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Análise e Interpretação de Dados na Pesquisa Qualitativa Gomes (2003)

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Análise e Interpretação de Dados na Pesquisa Qualitativa – Gomes (2003)
Inicialmente, Gomes faz três observações iniciais antes de aprofundar na análise de dados.
1. A primeira diz respeito ao fato da análise e da interpretação dentro de uma perspectiva qualitativa não terem como finalidade contar opinião ou pessoas. O seu foco é, principalmente, a exploração do conjunto de opiniões e das representações sociais sobre o tema que se propõe a investigar. O autor diz que esse estudo do material não precisa abranger a totalidade das falas e expressões dos interlocutores porque, no geral, a dimensão sociocultural das opiniões e representações de um grupo que tem as mesmas características costuma ter muitos pontos em comum, ao mesmo tempo que apresenta singularidades próprias da biografia de cada interlocutor. Por outro lado, também devemos considerar que sempre haverá uma diversidade de opiniões e crenças dentro de um mesmo segmento social e a pesquisa qualitativa deve dar conta dessa diferenciação interna dos grupos. Então, no processo de análise e interpretação, o pesquisador deve caminhar tanto na direção do que é homogêneo quanto no que se diferencia dentro de um mesmo meio social.
2. Outra observação importante é acerca da diferença conceitual entre análise e interpretação e da distinção com o termo descrição. Segundo Gomes, na descrição as opiniões dos informantes são apresentadas da maneira mais fiel possível; já na análise, o propósito é ir além do que foi descrito, fazendo uma decomposição dos dados e buscando uma relação entre as partes; e por último, na interpretação busca-se o sentido das falas e das ações para se chegar a uma compreensão que vai além do descrito e analisado. Desse modo, a interpretação assume o foco central na pesquisa qualitativa. Quanto a essas três formas de tratamento, é importante ressaltar que elas não se excluem mutuamente, e nem sempre possuem demarcações distintas.
3. Por fim, o autor ressalta que ao falar do processo de análise e interpretação, estamos falando do momento em que o autor está finalizando o seu trabalho, ancorando-se em todo o material coletado e articulando com os propósitos da pesquisa e à sua fundamentação teórica. Nesse sentido, existem dois aspectos que precisamos considerar: o primeiro diz respeito ao fato de que a análise e interpretação já ocorrem ao longo de todo o processo; e o segundo, é que em várias pesquisas, ao chegarmos na parte final, descobrimos que precisamos retomar algumas fases anteriores.
Na experiência do autor, não há fronteiras nítidas entre a coleta das informações e o início do processo de análise e interpretação. O importante é fazer uma avaliação do material disponível antes de iniciar a etapa final da pesquisa e verificar se o material disponível revela qualidade, principalmente quanto à impressão e à clareza dos registros; e se é suficiente para a pesquisa ( relacionados com o que se pretende estudar).
Em relação a história e conceituação da análise de conteúdo, é importante ressaltar que esse procedimento é uma adaptação da tradicional técnica que surgiu no âmbito da pesquisa quantitativa. 
A análise de conteúdo surge no início do século XX, num cenário em que predominava o behaviorismo, que é uma corrente psicológica que preconizava a descrição de comportamentos com o máximo de rigor e cientificidade, e portanto, era concebida a partir de uma perspectiva quantitativa. Essa concepção foi muito bem definida por Berelson que afirmava que essa técnica de pesquisa se voltava a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto de comunicação.
Após a primeira metade do século XX, começaram a surgir controvérsias sobre a técnica propriamente dita, seu grau de cientificidade e sobre sua eficácia. As discussões dividiram teóricos e pesquisadores que defendiam da perspectiva quantitativa (priorizando a frequência com que surgem as características dos conteúdos de um tema) e os que defendiam uma perspectiva qualitativa (valorizando a presença ou ausência de uma característica de conteúdo ou de fragmento de mensagem). Existiam ainda autores que buscavam conciliar as duas perspectivas, buscando formas e possibilidades de conjugar o formalismo estatístico e a análise qualitativa do material.
A história da análise de conteúdo – com seus primórdios, sua expansão e sua atualização até os anos 70 – foi muito bem sistematizada por Bardin em sua obra clássica. 
Segundo a autora, a análise de conteúdo é um "conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens" (Bardin, 1979, p.42).
Com essa definição, alguns avanços já são percebidos na década de 70, como por exemplo, a existência de mais de uma técnica para analisar conteúdos de mensagem; a possibilidade de se analisar conteúdo a partir de uma análise qualitativa; e o uso de inferências que partem da descrição dos conteúdos explícitos para se chegar as dimensões que vão além das mensagens.
A aplicação da análise de conteúdo é bastante variada. Gomes traz alguns exemplos de como essa técnica pode ser aplicada: a análise de obras de um romancista para identificar o seu estilo e sua personalidade; análise de depoimentos de telespectadores que assistem a um programa u de depoimentos de leitores de um jornal para determinar os efeitos dos meios de comunicação em massa; análise de livros didáticos para desvendar a ideologia subjacente; e análise de depoimentos de representantes de um grupo social para se levantar o universo vocabular deste grupo
Explicar quadro: na primeira coluna, a autora divide os tipos de códigos que podem ser analisados: linguístico escrito e oral, iconográficos (fotografias, imagens e filmes) e outros códigos semióticos (comportamento, objeto e música). Nas outras colunas, Bardin exemplifica os meios de comunicação para cada código, de acordo com o número de pessoas implicadas.
Mais adiante, o autor vai apontar que Bardin indica várias maneiras para analisar conteúdos de materiais de pesquisa. Dentre elas: a análise de avaliação ou a análise representacional; análise de expressões; análise de enunciação; e análise temática.
1. A análise de avaliação se presta a medir as atitudes do locutor quanto aos objetos de que fala, levando em conta que a linguagem representa e reflete quem a utiliza.. Nessa análise, são levados em conta a direção (favor ou contra) e intensidade das atitudes.
2. Na análise de expressão, os pesquisadores trabalham com os indicadores para atingir a inferência formal, partindo do princípio que existe uma correspondência entre o tipo de discurso, as características do locutor e do seu meio. Nessa modalidade, a ênfase seria conhecer os traços pessoais do autor da fala.
3. A análise de enunciação costuma ser usada para analisar entrevistas abertas, entendendo a comunicação como um processo e não um dado estatístico. Essa modalidade de análise trabalha com quatro aspectos: as condições de produção da fala; análise das estruturas gramaticais; análise da lógica organizacional; e análise das figuras de retórica. Como essa técnica tem influência da psicanálise Lacaniana, procura-se focalizar as estruturas formais que podem esconder conflitos latentes, analisando jogo de palavras, chistes, lapsos e silêncio.
4. Análise temática tem como conceito central o tema, que ser apresentado através de uma palavra, uma frase e um resumo. Bardin fala que a análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja a presença e frequência de aparição pode significar alguma coisa.
Elementos obtidos através da decomposição da mensagem: Unidades de registro e unidades de contexto
Dentre os procedimentos metodológicos da análise de conteúdo a partir da perspectiva qualitativa, Gomes destaca os seguintes: categorização, inferência, descrição e interpretação. Esses procedimentos não necessariamenteocorrem de forma sequencial, mas o processo costuma ser: decompor o material analisado em partes, de acordo com as unidades de registro e contexto escolhidas; distribuir as partes em categorias; fazer uma descrição do resultado da categorização; fazer inferências dos resultados; e interpretar os resultados obtidos com base na fundamentação teórica adotada.
A categorização, definida por Bardin, é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo critérios. As categorias podem ser definidas tanto previamente, como após a análise do material de pesquisa. 
São definidas algumas características para as categorias, como por exemplo:
1. Homogêneas, ou seja, cada categoria deve ser obtida a partir dos mesmos princípios
2. Exaustivas, ou seja, as categorias devem dar conta de todo o conjunto analisado
3. Exclusivas: um aspecto do conteúdo do material não pode ser classificado em mais de uma categoria
4. Concretas, ou seja, não serem definidas por termos muito abstratos
5. E adequadas, ou seja, adaptada ao conteúdo e objetivo da pesquisa
A inferência é uma fase intermediária entre a descrição e a interpretação. Bardin sugere que os pesquisadores façam as seguintes perguntas para fazer inferência: O que conduziu a um determinado enunciado? Quais as consequências que um determinado enunciado pode provocar? Basicamente, é um questionamento clássico sobre “quem diz o que, a quem, como e com que efeito?”
Na interpretação, busca-se ir além do material a fim de atribuir um grau de significação mais ampla aos conteúdos analisados. A interpretação consiste em relacionar as estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos enunciados presentes na mensagem. Chegamos a uma interpretação a partir da síntese entre: questões da pesquisa, resultados obtidos, materiais coletados, inferências realizadas e fundamentação teórica sólida.
Na primeira etapa, o pesquisador busca realizar uma leitura exaustiva para compreender o material selecionado, buscando: ter uma visão de conjunto; apreender as particularidades do material; elaborar pressupostos iniciais; escolher formas de classificação inicial; e determinar os conceitos teóricos que orientarão a análise.
Na segunda etapa, é realizada a exploração do material. Neste momento procura-se: distribuir trechos, frases e fragmentos de cada texto da análise pelo esquema de classificação inicial; fazer uma leitura dialogando com as partes dos textos; identificar, através de inferências, os núcleos de sentido; dialogar os núcleos com os pressupostos iniciais; analisar os diferentes núcleos para buscar uma temática mais ampla; reagrupar as partes dos textos por temas encontrados; e elaborar uma redação por tema.
Na parte final, de tratamento dos resultados, o objetivo é elaborar uma síntese interpretativa através de uma redação que possa dialogar os temas com objetivos, questões e pressupostos da pesquisa

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