permite somente sobreviver fisicamente para 
reiniciar o processo.
Mais-valia é um conceito criado por Marx. Tal conceito relaciona a força 
de trabalho com o tempo de realização desse trabalho e com o lucro obtido 
pelo empregador. A mais-valia tem como característica principal a desigual-
dade entre o valor do trabalho e a remuneração recebida pelo trabalhador pela 
venda da sua força de trabalho. Trata-se de uma forma de exploração presente 
no sistema capitalista. Em outras palavras, a força de trabalho vendida pelo 
trabalhador é agregada ao valor atribuído ao capital no processo de produ-
ção, agregando ainda mais valor ao capital inicial, o que gera a mais-valia. 
5A relação capital versus trabalho
A princípio, a mais-valia se apresenta como uma consequência simples do 
processo de produção. No entanto, ela é muito mais do que isso, pois é ela 
que movimenta e impulsiona todo esse processo. Isso porque o interesse do 
capital está voltado para a mais-valia.
Como você pode observar, a sociedade capitalista e a sua lógica de acu-
mulação de capital fazem com que o trabalhador se torne alienado em relação 
ao trabalho que realiza e não possa se apropriar do produto que criou. Essa 
alienação perpassa a vida do trabalhador em várias dimensões. Assim, o ser 
social, “[...] como um ser da práxis, passa a constituir-se como um campo de 
possibilidades; se realiza em termos do desenvolvimento humano-genérico 
mas não se objetiva para o conjunto dos indivíduos sociais [...]” (BARROCO, 
2010, p. 35).
Nesse processo, tornam-se adequadas as palavras de Marx (1989, p. 148), 
para quem o trabalhador “[...] se torna tão mais pobre quanto mais riqueza pro-
duz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador 
se torna uma mercadoria mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a 
valorização do mundo e das coisas aumenta em proporção a desvalorização 
do mundo dos homens [...]”.
O desenvolvimento do capitalismo 
no mundo globalizado
Antes de você estudar o desenvolvimento do capitalismo em meioao processo 
de globalização, deve ter em mente o que se entende por globalização neste capí-
tulo. A globalização é um fenômeno observado principalmente no pós-Segunda 
Guerra Mundial. Nesse período, o capital começou a ter a possibilidade de 
se reproduzir e se expandir em nível internacional em decorrência da maior 
integração entre países e pessoas de todo o mundo. Assim, o sistema capita-
lista recriou alternativas para ultrapassar fronteiras não apenas geográfi cas, 
mas históricas, adentrando em povos, culturas e condições políticas e sociais 
diversas. Além disso, a disputa entre os capitais, a tentativa de adentrar novos 
mercados e processos produtivos e a busca incessante pelo lucro ocasionaram 
a dinamização das forças produtivas (IANNI, 1996). 
O capitalismo nascente que Marx analisava mostrou-se capaz de um cres-
cimento efetivo, amplo e rápido, fortalecendo-se e expandindo a sua lógica a 
praticamente todos os lugares do mundo, assumindo características globais. A 
globalização propriamente dita acontece com o domínio do capital econômico 
pelas empresas, com a abertura dos mercados e a presença de tecnologias e 
A relação capital versus trabalho6
culturas diversas impondo-se a tudo aquilo que é regional ou nacional. No 
entanto, assim como o capital produz a alienação na sua relação com o trabalho, 
o processo de globalização emancipa e aliena (IANNI, 1996).
Batista (2008) aponta também que, ainda em 1848, Marx já sinalizava 
a possibilidade de formação de um mercado mundial, o que se manifestou 
alguns séculos depois do ponto de vista financeiro. Veja:
A expansão do capitalismo a partir da permanente revolução de seus meios 
de produção carrega consigo um processo também permanente de transfor-
mação das relações de produção, em outras palavras, transforma as formas de 
trabalho para torná-las adequadas à expansão e, portanto, às relações sociais. 
Em cada momento de desenvolvimento das forças produtivas, as relações de 
trabalho correspondentes criam e recriam o campo de batalha dos detentores 
dos meios de produção e vendedores de força de trabalho, com novas formas 
de opressão e resistência (BATISTA, 2008, p. 2–3).
Ainda de acordo com a análise proposta por Ianni (1994), o século XXI é 
marcado por uma sociedade global não apenas do ponto de vista do capitalismo, 
mas de tudo o que se relaciona a ele, inclusive o mundo do trabalho. Segundo 
Ianni (1994, p. 2), “[...] no âmbito da fábrica global, criada com a divisão interna-
cional do trabalho e produção — ou seja, a transição do fordismo ao toyotismo 
e a dinamização do mercado mundial, amplamente favorecido pelas tecnologias 
eletrônicas —, colocam-se novas formas e novos significados ao trabalho [...]”. 
Para o autor, tais mudanças repercutem na forma como as forças produtivas 
estão organizadas e também na dinâmica da classe trabalhadora, especial-
mente no que se refere à estrutura social, que foi amplamente atingida pelas 
mudanças impostas pela incipiente globalização. Ianni (1994, p. 2) considera 
ainda que, “[...] na medida em que a globalização do capitalismo, considerada 
inclusive como processo civilizatório, implica a formação da sociedade global, 
rompem-se os quadros sociais e mentais de referência estabelecidos com base 
no emblema da sociedade nacional [...]”. 
Fordismo, taylorismo e toyotismo são modos de produção industrial desenvolvidos 
na sociedade capitalista. Apresentam diferenças entre si relacionadas à forma de 
organização, ao ritmo de trabalho, ao papel do funcionário e às prioridades.
7A relação capital versus trabalho
Com a globalização, o mundo se abre para novas perspectivas. Aquilo que 
se refere a algo local ou regional adquire novos significados. O capitalismo 
adentrou profundamente o mundo globalizado — tanto pela divisão social 
do trabalho como também por sua imersão em economias até então restritas 
e fechadas para determinadas sociedades. Assim, o mundo e o capital estão 
globalizados.
Ianni (1994) faz considerações sobre o mundo do trabalho desenvolvido na 
sociedade capitalista sob a óptica da globalização. Nesse sentido, aponta que:
Ainda incipiente, esse mundo do trabalho e o consequente movimento 
operário apresentam características mundiais: são desiguais, dispersos 
pelo mundo, atravessando nações e nacionalidades, implicando diversida-
des e desigualdades sociais, econômicas, políticas, culturais, religiosas, 
linguísticas, raciais e outras. Inclusive apresentam as peculiaridades de 
cada lugar, país ou região por suas características históricas, geográficas e 
outras. Entretanto, há relações, processos e estruturas de alcance global que 
constituem o mundo do trabalho e estabelecem as condições do movimento 
operário (IANNI, 1994, p. 3). 
É nesse contexto que o capitalismo se expande em termos mundiais, res-
significando o mundo do trabalho. Como você viu, o desenvolvimento do 
capitalismo está bastante marcado por contradições e desigualdades. Isso gera 
articulações diversas e leva ao surgimento de novas formas de trabalho, que 
atribuem significados distintos a esse processo.
Batista (2008) menciona que a inserção do capitalismo no mundo globalizado 
e a mundialização das políticas neoliberais são fatores de sustentação de uma 
economia baseada na lógica do lucro e da acumulação de capital. Isso resulta de: 
[...] uma acumulação capitalista predominantemente financeira [...] e [que] deve 
ser apreendida num contexto de totalidade das relações sociais de produção, 
de determinação e sobredeterminação, a fim de que suas particularidades 
sejam identificadas sem a distorção das categorias universais [...] (BATISTA, 
2008, p. 2).
A relação capital versus trabalho8
BARROCO, M. L. S. Ética: fundamentos sócio-históricos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010. 
(Biblioteca Básica do Serviço Social).
BATISTA, E. Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas rupturas e 
continuidades. In: SIMPÓSIO LUTAS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA, 2008, Londrina. 
Anais... Curitiba: [s.n.], 2008.
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
IANNI, O. O mundo do trabalho. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, n. 8, v. 1, p. 2-12, 
jan./mar. 1994.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. 
Livro 1, v. 1.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1985. Livro 
1, v. 1, t. 2.
NAVARRO, V. L.; PADILHA, V. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo. 
Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v. 19, n. spe., p. 14-20, 2007.
NETTO, J. P. Razão, ontologia e práxis. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 44, p. 
26-42, abr. 1994.
Leituras recomendadas
ANTUNES, R. A nova morfologia do trabalho no Brasil: reestruturação e precariedade. 
Nueva Sociedad, Buenos Aires, p. 44-59, jun. 2012. Disponível em: <http://nuso.org/
media/articles/downloads/3859_1.pdf>. Aceso em: 17 out. 2018.
CEOLIN, G. F. Crise do capital, precarização do trabalho e impactos no Serviço Social. 
Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 118, p. 239-264, abr./jun. 2014. Disponível em: 
<http://cressrn.org.br/files/arquivos/3340qS3vFI4LaA369fm8.pdf>. Acesso em: 17 
out. 2018.
LUCE, M. S. Brasil: nova classe média ou novas formas de superexploração da classe 
trabalhadora? Trabalho, Educação & Saúde, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 169-190, jan./
abr. 2013.
9A relação capital versus trabalho
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Karl Marx teceu alguns conceitos fundamentais que favorecem a compreensão sobre o trabalho 
na atualidade em toda a sua complexidade. Para ele, é por meio do trabalho que o ser humano se 
utiliza e apropria da natureza para satisfazer necessidades e objetivos pessoais.
Assista ao vídeo da Dica do Professor para conhecer um pouco mais sobre os principais 
conceitos abordados por ele.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimentoa respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
Crise do capital, precarização do trabalho e impactos no serviço social
O seguinte artigo apresenta uma análise sobre as transformações ocorridas ao longo dos séculos 
XX e XXI e os impactos para o serviço social. A análise agrega um complexo de mediações 
essenciais para elucidar o significado das determinações da alienação do trabalho no exercício 
profissional.
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Crise capitalista, metamorfoses no 
mundo do trabalho e Políticas neoliberais
APRESENTAÇÃO
A compreensão de mundo e sociedade somente poderá ser obtida por meio de uma análise 
histórica de determinados contextos econômicos e sociais que moldaram o povo no decorrer dos 
tempos. Além disso, é preciso explorar as contradições inerentes ao sistema capitalista que 
foram e são determinantes para a formulação do trabalho dos profissionais de Serviço Social 
diante de um cenário complexo e desafiador. Ao fazer essa análise, você deve contemplar as 
crises inerentes ao sistema capitalista, bem como seus impactos no mundo do trabalho e o 
avanço neoliberal ocorrido nas últimas décadas.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá os processos de reestruturação do sistema 
capitalista, suas crises, seus efeitos e os impactos causados na sociedade, em especial, na classe 
trabalhadora e no processo de trabalho do Serviço Social.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar a importância da compreensão da totalidade, historicidade e contradições 
inerentes aos contextos sociais, econômicos, políticos e culturais para o Serviço Social.
•
Reconhecer a crise cíclica do capital e as metamorfoses no mundo do trabalho.•
Explicar o neoliberalismo no Brasil.•
INFOGRÁFICO
Como resultante do avanço neoliberal e do processo de metamorfoses no mundo do trabalho, o 
Governo brasileiro aprovou, em 2017, a Reforma Trabalhista que altera, significativamente, a 
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.
A Lei n.º 13.467/2017 foi colocada em votação e aprovada pela Câmara dos Deputados, pelo 
Senado Federal e, em seguida, sancionada pelo presidente Michel Temer em 13 de julho de 
2017. Perceba que essa lei é resultante de um longo debate que se estendia no Legislativo desde 
2016 e tomou força com o aumento dos índices de desemprego vivenciados no país desde 2014. 
O Governo, apoiado pelo setor patronal, defendia a necessidade da reforma com a justificativa 
de flexibilizar regras e modernizar a CLT com o objetivo de gerar mais empregos e reduzir os 
custos para contratação de mão de obra.
Neste Infográfico, você verá um comparativo entre algumas das principais mudanças ocorridas 
pela reforma. Acompanhe.
CONTEÚDO DO LIVRO
O Serviço Social, como área que analisa e interage com os processos de transformação social, é 
resultante de contradições causadas pelo sistema capitalista e, talvez, um dos ramos em que há 
maior necessidade de buscar aprofundamento sobre os aspectos históricos de formação e 
mutação da sociedade, pois, é por meio da análise crítica desses aspectos que você, profissional 
dessa área, desenvolve a capacidade técnico-operativa.
No capítulo Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais, da 
obra Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social – Projeto Ético 
Político, você verá um pouco mais sobre os contextos sociais que determinaram o surgimento e 
a formação do Serviço Social no Brasil, as crises do sistema capitalista e as mutações no mundo 
do trabalho, bem como o sistema neoliberal e seus impactos no Brasil após os anos 1990.
FUNDAMENTOS 
HISTÓRICOS 
TEÓRICOS E 
METODOLÓGICOS DO 
SERVIÇO SOCIAL – 
PROJETO ÉTICO 
POLÍTICO
Anderson Barbosa 
Scheifler
Crise capitalista, 
metamorfoses no mundo 
do trabalho e políticas 
neoliberais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar a importância da compreensão da totalidade, da historici-
dade e das contradições inerentes aos contextos sociais, econômicos, 
políticos e culturais para o serviço social.
 � Reconhecer a crise cíclica do capital e as metamorfoses no mundo 
do trabalho.
 � Definir o neoliberalismo no Brasil.
Introdução
Neste capítulo, você estudará a historicidade e as contradições que com-
põem os contextos sociais e suas relações com o serviço social, uma 
profissão reconhecida e responsável por analisar as múltiplas problemá-
ticas que se apresentam no fazer profissional, identificando os avanços 
significativos nas diversas áreas e entendendo os períodos históricos que 
marcaram a época, como as crises do sistema capitalista, as mudanças 
no mundo do trabalho e as políticas neoliberais. Para tal, você conhe-
cerá algumas considerações sobre temas pertinentes exemplificando 
os períodos que ocasionaram as mudanças no sistema capitalista e no 
trabalho, bem como o surgimento e a hegemonização do neoliberalismo 
na década de 1990 no Brasil.
Contextos sociais, determinantes históricos e 
sua relação com o serviço social
O surgimento do serviço social no Brasil é fruto de inúmeros fatores sociais, 
por exemplo, a relação com o sistema capitalista e a luta de classes gerada 
por ele frente à política econômica e às crises ocorridas ao longo do tempo. 
Assim, deve-se compreender os impactos que esse sistema causa no mundo 
do trabalho, entre eles, submissão, alienação e exploração do ser humano, 
considerando o trabalho uma mercadoria que tem os trabalhadores como seus 
personagens, que não acumulam riquezas e não concentram o capital, exceto o 
necessário para sua subsistência. Já na contemporaneidade, existem a proble-
mática relacionada aos ataques dispensados ao Estado de Bem-estar Social e 
as conquistas da classe trabalhadora alimentadas pelo discurso neoliberal que 
as traz como sendo um exagero de privilégios que, excessivamente, oneram 
as relações trabalhistas entre empregador e empregado.
Nesse contexto, há o papel do serviço social como profissional intelectual 
mediador das problemáticas na atualidade, dotado de capacidade técnica, para 
evitar o enfraquecimento e defender o proletariado nas relações de trabalho, 
incluindo nessa função uma racionalidade de comportamento adequada à rea-
lidade capitalista. Para ter a compreensão e formação do pensamento crítico e 
analítico dos processos históricos que determinam a atuação desse profissional 
na contemporaneidade, é necessário fazer uma investigação bibliográfica que 
tenha como suporte teórico doutrinas que tratem da complexidade das relações 
sociais e econômicas, bem como autores reconhecidos no âmbito do serviço 
social e das ciências sociais. 
Para obter uma compreensão da totalidade de expressões que compõem o 
papel da profissão em face da sociedade capitalista, é necessário entender de 
que forma se reproduzem as relações sociais no meio. 
[...] a reprodução das relações sociais é a reprodução da totalidade do processo 
social, a reprodução de determinado modo de vida que envolve o cotidiano 
da vida em sociedade: o modo de viver e de trabalhar, de forma socialmente 
determinada, dos indivíduos em sociedade. Envolve a reprodução do modo de 
produção [...] Trata-se, portanto, de uma totalidade concreta em movimento, em 
processo de estruturação permanente. Entendida dessa maneira, a reprodução 
das relações sociais atinge a totalidade da vida cotidiana, expressando-se tanto 
no trabalho, na família, no lazer, na escola, no poder, etc., como também na 
profissão (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 72–73).
Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais2
A compreensão das realidades sócio-históricas é o que compõe a mate-
rialidade que forma as bases para o surgimento e a atuação do profissional 
de serviço social. Portanto, deve-se observar a profissão sobre dois ângulos 
diferentes: o representativo da realidadevivida, retratada pela consciência 
de seus agentes expressa no discurso teórico-ideológico sobre o exercício 
profissional; e o ângulo que abarca a atuação profissional como atividade 
social, determinado pelo seu meio relacionando-se com as circunstâncias 
que envolvem a direção social que determina a prática. Essas dimensões nem 
sempre se relacionam de forma harmoniosa e complementar, tornando-se, às 
vezes, contraditórias e ocasionando uma problemática ainda comum no fazer 
profissional na contemporaneidade, a relação entre teoria e prática. 
A discrepância entre esses dois ângulos ratifica a necessidade da reflexão 
sobre a historicidade e o exercício do profissional, direcionando o processo 
de aprendizagem que se insere como possibilidade de superação das pro-
blemáticas sociais apresentadas — sendo que a origem das ações sociais no 
Brasil teve início ainda no período colonial. As obras caridosas, mantidas pela 
igreja, têm longa tradição e remetem a uma realidade em que a ausência total 
de infraestruturas hospitalar e assistencial eram características do descaso 
do Império para com a população brasileira. Nesse ambiente, emergiram as 
iniciativas das ordens religiosas europeias, que se implantaram no país atuando 
diretamente com ações de intervenção voltadas à organização e ao controle 
do proletariado crescente com a onda imigratória, que, em seguida, formaria 
a grande força de trabalho urbano-industrial. 
A participação do clero no controle direto do operariado industrial remonta, 
por sua vez, ao surgimento das primeiras grandes unidades industriais, em fins 
do século passado [Século XIX]. É viva a presença de religiosos no próprio 
interior dessas unidades, que muitas vezes possuíam capelas próprias, onde 
diariamente os trabalhadores eram obrigados a assistir à missa e a outras 
liturgias. Nas Vilas Operárias sua presença é constante. No plano sindical, 
com o apoio patronal, desenvolvem iniciativas assistenciais (mútuas etc.) e 
organizacionais visando contrapor-se ao sindicalismo autônomo de inspiração 
anarco-sindicalista. Na imprensa operária independente são frequentes as 
críticas à posição patronal e divisionista desses movimentos, cujos aderentes e 
mentores são ironicamente qualificados de amarelos e urubus. (IAMAMOTO; 
CARVALHO, 2006, p. 165–166).
Portanto, o surgimento do serviço social está intrinsicamente ligado às 
mazelas produzidas pela parcela burguesa da sociedade, sobretudo nas questões 
que envolvem o capitalismo e naquelas que se relacionam com o crescimento 
industrial do país, como Netto afirma:
3Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais
Está solidamente estabelecida, na bibliografia que de alguma forma estuda 
o surgimento do Serviço Social como profissão — vale dizer, como prática 
institucionalizada, socialmente legitimada e legalmente sancionada —, a 
sua vinculação com a chamada “questão social”. Mesmo entre autores que 
não se notabilizam por uma abordagem crítica e analiticamente fundada do 
desenvolvimento profissional, não há dúvidas em relacionar o aparecimento 
do Serviço Social com as mazelas próprias à ordem burguesa, com as sequelas 
necessárias dos processos que comparecem na constituição e no envolver do 
capitalismo, em especial aqueles concernentes ao binômio industrialização/
urbanização, tal como este se revelou no curso do século XIX (NETTO, 
1996, p. 13).
Os contextos sociais de produção e reprodução da atividade social são 
definidos por meio dos vínculos estabelecidos entre os indivíduos e um período 
histórico, relacionando este aos modelos econômicos, políticos e culturais 
da sociedade, na qual essa produção e reprodução, de forma isolada, é uma 
abstração improvável. Na relação entre os seres humanos, observa-se, por 
meio do sistema de trocas de atividades, o nível de desenvolvimento dos 
meios de produção de determinado agrupamento social. Essas relações se 
estabelecem em certas condições históricas, nas quais os elementos de pro-
dução se articulam de maneira específica, portanto, toda produção social é 
essencialmente histórica. 
Nesse contexto, tem-se o processo capitalista de produção, que expressa 
historicamente a maneira pela qual os seres humanos produzem as condições 
materiais para sua existência e para as relações sociais que permeiam esse 
processo. Portanto, a produção social não se refere à mera produção de objetos 
materiais, mas sim das relações sociais entre pessoas, classes sociais e todas as 
nuances de uma sociedade, que são personificadas pelas categorias econômicas 
dispostas nela. O capital é o determinante de toda relação e de todo o processo 
da vida social (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006).
O surgimento e a efetivação do serviço social como profissão inserida no 
mercado de trabalho e uma alternativa para reduzir desigualdades sociais no 
sistema de acumulação capitalista são fruto das relações sociais e do processo 
de produção e reprodução do meio no qual se está inserido. Portanto, com-
preender as contradições, a historicidade e os contextos sociais, econômicos, 
políticos e culturais é imprescindível para entender a profissão na sociedade 
e os instrumentos possíveis para qualificar sua atuação tendo como base os 
princípios estabelecidos no seu projeto ético-político. 
Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais4
Para saber mais sobre a importância da compreensão da historicidade e a teoria da 
dialética marxista, leia o artigo disponível no link a seguir (“Da teoria da história a 
história da teoria: a totalidade do trabalho na dialética marxista”).
https://goo.gl/Pq2Pnb
Crise cíclica do capital e transformações no 
mundo do trabalho
A história mostra, ao longo do tempo, que o capitalismo sofreu crises cíclicas, 
tais eventos se devem à sua própria estrutura e aos meios de desenvolvimento 
que geraram muitos impactos, como os danos causados no âmbito social. Esse 
é o modelo econômico adotado pelo Brasil e hegemônico no mundo, assim 
sendo, ele recebe atribuições de operador e causador de inúmeras mudanças 
sociais. Nos últimos 30 anos, o país optou, por meio da Constituição de 1988, 
por um modelo econômico capitalista com foco na formatação de políticas 
públicas que assegurariam, em tese, a garantia dos mínimos sociais e a uni-
versalização dos direitos básicos, como educação, saúde e previdência social.
A ordem econômica na Constituição de 1988 define opção por um sistema, o 
sistema capitalista; — há um modelo econômico definido na ordem econômica 
na Constituição de 1988, modelo aberto, porém, desenhado na afirmação de 
pontos de proteção contra modificações extremas, que descrevo como modelo 
de bem-estar; — a ordem econômica na Constituição de 1988, sendo objeto de 
interpretação dinâmica, poderá ser adequada às mudanças da realidade social, 
prestando-se, ademais, a instrumentá-las (GRAU, 2004, p. 314).
Portanto, o modelo capitalista necessita da divisão de classes para manter 
a sua ordem e preconiza pela existência do patrão, proprietário dos meios de 
produção, e do proletário, trabalhadores assalariados que vendem sua força 
de trabalho. O capitalista nada mais é do que a pessoa que detém o capital 
e controla os meios de produção, diferentemente dos sujeitos que somente 
oferecem a força do seu trabalho, chamados de assalariados. 
O capitalismo é caracterizado por quatro esquemas institucionais e compor-
tamentais: a produção de mercadorias, orientada pelo mercado; a propriedade 
5Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais
privada dos meios de produção; um grande segmento da população que não 
pode existir a não ser que venda sua força de trabalho nesse mercado; e um 
comportamento individualista, aquisitivo, maximizador da maioria dos indi-
víduos no sistema econômico. Assim, ele é o reflexo da cultura consumista, 
da necessidade do ser humano em consumir. Esse consumo desenfreado 
gera um problema social, a constante insatisfação com o ter, causando outrasconsequências na sociedade e o uso ilimitado dos recursos naturais. Na busca 
por maiores recursos financeiros, trabalha-se cada vez mais, em exaustivas 
jornadas laborais, o que gera um ciclo vicioso e incessante pelo ter, como 
elucida Hunt (1981, p. 29):
A maioria dos trabalhadores vê como causa desses sentimentos sua própria 
incapacidade de comprar mercadorias suficientes para fazê-los felizes. Mas, 
na medida em que recebem salários maiores e compram mais mercadorias, 
verificam que o sentimento geral de insatisfação e ansiedade continua. Então, 
os trabalhadores tendem a concluir que o problema é que o aumento dos salários 
é insuficiente. Como não identificam a verdadeira origem de seus problemas, 
caem num círculo asfixiante, onde quanto mais se tem, mais necessidade se 
sente; quanto mais rápido se corre, mais devagar se parece andar; quanto 
mais arduamente se trabalha, maior parece ser a necessidade de se trabalhar 
cada vez mais arduamente.
Logo, é correto afirmar que o capitalismo se sustenta no consumo, o as-
salariado consome e enriquece o capitalista, que acumula o capital. O traba-
lhador tem como moeda de troca apenas sua força laboral, uma mercadoria 
relevante, e recebe um valor monetário utilizado para o consumo, ao trocá-la 
por dinheiro, faz a substituição do valor de uso (mão de obra) pelo valor em 
geral (monetário), como demonstrado a seguir: 
A origem (gênese) do conceito de dinheiro se dá pelo desenvolvimento das 
formas do valor; mais especificamente, pelo desenvolvimento da contradição 
entre o valor e o valor de uso. De fato, na forma equivalente geral (dinheiro), 
os valores distinguem-se não só de seus próprios valores de uso, como também 
de qualquer outro, uma vez que o equivalente geral se apresenta apenas como 
representante do valor (CARCANHOLO, 1998, p. 35).
O sistema capitalista é voltado ao lucro e ao acúmulo de capital na forma 
geral (dinheiro). No entanto, o capitalista, dono dos meios de produção, busca 
sempre reduzir os custos desta, investindo em tecnologia ou procurando por 
sistemas mais eficientes de como produzir, o que causa uma menor utilização da 
mão de obra e gera uma dicotomia. Ao retirar de cena assalariados que perdem 
os postos de trabalho, por meio da constante atualização da produção, e ficam 
Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais6
sem o poder de compra, gera-se crises cíclicas pela redução no consumo, e o 
lucro do detentor dos meios de produção cai pelos seus próprios atos, como 
demonstra Pedro (1988, p. 304):
No sistema capitalista — voltado para o lucro — há uma tendência apa-
rentemente contraditória: a relação da taxa de lucro. O capitalista, dono da 
indústria, tende a aplicar na aquisição de novas máquinas, mas o progresso 
técnico gera a dispensa de mão-de-obra. Aliado a isso, sem o aumento real 
dos salários diminui o poder de compra da população. Sem esse poder de 
compra, o lucro do capitalista diminui. Assim, em meados da década de 20 
a situação da economia norte-americana era a seguinte: a produção, cada 
vez mais automatizada, crescia violentamente, enquanto o consumo desses 
produtos não acompanhava o mesmo ritmo. 
Essas alterações negativas no mercado de trabalho são um dos principais 
fatores das crises cíclicas do sistema capitalista, pois, quando se retira ou 
diminui o poder de compra das massas operárias, isso afeta negativamente o 
mercado, a exclusão do assalariado da economia gera a diminuição do lucro, 
como fica explícito nas palavras de Marx (1983, p. 24):
[...] a razão última de todas as crises reais é sempre a pobreza e a restrição ao 
consumo das massas em face do impulso da produção capitalista a desenvolver 
as forças produtivas como se apenas a capacidade absoluta de consumo da 
sociedade constituísse seu limite.
A retirada do poder de consumo do assalariado, demanda novas políticas 
do sistema econômico para fomentar os meios de produção ativos, que impul-
sionam a economia, evitando a insustentabilidade do sistema.
As crises do capitalismo são uma parte intrínseca do sistema econômico e, ao longo 
do tempo, algumas obtiveram grande destaque e causaram impactos mundiais.
 � Grande Depressão: a crise de 1929 foi uma das maiores crises econômicas do 
mundo. Com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, ela começou entre diversos 
fatores indicativos de quebra, mas somente aconteceu na “quinta-feira negra”, no 
dia 24 de outubro de 1929, a partir da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, 
a New York Stock Exchange. Ela ainda levou instituições bancárias à falência e 
causou crises agrárias, quedas drásticas no produto interno bruto dos países mais 
7Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais
	 influentes do sistema, crise na produção industrial global, redução no preço de 
ações, etc. Com a desvalorização da moeda norte-americana, o mundo também 
sofreu uma enorme crise.
 � Crise do petróleo: essa crise foi desencadeada a partir do déficit de oferta do petró-
leo, que gerou conflitos entre os processos de nacionalização dos países envolvidos 
em regiões petrolíferas. Entre 1956 e 1991, o mundo sofria com essa prolongada 
recessão econômica, que se relacionou com os conflitos dos produtores árabes da 
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a qual contava com os 
maiores produtores — como Arábia Saudita, Irão, Iraque, Kuwait e Venezuela — e 
envolvia uma reivindicação devido à política de altos custos das sete irmãs, que 
seriam as maiores empresas petroleiras ocidentais: Standard Oil, Royal Dutch Shell, 
Mobil, Gulf, British Petroleum (BP) e Standard Oil, da Califórnia. A crise ocorreu em 
várias fases, encerrando-se após a Guerra do Golfo.
 � Grande Recessão: a crise capitalista mais recente ocorreu em 2008, com a quebra 
do tradicional banco de investimento norte-americano, o Lehman Brothers. A 
falência da instituição gerou um efeito dominó de quebra de vários bancos inter-
nacionais, conhecido como a crise dos subprimes. Já, em 2001, o colapso da bolha 
da tecnologia Nasdaq, a “bolha da internet”, foi um dos fatores mais influentes. As 
maiores características da crise foram as perdas no mercado imobiliário e a falta 
de liquidez bancária.
Fonte: Maiores... (2014, documento on-line).
Neoliberalismo no Brasil
O ideário neoliberal tem sido, e ainda é, a grande tendência econômica mundial 
desde o final do século XX. Esse projeto expandiu-se e colocou-se como uma 
solução política, imposta muitas vezes pelos países desenvolvidos para as 
constantes crises das nações emergentes, sendo uma possibilidade de transpor 
esses problemas por meio de técnicas inovadoras de gestão para priorizar o 
mercado e o capital em detrimento das políticas sociais e do Estado. 
Por meio desse sistema, adotou-se a prática de redução do aparato esta-
tal, tido como corrupto e inapto, para gerir suas necessidades e atender aos 
interesses da população, transferindo as responsabilidades para o aparato 
privado. Na maioria das situações de crise e descaso do Estado, existe velado 
um sentimento intencional de sucatear os serviços públicos prestados por ele, 
os quais, quando ineficientes, passam a ser questionados e desacreditados pela 
população que, ao encontro dos interesses do mercado, apoia seus processos 
de desestatização e privatização. Para Comblin (2001), o ideário neoliberal 
Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais8
visa desestatizar as empresas públicas e entregá-las às privadas, para que estas 
retirem o lucro das instituições e invistam no sistema de especulação mundial.
O Estado neoliberal não pode interferir nos preços e nos salários. Tudo deve 
ficar por conta do mercado. Na prática, o que acontece é sempre a privatiza-
ção dos lucros e a coletivização das perdas. Se um banco entra em falência, 
o Estado paga, ou seja, os cidadãos pagam. Na hora dos lucros, os cidadãos 
não têm participação (COMBLIN, 2001, p. 22). 
A teoria neoliberal está ligada ao conceitode globalização, que fornece 
mecanismos que privilegiam a dominação das grandes nações, como Estados 
Unidos da América, União Europeia e Japão, por meio de suas empresas em 
favor de seus Estados. Comblin (2001) destaca que as relações internacio-
nais operam pelo sistema de globalização do mercado, o qual age de forma 
aberta para que todos que se interessarem possam operar nele. Vendedores 
e compradores são livres e partem de condições iguais de negociação, e as 
nações também o são para realizarem intercâmbios de bens e serviços, sendo 
harmonizados pela “mão invisível” do mercado. Na concepção dos defensores 
dessa teoria, o mercado é compreendido pelo mundo todo, assim, não existem 
razões para estabelecer fronteiras para seu funcionamento. 
Nas últimas décadas, grandes transformações ocorreram na sociedade 
moderna, cujo sistema neoliberal e a reestruturação produtiva na era de acu-
mulação flexível trouxeram inúmeras mazelas decorrentes do processo de 
acúmulo do capital, entre elas, o desemprego, a precarização do trabalho, a 
exclusão social e a não responsabilização do Estado para com os sistemas de 
proteção social. 
No Brasil, o modelo neoliberal foi implementado a partir dos anos de 
1990, cujos princípios estavam fundamentados nas diretrizes estabelecidas 
pelo Consenso de Washington. Esse encontro, organizado por economistas e 
representantes das instituições financeiras internacionais, ocorreu no final da 
década de 1980, na capital norte-americana, e tinha por objetivo determinar 
diretrizes para o combate da crise nos países latino-americanos. Entre suas 
deliberações, estavam a redução do papel do Estado na economia, a amplia-
ção do sistema de privatização de empresas estatais, a flexibilização de leis 
trabalhistas, o combate aos sindicatos, a redução da carga tributária fiscal e 
a abertura para o comércio mundial.
O ex-presidente Fernando Collor foi quem iniciou o processo de implantação 
da cartilha neoliberal no início dos anos de 1990, por meio do Plano Collor, 
que consistia em uma série de medidas para controlar a inflação, dando início 
9Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais
às primeiras iniciativas de privatização no país. Com o seu impeachment, 
assume o vice Itamar Franco que, de forma menos expressiva, seguiu com as 
medidas econômicas neoliberais que teriam seu ápice no governo de Fernando 
Henrique Cardoso (FHC), que era seu Ministro da Fazenda.
Seguindo os preceitos da cartilha neoliberal, FHC impõe medidas drásticas 
que causam um aumento na exploração da força de trabalho, um enxugamento 
nos postos de emprego, as mudanças nos processos tecnológicos, a flexibi-
lização, a desregulamentação e as novas formas de gestão produtiva. Tais 
medidas, aliadas a um processo de privatização jamais visto na história do 
país, também atendiam aos requisitos do mercado, que necessitava buscar uma 
reordenação de seus processos produtivos devido à manutenção dos lucros e 
da renovação do sistema capitalista. 
Os setores de habitação, saúde, assistência, transporte, educação e ou-
tras áreas também foram bastante afetados nesse período, o que ocasionou 
a necessidade de reestruturação do modelo estatal de prestação de serviços. 
Assim, delegou-se muitos desses serviços para a sociedade, a qual, por meio 
de organizações não governamentais (ONG), associações e iniciativas civis, 
passou a operar em áreas das quais o Estado se eximiu de suas funções. 
Portanto, neste período, emerge uma nova formatação das relações entre 
Estado e sociedade civil. Os ajustes econômicos, as reformas institucionais 
e a política de privatizações passam a responder e trabalhar em vista dos 
interesses do mercado e do empresariado, reduzindo o aparato estatal, cor-
tando os direitos trabalhistas e proibindo a intervenção do trabalhador na 
regulação das condições de produção material e na sua relação de trabalho 
com os empresários. Devido a essas mudanças, o serviço social sofreu 
profundas mudanças em seu projeto ético-político, para poder enfrentar as 
novas problemáticas apresentadas por uma sociedade que ainda segue em 
constante processo de transformação.
Para conhecer mais modelos de Estado, o neoliberalismo, as políticas públicas e o 
Brasil dos anos de 1990 e 2000, leia o artigo disponível no link a seguir (“O Estado 
brasileiro contemporâneo: liberalização econômica, política e sociedade nos governos 
FHC e Lula”).
https://goo.gl/eWShdA
Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais10
CARCANHOLO, M. D. A importância da categoria valor de uso em Marx. Revista Pesquisa 
e Debate: revista de estudos pós-graduados em Economia Política da PUC-SP, São 
Paulo, v. 9, n. 2, p. 17-43, 1998. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/rpe/article/
view/11757>. Acesso em: 2 dez. 2018.
COMBLIN, J. O neoliberalismo: ideologia dominante na virada do século. 3. ed. Petró-
polis: Vozes, 2001. 187 p.
GRAU, E. R. A ordem econômica na constituição de 1988. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 
2004. 351 p.
HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 7. ed. Rio de 
Janeiro: Campus, 1981. 541 p.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de 
uma interpretação histórico-metodológica. 19. ed. São Paulo: Cortez; Lima: CELATS, 
2006. 380 p.
MAIORES crises do capitalismo. Colégio Web, [s.l.], 14 out. 2010. Disponível em: <https://
www.colegioweb.com.br/historia/maiores-crises-capitalismo.html>. Acesso em: 2 
dez. 2018.
MARX, K.; ENGELS, F. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 
1983. v. 2.
NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e serviço social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996. 165 p.
PEDRO, A. História geral. São Paulo: FTD, 1988. 287 p.
Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Ação Social. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre 
a organização da Assistência Social e dá outras providências. Casa Civil – Presidência 
da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm>. 
Acesso em: 2 dez. 2018.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional 
de Assistência Social. Norma Operacional Básica NOB/SUAS: construindo as bases para 
a implantação do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2005. 84 p. Disponível 
em: <http://www.assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-SUAS.
pdf>. Acesso em: 2 dez. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Resolução CFESS nº 273/93 de 13 de março 
de 1993. Institui o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras 
providências. CFESS, Brasília, 1993. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/
resolucao_273-93.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2018.
11Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
O neoliberalismo é o sistema político que melhor representa e atende às necessidades do sistema 
capitalista global. Ao fazer uma breve análise, já é possível você perceber que, desde o seu 
surgimento e das primeiras experiências implementadas, diversas conquistas e crises foram 
perpassadas pelos governos optantes por esse modelo.
Nesta Dica do Professor, você acompanhará uma retomada sobre o histórico do neoliberalismo 
ao nível global com foco em algumas experiências realizadas, seus representantes, 
seus opositores e suas perspectivas futuras.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
Genealogia das teorias marxistas de crise
No artigo a seguir, informe-se acerca da genealogia das teorias marxistas sobre os processos de 
crise do capitalismo e a importância da compreensão desses processos para o fazer profissional 
dos assistentes sociais.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Adeus ao trabalho? - As metamorfoses do mundo do trabalho
O livro Adeus ao trabalho?, de RicardoAntunes, é um dos principais referenciais teóricos para o 
campo das Ciências Sociais no Brasil. A obra traz importantes apontamentos sobre as 
transformações ocorridas no mundo do trabalho indo na contracorrente do discurso da ideologia 
dominante no sistema capitalista. Para saber mais sobre as metamorfoses do mundo do trabalho, 
assista ao comentário sobre o livro.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
O avanço neoliberal no contexto do Serviço Social: o projeto ético-político como 
instrumento de defesa
Aprofunde os seus conhecimentos sobre as relações e os impactos do modelo neoliberal no 
processo de formação da profissão no Brasil por meio do artigo a seguir, que tem como objetivo 
analisar o trabalho profissional do assistente social sob a égide do capital em sua fase 
monopolista. No artigo, são tratados os elementos sócio-históricos, o paradigma neoliberal e a 
construção teórico-metodológica do projeto ético-político do Serviço Social.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Divisão social do trabalho na sociedade 
capitalista
APRESENTAÇÃO
Estudar a divisão do trabalho na sociedade capitalista implica compreender as mudanças que 
ocorreram no decorrer do processo histórico de desenvolvimento da própria humanidade. Por 
isso, ter conhecimento da centralidade do trabalho na vida do ser social e do processo de prévia-
ideação para pensar a sua ação e construir os instrumentos para a satisfação de suas necessidades 
é a base para compreender a sociedade capitalista em sua totalidade. A análise da organização 
do trabalho na socidade capitalista expressa o estágio do desenvolvimento do trabalho, pois este 
passa a atender não apenas às necessidades humanas, mas às necessidades da ideologia 
dominante, no caso, a capitalista.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai identificar o fracionamento do trabalho como 
estratégia do modelo neoliberal, com maior ênfase após a instauração do Consenso de 
Washington, que tornou o trabalho mais flexível. Você vai ver, ainda, uma análise da crise do 
capital e de seus desdobramentos de forma contextualizada, compreendendo as influências das 
crises cíclicas do capital na forma de organização do trabalho e da classe trabalhadora.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer a função da organização do trabalho.•
Identificar o fracionamento do trabalho como estratégia do modelo neoliberal.•
Analisar a crise do capital e seus desdobramentos de forma contextualizada.•
INFOGRÁFICO
Instaurado a partir dos anos 1990, o neoliberalismo trouxe uma nova mentalidade para o modo 
de produção: o trabalho se apresenta flexibilizado, terceirizado e precarizado, a fim de atender 
às necessidades desse modo de produção.
Neste infográfico, você vai ver como o retrocesso na legislação 
interfere diretamente na vida do empregado, precarizando, cada 
vez mais, o trabalho na atual sociedade.
CONTEÚDO DO LIVRO
A divisão do trabalho na sociedade capitalista trouxe uma nova configuração para o mundo do 
trabalho. Essa forma de organização veio para manter a ideologia dominante e assegurar os 
interesses do capital. Assim, podemos dizer que esta é uma das principais finalidades da divisão 
do trabalho na sociedade atual.
No capítulo Divisão social do trabalho na sociedade capitalista, da obra Trabalho e 
Sociabilidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer um pouco mais 
sobre a organização do trabalho, seu fracionamento enquanto estratégia do modelo neoliberal e 
sobre a crise do capital e de seus desdobramentos.
Boa leitura.
TRABALHO E 
SOCIABILIDADE 
Laís Vila Verde Teixeira 
Divisão social do trabalho 
na sociedade capitalista
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a função da organização do trabalho.
  Identificar o fracionamento do trabalho como estratégia do modelo 
neoliberal.
  Analisar a crise do capital e seus desdobramentos de forma 
contextualizada.
Introdução
O mundo capitalista transformou as relações de trabalho ao longo dos 
anos de forma a atender aos interesses do capital. Sob diversas perspec-
tivas, os resultados disso para a classe trabalhadora foram pouco favorá-
veis, especialmente devido aos processos de exploração e de alienação 
vivenciados por essa classe.
Neste capítulo, você vai estudar a função social do trabalho. Você 
também vai ver como se dá o fracionamento do trabalho no contexto 
neoliberal. Além disso, vai analisar a crise do capital e os seus desdobra-
mentos de forma contextualizada.
1 A função da organização do trabalho
Para refl etir sobre a função que a organização do trabalho exerce na sociedade 
capitalista, é necessário considerar a evolução do capitalismo, que fornece 
os elementos que sustentam e infl uenciam o processo de trabalho ao longo 
da história (TEIXEIRA; SOUZA, 1985). Como você sabe, as relações de 
trabalho alteraram-se com o passar do tempo de forma a atender aos inte-
resses da sociedade capitalista. Surgiram, então, a exploração do trabalho 
e o processo de alienação. Portanto, de diversas perspectivas, os resultados 
das alterações nas relações de trabalho não são satisfatórios para a classe 
trabalhadora.
Lessa e Tonet (2011), ao considerarem o trabalho como resultado da ação 
humana em sua relação com a natureza, discutem, baseados em Marx, que 
toda ação do homem tem uma dimensão social; e as consequências das ações 
se refletem não somente na vida dos indivíduos, mas em toda a sociedade. 
Os autores acrescentam que essa articulação entre indivíduos e vida social é 
importante; tal relação é necessária e tem se tornado cada vez mais complexa 
conforme também se intensificam as relações entre o trabalhador e a sociedade 
capitalista em que está inserido.
Na sociedade capitalista, o trabalho não pode ser analisado isoladamente 
dos princípios que norteiam o modo de produção dominante. Logo, pode-se 
afirmar que o trabalho deixa de atender às necessidades humanas para res-
ponder à ideologia dominante, nesse caso a capitalista. Essa classe tem como 
objetivo principal assegurar riqueza e lucro. Lima e Azar (2018) comentam que 
o capitalismo associa-se com a produção de mercadorias, que são utilizadas 
para a troca e a venda, o que faz com que os donos dos meios de produção, 
os capitalistas, tenham o lucro como principal interesse. “Neste sentido, no 
sistema em questão, a mercadoria, sejam os produtos e a força de trabalho, 
assume um duplo caráter: valor de uso e valor de troca” (LIMA; AZAR, 2018, 
p. 525). Nesse contexto, fica de lado a função social daquilo que é produzido; 
em outras palavras, os autores defendem que os donos dos meios de produção 
não se interessam pelo significado que seu produto tem para a sociedade.
Não é possível pensar o trabalho, da forma como foi se estruturando e se organizando 
ao longo dos anos, distanciado da evolução do capitalismo. Isso se deve ao fato de 
que essa separação deixa de lado aspectos fundamentais que influenciam a forma, 
o conteúdo e a direção que o processo de trabalho assume historicamente. “Tais 
aspectos, ao serem trazidos à tona, poderão melhor explicar os avanços (e recuos) que 
a organização da classe dos trabalhadores percorre desde a sua constituição, isto é, 
a partir da separação dos produtores de seus meios de produção” (TEIXEIRA; SOUZA, 
1985, documento on-line).
Divisão social do trabalho na sociedade capitalista2
Veja o que Marx e Engels (2007, p. 45) afirmam sobre a classe dominante:
[...] as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, 
isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo 
tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os 
meios da produção material dispõe também dos meios da produção espiritual, 
de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os 
pensamentos daquelesaos quais faltam os meios da produção espiritual. As 
ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações 
materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas 
como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe 
a classe dominante, são as ideias de sua dominação. Os indivíduos que com-
põem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também consciência 
e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam 
todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que eles o fazem em toda 
a sua extensão, portanto, entre outras coisas, que eles dominam também 
como pensadores, como produtores de ideias, que regulam a produção e a 
distribuição das ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que suas ideias são 
as ideias dominantes da época.
Os autores destacam o quanto a ideologia dominante influencia o trabalho 
e os trabalhadores. Por esse motivo, alguns defendem que o modo de produção 
capitalista favorece a alienação da sociedade. Além das razões já destacadas, o 
“[...] desenvolvimento das forças produtivas sob o capital significa a intensificação 
da capacidade de os homens produzirem, também, desumanidades em escala 
ampliada” (LESSA; TONET, 2011, p. 66). Ademais, “[...] crescentes riqueza e 
miséria, desenvolvimento cada vez maior das capacidades humanas e ao mesmo 
tempo de desumanidades, estes são os dois polos indissociáveis do desenvolvi-
mento do modo de produção capitalista” (LESSA; TONET, 2011, p. 66).
A forma como o trabalho está organizado tem como finalidade atingir os ob-
jetivos da classe dominante. Pode-se considerar que a divisão do trabalho sempre 
esteve presente na sociedade e, de acordo com Lessa e Tonet (2011), refere-se 
exclusivamente ao trabalho desenvolvido pelo homem. Marx Engels (2007, p. 72) 
apontam que a divisão social do trabalho existe desde o início da humanidade, 
com “[...] a divisão das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, o 
que gera a fragmentação do capital acumulado em diversos proprietários e, com 
isso, a fragmentação entre capital e trabalho, assim como as diferentes formas 
de propriedade”. Nessa perspectiva, os autores complementam que, “[...] quanto 
mais se desenvolve a divisão do trabalho e a acumulação aumenta, tanto mais 
aguda se torna essa fragmentação. O próprio trabalho só pode subsistir sob o 
pressuposto dessa fragmentação” (MARX; ENGELS, 2007, p. 72).
3Divisão social do trabalho na sociedade capitalista
Bottomore (2012, p. 185) aponta que, como define Marx, a divisão social do 
trabalho pode ser entendida como a “[...] totalidade das formas heterogêneas de 
trabalho útil, que diferem em ordem, gênero, espécie e variedade”. Bottomore 
(2012, p. 187) acrescenta que a análise de Marx sobre o capitalismo demonstra:
[...] como e por que os produtos do trabalho humano dominam os próprios 
produtores, como o trabalho morto, objetificado em sua existência como 
capital, exerce seu domínio sobre o trabalho vivo mediante as leis aparente-
mente objetivas da oferta e da procura. E um dos corolários disso é que uma 
divisão do trabalho é imposta aos indivíduos pela sociedade que eles mesmos 
criaram. Ora, a produção é sempre, naturalmente, uma atividade de objeti-
vação do trabalho em produtos, mas as relações de classes sob as quais essa 
objetivação se faz são fundamentais para se determinar que enquanto existir 
uma clivagem entre o interesse comum e o particular, enquanto, portanto, 
a atividade não for dividida voluntariamente, mas naturalmente, a própria 
criação do homem converte-se em um poder estranho que a ele se opõe e que 
o escraviza em lugar de ser por ele controlado.
Luz (2008), em uma análise embasada em Marx, pontua que a divisão 
social do trabalho gera um crescente bem-estar a uma parcela da sociedade 
que exclui o trabalhador. Ainda segundo o autor, a divisão social do trabalho 
impossibilita que os trabalhadores desfrutem das conquistas. Afinal, por meio 
de tal divisão, eles muitas vezes são reduzidos à condição de máquinas, com 
as quais podem, inclusive, competir.
Como você viu, a divisão social do trabalho possui funções na sociedade 
capitalista, como ampliação dos lucros e aumento da produtividade, o que 
só acontece por meio da exploração e da alienação do trabalhador. Assim, é 
por meio da divisão social do trabalho que se efetivam essas relações, cujo 
impacto favorável recai apenas sobre o empregador.
2 O fracionamento do trabalho como estratégia 
do modelo neoliberal
O neoliberalismo, entendido como uma “[...] reação teórica e política contra 
o Estado intervencionista e de bem-estar” (ANDERSON, 1995, p. 1), surgiu 
após a Segunda Guerra Mundial, em países da Europa e da América do Norte, 
locais em que imperava o capitalismo. No Brasil, as ideias neoliberais se 
difundiram a partir de 1990, com o presidente Fernando Collor de Mello, em 
um momento marcado especialmente pelo fechamento e pela privatização 
de várias empresas. Nesse período, o modelo neoliberal foi se constituindo 
Divisão social do trabalho na sociedade capitalista4
e consolidando o seu programa político, como não poderia deixar de ser, no 
próprio processo de sua implementação, como resultado das disputas políticas 
entre as diversas classes e frações de classes.
Em 1989, foi formulado o Consenso de Washington, que definiu um conjunto de 
políticas econômicas para acelerar o desenvolvimento de vários países. Tais políticas 
foram utilizadas em todo o mundo para consolidar o modelo neoliberal e foram 
adotadas pelo Fundo Monetário Internacional no ano seguinte. Assim, diversos países 
em desenvolvimento passaram a implementar programas de ajustamento financeiro 
e reformas nos modelos econômicos (REIS, 2019).
Na prática, o neoliberalismo se consolidou no Brasil com a implantação do 
Plano Real, em 1993, e com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, então 
ministro da Fazenda, como presidente da República, em 1995. Esses elementos 
foram essenciais para a constituição da hegemonia do modelo neoliberal na 
sociedade brasileira. Em meio a tantas transformações, o mundo do trabalho 
vivenciou importantes impactos, e a sociedade presenciou a materialização 
do modelo de produção toyotista. Nesse sentido, Hobold (2002) destaca que 
o capitalismo se molda ao contexto histórico vigente com o intuito de atingir 
os seus objetivos e suprir as suas necessidades, a fim de preservar a sua 
hegemonia. Veja:
[...] nessa nova fase do capitalismo, o toyotismo acaba por fragilizar a resis-
tência dos trabalhadores, tendo como consequência o aumento dos desníveis 
sociais e a miséria no mundo, em razão da forte concentração de renda, carac-
terísticas principais, próprias deste novo modelo de produção e acumulação 
de capital (HOBOLD, 2002, documento on-line).
Esse modelo de produção buscava oferecer ao sistema capitalista maior 
agilidade na produção e aumento dos lucros, além de responder ao momento 
vivenciado pelo capitalismo (HOBOLD, 2002). Assim:
[...] o toyotismo pode ser tomado como a mais radical e interessante ex-
periência de organização social da produção de mercadorias, sob a era da 
mundialização do capital. Ela é adequada, por um lado, às necessidades da 
5Divisão social do trabalho na sociedade capitalista
acumulação do capital na crise de superprodução, e, por outro, ajusta-se à 
nova base técnica da produção capitalista, sendo capaz de desenvolver suas 
plenas potencialidades de flexibilidade e de manipulação da subjetividade 
(HOBOLD, 2002, documento on-line).
O toyotismo se reflete no modo de organização da produção, que deve 
responder ao novo momento do capitalismo. Diferentemente do que ocorreu em 
outros modelos, no toyotismo percebeu-se que o saber intelectual do trabalho 
poderia ser melhor explorado e mais bem utilizado a favor dos interesses do 
capital. Nesse sentido, considere o seguinte:
[O toyotismo] é [...] aquele momento em que o dispêndio de energia, para 
lembrar Marx, torna-se dispêndio de energia intelectual,que o capital toyo-
tizado incentiva para dele também se apropriar, numa dimensão muito mais 
profunda do que o taylorismo e o fordismo fizeram. Somente por isso é que 
o capital deixa, durante um período da semana (em geral uma ou duas horas), 
os trabalhadores aparentemente “sem trabalhar”, discutindo nos Círculos de 
Controle da Qualidade. Porque são nesses momentos que as ideias de quem 
realiza a produção florescem indo além dos padrões dados pela Gerência 
Científica —, e o capital toyotizado sabe se apropriar intensamente dessa 
dimensão intelectual do trabalho que emerge no chão da fábrica e que o 
taylorismo/fordismo desprezava (ANTUNES, 2000, p. 204, acréscimo nosso).
Além das características já mencionadas, pode-se dizer que esse modelo 
de produção buscava garantir que o capitalista tivesse suas necessidades 
atendidas em menor tempo, com maior qualidade e tornando o trabalhador 
polivalente. Essa flexibilização do trabalho e do trabalhador abriu espaço para 
a realização de trabalho em equipe, partindo do pressuposto de que haveria 
um número menor de trabalhadores ampliando a sua capacidade produtiva 
por meio da realização de horas extras ou contratos temporários de trabalho 
(HOBOLD, 2002).
Como você viu, na sociedade capitalista, o trabalho é segmentado, o que se 
caracteriza como estratégia do neoliberalismo para a manutenção da ideologia 
dominante. Destaca-se que a divisão do trabalho sempre existiu. Inicialmente, 
apresentava-se em formas distintas das atuais, mas que foram necessárias 
para a manutenção dos interesses do capitalismo e o desenvolvimento do 
neoliberalismo.
Divisão social do trabalho na sociedade capitalista6
3 A crise do capital e os seus desdobramentos
Quando se fala em crise no mundo do capital, deve-se considerar alguns 
momentos históricos. No contexto da crise da economia política internacional, 
Netto (2012) aponta que a maior potência capitalista mundial, os Estados 
Unidos, também sofreu impactos. O autor menciona que o País registra um 
índice elevado de pessoas em situação de pobreza (50 milhões de pessoas), a 
inexistência de um serviço público de saúde de qualidade, entre outros indi-
cadores sociais importantes e expressivos. No entanto, os dados apresentados 
são considerados irrelevantes perante a situação do País, que registra um defi cit 
de 10% em seu Produto Interno Bruto (PIB) e defi cit acumulados na balança 
comercial. Os Estados Unidos, que já foram o maior exportador no comércio 
mundial, atualmente são o maior importador (NETTO, 2012).
O autor acrescenta que nos últimos 30 anos a economia norte-americana 
cresceu vagarosamente, com exceção da indústria bélica e da segurança privada. 
No entanto, a importância dos Estados Unidos no cenário mundial permanece 
indiscutível e explicável: “[...] eles têm 560 (repito: 560) bases militares no 
exterior; o orçamento militar norte-americano consome 4,8% do PIB do 
país e é maior do que os dezessete maiores orçamentos militares do mundo” 
(NETTO, 2012, documento on-line).
Netto (2012) apresenta ainda a situação do segundo núcleo de maior impor-
tância no mundo capitalista mundial: Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha. No 
caso dos países europeus, o autor aponta que houve um crescimento econômico 
pequeno há aproximadamente duas décadas e que o desemprego se fez presente, 
sendo o número de desempregados superior à população economicamente 
ativa, ultrapassando 20% em alguns países. Veja o que afirma o autor:
Na verdade, desde os anos 1990, em todos os continentes registraram-se crises 
financeiras, expressões localizadas da dinâmica necessariamente contradi-
tória do sistema capitalista. E crises, não só as financeiras, fazem, também 
necessariamente, parte da dinâmica capitalista - não existe capitalismo sem 
crise. São próprias deste sistema as crises cíclicas que, desde a segunda dé-
cada do século XIX, ele vem experimentando regularmente. E que, seja dito 
de passagem, não conduzem o capitalismo a seu fim: sem a intervenção de 
massas de milhões de homens e mulheres organizados e dirigida para a sua 
destruição, do capitalismo, mesmo em crise, deixado a si mesmo só resulta... 
mais capitalismo (NETTO, 2012, documento on-line).
7Divisão social do trabalho na sociedade capitalista
Entre as crises no mundo capitalista, duas foram vivenciadas de forma integral, 
ficando conhecidas como crises sistêmicas. A crise sistêmica “[...] não é uma mera 
crise que se manifesta quando a acumulação capitalista se vê obstaculizada ou 
impedida. A crise sistêmica se manifesta envolvendo toda a estrutura da ordem 
do capital” (NETTO, 2012, documento on-line). Segundo o autor, a primeira 
das crises emergiu em 1873, na Europa, sendo marcada por uma forte depressão 
que perdurou 23 anos e só se encerrou em 1896. A segunda delas emergiu em 
1929 e não envolveu apenas uma região geográfica determinada, mas o globo, 
durando 16 anos e encerrando-se no pós-guerra.
Nesse contexto de crise, importantes transformações societárias ocor-
reram, especialmente a partir da década de 1970, sendo responsáveis por 
redesenhar o perfil do capitalismo contemporâneo. Veja o que afirma Netto 
(2012, documento on-line):
[...] está claro que, planetarizado, esse capitalismo apresenta traços novos 
e processos inéditos. Estas transformações estão vinculadas às formidá-
veis mudanças que ocorreram no chamado “mundo do trabalho” e que 
chegaram a produzir as equivocadas teses do “fim da sociedade do traba-
lho” e do “desaparecimento” do proletariado como classe, mudanças que 
certamente se conectam aos impactos causados nos circuitos produtivos 
pela revolução científica e técnica em curso desde meados do século 
XX (potenciada em seus desdobramentos, por exemplo, pela “revolução 
informacional” e pelos avanços da microeletrônica, da biologia, da física 
e da química). Mas são transformações que desbordam amplamente os 
circuitos produtivos: elas envolvem a totalidade social, configurando a 
sociedade tardo-burguesa que emerge da restauração do capital operada 
desde fins dos anos 1970.
Desde então, o capitalismo vem construindo as respostas para a sua 
própria crise estrutural. Com as transformações ocorridas no mundo do 
trabalho, tais respostas visam a implementar medidas de restauração diante 
da situação que se instalou. Entre essas mudanças, destaca-se o projeto 
neoliberal, resumido, de acordo com as palavras de Netto (2012, documento 
on-line), “[...] no tríplice mote da ‘flexibilização’ (da produção, das relações 
de trabalho), da ‘desregulamentação’ (das relações comerciais e dos circuitos 
financeiros) e da ‘privatização’ (do patrimônio estatal)”.
No que se refere à sociedade civil, pode-se dizer que sofre diretamente 
os enfrentamentos da crise do mundo capitalista, vivenciando também crises 
visíveis (NETTO, 2012). Considera-se que a flexibilização, a precarização, a 
instabilidade, a privatização, a desregulamentação do trabalho e dos direitos 
Divisão social do trabalho na sociedade capitalista8
trabalhistas, a crescente rotatividade, as subcontratações, o trabalho temporário, 
a despolitização e a criminalização dos movimentos da classe trabalhadora 
são exemplos das implicações da crise no mundo do trabalho.
Netto (2012, documento on-line) conclui que nos últimos 30 anos “[...] o 
modo de produção capitalista experimentou transformações de monta, que 
se refrataram distintamente nas diversas formações econômico-sociais em 
que se concretiza e que exigem instrumentos analíticos e heurísticos mais 
refinados”. Para o autor, dois aspectos merecem ser apontados:
[...]
1ª) nenhuma dessas transformações modificou a essência exploradora da 
relação capital/trabalho; pelo contrário, tal essência, conclusivamente pla-
netarizada e universalizada, exponencia-se a cada dia;
2ª) a ordem do capital esgotou completamente as suas potencialidades progres-
sistas, constituindo-se, contemporaneamente, em vetor de travagem e reversão 
de todas as conquistas civilizatórias (NETTO, 2012, documento on-line).
Como

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