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ESTUDO DIRIGIDO : O MAL- ESTAR DA CIVILIZAÇÃO A obra O Mal-Estar da Civilização, de Freud, compara as vidas humanas selvagens e “civilizadas” afim de analisar as civilizações de uma maneira generalizada. Em um primeiro momento o autor referencia-se em uma de suas obras anteriores (O futuro de uma ilusão) e menciona a título de exemplo, como homem excepcional de sua época, Romain Rolland (1866 – 1944) – premiado com o Nobel em Literatura no ano de 1915. As observações de Rolland, quando a obra citada anteriormente, serviram de premissas para que Freud escreve-se então “O mal-estar na civilização”. Quanto a essas premissas, Freud destaca a necessidade em considerar a fonte da religiosidade a partir de um sentimento tido como “oceânico” ou “sensação de eternidade”, de acordo com as sugestões de Rolland. A partir da perspectiva do sentimento oceânico, Freud repassa a teoria do narcisismo, que se dá em dois momentos: narcisismo primário, regulado pelo princípio de prazer e o narcisismo secundário, regulado pelo princípio de realidade. Freud fala então que o bebê lactante não separa seu Eu do mundo externo, ou seja, no primeiro momento o bebê e a mãe se bastam, mas ao passar do tempo isso muda, e o bebê aprende a separar aos poucos, através de diversos estímulos, como o afastamento materno. O estímulo de maior relevância é o seio materno, que ao se ausentar desperta sobre o Eu a vontade pelo objeto que está fora de seu alcance, logo o bebe começa a gritar pelo seio, orientado pelo princípio do prazer para que o objeto solicitado seja retornado. A partir dessa sensação primária de desprazer/prazer, a criança vai reconhecendo tudo aquilo que está fora de si como uma realidade externa, procurando evitar sensações de desprazer, buscando para si fontes de prazer – como o seio materno. O Eu possui uma extensão não muito clara, que seria o Id, o Eu seria o escudo do id. Quando ele vai falar da passagem do narcisismo primário, do mundo como uma extensão própria, para o narcisismo secundário, que é a identificação com o mundo, Freud localiza esse sentimento oceânico, um sentimento de unidade com o mundo, que está justamente na passagem de um narcisismo para o outro. Freud começa a se perguntar: qual direito tem esse sentimento de ser visto como fonte das necessidades religiosas? E então começa a questionar a religião, como um sistema de crenças infantis, já que é um sistema que tudo explica e que tende a completar o sujeito, não coloca em dúvida nada, garantindo ao homem a compensação pelas frustações dos seus dias existentes e reserva ao destino a responsabilidade dos dias de desventuras. Critica ainda alguns filósofos da antiguidade, ao garantirem que há uma argumentação divina para tudo e as coisas nem sempre dão para obtenção do prazer, sustentando o que a religião prega: Deus escreve certo por linhas tortas. Freud cita então Johann Wolfgang von Gothe: “Quem tem ciência e arte tem religião, quem essas duas não tem, esse tenha religião”. Nesse ponto, Freud relata a oposição do autor entre a religião e ao que considera as duas maiores realizações humanas: a ciência e a arte. Freud afirma que a vida humana é demasiadamente dura e algumas coisas podem minimizar o sofrimento, uma delas seriam as distrações eficientes, sobre a qual a ciência atua, tirando o máximo proveito do sofrimento humana, outra seria a satisfação substitutiva, como a arte e as substancias toxicas, que anestesiam o homem e o afastam da dor. Para o autor do texto em questão, a meta da vida é a felicidade e a busca da felicidade se divide entre fuga da dor e busca de sensações intensas de prazer. A felicidade é um problema de libido de cada um, sendo muito pessoal, muito singular de cada ser. Porém, hoje gastamos muito tempo fugindo da dor e pouco buscando realmente sensações de prazer, criamos modos de nos proteger da dor, da perda, o que não significa que estejamos felizes, ou com contato com sensações intensas de prazer, Freud fala que a felicidade só é possível se estiver em contraste com a angústia, para que o homem não se acostume, sendo então algo que nos falta quase a todo tempo. Na existência humana, o sofrimento pode ser originado de três fontes principais: 1) declínio e a corruptibilidade do corpo, 2) o mundo exterior, 3) aquelas causadas pelo relacionamento humano. O trabalho psíquico funciona como sublimação das funções, e pode ser uma técnica que pode evitar a dor, podendo ser exemplificada como a relação sexual entre casais, que pode ser tão intensa que algumas pessoas podem evitar porque na perda do objeto solicitado (que seria o a reciprocidade do outro) há uma sensação de dor e o homem vai se defender desse amor para evitar uma possível dor da perda. A religião reduz as opções de felicidade, formulando uma verdade universal para a vivência desta felicidade, deprecia o valor da vida terrena e faz uma deformação do mundo real. Para que a religião seja colocada em prática faz-se necessário uma diminuição da inteligência, que dará lugar a fé, já que para viver a religião em sua essência, é necessário não buscar tantos argumentos, sendo os religiosos uma espécie de delírio em massa, que acabam tendo o seu desenvolvimento estagnado. A civilização então por mais que tente unir os homens através de Eros é uma das causas do sofrimento humano. Freud, para sustentar esta afirmativa, faz uma retomada histórica, mencionando o cristianismo, que desvaloriza a vida terrena e das grandes navegações, que ao contato com tribos diferentes e simples (com mais coerência com a natureza) trouxeram sofrimento aos povos que já tinham sua própria estrutura, que pode até ser “mais civilizada” do que a que foi imposta. A descoberta do mecanismo das neuroses mostra uma grande felicidade em alguns sujeitos quando tem que sacrificar suas próprias pulsões para atender determinadas demandas de civilizações de convívio em grupos. Freud iguala o conceito de civilização ao de cultura, e a apresenta como o elemento que põe fim ao estado natural dos indivíduos e os coloca em posição diferente dos seus antepassados, logo, o homem se torna um animal civilizado, aceitando diversos regulamentos sociais. Cultura implica então em trabalho, pois à medida que o pai primitivo se une a outros há uma necessidade de trabalhar. Outro laço importante é o amor, ou seja, a pulsão do Eros. A associação da cultura com o amor e o trabalho pode ser comparada ao casamento sob os moldes patriarcais, com o homem que mantêm a mulher ao seu lado e a mulher que por sua vez tem um filho sob sua responsabilidade, logo, a necessidade e o amor são os pais da civilização. A função da cultura é unir cada vez mais o homem em grupos cada vez maior até “chegar” na humanidade. Porém, a cultura impõe sacrifícios, entre eles a restrição da vida sexual. Freud critica o mandamento cristão de amar ao próximo como a si mesmo, já que o instinto humano é destrutivo, e geralmente um estranho nos trata mal, então como amar alguém nos trata mal? O amor, para Freud, é reservado para uma distinção entre as pessoas que amamos e não a todos, sendo assim Freud inclusive acha que o mandamento deveria ser mudado para “ame ao teu próximo assim como ele te ama”, por tratar o mandamento original como injusto, já que ordena ao homem algo “impossível”.
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