Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Política Educacional politica educacional.indd 1 16/11/2009 12:44:09 Universidade Federal de Minas Gerais Reitor: Clélio Campolina Diniz Vice-Reitora: Rocksane de Carvalho Norton Pró-reitoria de Graduação Pró-Reitora: Antônia Vitória Soares Aranha Pró-Reitor Adjunto: André Luiz dos Santos Cabral Diretor do CAED: Fernando Fidalgo Coordenador da UAB-UFMG: Wagner José Corradi Barbosa Coordenador Adjunto UAG-UFMG: Hormindo Pereira de Souza Júnior editora UFMG Diretor: Wander Melo Miranda Vice-Diretor: Roberto Alexandre do Carmo Said Conselho editorial Wander Melo Miranda (presidente) Flavio de Lemos Carsalade Heloisa Maria Murgel Starling Márcio Gomes Soares Maria das Graças Santa Bárbara Maria Helena Damasceno e Silva Megale Paulo Sérgio Lacerda Beirão Roberto Alexandre do Carmo Said 3 AlexAndre Borges MirAndA Política Educacional Belo Horizonte editorA UFMg 2009 politica educacional.indd 3 16/11/2009 12:44:10 COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE TEXTOS DE MATEMÁTICA Dan Avritzer ASSISTÊNCIA EDITORIAL Eliane Sousa e Euclídia Macedo EDITORAÇÃO DE TEXTOS Maria do Carmo Leite Ribeiro REVISÃO E NORMALIZAÇÃO Márcia Romano REVISÃO DE PROVAS Angelli de Castro, Danivia Wolff e Renata Passos PROJETO GRÁFICO Eduardo Ferreira FORMATAÇÃO E CAPA Sérgio Luz PRODUÇÃO GRÁFICA Warren Marilac editora UFMG Av. Antônio Carlos, 6.627 - Ala direita da Biblioteca Central - Térreo Campus Pampulha - 31270-901 - Belo Horizonte - MG Tel.: + 55 31 3409-4650 - Fax: + 55 31 3409-4768 www.editora.ufmg.br - editora@ufmg.br © 2009, Alexandre Borges Miranda © 2009, Editora UFMG Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. Miranda, Alexandre Borges. Política educacional / Alexandre Borges Miranda. – Belo Horizonte : Editora UFMG, 2009. 103 p. : il. (Educação a Distância) Inclui referências. ISBN: 978-85-7041-802-9 1. Educação. 2. Educação e Estado. I. Título. II. Série. CDD: 370 CDU: 37 M672p Elaborada pela DITTI – Setor de Tratamento da Informação Biblioteca Universitária da UFMG PrÓ-reitoria de GradUaÇÃo Av. Antônio Carlos, 6.627 - Reitoria - 6º andar Campus Pampulha - 31270-901 - Belo Horizonte - MG Tel.: + 55 31 3409-4054 - Fax: + 55 31 3409-4060 www.ufmg.br - info@prograd.ufmg.br - educacaoadistancia@ufmg.br Este livro recebeu apoio financeiro da Secretaria de Educação a Distância do MEC. politica educacional.indd 4 16/11/2009 12:44:10 5 Este livro é dedicado à Júlia e à Rosimar, com amor. politica educacional.indd 5 16/11/2009 12:44:10 politica educacional.indd 6 16/11/2009 12:44:10 7 Os Cursos de Graduação da UFMG, modalidade a distância, foram concebidos tendo em vista dois princípios fundamentais. O primeiro se refere à democratização do acesso à educação superior; o segundo consiste na formação de profissionais de alto nível, comprometidos com o desenvolvimento do país. A coletânea da qual este volume faz parte visa dar suporte aos estu- dantes desses cursos. Cada volume está relacionado a um tema, eleito como estruturante na matriz curricular. Ele apresenta os conhecimentos mínimos que são considerados essenciais no estudo do tema. Isto não significa que o estudante deva se limitar somente ao estudo do volume. Ao contrário, ele é o ponto de partida na busca de um conhecimento mais amplo e aprofundado sobre o assunto. Nessa direção, cada volume apresenta uma bibliografia, com indicação de obras impressas e virtuais que deverão ser consultadas à medida que se fizer necessário. Cada volume da coletânea está dividido em aulas, que consistem em unidades de estudo do tema tratado. Os objetivos, apresentados em cada início de aula, indicam as competências e habilidades que o estudante deve adquirir ao término de seu estudo. As aulas podem se constituir em apresentação, reflexões e indagações teóricas, em expe- rimentos ou em orientações para atividades a serem realizadas pelos estudantes. Para cada aula ou conjunto de aulas, foram elaboradas Atividades Complementares com o objetivo de levar o estudante a avaliar o seu progresso e a desenvolver estratégias de metacognição ao se conscien- tizar dos diversos aspectos envolvidos em seus processos cognitivos. Essas atividades auxiliarão o estudante a tornar-se mais autônomo, responsável, crítico, capaz de desenvolver sua independência intelec- tual. Caso elas mostrem que as competências e habilidades indicadas nos objetivos não foram alcançadas, o aluno deverá estudar com mais afinco e atenção o tema proposto, reorientar seus estudos ou buscar ajuda dos tutores, professores especialistas e colegas. Agradecemos a todas as instituições que colaboraram na produção desta coletânea. Em particular, agradecemos às pessoas (autores, coor- denador da produção gráfica, coordenadores de redação, desenhistas, diagramadores, revisores) que dedicaram seu tempo, e esforço na preparação desta obra que, temos certeza, em muito contribuirá para a educação brasileira. Maria do Carmo Vila Coordenadora do Centro de Apoio à Educação a Distância UFMG politica educacional.indd 7 16/11/2009 12:44:10 politica educacional.indd 8 16/11/2009 12:44:10 Sumário apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 aula 1 - Políticas sociais e educação no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 aula 2 - a educação na constituição Federal de 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 aula 3 - os sistemas de ensino na ldB/96, o conselho nacional de Educação (cnE) e os Planos de Educação: PnE, PdE, conaE, Plano decenal de MG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 aula 4 - os níveis, as etapas e as modalidades de ensino na ldB/96 . . . . . . . . . . 59 Os níveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Educação infantil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Ensino fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Ensino médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Educação de Jovens e Adultos (EJA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Educação Profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Educação Especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Educação a Distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Educação Indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Educação superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 aula 5 - Situação da educação brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Diagnósticos, tendências e perspectivas . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 aula 6 - as políticas de avaliação dos sistemas de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 aula 7 - as políticas de formação e gestão de professores para a educação básica 87 A Lei do Piso Salarial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 A escassez de professores no ensino médio e as ações governamentais para a formação de professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 aula 8 - o Projeto Político-Pedagógico e aspectos da gestão democrática da escola, previstos na cF/88 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Sobre o autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 politica educacional.indd 9 16/11/2009 12:44:10 politica educacional.indd 10 16/11/2009 12:44:10 apresentação Caro(a) aluno(a), O objetivo deste livro didático é apresentar e desenvolver, em oito aulas, o conteúdo proposto pela disciplina Política Educacional, de 30 horas, equivalente a 2 créditos, do curso de Licenciatura em Matemá- tica, na modalidade a distância, oferecido pelo Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICEX/UFMG), o qual está transcrito a seguir: • Políticas sociais e educação no Brasil; • Organização do sistema educacional brasileiro: níveis, etapas e modalidades de ensino; • Projetos político-pedagógicos; • Políticas de gestão e avaliação dos sistemas de ensino; • Profissionais da educação e formação. Na AULA 1 – Políticas sociais e educação no Brasil, partiremos das noções teóricas de Estado e de governo para, em seguida, discutirmos aspectos relativos às políticas públicas no âmbito do Estado capitalista e do federalismo brasileiro. O principal objetivo desta aula inicial é fornecer-lhe alguns elementos teóricos que constituem um “pano de fundo” para o seu estudo de polí- tica educacional. Na AULA 2 – A educação na Constituição Federal de 1988, focali- zaremos as disposições sobre educação da nossa Constituição. Essa aula possui dois objetivos: 1º) Estudar os princípios estabelecidos pela Constituição de 1988 para a educação, como a gratuidade plena da educação em estabelecimentos públicos, a obrigatoriedade do ensino fundamental, a figura jurídica do direito público subjetivo, a colaboração entre os entes da federação, a gestão democrática da educação; 2º) estudar a vinculação estabelecida no texto original da Constituição e a posterior subvinculação, através de emendas à Constituição, de recursos orçamentários para a educação, efetivados por meio da política de criação de fundos contábeis obrigatórios (o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magis- tério (FUNDEF), em 1996, pela Emenda nº 14, e o Fundo de Manu- tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), em 2006, pela Emenda nº 53). politica educacional.indd 11 16/11/2009 12:44:10 política educacional 12 Na AULA 3 – Os sistemas de ensino na LDB/96, o Conselho Nacional de Educação (CNE) e os Planos de Educação – PNE, PDE, CONAE, Plano Decenal de MG –, estudaremos os sistemas de ensino na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o CNE e os Planos de Educação. O objetivo desta aula é analisar as disposições da LDB sobre sistemas de ensino (Art. 8º a 20), confrontando-as com as discussões sobre um sistema nacional de educação, a partir do estudo dos seguintes temas: 1º) O Conselho Nacional de Educação (CNE) e o seu papel no sistema educacional brasileiro; 2º) o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, situando-o no âmbito das discussões atuais sobre o sistema nacional de educação, que ocorrem em torno da Conferência Nacional de Educação de 2010 (CONAE 2010) –, processo de elaboração do próximo plano nacional de educação; 3º) o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), proposto pelo Ministério da Educação (MEC), em abril de 2007, que reúne a suas ações no contexto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); 4º) o Plano Decenal de Educação do Estado de Minas Gerais, projeto de lei em tramitação na Assembleia Legislativa; Na AULA 4 – Os níveis, as etapas e as modalidades de ensino na LDB/96, estudaremos as disposições do Título V da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que compreende os Art. 21 a 60. O objetivo desta aula é analisar os dispositivos da LDB para os dois níveis de ensino (educação básica e educação superior), focalizando prioritariamente o estudo das três etapas da educação básica (educação infantil, que compreende a creche e a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio) e apresentando as diferentes modalidades de ensino (Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Especial, Educação a Distância, Educação Profissional, Educação Indígena). Na AULA 5 – Situação da educação brasileira: diagnósticos, tendências e perspectivas, discutiremos aspectos da realidade educacional brasileira. O objetivo desta aula é conhecer e discutir a situação da educação brasileira, a partir do estudo das estatísticas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) – Censo da Educação Básica, Censo da Educação Superior e outros –, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de um relatório publicado recentemente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Na AULA 6 – As políticas de avaliação dos sistemas de ensino, abordaremos algumas noções teóricas e os principais instrumentos das políticas de avaliação dos sistemas de ensino no Brasil. politica educacional.indd 12 16/11/2009 12:44:10 13 Os objetivos desta aula são: 1º) Estudar alguns aspectos teóricos das políticas de avaliação no Estado capitalista neoliberal, discutindo a noção de “quase mercado”; 2º) conhecer o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e os impactos de sua adoção, pelo MEC, no atual governo; 3º) apresentar o site do INEP, onde é possível obter informações sobre outros instrumentos de avaliação da educação básica e superior. Na AULA 7 – As políticas de formação e gestão de professores para a educação básica, discutiremos os dispositivos da LDB/96 sobre profissionais da educação (Art. 61 a 67 e 87, parágrafo 4º) e as políticas mais recentes para a formação e a carreira dos docentes da educação básica. Constituem objetivos desta aula: 1º) Apresentar os dispositivos da LDB/96 sobre políticas de formação de professores para a educação básica (Art. 61 a 67 e 87, parágrafo 4º); 2º) conhecer a Lei do Piso Salarial para os profissionais da educação básica e estudar a sua implementação, que enfrenta resistências de prefeitos e governadores, sendo que alguns dispositivos dessa lei foram suspensos, provisoriamente, pelo Supremo Tribunal Federal (STF); 3º) discutir a escassez de professores no ensino médio e conhecer as ações governamentais para a formação de professores, tais como a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e da Nova Capes, e o recente Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica, em implementação pelo MEC, em 2009. Na AULA 8 – O ProjetoPolítico-Pedagógico e aspectos da gestão democrática da escola, previstos na CF/88, concluindo o nosso curso, focalizaremos a escola, abordando projetos e programas voltados mais diretamente para ela. São objetivos desta aula: 1º) Discutir a gestão democrática da escola, prevista na Constituição, e o papel do Projeto Político-Pedagógico (PPP) nesse processo; 2º) conhecer alguns projetos voltados para a escola, como o de fortale- cimento do conselho escolar e o do dinheiro direto na escola. Além da exposição da matéria, foram propostas Atividades Comple- mentares, para aprofundamento das aulas e avaliação da aprendi- zagem. O cronograma da disciplina, com a proposta de avaliação, encontra-se disponível na página do curso na internet. Concluindo esta apresentação, importa observar que este livro não tem a pretensão de esgotar plenamente a abordagem de todas as temáticas da Política Educacional, um vasto e complexo campo de investigação, apresentação politica educacional.indd 13 16/11/2009 12:44:10 política educacional 14 mas apenas espera-se contribuir para sistematizar uma introdução ao seu estudo, considerando a ementa e a carga horária de apenas 30 horas desta disciplina específica. Espero que este material impresso contribua para organizar os seus estudos da disciplina Política Educacional, servindo-lhe como um guia didático para as aulas via internet, neste momento, mas que também possa vir a abrir os seus caminhos para futuras aprendizagens nesta área. Um abraço do autor e sinceros votos de sucesso profissional na carreira do magistério! politica educacional.indd 14 16/11/2009 12:44:10 AULA 1 Políticas sociais e educação no Brasil Nesta aula inicial, nosso tema central é o Estado; veremos algumas noções teóricas de Estado e de governo. A partir dessa análise, discu- tiremos aspectos relativos às políticas públicas no âmbito do Estado capitalista e características do federalismo brasileiro e suas implica- ções para a organização da educação. O objetivo desta primeira aula é fornecer-lhe alguns elementos teóricos que constituem o que podemos chamar de “pano de fundo” para o seu estudo de Política Educacional. São noções básicas de ciência política e de direito constitucional, essenciais para a compreensão das discus- sões mais específicas da Política Educacional. O que você entende quando se depara com a palavra estado (não importa se grafada com a letra inicial maiúscula ou minúscula) em um texto? Vejamos o que nos diz o Dicionário Aurélio século XXI sobre os signifi- cados da palavra estado (do latim statu), que possui tantas acepções diferentes: estado [Do lat. statu.] S. m. 1. Modo de ser ou estar. 2. Situação ou disposição em que se acham as pessoas ou as coisas em um momento dado: estado de saúde; estado de espírito; estado de abandono; “A tudo se habitua o homem, a todo o estado se afaz” (Almeida Garrett, Viagens na minha terra, p. 178). 3. Modo de existir na sociedade; situação social ou profissional; condição: estado militar; estado eclesiástico; estado de escravidão; “Eu sou Lereno, / De baixo estado, / Choça nem gado / Dar poderei.” (Domingos Caldas Barbosa, ap. Sérgio Buarque de Holanda, Anto- logia dos poetas brasileiros da fase colonial, I, p. 296). 4. Conjunto das condições físicas e morais de uma pessoa: No seu estado, a jovem só pensava no filho que ia nascer. politica educacional.indd 15 16/11/2009 12:44:10 política educacional 16 5. Luxo, pompa, fausto, ostentação, magnificência: O magnata vivia em grande estado. 6. Lista enumerativa; inventário; registro: o estado das despesas, dos bens. 7. Cada uma das classes ou categorias do corpo social, especialmente as que se reportam à divisão tradicional adotada no antigo regime monárquico francês (clero, nobreza e povo). [V. estados-gerais.] 8. O conjunto dos poderes políticos de uma nação; governo: estado republicano; estado democrático; estado totalitário. 9. Divisão territorial de certos países: O Brasil tem 26 estados e um distrito federal. 10. Dir. Nação politicamente organizada. [Nesta acepç., com cap.] 11. Organismo político administrativo que, como nação soberana ou divisão territorial, ocupa um território determinado, é dirigido por governo próprio e se constitui pessoa jurídica de direito público, internacionalmente reconhecida. 12. Sociedade politicamente organizada. 13. Cronol. Estado absoluto de um relógio (q. v.). 14. Fís. Estado de agregação (q. v.). 15. Fís. Conjunto de valores das grandezas físicas de um sistema, necessário e suficiente para caracterizar univocamente a situação física deste sistema. 16. Grav. Cada uma das fases da execução de uma gravura, de que se tira prova para verificação do trabalho: primeiro estado, segundo estado etc. 17. Ant. Situação estacionária; parada. 18. Ant. Altura ordinária de um homem. 19. Ant. Ofício de defuntos. Estado absoluto de um relógio. Cronol. 1. Intervalo de tempo que se deve adicionar algebricamente à hora marcada por um relógio para se ter a hora correta. [Tb. se diz apenas estado.] Estado assistencial. 1. V. welfare State. Estado civil. 1. Situação jurídica de uma pessoa em relação à família ou à socie- dade, considerando-se o nascimento, filiação, sexo etc. (solteiro, casado, desquitado, viúvo etc.). politica educacional.indd 16 16/11/2009 12:44:10 aula 1 17 Estado coloidal. Fís.-Quím. 1. Estado de subdivisão das partículas da fase dispersa de um coloide. Estado de agregação. Fís. 1. Uma das formas de agregação (sólida, líquida ou gasosa) que pode apresentar uma substância. [Tb. se diz apenas estado.] Estado de choque. Psiq. 1. Estado em que, de modo súbito e em consequência de emoção violenta, ou de acontecimento psiquicamente muito traumati- zante, se instala depressão (9) ou perda de autodomínio. Estado de coisas. 1. Circunstâncias, conjunturas. Estado de coma. 1. Coma 2. Estado de direito. Polít. 1. Estado (8) regulado por uma constituição que prevê uma plurali- dade de órgãos dotados de competência distinta explicitamente determinada. Estado de graça. Rel. 1. O de inocência, oposto ao de pecado. Estado de inocência. 1. Desconhecimento do bem e do mal. Estado de necessidade. Jur. 1. Situação em que se acha alguém que sacrifica direito alheio para salvar direito próprio ou alheio de um perigo atual, ao qual não deu causa, e que não pôde evitar. Estado de sítio. 1. Suspensão temporária de certos direitos e garantias individuais. Estado de transição. Quím. 1. Arranjo atômico que se forma no curso de uma reação, quando a energia chega a um valor máximo. [Tanto as ligações que se rompem quanto as que se formam na reação estão distendidas.] Estado dubleto. Fís. 1. Dubleto (3). Estado estacionário. Quím. politica educacional.indd 17 16/11/2009 12:44:10 política educacional 18 1. Situação em que a concentração de uma substância não varia com o tempo, apesar de estar ela sendo formada e consumida simulta- neamente. Estado excitado. Fís. 1. Estado de um sistema em que a energia é superior à do estado fundamental. Estado fundamental. Fís. 1. Em um átomo ou num grupamento de átomos, a configuração correspondente à energia potencial mínima. Estado gasoso. Fís. 1. Estado de agregação de uma substância no qual as moléculas ou os átomos estão relativamente distantes uns dos outros e as forças atrativas ou repulsivas são, em média, pequenas. Estado interessante. Pop. 1. A gravidez. Estado ligado. Fís. Part. 1. Sistema coeso formado por duas ou mais partículas e que é mantido pela energia de ligação (q. v.). Estado líquido. Fís. 1. Estado de agregação de uma substância no qual as moléculas ou os átomos estão, em média, muito mais próximosuns dos outros que no estado gasoso, havendo uma ordenação espacial local e transitória, e uma interação relativamente intensa das partículas vizinhas. Estado metaestável. 1. Fís. Estado em que uma substância ou um sistema pode perma- necer, apesar de não ser estável nas condições físicas em que se encontra. 2. Fís. Nucl. Estado excitado do núcleo ou do átomo que tem uma vida média apreciável. Estado político. 1. Situação jurídica da pessoa em relação ao Estado (cidadania e nacionalidade). Estado religioso. 1. Na religião católica, a ligação, mediante os três votos, de pobreza, castidade e obediência, com uma congregação, instituto ou ordem religiosa. Estado singleto. Fís. 1. Singleto (2). politica educacional.indd 18 16/11/2009 12:44:10 aula 1 19 Estado sólido. Fís. 1. Estado de agregação de uma substância cujas partículas consti- tutivas (moléculas, íons, átomos) se acham arrumadas ordenada- mente no espaço, formando uma rede cristalina, e em que há uma forte interação das partículas vizinhas. Estado tripleto. Fís. 1. Tripleto (2). Em estado de graça. 1. Estado em que se encontra quem goza ou como que goza da graça divina, ou por ela foi tocado. Mudar de estado. 1. V. tomar estado (1). No estado. 1. No estado (2) em que se encontra um objeto, sem alteração, melhoria ou restauração. Terceiro estado. Hist. 1. Designação dada outrora ao povo, em relação aos outros dois estados, que eram o clero e a nobreza. [V. estado (7).] Tomar estado. 1. Casar-se, matrimoniar-se; mudar de estado: “Casou-se, não por amor, mas para tomar estado, para casar-se, como todas.” (Mário Donato, A parábola das 4 cruzes, p. 71.) 2. Pôr casa. 3. Tomar um modo de vida. 4. Bras. S. Ficar em boas condições. [Us. nesta acepç. especialmente com relação ao cavalo de corrida ou ao galo de rinha que se tornaram aptos para os respectivos esportes.] No nosso caso, estado significará, basicamente, duas coisas: o Estado brasileiro, “organismo político administrativo que, como nação sobe- rana ou divisão territorial, ocupa um território determinado, é dirigido por governo próprio e se constitui pessoa jurídica de direito público, internacionalmente reconhecida” e o estado-membro, a divisão terri- torial do país (o Brasil tem 26 estados e um distrito federal). No primeiro caso, o adjetivo correspondente é “estatal” e para a segunda acepção, “estadual”. Desse modo, quando falamos da “política estadual” ou de um “banco estadual”, estamos nos referindo à ação ou a uma instituição de um governo de estado-membro, como Minas Gerais, por exemplo, e quando politica educacional.indd 19 16/11/2009 12:44:10 política educacional 20 usamos “estatal”, referimo-nos ao estado no seu sentido mais amplo. Vale observar, porém, que esse adjetivo “estatal” serve para designar, por exemplo, uma empresa municipal ou estadual, qualificando-a de “estatal”, até porque não podemos confundir “estatal” com “federal”, termo que diz respeito ao governo da União, já que o Estado brasi- leiro, conforme definido pelo Art. 1º da nossa Constituição Federal de 1988 (CF/88), é a “República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e Municípios e do Distrito Federal”, que “constitui-se em Estado Democrático de Direito”. A organização político-administrativa da República, compreendendo a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, é reafirmada no Art. 18 da CF/88. E quando falamos em “governo da União” não estamos nos referindo apenas ao Poder Executivo, já que esse âmbito de governo, assim como o dos estados-membros, compreende também os poderes Legislativo e Judiciário. Os municípios tecnicamente não contam com um “governo”, pois possuem somente os poderes Executivo (prefeito municipal) e Legislativo (Câmara Municipal), não existindo o Poder Judiciário municipal.1 ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 1 Elabore um texto, de aproximadamente duas páginas, fazendo uma apresentação pessoal, refletindo sobre a sua trajetória acadêmico- -profissional, com ênfase na discussão de sua opção pela carreira de professor e nas razões da escolha deste curso, comentando a sua experiência profissional no magistério, se houver. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 2 Saiba mais sobre a Organização do Estado e sobre a Organização dos Poderes, lendo os Títulos III e IV da nossa CF/88, os quais compreendem os Art. 18 a 43 e 44 a 135. Após a leitura, registre as principais características da organização jurídica e política do Estado brasileiro. Dica: se você ainda não tem a Constituição, baixe o texto completo e atualizado, disponível em: <www.presidencia.gov.br/legislacao> ou diretamente pelo link <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm>. Aproveitando que mencionamos, anteriormente, a palavra governo, ao fazer referência ao governo da União e ao governo dos municípios, vamos agora confrontar Estado e governo, que muitas vezes aparecem como sinônimos, mas não são. 1 Vale lembrar que temos os Tribunais de Contas em alguns municípios, mas estes são órgãos de assessoramento do Poder Legislativo e, apesar do nome de “tribunal”, não integram o Judiciário. politica educacional.indd 20 16/11/2009 12:44:10 aula 1 21 Você já sabe diferenciar o Estado brasileiro, que tem personalidade jurí- dica internacional, do estado-membro, ou simplesmente chamado de estado, que é uma parte da nossa República Federativa – a UF, Unidade da Federação, que preenchemos nos formulários diariamente –, a qual possui personalidade jurídica interna. Mas como poderemos compreender Estado e governo? É muito simples: pense em um condomínio de um prédio residencial que possui um síndico. O síndico é eleito, periodicamente, para administrar os recursos financeiros e gerir os problemas do condomínio desse prédio, por um determinado período de tempo. Podemos, para simplificar, entender o síndico como o “governo” e o condomínio como “Estado”. O condomínio é um pacto jurídico, um acordo entre pessoas, que possui um espaço físico delimitado (território), pode possuir funcionários etc., é permanente (ao menos enquanto dure, pois o prédio pode cair, assim como os Estados acabam, como a antiga União Soviética, por exemplo, e se transformam em outros Estados). O síndico é transi- tório, tem um mandato, administra o que é comum em nome de todos e a estes deve prestar contas e por eles pode ser destituído. Pois bem, a comparação acima é para ilustrar, de modo direto, a dife- rença entre Estado e governo, certo de que, neste caso, a situação do Estado é mais complexa do que a de um síndico e de seu condomínio residencial. O Estado possui o monopólio da “vis”, expressão latina que significa “força”. O Brasil não adota a pena de morte, mas alguns estados a utilizam como a expressão máxima de sua “força”. Entretanto, o Estado brasileiro pode, através de decisão fundamentada do Poder Judiciário, determinar a perda da liberdade, ou confiscar os bens de uma pessoa, ou exercer tantos outros poderes decorrentes de sua soberania. Apenas os Estados nacionais possuem “soberania”, que, nas últimas décadas, vem sendo diminuída, por vontade desses Estados, para transferir parte dos seus poderes para uma organização regional. Por exemplo, podemos citar o caso dos Estados que integram a União Europeia e que decidiram adotar uma moeda comum, o Euro, abrindo mão de uma prerrogativa relevante da sua soberania, que é o poder de emissão da moeda circulante no seu território, e de tomarem sozinhos todas as decisões sobre política monetária. De modo mais tímido, temos aqui o Mercosul. O Estado nacional precisa ser administrado por pessoas, que são o governo. No Brasil, atualmente, o governo é eleito periodicamente, de acordo com as regras previstas na CF/88. Nocaso do Executivo e do Legislativo, os governantes são eleitos para mandatos de quatro anos (presidente da República, governadores, deputados estaduais e fede- rais, prefeitos e vereadores) e de oito anos (senadores). Os membros do Judiciário não são eleitos. A noção de governo traz consigo a ideia de uma bandeira ideológica, de “partido”, ou seja, de uma plataforma politica educacional.indd 21 16/11/2009 12:44:10 política educacional 22 de ações a serem implementadas naquele período de mandato em que essas pessoas estarão administrando o Estado. E os eleitores, que se identificam com essa ou com aquela proposta, levam esse grupo para o poder, por determinado tempo. Essa discussão nos remete às teorias que buscam explicar o surgimento do Estado moderno e justificá-lo. O que funda o Estado é a soma da parcela da liberdade que cada cidadão renuncia. Em outras palavras: estabelecemos um “pacto social”, conferindo a um terceiro, o Estado, poderes para arbitrar os conflitos entre os cidadãos e exercer a justiça e o bem comum. Assim, é o Estado que garante que você possui algo, que lhe confere o direito de propriedade deste livro, por exemplo, ou de qualquer outra coisa. Outro tipo de Estado poderia, por exemplo, esta- belecer a propriedade coletiva de todos os bens. Quando abrimos mão de parte de nossa liberdade e passamos a fazer ou deixar de fazer algo em observância da lei, é porque reconhecemos um ordenamento jurí- dico como válido e nos submetemos a ele. De outro modo, teríamos a “guerra de todos contra todos”, que seria o cenário descrito por Thomas Hobbes como anterior ao surgimento do Estado, e, assim, todos pode- riam matar, roubar, quebrar, estuprar etc. livremente, na ausência do Estado. É o Estado que diz o que é crime, como se procede à investi- gação, que determina a punição e a reparação do dano etc. É o mesmo Estado que determina que você deve pagar impostos (e no Brasil são muitos) para financiá-lo. E o Estado vai retornar esses impostos, pagos por todos, em políticas públicas, ou seja, ações estatais para todos, no sentido de garantir os direitos civis, sociais e políticos. Antes, porém, de abordar as noções de políticas e direitos, retorna- remos ao conceito de Estado, para diferenciar Estado unitário de Estado federativo. Como mencionado acima, por definição da nossa Constituição, o Brasil é uma “República Federativa”. O que isso significa? Em primeiro lugar, nem todo Estado se organiza como república, já que temos reinos e impérios. E nem toda república é federativa. E nem toda federação é igual, existindo Estados que são mais uma confederação, cujos estados- -membros gozam de mais ou de menos autonomia do que outros. O Brasil, portanto, é hoje um Estado federativo, ou federado, para alguns autores. Nem sempre foi assim: no início de nossa existência como Estado independente, a partir de 1822, fomos reino, por curto período, e império. Éramos um Estado unitário, ou seja, o poder não era dividido em esferas administrativas (federal, estadual e municipal) como atualmente. Nos períodos de ditadura (Vargas, após 1937, e militar, a partir de 1964) vivemos, de fato, um Estado unitário, com o governo central (federal) controlando também as esferas estaduais e municipais. Ser um Estado federativo significa que o poder é exercido por dife- rentes instâncias de governo, que podem ser (e são, atualmente) politica educacional.indd 22 16/11/2009 12:44:10 aula 1 23 eleitas separadamente. Assim, temos um prefeito do partido “A”, um governador do partido “B”, um presidente do partido “C”, legislativos com maiorias de outros partidos. O que caracteriza uma federação é que um governo não interfere em outro governo. A cada esfera admi- nistrativa correspondem recursos (tributos, que podem ser impostos, taxas e contribuições) e atribuições específicos. O presidente da Repú- blica não pode exonerar um servidor municipal, por exemplo, nem decidir sobre questões relativas ao IPTU, que é um imposto municipal. Da mesma forma, só o Congresso Nacional pode legislar sobre deter- minadas matérias, como direito penal, direito processual e tantas outras. No caso da educação, por exemplo, a CF/88 estabelece, no seu Art. 22, Inciso XXIV, como competência privativa da União, legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional, sendo que a União, os estados e o Distrito Federal podem legislar concorrentemente2 sobre educação, conforme prevê o Art. 24, Inciso IX. Já aos municípios compete “suplementar a legislação federal e estadual no que couber” (Art. 30, II). A própria CF/88, conforme veremos mais detalhadamente na Aula 2, estabelece, para o caso da educação, que “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino” (caput do Art. 211), detalhando as responsa- bilidades de cada um dos entes da federação. Se no Estado federativo existem vários níveis de governo, com partidos e propostas diferenciadas, no Estado unitário o governo é um só e, com isso, o Estado não se debate com entraves internos, conflitos de legislação, necessidade de acordos, adesões, contratos, convênios, disputas partidárias e outras dificuldades. E aqui entram outras ques- tões: o Estado unitário é mais autoritário que o federativo? Por ser mais centralizado, o Estado unitário é necessariamente um Estado autoritário? Por ser mais descentralizado administrativamente, o Estado federativo seria mais democrático que o Estado unitário? A um Estado federativo deve corresponder um sistema presidencialista, e a um Estado unitário um sistema parlamentarista? Vamos examinar, mais adiante, essas questões. O binômio centrali- zação/descentralização vai nos interessar para jogar luz na discussão sobre a municipalização do ensino fundamental, uma decorrência do FUNDEF, criado em 1996. Já a questão do parlamentarismo ou presidencialismo marcou a elabo- ração da CF/88, que foi pensada na direção do parlamentarismo, mas acabou adotando o presidencialismo. Nos Estados que adotam o parla- mentarismo (monarquia ou república), há uma separação entre o chefe de governo e o chefe de Estado, como na Inglaterra, por exemplo, onde temos a rainha como chefe de Estado e um primeiro-ministro como chefe de governo. Nesses sistemas, há um fortalecimento dos partidos, e os governos podem mudar mais facilmente antes das eleições. 2 De acordo com CUNHA (2002, p. 50), competência privativa é a competência exclusiva, ou seja, aquela que exclui qualquer outra com o mesmo conteúdo, e competência concorrente é a que se exerce simultaneamente sobre a mesma matéria, por mais de uma autoridade ou órgão. Dica: sempre que você tiver dúvidas sobre o significado de uma expressão, termo ou conceito, procure consultar um dicionário específico de direito ou de ciência política, ou um dicionário comum. politica educacional.indd 23 16/11/2009 12:44:11 política educacional 24 Em muitos casos, o sistema eleitoral é diferente, com voto distrital ou distrital misto, em geral facultativo. No Brasil, com um sistema fortemente presidencialista, encontramos um Poder Executivo forte, que inclusive legisla mais que o próprio Poder Legislativo, cuja agenda vive a reboque do primeiro.3 Retomemos a discussão sobre Estado e políticas públicas. É impres- cindível considerar que um Estado não existe abstratamente, ou seja, o Estado é uma construção política, tem historicidade, determinantes econômicos, culturais, dentre outros. Existem diferentes tipos de Estado, por exemplo, o Irã, atualmente em evidência na mídia, é um Estado teocrático, em que as instituições do poder civil se confundem com as do poder religioso. De modo geral, os Estados atuais são desvin- culados das Igrejas, são instituições civis, laicas. No caso brasileiro,a CF/88, no seu Art. 19, I, prevê expressamente essa separação entre Igreja e Estado, vedando à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança” (Art. 19, I). Mas nem sempre foi assim: no Brasil, durante o Império, a Igreja e o Estado estavam vinculados, sendo o imperador chefe de Estado, de governo e também chefe da Igreja, sendo esta responsável pelo registro de nascimentos, casamentos e óbitos, que só a partir da Proclamação da República, instituída pelo golpe militar de 1889, passaram a ser de responsabilidade do Estado. Ainda hoje encontramos resquícios dessa união: símbolos da religião católica, como cruz e capelas, em escolas públicas, fóruns e casas legislativas.4 Além desse aspecto cultural, que também poderia ser abordado a partir da questão linguística, por exemplo, pretendo enfatizar os determi- nantes econômicos, ou seja, estamos falando, no caso brasileiro, de um Estado inserido na economia capitalista. Foge aos objetivos desta aula aprofundar análises sobre o capitalismo. De qualquer modo, recomendo-lhes que leiam sobre o tema, procurando compreender um pouco mais sobre a educação no modo de produção capitalista. Sendo um produtor de desigualdades, e alimentando-se destas, o capitalismo não funciona com o pressuposto da igualdade entre as pessoas, não tem esse objetivo. Não falo da igualdade jurídica de todos perante a lei, mas da igualdade de oportunidades, de condições de acesso aos bens de consumo, ao trabalho, à própria educação. Dessa desigualdade, ou para minimizá-la, decorrem políticas de ações afirmativas, como cotas e bônus, por exemplo, em que o Estado assume um papel de “equali- zador”, digamos assim, das diferenças. E a escola pública hoje, no Brasil? Quem são os seus alunos? Qual a remuneração de um professor de educação infantil? Ou de ensino fundamental e médio? Qual o papel da escola no capitalismo? Muitas 3 Sobre esse ponto, ver o livro de Rosimar de Fátima Oliveira, baseado na pesquisa da sua tese de doutorado na USP, em 2005, que analisou o papel do Congresso Nacional em matéria educacional, após a LDB de 1996 (OLIVEIRA, 2009). 4 Recentemente, em maio de 2009, na abertura dos trabalhos do Fórum sobre o Plano Decenal de Educação de Minas Gerais, por exemplo, a deputada que presidia a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais rezou um Pai-nosso na abertura do evento. politica educacional.indd 24 16/11/2009 12:44:11 aula 1 25 dessas questões são estudadas por outras disciplinas, como a sociologia da educação ou a filosofia da educação, mas devemos ter consciência de que, ao estudarmos Política Educacional, estamos lidando com um Estado concreto, específico, o Estado capitalista, e que essa condição é determinante de uma dada concepção de educação, condicionando a formulação das políticas para esse setor. É nesse sentido que Eloísa de Mattos Höfling inicia o seu artigo “Estado e políticas (públicas) sociais”:5 Para além da crescente sofisticação na produção de instrumentos de avaliação de programas, projetos e mesmo de políticas públicas é funda- mental se referir às chamadas “questões de fundo”, as quais informam, basicamente, as decisões tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a uma estratégia de intervenção governamental qualquer. E uma destas relações consideradas fundamentais é a que se estabelece entre Estado e políticas sociais, ou melhor, entre a concepção de Estado e a(s) política(s) que este implementa, em uma determinada sociedade, em determinado período histórico.6 Logo a seguir, a autora faz a diferenciação entre Estado e governo: Torna-se importante aqui ressaltar a diferenciação entre Estado e governo. Para se adotar uma compreensão sintética compatível com os objetivos deste texto, é possível se considerar Estado como o conjunto de institui- ções permanentes – como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico necessariamente – que possibilitam a ação do governo; e Governo, como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orien- tação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período. Políticas públicas são aqui entendidas como o “Estado em ação” (GOBERT; MULLER, 1987); é o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade.7 No mesmo texto, Höfling discute características do Estado capitalista e das teorias liberais e neoliberais. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 3 Leia o artigo “Estado e políticas (públicas) sociais”.8 Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível em: <www.scielo.br>, ou diretamente pelo link: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5539.pdf>. Após a leitura, faça uma síntese, de aproximadamente uma página, dos principais conceitos trabalhados no texto pela autora. Discutindo o Estado federativo e a descentralização das políticas sociais, Marta Arretche trata da distribuição da autoridade política dos Estados nacionais no artigo “Relações federativas nas políticas sociais”.9 5 HÖFLING, 2001, p. 30-41. 6 HÖFLING, 2001, p. 31. 7 HÖFLING, 2001, p. 31. 8 HÖFLING, 2001, p. 30-41. 9 ARRETCHE, 2002, p. 25-48. politica educacional.indd 25 16/11/2009 12:44:11 política educacional 26 A autora discute a municipalização da oferta de matrículas no ensino fundamental, ocorrida no governo Fernando Henrique, focalizando a educação ao lado de outras políticas sociais, como saúde, habitação e saneamento. Este texto e o anterior, apesar de não serem textos recentes, são complementares e trazem conceitos teóricos relevantes para o nosso estudo. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 4 Leia o artigo “Relações federativas nas políticas sociais”.10 Dica: baixe o texto acessando a página do Portal Scielo, disponível em: <www.scielo.br>, ou diretamente no link: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12922.pdf>. Após a leitura, faça uma síntese do texto de no máximo uma página. Outros autores, como Cleiton de Oliveira, por exemplo, também discutem a municipalização do ensino e nos trazem interessantes discussões teóricas sobre centralização e descentralização, concen- tração e desconcentração, analisando o impacto da municipalização do ensino fundamental decorrente do FUNDEF. Se você tiver interesse em ler mais sobre Estado, recomendo-lhe Os clássicos da política, um livro didático, em dois volumes, organizado por Francisco Carlos Weffort, que traz fragmentos de textos e comentários sobre a vida e a obra de autores clássicos (Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau e O federalista, no vol. 1, e Burke, Kant, Hegel, Tocqueville, Stuart Mill e Marx, no vol. 2). Outra indicação que não pode faltar é a do Dicionário de política, orga- nizado por Norberto Bobbio e outros, em dois volumes. Leia especial- mente os verbetes estado contemporâneo e governo, ambos no vol. 1. Concluindo esta aula, faça uma revisão dessas “questões de fundo” rela- tivas a Estado e políticas sociais, lendo outro artigo de Marta Arretche sobre políticas sociais e federalismo, conforme indicado a seguir. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 5 “Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia”.11 Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível em: <www.scielo.br>, ou diretamente no link <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n2/a03v18n2.pdf>.10 ARRETCHE, 2002, p. 25-48. 11 ARRETCHE, 2004, p. 17-26. politica educacional.indd 26 16/11/2009 12:44:11 aula 1 27 Na próxima aula, iremos estudar as disposições sobre educação na Constituição de 1988. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 6 Com relação ao artigo “Relações federativas nas políticas sociais”, 12 responda as seguintes questões: 1. Discutir as relações entre centralização e autoritarismo, comentando a situação do Brasil, conforme apontado pela autora, fazendo as distinções entre Estados unitários e Estados federativos. 2. “Entre 1997 e 2000, ocorreu no Brasil uma significativa redis- tribuição das matrículas no nível fundamental de ensino” (p. 38). Discutir esse processo de municipalização, com base no texto. 3. Comentar as conclusões da autora sobre a “capacidade de veto dos governos locais” em relação à implementação de políticas de descentralização. 4. Expressar a sua opinião em relação às políticas de descentra- lização, mais especificamente em educação (p. 31 e p. 48, na última linha do texto). 12 ARRETCHE, 2002, p. 25-48. politica educacional.indd 27 16/11/2009 12:44:11 politica educacional.indd 28 16/11/2009 12:44:11 AULA 2 a educação na constituição Federal de 1988 Nesta aula, focalizaremos as disposições sobre educação da nossa Constituição, procurando desenvolver dois objetivos: 1º) Estudar os princípios estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 (CF/88) para a educação, como a gratuidade plena da educação em estabelecimentos públicos, a obrigatoriedade para o ensino funda- mental, a figura jurídica do direito público subjetivo, a colaboração entre os entes da federação, a gestão democrática da educação; 2º) estudar a vinculação, no texto original, e a posterior subvincu- lação, através de emendas à Constituição, de recursos orçamentários para a educação, efetivados por meio da política de criação de fundos contábeis obrigatórios (o FUNDEF, em 1996, pela Emenda nº 14, e o FUNDEB, em 2006, pela Emenda nº 53). A CF/88 dedicou a primeira Seção do terceiro Capítulo do seu Título VIII para a educação, que compreende os Art. 205 a 217. No seu Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), a Constituição de 1988 dedica um importante dispositivo para a educação, o Art. 60 do ADCT, cuja redação foi alterada em 1996 e em 2006, pelas Emendas à Constituição nº 14 e nº 53, respectivamente, que criaram o FUNDEF e o FUNDEB. Além desses artigos acima mencionados e transcritos a seguir, muitos outros dispositivos da CF/88 tratam da educação, ao longo do seu texto. politica educacional.indd 29 16/11/2009 12:44:11 política educacional 30 ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 7 Leia com atenção os Art. 205 a 214 da Seção da Educação e o Art. 60 do ADCT da CF/88. Faça uma síntese de como a Constituição de 1988 traça as linhas gerais para a organização da educação brasileira. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 TÍTULO VIII – Da Ordem Social CAPÍTULO III – DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Seção I – DA EDUCAÇÃO Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Consti tucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º - É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996) politica educacional.indd 30 16/11/2009 12:44:11 aula 2 31 § 2º - O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996) Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) III - atendimento educacional especializado aos portadores de defi- ciência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou respon- sáveis, pela frequência à escola. Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. § 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. politica educacional.indd 31 16/11/2009 12:44:11 política educacional 32 Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º - A União organizará o sistema federal de ensino e o dos territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalizaçãode oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 2º - Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 5º - A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. § 1º - A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. § 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213. § 3º - A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do plano nacional de educação. § 4º - Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários. § 5º - A educação básica pública terá como fonte adicional de finan- ciamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) (Vide Decreto nº 6.003, de 2006) politica educacional.indd 32 16/11/2009 12:44:11 aula 2 33 § 6º - As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comu- nitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. § 2º - As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder Público. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. TÍTULO X - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o Distrito Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada mediante a criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de politica educacional.indd 33 16/11/2009 12:44:11 política educacional 34 Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), de natureza contábil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se referem os incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do caput do art. 157; os incisos II, III e IV do caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inciso II do caput do art. 159, todos da Constituição Federal, e distribuídos entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos das diversas etapas e modalidades da educação básica presencial, matriculados nas respectivas redes, nos respectivos âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II, III e IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas de universalização da educação básica estabelecidas no Plano Nacional de Educação, a lei disporá sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de seus recursos, as diferenças e as ponderações quanto ao valor anual por aluno entre etapas e modalidades da educação básica e tipos de estabelecimento de ensino; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por aluno; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos dos Fundos pelas diversas etapas e modalidades da educação básica, observados os arts. 208 e 214 da Constituição Federal, bem como as metas do Plano Nacional de Educação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) d) a fiscalização e o controle dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos instituídos nos termos do inciso I do caput deste artigo serão aplicados pelos Estados e Municípios exclusivamente nos respectivos âmbitos de atuação prioritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) V - a União complementará os recursos dos Fundos a que se refere o inciso II do caput deste artigo sempre que, no Distrito Federal e em cada Estado, o valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado em observância ao disposto no inciso VII do caput deste artigo, vedada a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) politica educacional.indd 34 16/11/2009 12:44:11 aula 2 35 VI - até 10% (dez por cento) da complementação da União prevista no inciso V do caputdeste artigo poderá ser distribuída para os Fundos por meio de programas direcionados para a melhoria da qualidade da educação, na forma da lei a que se refere o inciso III do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII - a complementação da União de que trata o inciso V do caput deste artigo será de, no mínimo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no primeiro ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no segundo ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos milhões de reais), no terceiro ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se refere o inciso II do caput deste artigo, a partir do quarto ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VIII - a vinculação de recursos à manutenção e desenvolvimento do ensino estabelecida no art. 212 da Constituição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta por cento) da complementação da União, considerando-se para os fins deste inciso os valores previstos no inciso VII do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) IX - os valores a que se referem as alíneas a, b e c do inciso (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII do caput deste artigo serão atualizados, anualmente, a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, de forma a preservar, em caráter permanente, o valor real da complementação da União; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) X - aplica-se à complementação da União o disposto no art. 160 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) XI - o não cumprimento do disposto nos incisos V e VII do caput deste artigo importará crime de responsabilidade da autoridade competente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento) de cada Fundo referido no inciso I do caput deste artigo será destinada ao pagamento dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 1º - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão assegurar, no financiamento da educação básica, a melhoria da qualidade politica educacional.indd 35 16/11/2009 12:44:11 política educacional 36 de ensino, de forma a garantir padrão mínimo definido nacionalmente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 2º - O valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser inferior ao praticado no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), no ano anterior à vigência desta Emenda Constitucional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 3º - O valor anual mínimo por aluno do ensino fundamental, no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), não poderá ser inferior ao valor mínimo fixado nacionalmente no ano anterior ao da vigência desta Emenda Constitucional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 4º - Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos a que se refere o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á em conta a totalidade das matrículas no ensino fundamental e considerar-se-á para a educação infantil, para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos 1/3 (um terço) das matrículas no primeiro ano, 2/3 (dois terços) no segundo ano e sua totalidade a partir do terceiro ano. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 5º - A porcentagem dos recursos de constituição dos Fundos, conforme o inciso II do caput deste artigo, será alcançada gradativamente nos primeiros 3 (três) anos de vigência dos Fundos, da seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) I - no caso dos impostos e transferências constantes do inciso II do caput do art. 155; do inciso IV do caput do art. 158; e das alíneas a e b do inciso I e do inciso II do caput do art. 159 da Constituição Federal: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos por cento), no primeiro ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por cento), no segundo ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) II - no caso dos impostos e transferências constantes dos incisos I e III do caput do art. 155; do inciso II do caput do art. 157; e dos incisos II e III do caput do art. 158 da Constituição Federal: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por cento), no primeiro ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por cento), no segundo ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) politica educacional.indd 36 16/11/2009 12:44:11 aula 2 37 c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 6º - (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 7º - (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Dica: se você ainda não tem a Constituição, baixe o texto completo e atualizado, que está disponível em: <www.presidencia.gov.br/ legislacao>. Ou diretamente pelo link <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Observação: nessa página da Presidência você acessa o texto atualizado que vem acompanhado das versões anteriores, já revogadas (trecho riscado). Essa leitura dos textos revogados muitas vezes é interessante no nosso estudo de política educacional, para situarmos em que momento uma determinada política foi implementada, verificando se vem da redação original de 1988, ou se foi inserida na Constituição, por exemplo, no governo Fernando Henrique, ou no governo Lula. Além disso, podemos observar o conteúdo das alterações na legislação, se reduzem ou se ampliam determinados direitos, por exemplo. De acordo com Evaldo Vieira, no artigo “A política e as bases do direito educacional”, as disposições sobre educação da CF/88 formam o que denominou “regime jurídico da educação”. Segundo esse autor, Constitucionalmente, a educação brasileira deve ser direito de todos e obrigação do Estado; deve acontecer em escolas; deve seguir determi- nados princípios; deve ratificar a autonomia universitária; deve conservar a liberdade de ensino; e principalmente deve converter-se em direito público subjetivo, com a possibilidade de responsabilizar-se a autoridade competente.1 Nesse texto, Vieira trata da “relação entre sociedade, estado e direito, tendo como elemento mediador a educação”,2 comentando três momentos marcantes da política social no século XX, no Brasil, procu- rando demonstrar que “o Direito Educacional não se limita à simples exposição da legislação do ensino, pois a educação é um bem jurídico, individual e coletivo, embora as determinações constitucionais nem sempre sejam cumpridas”.3 Um dos conceitos abordados pelo autor é o do direito público subjetivo, previsto no Art. 208, Inciso I, combi- nado com o parágrafo 1º, da CF/88: CF/88 – Art. 208: § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. 1 VIEIRA,2001, p. 19. 2 VIEIRA, 2001, p. 9. 3 VIEIRA, 2001, p. 9. politica educacional.indd 37 16/11/2009 12:44:11 política educacional 38 Trata-se de uma norma “em branco”, que reforça o direito do cidadão de pleitear junto ao Estado o cumprimento do seu dever de oferecer o ensino obrigatório. Pela redação atual da CF/88, a obrigatoriedade recai apenas sobre o ensino fundamental, antigamente conhecido como “1º grau”, hoje com nove anos de duração, oferecido para a faixa etária de 6 a 14 anos de idade. Na redação original da CF/88, o ensino fundamental iniciava-se aos sete anos de idade e tinha oito anos de duração. Recentemente o MEC anunciou que estuda ampliar ainda mais a obrigatoriedade, para abranger também o ensino médio e a pré-escola, ou seja, para estudantes de 4 a 17 anos. Nesse caso, a figura do direito público subjetivo automaticamente protegeria além do ensino fundamental, já que a norma não se refere a esse nível de ensino, mas ao “ensino obrigatório”. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 8 Leia o artigo de Evaldo Vieira, “A política e as bases do direito educacional”.4 Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível em: <www.scielo.br>, ou diretamente pelo link <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5538.pdf>. Faça uma síntese do texto, procurando complementar as leituras anteriores de Höfling e Arretche sobre Estado, governo e políticas sociais, e ao mesmo tempo aprofundar a discussão sobre direito educacional, examinando o regime jurídico da educação na CF/88. Considerando a relevância desse tema, vamos aprofundar a discussão sobre as relações entre a figura jurídica do direito público subjetivo e a política educacional, a partir do artigo “Direito público subjetivo e políticas educacionais”, de Clarice Seixas Duarte. Segundo essa autora, [...] o direito público subjetivo confere ao indivíduo a possibilidade de transformar a norma geral e abstrata contida num determinado ordena- mento jurídico em algo que possua como próprio. A maneira de fazê-lo é acionando as normas jurídicas (direito objetivo) e transformando-as em seu direito (direito subjetivo). O interessante é notar que o direito público subjetivo configura- -se como um instrumento jurídico de controle da atuação do poder estatal, pois permite ao seu titular constranger judicialmente o Estado a executar o que deve.5 Mais adiante, Duarte afirma que Na acepção larga do conceito de garantia, pode-se incluir, no caso da educação, a consideração de certos princípios, como o da obrigatorie- dade do ensino (entendida como a imposição de um dever ao Estado) e o da sua gratuidade em estabelecimentos oficiais, além da vinculação 4 VIEIRA, 2001. 5 DUARTE, 2004, p. 113. politica educacional.indd 38 16/11/2009 12:44:11 aula 2 39 constitucional de receitas. Todo esse conjunto deve ser interpretado de forma a assegurar a fruição do direito ao ensino fundamental.6 Como vimos, há uma tríplice dimensão de direitos para o cidadão, que se impõem como deveres para o Estado: a obrigatoriedade, a gratui- dade e a vinculação de receitas orçamentárias. A relação jurídica sempre encerra essa bilateralidade: o direito de um é o dever de outro. O interessante no direito público subjetivo é que se estabelece um caminho eficaz para o cidadão processar o Estado judicialmente, a fim de obrigá-lo a cumprir os seus deveres, no caso a realização de políticas públicas que garantam um direito social; não se trata, simplesmente, de uma prestação individualizada. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 9 Leia o artigo “Direito público subjetivo e políticas educacionais”.7 Faça uma síntese do texto, procurando delimitar o conceito de direito público subjetivo e sua relação com as políticas educacionais. Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível em: <www.scielo.br>, ou diretamente pelo link <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n2/ a12v18n2.pdf>. Sobre a obrigatoriedade do ensino fundamental, importa registrar que nosso ordenamento jurídico trata da matéria na legislação federal ordinária, por exemplo, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Código Penal, prevendo punições para os pais ou responsáveis que não matricularem ou não enviarem regularmente as crianças para frequentar a escola. A obrigatoriedade é tanto para o Estado oferecer a vaga quanto para os pais ou responsáveis encaminharem as crianças para a escola. Outro aspecto relevante do tratamento da CF/88 dispensado à educação é a “gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais”, esta- belecida pelo Art. 206, IV. A gratuidade foi prevista plenamente, pela primeira vez em nossa história constitucional, para todos os níveis, modalidades e tipos de instituição pública, de educação básica ou superior. Recentemente, em 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou esse princípio, extinguindo a cobrança de qualquer tipo de taxa de matrícula em universidades públicas. Burlando a regra, estão à margem dessa norma, muitas vezes, os cursos de especialização, que são oferecidos como projetos de extensão e não se enquadrariam na gratuidade, que se aplica apenas a atividades de “ensino”. No Art. 211, alterado em 1996 pela Emenda nº 14, a CF/88 estabe- lece um regime de competências para organizar o regime de colabo- ração entre os entes federados, definindo os papéis da União – que administra o sistema federal de ensino e exerce função redistributiva 6 DUARTE, 2004, p. 116, grifos meus. 7 DUARTE, 2004, p. 113- 118. politica educacional.indd 39 16/11/2009 12:44:11 política educacional 40 e supletiva, mediante a prestação de assistência técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios (parágrafo 1º) –, dos municípios, que atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil (parágrafo 2º), e dos estados e do Distrito Federal, que atuarão prioritariamente no ensino fundamental e no ensino médio (parágrafo 3º). Nota-se que as competências são definidas como prioridades, ou seja, aquilo que se deve fazer primeiro, e não como exclusividades, ou seja, apenas um ente da federação seria responsável por determinado nível de ensino, sendo impedido de atuar em outros, o que não ocorre. Por outro lado, essa função supletiva da União em relação aos demais entes federados é mais antiga que a própria União, existindo antes dela, no Império, cuja Constituição de 1824 previa essa função, na época denominada de “supletória”, do então governo central em relação às províncias. É o duplo papel exercido hoje pelo MEC e pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em relação ao sistema federal de ensino, administrado pela União, e aos sistemas de ensino dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Esse assunto será tratado na Aula 4, quando estudaremos os sistemas de ensino. Aspecto importantíssimo das disposições sobre educação da CF/88 é a vinculação e a posterior subvinculação de recursos orçamentários, previstas, respectivamente, no Art. 212, caput (transcrito a seguir) e no Art. 60 do ADCT. Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Importante ressaltar que esses percentuais atuais da CF/88 são os maiores percentuais vinculados de recursos para a educação, em toda a história constitucional do país. Deve-se observar, entretanto, que o percentual de recursos da União, desde meados da década de 1990, tem sido menor que os 18% previstos na CF/88, em razão da atualmente denominada Desvincu- lação de Receitas da União (DRU), um mecanismo que permite uma redução provisória de todos as vinculações de recursos da União,
Compartilhar