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CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO Adélia Maria Santos Teixeira Maria Regina Barbosa Assunção Roosevelt Riston Starling Sônia dos Santos Castanheira conhecer e avançar Copyright © desta edição: ESETec Editores Associados, Santo André, 2002. Todos os direitos reservados Teixeira, Adélia Maria Santos et al. Ciência do Comportamento - Conhecer e Avançar. - Vol.1. Orgs. Adélia Maria Santos Teixeira, Maria Regina B. Assunção, Roosevelt R. Starling, Sônia dos Santos Castanheira. U ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2002. 196p. 23cm 1. Psicologia do Comportamento: pesquisa, aplicações 2. Behaviorismo Radical 3. Análise do Comportamento 4. Terapia Comportamental CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ESETec Editores Associados Direção Editorial: Teresa Cristina Cume Grassi Assistente Editorial: Jussara Vince Gomes Revisão Ortográfica: Erika Horigoshi Capa: Flávia Castanheira Agradecemos a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram com a produção deste material. Cabe um crédito especial à designer Flávia Castanheira, que nos presenteou com um trabalho de especial beleza e sensibilidade. Solicitação de exemplares: eset@uol.com.br Rua Santo Hilário, 36 - Vila Bastos - Santo André * Tel. 49905683/44386866 www.esetec.com.br conhecer e avançar Adélia Maria Santos Teixeira Maria Regina B. Assunção Roosevelt R. Starling Sônia dos Santos Castanheira Organizadores Adélia Maria Santos Teixeira Ana Maria Lé Sénéchal-Machado Carlos Augusto de Medeiros Eduardo Neves P. de Cillo Gustavo Teixeira Hélio José Guilhardi Lorenzo Lanzetta Natale Lyudmilla Furtado Mendonça Maria Cristina Seixas Villani Maria Isabel dos Santos Pinheiro Nely Maria dos Santos de Castro Patrícia Martins de Freitas, Rachel Rodrigues Kerbauy Saulo Missiaggia Velasco Sérgio Dias Cirino Sérgio Dias Cirino Tatiana Araújo Carvalho Vítor Geraldi Haase Editores Associados 2004 S umário P r e f á c io ...................................................................................................................................... A gradecimentos.......................................................................................................................... A presentação............................................................................................................................... C a p a c it a ç ã o de a n a l is t a s do c o m p o r t a m e n t o : h a b il id a d e s b á s ic a s Adélia Maria Santos Teixeira (UFMG)............................................ A tuação de a n alistas do comportamento: pesq u isa , intervenção e plan ejam en to de am bientes psicossociais Adélia Maria Santos Teixeira (UFMG)............................................ A INDIVIDUALIZAÇÃO DO ensino em uma pré-esco la : uma in tervenção comportamental na EDUCAÇÃO INFANTIL Adélia Maria Santos Teixeira (UFMG)............................................ Considerações sobre o desempenho do te rapeu ta com portam enta l Maria Cristina Seixas Villani .................................................... A relação ter apêu t ica como foco da a n á l is e n a prática clín ic a comportamental Saulo Missiaggia Velasco (Clinica Particular), Sérgio Dias Cirino (UFMG)....... O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO COMO FORMA DE ATUAÇÃO NA PRÁTICA CLÍNICA Tatiana Araújo Carvalho.......................................................... S obre T e r a p ia C o m po rtam en tal: questões freq üentes da co m u n id ad e Ana Maria Lé Sénéchal-Machado ............................................... T r e in a m e n t o c o m p o r t a m e n t a l de p a is : u m a m o d a l id a d e de in t e r v e n ç ã o em n e u r o p s ic o l o g ia do d e sen v o lv im e n t o Vítor Geraldi Haase (UFMG), Patrícia Martins de Freitas, Lorenzo Lanzetta Natale, Maria Isabel dos Santos Pinheiro........................................ Esquemas DRO e DRA como e s tra tég ia s de in te rven ção c l ín ic a : estudo de caso Lyudmilla Furtado Mendonça (Clínica Tolman)................................... T erapia comportamental: tratamento e prevenção da recaída com dependentes químicos Nely Maria dos Santos de Castro (UFMG; Unicentro Newton Paiva)............ P sico lo gia do Esporte: conceitos aplicad o s a partir da A n álise do C omportamento* Eduardo Neves P. de Cillo (PUC-SP; Unicentro Newton Paiva)................... A r r a n ja n d o co n tin g ên c ias de e n s in o : u m a reflexão so bre o labo rató rio a n im a l OPERANTE Gustavo Teixeira (Clínica Particular), Sérgio Dias Cirino (UFMG)............. 125 T e r a p ia C o m po rtam en tal: conhecim ento a c u m u la d o e tran sfo rm açõ es Rachel Rodrigues Kerbauy (USP) ................................................ 133 C om portam ento v e r b a l : O que é ? E como vem sendo estud ad o? Carlos Augusto de Medeiros (UFMG).............................................. 145 A n álise co m po rtam ental do sentimento de cu lpa Hélio José Guilhardi (IAC) ........................................................ 158 P refác io * O livro Ciência do Comportamento: conhecer e avançar reúne textos que cobrem diferentes temas em Análise de Comportamento, ordenados, com competência, em dois volumes por um grupo de docentes mineiros. Marcando seu compromisso com o fazer ciência e divulgá-la, tanto quanto com o aplicá-la, o conjunto resultante se volta, num primeiro momento, para a formação do analista do comportamento e, num segundo momento, para a atuação deste profissional na resolução de problemas sociais e individuais. Assim, aborda, através de seus autores, entre outras, questões conceituais, questões metodológicas, aspectos específicos da formação do psicólogo analista do comportamento, tópicos de pesquisa, problemas de ensino e educação, técnicas terapêuticas, questões éticas, treino de pais, educação especial, dependência química e identidade sexual. Ao longo de 31 capítulos, a riqueza de interesses e responsabilidades dos autores revela-se, tanto na diversidade dos tópicos abordados como no cuidado com que são tratados. 0 livro espelha e, de certo modo, documenta a produção resultante do trabalho, iniciado há 30 anos, por um grupo de professores da Universidade Federal de Minas Gerais voltado para os estudos dos concei tos, métodos e técnicas que a Análise do Comportamento desenvolve para o uso dos estudiosos do comportamento. Preocupados com a análise de processos básicos, tanto quanto de processos aplicados, este grupo cresceu. A partir da UFMG, espalhou-se, em Belo Horizonte, para a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, para o Unicentro Newton Paiva e para o Centro Universitário da Fundação Mineira de Educação e Cultura; em Governador Valadares, para a Universi dade Vale do Rio Doce; em São João Del Rei, para a Fundação de Ensino Superior de São João Del Rei; em Três Corações, para a Universidade Vale do Rio Verde; em Juiz de Fora, para o Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora; em Itajubá, para a Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá; em Divinópolis, para a Universidade do Estado de Minas Gerais; em Alfenas, para a Universidade de Alfenas; em Uberaba, para a Universidade de Uberaba e em Uberlândia, para a Universidade Federal de Uberlândia. Estabeleceu intercâmbio com colegas de outros estados, trocando alunos, professores, bolsistas estagiários, e realizando projetos de ensino e pesquisa conjuntos. Através de cursos de graduação, pós-graduação e de especialização, esse grupo, agora ampliado, vem exercendo sua esfera de influência interagindo tanto com a comunidade científica maior de médicos, psiquiatras, educadores, farmacólogos e biólogos como com a comunidade leiga. Hoje, esse crescimento e essa influência acham-seaqui representa das, ainda que de forma incompleta, nesta obra com um total de mais de 400 páginas. Parabéns à comunidade mineira. Que outros centros de pesquisa, ensino e aplicação de Análise do Comportamento no Brasil sigam seu exemplo. Carolina Martuscelli Bori Maria Amélia Matos A g r a d e c im e n t o s Ao lançarmos uma primeira publicação que apresenta em termos inequívocos o vigor da Ciência do Comportamento em nosso estado e que tarrtbém vem coroar o sério e contínuo trabalho da comunidade comportamentalista residente em Minas Gerais, coube-me a difícil tarefa de apresentar, em nome dos colegas organizadores, os nossos agradecimentos. Nas últimas quatro décadas, muitos estudiosos dedicaram os melhores anos das suas vidas para conhecer, divulgar e fazer avançar a ciência do comportamento em nosso estado, quer na aridez e solidão da pesquisa básica ou no sempre mal remunerado magistério quer nas hoje riquíssimas mas então pioneiras áreas aplicadas - a clínica psicológica, a educação normal e especial e também nas aplicações que já se ensaiam: a análise comportamental das organizações, a neuropsicologia comportamental, as intervenções em contextos médicos hospitalares e a medicina do comportamento, as intervenções em contextos especiais, como por exemplo, as ações junto às comunidades de risco e a prática esportiva. Um dos primeiros problemas com o qual me deparo é a quase certeza de que, se tentássemos fazer um mínimo de justiça a todos esses pioneiros, dando a conhecer os seus nomes, tal lista conteria inevitáveis, injustificáveis e injustas omissões. Mas ainda que pudéssemos listá-los a todos, por onde começaríamos? Já se disse que "se hoje enxergamos mais longe é porque estamos de pé sobre os ombros de gigantes". Até quando recuaríamos no tempo para fazer justiça a todos esses corajosos e abnegados homens e mulheres que ousaram desafiar as convenções e a tradição para falar de uma maneira ainda hoje tão nova e revolucionária sobre o comportamento humano? Conhecemos os nossos gigantes: os então jovens e inquietos brasileiros e brasileiras que pioneiramente foram aprender e divulgar em nosso país aquela nova linguagem, que tanto lhes tocava a inteligência e a sensibilidade. São hoje os nossos mais queridos modelos de dedicação à ciência e de generosidade pessoal: não retiveram o que duramente adquiriram; compartilharam! Mas quantos países mais precisaríamos visitar para sermos consistentes e fiéis à história da Ciência do Comportamento? Em quantos idiomas falavam esses gigantes? A quais desses gigantes precisaríamos necessariamente agradecer e a quais poderíamos arriscar omitir? E bem justo seria lhes agradecer nomeando, um a um, todos eles. Cada um deles foi um artífice das contingências a que hoje respondemos; cada um deles está presente, de maneira muito verdadeira, neste livro que ora colocamos a disposição do público estudioso. Í X Entretanto, precisamos também ter presente que, ao respondermos à fala daqueles gigantes, transformamos uma vez mais o nosso ambiente: ao nos abrirmos para o novo, ao nos responsabilizarmos pela solidez do chamado que nos faziam, justificamos o trabalho deles e também nos tornamos sujeitos da ainda recente história do estudo científico do comportamento humano. Inúmeros profissionais e estudantes estiveram envolvidos nas atividades que precederam e estabeleceram as contingências que se materializam nestes dois volumes do Ciência do comportamento: conhecer e avançar. Aqui, uma vez mais, nos vemos às voltas com o mesmo problema que destacamos anteriormente. Poderíamos listá-los a todos? Poderíamos pesar e avaliar a importância do entusiasmo, da dedicação, da seriedade de cada um deles, a fim de a todos fazer justiça e, ao mesmo tempo, não impormos ao leitor uma lista por demasiado extensa, por tantos que foram aqueles que em incontáveis sábados e domingos e em igualmente incontáveis segundas, terças e quintas, deixaram o seu descanso e o seu lazer e sacrificaram ainda mais o seu dia de trabalho para dispor as contingências que agora controlam esse texto que escrevo? Melhor talvez nem tentar. Melhor talvez lembrar-lhes que os frutos que produziram serão novas sementes de incontáveis novos livros, que ajudarão a transformar a vida de incontáveis pessoas, mais e mais e cada vez mais, ampliando sempre a nossa presença responsável, ética e humanamente sensível na cesta de práticas psicológicas a serem selecionadas por suas conseqüências. Que flexível e rica pode ser esta ferramenta da humanidade, o comportamento verbal: cá estamos a todos agradecendo, sob a afirmativa de ser impraticável a todos agradecer! E talvez tenhamos, na observação anterior, a possibilidade de um novo, justo e essencial agradecimento. De maneira geral, a comunidade dos dentistas do comportamento tende a entender a palavra ciência como sendo o comportamento verbal do cientista ao falar de uma maneira especial sobre o mundo. Disso, uma particularidade: temos definido comportamento verbal como um tipo de comportamento operante que depende, para sua instalação e manutenção, da ação reforçadora de uma comunidade verbal, de uma outra pessoa, sendo assim um evento social que exige um falante e um ouvinte para que possa ocorrer. Dessa forma, de nada adiantaria terem falado os nossos gigantes, de estarmos falando nós, caso essa fala não caísse em ouvidos sensíveis, em pessoas cujas histórias as fizeram merecedoras dos adjetivos curiosas, abertas, inteligentes e ousadas. Estamos, assim, agradecendo a cada um dos ouvintes que, através da sua resposta ativa de ouvir, mantiveram e mantêm viva e florescente a Ciência do Comportamento. Estamos agradecendo a você, caro leitor! Pelos organizadores, Roosevelt R. Starling Inverno de 2002. X A presentação Nunca subestimem o poder contido em uma contraposição. A emergência e a consolidação da Ciência do Comportamento, em Minas Gerais, desde os anos 70, estiveram fadadas ao fracasso. Contingências adversas, provindas de várias origens, dificultavam e interceptavam qualquer iniciativa favorável ã sua implementação. Um grupo muito restrito de professores, apoiado e respeitado por docentes não comprometidos com esta abordagem psicológica, conviveu anos e anos com tais dificuldades, resistindo a todas as tentativas de sufocamento de ações associadas à eclosão de uma Psicologia baseada nos padrões das Ciências Naturais em Minas Gerais. Ultrapassando essa longa trajetória histórica, registramos nossa sobrevivência com a presente publicação. Os dois volumes deste livro agrupam trabalhos apresentados por professores e alunos em eventos que focalizaram a Ciência do Comportamento e foram realizados em Belo Horizonte nos anos de 2000 e 2001. Os docentes estão vinculados a diversas instituições de ensino superior: UFMG, PUCMG, Centro Universitário NEWTON PAIVA, FUMEC, UNIVALE, FUNREI, PUCSP, USP e IACCAMP (Instituto de Análise de Compor tamento de Campinas). Os discentes que participaram deste trabalho, em sua maioria, são mestrandos na PUCSP. Os capítulos dos dois volumes do livro abrangem uma ampla variedade de assuntos, acompanhando as temáticas dos eventos correspondentes: Capacitação e Atuação (I Jornada Mineira de Ciência do Comportamento/2000); Aplicações e Avanços ( II Jornada Mineira de Ciência do Comportamento/2001); Pesquisa e Aplicações (I Seminário de Análise do Comportamento/2001); 0 Homem e o Método (II Encontro das Escolas de Psicologia de Belo Horizonte/2001). Dessa forma, no volume I, o capítulo 1 é dedicado à questão da capacitação dos analistas do comportamento; os capítulos 2 a 11 versam sobre sua atuação, abordando aplicações variadas do quadro conceituai correspondente; o capítulo 12 discute questões relacionadas com a pesquisa .e os capítulos 13, 14 e 15 ocupam-se de avançosno modelo conceituai da análise do comportamento. XI Do mesmo modo, no volume II, o capítulo 1 aborda a questão da capacitação do terapeuta comportamental; os capítulos 2 a 11 ocupam-se de aplicações diversificadas da análise do comportamento; os capítulos 12 e 13 versam sobre pesquisa e os capítulos 14, 15 e 16 discutem avanços do modelo conceituai da análise do com-portamento. Essa classificação dos artigos é arbitrária e as categorias utilizadas não são mutuamente exclusivas. A organização dos textos, na forma apresentada, não obedece a uma cronologia em correspondência com a seqüência dos eventos realizados. Cumpre apenas a função de orientar o leitor quanto à origem dos trabalhos, quanto à natureza de seus conteúdos e quanto à procedência de seus autores. Convém salientar que os artigos publicados neste livro revelam uma grande heterogeneidade. Pode-se constatar uma diversidade na formação acadêmica dos autores e uma variabilidade em seus interesses temáticos. Considera-se que isso poderá se mostrar útil como contribuição para a expansão da Ciência do Comportamento e especialmente da Análise do Comportamento Aplicada. Embora atentos às tendências, concentradoras de interesse, nesse campo de conhecimento, estamos convencidos de que a variação é uma condição indispensável para a sua expansão, cabendo à comunidade científica, como um todo, selecioná-la. Belo Horizonte, maio de 2002 Adélia Maria Santos Teixeira C a p a c it a ç ã o de a n a l i s t a s do c o m p o r t a m e n t o HABILIDADES BASICAS Adélia Maria Santos Teixeira* Universidade Federal de Minas Gerais Qualquer capacitação especifica uma competência - capacida de para apreciar e resolver algum problema, capacidade para fazer alguma coisa. Estabelecer relações entre comportamentos e variáveis am bientais constitu i competência básica do analista do comportamento. Essa competência inclui: analisar contingências, respondendo questões dos tipos: (a) o que acontece quando um organismo faz a, b, c, ou d? (b) em que condições o organismo faz a, b, c ou d? (c) o que acontece quando um organismo que fazia a, b, c ou d passa a fazer m, n, o, p? Para adquirir esse tipo de competência, o analista do compor tamento precisa desenvolver várias habilidades: identificar eventos comportamentais; identificar eventos ambientais; relacionar eventos ambientais e comportamentais; compreender as relações identificadas; identificar alterações nas relações ambiente/ comportamento; formular questões sobre o comportamento, sobre o ambiente e sobre suas relações; identificar e resolver problemas relacionados a esses tipos de relações. Tudo isso remete à noção de contingência de reforçamento. Dito de forma mais precisa, tudo isso remete ã noção de contingência tríplice de reforçamento - unidade básica de análise na análise experimental do comportamento (Skinner, 1953, 1968 e 1969). * Departamento de Psicologia. Faculdade de Filosofia e.Ciências Humanas - Universidade Federal de Minas Gerais. Texto apresentado na I Jornada Mineira de Ciência do Comportamento (Belo Horizonte, 2000). Portanto, detectar e seguir contingências podem ser destaca das como duas habilidades básicas na análise do comportamento. É isso que precisa ser aprendido pelo analista do comportamento, ou seja, essas duas habilidades básicas precisam ser incorporadas no repertório comportamental do analista do comportamento. Estas afirmações suscitam algumas questões. Em primeiro lugar, como aprender e adquirir essas habilidades básicas? Pode-se dizer: olhando, ouvindo e lendo. Não se tratam, no entanto, de um olhar, um ouvir e um ler aleatórios. Se assim os fossem, o analista do com portamento ficaria sujeito a eventos impressivos, a imposições peculiares advindas de sua própria história que norteariam suas interpretações, a limitações de sua própria capacidade de atentar e reter ocorrências. Há necessidade de que o analista observe, ouça e leia registros precisos e sistemáticos que possam ser examinados repetidamente. 0 analista do comportamento precisa dispor de gra vações visuais e auditivas e de relatos verbais escritos por completo. De posse desse material, o analista teria condições de se expor e de interagir com ele de uma forma plena. A partir dessa interação, poderia treinar ou ser treinado nas habilidades de detectar e seguir contingências. É evidente que a participação de um analista experiente facilitaria as aquisições do principiante. Em segundo lugar, onde adquirir essas habilidades? Pode-se afirmar: interagindo com eventos comportamentais reais. Somente assim se torna possível desenvolver o repertório comportamental de um analista do comportamento talentoso. Não se pode aprender a analisar contingências com esmero através de regras ou compêndios. Pode-se conhecer toda a obra de Skinner de cor e, ainda assim, não tornar-se um analista talentoso. Algumas relações comportamentais óbvias poderão ser analisadas com clareza. No entanto, sem exposição direta aos eventos comportamentais, será muito difícil tornar-se apto para detectar as sutilezas das relações organismo/ambiente envolvidas nesses eventos. 0 repertório comportamental necessário para detectar e seguir contingências exige a interação real e intensiva no exercício desse tipo de análise. 0 repertório de um analista do comportamento talentoso somente poderá ser modelado através de contingências, como ocorre em qualquer outro tipo de habilidade talentosa. Não se pode tornar um exímio pianista seguindo regras ou lendo compêndios. 0 mesmo ocorre com um jogador de tênis, um escritor, um pintor, um cantor. As variações comportamentais, que fazem a diferença, somente poderão ser modeladas por contingências. É isso que, provavelmente, transformou o "Dida" no goleiro que é, ou seja, um goleiro que condicionou um atraso mínimo na resposta de correr ou posicionar- se para uma defesa de penalidade máxima (pênalti) em jogos de futebol. Isso lhe permite detectar a ação de seu adversário, a projeção e a trajetória da bola que lhe cumpre defender. Esse condicionamen to do jogador somente foi possível através de exposição a contingências relacionadas com os eventos comportamentais cor respondentes. Uma terceira questão pode ser formulada. Para que adquirir a habilidade de detectar e seguir contingências? Para conhecer e mudar. Quando se detecta e segue contingências, adquire-se conhecimento sobre o evento comportamental correspondente. A posse desse conhecimento permite predizê-lo e controlá-lo, a pedidos ou por necessidade. Controlar um evento comportamental obriga a detecção, a programação e o seguimento de contingências. Isso foi muito bem observado por Bori (1974). Tratando de questões relacionadas à prática de Sistema de Ensino Personalizado (PSI), no Brasil, declarou que a pesquisa correspondente orientava-se para a identificação e a programação de contingências, mais do que para regras de cons trução de programas de ensino. Finalmente, pode-se indagar: como o ensino de graduação em Psicologia pode contribuir para o desenvolvimento das habilidades básicas do analista do comportamento apontadas no presente texto? Com disciplinas específicas que coloquem o aluno em interação com situações reais que ele deverá analisar com o objetivo de identificar e seguir contingências. Isso será facilitado pela presença de um professor qualificado para tanto. Pode-se, ainda, perguntar: os cursos de graduação em Psicologia dispõem dessas condições e praticam esse tipo de ensino? Pode-se considerar que um número razoável desses cursos contam com professores qualificados para produzirem esse ensino. No entanto, sua própria formação acadêmica está contaminada por uma ênfase nos princípios da análise de comportamento, como fonte de conhecimento, e nos comportamentosgovernados por regras, como estratégia de atuação. Seria um bom alvitre deslocar a ênfase para comportamentos governados por con tingências. Isso ampliaria os repertórios comportamentais dos iniciantes na análise do comportamento, tornando-os aprendizes mais suscetíveis e responsivos aos eventos comportamentais observados e, ainda, permitiria uma variação de interações e uma originalidade comportamental que são condicio-nantes de uma análise talentosa. Na atuação de um analista do comportamento, prevalece o mesmo raciocínio envolvido nas habilidades básicas de detectar e seguir contingências proposto neste trabalho. R e f e r ê n c ia s B i b l io g r á f ic a s Bori, C. M. (1974). Developments in Brazil. In F. S. Keller& J. G. Sherman, PSI - The Keller plan handbook (pp. 65-72). Menlo Park, Califórnia: W. A. Benjamin. Skinner, B. F. (1981). Ciência e comportamento humano. (Trad. João Carlos Todorov e Rodolpho Azzi). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953.) Skinner, B. F. (1972). Tecnologia de ensino. (Trad. Rodolpho Azzi). São Paulo: Herder. (Trabalho original publicado em 1968.) Skinner, B. F. (1980). Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural. (Trabalho original publicado em 1969.) A tuação de an alistas do comportamento: pesquisa , INTERVENÇÃO E PLANEJAMENTO DE AMBIENTES PSICOSSOCIAIS Adélia Maria Santos Teixeira' Universidade Federal de Minas Gerais” Este trabalho começa com algumas citações: 1. ".. o mais importante que Skinner tem a nos dizer é como formular as perguntas, se quisermos encontrar as melhores respostas" (De Rose, 1999: 68). 2. "... o interesse de Skinner pela ciência não é descomprometido, mas ligado a um objetivo de utitizar a ciência para a modificação da sociedade e da vida humana" (Maria Amália Andery citada por De Rose, 1999). 3. Isto significa que para Skinner as melhores respostas "são aquelas que levam a soluções de problemas humanos" (De Rose, 1999). Estas citações dão sustentação às atuações - pesquisa, inter venção e planejamento de ambientes psicossociais - destacadas neste trabalho. A pesquisa costuma ser uma rotina no campo de estudo da análise do comportamento. Pode-se dizer, ainda, que toda atuação de um psicólogo remete a algum tipo de intervenção preventiva ou remediadora. 0 mesmo pode ser dito sobre a atuação de um analista do comportamento. No entanto, na maioria das vezes, o foco de * Departamento de Psicologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Univer sidade Federal de Minas Gerais. **Texto apresentado na I Jornada Mineira de Ciência do Comportamento (Belo Horizonte, 2000) atenção do analista do comportamento tem se concentrado no comportamento individual. A intervenção e o planejamento de ambientes psicossociais - grupos, instituições, comunidades - não registram a mesma freqüência dos trabalhos orientados para o indivíduo. Assim sendo, considera-se a inserção do analista do comporta mento em atividades de intervenção e planejamento de ambientes psicossociais como um mercado promissor para esses profissionais. Talvez, dentre os psicólogos, o analista do compor-tamento seja o profissional mais preparado para promover a interven-ção e o planejamento de ambientes psicossociais. Isso se deve ao quadro conceituai disponível que privilegia a questão: em que condições ocorre o quê? Uma formulação de pergunta desse tipo orienta o comportamento do profissional para respostas úteis. Ao buscar soluções para problemas formulados dessa maneira, ela desenvolve habilidades básicas de detectar e seguir contingências peculiares e indispensáveis para sua atuação. A pesquisa está intimamente relacionada aos campos de trabalho vislumbrados - intervenção e planejamento de ambientes psicossociais. No entanto, não há razões para supor uma relação linear entre esses três campos de atuação. A pesquisa pode anteceder e suceder diferentes momentos da intervenção e do planejamento de ambientes psicossociais. Identificar e propor um novo arranjo de contingências não garantem a efetividade de mudanças comportamentais visadas numa intervenção ou num planejamento psicossociais. 0 profissional nunca tem controle de todas as contingências presentes e/ou atuantes num ambiente humano. Acontecimentos não previstos se interpõem aos arranjos propostos. Faz-se necessário seguir as contingências identificadas e propostas, ajustando-as, cercando-as e orientando- as continuamente em direção ao objetivo comportamental, visando a intervenção ou o planejamento. É um seguir, no sentido de perseguir, que garante a efetividade das mudanças propostas. Assim, identificar, propor e seguir contingências constituem habilidades críticas em qualquer atuação de intervenção ou planejamento de ambientes psicossociais. Discutindo questões relacionadas à educação, Skinner (1972) e Keller (1968) descrevem o repertório comportamental do instrutor ao propor arranjos de contingências orientadas para o ensino. Bori (1974), tratando do mesmo assunto, oferece uma descrição muito mais precisa do que consiste propor contingências. Declara a necessidade de identificá-las para, então, programá-las. Com isso, aponta a necessidade de identificar contingências de interesse para as mudanças visadas e a necessidade de programá-las, uma a uma, através de novas contingências. De posse desse material, basta ordená-las numa seqüência lógica e de interesse para o objetivo a ser cumprido. Todos concebem a proposição de contingências como uma programação de arranjos contingenciais. Dessa forma, considera-se que as atuações em inter-venções e planejamento de ambientes psicossociais terão êxito se o analista do comportamento identificar as contingências de interesse para seu trabalho, programá-las, no sentido atribuído por Bori (1974), e segui-las (persegui-las) pontualmente, no sentido descrito anteriormente. Qualquer intervenção produz uma alteração ambiental que, por si só, provocará alterações comportamentais nas pessoas envolvidas na situação. 0 planejamento de um ambiente psicossocial, devido à ampli tude de seu objetivo, propiciará uma oportunidade para uma mudança radical no ambiente e, por conseguinte, no comportamento das pessoas envolvidas na situação. Os analistas do comportamento, dispondo das competências e das habilidades concernentes para intervir e planejar em ambientes psicossociais, estão aptos para atuarem em qualquer local. A identificação usual do campo de atuação do psicólogo em função do local de sua realização (psicólogo clínico, hospitalar, escolar, organizacional, comunitário, institucional) perde essa especificidade inadequada, dando lugar a uma identificação do campo de atuação desse profissional em função da especificidade de sua competência: pesquisador, interventor e planejador. Assim sendo, a competência adquirida garante sua penetração em qualquer local onde o serviço correspondente seja fonte de demanda. Pode-se indagar: onde adquirir essas competências e habilida des? Nos cursos de graduação em Psicologia. Há, no entanto, necessidade de inclusão de disciplinas em suas grades curriculares orientadas para o desenvolvimento dessas competências e habilidades. Pode-se perguntar ainda: como tornar-se talentoso em pesquisa, intervenção e planejamento de ambientes psicossociais? Da mesma forma que se torna talentoso em qualquer outra competência (tocar violino, tocar piano, dançar, esculpir, construir, confeccionar, jogar) - interagindo e atuando múltiplas vezes em situações reais. Com isso e com a ajuda de um analista do comporta mento experiente, o analista novato adquirirá as habilidades de detectar, programar e seguir contingências por contingenciamento de seu próprio comportamento de aprendiz. Trabalhos de intervenção e de planejamento em ambientes psicossociaisdevem apoiar-se em pesquisas avaliativas que permitam analisar a natureza do arranjo de contingências proposto e aplicado em efeito e dos resultados derivados dele. Do mesmo modo, devem suscitar esse tipo de pesquisa. Finalmente, trabalhos de intervenção e de planejamento de am bientes psicossociais podem contemplar os propósitos de comprome timento social presentes na obra de B. F. Skinner. No entanto, faz-se necessário distinguir um trabalho socialmente comprometido de um trabalho engajado social e politicamente. As distorções no último caso são, algumas vezes, inevitáveis e destituídas de interesse científico. R e f e r ê n c ia s B i b l io g r á f ic a s Bori, C. M. (1974). Developments in Brazil. In F. S. KelLer & J. G. Sherman, PSI - The Keller plan handbook (pp. 65-72). Menlo Park, Califórnia: W. A. Benjamin. De Rose, J. C. (1999). 0 que é um skinneriano? Uma reflexão sobre mestres, discípulos e influência intelectual. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 1, 1, 67-74. Keller, F. S. (1999). Adeus Mestre! Revista Brasileira de Terapia Compor-tamental e Cognitiva, 1,1. (Trad. Maria Ignez Rocha & Silva). (Trabalho original publicado em 1968.) Skinner, B. F. (1972). Tecnologia de ensino. (Trad. Rodolpho Azzi). São Paulo: Herder. (Trabalho original publicado em 1968.) A INDIVIDUALIZAÇÃO DO ENSINO EM UMA PRÉ-ESCOLA: UMA INTERVENÇÃO COMPORTAMENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL Adélia Maria Santos Teixeira* Universidade Federal de Minas Gerais Este trabalho descreve uma intervenção comportamental e um planejamento ambiental efetivados numa pré-escola através da introdução de individualização do ensino nas áreas de linguagem e matemática (Teixeira, 1983 & 1983a). Apresenta-se em três partes. Na primeira, a instituição é descrita em sua fase inicial, quando organizava- se de acordo com um modelo tradicional de planejamento do ambiente escolar infantil. Na segunda, descreve-se a mesma instituição, na fase após a introdução de ensino individualizado, ressaltando-se uma nova maneira de planejar e organizar o ambiente escolar infantil. Ambas as partes especificam a instituição, o período correspondente à fase pedagógica, a clientela, os objetivos gerais, os objetivos específicos, o planejamento, a organização do ensino, a organização das crianças, o trabalho pedagógico, os programas de ensino, as funções do professor, o repertório comportamental do professor, as funções do psicólogo, os problemas e dificuldades, as soluções propostas, os resultados obtidos e a conclusão a respeito do período. A seguir, apresentam-se as condições que orientaram a construção dos programas nas área de ensino em que foi implantado o ensino programado individualizado (linguagem e matemática), os Departamento de Psicologia - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Federal de Minas Gerais. A autora agradece à sua eterna orientadora Dra. Carolina Martuscelli Bori; às suas ex-alunas Maria Regina Barbosa Assunção, Alice Maria Ribeiro Barbosa e Maria Inês Resende Bino da Silveira, cujas colaborações foram críticas para a efetivação desta experiência pedagógica e às suas ex-sócias Ana Helena Uchôa Costa Dreistfein e Juliana Gontijo Aun, que possibilitaram a própria existência da instituição de ensino, objeto desta intervenção comportamental. Texto apresentado na I I Jornada Mineira de Ciência do Comportamento (Belo Horizonte, 2001). A autora foi bolsista da Capes nos anos de 1974 e 1975. objetivos comportamentais da programação de ensino nas áreas pedagógicas em que a individualização não foi instituída (artes; recreação livre, brinquedos estruturados; ciências naturais e estudos sociais; maternais I e II) e, finalizando o trabalho, apresentam-se algumas concepções do quadro conceituai que orientaram toda a intervenção comportamental, todo o planejamento ambiental e toda a introdução de individualização do ensino efetivados na pré-escola, objeto desta descrição. Educação infantil tradicional I nstituição Pré-escola localizada em Belo Horizonte - MG. P eríodo de E x p e r iê n c ia P ed agó gica 1970/1973 C lien tela Crianças de 2 a 7 anos. Classes sociais: média, média alta e alta. O bjetivo s G era is • Educação liberal. • Respeito à individualidade da criança. • Qualidade de ensino. O bjet ivo s Específico s • Sociabilidade • Espontaneidade • Criatividade • Iniciativa • Operações de raciocínio (verbal; numérico; espacial; temporal; lógico; geral) • Ensino acadêmico. P lanejam en to • Tradicional • Programas-calendário. O r g a n iz a ç ã o do E n sin o Atividades diárias: Chegada (brinquedo em sala de aula); areia (brinquedo ao ar livre);, rodinha (conversação sobre tema/unidade da semana); atividade acadêmica (matemática e estudos sociais/ linguagem e ciências naturais - em dias alternados); artes (técnicas variadas); lanche (hábitos de higiene e alimentação); recreio (brinquedo livre); repouso (descanso em sala de aula); aula especializada (atividade extracurricular); atividades recreativas ("estória", recreação dirigida, dramatização, música, jogo de mesa, etc.); saída. Essas atividades duravam de 15 a 30 minutos. Período diário de recreação livre (sem a supervisão direta de adulto) Máximo de 20 minutos. O r g a n iza ç ã o das C r ia n ç a s Idade cronológica - Classes: Maternal I (2 anos); Maternal I I (3 anos); l ü período (4 anos); 2a período (5 anos); 3a período (6/7 anos). T r a b a lh o P edagógico Centrado no professor (a partir de planos de aula definidos pelo professor e aprovados pela direção da escola). P ro g ram a de E nsino Os programas versavam sobre conteúdos de linguagem, matemática, estudos sociais e ciências naturais em correspondência com a seqüência de atividades descartáveis de livros disponíveis no mercado. Esses conteúdos e atividades não eram submetidos a uma análise de seus requisitos comportamentais. Todos os alunos de uma mesma classe eram submetidos à mesma programação de ensino, num mesmo período de tempo, cumprindo as tarefas propostas nestes livros descartáveis de atividades infantis e outras propqstas pelos professores. F unções do professor • Fazer a programação diária de ensino e atividades de sua classe de alunos. • Ensinar os conteúdos programáticos planejados em sala de aula. • Garantir a aprendizagem dos alunos. • Resolver problemas de aprendizagem e conduta de seus alunos, sob a orientação da direção da escola. Repertório Comportamental do Professor • Conhecer os conteúdos programáticos sob sua responsabilidade. • Planejar ensino. • Dirigir as atividades escolares de seus alunos. • Avaliar a aprendizagem e a conduta de seus alunos (avaliação qualitativa). • Registrar dados da avaliação em folhas de registro. Funções do psicólogo • Diagnosticar problemas de aprendizagem e conduta.. • Orientar professores, pais e alunos. • Indicar crianças com necessidade de atendimento clínico psico lógico. • Encaminhar crianças para tratamento psicológico especializado. Problemas e Dificuldades • Heterogeneidade dentro das classes (obrigando a aceleração de aprendizagem de alguns alunos e a desaceleração de outros). • Fugas freqüentes de crianças de suas salas de aula. • Repouso tumultuado. • Falta de controle sobre o comportamento dos alunos e professores. • Qualidade de ensino duvidosa (não se dispunha de informações exatas sobre o que o ocorria em sala de aula / não se dispunha de informações precisas e exatas sobre o que o professor fazia nem sobre o que o aluno aprendia e realizava de fato). • Liberdade restrita na ação das crianças (eram mantidas em suas salas de aula na quase totalidade do dia escolar). • Permissividade não sistemática (ocasional). • Reclamações constantesdos professores e solicitações de intervenções freqüentes da direção da escola na conduta das crianças. • Desperdício de material instrucional (perda e destruição de material pedagógico). • Ausências das crianças comprometiam sua aprendizagem na programação vigente comum para todos os alunos de uma mesma classe. • Instabilidade pedagógica (mudanças freqüentes na organização das crianças, trabalho pedagógico e programas de ensino). • Inacessibilidade da situação de ensino. • Dependência da escola em relação aos professores. • Problemas de conduta das crianças (agressividade, negativismo, mutismo, isolamento, timidez, etc.). • Sistema de avaliação de alunos e professores inoperante (as crianças chegaram a ser submetidas a avaliações diárias, semanais e mensais: essas avaliações, em sua maioria, eram feitas oralmente pelos professores. Havia também avaliações periódicas através de testes gráficos (amostragem de desempenho). Os professores eram avaliados ocasionalmente através de observações diretas de seu desempenho em sala de aula: relação professor/aluno; cumprimento do programa calendário, conteúdo das atividades, material uti-lizado, coordenação das atividades. Soluções • Introdução de procedimentos de reforçamento, extinção e punição (time out) no controle do comportamento das crianças. • Uso do princípio de Premack para garantir presença em atividades escolares pouco atraentes. • Intervenções comportamentais não sistemáticas. • Encaminhamento de crianças para atendimento psicológico em clínicas especializadas. Resultados • A criança era o problema. • Ausência de dados confiáveis sobre a aprendizagem da criança. • Imprevisibilidade do ensino. • Gradativamente, os ideais de liberdade de ação e respeito à individualidade da criança foram sendo abandonados. • 0 planejamento pedagógico foi-se orientando cada vez mais para cumprir o objetivo de ensinar. Contudo, a qualidade do ensino continuava desafiando a direção da escola. Conclusão • A escola exigia uma mudança efetiva radical. 13 • Alternativa vislumbrada: introdução de individualização no ensino, a partir de proposições de ensino programado. Educação infantil programada I nstituição A mesma P eríodo da E x p e r iê n c ia P ed ag ó g ica 1974/1983 C lien tela Crianças de 1 a 7 anos Classes sociais: média, média alta e alta O bjet ivo s G era is E du cação l ib e r a l Respeito à individualidade da criança Qualidade do ensino O b je t iv o s E spec ífico s Comportamento verbal Comportamento sócio-afetivo Comportamento de escutar Seguir instruções Comportamentos acadêmicos: matemática; linguagem; ciências natu rais; estudos sociais Autodeterminação da criança (auto-ocupação em tempos livres). P lanejam ento • Programado (Instrução Programada - IP); Sistema de Ensino Personalizado (PSI); Curso Programado Individualizado (CPI); "Something like it" (SLI). • Programas de contingências tríplices (arranjo de contingências sob as quais os alunos aprendiam). 14 ORGANIZAÇÃO DO ENSINO Atividades diárias: Ensino programado individualizado (matemática e linguagem: 60 minutos); artes dirigidas por adulto ("estória", recreação dirigida, dramatização, música, pintura, modelagem, desenho, etc.: 30 minutos); brinquedo estruturado dirigido por adulto (jogo de mesa, montagem, quebra-cabeça, brinquedo de diversão: 30 minutos); recreação livre, sem supervisão de adulto (cerca de 120 minutos). Na metade do período escolar, coincidindo com o término de períodos de atividades dirigidas por adultos, ocorria o período de lanche. P eríodo d iár io de recreação l iv r e ( sem a s u p e r v isã o direta de ad u lto ) Cerca de 2 horas. Esse período variava de acordo com a idade. Crianças menores (3 anos) ocupavam-se com as atividades programadas de matemática e linguagem por apenas 30 minutos, o que lhes garantia 2 horas e meia de recreação livre, incluindo o período de lanche. Com o aumento da idade, aumentava-se a duração do atendimento na atividade de ensino programado individualizado. Dessa forma, as crianças maiores, de 6 ou 7 anos, dispunham de 2 horas para tal, incluindo seu período de lanche. O r g a n iza ç ã o das C r ia n ç a s • Idade cronológica (classes: Maternal I - 1 ano; Maternal I I - 2 anos). • Programação individualizada (um único conjunto de alunos de 3, 4, 5, 6 e 7 anos: não havia classes separadas para crianças com essas idades. Freqüentavam salas de ensino individualizado correspondentes aos programas que estivessem cumprindo. • Atividades de artes e brinquedo estruturado - dois conjuntos de alunos: maiores (5, 6 e 7 anos) e menores (3 e 4 anos). • Brinquedo livre sem supervisão de adulto (um único conjunto de alunos de 3, 4, 5, 6 e 7 anos). T r a b a lh o pedagó gico Centrado no aluno (a partir do planejamento de ensino programado da escola). P r o g r am as de E nsino Os programas versavam sobre conteúdos próprios do ensino infantil. Após uma análise cuidadosa dos requisitos comportamentais desses conteúdos, foram identificadas contingências de interesse para o seu ensino e foram construídos programas seqüenciados de acordo com os princípios de ensino programado (IP; PSI; CPI; SLI). (Skinner, 1972; Bori, 1974; Keller & Sherman, 1974; Sherman, 1992). Area de linguagem: compunha-se de 12 programas de contingências (discriminação visual de cor; discriminação visual de forma; discriminação visual de interação forma/cor; discriminação visual de detalhes; discriminação visual de direção; discriminação visual de posição; discriminação visual de relações espaciais; composição oral I; memória auditiva; associação de estímulos; composição oral II, escrita manuscrita cursiva. Somavam, ao todo, 42 passos progra mados por extenso, contendo toda a situação de ensino prevista, dispostos na seqüência apresentada). * Area de matemática: Compunha-se de 13 programas de contingências (discriminação visual de tamanho; discriminação visual de quantidade; discriminação visual de distância, localização e espaço; discriminação visual de peso; discriminação visual de capacidade; discriminação visual de tempo; sistema de numeração I; sistema de numeração II; sistema de medidas; noções de geometria; noções de sistema monetário; noções de fração; sistema de numeração III. Somavam, ao todo, 91 passos programados por extenso, contendo toda a situação de ensino prevista, dispostos na seqüência apresentada). Todas as crianças cumpriam esses programas de linguagem e matemática. Eram submetidas individualmente a essas seqüências de contingências programadas para o ensino, de acordo com seu próprio ritmo de aprendizagem. Havia a definição prévia de um padrão de excelência de desempenho (100% de acerto nas avaliações dos passos), imposto a todos os alunos, como condição para avançar na programação. Algumas vezes, a programação de contingências era ajustada (reconstruída) para atender a exigências e dificuldades particulares de alunos específicos. Areas de ciências naturais e estudos sociais: dispunham de objetivos comportamentais, previamente definidos, e de uma seqüência de conteúdos e atividades a serem desenvolvidos pelo professor e cumpridos pelas crianças. Areas de artes e brinquedos estruturados: dispunham de objetivos comportamentais previamente definidos e de um volume muito grande de material com o qual a criança deveria interagir conforme instruções especificadas (atividade contingenciada). Recreação livre (sem supervisão direta de adulto): dispunha de objetivos comportamentais gerais, previamente definidos, e de um espaço aberto muito amplo, diferenciado e complexo, com o qual a criança interagia livremente. Maternal I e II: dispunham de objetivos comportamentais, previamentedefinidos, e de uma seqüência de conteúdos e atividades a serem desenvolvidos pela professora e cumpridos pelas crianças. Repouso opcional: ocorria quando a criança o desejasse. F unções do P rofessor • Intermediar, junto às crianças, os programas de contingências previstos para o ensino nas áreas de matemática e linguagem. • Organizar as atividades previstas relacionadas a ciências naturais, estudos sociais, artes e brinquedo estruturado. • Organizar as atividades previstas para as classes de Maternal I e II. R epertório co m po rtam ental do pro fesso r : • Seguir instruções. • Estimular ("prime") crianças. • Reforçar comportamentos das crianças. • Registrar dados (objetivos/quantitativos). • Estabelecer relações entre objetivos comportamentais, atividade e material instrucional nas áreas de ciências naturais, estudos sociais, artes, brinquedo estruturado e nas classes de Maternal I e II. F unções do P sicólogo • Identificar objetivos comportamentais de interesse para o ensino. • Identificar e arranjar contingências de interesse para o cumprimento dos objetivos comportamentais de interesse para o ensino. • Definir um sistema de avaliação do cumprimento dos objetivos comportamentais de interesse para o ensino. • Definir um sistema de avaliação das contingências de interesse programadas para o ensino. • Identificar problemas comportamentais no dia-a-dia escolar. • Fazer intervenções no ambiente escolar, através de novos arranjos de contingências, para solucionar os problemas identificados. • Planejar o ambiente escolar: definir objetivos comportamentais e as contingências de interesse para o ensino. • Organizar o ambiente escolar de acordo com os objetivos e contingências programados: prover as condições ambientais para sua efetivação. • Acelerar o planejamento ambiental (quando necessário), de acordo com resultados obtidos. P r o b lem a s e D if ic u ld a d es • Recusa de algumas crianças para participar de algumas atividades programadas. • Adaptação dos professores ao sistema de ensino. • Sustento financeiro do sistema de ensino (havia necessidade de um professor para cerca de 10 alunos). S oluções • Instituição de permissividade controlada sistemática (admitia-se a recusa da criança em participar das áreas acadêmicas de matemáticas ou linguagem por dois dias consecutivos na semana. Não podia, no entanto, recusar-se a participar das duas áreas simultaneamente; admitia-se, também, sua recusa em participar de atividades de artes e brinquedo estruturado por até três dias consecutivos na semana. Não podia, no entanto, recusar-se a participar das duas áreas recreativas simultaneamente). • Instituição de treinamento dos professores, em situação natural, através de um programa de contingências para o exercício de suas funções. • Aceitação do ônus financeiro do sistema de ensino proposto para a escola. R esultados • Liberdade de ação da criança garantida. • Respeito à individualidade da criança garantido. • Qualidade de ensino garantida. • Dados precisos e exatos sobre o desempenho do aluno. • Avaliação do desempenho do professor pelo desempenho do aluno. • Previsibilidade da situação de ensino. • Estabilidade na programação escolar. • Igualdade na oportunidade de aprender para todos os alunos. • Produção de curva em J de aprendizagem. • Independência da escola em relação a professores. • Eliminação dos problemas anteriores de heterogeneidade de classes; fugas de salas de aula; tumulto em período de repouso; restrição na liberdade de ação da criança; falta de controle sobre o comportamento dos professores e alunos; influência negativa de ausências no desenvolvimento da aprendizagem da criança. • Acesso pleno a tudo o que acontecia na situação escolar. • Informação plena sobre o que a criança aprendia e como aprendia na escola. • Informação plena sobre o que a criança realizava na escola. • Controle de problemas de conduta da criança na própria escola (durante todo o período, o número de crianças encaminhadas a clinicas psicológicas para atendimento especializado em foniatria e/ou psicomotricidade não atingiu o limite de dez casos; dificul dades socioemocionais eram tratadas na própria escola. C onclusão • A criança nunca era o problema. 0 problema deslocou-se para o planejamento ambiental da escola. E nsin o pro g r am ad o - C o n strução dos pr o g r a m a s C ondições b á s ic a s do en sin o pro g r am ad o in d iv id u a l iz a d o ( K eller & S h e r m a n , 1 9 7 4 ; S h e r m a n , 1 9 9 2 ) • A demonstração, por parte do aluno, de domínio pleno do que lhe era ensinado, além de constituir uma condição para que ele pudesse prosseguir em seus estudos, era uma condição básica para garantir a eficiência da proposta de ensino acadêmico da escola. • 0 respeito ao ritmo próprio de aquisição do aluno, além de constituir uma condição que impedia um prosseguimento indiscriminado de seu processo de aprendizagem, era, igualmente, uma condição básica que garantia a todas as crianças um aprendizado dentro dos mesmos padrões de exigência. Todas elas tornavam-se capazes de cumprir os mesmos programas com atendimento pleno de seus requisitos. • A ênfase na comunicação através do uso da palavra escrita era, também, uma condição básica que impedia distorções nas propostas de ensino da instituição e permitia uma explicitação clara e plena do que devia ser feito com o aluno, de como devia ser feito e de como devia ser avaliado o resultado do trabalho com ele. • 0 emprego de pessoas na aplicação dos programas e no acompanhamento dos alunos constituía, ainda, uma condição básica para a preservação de interações humanas na situação de ensino. • Desenvolvimento do ensino numa seqüência ordenada de pequenos passos, além de constituir uma condição que ampliava as oportunidades de êxito e de reforçamento positivo do desempenho do aluno, era, da mesma forma, uma condição básica para o entendimento e planejamento objetivo da própria situação de ensino. P r o g ram ação do en sin o in d iv id u a l iz a d o - C o n strução dos pr o g r a m a s ( T e ix e ir a , 1 9 8 3 e 1 9 8 3 a ) Um programa de contingências pode ser compreendido como um conjunto ordenado de relações funcionais que se pretende estabelecer entre, as condições ambientais e os desempenhos esti pulados. Portanto, a construção de um programa de contingências requer a seleção, a indicação e a ordenação das condições ambientais e dos comportamentos de interesse. Cada programa era composto por uma seqüência de passos; cada passo, por uma seqüência de atividades; e cada ativi-dade, por uma seqüência de exercícios. Alguns programas, devido à sua maior complexidade, requeriam a organização de uma seqüência de unidades introdutórias dos próprios passos. Pode-se dizer que uma programação de contingências, para a instalação de formas comportamentais complexas, corresponde a uma sucessão ordenada de diferenciação de respostas, que se tornam cada vez mais refinadas. Nos programas construídos para a escola, essa progressão na diferenciação de respostas se faz representar na sucessão: unidades, passos, atividades e exercícios. Geralmente, as unidades básicas no planejamento de um programa de contingências são os seus passos. A sucessão desses corresponde à sucessão das formas comportamentais, cuja instalação é imprescindível para que o comportamento geral de interesse do programa seja instalado. Nos programas da escola, o objetivo comportamental de cada passo era sempre planejado através de algumas atividades, de cunho introdutório, em que alguns desempenhos seriam insta-lados, seguidas de outras, cuja finalidade era a de fortalecer, manter e generalizar tais desempenhos. Uma estratégia semelhante ocorria,também, nas atividades, consideradas isoladamente, nas quais os primeiros exercícios tinham por objetivo a instalação e/ou a maior diferenciação de alguma forma comportamental e os que a eles sucediam visavam à sua manutenção, fortalecimento e generalização. De um modo geral, cada um dos programas pode ser compreendido como uma seqüência de tarefas a serem executadas pelas crianças, associadas a uma seqüência de conjuntos de material instrucional e aliadas a uma seqüência de reforçamentos diferenciais. Ou, ainda, como uma seqüência de "desempenhos especificados", associada a uma seqüência de "situações-estímulo especificadas" e aliadas a uma seqüência de "reforçamento diferencial especificado resposta a resposta". 0 guia de estudo de cada passo continha: introdução (apresentação para o aluno do tipo de tarefa que ia ser iniciada, de suas relações com o que já sabia fazer e de sua importância); objetivos (explicitação do que se esperava que ele, o aluno, fosse capaz de fazer ao concluir as tarefas previstas); procedimentos de aquisição (instruções para a aplicação da seqüência de atividades para a aquisição e manutenção do comportamento de interesse do passo); procedimentos de avaliação de aquisição (instruções para aplicação da seqüência de atividades ou exercícios de verificação de aprendi zagem); instruções para o professor ou aplicador do programa (indica ções gerais sobre como devia atuar, o que se pretendia com o passo, a que se devia atentar, o que se devia anotar ou registrar); relação do material requerido e a ser utilizado no passo. Era uma redação por extenso de toda a situação prevista para o ensino. Todo o desenvolvimento do passo estava indicado e redigido explicitamente: indicava-se o que o aplicador do programa deveria fazer ou dizer, as alternativas de repostas do aluno, o que o aplicador faria ou diria em seguida, e assim sucessivamente. Não ficava para o aplicador o planejamento de qualquer situação ou procedimento de ensino, nem mesmo a necessidade de formulação de qualquer palavra no desenvol vimento do passo. Cuidava-se do tipo de linguagem a ser utilizada na situação de ensino, de como reconhecer e julgar o desempenho do aluno, de como indicar ao aluno a que ele ia ser submetido, etc. 0 programa previa conseqüências imediatas para o desempenho do aluno. 0 material utilizado nas atividades, algumas vezes, era autocorretivo; além disso, completar um exercício, atividade ou passo, tinha, como conseqüência, o acesso a outro exercício, atividade ou passo diferente, o que implicava a manipulação de material desconhecido, isto é, o acesso à novidade como reforço para a emissão de comportamentos. Conseqüências reforçadoras de tipo social estavam previstas ao longo de todo o guia de estudo. Inicialmente, decidiu-se, ainda, pela utilização de distribuição de fichas por tarefas cumpridas, como conseqüência reforçadora adicional. As fichas poderiam ser trocadas, mais tarde, por objetos colocados à disposição do aluno. Posteriormente, aboliu-se a distribuição dessas fichas, sem que se notasse alteração no rendimento dos alunos. • As condições de ensino seriam planejadas focalizando-se o aluno individualmente. Isso permitiria acompanhá-lo em suas dificul dades, identificando-as e sanando-as mais prontamente. • 0 aluno avançaria no programa de acordo com seu próprio ritmo de aquisição. Isso permitiria aos mais rápidos um melhor aprovei 21 tamento do tempo e garantiria aos mais lentos o tempo necessário para a aquisição do repertório previsto no programa. • 0 avanço no programa estaria condicionado à demonstração, por parte da criança, de domínio pleno do que lhe fora ensinado até então. Com isso, esperava-se instalar no aluno os comportamentos de ler e escrever nos níveis desejados. • Os repertórios de ler e escrever seriam instalados através de uma seqüência ordenada de pequenos passos. Isso garantiria ao aluno maiores oportunidades de êxito e facilitaria o trabalho de instalação desses complexos padrões de comportamento. P r o g r a m a çã o de um ensino n ã o - in d iv id u a l iz a d o - O bjet ivo s com portam entais ( T e ix e ir a , 1 9 8 3 e 1 9 8 3 a ) a) Artes Através das atividades na área de artes, propunha-se desenvolver na criança repertórios verbais (adquirir vocabulário peculiar à área, trocar informações, estabelecer comunicação verbal em geral); repertórios sociais (trocar material, organizar-se em grupo, atender a ordens, respeitar os direitos próprios e alheios, etc.); repertórios de "produção criativa" (combinar partes, de diferentes maneiras, na construção de um todo; fazer uma mesma coisa de modo diferente; utilizar um material de forma diferente; transformar algo imaginado numa consecução objetiva, etc.) e repertórios de coordenação motora "fina" (manipular e dispor objetos e material através de movimentos complexos, especialmente do tipo manual). b) Recreação livre Através das atividades na área de recreação, propunha-se desenvolver na criança repertórios sociais complexos (organização social, liderança, competição, comportamentos de vencer e perder, de seguir regras, de respeitar e defender os próprios direitos, reconhe cendo os alheios, etc.); repertórios verbais complexos (compreensão e emissão de informações verbais complexas, ampliação de vocabulário, elaboração e sugestão de opiniões, interações verbais em geral, etc.); repertórios de coordenação motora "grossa" (expressão através de movimentos, envolvendo todo o corpo; coordenação viso-motora, envolvendo todos os tipos de estruturas musculares, etc.); repertórios auditivos e rítmicos (reprodução de tonalidade e ritmo musicais, emissão de movimentos em seqüências cadenciadas, adequação de movimentos e exigências têmporo-espaciais, distinção e localização de sons sem informações visuais, etc.). c) Brinquedos estruturados Através das atividades na área de brinquedos estruturados, propunha-se desenvolver na criança repertórios sociais (competição, comportamentos de vencer e perder, de seguir regras de jogo, respeito aos próprios direitos e aos dos colegas em função da escolha e/ou retenção de brinquedos, etc.); habilidades espaciais (especialmente trabalhadas através de quebra-cabeça; localização espacial de partes em um todo); comportamentos de "construção criativa" (através das várias alternativas possíveis de construção, a partir de material disponível para montagem); repertórios de vida diária (servir café, montar e arrumar casa, vestir, desvestir bonecas, dar banho em bonecas e penteá-las, construir situações de trânsito, posto de gasolina, aeroporto, etc.); repertórios de manipulação, utilização e conservação adequados de material (habilidade de escolher um brinquedo, transportá-lo e utilizá-lo com adequação, retorná-lo a seu lugar em perfeito estado de conservação, etc.); repertórios verbais em geral (aquisição de vocabulário peculiar à área, troca de informações, compreensão de regras verbais, interação verbal, etc.). d) Ciências Naturais e Estudos Sociais 0 ensino de Ciências Naturais e de Estudos Naturais era desenvolvido em pequenos grupos de, no máximo, 6 crianças, organizadas por idade cronológica. Essas duas áreas visavam aos mesmos objetivos educacionais. Através de atividades pré-estabelecidas, propunha-se desenvolver nas crianças repertórios de: observar e descrever a natureza e as ocorrências sociais (descrever elementos, objetos ou fatos); relacionar fatos (distinguir que fatos ocorrem junto com, antes ou depois de outros); estabelecer relações de causa e efeito (distinguir que fatos produzem outros); fazer perguntas (indagar sobre elementos, objetos e fatos relacionados à área de estudo); levantar e propor respostas às suas perguntas ou às dos colegas); testar respostas (verificar que alternativas respondiam a queperguntas); tirar conclusões (destacar que fatos resolvem outros; como os resolvem; quais provocam quais, etc.); verbalizar (adquirir vocabulário peculiar às áreas de estudo, escutar e compreender comunicações verbais, emitir opiniões, argumentar a favor ou contra alguma opinião, discutir, etc.). Essas áreas de ensino dispunham de material apropriado e funcionavam uma vez por semana em sessões que duravam 30 minutos. e) Maternais I e I I - preparatório para o sistema individualizado • Desenvolver o comportamento verbal. • Ampliar as oportunidades de ocorrência de repertórios sensoriais e motores. • Seguir instruções (cumprir ordens). • Transitar no ambiente escolar. • Conviver com crianças de 3 a 7 anos (repertórios socioemocionais). A lgu m as concepções bás icas 1. Ensino: "... é um arranjo de contingências sob as quais os alunos aprendem". (Skinner, 1972: 62) Ensinar é colocar comportamentos sob controle de estímulos. 2. Tecnologia de Ensino: AEC Permite: "Deduzir programas, esquemas e métodos de instrução" (Skinner, 1972: 57). • "A aplicação do condicionamento operante na educação é simples e direta" (Skinner, 1972:62). Ensinar deixa de ser arte, tornando-se uma tecnologia. 3. Programação: "... não ensinamos as pessoas a programar ciirsos, mas a procurar contingências nas atividades" [de en^rnrò] "e programá-las" (Bori, 1974:72). Programar é identificar contingências de interesse para o ensino e programá- las. Isso pode ser feito a partir da análise comportamental das atividades de ensino disponíveis (análise de contingências tríplices). R e f e r ê n c ia s B i b l io g r á f ic a s Bori, C. M. (1974). Developments in Brazil. In F. S. Keller, & J. G. Sherman. PSI - The Keller pian handbook (pp.65-72). Menlo Park, Califórnia: W. A. Benjamin. Keller, F. S., & Sherman, J. G. (1974). PSI - The Keller plan handbook. Menlo Park, Califórnia: W. A. Benjamin. Sherman, J. G. (1992). Reflections on PSI: good news and bad. Journal of Applied Behavior Analysis, 25, 59-64. Skinner, B. F. (1972). Tecnologia de ensino. (Trad. Rodolpho Azzi). São Paulo: Herder. (Trabalho original publicado em 1968.) Teixeira, A. M. S. (1983). A individualização do ensino em uma pré-escola - relato de uma experiência. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia. (Tese de doutorado) Teixeira, A. M. S. (1983a). A individualização do ensino em uma pré-escola. Psicologia, 3, 53-75. C o nsideraçõ es sobre o desem penh o do terapeuta COMPORTAMENTAL* Maria Cristina Seixas ViLlani A Terapia Comportamental (definição e objetivo) Terapia Comportamental foi definida por Erwin, em 1978, como “Uma forma não biológica de terapia que se desenvolveu, em grande parte, a partir da investigação sobre a teoria da aprendizagem e que, normalmente, se aplica de modo direto, gradual e experimental no tratamento de padrões não adaptativos específicos." (Erwin, 1978, em Caballo, 1996) Tendo esta definição como referência, podemos retomar os fundamentos científico e filosófico da terapia comportamental. A Terapia Comportamental tem como fundamento o Behaviorismo Radical e a Análise Experimental do Comportamento, cujas apreciações sobre a concepção de homem e sobre as leis que regem o seu compor tamento sustentam sua prática. Podemos, ainda, lembrar que a objeti vidade e a diretividade caracterizam o processo da terapia comporta mental, o que a diferencia da maioria das psicoterapias tradicionais. Contudo, assim como a maioria das psicoterapias, a terapia do comportamento visa proporcionar maior bem-estar para as pessoas que a procuram. A Terapia Comportamental visa a altera-ção das contingências comportamentais do cliente, aquelas "desa-daptativas", que lhe causam sofrimento e lhe prejudicam a saúde. 0 processo terapêutico deverá propiciar o desenvolvimento do repertório * Texto preparado para apresentação em mesa redonda no Seminário de Análise do comportamento na UNP, em junho de 2001. comportamental, no sentido de capacitar o indivíduo para funcionar de maneira mais apropriada do que o fazia antes de procurar ajuda terapêutica. Lipp, em 1995, declarou que: “A Terapia Comportamental age, assim, no sentido de oferecer ao ser humano mais poder sobre seu próprio comportamento, e, consequentemente, aumenta seu livre-arbitrio. Deste modo pode- se garantir que a Terapia Comportamental contribui para aumentar a liberdade pessoal e produzir maior bem-estar ao ser humano." (Lipp, 1995, pãg. 112) Fica, então, evidente que o objetivo primordial da prática terapêutica comportamentalista é o de proporcionar a melhoria da qualidade de vida do terapeutizando usando, para isto, a Análise Funcional de Contingências — como principal instrumento — e técnicas de modificação de comportamento. Este tipo de terapia tem um caráter essencialmente educativo. Deverá ocorrer, por parte do cliente, aprendizagem acerca das contingências de controle de seu próprio comportamento e, para que isto ocorra, o desempenho preciso do terapeuta, como perito, é de suma importância. 0 TERAPEUTA COMPORTAMENTAL • Objetivo: Coerentemente com o objetivo da terapia, o objetivo primeiro do terapeuta comportamental deverá ser o de arranjar contingências que possibilitem ao cliente a aquisição de habilidades necessárias a um funcionamento mais efetivo em diferentes áreas da vida; em lugar daqueles repertórios ineficientes e desajustados que deverão ser averiguados, cuidadosamente, no processo de análise funcional. 0 papel do terapeuta é de natureza didática, já que sua função será a de ensinar ao terapeutizando conhecer suas contingências naturais, aquelas das quais seu comportamento é função, e ensiná-lo a manipular tais contingências. Isto também quer dizer que o terapeuta irá modelar repertórios de autoconhecimento e autocontrole. Segundo Skinner (1989/91), o terapeuta precisa "ensinar seus clientes a construir suas próprias regras. Isso significa ensinar-lhes algo sobre Análise do Comportamento" (pág. 112). Para que essa aprendizagem aconteça, o profissional irá e/etivamente exercer controle sobre o processo da terapia e, conseqüentemente, sobre o comportamento do cliente. 0 terapeuta irá manipular variáveis relevantes para seu cliente. Ele deverá atuar fornecendo estímulos discri mi nativos e reforçadores eficazes para comportamentos adequados por parte do terapeutizando. Para Skinner, não há problemas neste tipo de manipulação e controle. "O controle é ético se exercido para o bem do controlado." (Skinner, 1989/91, pág. 110) • Comportamentos éticos: A questão da ética na terapia comportamental é bastante polemizada. As pessoas que não têm conhecimento teórico e metodológico apurado sobre essa forma de terapia, duvidam do seu respeito para com a liberdade de escolha dos indivíduos. Afinal, o terapeuta irá manipular e controlar deliberadamente o comportamento de seu cliente. Isto é verdade. Porém, não é diferente de outros contextos nos quais há interação humana. Nas escolas, nas empresas, nas instituições religiosas, nas relações interpessoais o controle é onipresente. No entanto, ele não é, na maioria das vezes, explicitado. No caso da terapia comportamental, o objetivo do controle por parte do terapeuta é o bem-estar do terapeutizando, e este estará sempre a par do planejamento e da direção tomados pelo terapeuta. 0 controle é explícito e passível de discussão. Os objetivos e as metas a serem ajxajjçados na terapia são definidos conjuntamente e com base nas necessidades que o terapeutizando apresenta. Ele é quem irá decidir o que deverá ser trabalhado, decidirá se concorda com as análises apresentadas pelo terapeuta e se aceita executar o plano de intervenção proposto. Certamente os valores pessoais do terapeuta irão permear todo o processo. Isso porqueo analista do comportamento é uma pessoa comum, com uma história de vida específica e que também tem o seu comportamento controlado por determinadas contigências de reforço. No entanto, de forma alguma seus valores poderão se sobrepor aos do cliente. Ao contrário: o terapeuta terá passado por uma história de condicionamento que faz com que ele possa mostrar sempre o maior respeito e consideração por qualquer valor, crença ou cultura, mesmo que seja totalmente distinta da sua própria. Isto é, o profissional estará preparado para lidar com as diferenças individuais respeitando-as e sem ter de transformá-las em análogas às suas próprias concepções. Por vezes, este é um exercido difícil, já que freqüen-temente o profissional irá se deparar com questões que vão se contrapor a sua experiência. Contudo, se esse contraponto não puder ser utilizado como instrumento que vá contribuir para o avanço do processo do terapeutizando, de maneira nenhuma poderá atrapalhar. Por isso se faz necessário que o terapeuta comportamental esteja sempre amparado por contingências que possam facilitar o manejo das dificuldades e garantir a eficácia de seu trabalho. • Contingências de controle: 0 terapeuta deve estar constantemente se expondo à contingências que possam manter em atualização constante sua competência profissional. Começando pela experiência acadêmica, pelo conhecimento sobre o código de ética profissional, e por uma sólida formação em Behaviorismo Radical, Análise Experimental do Comportamento e Análise do Comportamento Aplicada. 0 profissional deverá também estar inserido radicalmente na sociedade onde vive, conhecer a sua realidade social e os valores básicos do seu tempo. Aqui, podemos destacar aqueles valores que dizem respeito aos direitos humanos, considerados como aqueles que nos possibilitam viver plenamente a nossa condição humana — liberdade, igualdade, segurança, felicidade. Isto quer dizer que todo homem tem direito não só de viver, mas de viver bem. 0 comportamentalista deverá estar envOtvido na sua comunidade profissional, na qual terá acesso à produção cientifica de ponta, à literatura clássica e de vanguarda. Deverá ter pos-sibilidade de discutir seu exercício e expor seu trabalho a avaliação, questionamento e crítica por parte de seus pares. Além disto, é importante para o terapeuta, principalmente no caso dos iniciantes, a periodicidade de supervisão. A supervisão irá funcionar como uma oportunidade para ampliação das análises funcionais que são caracteristicamente multidimensionais e para ampliação das alternativas de intervenção. A terapia pessoal do comportamentalista também é de grande importância para sua formação como terapeuta. Tal expe-riência promove melhorias em repertórios comportamentais neces-sários ao clínico, como por exemplo, assertividade e equilíbrio emocional. • Habilidades importantes: Algumas qualidades pessoais relevantes para um terapeuta são apontadas por Rangé, Guillardi, Kerbauy, Falcone e Ingberman (1995): "(1) possuir uma cosmovisão e uma filosofia de vida que dê consistência a seu comportamento e congruência a si como pessoa; (2) capacidade de tolerância à frustração, de persistência, paciência; (3) capacidade de não envolvimento pessoal, de descentramento; (4) capacidade de mostrar ânimo, otimismo, dinamismo, carisma, liderança; equilíbrio emocional." (pág. 345) 0 terapeuta deverá ter para com seu cliente uma atitude cordial e de aceitação. Isto irá contribuir para o estabelecimento de um clima de segurança e afetividade essencial para o desenvolvimento do processo. 0 terapeuta deverá mostrar interesse genuino, com preensão e apoio à pessoa do terapeutizando. 0 que é diferente de aceitar e apoiar comportamentos específicos. Esses são ingredientes fundamentais no estabelecimento de uma relação terapêutica propícia ao bom andamento da terapia. Segundo Rangé (1995), a relação terapêutica constitui o território da mudança. Por esta razão, tal território deve estar bem preparado. A confiança no terapeuta e a segurança de seu apoio irão facilitar descrições fidedignas e precisas do cliente. Muitas vezes, será preciso modelar certos comportamentos que são necessários no repertório do cliente: auto-observação e auto- descrição. 0 terapeuta irá fornecer SDs claros e reforço efetivo para as respostas aproximativas desses objetivos. Cordialidade, empatia, e afeto são ingredientes que farão do processo terapêutico um contexto agradável. Estes elementos irão também contribuir para que a aprovação do terapeuta funcione como reforço efetivo. Por outro lado, e sobretudo, para que a aprovação e os sinais de concordância do profissional sejam reforçadores eficazes, o cliente precisa estar seguro de que seu terapeuta é experiente e perito em análise e mudança de comportamento, ou seja, um profissional competente, que sabe o que está fazendo. 0 terapeuta funcionará basicamente como uma fonte de estímulos discriminativos e reforçadores que constitua contingências apropriadas ao desenvolvimento de habilidades importantes para o terapeutizando. Como nos ensinam, dentre outros, Skinner (1974/ 93); Rangé, Guillardi, Kerbauy, Falcone sT Ingberman (1995), com esse objetivo, o profissional poderá então sugerir, dar conselhos, instruções, fazer questionamentos e críticas, confrontar, elogiar e mostrar aprovação à comportamentos de seu cliente. Através de uma análise funcional rica e precisa, o profissional poderá lançar mão de qualquer um desses instrumentos de intervenção de forma adequada e no momento apropriado. Por fim, uma importante parte do processo da Terapia Comportamental é o planejamento da manutenção dos efeitos terapêuticos. 0 comportamentalista precisa garantir que as habilidades conquistadas por seu cliente funcionarão mesmo depois do término da terapia. Afinal, a terapia é uma contingência artificial que não é e não deve ser parte constante na vida de uma pessoa. 0 terapeuta irá trabalhar no sentido de colocar o comportamento adequado do indivíduo sob controle de reforçamento natural, ou seja, fazer com que o cliente esteja sensível aos bons efeitos que suas novas habilidades produzem em sua vida cotidiana. E, principal-mente, irá trabalhar durante todo o processo ensinando ao terapeu-tizando fazer análises funcionais das suas próprias contingências e construir suas próprias estratégias de modificação e resolução de problemas. Isto significa ensinar-lhe a ser seu próprio terapeuta. Referências B ibliográficas Caballo, V. E. (1996). Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. São Paulo: Livraria Santos Editora. Guillardi, H. J. (1995). A Formação do Terapêuta Comportamental. Que Formação? In H. W. Lettner & B. P. Rangé, Manual de Psicoterapia Comportamental. São Paulo: Editora Manole. (Trabalho original publicado 1988.) Lé Sénéchal Machado, A. M. Uma Visão Panorâmica da Terapia Comportamental de Orientação Behaviorista Radical. Desafio Revista Interativa de Ciências Sociais. http://www.ibase.orQ.br/~desafio/psil3.htm Lipp, M. N. (1995). Ética e Psicologia Comportamental. In B. P. Rangé (Org.), Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. Pesquisa, Prática, Aplicações e Problemas. Campinas: Editorial Psy. Rangé, B. & Erthal, T. C. (1988). A Relação Terapêutica na Abordagem Comportamental. In H. W. Lettner & B. P. Rangé, Manual de Psicoterapia Comportametal. São Paulo: Editora Manole. Rangé, B. P., Guillardi, H. J., Kerbauy, R. R., Falcone, E. M., & Ingberman (1995). Ensino, Treinamento e Formação em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. In B. P. Rangé (Org.), Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. Pesquisa, Prática, Aplicações e Problemas. Campinas: Editorial Psy. Rangé, B. P. (1995). Psicoterapia Comportamental. In B. P. Rangé (Org.), Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. Pesquisa,
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