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ANATOMOFISIOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Gisele Andrade Anatomofisiologia do sistema linfático Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar o sistema linfático. � Reconhecer a função do sistema linfático, associando-o à sua anatomia. � Identificar as patologias mais comuns do sistema linfático, associando-as à sua anatomia e função. Introdução O sistema linfático, um sistema paralelo ao circulatório, é formado por uma grande rede de vasos, denominados de vasos linfáticos. Esses vasos se distribuem por todo o organismo e recolhem o líquido dos espaços existentes entre os tecidos que não retornou aos capilares sanguíneos, filtrando-o e direcionando-o à circulação sanguínea. Desta maneira, o sistema linfático, ao mesmo tempo, drena o excesso de líquido acumulado entre os tecidos e as toxinas do organismo, elevando a defesa do corpo contra doenças e infecções (LEDUC; LEDUC, 2009). Neste capítulo, você estudará um pouco mais sobre esta complexa rede de órgãos linfoides, linfonodos, ductos linfáticos, tecidos linfáticos, capilares linfáticos e vasos linfáticos, compreendendo como ocorre seu fluxo, sua localização, trajeto e relações. Sistema linfático O sistema linfático é essencial para o bom funcionamento do nosso organismo. Ele é o responsável pelo equilíbrio de fluidos, pela absorção de lipídeos e pela defesa do corpo. Veja na Figura 1 a estrutura o sistema linfático: Anatomofisiologia do sistema linfático98 Figura 1. Sistema linfático. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009). O sistema linfático possui alguns componentes essenciais para o funciona- mento, como a linfa, os vasos linfáticos, os linfonodos e os ductos linfáticos (GUIRRO; GUIRRO, 2010) A linfa é um tecido conectivo líquido, transportado pelo sistema linfático. Ela é composta por: 99Anatomofisiologia do sistema linfático � Líquido intersticial: se assemelha ao plasma sanguíneo, porém com menor concentração de proteínas. � Linfócitos: células responsáveis pela resposta imunológica. � Macrófagos: células do tecido conjuntivo, ricos em lisossomos, que fagocitam elementos estranhos no corpo. Os vasos linfáticos transportam a linfa para o sistema venoso. Eles drenam o fluido de praticamente todos os nossos tecidos para controlar o equilíbrio dos fluidos e mover as substâncias estranhas para os linfonodos (VANPUTTE et al., 2016). Os linfonodos são órgãos linfáticos pequenos, ovais, ou em formato de feijões (Figura 2), e estão distribuídos ao longo dos vários vasos linfáticos. Eles são responsáveis por filtrar a linfa, a qual entra e sai dos linfonodos pelos vasos linfáticos, e fornecem parte da resposta imunológica a novos patógenos. Os linfonodos são ligados em série, de modo que a linfa que sai de um é levada para outro, e assim por diante (VANPUTTE et al., 2016). Figura 2. Estrutura de um linfonodo. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009). Os ductos linfáticos (Figura 3) são dois grandes vasos linfáticos que conduzem a linfa para a circulação venosa: o ducto torácico, que coleta a linfa de ambos os lados do corpo, da região inferior do músculo diafragma Anatomofisiologia do sistema linfático100 e do lado esquerdo da região superior ao mesmo músculo. O ducto linfático direito coleta a linfa do membro superior direito, acima do músculo do dia- fragma. Ele recebe a linfa dos pequenos troncos linfáticos que convergem para a região subclávia direita. Esse ducto se esvazia no sistema venoso nas proximidades ou na própria união entre as veias jugular interna e subclávia direitas (LEDUC; LEDUC, 2009). Figura 3. Ductos linfáticos. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009). Função do sistema linfático O sistema linfático funciona de forma semelhante ao sistema circulatório, e de maneira bem próxima à do retorno do sangue ao coração. Os vasos linfáticos formam uma rede de ramos que infiltram quase todos os tecidos do corpo, assessorando no retorno dos fluidos para os tecidos (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Sua semelhança com o sistema de circulação sanguínea se relaciona especificamente com o retorno venoso do sangue ao coração; no entanto, não existe um bombeamento como no sistema circulatório, a linfa é direcionada 101Anatomofisiologia do sistema linfático nos vasos linfáticos por um sistema próprio. O fluido linfático se move por meio dos vasos, sendo pressionado pelos músculos esqueléticos e pelo movi- mento dos músculos lisos durante a respiração (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Como as veias, os vasos linfáticos têm válvulas regulares dentro deles para impedir o refluxo do fluido. A linfa é drenada progressivamente para os vasos maiores até atingir os dois canais principais, os dutos linfáticos do tronco, onde os fluidos linfáticos filtrados podem ser devolvidos ao sangue venoso (ELWING, 2010). Os vasos do sistema linfático se ramificam por meio dos linfonodos. Um dos principais papéis dos vasos linfáticos é manter o equilíbrio dos fluidos, devolver o excesso de fluido e proteínas dos tecidos que não podem ser retornados por meio de vênulas e veias (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Além dos vasos linfáticos, existem outros tecidos linfáticos, como as tonsilas palatinas, o baço e o timo. As tonsilas palatinas estão localizadas na parte de trás da boca e são responsáveis pela produção de linfócitos (um tipo de glóbulo branco) e anticorpos. Sua posição ‒ pendurada em um anel que forma a junção entre a boca e a faringe ‒ é estratégica para a proteção contra corpos estranhos inalados e engolidos. As tonsilas palatinas são os tecidos afetados pela amigdalite, condição inflamatória comum em crianças (TORTORA; GRABOSWSKI, 2012). O baço (Figura 4) é o maior órgão linfático do corpo. Ele se situa ao longo da curvatura maior do estômago, estendendo-se entre a nona e a décima primeira costela, do lado esquerdo (TORTORA; GRABOSWSKI, 2012). Ele desempenha funções relacionadas ao sangue comparáveis às funções dos linfonodos em relação à linfa. Entre essas funções, incluem (GUIRRO; GUIRRO, 2010): � a remoção de células sanguíneas anômalas e de outros componentes sanguíneos por meio da fagocitose; � o armazenamento do ferro reciclado a partir de células sanguíneas destruídas; � a iniciação da resposta imunológica pelos linfócitos B e T em resposta a antígenos. Anatomofisiologia do sistema linfático102 Figura 4. Baço. Fonte: Vanputte et al. (2016). O timo (Figura 5) é uma glândula que secreta hormônios, além de ser crucial na produção e maturação de células imunes. A glândula timo é ativa no desenvolvimento do sistema imunológico antes do nascimento e pela infância (TORTORA; GRABOSWSKI, 2012). Figura 5. Timo. Fonte: Vanputte et al. (2016). 103Anatomofisiologia do sistema linfático A medula óssea não é um tecido linfático no mesmo sentido que os te- cidos acima, mas pode ser considerada parte do sistema linfático porque é responsável pela maturação dos linfócitos B do sistema imunológico. Para seu conhecimento, saiba que o fígado do feto é considerado parte do sistema linfático devido ao seu envolvimento no desenvolvimento de linfócitos (AIRES; FARIAS, 2014). O fluido a ser drenado pelo sistema linfático é encontrado nos espaços intersticiais e cavidades dos tecidos, em espaços minúsculos que circundam as células e são alcançados pelo sangue e capilares linfáticos. Cerca de 90% do plasma que chega aos tecidos dos capilares do sangue arterial é retornado pelos capilares venosos e de volta para as veias; os 10% restantes são drenados de volta pelos linfáticos (GUIRRO; GUIRRO, 2010). A quantidade de linfa retornada a cada dia equivale a um total de cerca de 3-5 litros, e esse fluido inclui proteínas que são muito grandes para serem transportadas por meio dos vasos sanguíneos (LANGE, 2012). Embora não seja tão imediatamente fatal como o fracasso da circulação sanguínea, a perda do sistema linfático levaria à morte dentro de um dia. Sem o sistema linfático drenando o excesso defluido, os tecidos incham muito, causando perda de volume e pressão no sangue (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Sistema linfático: absorção O sistema linfático absorve gorduras do intestino delgado por meio da atividade de pequenas lácteas. Quase todas as gorduras absorvidas pelo trato gastroin- testinal são absorvidas em uma parte da membrana intestinal no intestino delgado, especialmente adaptada pelo sistema linfático. Ela absorve gorduras e vitaminas lipossolúveis para formar um fluido branco leitoso chamado chyle. Este fluido, que contém linfa, gorduras emulsionadas e ácidos graxos livres, fornece nutrientes indiretamente quando atinge a circulação sanguínea venosa (ELWING; SANCHES, 2010). O sistema linfático constitui uma parte importante da nossa resposta imune à exposição contínua a microrganismos. Alguns desses organismos são poten- cialmente prejudiciais e até fatais, e existem algumas infecções que o sistema imunológico não consegue combater (GUIRRO; GUIRRO, 2010). O sistema linfático não é a primeira linha de defesa contra agentes infeccio- sos, como bactérias e vírus; primeiro passam pelas barreiras físicas da pele Anatomofisiologia do sistema linfático104 ou membranas das mucosas das vias respiratórias e do intestino (GUYTON; HALL, 2011). Apesar da eficácia dessas barreiras, inúmeros agentes patogênicos invadem o corpo, podendo causar infecção se não forem prontamente tratados pelo sistema imunológico. O sistema linfático desempenha um papel fundamental nesta atividade, pois o fluido linfático que contém organismos estranhos é drenado dos tecidos e é apresentado às células do sistema imunológico. Essas células podem então formar anticorpos contra agentes patogênicos ou produzir anticorpos da memória se eles já encontraram o patógeno específico (GUYTON; HALL, 2011). Coleções de linfonodos estão concentrados no pescoço (Figura 6), axilas e virilha. Figura 6. Localização de linfonodos cervicofaciais. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009). A linfa é filtrada pelos linfonodos e outros órgãos linfoides. Os linfonodos fornecem um ambiente para células imunológicas conhecidas como linfócitos – um tipo de glóbulo branco – para primeiro encontrar agentes patogênicos e 105Anatomofisiologia do sistema linfático desencadear uma resposta específica a esses antígenos (GUYTON; HALL, 2011). O sistema linfático e a ação dos linfócitos, dos quais o corpo tem trilhões, fazem parte da “resposta imune adaptativa” – respostas altamente específicas e duradouras a patógenos particulares. A imunidade adaptativa é muito mais sofisticada do que a “resposta imune inata”, que também empregamos e que os animais invertebrados dependem sozinhos para montar uma resposta não específica aos patógenos – nossa imunidade inata inclui “células fagocíticas”, que ingerem e destroem micróbios (GUYTON; HALL, 2011). Patologias mais comuns do sistema linfático Em casos de infecção, como resposta, os linfonodos incham devido a um acúmulo de líquido linfático, bactérias ou outros organismos e células do sistema imunológico (LANGE, 2012). Se um vaso linfático estiver comprimido ou bloqueado, ou se suas válvulas estiverem danificadas, a drenagem linfática torna-se lenta ou é interrompida na área afetada. Com a diminuição da capacidade de drenagem e remoção do líquido que continua a fluir a partir dos capilares sanguíneos, o volume de líquido intersticial passa a ser gradualmente acumulado e os tecidos afetados tornam-se distendidos e edemaciados, condição esta denominada linfedema (GUIRRO; GUIRRO, 2010). A linfadenite é uma inflamação do linfonodo (Figura 7). Ela ocorre quando há uma aglomeração de linfonodos (inguinais superficiais) localizados ao longo do ligamento inguinal. Esses linfonodos estão propensos a aumento após infecções. Essa condição pode afetar um único linfonodo ou um grupo de linfonodos, e pode ser unilateral ou bilateral (HANKIN; MORSE; BENNETT- -CLARKE, 2015). Anatomofisiologia do sistema linfático106 Figura 7. Inflamação do linfonodo. Fonte: O que (2017). Os linfonodos inchados podem indicar uma resposta a material estranho, como de uma infecção próxima, por exemplo. Esse processo é conhecido como linfadenopatia reativa. Além disso, o inchaço do linfonodo pode ser devido a infecção direta ou, embora raramente, câncer e outras doenças. Quando os linfonodos inchados não retornam ao seu tamanho normal, são difíceis de manusear e de mover. Os sintomas podem ser febre, perda de peso inexplicável ou dificuldade em respirar ou engolir (HANKIN; MORSE; BENNETT-CLARKE, 2015). O sistema linfático pode tornar-se disfuncional se os linfonodos, ductos, vasos ou tecidos linfáticos se tornarem bloqueados, infectados, inflamados ou cancerosos. Isso pode levar a uma combinação de duas ou três das se- guintes características gerais dos distúrbios linfáticos (HANKIN; MORSE; BENNETT-CLARKE, 2015; GUIRRO; GUIRRO, 2010): � Quando um distúrbio linfático envolve obstrução, o líquido linfático se acumula nos tecidos, uma condição conhecida como linfedema, que pode ser primário ou secundário. � A infecção pode levar ao alargamento dos linfonodos. 107Anatomofisiologia do sistema linfático AIRES, S.; FARIAS, M. S. Circulação fetal, sistema porta-hepático e sistema linfático. Prezi, 2014. Disponível em: <https://prezi.com/qz34gm1nsckt/circulacao-fetal-sistema- -porta-hepatico-e-sistema-linfatico/>. Acesso em: 03 nov. 2017. ELWING, A.; SANCHES, O. Drenagem Linfática Manual: teoria e prática. São Paulo: Senac, 2010. GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia-Dermatofuncional: fundamentos, recursos, pato- logias. 3. ed. São Paulo: Manole, 2010. GUYTON, A.C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Gua- nabara Koogan, 2011. HANKIN, M. H.; MORSE, D. E.; BENNETT-CLARKE, C. A. Anatomia clínica: uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: AMGH, 2015. 432 p. HIRAKAWA, S. et al. Identification of vascular lineage-specific genes by transcriptional profiling of isolated blood vascular and lymphatic endothelial cells. American Journal of Pathology, Philadelphia, v. 162, p. 575–586, 2003. LANGE, A. Drenagem linfática manual no pós-operatório de cirurgias plásticas. Curitiba: Vitória, 2012. LEDUC, A.; LEDUC, O. Drenagem linfática. 2. ed. São Paulo: Manole, 2009. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. (Coleção Martini). OLIVEIRA, M. F. S. Compreendendo o edema. Dra. Enfermeira, Curitiba, 2015. Disponível em: <http://www.doutoraenfermeira.com.br/2015/10/compreendendo-o-edema. html> Acesso em: 04 nov. 2017. O QUE Causa a inflação dos gânglios linfáticos? Melhor com Saúde, 2017. Disponível em: <https://melhorcomsaude.com/causa-inflamacao-ganglios-linfaticos/>. Acesso em: 05 nov. 2017. TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S. R. O Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2012. VANPUTTE, C. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10.ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. � Câncer – a doença linfática menos comum, porém mais grave; o linfoma geralmente é secundário e surge quando o câncer se espalha de um tumor primário (como no tórax) para linfonodos próximos ou regionais. É raro que um câncer comece no próprio sistema linfático (um câncer primário). Anatomofisiologia do sistema linfático108 Leituras recomendadas FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DE CAMPOS GERAIS. O Sistema linfático. Zé Moleza, Campos Gerais, 2016. Disponível em: <http://www.zemoleza.com.br/tra- balho-academico/biologicas/farmacia/o-sistema-linfatico/>. Acesso em: 19 out. 2017. LINFONODOS da cabeça e do pescoço. Resumos de odontologia. 2013.Disponível em: <http://muitobomessecafe.blogspot.com.ar/2013/03/linfonodos-da-cabeca-e-do- -pescoco.html>. Acesso em: 02 nov. 2017. SISTEMA Linfático do corpo humano: funções e anatomia. Anatomia do Corpo Hu- mano, [2017]. Disponível em: <http://www.anatomiadocorpo.com/sistema-linfatico/>. Acesso em: 19 out. 2017. WITTLINGER,H. et al. Drenagem linfática manual: método Dr. Vodder. Porto Alegre: Artmed, 2013.
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