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Livro ética profissional em Serviço Social

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Prévia do material em texto

Ética Profissional 
em Serviço Social
Ética Profissional 
em Serviço Social
Maria Suzete Müller Lopes
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da 
Editora da ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
Maria Suzete Müller Lopes é mestre em Serviço Social, 
docente do Curso de Serviço Social da ULBRA/Canoas-RS, co-
ordenadora dos estágios supervisionados do Curso de Serviço 
Social da ULBRA/Canoas-RS, assistente social na Secretaria 
de Justiça e Desenvolvimento Social do Estado do RS.
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora)
Mara Lúcia Machado
José Édil de Lima Alves
Astomiro Romais
Andrea Eick
ISBN: 978-85-5639-148-3
Dados técnicos do livro
Fontes: Antique Olive, Book Antiqua
Papel: offset 90g (miolo) e supremo 240g (capa)
Medidas: 15x22cm
Impressão: Gráfica da ULBRA
Março/2010
Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L864e Lopes, Maria Suzete Müller.
Ética profissional em serviço social. / Maria Suzete Müller Lopes. – 
Canoas: Ed. ULBRA, 2010. 
160p.
1. Serviço social - ética profissional. I.Título. 
CDU: 364.442:174
Sumário
 Apresentação .....................................................................................7
 1 Ética e Serviço Social: fundamentação filosófica ......................11
 2 Direitos humanos e Serviço Social ...............................................27
 3 Ética e sociedade .............................................................................45
 4 O caráter ético-político do Serviço Social....................................61
 5 Componentes legais do exercício profissional ...........................75
 6 O Serviço Social e a bioética ..........................................................99
 7 Ética, conhecimento e competência ...........................................111
 Anexos............................................................................................129
Apresentação
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Prezado (a) aluno (a), minhas saudações! 
Esta é a disciplina de Ética Profissional em Serviço Social, que tem como 
principal função, orientar a formação da postura ética profissional. 
A proposição desta disciplina é fazer um exercício reflexivo e crítico, 
possibilitado pelo estudo da ética, a partir das questões ético-morais na 
sociedade atual, não apenas para a construção da postura profissional 
necessária para que o assistente social desempenhe o seu papel e suas 
atribuições, mas também para que tenha presente o projeto ético-político 
do Serviço Social. 
Para compreender o mundo em que se vive é necessário conhecer como 
estão sendo constituídas as relações humanas, historicamente estabelecidas. 
Neste sentido, torna-se necessário alongar o olhar e mergulhar na essência 
da vida, conhecendo esta cotidianidade materializada nas relações entre 
os homens e com a natureza.
Sair do senso comum, do plano das ideias e estabelecer uma relação 
dialética do porque, do para que e do para quem, é o que faz com que as 
relações se constituam.
A ética como uma teoria, possibilita refletir sobre as questões 
contraditórias, o comportamento do homem na sociedade, as necessidades, 
os limites e as possibilidades, espaço e tempo, interesses econômicos e 
valores morais, razão e desejo, o individual e o coletivo.
As questões éticas devem ser inseridas e analisadas no contexto 
histórico-social específico, pois os valores independem das avaliações 
individuais, mas sim das atividades e/ou comportamento das pessoas, 
apresentando as relações e as situações sociais que expressam a questão 
social e, portanto, as demandas colocadas para o Serviço Social.
Neste sentido, a ética possibilita um espaço de reflexão em que a essência 
dos fenômenos, a totalidade, o momento histórico em que se situam e os 
valores implicados nos fenômenos, devem ser considerados.
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O livro-texto desta disciplina está organizado em oito capítulos, 
subdivididos em unidades para que sua leitura e compreensão se deem 
de forma a agregar conhecimentos e favoreça a realização das atividades 
propostas ao final de cada capítulo. 
Para maior dinamicidade neste processo, você terá alguns personagens 
que lhe chamarão a atenção para o assunto em questão e/ou lhe indicarão 
o procedimento a ser seguido.
O conteúdo ético e as reflexões apresentadas neste livro se constituem 
como instrumentos que possibilitam melhor identificação e compreensão 
do cotidiano da sociedade em que se vive, como profissionais, mas, 
sobretudo, como seres humano-sociais. Neste sentido, convido-os à 
primeira reflexão:
A vida é para ser vivida com todas as suas possibilidades, no entanto, para 
que isso ocorra minimamente, é fundamental saber que elas existem 
como tal (Barroco, 2007, p. 11). 
Profª Ms. Maria Suzete Muller Lopes
Ética e Serviço Social: 
fundamentação 
filosófica 
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Prezado acadêmico, primeiramente é necessário salientar a importância 
da disciplina de Ética Profissional para a formação do Assistente Social. 
Esta disciplina objetiva conhecer as dimensões éticas, morais e políticas da vida 
social e profissional. Para isto, acadêmico será lhe propiciado neste capítulo 
uma compreensão dos limites e possibilidades do agir profissional, 
através da reflexão ética como um instrumento, permitindo-lhe a 
melhor compreensão de conceitos éticos. O agir profissional se depara 
constantemente com novos desafios a partir das expressões da questão 
social.
1.1 Considerações sobre a ética
O desenvolvimento das reflexões ético-morais inicia-se com a superação 
da concepção de filosofia1 como um saber abstrato e a reconhece-se como 
uma teoria, um saber crítico e criativo, aquele que possibilita ir às raízes dos 
fenômenos da realidade social, que permite a reflexão ética sobre a moral 
e os valores, para que se possa apreender o comportamento humano.
Portanto, assim se compreende, que uma sociedade deve fundamentar-
se na ética, em princípios e valores éticos, que possibilitam a confiança e 
a solidariedade entre os indivíduos, garantindo comportamentos sociais 
necessários à convivência humana.
Esta concepção de filosofia como um saber teórico-crítico é que dá a 
fundamentação filosófica para o Serviço Social na atualidade. Desta forma, 
pode-se dizer que a ética profissional “não está dissociada do contexto 
sócio-cultural e do debate filosófico”, pois “[...] ela guarda uma profunda 
relação com a ética social e, consequentemente, com os projetos sociais” 
(Brites e Sales, 2007, p. 8).
A ética profissional passa a fazer parte da formação de cada um de 
vocês, acadêmicos de Serviço Social, e a partir de agora os acompanhará 
para sempre no fazer profissional. Ela propiciará a compreensão de valores 
fundamentais para o Serviço Social, tais como: justiça social, democracia, 
solidariedade, liberdade, cidadania entre outros, sinalizando o Código de 
1 Philosofhia (termo grego) = philia (amizade) e sofhia (sabedoria).
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Ética como instrumento que motivará a conduta profissional competente, 
responsável e comprometida com a justiça social e o acesso à garantia 
de direitos.
A profissão é a prática habitual de um trabalho, portanto existe aí a 
relação entre a necessidade e utilidade para a pessoa, pressupondo, para 
tanto, uma conduta específica. Toda a profissão necessita de um conceito 
profissional, isto é, a clareza das capacidades, virtudes, responsabilidades 
e compromisso do profissional frente à sociedade ou para aquelesa quem 
prestará os seus serviços. Então vamos começar falando um pouco sobre 
ética, moral e valores.
A partir do momento em que o homem começou a viver em contato com 
os outros homens, passou a existir normas, referentes ao comportamento 
do ser humano trazendo a ideia de bom e de mau (atitudes, intenções). 
Foram criados códigos, leis (escritas, controláveis externamente), normas 
morais (não escritas, mas inscritas no interior da pessoa, fazendo parte 
de suas convicções).
Por exemplo, nos primeiros anos de vida de uma criança, ela vai 
aprendendo as normas morais de sua família, da escola, do meio em 
que vive. Aceita-as, pois elas vêm de fora e são praticamente impostas 
– fase heterônoma2. Na medida em que vai se desenvolvendo, começa a 
questionar-se e a questionar as pessoas, buscando respostas e refletindo 
sobre sua própria liberdade (de atos e pensamentos). Passa assim à vida 
autônoma3 criando suas próprias convicções, comportamento, atitudes 
e intenções. Tudo agregado à herança genética e às experiências que já 
possui.
Começa aí a vida adulta e passa-se a fazer ética, pois começa-se a refletir 
sobre as normas morais, não só individualmente, mas principalmente 
no coletivo. Por isto, se diz que a ética é a uma reflexão que cada um faz 
sobre sua própria pessoa e sobre o seu meio, sua comunidade; sobre os 
princípios morais que vão orientar a vida de cada um e a vida da sociedade 
como um todo.
2 Heteros = fora; nomos = lei.
3 Autos = eu mesmo; nomos = lei.
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Do grego “ETHOS” = modo de ser, caráter. “A ética é a teoria do 
comportamento moral dos homens em sociedade” (Vazquez, 1997, p. 
12). É ela uma reflexão, uma investigação sobre a conduta humana. 
Estuda atitudes do ser humano que são as mais adequadas em relação a si 
mesmo, às outras pessoas, aos deveres referentes à profissão, à natureza. 
Seu objeto de reflexão é as experiências morais do ser humano, a partir 
de uma realidade humana e social, pelos fatos ou atos humanos, pelo 
conhecimento do que é bom ou ruim, certo ou errado, justo ou injusto. A 
ética é a consciência crítica da humanidade.
A função fundamental da ética é explicar, esclarecer ou investigar a 
realidade, para então elaborar conceitos afins ou pertinentes. Os homens 
no seu cotidiano enfrentam problemas, tomam decisões, agem desta ou 
daquela forma, se comportam de várias maneiras – agem moralmente a 
partir de regras e normas. Mas, também refletem sobre esse comportamento 
prático, fazendo dele objeto de sua reflexão e de seu pensamento.
Quando isto acontece, dizemos que ocorre a passagem do plano 
“prático moral” para o da “teoria moral”, isto é, do que é vivido, para o 
que deve ser refletido, pensado, analisado e avaliado.
Assim trata-se da discussão dos problemas teórico-morais ou “éticos”. 
Os problemas teóricos e os problemas práticos não estão separados, mas 
diferenciam-se. Os problemas éticos caracterizam-se pela generalidade. 
O que fazer em cada situação concreta é um problema prático-moral 
e não teórico-ético. Portanto, a ética contribui para fundamentar o 
comportamento moral e relacioná-lo com as necessidades e os interesses 
sociais, visualizando a dimensão moral do grupo social.
Pode-se dizer que a ética é uma reflexão histórica, crítica sobre a dimensão 
moral do comportamento humano. Procura, “apreender o significado e os 
fundamentos da moral, indagando sobre a relação entre moral e liberdade – 
valor ético fundamental” (Barroco, 2007, p. 20), ver os valores, os questionar 
e buscar sua consciência, compreender, e ver o sentido.
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1.2 Considerações sobre a moral 
e os valores
A moralidade constitui-se por normas morais realmente observadas. 
Aquelas pelas quais as pessoas sentem obrigação. A ética valoriza-se 
como teoria pela explicação e não no fato de prescrever ou recomendar 
com vistas à ação. Ela deve propiciar a compreensão racional do real, 
do comportamento dos homens. A ética ou filosofia moral, para alguns 
filósofos, ocupa-se com a reflexão sobre as noções e princípios da vida 
moral cotidiana. Fundamenta-se numa teoria de valores, e suas “formas 
de objetivação, ocorrem de forma contraditória” (Barroco, 2008, p. 17).
O ser humano possui uma consciência moral que é a capacidade 
de discernir o bom do ruim, o certo do errado, julgando a partir das 
circunstâncias concretas, da sua própria conduta, reconhecendo o valor 
moral dos diferentes modos de proceder. Pressupõe liberdade, autonomia 
e responsabilidade. Isto é, o homem como sujeito ético deve responder por 
seus atos. Pode avaliar as consequências de suas ações, seus resultados, 
porque é livre, se autodetermina; é autônomo, pois decide e assume aquilo 
que quer por si mesmo, sem subordinar-se a ninguém.
Entretanto, atua-se com juízos de valor sobre o comportamento das 
outras pessoas, assim como sobre o próprio comportamento, e estes podem 
avaliar coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, 
estados de espírito, intenções e até mesmo, decisões que venhamos a 
tomar.
Portanto, os juízos de valor enunciam o que deve ser. O ser humano 
avalia e julga suas ações, bem como as dos outros; com isto tem a 
oportunidade de se rebelar frente a situações que julga serem desumanas 
ou injustas. A isto se chama de indignação ética, fundamental para o 
exercício humano da liberdade frente a normas, regras, convenções sociais 
engessadas, injustas e aceitas com normalidade.
“A moral é o conjunto de regras de conduta assumidas pelos indivíduos 
de um grupo social com a finalidade de organizar as relações interpessoais 
segundo os valores do bem e do mal” (Aranha, 1998, p. 117). Do latim 
mos, moris = costume ou mores = hábitos de conduta.
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Portanto, a moral constitui-se por normas de comportamento moral que 
existem na sociedade ou num segmento social. Pode-se dizer ainda, que este 
conjunto de regras e normas destina-se a regular as relações das pessoas na 
vida em comunidade e o comportamento adquirido pelo homem.
 É interessante entender aqui que norma é diferente de princípio. 
Norma tem um caráter autoritário, mais rígido. O princípio tem caráter 
moral, mais amplo, não impede a liberdade do indivíduo, mas implica 
sim na sua responsabilidade.
Ex.: Não roubar (norma) – ser honesto (princípio). 
Não mentir (norma) – ser verdadeiro (princípio).
Segundo Vazquez (1997) a moral é também entendida como um 
sistema que agrega normas, princípios e valores, que por sua vez, vai 
servir para orientar e regular as relações entre os sujeitos e entre estes e a 
sociedade. No entanto, as normas deverão ser aceitas, isto é, deverão ser 
acatadas livremente por convicção, de forma consciente e não, de forma 
mecânica. 
A moral é histórica, pois o homem é naturalmente histórico, social, 
prático, criador, transformador da natureza; produz e reproduz 
constantemente. Assim, o comportamento moral é próprio do homem 
como ser histórico, social, prático, pois transforma conscientemente o 
mundo, a sua realidade, a sua própria natureza.
O homem tem necessidades naturais tais como: comer, respirar, beber, 
dormir. Ao mesmo tempo, tem-se um espaço de liberdade que possibilita 
sonhar, desejar, buscar soluções para essas necessidades naturais dentre 
outras, que não são determinadas nem pela natureza, nem por destino. 
A moral surge quando o homem supera a sua natureza instintiva e passa 
a ter uma natureza social, isto é, faz parte de uma coletividade.
“A necessidade social da moral é fruto do processo de desenvolvimento 
da sociabilidade, seu espaço é o da cultura” (Barroco, 2007, p. 23). Assim, 
reconhece-se que a MORAL é um conjunto de normas e deveres instituído 
por necessidades práticas, não pela teoria.
Portanto, a moral tem origem através do desenvolvimento da 
sociabilidade,faz parte de uma necessidade prática de convívio social 
desde os tempos primitivos. É resposta às necessidades sociais que 
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podem existir, sem que se reflita sobre ela; o conteúdo da reflexão ética 
é a própria realidade moral. Então, a teoria nos ajuda a entender este 
processo, indagando, questionando sobre o seu significado.
Procurando entender o ser social, sabemos que o homem tem uma 
dimensão singular voltada ao “eu”, são as necessidades humanas 
conscientes sempre no aspecto do “eu”. Ex: eu tenho fome, eu estou com 
dor, eu sinto frio, eu tenho afetos, eu estou sofrendo, eu estou amando, 
etc. Isto indica hábitos, costumes, valores e normas traduzidas no nosso 
cotidiano. Está vinculado à sociedade e percebe o “nós” através do “eu”. 
Desta forma, o indivíduo não percebe a sua universalidade, não se percebe 
ser genérico.
Regras e normas são incorporadas pelas pessoas mecanicamente, 
repetitivamente, de forma espontânea, utilizando escolhas baseadas 
em preconceitos. Ao realizar atividades, desenvolver ações lhe é permitido 
contatar com o humano genérico, tomar consciência de sua universalidade, 
observar o respeito ao outro e agir individualmente somente em função 
do seu compromisso coletivo, compromisso com projetos coletivos. 
Assim, nesta dimensão da moralidade (senso moral) singular ao 
humano genérico, a pessoa identifica-se como um sujeito ético, consciente 
de suas escolhas e responsabilidades frente à sociedade. Isto é, tem 
consciência de que as suas decisões, atitudes e ações têm um resultado, 
uma consequência sobre a vida das outras pessoas, sobre a coletividade 
e que, portanto, será responsável por isto.
Entende-se que as normas são necessárias à convivência social. Portanto, 
o problema não está na norma ou regra, mas na forma mecânica e a-crítica 
em que são incorporadas e repetidas no cotidiano social. A ética é uma 
capacidade humana cujas bases são dadas pela práxis (atividade prática 
consciente de criar e recriar necessidades e capacidades materiais e 
espirituais, resultando em um produto concreto).
A vida social coloca necessidades de interação entre os homens 
(linguagem, costumes, hábitos, atividades simbólicas, religiosas, artísticas 
e políticas). O homem por si cria valor, é uma de suas capacidades, por 
isso classificam em positivas ou negativas as suas relações, de acordo 
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com “um conjunto de necessidades e possibilidades históricas” (Barroco, 
2007, p. 23).
São também os homens que criam as normas e valores. Nas sociedades 
de classes, as relações sociais estabelecidas são movidas por necessidades 
contraditórias, donde a impossibilidade de existirem valores absolutos ou 
concepção de bom e de mau que corresponda aos interesses e necessidades 
de todos.
Assim também a moral é rica em contradições; seus valores e princípios 
historicamente têm significados diferentes, atendendo a interesses 
ideológicos e políticos de grupos sociais. A não aceitação de valores e 
normas possibilita o surgimento de novos significados para estes, bem 
como o surgimento de novos valores, pois são importantes e necessários 
para o convívio social.
No campo da moralidade (senso moral) a pessoa será julgada pelo 
senso moral para saber se é responsável por seus atos e se está de acordo 
com as normas e valores determinados pela sociedade. Ainda neste campo, 
os juízos de valor nos permitem julgar a ação “justa ou injusta”.
Diz-se que o indivíduo está socializado quando tem um senso moral 
relativo aos seus deveres e, portanto, podemos dizer que ele é dotado de 
uma consciência moral, pois responde por seus atos e distingue o que é 
bom e mau. Podemos dizer que a moral “tem uma função integradora; 
estabelece uma mediação de valor entre o indivíduo e a sociedade; entre ele 
e os outros, entre sua consciência e sua prática” (Barroco, 2001, p. 43).
Portanto, a moral interfere nos papéis sociais, pois ela refere costumes, 
uma característica, um ethos (modo de ser), expressando a identidade, 
dizendo como é aquela sociedade, classe social num determinado 
momento histórico. Os deveres, normas e juízos representam o caráter 
normativo da moral, pois atendem as expectativas sociais frente ao 
comportamento das pessoas.
Este comportamento é adquirido pelos costumes através do convívio com 
a família, pela educação formal e informal, resultando em hábitos. Podemos 
dizer que isto somente vale para o homem, pois é ele que age socialmente. 
Os costumes formam o tecido social são legitimados por consenso social, 
passam a ser deveres e bons para a sociedade. Como deveres devem 
ser respeitados, mas para tanto, deverão realmente ser legítimos, daí a 
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necessidade de criar a vinculação entre dever e a consciência moral, entre 
o caráter social da moral e sua aceitação subjetiva.
Os valores significam. Significam algo para a própria pessoa ou para a 
coletividade; eles são herdados pela pessoa através da cultura. Portanto, 
os valores são adquiridos, graças à sua relação com as demais pessoas/
ser social. Sua ação fundamenta-se em um conjunto de valores, que lhe 
possibilita criar expectativas e aspirações, o que o impulsiona para o viver 
e o conviver. 
Assim como a moral, “os valores são sempre sociais e históricos, são 
construções culturais objetivas, inscritas nas relações sociais inerentes à 
(re)produção da vida social” (Barroco, 2007, p. 24). O comportamento 
humano tem um valor, nós o avaliamos, o julgamos. Os valores são 
criações humanas, portanto, só existem e se realizam no homem e pelo 
homem. Existem unicamente num mundo social, pelo homem e para o 
homem. 
Desta forma, valores não decorrem apenas da subjetividade humana, 
mas também resultante da existência material, da concretude, de 
uma práxis e a partir das mediações sociais, estes adquirem múltiplos 
significados (Barroco, 1991). 
Então, é possível assim esquematizar o conteúdo até aqui 
desenvolvido:
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Assim considera-se que:
Atividades
1. Em grupos, os alunos irão discutir cada um dos tópicos abordados 
anteriormente (1.1 – 1.2) fazendo aproximações com a realidade vivida 
no seu cotidiano. Para melhor visibilidade deste exercício, sugere-se 
que cada grupo crie um quadro onde seja relacionada ética – moral 
e valores com exemplos ou situações da vida cotidiana. O resultado 
deste exercício será apresentado ao grande grupo para suscitar o 
debate e a melhor compreensão destes tópicos.
2. Leitura da Parte II item 3 – “Bases filosóficas para uma reflexão sobre 
ética e Serviço Social”, páginas 71 a 83, do livro Serviço Social e ética: 
convite para uma nova práxis, de Dilsea A. Bonetti (org.) et al. São Paulo: 
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Cortez, 2003. Esta leitura deverá ter o propósito de aprofundar e 
complementar o conteúdo tratado neste livro-texto, permitindo ao 
acadêmico identificar suas dúvidas e dirimi-las com o seu tutor. 
Bibliografia comentada
BONETTI, Dilséa Adeodata (org.) et. al. Serviço Social e ética: convite 
a uma nova práxis. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
Este livro oferece importantes reflexões acerca de conteúdos filosóficos 
e políticos, que potencializam a compreensão do lugar da ética na 
sociedade atual, bem como no Serviço Social.
Bibliografia
ARANHA, Maria Lucia de A. e MARTINS, Maria Helena P. Temas 
de filosofia. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1998.
BARROCO, Maria Lucia S. Ética e Serviço Social: fundamentos 
ontológicos. São Paulo: Cortez, 2001.
BARROCO, Maria Lucia S. Ética e sociedade. Curso de capacitação 
ética para agentes multiplicadores.4ª ed. CFESS – Gestão 2002/2005. 
Brasília, 2007.
BONETTI, Dilséa Adeodata (org.) et. al. Serviço Social e ética: convite 
a uma nova práxis. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
BRITES, Cristina M. e SALES, Mione A. Ética e práxis profissional. 
Curso de capacitação ética para agentes multiplicadores. 4ª ed. 
CFESS – Gestão 2002/2005. Brasília, 2007.
OLIVEIRA, Jairo da Luz e LOPES, Maria Suzete M. Ética profissional 
em Serviço Social. Cadernos Universitários nº 497. Canoas: Ed. ULBRA, 
2008.
SIMÕES, Carlos. Curso de direito do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 
2008.
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VAZQUEZ, Adolfo S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
1997.
Auto-avaliação
Marque somente a alternativa correta.
1. A função fundamental da ética é:
a) emitir juízos de valor sobre a conduta das pessoas para evitar 
problemas
b) explicar, esclarecer ou investigar a realidade para elaborar 
conceitos afins 
c) fazer com que as pessoas tenham uma boa conduta ética 
2. Ética é compreendida como:
a) a ciência que regula a vida do homem na sociedade
b) a teoria que serve para ensinar as pessoas a terem um bom 
comportamento
c) a teoria que reflete sobre o comportamento das pessoas na 
sociedade
 
3. Valores são:
a) são materialidades da vida cotidiana
b) significados daquilo que vale, que tem importância para cada 
pessoa
c) superficialidades que passam na vida de cada pessoa 
4. A moral é compreendida como:
a) um sistema que agrega normas, princípios e valores, que vai 
servir para ensinar as pessoas a se comportarem bem
b) um sistema que agrega normas, princípios e valores, que por 
sua vez, vai servir para orientar e regular as relações entre os 
sujeitos e entre estes e a sociedade
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c) um sistema antigo de julgar e regular o comportamento das 
pessoas em sociedade
5. O ser humano assume sua condição de sujeito ético quando:
a) age corretamente
b) age corretamente pois suas ações devem ser bem pensadas
c) tem consciência de que suas atitudes repercutem na vida do 
outro
Respostas: 1- B; 2- C; 3- B; 4- B; 5- C
Direitos humanos e 
Serviço Social
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Neste capítulo será abordado de forma histórica a concepção e 
constituição dos direitos humanos na sociedade moderna, a fim de que se 
entenda a aproximação e adoção destes pelo Serviço Social como direção 
do agir profissional.
2.1 Pressupostos históricos e sociais
Consideram-se direitos humanos todos os direitos de todo ser 
humano. Portanto, são detentores de direitos mulheres e homens de todas 
as idades, etnias, credos, opções sexuais, privados da liberdade ou não, 
todos sem exceção. 
São direitos fundamentais próprios da natureza humana, cabendo à 
sociedade garanti-los e preservá-los. Os diretos fundamentais são:
• direitos individuais fundamentais – liberdade, igualdade, propriedade, 
segurança e vida;
• direitos sociais – educação, saúde, trabalho, lazer, previdência e 
assistência social, segurança, transporte;
• direitos econômicos – referem-se ao pleno emprego, meio ambiente 
e aos direitos do consumidor;
• direitos políticos – formas de realização da soberania popular, referem-
se à participação da população nas decisões do Estado (Magalhães, 
2000, p. 1 e 3).
São também ditos direitos humanos todos os direitos conquistados ao 
longo dos tempos por todas as pessoas, tais como:
• direito a vida;
• direito à saúde;
• direito à habitação;
• direito à integridade física;
• direito à educação;
• direito ao trabalho;
• direito à terra;
• direito ao lazer;
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• direito à informação;
• direito a um ambiente saudável e preservado.
Retomando a história de forma sintética, tais direitos materializam-
se com o Estado Liberal – princípios liberais, político e econômico, 
respectivamente, liberdade e igualdade e exercício da livre concorrência 
comercial. Neste contexto, é promulgada a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão em 1789 na França, que possibilitou a concepção 
originária dos direitos humanos.
Desta feita, os direitos individuais são evidenciados e o direito 
de propriedade é inquestionável e preservado. Tem-se então, um 
individualismo acentuado (séculos XVII e XVIII), com concreta omissão 
do Estado frente aos problemas sociais e econômicos, que foram 
agravados pela revolução industrial e o processo de desenvolvimento 
do capitalismo. 
A partir do século XVII as primeiras classificações ou geração dos 
direitos fundamentais são identificadas:
• 1ª geração – direitos civis e políticos – séculos XVII e XVIII; conquista 
das liberdades políticas e dos direitos individuais (proteção do 
direito à vida, hábeas corpus, privacidade, propriedade privada e 
representação dos interesses sociais no Estado. Firmaram-se pela 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão –1789 e pela 
Declaração dos Direitos do Estado da Virginia – 1776 (Simões, 2008, 
p. 74 e 75).
• 2ª geração – direitos sociais – século XIX e XX; marcou-se pela 
expansão do capitalismo relativamente às condições de trabalho 
dos cidadãos. Foram considerados fundamentais nesta dimensão de 
direitos a saúde, a previdência social, as condições de trabalho para 
as mulheres, jornada de trabalho, condições do trabalho infantil, 
assegurado descanso e lazer.
• 3ª geração – direitos coletivos e difusos – século XX; são direitos 
que trazem um cunho humanístico e de universalidade, relativos a 
preservação da paz, direitos ambientais, ao patrimônio comum da 
humanidade, proteção da infância e juventude, do consumidor, auto-
determinação dos povos.
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• 4ª geração – século XX e XXI; são direitos decorrentes da sociedade 
atual frente a mundialização do capital financeiro e da intensificação 
de conflitos sociais. Tais direitos referem-se ao direito à democracia, 
à informação e ao pluralismo. Materializam-se, por exemplo, na 
instituição dos conselhos de direitos (Simões, 2008, p. 80 e 81).
A expressão “direitos humanos” tem como conteúdo o reconhecimento 
do valor humano, da pessoa como ser vivo, íntegro, pensante e respeitável. 
O princípio da igualdade é básico e nele está firmado o marco inicial de 
todos os demais direitos da pessoa, dando equilíbrio no relacionamento 
dos indivíduos no ambiente social. Portanto, para o convívio humano é 
necessário o respeito mútuo dos direitos de cada pessoa.
 [...] o direito da igualdade real passou, então a impulsionar a reivindicação 
da universalidade dos direitos sociais, desenvolvendo-se a ideia do Estado 
não mais como ente passivo e palco de representação de interesses sociais 
fundamentais, segundo a concepção liberal, mas como formulador ativo 
de políticas públicas, dirigdas a amplas massas da população (Simões, 
2008, p. 76)
Assim, afirma-se que todos os homens são iguais, nenhum pode ter 
mais direitos ou mais liberdades do que outro, sem distinção de credo, 
raça, sexo, cor, opinião política, riqueza, nascimento ou outra condição. 
O surgimento da sociedade legitima-se com base num acordo de todos 
– o pacto social. Este irá definir os limites que os pactuantes consentem em 
aceitar seus direitos. A vida em sociedade e, particularmente a sociedade 
capitalista, impõe a limitação do exercício dos direitos naturais, aqueles 
decorrentes da sua natureza, justificando-se pela possibilidade de assegurar 
a todos os membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. 
Para tanto, busca-se a coordenação através da lei. Esta se coloca como 
um instrumento de coordenação das liberdades. O pacto social prescinde 
de um documento escrito, uma declaração de direitos.
A concepção de direitos humanos assenta, originalmente na transformação 
da ordem estamentária feudal, de natureza hierárquica, organizada pelos 
estatutos (status),para a predominância das relações contratuais de 
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natureza paritária (Cerroni, 1976), promovida pela Revolução Burguesa [...] 
implementando a Revolução Industrial (Simões, 2008, p. 68).
Os conflitos gerados pela industrialização e as relações de trabalho 
e comerciais, identificadas nos séculos XIX e XX, e que afloraram a 
questão social, determinou contradições entre os interesses individuais 
e as necessidades coletivas acentuando os descontentamentos no âmbito 
da sociedade.
A pobreza e a miséria acentuadas na Europa provocaram diferentes 
conflitos, movimentos de enfrentamento e revolta, vindo a representar-se 
na 1ª Guerra Mundial em 1914.
Após esta Guerra no trato dos direitos fundamentais passou-se a 
constituir os direitos sociais integrando os novos textos constitucionais 
(1919). 
Nesta época com a internacionalização dos direitos humanos (Simões, 
2008), foi criada a Sociedade das Nações e a Organização Internacional 
do Trabalho – OIT.
O alto índice de desemprego na Alemanha oportunizou a instalação do 
Partido Nacional Socialista de Hitler (1934), que se tornou o único Poder 
no Estado alemão. Assim, em pouco tempo o mundo foi assolado pela 
2ª Guerra Mundial (1939), a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki 
(Japão) e as atrocidades e tristezas decorrentes destes eventos sobre as 
populações.
Com o término da 2ª Guerra Mundial (1945) as sociedades clamavam 
a responsabilidade do Estado, no sentido da criação de mecanismos que 
protegessem a vida e os direitos dos cidadãos. Neste mesmo ano foi 
assinada a Carta das nações Unidas, que registrava o desejo dos povos em 
preservar as gerações futuras das sequelas das guerras, proclamar direitos 
de igualdade entre homens e mulheres, dignidade e liberdade. 
Em 1946 foi criada a Organização das Nações Unidas – ONU, com o 
objetivo de manter a paz nas nações, a defesa das liberdades e dos direitos 
humanos, promovendo com isto o desenvolvimento dos países no âmbito 
mundial. Atualmente fazem parte desta Organização 191 países.
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Para o atendimento de tal objetivo, foram criados alguns documentos 
essenciais para firmar e internacionalizar os direitos humanos. Cita-se a 
seguir alguns destes:
• Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948);
• Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (Bogotá, 
1948);
• Convenção para a Prevenção e Repressão do Genocídio (1958);
• Declaração dos Direitos da Criança;
• Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos;
• Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos (1969);
• Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966 
vigorando somente em 1976);
• Convenção Americana dos Direitos do Homem (Costa Rica, 1969).
• Convenção Interamericana para Prevenir e Castigar a Tortura 
(1985).
Muitos outros documentos foram firmados e acolhidos no plano dos 
princípios pelos países signatários, porém com resistências ao seu teor e 
proposição com alegações quanto a questões de soberania. 
Promoveu-se também a multiplicação e universalização dos direitos 
humanos em três direções:
• ampliação dos direitos sociais e políticos e da intervenção estatal;
• passagem da noção de indivíduo humano para sujeitos diversos – 
família, minorias e mesmo para a humanidade;
• passagem da noção de sujeito genérico para sujeito específico – idoso, 
criança, mulher. 
Prezado acadêmico, o trato dos direitos humanos no Serviço Social 
é fundamental, e você já deve ter compreendido que há uma sintonia 
entre eles. Por esta razão, será enfocado com particularidade a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, visto que esta Carta legitima os princípios 
éticos que fundamentam atualmente o trabalho do assistente social.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada pela 
Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 
de dezembro de 1948, e é referida pela ONU como uma declaração dos 
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princípios que possui uma hierarquia superior, reflete os princípios de 
Direito Internacional. Portanto, deve ser considerada como fonte deste 
direito. 
Foi consensuada por 48 países (com exceção da então União Soviética, 
Ucrânia, Tchecoslováquia, Arábia Saudita e África do Sul) traduzindo 
valores éticos universais contemporâneos. Assim reflete “a marca dos 
projetos societários em disputa na época” (Vinagre e Pereira, 2007, p. 40). 
Tal Declaração inova trazendo em seu bojo os princípios da universalidade, 
indivisibilidade e indissolubilidade dos direitos humanos.
Esta Declaração é transcendente na história da humanidade. Ela traz 
um sistema de princípios fundamentais da conduta humana, aceito 
pela maioria dos países, traz valores comuns, valores universais. Tal 
Declaração veio a configurar-se em função de discussões e repúdio sobre 
as monstruosidades e atrocidades ocorridas na Alemanha com o nazismo, 
que destruiu os direitos dos cidadãos alemães/judeus e, sobretudo, levou 
o mundo a um novo conflito.
Alguns retrocessos na luta por direitos que são fundamentais na vida 
do ser humano, como liberdade, igualdade, tolerância, universalidade, 
foram constatados ainda no século XX, tais como as violências dos conflitos 
entre países, a guerra fria, as disputas territoriais e por petróleo, torturas 
e perseguições.
Tais conflitos comprometeram o respeito aos direitos humanos por 
aqueles mesmos países que aderiram às declarações de direitos. Também 
provocaram o surgimento de novos comportamentos e a reconceituação 
de valores éticos determinantes para o convívio social, principalmente a 
partir do processo de globalização, o que contribuiu para o agravamento 
da exclusão social.
A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi construído 
o Sistema Internacional de Direitos Humanos, porém não possui 
mecanismos internacionais de controle, ficando a cargo dos sistemas 
regionais. Desta forma, há especificidades que vão ampliar ou restringir 
os direitos garantidos e os mecanismos de efetivação regionais. 
Na década de 1990, em todos os continentes (Simões, 2008, p. 72) o 
movimento pelos direitos humanos conquistou alguns avanços, sendo 
firmadas algumas declarações de direitos como: Declaração do Zaire 
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(1990), Declaração de Tunis (1992), Declaração de São José (1993) e a 
Declaração de Bangcoc (1993).
Em 1993 foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas sobre 
direitos humanos, e a II Conferência Internacional de Direitos Humanos, 
decorrendo destes a consagração da universalidade, indivisibilidade e 
interdependência dos direitos humanos. 
O mais grave problema jurídico que tem enfrentado a Declaração 
Universal é a falta de organismos jurisdicionais com poder para impor o 
cumprimento dos direitos humanos nos países em que eles são violados. 
Hoje em muitos países e Estados foram criadas as Comissões de Direitos 
Humanos, com a intenção de socializar e difundir princípios éticos 
universais e chamar à responsabilidade aqueles que violam os direitos 
humanos.
No Brasil, a reflexão e incorporação da concepção de direitos humanos 
foram demarcadas pela Constituição Federal de 1988, a partir do processo 
de redemocratização na década de 1980, o que permitiu garantias e avanços 
nesta área tais como a constituição de um Sistema Nacional de Proteção 
dos Direitos Humanos fundamentado na concepção de que os direitos 
humanos são universais, indivisíveis e interdependentes. Portanto, todos 
se equivalem.
 Neste sentido, entende-se que os direitos humanos devem servir 
de base das políticas públicas, uma vez que estas devem responder à 
responsabilidade do Estado na garantia do acesso aos direitos do cidadão 
brasileiro.
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http://chermontlopolis.wordpress.com/2008/02/29/brasil-corrupto-violento-e-racista/
Nem todosos valores enunciados na Declaração encontram condições 
de uma realização plena, dada as circunstâncias da organização da 
sociedade capitalista. Por esta razão, a Declaração Universal encontra 
contradições no cotidiano da vida social, pois propõe a justiça, a paz e a 
igualdade como ideais de civilização, mas ainda é verificado que não há 
amparo através de instrumentos legais para a eficácia desses princípios. 
Deve-se considerar ainda, que durante estes 60 anos de existência da 
Declaração Universal de Direitos Humanos, muitas interpretações foram 
dadas a cada um de seus 30 artigos, de acordo com a tradução para os 
diferentes idiomas, a carga valorativa das diferentes culturas no mundo, 
bem como os dos interesses de cada nação.
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2.2 Direitos humanos e o projeto 
profissional do Serviço Social
Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja 
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, 
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra 
condição (Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 2-I).
A transcrição do artigo 2 inciso I da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos acima citada, ratifica a opção do Serviço Social por uma 
sociedade justa e igualitária, assim como seu processo de trabalho voltado 
para a autonomia e emancipação dos sujeitos sociais, negando assim a 
“base filosófica tradicional, nitidamente conservadora, que norteava a 
“ética da neutralidade”, e a afirmação de um novo perfil do técnico, não 
mais um agente subalterno e apenas executivo, mas um profissional 
competente teórica, técnica e politicamente” (Introdução do Código de 
Ética. Bonetti, 2003, p. 215 e 216).
A universalidade dos mecanismos de proteção traz a compreensão 
de que os Direitos Humanos embasam um novo projeto de sociedade, 
baseado em critérios políticos e econômicos. Entretanto, os direitos 
humanos “são construções sócio-históricas”, pois “são fruto de lutas que 
convertem necessidades geradas a partir de posições de classe e de grupos 
particulares” (Vinagre e Pereira, 2007, p. 45).
Atualmente na sociedade brasileira, há vários mecanismos e 
instrumentos de ação que demarcam o avanço na proteção dos direitos 
humanos, como: conselhos, comissões, programas, ouvidorias, órgãos de 
gestão, promotorias de defesa da cidadania, defensorias públicas, dentre 
outros. A maioria destes vinculados ao Poder Executivo e, portanto, sem 
fins deliberativos e sim muito mais reparatórios. 
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras 
com espírito de fraternidade (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
1948, artigo I).
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A Constituição Federal atual elegeu princípios e valores éticos 
fundamentais para a sociedade brasileira, espelhando-se na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, pois nesta Carta Constitucional 
identificam-se artigos que ratificam um sistema de proteção aos direitos 
humanos. 
Neste sentido, o governo federal desenvolve políticas através do 
Sistema de Garantia de Direitos (saúde, educação, assistência social, justiça 
e segurança pública), o que permite que as violações de direitos humanos 
sejam processadas por meio de inquérito policial.
O Código de Ética do assistente social é um instrumento legalmente 
constituído, que se subordina aos valores constitucionais, o que dá 
materialidade ao projeto ético-político do Serviço Social. Desta forma, 
define o compromisso desta profissão com a sociedade, a vida e dignidade 
do ser humano-social, bem como indica a direção social e política da 
profissão através dos 11 princípios fundamentais expressos neste 
Código. 
Entende-se nesta oportunidade ser conveniente já apresentar a você 
acadêmico, estes princípios, a título de dar visibilidade do trânsito do 
Serviço Social no âmbito dos direitos humanos, ressalvando que tais 
princípios serão posteriormente retomados neste livro, no Capítulo 5.
1. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas 
políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão 
dos indivíduos sociais;
2. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do 
autoritarismo;
3. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial 
de toda a sociedade, com vistas á garantia dos direitos civis, sociais e 
políticos das classes trabalhadoras;
4. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da 
participação política e da riqueza socialmente produzida; 
5. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure 
universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas 
e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
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6. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, 
incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos 
socialmente discriminados e à discussão das diferenças;
7. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais 
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso 
com o constante aprimoramento intelectual;
8. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de 
construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração 
de classe, etnia e gênero;
9. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais 
que compartilhem dos princípios deste Código e com a luta Geral 
dos trabalhadores;
10. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população 
e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência 
profissional;
11. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, 
por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, 
nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.
Ainda, este Código aponta como princípio e valor ético central a 
liberdade, o que dá ênfase a valores emancipatórios, democracia, justiça 
social no âmbito da democratização da sociedade brasileira.
Remete a teleologia da profissão à plena emancipação e expansão dos 
indivíduos sociais, e à defesa de valores solidários voltados para fins 
coletivistas [...] colide com a dinâmica social consubstancial à ordem 
capitalista: flexibilização e desregulamentação, prevalência da lógica do 
mercado, do individualismo possessivo e da competitividade, entendimento 
da liberdade como livre arbítrio, mercantilização das relações sociais, dos 
seres humanos e das coisas (Vinagre e Pereira, 2007, p. 53).
Portanto, é importante no exercício profissional do assistente social 
na atualidade, entender que encontrará limites concretos na luta pelos 
direitos humanos, face aos interesses e demarcações da sociedade 
capitalista. Entretanto, alerta-se para a necessidade permanente de uma 
crítica sobre a definição de posturas profissionais que poderão revelar 
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um caráter de imobilidade, de ingenuidade e até mesmo, messiânico, 
frente a tal cenário. 
A luta pelos direitos humanos no cotidiano profissional deve ser 
compreendida como um “campo de possibilidades de luta emancipatória” 
(Vinagre e Pereira, 2007, p. 55).
Desta forma, cabe ao assistente social em seu cotidiano profissional, 
constante atenção sobre direitos como:
• direito de todos serem tratados como igual;
• direito de opção sexual;
• abuso de autoridade;
• exploração sexual;
• violação ao direito aos serviços de saúde;
• direitos ao tratamento da dependência química;
• direitos da pessoa com deficiência;
• direitos da pessoa privada de liberdade;
• direitos do trabalhador;
• direitos do consumidor;
• direitos do consumidor;
• direito a um meio ambiente saudável, dentre outros.
Na Constituição Federal do Brasil (1988)percebe-se que os princípios 
neoliberais não foram integralmente adotados. Contudo, os Direitos 
Humanos são plenamente acolhidos e sugerem a intenção de serem 
respeitados. Apesar disto, não significa dizer que tiveram plena vigência 
no país. Existe uma contradição entre constitucionalidade dos direitos, 
e o desrespeito amplo aos direitos proclamados na vida dos cidadãos 
brasileiros. 
Nesta Constituição constata-se que os valores que orientam os Direitos 
Humanos foram apontados por muitas das emendas e debates populares, 
o que possibilitou a universalização de direitos sociais a partir do princípio 
da igualdade.
Também a dignidade é vista na atual Constituição como valor político, 
“pois é no nível político que se criam as condições institucionais para a 
exiquibilidade dos direitos sociais” (Simões, 2008, p. 81). 
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http://www.juniao.com.br/weblog/archives/charge_cartum/index.html
Desta forma, é imprescindível que o assistente social defina sua prática 
profissional na perspectiva de que os cidadãos têm direito a ter direitos, 
que é inaceitável a discriminação e o preconceito em qualquer situação, que 
os idosos, crianças e adolescentes devem ser protegidos e acolhidos, que 
as violências, as injustiças não podem ser algo natural nas sociedades.
Atividades
1. Ler os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ver 
documento nos anexos deste livro).
2. Procure conversar com seus familiares e amigos mais próximos, sobre 
como eles concebem direitos humanos. Investigue em sua cidade 
como é o trato dos direitos humanos: existe uma comissão ou comitê 
municipal de direitos humanos? Se tiver procure ter acesso a ele para 
conhecer o trabalho que realiza no município. Traga suas anotações, 
compreensão e críticas para a sala de aula a fim de socializar o seu 
conhecimento.
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3. A partir da seguinte expressão popular: “direitos humanos só servem 
para proteger bandido”, elabore um texto de 2 folhas em que você irá 
posicionar-se frente a tal expressão, argumentando teoricamente seu 
ponto de vista. Este texto deverá ser levado para a sala de aula como 
instrumento desencadeador e alimentador de um seminário, que será 
coordenado pelo tutor da turma.
Bibliografia comentada
MAGALHÃES, José L. Q. de. Direitos humanos (sua história, sua 
garantia e a questão da indivisibilidade). São Paulo: Editora Juarez de 
Oliveira, 2000.
Esta obra permite ao leitor apropriar-se da concepção de direitos 
humanos na sua gênese, possibilitando compreender sua importância para 
a humanidade na atualidade, mas principalmente para a vida cotidiana 
dos sujeitos sociais que lutam pela garantia de seus direitos.
Bibliografia
BONETTI, Dilséa Adeodata. Serviço Social: convite a uma nova práxis. 
São Paulo: Cortez, 2003.
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
FERREIRA FILHO, Manoel G. Direitos humanos fundamentais. 2ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 1998. 
MAGALHÃES, José Luiz Q. de. Direitos humanos (sua história, sua 
garantia e a questão da indivisibilidade). São Paulo: Editora Juarez de 
Oliveira, 2000.
OLIVEIRA, Jairo da Luz e LOPES, Maria Suzete M. Ética profissional em 
Serviço Social. Cadernos Universitários nº 497. Canoas: Ed. ULBRA, 2008.
SIMÕES, Carlos. Curso de direito do Serviço Social. 2ª ed. rev. e ampl. 
São Paulo: Cortez, 2008.
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43
VINAGRE, Marlise e PEREIRA, Tânia M. D. Ética e direitos humanos. 
Curso de capacitação ética para agentes multiplicadores. 4ª ed. 
CFESS – Gestão 2002/2005. Brasília, 2007.
Auto-avaliação
Marque verdadeiro ( V ) ou falso ( F ).
1. A segunda geração de direitos foi formulada:
( ) por ocasião da Revolução Francesa em 1789
( ) por resolução da corte inglesa no século XVIII
( ) por decorrência das lutas dos trabalhadores nos séculos XIX 
e XX.
2. Quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos:
( ) constitui-se por 30 artigos
( ) afirma a interconexão, a indivisibilidade e a indissolubilidade 
de todos os direitos humanos
( ) reafirma os direitos de liberdade, os direitos civis e políticos 
das pessoas
3. A aproximação do Serviço Social com a questão de direitos humanos 
justifica-se por:
( ) os assistentes sociais serem pessoas com boas intenções e 
preocupados com a humanidade
( ) compromisso com uma nova ordem societária
( ) identificação com os princípios da liberdade, dignidade e 
equidade 
4. São considerados direitos sociais:
( ) educação, saúde, trabalho, lazer, previdência 
( ) assistência social, segurança, transporte
( ) liberdade, igualdade, propriedade, segurança e vida
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5. A geração dos direitos coletivos e difusos refere-se:
( ) preservação da paz e do meio ambiente
( ) direitos do consumidor
( ) pleno emprego
Respostas:
1. F; F; V
2. V; V; V
3. F; V; V
4. V; V; F
5. V; V; F
Ética e sociedade
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O conteúdo deste capítulo permitirá a você acadêmico, refletir e tecer 
algumas considerações acerca de como as relações sociais se constituem na 
vida cotidiana das pessoas, considerando a dimensão ética da sociedade 
atual. Neste sentido, os conteúdos dos dois capítulos iniciais deste livro, 
servirão de fundamentação para que você possa apreender com maior 
propriedade alguns conceitos e fazer aproximações com o seu cotidiano.
3.1 Reflexões éticas acerca da pessoa 
humana e o contexto social
O ser humano é um ser em permanente construção, e neste sentido, 
vai construindo um mundo para si. “O mundo humano é um mundo 
aberto, [...] um mundo que deve ser modelado pela própria atividade 
humana” (Sung, 1995, p. 26), caracterizando assim a cultura4, que é 
produto desta atividade humana e que nos permite guardar a memória 
coletiva – tradições, costumes, valores, símbolos que regulamentam a 
convivência entre as pessoas.
Tais aspectos culturais são processados e reproduzidos de geração 
para geração modificando-se, na medida em que mudanças ou novos 
questionamentos e respostas vão sendo elaborados pelo ser humano, 
dando continuidade à sua identidade social. Neste sentido, segundo Sung, 
devem ser considerados dois tipos de mudanças:
[...] novas formas técnicas que não entram em conflito nem em 
contradição com os principais valores e modelos estabelecidos do grupo 
social. O segundo [...] chamado de mudanças paradigmáticas, [...] mudanças 
que conflitam e alteram os principais valores, princípios e modelos de 
funcionamento estabelecidos. São mudanças que alteram profundamente 
a vida do grupo [...] (1995, p. 29).
A cultura por sua vez, pode determinar a realidade do ser humano em 
seu grupo social, objetivamente, isto é, nas ações realizadas, de tal forma 
4 Padrões de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais e materiais 
transmitidos coletivamente.
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que define padrões que devem ser seguidos e observados, muitas vezes de 
forma coercitiva, o que poderá dificultar a compreensão das diferenças.
A sociedade atual, nos moldes capitalistas, tem privilegiado e 
valorizado o individual em detrimento do coletivo, o que promove sérios 
conflitos de valores e princípios éticos, colocando na berlinda a tradição 
e os costumes de muitos segmentos sociais. Frente a isto, urge a reflexão 
e o debate ético na no cotidiano da sociedade.
É sabido que as pessoas vivem em sociedade, o que significa e traduz 
a natureza humana no sentido da necessidade do homem relacionar-
se, agregar-se com os demais indivíduos de sua espécie. Neste sentido, 
pretende-se aqui discutir o espaço que a ética ocupa nesta relação entre 
as pessoas e a sociedade e como este espaço se apresenta e é reconhecido 
pelos sujeitos sob a ótica do processo histórico. 
Na medida em que se reconhece como a sociedade coloca suas regras 
e normassociais e de como os grupos sociais, os segmentos sociais as 
interpretam e as aceitam, é possível identificar o quanto as pessoas 
assumem e permitem determinadas condutas e atitudes entre si. Cortella 
(apud Bonetti, 2003, p. 51) aponta alguns exemplos de como é aceito mais 
algumas coisas em detrimento de outras, referindo que até é aceito que 
se mate alguém, o que já é algo para se refletir, mas matar com “requinte 
de crueldade”, isto é chocante. 
Contudo, a morte é a negação da vida, não importa de que maneira 
a morte aconteceu. Importa que não há mais vida e isto é o que deve ser 
considerado. Da mesma forma, a sociedade moderna não aceita mais o 
canibalismo, mas a maioria das pessoas se alimenta de carne de frango, 
gado, suíno, peixes e outros, e até mesmo a humana em situação de 
sobrevivência e preservação das próprias vidas (Cortella apud Bonetti, 
2003 p. 51 e 52).
Por outro lado, sabe-se que existe a lei que punirá as infrações e os 
crimes. Porém a lei imputa penas mais leves ou mais severas de acordo 
com o crime e as circunstâncias em que foi cometido. Entretanto, pode-se 
pensar que quem mata uma pessoa através de um tiro de arma de fogo, 
por facada, por atropelamento ou outra forma, está tirando uma vida, 
seja como for. 
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O que é necessário entender nesta discussão ética, é que esta se coloca 
de acordo com o momento histórico, as necessidades e condições dos 
grupos sociais envolvidos e o que necessitam para viver e sobreviver. É 
importante lembrar que ao se trabalhar com os segmentos sociais, deve-
se considerar que estes têm os seus hábitos, os seus costumes e os seus 
valores. Pode-se desenvolver um trabalho com as populações sem que a 
reflexão que se faça sobre a sociedade, direcione ou restrinja-se à concepção 
e princípios éticos próprios.
Ainda lembra Cortella (apud Bonetti, 2003, p. 52) que a determinação 
de valores e princípios éticos está diretamente relacionada com o aspecto 
cultural, ou seja, além de valores, hábitos e costumes, também o habitat, 
o meio, o lugar em que as pessoas vivem define as normas e valores 
daquela sociedade. 
Comumente adota-se na sociedade padrões de comportamento e de 
relações, que orientam e até mesmo condicionam os indivíduos para 
atitudes e ações que são deliberadas, muitas vezes, pelos profissionais, 
pelas instituições, de acordo com o que se acha mais conveniente e que 
vai traduzir, de certa forma, valores individuais/pessoais quanto a isso.
Há naturalmente uma tendência de projeção da carga valorativa de um 
sobre o outro, o que é ético para um, é o que deve ser ético e assim aceito 
pelo outro. Portanto, é o espaço que ocupa a reflexão ética na sociedade 
e, particularmente na vida das pessoas, que permitirá a construção 
permanente das relações sociais de convivência humana.
Neste sentido, Barroco afirma:
A reflexão ética é construída historicamente, no âmbito da filosofia, tendo 
por objeto a moral [...] supõe a suspensão da cotidianidade [...] sistematizar 
a crítica da vida cotidiana, pressuposto para uma organização da mesma 
para além das necessidades voltadas exclusivamente ao “eu”, ampliando 
as possibilidades de os indivíduos se realizarem como individualidades 
livres e conscientes (2001, p. 54 e 55).
 
Assim, no Serviço Social a reflexão ética deve configurar-se em uma 
reflexão crítica com suporte teórico sistematizado, como um instrumento 
para o agir profissional, considerando que para tal reflexão deve-se levar 
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em conta a cultura, o momento histórico em que se está situado, bem como 
o espaço ou meio social com que se relaciona o ser humano. 
Barroco ainda salienta que “quando a ética não exerce esta função crítica 
pode contribuir, de modo peculiar, para a reprodução de comportamentos 
alienantes [...] favorecendo a ideologia dominante” (2001, p. 56).
3.2 Para uma convivência ética
Para se refletir sobre uma ética da convivência humana é importante 
e necessário que se entenda um pouco mais sobre a vida cotidiana dos 
sujeitos, e assim, nada melhor do que ir às raízes. Portanto, a palavra 
“cotidiano” tem na sua raiz o verbo cotiar (gastar pelo uso, usar todos os 
dias). A palavra cota (parte) vem da mesma raiz. 
Assim, é possível dizer que “cotidiano” refere-se a uma cota de vida 
vivida a cada dia. Em outras palavras, refere-se aquilo que acontece ou se 
faz todos os dias, aquilo que é diário. Para Pais, “é o que se passa todos 
os dias: no quotidiano nada se passa que fuja à ordem da rotina e da 
monotonia. Então o quotidiano seria o que no dia a dia se passa quando 
nada se parece passar” (2003, p. 28).
http://paginas.terra.com.br/noticias/mjdh/tela4_1999.html
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Assim a vida cotidiana leva as pessoas, muitas vezes, a não perceber 
ou identificar a origem ou as causas dos fenômenos sociais, das atitudes e 
comportamentos dos sujeitos sociais, das manifestações sociais e políticas, 
até mesmo banalizando-as e reduzindo-as a simples interpretações. 
Há uma interação social cotidiana, peculiar em espaços sociais 
geográficos de contextos massificados, que propicia comportamentos, 
atitudes e mesmo gestos que muito mais revelam o distanciamento entre 
as pessoas, do que propriamente as reconhecem como próximas, ou seja, 
as pessoas trocam olhares à distância e, ao se aproximarem, evitam se 
olhar, até fingindo que não se viram. 
Neste sentido, Giddens (2005, p. 83) apresenta três razões para o 
estudo dos elementos que compõem e caracterizam a interação social 
cotidiana:
• as rotinas diárias dão estrutura e forma ao que as pessoas fazem;
• revelam a criatividade com que as pessoas constroem a realidade, 
superando as funções, normas e expectativas partilhadas;
• a interação social lança luz sobre os sistemas sociais maiores.
O sentido e significado da vida e das relações sociais podem ser 
conhecidos a partir de estruturas e relações fundantes, quais sejam: 
econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade (macro-
sociologia), bem como a partir da interação social cotidiana (micro-
sociologia).
Agora, acadêmico, você poderá melhor compreender a complexa 
teia das relações sociais, no cotidiano da vida das pessoas e como estas 
repercutem no conjunto da sociedade.
O ser humano é um ser social, ser de relações, um ser de sociabilidade, 
vivendo atualmente num mundo globalizado, o que lhe exige mais do que 
nunca a atenção sobre seu comportamento frente às outras pessoas.
O mundo globalizado possibilitou ao ser humano, estabelecer relações 
entre si em um curto espaço de tempo, superando milhares de quilômetros 
de distância. Isto permite maior comunicação entre os povos, ampliação de 
negócios e das economias dos países, o turismo, mas também a influência 
entre as diferentes culturas modificando valores, hábitos e costumes.
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O filósofo inglês Thomas Morus é autor de uma célebre frase: nenhum 
homem é uma ilha. Esta frase ajuda a compreender que a convivência é 
essencial para o ser humano, pois é assim que se descobre um ser moral 
e ético. Contudo, é na convivência social que surgem os conflitos e as 
indagações morais, ou seja, questionamentos sobre como cada um deve 
agir sobre determinada circunstância, como reagir frente as injustiças ou 
como comportar-se frente a outra pessoa.
Portanto, cada vez mais é necessário que as pessoas assumam a 
condição de sujeitos éticos, isto é, tenham a consciência de que as atitudes 
de um repercutem diretamente na vida dos outros, o que vai exigir 
também que cada um faça o exercício autônomo de escolhas e de tomada 
de decisões, responsabilizando-se pelos resultados ou consequências de 
suas ações. Assim, as atitudes individuais repercutem no coletivo.
Neste sentido, é necessário que a reflexão ética possibilite conhecer e 
analisar as circunstâncias em que cada fenômeno social se desenvolve, 
pois sendo assim serão consideradas e respeitadas as condições históricas, 
sociaise valorativas dos diferentes segmentos sociais. Deve-se considerar 
ainda, que não cabe à ética julgar, mas analisar e compreender o 
comportamento das pessoas em sociedade.
Assim, para uma ética de convivência é necessária a possibilidade 
de participação e envolvimento de todas as pessoas nas decisões e no 
regramento da sociedade, evitando a participação apenas de uma minoria. 
Somente a participação das pessoas nas decisões e definições de normas 
sociais, fará com que estas realmente assumam suas responsabilidades 
frente ao conjunto da sociedade. 
O ideal de participação e a busca de consenso devem servir de base para 
uma ética da responsabilidade. Partindo do pressuposto de que todos nós 
somos dotados de razão e de que através da análise cuidadosa dos fatos e 
da busca do consenso [...] podemos chegar a elaboração de normas mais 
justas. Estas, porém, como toda criação humana, nunca serão perfeitas, 
necessitando sempre de mudanças e da busca de novos consensos (Sung, 
1995, p. 51 e 52).
Contudo, deve-se considerar que o desenvolvimento das sociedades 
nas últimas décadas, principalmente com o avanço tecnológico e o 
processo de globalização, desencadeou nas pessoas, nos diferentes 
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segmentos sociais, uma avalanche de consumo de mercadorias e serviços, 
trazendo a valorização do ter em detrimento do ser. Neste sentido, urge 
a reflexão ética no cotidiano da vida em sociedade.
A ética deve orientar não somente as relações individuais, mas também 
as relações que as pessoas estabelecem com as instituições, qual seja a 
escola, a família, a empresa, a igreja, o Estado. A partir disto, também 
será possível refletir sobre o compromisso que se deve ter com as coisas 
do coletivo, os problemas sociais que causam tanta indignação, mas que 
objetivamente não se faz nada para mudar.
Neste sentido acadêmico, segue a transcrição de alguns trechos de um 
texto escrito por Paulo Marinho, intitulado “Prática Ética” e publicado no 
Jornal Vale dos Sinos/RS (10/11/2006), que permite a todos refletir sobre 
o comportamento e as atitudes das pessoas no cotidiano, e que instiga a 
buscar a resposta para as perguntas: o que posso fazer? Como devo agir 
perante as outras pessoas? 
O texto relata uma cena em um supermercado em que uma pessoa após 
ter feito suas compras, dirigiu-se aos caixas para pagamento escolhendo 
um em que havia somente uma senhora na fila. Sentiu-se alegre com a 
possibilidade de logo ser atendido e ao mesmo tempo, privilegiado em 
relação às demais pessoas ali presentes: “Então, num dos guichês, a prosaica 
imagem de uma senhora segurando uma garrafa de refrigerante debaixo do braço, 
logo atrás de uma outra que já está pagando a conta [...]”.
Entretanto, para sua surpresa, “surge um homem com seu carrinho 
abarrotado feito um transatlântico insólito e ameaçador e se aboleta em sua 
frente. É o marido da mulher do refrigerante, que disfarçada e dissimuladamente 
guardava lugar para ele”. 
Esta é uma cena que não raras vezes acontece com muitas pessoas e 
até mesmo já deve ter acontecido com você, acadêmico, e que sem dúvida 
causou muita indignação frente ao comportamento e atitudes das pessoas. 
Porém, isto acontece não só nos supermercados, mas também nas filas de 
ônibus, no cinema, na lancheria da faculdade, na farmácia etc., e o que 
dizer disto? Neste sentido, as pessoas devem se perguntar: como devo agir 
ou como são as minhas atitudes frente aos outros?
“A ausência de ética irrita mesmo. Irrita tanto que a mídia vive discutindo-a. 
Reúne cinco ou seis sabichões [...] mas esquece de discutir a ética da esquina. 
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Do sujeito que tem o rádio do carro furtado e sai correndo para comprar um 
outro dos ladrões automotivos. Dos canalhas que se adonam das vagas para 
pessoas portadoras de necessidades especiais nos estacionamentos [...]”. A ética 
do cotidiano da vida social guarda valores que muito mais refletem os 
interesses individuais do que coletivos.
As artimanhas do mundo capitalista globalizado colocam a prova 
princípios e valores éticos fundamentais para a convivência humana em 
sociedade, impedindo o espaço para a reflexão ética sobre os fenômenos 
sociais e as circunstâncias que deles decorrem, fragilizando as relações 
humano-sociais, como explica Sung ao afirmar:
O mundo moderno levou ao predomínio da técnica em todas as esferas 
da nossa vida através de uma racionalidade fria, impessoal, fragmentada 
e desumanizadora. Nos tornamos escravos do tempo e nos comportamos 
como se fôssemos “robôs” (1995, p. 115).
Portanto, a ética possibilita às pessoas refletir sobre as atitudes, posturas 
e decisões individuais cotidianas, e os valores que nelas estão implicados, 
possibilitando a tomada de consciência sobre a condição de autonomia e 
liberdade dos sujeitos sociais, abrindo margem assim, para a construção 
de novos valores e relações sociais fortalecidas na coletividade.
Ao discutir questões referentes à moral, estou realizando uma reflexão 
ética. [...] A ética, enquanto espaço de reflexão sobre a moral, é também 
um espaço da filosofia, que apresenta como características principais: – a 
busca de “um saber inteiro”, isto é, de totalidade; – a perspectiva de “ir 
às raízes”, ou seja, de não se contentar com a aparência dos fenômenos, 
buscando apreender a sua essência; – a constante indagação sobre o 
significado dos valores, o que, no caso da ética, quer dizer perguntar o 
porquê da escolha de valores e para onde esta escolha me leva (Bonetti, 
2003, p. 75).
 
Neste sentido acadêmico, é importante a análise crítica do contexto 
social para que seja possível identificar e compreender as expressões da 
questão social na sociedade capitalista, os valores e o momento histórico 
em que são geradas as circunstâncias da vida cotidiana das pessoas, com 
a perspectiva de desenvolvimento de processos emancipatórios.
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Desta forma, a questão primordial é superar a ótica da benevolência 
e alcançar uma outra visão possível, a da ética que sinaliza um projeto 
político e coletivo, que visualize a sociedade como um conjunto. É neste 
sentido, que o projeto político profissional do Serviço Social irá indicar 
a direção social da ação profissional, demarcando a intenção entre fazer 
o bem às pessoas e desenvolver uma prática participante objetivando 
a organização da vida social, através de princípios e valores éticos 
universais. Pode-se fazer o bem às pessoas também desta forma. Porém, é 
necessário o questionamento sobre que proposição, mediante que projeto 
e que produto final resultará. 
A ética definida na atividade profissional do assistente social, na relação 
que se estabelece entre as pessoas e a sociedade, direciona-se para uma 
compreensão de projeto coletivo, que se identifica com as divergências, 
com as desigualdades, com as diferenças e com os diferentes segmentos 
e camadas da sociedade. 
Portanto, é compreender que este profissional orienta-se pelo princípio 
da liberdade, como um valor, como uma matéria-prima para a vida 
cotidiana. A liberdade é dada ao ser humano para que ele possa fazer 
suas escolhas e tomar suas decisões. 
Quando escolho, a escolha transforma-se em ato. Escolho e faço alguma 
coisa. E todo ato tem consequências, resultados. Se fui eu que escolhi e 
eu que agi, eu devo ser responsável pela escolha e por aquilo que fiz. E, 
em decorrência, também tenho responsabilidade sobre as consequências 
de minha ação (Gallo, 2001, p. 78). 
Assim, é importante e necessário que as pessoas tenham uma base ética 
sólida, formada por princípios e valores universais, para que possam fazer 
suas escolhas e ter atitudes de forma responsável, em relação aos outros 
e também ao meio ambiente.
Desta forma, compreende-se a liberdade como um princípio não 
individualista, mas coletivista, pois “a minha liberdade é tão importante 
quanto a do outro”. E dentro deste entendimento do projeto político social, 
“a minha liberdadeacaba, quando acaba a do outro” (Cortella apud Bonetti, 
2003, p. 58). A liberdade e a ética não são questões individualizadas, como 
expressa a citação a seguir:
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Um velho monge, prisioneiro há vários anos numa masmorra passa 
bastante tempo cavando um túnel, esperando sair da cela e encontrar a 
liberdade. Quando seu túnel finalmente encontra um fim, vê-se não fora 
da prisão, mas na cela de um outro homem (Gallo, 2001, p. 76).
 
Neste sentido, compreende-se que o ser humano-social constrói sua 
liberdade a cada dia, a partir do existir e é por isto que deve projetar 
suas ações. Tal construção não se dá isoladamente, pois como já se sabe, 
a pessoa é um ser de relações.
É através das ações, das estratégias, dos instrumentos que o assistente 
social traduzirá seu compromisso ético, o projeto político garantindo-se 
o processo de mudança e de transformação social. Em cada momento 
histórico, novas demandas para o assistente social são identificadas. 
Desta forma, o espaço da ética na relação do ser humano com a 
sociedade deve ser um espaço de reflexão sobre o seu cotidiano de relações. 
Portanto, este é um tema essencial, tendo em vista as modificações e 
transformações que os segmentos sociais vêm sofrendo na atualidade 
na sociedade capitalista, o que provoca novos comportamentos e modos 
de vida.
Atividades
1. Cada aluno escolherá uma situação ou fato do seu dia-a-dia, fará 
uma reflexão sobre ela embasando esta reflexão com o ponto 3.2 
anteriormente estudado. No encontro presencial socializará sua 
reflexão, relatando ao grande grupo a situação escolhida, instigando 
e alimentando o debate no grande grupo.
2. Acadêmico, você sem dúvida conhece a expressão “a minha liberdade 
termina onde começa a liberdade do outro”. Faça entrevista com um(a) 
assistente social e com um outro profissional (advogado, psicólogo, 
médico, etc.) no município em que você mora, perguntando o que 
pensam a respeito da expressão citada acima. Frente aos capítulos 2 
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e 3 deste livro, analise o conteúdo das entrevistas e leve este material 
para ser discutido com seus colegas e tutor em sala de aula.
Bibliografia comentada
GALLO, Silvio (coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia. 8ª ed. 
Campinas, SP: Papirus, 2001.
Esta obra aborda a temática da ética e da cidadania, provocando 
questionamentos frente aos fatos e fenômenos sociais do cotidiano, que 
normalmente passam despercebidos.
Bibliografia
ARANHA, Maria Lucia e MARTINS, Maria Helena P. Temas de 
filosofia. 2ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 1998. 
BARROCO, Maria Lúcia S. Ética e Serviço Social: fundamentos 
ontológicos. São Paulo: Cortez, 2001.
BARROCO, Maria Lúcia S. Ética: fundamentos sócio-históricos. São 
Paulo: Cortez, 2008.
BONETTI, Dilséa Adeodata. Serviço Social e ética: convite para uma 
nova práxis. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
CORTELLA, Mário Sergio. O espaço da ética na relação indivíduo 
e sociedade. In BONETTI, Dilséa Adeodata. Serviço Social e ética: 
convite para uma nova práxis. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
GALLO, Silvio (coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia. 8ª ed. 
Campinas, SP: Papirus, 2001.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 
2005.
OLIVEIRA, Jairo da Luz e LOPES, Maria Suzete M. Ética profissional 
em Serviço Social. Cadernos Universitários nº 497. Canoas: Ed. ULBRA, 
2008.
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e
58
PAIS, José Machado. Vida cotidiana: enigmas e revelações. São Paulo: 
Cortez, 2003, 271 p. 
SUNG, Jung Mo e SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética 
e sociedade. 7ª ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.
Auto-avaliação
Marque apenas a alternativa correta.
1. Qual é o espaço da ética na vida cotidiana?
a) de práticas sempre corretas entre os cidadãos
b) de reflexão
c) de ajuda social 
2. A concepção de liberdade adotada pelo assistente social refere que:
a) a liberdade de um começa onde termina a do outro
b) a liberdade de um não pode interferir na do outro
c) a liberdade de um começa quando começa a do outro
3. O que deve ser considerado pelo assistente social quando faz um 
trabalho com populações?
a) deve julgar o que a população faz para melhorar de vida
b) deve considerar a cultura – os hábitos, os costumes e os valores 
da população 
c) deve verificar as condições de higiene da população
4. Ao se fazer uma reflexão sobre a moral deve-se considerar:
a) o momento histórico, os valores e a totalidade em que dada 
circunstância se insere
b) o momento histórico e o caráter das pessoas que estão 
implicadas
c) o momento histórico, as atividades laborais e as políticas 
sociais
 
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5. A frase “o homem não é uma ilha” significa:
a) que as pessoas gostam de se relacionar para poder constituir 
família
b) que as pessoas são muito comunicativas
c) que as pessoas são seres de relações sociais
Respostas: 1- B; 2- C; 3- B; 4- A; 5- C 
O caráter ético-político 
do Serviço Social
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Neste capítulo serão feitas algumas reflexões acerca do projeto ético-
político do Serviço Social ou também dito, projeto profissional, que 
define a direção social desta profissão, o compromisso que assume com 
a sociedade quanto ao acesso para a garantia de direitos. 
4.1 O projeto ético-político do 
Serviço Social
A práxis profissional do Serviço Social ganhou nas últimas décadas, 
mais precisamente nas três últimas, uma significativa qualificação 
teórica, política e ética. O Código de Ética de 1986 incorporou princípios 
e valores éticos relevantes, culminando no atual Código de Ética vigente 
desde 1993 que registra a direção social desta profissão.
Pode-se dizer que este projeto começou a delinear-se de forma tímida 
na década de 1960 por alguns profissionais assistentes sociais que 
então estavam engajados nos movimentos sociais, partidos políticos e 
outras iniciativas voltadas à cultura popular, mas primordialmente no 
Movimento de Reconceituação (1965) que objetivou a problematização 
sobre a teoria e a prática da profissão, e com isto, o seu papel político 
e social. 
Tomou vigor nos anos 1970 na luta contra a ditadura militar no país 
iniciada em 1964, através do III Congresso Brasileiro de Assistentes 
Sociais em 1979, que ficou conhecido como “Congresso da Virada” em 
razão de alguns vanguardistas da profissão terem destituído a mesa de 
abertura composta por oficiais da ditadura e colocando lá representantes 
do movimento dos trabalhadores (Reis, 2002). 
O projeto ético-político do Serviço Social é definido por Iamamoto 
como um “projeto profissional indissociável da democracia, da 
equidade, da liberdade, da defesa do trabalho, dos direitos sociais e 
humanos, contestando discriminações de todas as ordens” (Brites e 
Sales, 2000, p. 55).
Neste sentido, pode-se assim interpretá-lo:
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Sua discussão foi firmada no IX Congresso Brasileiro de Assistentes 
Sociais em 1998, possibilitando assim ampliar e socializar sua formatação. 
Portanto, este projeto profissional tem um caráter processual, isto é, está 
em permanente movimento e construção, uma vez que se identifica com a 
dinâmica da sociedade e com as demandas sociais produzidas no âmbito 
da questão social.
Desta forma, sinaliza:
• um amadurecimento teórico-político (Código de 1993 que firmou 
princípios universais como: liberdade, democracia, justiça social, 
equidade, cidadania), o que instigou a um novo projeto de formação 
profissional em 1996;
• uma consonância entre prática profissional e dinâmica social;
• o enfrentamento ético, teórico, político e prático-social às expressões 
cotidianas do neoliberalismo e conservadorismo;
• preservação de princípios e valores éticos.
Mas atenção, acadêmico, este projeto profissional também exige do 
Serviço Social Contemporâneo:
• um profissional culto e atento às possibilidades

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