Buscar

material-didatico-4-13-574-oindigenanaatualidade-10132017091712

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Cultura Indígena 
 Disciplina: O indígena na Atualidade 
Pedagógico do Instituto Souza 
atendimento@instituouza.com.br 
Modalidade de Curso 
Curso Livre de Capacitação Profissional 
 
Página 2 de 24 
 
 
 
 
 
A SITUAÇÃO ATUAL DOS ÍNDIOS DO BRASIL 
 
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a atual população indígena 
do Brasil é de aproximadamente 818.000 indivíduos, representando 0,4% da 
população brasileira. Vivendo em aldeias somam 503.000 indígenas. Há, contudo, 
estimativas de que existam 315 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em 
áreas urbanas. 
A população indígena no País vem aumentando de forma contínua, a uma taxa de 
crescimento de 3,5% ao ano. Esse número tende a crescer devido à continuidade 
dos esforços de proteção dos índios brasileiros, queda dos índices de mortalidade, 
em razão da melhora na prestação de serviços de saúde, e de taxas de natalidade 
superiores à média nacional. Existem cerca de 53 grupos ainda não contatados, 
além daqueles que esperam reconhecimento de sua condição indígena junto ao 
órgão federal indigenista FUNAI. 
Cerca de 60% dos índios do Brasil vive na região designada como Amazônia Legal, 
mas registra-se a presença de grupos indígenas em praticamente todas as Unidades 
da Federação. Somente nos estados do Rio Grande do Norte, Piauí e no Distrito 
Federal não registra-se a presença de grupos indígenas. 
De acordo com a FUNAI os índios brasileiros estão divididos em três classes: 
os isolados, considerados aqueles que “vivem em grupos desconhecidos ou de que 
se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos 
da comunhão nacional”; os em via de integração, aqueles que conservam 
parcialmente as condições de sua vida nativa, “mas aceitam algumas práticas e 
modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional”; e 
os integrados, ou seja, os nativos incorporados à comunhão social e “reconhecidos 
no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e 
tradições características da sua cultura”. Segundo a legislação brasileira, 
Página 3 de 24 
 
 
 
o nativo adquire a plena capacidade civil quando estiver razoavelmente integrado à 
sociedade. Para que tal aconteça, é necessário que tenha boa compreensão dos 
usos e costumes da comunhão nacional, conheça a língua portuguesa e tenha a 
idade mínima de vinte e um anos. 
A CIDADANIA DO ÍNDIO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
A plena cidadania do índio depende de sua integração à sociedade nacional e do 
conhecimento, mesmo que precário, dos valores morais e costumes por ela 
adotados. A Constituição de 1988 realizou um grande esforço no sentido de elaborar 
um sistema de normas que pudesse efetivamente proteger os direitos e interesses 
dos índios brasileiros. Representou, ademais, um largo passo à frente na questão 
indígena, com vários dispositivos nos quais dispõe sobre a propriedade das terras 
ocupadas por eles, a competência da União para legislar sobre populações 
indígenas e a preservação de suas línguas, usos, costumes e tradições. 
O Governo Federal entregou ao Congresso uma proposta para alterar a legislação 
brasileira, no intuito de consolidar novos paradigmas. Trata-se do Projeto de 
Estatuto das Sociedades Indígenas, que já se encontra em discussão. O objetivo da 
proposta é assegurar que a proteção aos índios brasileiros se dará com base no 
reconhecimento do seu diferencial cultural e não mais na falsa premissa da sua 
inferioridade. Com isso, além da efetiva garantia dos seus direitos, procura-se 
http://www.coladaweb.com/sociologia/cidadania
Página 4 de 24 
 
 
 
permitir que os povos indígenas tenham espaço necessário ao desenvolvimento de 
seus projetos de futuro. 
Segundo a FUNAI, apenas recentemente a sociedade começa a se conscientizar 
que os índios são parte integrante da vida nacional. Assim, os índios brasileiros 
participam da política do país elegendo candidatos, ajudando na elaboração de leis 
e compartilhando problemas relacionados ao meio ambiente, política, economia, 
saúde e educação. A afirmação do direito à diversidade cultural importa a 
reivindicação pelas populações indígenas de um espaço político próprio no seio do 
Estado e da nacionalidade. A conquista desse espaço supõe, por sua vez, o 
reconhecimento de níveis crescentes de participação das comunidades indígenas 
nas decisões que tenham impacto sobre o seu modo de vida. 
OS GRUPOS INDÍGENAS E SUA RELAÇÃO COM O BRASIL ATUAL 
 
O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e lingüística, que está entre as 
maiores do mundo e é a maior da América do Sul. Essa diversidade é encarada 
como um fator de enriquecimento cultural da nacionalidade. O Brasil contemporâneo 
é mais indígena do que normalmente se supõe. Ainda que culturalmente 
transformada pela interação secular de processos civilizatórios, a presença indígena 
é fortemente percebida no tipo físico e nos costumes de amplos segmentos da 
população, sobretudo entre os brasileiros do Nordeste, da Amazônia e do Centro-
Oeste. Se é verdade que os grupos indígenas brasileiros estão reduzidos a uma 
pequena fração do que foram no passado, também é verdade que este segmento da 
população encontra-se hoje em plena recuperação demográfica. 
Apesar de todas as pressões assimilacionistas até a década de 70, os grupos 
indígenas não se desfizeram no corpo da população mestiça. Ao contrário, seu 
contingente populacional vem-se recuperando progressivamente. Os grupos 
Página 5 de 24 
 
 
 
indígenas brasileiros têm logrado manter nas últimas décadas uma taxa de 
reprodução superior à média nacional. Contrariando o que se previra, o índio 
brasileiro não se transformou em branco, nem foi totalmente exterminado, mas 
iniciou nas últimas décadas um lento e seguro processo de recuperação 
demográfica para o qual terá contribuído, em grande medida, a demarcação ainda 
inconclusa das áreas indígenas e a prestação de serviços assistências pelo Estado. 
Os grupos indígenas transmutam-se, reelaborando os elementos de sua cultura num 
processo sempre contínuo de transfiguração étnica. Continuam, entretanto, 
identificando-se e sendo identificados como indígenas. Ao invés de sua extinção ou 
assimilação, o que se tem verificado nas últimas décadas é a vigorosa resistência da 
identidade étnica dos grupos indígenas brasileiros. 
O tratamento da questão indígena é um dos assuntos prioritários na agenda social 
do Governo. O índio brasileiro é um cidadão que tem anseios, carências e 
necessidades específicas, que precisam ser atendidas pelo Estado. Embora 
concentrada em grande parte na Amazônia, a população indígena brasileira está 
dispersa em quase todo o território nacional. Alguns grupos ainda vivem em relativo 
ou completo isolamento, outros estão integrados à economia regional, mas se 
consideram e são reconhecidos como membros de uma comunidade culturalmente 
diferenciada. 
Para esses grupos, a afirmação do direito ao etnodesenvolvimento e à preservação 
de sua identidade cultural passam pela garantia de seus direitos constitucionais, 
pela posse da terra, pela defesa de condições dignas de vida, e pela conquista de 
seu espaço político. E são exatamente essas as metas da política indigenista do 
Governo. A preocupação é garantir os direitos dos indígenas e aperfeiçoar os 
dispositivos legais relativos a esses direitos. Procura-se, portanto, intensificar as 
medidas de interdição da exploração predatória e ilegal de recursos naturais, de 
remoção de invasores, especialmente garimpeiros em terras indígenas, e a 
Página 6 de 24 
 
 
 
promoção da auto sustentação e o desenvolvimento comunitário dos grupos 
indígenas. 
AS TERRAS INDÍGENAS E SUAS DEMARCAÇÕES 
 
O Brasil conta com cerca de 104.508.334 hectares (1 milhão e 45 mil km²) de terras 
indígenas. Isso representa 12,24% da extensão do território brasileiro (quase duas 
vezes o território espanhol,que é de 504.800 km²). De acordo com dados de 2001, o 
Brasil possui 580 áreas indígenas, sendo que no período de janeiro de 1995 a abril 
de 2001, 99 áreas foram designadas indígenas, perfazendo um total de 30.028.063 
hectares (300.280 km²). Da mesma forma, foram homologadas 140 terras indígenas, 
somando 40.965.000 hectares (409.650 km²). O Governo tem inovado ao celebrar 
parcerias com as organizações indígenas e de apoio aos índios brasileiros para 
realizar, de modo descentralizado, os trabalhos de demarcação física dessas terras. 
É o caso da área localizada na região do Rio Negro, no estado do Amazonas, que, 
somando mais de 11.000.000 de hectares (110.000 km²), foi demarcada numa 
parceria que envolveu a FUNAI, a Federação das Organizações Indígenas do Rio 
Negro (FOIRN) e o Instituto Socioambiental. 
O Governo brasileiro tem incentivado e apoiado iniciativas promissoras que 
promovam a gestão territorial pelas próprias comunidades, por meio de práticas 
sustentáveis que garantam o retorno econômico para atendimento de suas 
necessidades juntamente com a manutenção do equilíbrio ecológico de suas terras. 
Uma dessas iniciativas é o Plano de manejo Florestal desenvolvido pelos índios 
Xikrin do Cateté, cujas terras estão localizadas no estado do Pará, visando a 
exploração e comercialização de recursos madeireiros e não-madeireiros de forma 
sustentável. O projeto conta com o apoio do Ministério da Justiça e do Ministério do 
Meio Ambiente, sendo financiado com recursos da Companhia Vale do Rio Doce e 
Página 7 de 24 
 
 
 
do Pró-Manejo ( inserido no Programa Piloto para a Proteção das Florestas 
Tropicais do Brasil – PPG7). 
O reconhecimento das terras indígenas é uma das principais políticas que o estado 
brasileiro vem implementando para que essas comunidades possam reconhecer 
nele um canal de diálogo. Nesse sentido, o Governo Federal promove a discussão 
com a sociedade civil a respeito das ações de apoio e valorização das populações 
indígenas. A participação de organizações não-governamentais têm sido 
fundamental nessa questão, tendo sido alcançados resultados muito positivos. 
O APOIO DO BRASIL A SEUS ÍNDIOS 
 
No plano externo, o Brasil desenvolve ampla cooperação sobre questões indígenas. 
O acordo firmado com a Alemanha, no âmbito do Programa Piloto para a Proteção 
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), deu novo impulso a esse intercâmbio, 
particularmente no que se refere à demarcação de terras indígenas. O Projeto 
Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal 
(PPTAL), implementado pela FUNAI, é fruto da parceria entre o Governo brasileiro, o 
governo alemão e agências internacionais de apoio técnico e financeiro, tais como o 
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial. 
Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida das populações indígenas e promover a 
conservação dos recursos naturais através da garantia da demarcação de 160 terras 
indígenas da Amazônia Legal, abrangendo um total de 45 milhões de hectares. O 
PPTAL estimula a participação das comunidades e organizações indígenas por meio 
do apoio a Projetos de Acompanhamento de demarcações em andamento e de 
Planos de Vigilância para terras já demarcadas. Prevê, ainda, o apoio a ações de 
capacitação ligadas à gestão e proteção territorial por parte dos índios do Brasil. 
Página 8 de 24 
 
 
 
Outros exemplos desse esforço são os Projetos Vãfy e 3° Grau Indígena. Estes dois 
têm em comum a questão educacional. O primeiro projeto envolve a FUNAI, 
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul -UNIJUÍ, 
Universidade de Passo Fundo – UPF, e visa a melhor atender à comunidade 
indígena, garantindo ensino de qualidade e a valorização da língua e costumes 
tradicionais. 
Nos próximos anos, o projeto deverá formar 100 professores habilitados para o 
magistério em educação para as primeiras séries do ensino fundamental. Esta nova 
equipe irá atender a crescente demanda educacional das comunidades indígenas da 
região. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, existem 37 escolas indígenas 
de Ensino fundamental. O segundo projeto oferece Cursos de Licenciatura Plena e 
tem como objetivo formar professores indígenas em três áreas: Ciências 
Matemáticas e da Natureza, Ciências Sociais e Línguas (Português e o idioma da 
etnia), artes e literatura. O Brasil conta hoje com 3.041 professores indígenas, que 
dão aulas em 1.666 escolas especiais. 
O Governo elaborou, com a participação de especialistas e professores índios, o 
Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI), que permite a 
elaboração de propostas pedagógicas e curriculares diferenciadas para os povos 
indígenas. Além disso, criou-se no âmbito do Ministério da Educação uma 
Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena, encarregada da política para as 
escolas indígenas e a formação dos seus professores. Também foi organizado um 
programa de financiamento a projetos de educação para os índios brasileiros, 
voltado principalmente para atender organizações da sociedade civil de apoio aos 
índios e universidades. Por fim, recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da 
Educação (FNDE) foram destinados para apoio aos estados que implantaram 
iniciativas nessa área. 
Página 9 de 24 
 
 
 
A prestação dos serviços de saúde aos índios brasileiros por intermédio dos Distritos 
Sanitários Especiais Indígenas, vinculados à Fundação Nacional de Saúde 
(FUNASA), possibilitou aos povos indígenas e suas organizações condições inéditas 
de acompanhamento e controle social no campo das políticas públicas. Os 34 
distritos existentes são organizados com base em critérios socioculturais, 
geográficos e epidemológicos, observando-se a situação e condições da população 
a ser atendida, o que inverte a lógica tradicional de organização e prestação dos 
serviços do estado. A representação na instância de decisão do distrito é paritária, 
estando distribuída entre os índios do Brasil, os prestadores dos serviços e os 
profissionais de saúde. 
A organização dos distritos permitiu uma melhora significativa no atendimento de 
saúde aos índios que, em muitos casos, assumiram, por meio de suas próprias 
organizações, a prestação de serviços. Para tanto, a FUNASA já celebrou 
aproximadamente nove convênios só com organizações indígenas, além de 19 
outros com organizações de apoio aos índios brasileiros. Os convênios da FUNASA 
disponibilizaram cerca de US$ 43.290.000,00 para o atendimento de saúde nas 
aldeias. 
É por meio de todas essas ações que o Brasil busca uma relação de respeito mútuo 
entre as suas diversas comunidades étnicas. Tais atitudes, ao lado de políticas 
concretas que já vêm sendo adotadas nas áreas de demarcação de terras, saúde e 
educação, representam ações efetivas para o reconhecimento dos direitos de 
cidadania das pessoas e dos povos indígenas do País. 
 
Por: Marcelo Venturi 
 
 
Página 10 de 24 
 
 
 
ÍNDIO BRASILEIRO 
 
No final do século XX, uma das maiores preocupações dos interessados na questão 
indígena era a perspectiva de extinção do índio brasileiro, cuja população, estimada 
em alguns milhões no século XVI, reduzira-se a menos de 120.000 indivíduos na 
década de 1970. A declinante curva demográfica mostrou, porém, a partir da década 
de 1980, uma tendência geral de reversão que, embora não se verifique em todos os 
grupos étnicos, já permitiu deslocar o foco de atenção para a situação social, política 
e econômica dos índios, bem como para o valor de sua contribuição na preservação 
ambiental. 
Entende-se por índio todo indivíduo pertencente aos contingentes humanos que se 
mantêm vinculados à tradição pré-colombiana por costumes, hábitos ou identificação 
étnica e que, em consequência disso, apresenta um processo diferenciado de 
adaptação à sociedade nacional. Em sentido mais amplo, índio é todo indivíduo 
reconhecido comomembro por uma comunidade que se identifica como diversa da 
sociedade brasileira e que é considerado pertencente a uma comunidade indígena 
pela população regional brasileira com a qual se acha em contato. 
A caracterização do índio brasileiro do fim do século XX, porém, exige novas 
abordagens, em função de alterações no contexto social e político. Como resultado 
da mobilização da comunidade indígena, bem como de organizações políticas e civis 
convencidas da importância da defesa dos direitos dos índios para o futuro do país, 
a constituição brasileira de 1988 trouxe duas inovações conceituais importantes. Em 
primeiro lugar, abandonou-se a perspectiva assimilacionista que sempre marcou a 
tradição constitucional brasileira e a política indigenista oficial. A principal medida 
nesse sentido foi o fim da atribuição de direitos civis com base em critérios de 
aculturação dos índios. Além disso, o direito à posse da terra foi reconhecido como 
“originário”, derivado do fato histórico de terem sido os índios os primeiros ocupantes 
do Brasil, e não em atenção à necessidade de proteção por serem frágeis. 
Página 11 de 24 
 
 
 
A importância das novas abordagens da questão indígena no fim do século XX 
reside não só na identificação do índio com outras minorias em seu direito à 
diferença, mas também em sua íntima associação com a questão ambiental. 
ORIGEM DAS POPULAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS 
A hipótese da autoctonia do homem americano está hoje definitivamente afastada 
pelos seguidores das duas correntes teóricas que forneceram as contribuições mais 
importantes sobre o tema. Segundo Ales Hrdlicka, apoiado por outros autores da 
escola americana (William Henry Holmes, Alfred Louis Kroeber, Franz Boas, Clark 
Wissler, entre outros), por Paul Rivet e outros adeptos da escola histórico-culturalista 
francesa, o continente americano foi povoado por grupos humanos alóctones, que 
nele penetraram há cerca de dez mil anos, no período correspondente ao neolítico 
europeu, ou seja, em pleno holoceno. 
Para Hrdlicka, povos mongolóides penetraram em terras americanas em ondas 
migratórias sucessivas, pelo estreito de Bering. Rivet admite a possibilidade de 
quatro grandes deslocamentos humanos: a migração mongolóide, pelo estreito de 
Bering; a migração malaio-polinésia, por mar, para a costa oeste da América do Sul; 
a migração australiana, que teria alcançado a Patagônia pelo pólo sul; e a migração 
mais recente, dos esquimós, ligada ao ciclo ártico. Apesar das evidências dessas 
migrações, demonstradas por pesquisas antropológicas, arqueológicas e 
linguísticas, as culturas desenvolvidas na América apresentam-se, no entanto, tão 
distanciadas das culturas asiáticas que é possível encará-las como produto da 
experiência acumulada no novo habitat. 
POPULAÇÕES TRIBAIS DO BRASIL À ÉPOCA DO 
DESCOBRIMENTO 
As informações mais precisas sobre os grupos tribais que aqui habitavam à época 
do descobrimento do Brasil, chamados genericamente tupinambás, e sobre as 
primeiras iniciativas colonizadoras dizem respeito às terras litorâneas, onde primeiro 
se fixou o europeu. Crônicas e relatos dos séculos XVI e XVII são ricos em 
http://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/descobrimento-do-brasil
Página 12 de 24 
 
 
 
informações a respeito dos tupinambás, o que permitiu reconstruir, com apreciável 
rigor, elementos de sua cultura e organização social, como na obra de Florestan 
Fernandes: A organização social dos tupinambás (1949). Quanto às populações que 
habitavam o interior, de penetração penosa e arriscada, as notícias são escassas e 
imprecisas. 
Tupinambás. Cronistas e viajantes do século XVI denominaram tupinambás grupos 
indígenas distintos, do tronco linguístico tupi, que habitavam o litoral do Rio de 
Janeiro, Bahia, Pará, Maranhão e ilha de Tupinambarana, na foz do rio Madeira, no 
Amazonas. Apresentavam traços culturais básicos comuns, como revela o clássico 
Tratado descritivo do Brasil em 1587, de Gabriel Soares de Sousa. Os do Rio de 
Janeiro ocupavam grande parte do litoral e, para o interior, penetravam cem 
quilômetros na altura de Angra dos Reis e tinham aldeias por cerca de quarenta 
quilômetros de terras ao longo do rio Paraíba do Sul. 
Desde 1519 os tupinambás mantiveram relações amistosas com os portugueses e, a 
partir de 1525, estabeleceram comércio com os franceses. Segundo Anchieta, em 
1531 repudiaram a amizade dos lusos, “em virtude dos agravos recebidos”. 
Empenharam-se então em guerras constantes, que tiveram consequências 
desastrosas. O último foco de resistência indígena foi desbaratado em Cabo Frio, 
em 1574, com número incalculável de mortos e cerca de dez mil prisioneiros. 
Migraram então em todas as direções. No rio dos Patos, no Sul, entraram em conflito 
com os carijós, grupo que habitava entre a barra de Cananéia e o Rio Grande do 
Sul. No sertão, formaram novos aldeamentos e se tornaram conhecidos como 
ararapes. Na terceira década do século XVII viviam no rio São Francisco, junto aos 
amoipiras, ramo tupinambá segregado. No fim desse século, praticamente 
desapareceram dos registros. 
Os tupinambás da Bahia viviam no litoral, entre Ilhéus e a foz do São Francisco, 
adentrando quase 500km pelo sertão. Também empenhavam-se em lutas 
constantes com grupos tribais vizinhos: pelo norte, com os caetés, distribuídos do 
São Francisco à Paraíba, e com os potiguares, das costas da Paraíba e do Rio 
http://www.coladaweb.com/sociologia/florestan-fernandes
http://www.coladaweb.com/sociologia/florestan-fernandes
Página 13 de 24 
 
 
 
Grande do Norte; pelo sul, com os botocudos, oriundos do rio Caravelas, e os 
tupiniquins; pelo interior, com diversos grupos tapuias e com os tupinas. Em 1567, 
oitenta mil índios estavam aldeados pelos catequistas ou haviam sido escravizados. 
Os sobreviventes perambulavam pelos sertões e, nessas caminhadas, juntaram-se 
aos do Rio de Janeiro e a grupos que deixavam Pernambuco. Entre 1560 e 1580 
disseminaram-se pelo Nordeste, ocupando terras desde a serra de Ibiapaba até 
afluentes do rio Amazonas. Suas concentrações maiores eram Tapuitapera, Cumá e 
Caeté, no Maranhão. Pouco mais tarde, estabeleceram-se na ilha do Maranhão e 
fundaram aldeias por toda a região do Amazonas, até 500km da foz. 
Ao findar o século XVII, a colonização progressiva empreendida pelos europeus 
havia banido definitivamente os tupinambás do litoral. A escala seguinte foi a ilha de 
Tupinambarana, ocupada a partir de 1600 por contingente numeroso, que dali 
prosseguiu para o interior, até atingir, em 1639, o rio Negro. 
Em 1660, os jesuítas tentaram a catequese dos índios de Tupinambarana, seguindo 
a técnica usual de promover aldeamentos aos quais incorporavam índios de outros 
grupos, como os poraioamas, os mojoaras, os pataruanas, os andirás, os areretus e 
os sapapés. Em meados do século XVII já não existiam ali grupos tupinambás 
independentes e, ao findar o século seguinte, já não causavam problemas aos 
novos donos das terras. Terminara, para a história oficial, sua contribuição ao 
processo de formação da sociedade colonial brasileira. 
GOITACÁS, TUPINIQUINS, GUAIANÁS E CARAJÁS 
 
Segundo Jean de Léry, no século XVI os goitacás habitavam a faixa litorânea 
situada entre o rio Paraíba do Sul e Macaé RJ. Por volta de 1630, os portugueses 
ocuparam suas terras e os sobreviventes foram aldeados pelos jesuítas. Na 
segunda metade do século XIX, alguns remanescentes viviam nas proximidades de 
Campos dos Goitacases e Cabo Frio. 
Página 14 de 24 
 
 
 
Os domínios dos tupiniquins estendiam-se da enseada de Camamu até as 
vizinhanças do Espírito Santo. Hans Staden faz referências a grupos que tinham 
aldeias na zona costeira ao sul de Angra dos Reis. Aliados dos portugueses nos 
primeiros tempos da colonização, desempenharam papel importante na expulsão 
dos franceses e na luta contra os tupinambás. 
Os índios guaianás habitavam, no século XVI, a capitaniade São Vicente. 
Documentos antigos situam-nos no planalto de Piratininga, onde foi fundada a 
cidade de São Paulo. Com inúmeros subgrupos, acredita-se que tenham sido os 
ancestrais dos índios caingangues, que atualmente vivem em regiões do Paraná e 
de Santa Catarina. 
Os carajás, que no século XVI ocupavam as terras situadas ao norte do domínio dos 
tupinambás, e de amplas regiões no sertão dos atuais estados de Minas Gerais, 
Goiás e Pará, vivem atualmente ao longo do rio Araguaia, desde Leopoldina MG até 
Conceição do Araguaia PA. Divididos em vários subgrupos, têm a ilha do Bananal 
como um de seus redutos principais. 
Tapuias 
O termo tapuia era empregado pelos índios tupinambás e pelos cronistas da época 
para designar, de modo geral, grupos indígenas de fala não-tupi. Gabriel Soares de 
Sousa estendeu o nome a grupos que habitavam entre o Rio Grande do Sul e o rio 
da Prata, provavelmente de língua chamada “tupi do sul”. Pero de Magalhães 
Gândavo afirmou que os tapuias do rio Maranhão apresentavam afinidades com os 
botocudos. 
Fernão Cardim, em 1548, relacionou 76 tribos tapuias, citando, no entanto, a 
diversidade de línguas e cultura. Para Karl Friedrich Philipp von Martius, que os 
identificou com os grupos de língua jê, o termo tapuia significa, em língua tupi, “os 
inimigos” ou “aqueles que moram a oeste”. O termo não é mais usado pela etnologia 
brasileira em sentido classificatório. 
Página 15 de 24 
 
 
 
INDÍGENAS BRASILEIROS NO SÉCULO XX 
 
A população indígena brasileira em 1990 era de aproximadamente 250.000 
indivíduos, ou 0,2% da população nacional, distribuídos em cerca de 200 povos que 
falavam mais de 170 línguas diferentes. Um mapeamento feito em 1988 registrou a 
existência de 82 áreas que mantinham índios sem contato oficial com a sociedade 
nacional. A eles a constituição brasileira reconhece direitos originários e usufruto 
exclusivo (exceto do subsolo) sobre oitenta milhões de hectares (cerca de dez por 
cento do território nacional). As terras são bens da União e se encontram em 
diversos estágios do processo de reconhecimento oficial, que passa pelas etapas de 
identificação, delimitação, homologação e regularização. 
A regularização das terras indígenas — quase sempre situadas em regiões de 
imensas riquezas naturais — enfrenta toda sorte de dificuldades práticas, além 
daquelas impostas pela profusão de interesses em jogo, entre eles os de 
latifundiários, mineradoras, madeireiras, posseiros, garimpeiros etc. A constituição 
reconhece o direito dos índios sobre as áreas por eles habitadas e também “as 
utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos 
recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias para sua 
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”, mas o 
próprio estado tem interesse nas terras indígenas no caso de certos projetos de 
desenvolvimento, abertura de estradas e construção de hidrelétricas. 
Até 1990, menos de 14% das terras indígenas estavam totalmente regularizadas, 
pouco mais de 20% tinham sido homologadas e menos de 13% delimitadas. O 
governo federal procurava dar prioridade ao reconhecimento das terras indígenas 
localizadas perto de fronteiras internacionais, como foi o caso da reserva 
dos ianomâmis, em Roraima, perto da Venezuela, que tiveram uma área de 
94.000km2 homologada em novembro de 1991. Os ianomâmis — que em 1990 
eram cerca de dez mil no Brasil e 15.000 na Venezuela — são um dos grupos 
indígenas mais primitivos do mundo. Na Venezuela, o governo optou por deixar aos 
http://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/ianomamis
Página 16 de 24 
 
 
 
ianomâmis, de forma definitiva, a área de 83.000km2 (9,1% do território nacional) 
que eles ocupam há centenas de anos, transformada em reserva da biosfera e 
parque nacional. 
 
USOS E COSTUMES 
 
A maioria da população indígena do Brasil vive da agricultura, mas a coleta, a caça e 
a pesca figuram também como importante atividade de subsistência. A tecnologia é 
rudimentar; como fonte de energia utilizam apenas a força humana e o fogo, já que 
não empregam tração animal nem energia hidráulica. O cultivo intensivo do solo em 
pouco tempo conduz a seu esgotamento, obrigando à migração das populações em 
busca de terras férteis. A divisão social do trabalho funda-se nos princípios básicos 
de sexo e idade, com tarefas bem definidas. 
Como em todas as culturas ágrafas, a estrutura social dos grupos indígenas do 
Brasil tem como referência o sistema de parentesco consensualmente aceito. A 
unidade básica de agrupamento social é a família nuclear, isto é, pais e filhos, 
formada pelo casamento, união sancionada entre um homem e uma mulher, de 
acordo com critérios preferenciais e/ou impeditivos, constantes das normas do 
grupo. O casamento pode ser monogâmico ou poligâmico. 
Do ponto de vista demográfico, a maior parte dos povos indígenas brasileiros é 
formada de microssociedades. Segundo dados coligidos em 1990 pelo Centro 
Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), 84 povos indígenas brasileiros 
tinham uma população de até 200 indivíduos; 45 tinham entre 200 e 500 indivíduos, 
e 30 entre 500 e 1.000, perfazendo um total de 77% dos povos com população 
inferior a mil indivíduos. Na faixa de mil a cinco mil indivíduos encontram-se 35 
povos. Guajajaras, potiguares, xavantes e ianomâmis são os povos cuja população, 
em 1990, estava entre cinco e dez mil indivíduos. Terenas, macuxis, ticunas e 
caingangues tinham, cada um, entre dez e vinte mil indivíduos, e apenas os guaranis 
contavam com uma população de mais de vinte mil indivíduos. Em várias cidades 
Página 17 de 24 
 
 
 
brasileiras, a população indígena é numericamente significativa e, na Amazônia, 
chega a ser majoritária em alguns municípios, como São Gabriel da Cachoeira, 
Tabatinga, São Paulo de Olivença e Amaturá, no estado de Amazonas, e 
Normandia, em Roraima. 
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO 
 
A política propriamente indígena é autônoma e permanente. De forma 
fundamentalmente local e descentralizada operam as instituições políticas 
tradicionais de cada povo, como a Casa dos Homens, entre os caiapós, e o 
Conselho dos Velhos, entre os xavantes. Por isso, os indigenistas recomendam que 
as negociações e audiências com povos indígenas sejam sempre feitas na própria 
aldeia, de forma a preservar as instituições tradicionais desses povos. 
Nas últimas décadas do século XX, começaram a surgir as organizações indígenas 
“registradas em cartório”, reconhecidas constitucionalmente como partes legítimas 
para ingressar em juízo em defesa dos direitos e interesses dos índios. Algumas 
eram organizações vinculadas a uma aldeia de certa etnia; outras, organizações 
com pretensões de representação interlocal e regional. Freqüentemente, porém, 
essas organizações não-tradicionais eram vistas pelas comunidades indígenas 
apenas como canais para tratar e receber recursos e serviços externos, num 
contexto de crise dos serviços de assistência oficial. O caso da União Nacional 
Indígena (UNI), criada em 1979, é peculiar, pois desempenhou com eficácia o papel 
de referência simbólica da indianidade genérica na conjuntura de democratização 
por que passou a sociedade brasileira e que culminou na elaboração da constituição 
de 1988. 
POLÍTICA INDIGENISTA BRASILEIRA 
 
Desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, especialmente dos 
religiosos jesuítas encarregados da catequese, os problemas ligados à integração 
Página 18 de 24 
 
 
 
do índio à sociedade em formação oscilou do extremo interesse ao total descaso. 
Durante a colônia e o império, numerosos decretos, leis, cartas-régias etc. foram 
estabelecidos, embora raramente cumpridos. Em 20 de julho de 1910 foi criado o 
Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais. Seu 
objetivo era solucionar os graves conflitos de posse da terraentre populações tribais 
e integrantes das frentes pioneiras de ocupação. 
A tônica dos ideais positivistas, apesar das dificuldades para fazê-los valer em 
relação ao índio, conseguiu prevalecer na orientação imposta ao serviço por seu 
organizador e primeiro diretor, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. O 
regulamento da lei de criação do Serviço de Proteção aos Índios foi modificado por 
um decreto de 1911, que fixou as bases da política indigenista a ser adotada no 
Brasil. Reconhecida como modelo pela XXXIX Conferência Internacional do 
Trabalho reunida em Genebra em 1956, tinha como pontos centrais o respeito à 
autodeterminação individual, no que se refere às expectativas de desenvolvimento 
espontâneo de seus próprios padrões culturais, a proibição do desmembramento da 
família indígena e a proteção do patrimônio tribal, garantido por posse permanente e 
inalienável. 
No primeiro meio século de vigência de uma política indigenista brasileira, 
registraram-se êxitos na pacificação dos chamados grupos hostis, atividade que 
atendia aos interesses da sociedade nacional em expansão, mas eram muitos os 
fracassos no que se refere à assistência aos grupos “pacificados”. Sujeitos a 
epidemias avassaladoras resultantes do contato com o homem branco, necessitados 
de meios que permitissem a racionalização de sua subsistência diante das novas 
necessidades criadas pelo contato e, muitas vezes, pela mudança compulsória para 
habitats inteiramente diversos daqueles aos quais estavam acostumados, muitos 
grupos tribais “pacificados” sofreram uma drástica redução por morte de seus 
contingentes populacionais. Isso quando não foram sumariamente extintos, como os 
78 grupos mencionados por Darci Ribeiro na obra Culturas e línguas indígenas do 
Brasil (1957), apesar do esforço de idealistas dedicados a prestar assistência 
Página 19 de 24 
 
 
 
médica ao índio, como o médico sanitarista Noel Nutels, responsável pela 
organização e funcionamento das Unidades Sanitárias Aéreas. 
Em 1967 foi autorizada e no ano seguinte criou-se a Fundação Nacional do Índio 
(Funai), destinada a fundir num único organismo o Serviço de Proteção aos Índios, o 
Conselho Nacional de Proteção aos Índios (cuja criação data de 1939) e o Parque 
Indígena do Xingu. 
ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS NO BRASIL 
 
A literatura sobre a exploração e a conquista do território brasileiro, desde o século 
XVI, contém informações que permitem, descontados excessos provenientes da 
imaginação fantasiosa e da falta de formação científica de cronistas, viajantes e 
missionários, o levantamento histórico da cultura desses grupos e dos processos de 
mudança ocorridos depois do contato com o homem branco. 
Durante o século XIX o tema começou a ganhar feição científica. Nomes importantes 
desse período são os dos naturalistas estrangeiros em viagem ao Brasil, como Von 
Martius, Karl von den Steinen e Max Schmidt, como também os dos brasileiros Sílvio 
Romero e Couto Magalhães. Na primeira metade do século XX, Nina Rodrigues, que 
estudou os contingentes negros do Brasil, seu discípulo Artur Ramos e Roquete 
Pinto foram outros nomes de relevo da antropologia brasileira. 
Destaca-se nesse período o alemão Curt Unkel, que em 1906 adotou o nome 
indígena de Curt Nimuendaju, dedicado ao estudo de 31 grupos tribais em quarenta 
anos de permanência entre os silvícolas. Seus trabalhos sobre a organização social 
dos índios do tronco linguístico jê, publicados a partir de 1937 nos Estados Unidos, 
constituem a parte mais importante de sua obra, formada por mais de cinquenta 
publicações e numerosos manuscritos inéditos, conservados no Museu Nacional do 
Rio de Janeiro. 
Página 20 de 24 
 
 
 
Em 1937 Herbert Baldus, etnólogo e professor germano-brasileiro, publicou Ensaios 
de etnologia brasileira, obra que trata principalmente do problema da aculturação 
indígena. Posteriormente, os trabalhos de Baldus voltaram-se para a preservação de 
culturas tribais, envolvendo igualmente assuntos relacionados com a política 
indigenista brasileira. 
Em meados do século XX surgiram trabalhos sobre o contato de culturas indígenas 
com as chamadas subculturas rurais do interior do país, fundamentados nos estudos 
científicos de autores como Charles Wagley e Eduardo Galvão. Data também desse 
período a contribuição do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss ao conhecimento 
dos indígenas brasileiros, expressa fundamentalmente na obra La Vie familiale et 
sociale des indiens nambikwara (1948; A vida familiar e social dos índios 
nhambiquaras) e Tristes tropiques (1955; Tristes trópicos). Os trabalhos de Darci 
Ribeiro, organizador da seção de estudos e pesquisas do extinto Serviço de 
Proteção aos Índios marcaram também a antropologia brasileira dessa época. Entre 
eles se inclui Religião e mitologia cadiueu (1950). 
Depois de 1960 houve uma considerável mudança nas linhas teóricas adotadas pela 
antropologia brasileira. Até então predominavam os chamados estudos culturalistas, 
que enfatizavam os aspectos culturais das populações indígenas. Acompanhando a 
tendência manifestada principalmente no Reino Unido e na França, antropólogos 
brasileiros dirigiram as pesquisas no sentido de privilegiar o conceito de sociedade, 
endossando formulações da antropologia social. 
O pioneiro desse tipo de abordagem foi Roberto Cardoso de Oliveira, que tomou 
como ponto de partida os estudos africanistas de Georges Balandier, principalmente 
as proposições contidas em Sociologie actuelle de l’Afrique noire (1955; Sociologia 
cultural da África negra), onde o sociólogo francês esboça uma teoria do contato a 
partir da noção de “situação colonial”. Cardoso de Oliveira endossou os princípios 
enunciados por Balandier e lançou o conceito de “fricção inter-étnica” (contato entre 
grupos tribais e segmentos da sociedade brasileira). A necessidade de identificar na 
Página 21 de 24 
 
 
 
realidade do contato os fatores que melhor ilustram a oposição entre a ordem tribal e 
a ordem nacional levou o autor a privilegiar a esfera política do relacionamento. 
Orientou-se posteriormente a caracterizar, no Brasil, os “centros de dominação”, ou 
focos irradiadores de comportamentos que a sociedade nacional pretende impor ao 
índio, como forma de garantir os fins a que se propõe. Posteriormente, esse 
antropólogo formulou o conceito de “potencial de integração”, como “aquelas 
características do sistema interétnico que, presentes na situação de contato, 
poderão ser tomadas como elementos responsáveis pela integração”. 
A linha teórica adotada por Cardoso de Oliveira, serviu como ponto de partida para 
muitos antropólogos brasileiros. Alguns dos mais importantes nomes das gerações 
posteriores de antropólogos são Júlio César Melatti e João Pacheco de Oliveira, 
entre outros. Nas últimas décadas do século XX o índio atraiu o interesse de 
antropólogos estrangeiros, como o americano Anthony Seeger. 
 
 
Autoria: Paulo Negri Filho 
 
 
 
 
 
 
 
Página 22 de 24 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
– ALBERT, Bruce. 1991 – Terras Indígenas. Política Ambiental e Geopolítica Militar 
no Desenvolvimento da Amazônia: A Propósito do Caso Yanomami. In LÉNA, 
Philippe & Adélia Engrácia de OLIVEIRA (orgs.) Amazônia: A Fronteira Agrícola 20 
Anos Depois. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Eduardo Galvão), 
pp.37-58. 
– BAINES, Stephen G. 1991a – “É A FUNAI QUE SABE”: A Frente de Atração 
Waimiri-Atroari. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi/CNPq/SCT/PR, (Adaptação 
de tese de doutorado apresentado no Departamento de Antropologia, Universidade 
de Brasília, 1988). 
– __________. 1991b – “Dispatch: The Waimiri-Atroari and the Paranapanema 
Company”. Critique of Anthropology, 11(2):143-153. London, Newbury Park & New 
Delhi: Sage Publications. 
– __________. 1991c – “Dispatch II. Anthropology and Commerce in Brazilian 
Amazonia: Research with the Waimiri-Atroari banned”. Critique of Anthropology,11(4):395-400. London, Newbury Park & New Delhi: Sage Publications. 
– __________. 1992a – A Política Indigenista Governamental e os Waimiri-Atroari: 
Administrações Indigenistas, Mineração de Estanho e a Construção de 
“Autodeterminação Indígena” Dirigida. Série Antropologia, 126, Brasília: 
Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília. 
– __________. 1992b – La Raison Politique de l’Ignorance ou l’Ethnologie Interdite 
chez les Waimiri-Atroari. Recherches Amérindiennes au Québec, Vol. XXII, Nº.1, 
pp.65-78. 
– __________. 1993a – O território dos Waimiri-Atroari e o indigenismo empresarial. 
Ciências Sociais Hoje, 1993, São Paulo: ANPOCS/HUCITEC, pp.219-243. 
Página 23 de 24 
 
 
 
– __________. 1993b – Censuras e Memórias da Pacificação Waimiri-Atroari. Série 
Antropologia, 148, Brasília: Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília. 
– __________. 1994 – Epidemics, the Waimiri-Atroari Indians and the Politics of 
Demography. Série Antropologia, 162, Brasília: Departamento de Antropologia, 
Universidade de Brasília. 
– CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. 1976 – Identidade, Etnia e Estrutura Social. 
São Paulo: Livraria Pioneira Editora. 
– COOK, Noble David and W. George LOVELL. 1991 – “Unraveling the Web of 
Disease”, in COOK, Noble David and W. George LOVELL “Secret Judgments of 
God”: Old World Disease in Colonial Spanish America. Norman and 
London:University of Oklahoma Press . 
– CROSBY, JR.,Alfred W. 1973 – The Columbian Exchange: Biological and Cultural 
Consequences of 1492. Westport, Connecticut: Greenwood Press. 
– GALVÃO, Eduardo & Mário F. SIMÕES. 1966 – Mudança e Sobrevivência no Alto 
Xingu Brasil-Central. Revista de Antropologia, vol.14, pp.37-52. 
– HANAN, Samuel A. (Grupo Paranapanema). 1991 – As Dificuldades da Mineração 
na Amazônia. In ARAGÓN, Luis E. (org.) A Desordem Ecológica na Amazônia. 
Belém: UNAMAZ/UFPA, pp.293-325. 
– MORETON-ROBINSON, A. & RUNCIMAN, C. 1990 – Land Rights in Kakadu: Self 
Management or Domination. Journal for Social Justice, Special Edition Series, 
Contemporary Race Relations, Vol.3, pp.75-88. 
– OLIVEIRA, João Pacheco de. 1988 – “A pesquisa Tutelada”. Ciência Hoje, 8 
(43):16. 
Página 24 de 24 
 
 
 
– _______________ 1990 – “Segurança das Fronteiras e o Novo Indigenismo: 
Formas e Linhagem do Projeto Calha Norte”. In OLIVEIRA, João Pacheco de (org.). 
Projeto Calha Norte: Militares, Índios e Fronteiras. Rio de Janeiro: UFRJ; PETI – 
Museu Nacional, (Antropologia e Indigenismo; nº 1):15-40. 
– RIBEIRO, Darcy. 1979 – Os Índios e a Civilização: A Integração das Populações 
Indígenas no Brasil Moderno. Editora Vozes Ltda.: Petrópolis, 3ª edição. Capítulo IX, 
2. “Convívio e Contaminação” foi publicado em Sociologia, vol.18, n. 1. São Paulo, 
1956. 
– SILVA, Márcio Ferreira da. 1993 – “Romance de Primas e Primos: Uma Etnografia 
do Parentesco Waimiri-Atroari”, tese de doutorado apresentado ao PPGAS, Museu 
Nacional, UFRJ. 
– VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo e Lúcia M.M. de ANDRADE. 1988 – Hidrelétrica 
do Xingu: o Estado Contra as Sociedades Indígenas. In SANTOS, Leinad Ayer de e 
Lúcia M.M. de ANDRADE (orgs.) As Hidrelétricas do Xingu e os Povos Indígenas. 
Comissão Pró-Índio de São Paulo, pp.7-23.

Continue navegando