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TÉCNICAS BÁSICAS DO EXAME FÍSICO INTRODUÇÃO No momento do exame físico, muitos pacientes se encontram ansiosos, pois se sentem expostos e apreensivos por receio de sentir dor, além de se sentirem amedrontados em relação ao que o médico possa encontrar. Deve-se ter algumas precauções para realização do exame físico, como: à As mãos devem ser lavadas antes e após o exame físico; à O uso de luvas deve ser estimulado na maioria dos pacientes, e obrigatório quando o paciente apresentar lesões cutâneas, assim como ao exame na cavidade bucal; à O uso de jaleco é indispensável. Deve-se ressaltar a importância do uso de calçados fechados, com solado antiderrapante e de fácil limpeza, para completar as estratégias de proteção individual; à O uso de EPI, como luvas, máscara, gorro, propés, avental com mangas longas e óculos de proteção, deve ocorrer quando houver possibilidade de contato com líquidos corporais (sangue e secreções); à Todos os profissionais da área da saúde que têm contato direto com pacientes, devem se vacinar para prevenir hepatite B, tétano e influenza A (H1N1). PONTOS-CHAVE DO EXAME FÍSICO Deve-se manter a sala de exame com temperatura agradável; respeitar a privacidade do paciente na hora do exame, evitando interrupções; deve-se, também, adquirir o hábito de prestar atenção às expressões faciais do paciente e perguntar se está tudo bem, enquanto prossegue no exame físico, pois fontes de dor e preocupações devem ser reveladas. Além disso, deve-se utilizar um avental ou lençol para cobrir o paciente e durante o exame, é de suma importância manter o paciente informado de cada passo para deixa-lo tranquilo. HABILIDADES NECESSÁRIAS Para obter os dados do exame físico, é preciso utilizar os sentidos, como a visão, olfato, tato e audição. Diante disso, as habilidades necessárias ao exame físico são: (1) inspeção; (2) palpação; (3) percussão; e (4) ausculta. Para executá-las, é fundamental treinar, repetir inúmeras vezes, seja na prática supervisionada em manequins, em pessoas saudáveis (atores e próprios colegas) e em pacientes. Com pacientes é necessário ser perspicaz para saber como se deve agir, colocando sempre em primeiro lugar o interesse deles. INSPEÇÃO A inspeção é a exploração feita a partir do sentido da visão. Nela, investigam-se a superfície corporal e as partes mais acessíveis das cavidades em contato com o exterior. A inspeção começa no momento em que se entra em contato com o paciente, realizando-se uma “inspeção inicial”, procurando vê-lo em sua totalidade e deve se manter atento para não deixar de ver algo que “salta à vista”. A “inspeção direcionada” pode ser panorâmica ou localizada, e pode ser efetuada a olho nu com auxílio de uma lupa. Raramente, se emprega a inspeção panorâmica com visão do corpo inteiro; entretanto, para o reconhecimento das dismorfias ou dos distúrbios do desenvolvimento físico, é conveniente abranger, em uma visão de conjunto, todo o corpo. A inspeção de segmentos corporais é a mais utilizada, e, a partir daí, deve-se fixar a atenção em áreas restritas. As lesões cutâneas tornam-se mais evidentes quando ampliadas por uma lupa que tenha capacidade de duplicar ou quadruplicar seu tamanho. SEMIOTÉCNICA A inspeção direcionada exige boa eliminação, exposição adequada da região a ser examinada e uso ocasional de determinados instrumentos (lupa, lanterna, otoscópio, oftalmoscópio e outros) para melhorar o campo de visão. É fundamental ter em mente as características normais da área a ser examinada, como será apresentado a seguir: Referência: PORTO, C.C. Semiologia Médica. 8ed. Rio de Janeiro. Guanabara, 2019. Beatriz Loureiro • A iluminação mais adequada é a luz natural incidindo obliquamente. A luz deve ser branca e de intensidade suficiente. Ambientes de penumbra não são adequados para que se vejam alterações leves da colocarão da pele e das mucosas; por exemplo: cianose e icterícia de grau moderado só são reconhecidas quando se dispõe de boa iluminação. Para a inspeção das cavidades, usa-se um foco luminoso, que pode ser uma lanterna comum com um bom facho de luz. • A inspeção deve ser realizada por partes, desnudando- se somente a região a ser examinada, sempre respeitando a dignidade do paciente. Dessa forma, quando se vai examinar o tórax, o abdome permanece recoberto, e vice- versa. O desnudamento das partes genitais sempre causa constrangimento ao paciente. Na verdade, a única recomendação a ser feita é que o examinador proceda de tal modo que seus menores gestos traduzam respeito pela pessoa que tem diante de si. • O conhecimento das características da superfície corporal, assim como da anatomia topográfica, permitirá ao estudante ou profissional de saúde conhecer eventuais anormalidades durante a inspeção. • Há duas maneiras fundamentais de se fazer a inspeção: à olhar frente a frente a região a ser examinada: a isso se designa inspeção frontal, que é o modo padrão desse procedimento; à observar a região tangencialmente: essa é a maneira correta para pesquisar movimentos mínimos na superfície corporal, tais como pulsações ou ondulações e pequenos abaulamentos ou depressões. • A posição do examinador e do paciente depende das condições clínicas do paciente e do segmento corporal a ser inspecionado. De modo geral, o paciente senta-se à beira do leito ou da mesa de exame, a menos que essa posição seja contraindicada ou impossibilitada. O examinador deve ficar de pé diante do paciente, movimentando-se de um lado para o outro, de acordo com a necessidade. No paciente acamado, a posição do paciente e a sequência do exame físico precisam ser adaptadas de acordo com as circunstâncias. Para examinar as costas e auscultar os pulmões, deve-se inclinar o paciente ora para um lado, ora para outro. • A inspeção começa durante a anamnese, desde o primeiro momento em que se encontra com o paciente, e continua durante todo o exame clínico, Por fim, vale a pena relembrar a máxima que diz: “Cometem-se mais erros por não olhar do que por não saber.” PALPAÇÃO Esta, frequentemente confirma pontos observados durante a inspeção. A palpação recolhe dados por meio do tato e da pressão. O tato fornece impressões sobre a parte mais superficial, enquanto a pressão fornece impressões sobre as mais partes mais profundas. Pela palpação percebem-se modificações de textura, temperatura, umidade, espessura, consistência, sensibilidade, volume, dureza, além da percepção de frêmito, elasticidade, reconhecimento de flutuação, crepitações, vibração, pulsação e verificação da existência de edema e vários outros fenômenos. SEMIOTÉCNICA A técnica da palpação deve ser sistematizada e com uma abordagem tranquila e gentil. O paciente fica tenso ao ser tocado bruscamente, dificultando o exame. É de suma importância explicar cada etapa do exame ao paciente e a maneira como ele pode cooperar. Recomenda-se que o examinador aqueça as mãos, friccionando uma contra a outra antes de iniciar qualquer palpação. A posição do examinador e do paciente depende das condições clínicas do paciente e do segmento corporal a ser palpado. Geralmente, o paciente fica em decúbito dorsal, e o examinador de pé, à direita do paciente. Esse procedimento apresenta muitas variantes, que podem ser sistematizadas da seguinte maneira: • Palpação com a mão espalmada, em que se usa toda a palma de uma ou de ambas as mãos. • Palpação com uma das mãos superpondo-se uma à outra. Beatriz Loureiro • Palpação com a mão espalmada, em que se usam apenas as polpas digitais e a parte ventral dos dedos. • Palpação com a borda da mão. • Palpação usando-se o polegar e o indicador, em que se forma uma “pinça”. • Palpação com o dorso dos dedos ou das mãos. Esse procedimento é específico para avaliação da temperatura. • Digitopressão, realizada com a polpa do polegar ou do indicador. Consistena compressão de uma área com diferentes objetivos: pesquisar a existência de dor, avaliar a circulação cutânea, detectar se há edema. • Puntipressão, que consiste em comprimir com um objeto pontiagudo um ponto do corpo. É usada para avaliar a sensibilidade dolorosa e para analisar telangiectasias tipo aranha vascular. • Vitropressão, realizada com o auxílio de uma lâmina de vidro que é comprimida contra a pele, analisando-se a área através da própria lâmina. Sua principal aplicação é na distinção entre eritema e púrpura (no caso de eritema, a vitropressão provoca apagamento da vermelhidão e, no de púrpura, permanece a mancha). • Fricção com algodão, em que, com uma mecha de algodão, roça-se levemente um segmento cutâneo, procurando ver como o paciente se sente. É utilizada para avaliar a sensibilidade cutânea. Beatriz Loureiro • Pesquisa de flutuação, em que se aplica o dedo indicador da mão esquerda sobre um lado da tumefação, enquanto o da outra mão, colocado no lado oposto, exerce sucessivas compressões perpendiculares à superfície cutânea. Havendo líquido, a pressão determina um leve rechaço do dedo da mão esquerda, ao que se denomina flutuação. • Outro tipo de palpação bimanual combinada é a que se faz, por exemplo, no exame das glândulas salivares, quando o dedo indicador da mão direita é introduzido na boca, enquanto as polpas digitais dos outros dedos, exceto o polegar da outra mão, fazem a palpação externa na área de projeção da glândula; outro exemplo de palpação bimanual é o toque ginecológico combinado com a palpação da região suprapúbica. PONTOS-CHAVE PARA A PALPAÇÃO A ansiedade torna as mãos frias e sudorentas, e é necessário ter o cuidado de enxugá-la antes de começar o exame. Além disso, as unhas, além de bem cuidadas, devem estar curtas. Deve-se identificar as regiões dolorosas e deixa-las para serem palpadas por último. Para palpar o abdome, deve- se posicionar o paciente em decúbito dorsal, com a cabeça em um travesseiro, os membros inferiores estendidos ou joelhos fletidos e os membros superiores ao lado do corpo ou cruzados à frente do tórax, para evitar tensão da musculatura abdominal. Ainda ao palpar o abdome, devem-se utilizar métodos para distrair a atenção do paciente: em voz baixa e tranquila, deve-se solicitar que ele realize inspirações profundas para o relaxamento muscular ou simplesmente manter um diálogo com ele. Por fim, deve-se treinar o tato utilizando pequenos sacos de superfícies diversas (lã, linhagem, plástico, seda e etc.) com conteúdos também diferenciados (sementes, algodão e etc.). A utilização desses sacos, palpando-os de olhos fechados, aprimora o tato. PERCUSSÃO A percussão baseia-se no seguinte princípio: ao se golpear um ponto qualquer do corpo, originam-se vibrações que têm características próprias quanto a intensidade, timbre e tonalidade, dependendo da estrutura anatômica percutida. Para isso, deve-se observar não apenas o som obtido, mas também a resistência oferecida pela região golpeada. SEMIOTÉCNICA A técnica da percussão sofreu uma série de variações no decorrer dos tempos; hoje, utiliza-se basicamente a percussão direta e a percussão digitodigital. A percussão direta é realizada golpeando-se diretamente, com as pontas dos dedos, a região-alvo. Para tal, os dedos permanecem fletidos na tentativa de imitar a forma de martelo, e os movimentos de golpear são feitos pela articulação do punho. O golpe deve ser seco e rápido, não se descuidando de levantar, sem retardo, a mão que percute. Essa técnica é utilizada na percussão do tórax do lactente e das regiões sinusais do adulto. A percussão digitodigital é executada golpeando-se com a borda ungueal do dedo médio ou do indicador de uma das mãos a superfície dorsal da segunda falange do dedo médio ou do indicador da outra mão. Ao dedo que golpeia designa-se plexor, e o que recebe o golpe é o plexímetro. A mão que percute pode adotar uma das seguintes posições: Beatriz Loureiro Todos os dedos, exceto o dedo médio, que procura imitar a forma de um martelo, ficam estendidos sem nenhum esforço. O polegar e o indicador ficam semiestendidos, o mínimo e o anular são fletidos de tal modo que suas extremidades quase alcancem a palma da mão, enquanto o dedo médio procura adotar a forma de martelo. A movimentação da mão se fará apenas com a do punho. O cotovelo permanece fixo, fletido em ângulo de 90° e com o braço em semiabdução. O dedo plexímetro – médio ou indicador – é o único a tocar a região que está sendo examinada. Os outros e a palma da mão ficam suspensos rentes à superfície. Caso se pouse a mão, todas as vibrações são amortecidas, e o som torna-se abafado. O golpe deve ser dado com a borda ungueal, e não com a polpa do dedo, que cai em leve obliquidade, evitando que a unha atinja o dorso do dedo plexímetro. Logo às primeiras tentativas de percussão será observado que este procedimento é impossível de ser executado com unhas longas. A intensidade do golpe é variável, suave quando se trata de tórax de crianças, ou com alguma força no caso de pessoas adultas com paredes torácicas espessas. Somente com o treino, se aprenderá a dosar a intensidade do golpe. É aconselhável a execução de dois golpes seguidos, secos e rápidos, tendo-se o cuidado de levantar o plexor imediatamente após o segundo golpe. Retardar na sua retirada provoca abafamento das vibrações. A sequência de dois golpes facilita a aquisição do ritmo que permitirá uma secessão de golpes de intensidade uniforme quando se muda de uma área para outra. As posições do paciente e do médico variam de acordo com a região a ser percutida. De qualquer maneira, é necessário adotar uma posição correta e confortável. O som que se pode obter pela percussão varia de pessoa para pessoa. No início, é comum obter dificuldade em conseguir qualquer espécie de som. Aqueles que têm dedos grossos e curtos obtêm som mais nítido e de tonalidade mais alta. O segredo é o treinamento repetido até que os movimentos envolvidos nesse procedimento sejam automatizados. ESTRATÉGIA Automatizar o movimento da mão que percute. Deve-se partir de uma posição correta: examinador em posição ortostática, ombros relaxados, braços em semiabdução, próximos ao tórax, cotovelo fletido formando ângulo de 90°. Passa-se, então, a executar movimentos de flexão e extensão da mão em velocidade progressiva. Este exercício visa impedir a criação de dois vícios comuns: a percussão com o pulso rígido e a movimentação da articulação do cotovelo. Na verdade, o que se procura com este exercício é “amolecer” a articulação do punho. TIPOS FUNDAMENTAIS DE SONS OBTIDOS À PERCUSSÃO A obtenção dos três tipos fundamentais de sons deve ser treinada previamente antes de se passar à percussão do paciente, usando-se os seguintes artifícios: Beatriz Loureiro Som maciço: é obtido percutindo-se a cabeceira da cama, o tampo de uma mesa, uma parede ou um bloco de madeira. Som pulmonar: é obtido ao se percutir um colchão de mola, uma caixa contendo pedaços de isopor ou mesmo um livro grosso colocado sobre a mesa. Som timpânico: é o que se consegue percutindo uma caixa vazia ou um pequeno tambor. à Antes de se aprofundar na semiologia dos sistemas digestório e respiratório, devem-se percutir diferentes áreas do tórax normal para obtenção do som pulmonar; a área de projeção do fígado para se ter som maciço; e sobre o abdome, para conseguir som timpânico. TÉCNICAS ESPECIAIS DE PERCUSSÃO Em situações especiais, utiliza-se a punho-percussão, a percussão com a borda da mão e a percussão tipo piparote. Punho-percussão: mantendo-se a mão fechada, golpeia- se com a borda cubital a região em estudo e averigua-se se a manobra desperta sensação dolorosa. Percussão com a borda da mão: os dedos ficam estendidos e unidos, golpeando-se a região desejada com a borda ulnar,procurando observar se a manobra provoca alguma sensação dolorosa. Esses dois tipos de percussão são usados no exame físico dos rins. Os golpes são dados na área de projeção deste órgão (regiões lombares). A ocorrência de dor é sugestiva de lesões inflamatórias das vias urinárias altas (pielonefrite). É denominado sinal de Giordano. Percussão por piparote: com uma das mãos o examinador golpeia o abdome com piparotes, enquanto a outra, espalmada na região contralateral, procura captar ondas líquidas chocando-se contra a parede abdominal. A percussão por piparote é usada na pesquisa de ascite. TIPOS DE SONS OBTIDOS À PERCUSSÃO Os sons obtidos à percussão poderiam ser classificados quanto à intensidade, ao timbre e à tonalidade, as três qualidades fundamentais das vibrações sonoras. Som maciço: é o que se obtém ao percutir regiões desprovidas de ar (na coxa, no nível do fígado, do coração e do baço). Som submaciço: constitui uma variação do som maciço. A existência de ar em quantidade restrita lhe concede características peculiares. Som timpânico: é o que se consegue percutindo sobre os intestinos ou no espaço de Traube (fundo do estômago) ou qualquer área que contenha ar, recoberta por uma membrana flexível. Som claro pulmonar: é o que se obtém quando se golpeia o tórax normal. Depende da existência de ar dentro dos alvéolos e demais estruturas pulmonares. AUSCULTA A ausculta é um termo técnico para a escuta dos sons internos do corpo, com uso de um estetoscópio. ESTETOSCÓPIO Os principais componentes de um estetoscópio clássico são: (1) olivas auriculares; (2) armação metálica; (3) tubos de borracha; e (4) receptores. Beatriz Loureiro TIPOS DE ESTETOSCÓPIO Estetoscópio clássico: Estetoscópio máster: apresenta excelente sensibilidade acústica, por meio de um sistema de amplificação e de filtragem de ruídos externos, incluindo um sistema de dupla frequência, que possibilita ouvir sons de alta e baixa frequência, com o mesmo diafragma, bastando modificar a pressão exercida sobre o receptor. Estetoscópio digital: permite a amplificação dos sons até 18 vezes mais que os estetoscópios tradicionais. Dispõe de um processador digital de sinais que possibilita gravação, armazenamento e reprodução de sons. Os sons gravados podem ser transferidos para um computador para serem armazenados e analisados posteriormente. As características desse estetoscópio permitem sua utilização no treinamento das habilidades de ausculta. Estetoscópio com amplificador: são próprios para pessoas com deficiência auditiva. São capazes de enviar os sons a fones de ouvido colocados sobre aparelhos auditivos intracanais ou retriauriculares. Estetoscópio eletrônico: também fornece excelente sensibilidade acústica. Possuem um sistema de purificação, amplificação e filtragem ideal com redução de 75% dos ruídos do ambiente. Estetoscópio pediátrico: apresentam receptores com tamanhos reduzidos para perfeita adaptação em crianças e recém-nascidos. Possibilitam a ausculta de sons de baixa e alta frequência. Beatriz Loureiro Estetoscópio obstétrico: é monoauricular e constituído por uma campânula receptora de grande diâmetro, próprio para a ausculta de sons produzidos pelo feto que são mais dispersos do que os originados no tórax. PONTOS-CHAVE PARA AUSCULTA Deve-se manter a sala de exames com temperatura agradável. Isto porque, se o paciente tremer, as contrações musculares poderão abafar os sons. As olivas do estetoscópio devem estar bem ajustadas. Ademais, deve-se manter o diafragma firmemente posicionado contra a pele do paciente, mas apenas o suficiente para deixar uma discreta impressão depois de retirado. Além disso, nunca se deve auscultar sobre as roupas do paciente. Em situações especiais, pode-se colocar o estetoscópio sob a roupa, porém com cuidado para que o tecido não seja friccionado contra o estetoscópio, provocando sons artificiais. O roçar dos pelos do tórax no diafragma pode gerar sons semelhantes aos estertores finos, que simulam ruídos respiratórios anormais. Para minimizar esse problema, basta umedecer os pelos com um chumaço de algodão molhado. Ausculta é uma habilidade de difícil domínio. Com isso, antes de mais nada é preciso aprender a reconhecer os sons normais, para depois procurar perceber os sons anormais e os sons “extras” (desdobramento de bulhas, cliques, B3 e B4, estalidos de aberturas de valvas). Por fim, é necessário saber que, em algumas regiões do corpo, mais de um som pode ser auscultado, o que pode causar confusão. Exemplos: percepção na ausculta do tórax de ruídos respiratórios e cardíacos simultaneamente. SEMIOTÉCNICA Para uma boa ausculta, deve-se obedecer às seguintes normas: • Ambiente de ausculta: ambiente silencioso é condição indispensável. Os ruídos cardíacos e broncopulmonares são de pequena intensidade e, para ouvi-los, é necessário completo silêncio. Conversas, barulhos produzidos por veículos ou outras máquinas impossibilitam a realização de uma boa ausculta. • Posição do paciente e do examinador: o médico e o paciente devem colocar-se comodamente no momento da ausculta. A posição habitual do paciente para a ausculta do coração é o decúbito dorsal com a cabeça apoiada ou não em um travesseiro. O paciente sentado com o tórax ligeiramente inclinado para frente ou em decúbito lateral esquerdo são outras posições para se auscultar melhor sons cardíacos específicos. Nas três posições, o examinador fica em pé, à direita do paciente. Para se auscultarem os ruídos respiratórios, o paciente mantém-se sentado, um pouco inclinado para frente. O examinador posiciona-se à direita do paciente, durante a ausculta anterior, e à esquerda, durante a posterior. A posição mais frequente do paciente para a ausculta do abdome é o decúbito dorsal, com o examinador em pé, à direita. • Instrução do paciente de maneira adequada: as solicitações feitas ao paciente devem ser claras. Assim, quando se deseja que ele altere seu modo de respirar, isso deve ser feito em linguagem compreensível para ele. Quando se quer, por exemplo, uma expiração forçada, a melhor maneira de obtê-la é solicitar ao paciente que esvazie o peito, soprando todo o ar que for possível. • Escolha correta do receptor (tipo e tamanho do receptor): de maneira geral, deve ser usado o receptor de diafragma de menor diâmetro, com ele sendo efetuada toda a ausculta. Contudo, vale salientar algumas particularidades que têm valor prático. Entre elas, o fato de o receptor de diafragma ser mais apropriado para ouvir ruídos de alta frequência, enquanto a campânula capta melhor os de baixa frequência. Beatriz Loureiro • Aplicação correta do receptor: seja do tipo de diafragma ou de campânula, o receptor deve ficar levemente apoiado sobre a pele, procurando-se obter uma perfeita coaptação de suas bordas na área que está sendo auscultada. A aplicação correta do receptor impede a captação de ruídos do ambiente, que interferem na percepção dos sons. Uma forte compressão da campânula sobre a pele a transforma em um receptor de diafragma – a própria pele do paciente distendida fortemente pelas rebordas do receptor faz o papel de membrana -, anulando sua vantagem na ausculta de ruídos de baixa frequência. OLFATO COM RECURSO DE DIAGNÓSTICO O olfato não tem a mesma importância da inspeção, palpação, percussão e ausculta; entretanto, algumas vezes, a percepção de um determinado odor pode fornecer um indício diagnóstico. Normalmente, mesmo pessoas saudáveis e razoavelmente limpas exalam um odor levemente desagradável. Em determinadas doenças, no entanto, odores diferentes são eliminados em decorrência da secreção de certas substâncias; por exemplo, o hálito da pessoa que ingeriu bebida alcoólica é característico; os pacientes com cetoacidose diabética eliminam um odor que lembra o de acetona; no coma hepático, ohálito tem odor fétido; e nos pacientes com uremia, o hálito tem cheiro de urina. A halitose é um odor desagradável que pode ser atribuído a diferentes causas (má higiene bucal, cáries dentárias, próteses mal adaptadas, afecções periodontais, infecções de vias respiratórias, alterações metabólicas e algumas afecções do sistema digestório). Um dos odores mais observados, é decorrência da ausência de cuidados higiênicos. Trata-se do próprio odor desprendido da superfície corporal e que impregna as roupas e o próprio corpo do paciente. AMBIENTE ADEQUADO PARA O EXAME FÍSICO A sala de exames deve ser tranquila, confortável, bem iluminada, com privacidade e temperatura agradável. Se possível, evite ruídos que possam causar distração, como máquinas com barulhos contínuos, músicas ou conversas de pessoas que atrapalhem principalmente a ausculta dos ruídos corporais. São necessários mesa de exame ou maca, lençol ou avental para cobrir o paciente e mesa à beira do leito para colocar os instrumentos e aparelhos que serão utilizados durante o exame. INSTRUMENTOS E APARELHOS NECESSÁRIOS PARA O EXAME FÍSICO Para se realizar o exame físico, são necessários alguns instrumentos e aparelhos simples, como: • Estetoscópio à instrumento utilizado para se auscultarem sons cardíacos, respiratórios e abdominais; • Esfigmomanômetro à aparelho utilizado para mensurar a pressão arterial; • Lanterna de bolso à serve para iluminar as cavidades não alcançadas pela luz natural e para pesquisar reflexos fotomotores; • Abaixador de língua à utilizado para melhor visualização da cavidade oral. São descartáveis e podem ser de madeira ou plástico; • Fita métrica à serve para medir diâmetros corporais – cefálico, torácico, abdominal – ou qualquer alteração mensurável, como tamanho de fígado e baço; • Termômetro à instrumento utilizado para medir a temperatura corporal; • Lupa à lente biconvexa com capacidade de aumento de 4 a 8 vezes o normal. Muito utilizada nos exames dermatológicos; • Martelo de reflexo à pequeno martelo de borracha utilizado para testar reflexos tendinosos; • Agulha descartável e algodão à servem para pesquisar sensibilidade tátil e dolorosa; • Diapasão à instrumento vibratório, de aço, utilizado no exame do ouvido e do sistema nervoso; • Rinoscópio à instrumento que permite a visualização do interior da cavidade nasal; • Oftalmoscópio à avalia, através da pupila, o fundo de olho; • Otoscópio à visualiza o canal auditivo e o tímpano; • Anuscópio à instrumento em forma de espéculo, utilizado para visualizar o ânus e a porção distal do reto; • Espéculo vaginal à instrumento que mantém as paredes vaginais afastadas, facilitando a visualização do colo do útero para o exame ginecológico; • Oxímetro de dedo à aparelho digital portátil que mede a oximetria de pulso e a frequência cardíaca; Beatriz Loureiro • Balança antropométrica à serve para determinar peso corporal e altura; • Eletrocardiógrafo portátil à mede e registra a forma de onda eletrocardiográfica e a frequência cardíaca; • Ultrassonografia ou ecografia portátil à método diagnóstico muito usado para visualizar órgãos internos do corpo humano, por meio de ondas ultrassônicas; • Desfibrilador automático externo (DEA) à aparelho eletrônico portátil que diagnostica e trata, por meio da desfibrilação, arritmias cardíacas potencialmente fatais; • Capnógrafo à aparelho eletrônico portátil muito usado por médicos anestesistas, que monitora o CO2 exalado pelo paciente; • Cardioversor portátil com oximetria à marca-passo, pressão arterial e ECG. Limpar o estetoscópio, a fita métrica e o termômetro com chumaço de algodão com álcool entre o exame de um paciente e outro é uma medida de controle eficaz. Os instrumentos para endoscopia simples, exceto os descartáveis, têm de ser adequadamente esterilizados. A miniaturização dos aparelhos eletrônicos vai permitir a inclusão destes equipamentos no exame físico dos pacientes. Além da limpeza dos instrumentos, para evitar transmissão de microrganismos entre pacientes ou entre o paciente e o examinador, é imprescindível a correta lavagem das mãos. ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO EXAME FÍSICO Não se pode esquecer, durante o exame clínico, do significado psicológico do exame físico. Para o paciente, as técnicas que usamos para identificar alterações anatômicas ou funcionais contêm outro componente, este muitas vezes esquecidos pelo médico. Desse modo, na inspeção está incluído o ato de olhar; na palpação e na percussão, o de tocar, e, na ausculta, o de escutar. Se estivermos conscientes do significado psicológico das técnicas semióticas, iremos verificar que isso reforça a relação médico-paciente pela proximidade que se estabelece com o paciente. É necessário, portanto, compreender que inspecionar e olhar são indissociáveis, enquanto palpar e tocar são procedimentos que se completam. “Doutor, estou em suas mãos!”. Esta expressão tem duplo sentido: o paciente espera que de nossas mãos saia uma prescrição ou uma intervenção capaz de livrá-lo de um padecimento, assim como a nós está entregando sua vida, permitindo-nos decidir o que é melhor pra ele. VALISE DO MÉDICO O uso de uma valise contendo alguns materiais e instrumentos pode ser indispensável quando o médico atua fora do consultório ou hospital. Sugerem-se os seguintes materiais/instrumentos: (1) termômetro; (2) abaixador de língua descartável; (3) lanterna; (4) fita métrica; (5) estetoscópio; (6) esfigmomanômetro; e (7) luvas descartáveis. Pode ser necessário, também, um glicosímetro capilar, alguns medicamentos de emergência, carimbo com CRM e bloco de receituário, além de aparelhos de alta tecnologia miniaturizados. Beatriz Loureiro
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