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Nutrição nos Transtornos Alimentares APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NUTRIÇÃO CLÍNICA (CENC) Profª. Annie Schtscherbyna COORDENAÇÃO Profª. Drª Glorimar Rosa RIO DE JANEIRO 2021 Nutrição nos Transtornos Alimentares APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 3 FICHA CATALOGRÁFICA TODO CONTEÚDO DESTA APOSTILA É PROTEGIDO PELA LEI, SENDO EXCLUSIVA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NUTRIÇÃO CLÍNICA. SOB PENA DE RESPONDER, CIVIL E CRIMINALMENTE, PELAS SANÇÕES PREVISTAS NA LEI DE DIREITOS AUTORAIS NO 9610/98 E DO ARTIGO 184 DO CÓDIGO PENAl. ROSA, Glorimar. Nutrição nos Transtornos Alimentares, Rio de Janeiro, 2021. Série - Nutrição Clínica da teoria à prática baseada em evidências – site: www.cenc.com.br, Abril de 2021. Páginas 18. Inclui referências. ISBN – 978-65-00-16171-7. 1. Transtornos alimentares. 2. Anorexia nervosa. 3. Bulimia nervosa. 4. Tratamento APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 4 Sumário 1. Definição ................................................................................................ 5 2. Etiologia ................................................................................................. 5 3. Diagnóstico ............................................................................................. 6 4. Prevalência ............................................................................................. 7 5. Prognóstico ............................................................................................ 7 6. Pica ......................................................................................................... 8 7. Transtorno da ruminação ....................................................................... 9 8. Transtorno alimentar restritivo/ evitativo .............................................. 9 9. Anorexia nervosa .................................................................................. 10 10. Bulimia nervosa .................................................................................. 12 11. Transtorno da compulsão alimentar ................................................... 13 12. Transtorno alimentar especificado ..................................................... 15 13. Transtorno alimentar não-especificado .............................................. 15 14. Tratamento ........................................................................................ 15 15. Considerações finais ........................................................................... 17 16. Referências bibliográficas ................................................................... 18 APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 5 1. Definição Distúrbios persistentes do comportamento alimentar ou comportamento voltado para controlar o peso que prejudica de maneira significativa a saúde física ou o funcionamento social. Esses distúrbios não devem ser secundários a qualquer acometimento reconhecido da saúde física em geral ou a qualquer outro transtorno psiquiátrico. Obsessões com comida, peso e forma corporal podem sinalizar um transtorno alimentar. 2. Etiologia Sua etiologia é multifatorial, com interação entre fatores genéticos, biológicos, psicológicos, socioculturais e familiares (Carmo, C. C., et al, 2014). A idade média de início do transtorno da compulsão alimentar é de 21 anos e da anorexia nervosa e da bulimia nervosa é de 18 anos. No entanto, inúmeros trabalhos têm apresentado que a idade de início dos transtornos alimentares vem se antecipando nos últimos anos. No caso da anorexia nervosa, por exemplo, seu início pode ocorrer precocemente, até mesmo antes da ocorrência da menarca. Algumas condições parecem aumentar o risco de desenvolver um transtorno alimentar, como: atuar em profissionais que valorizam o corpo como modelos, atletas de esportes que tem a classificação das categorias a partir de pesagens e profissionais da área da saúde, sobretudo nutricionistas. Além destes, filhos de profissionais da área da saúde como nutricionistas, médicos e professores de educação física também parecem compor um grupo de risco para o desenvolvimento dos transtornos alimentares. Essa maior predisposição parece estar ligada a uma maior preocupação de seus pais em relação a se ter uma alimentação saudável, necessidade de praticar exercícios físicos e manter-se com o peso saudável (Carmo, C. C., et al, 2014). APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 6 Destaca-se ainda que mulheres apresentam maior risco de desenvolver transtornos alimentares do que homens (Carmo, C. C., et al, 2014). 3. Diagnóstico Atualmente, o diagnóstico de um transtorno alimentar deve ser baseado nos critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V) 5ª edição (2013) ou na Classificação Internacional das Doenças 11ª edição, publicação da Organização Mundial da Saúde (2018). A classificação mais amplamente usada é a do DSM. Os transtornos alimentares apareceram em 1980 dentro do DSM-III, seus critérios foram revisados em 1987 e evoluíram ao longo do tempo com o DSM-IV em 1994, então outra versão revisada em 2000. Em 2013 foi publicado o DSM-V, ou seja, a última revisão do DSM. Paralelamente, a CID, incluiu os transtornos alimentares pela primeira vez em 1977 (CID-9) e revisou sua classificação em 1990 (CID-10). Já em 2018 foi publicada a sua 11ª edição, atualmente em vigor. O diagnóstico deve ser realizado por profissional médico, de preferência especializado no tratamento de pacientes com transtornos alimentares. É importante ressaltar que o nutricionista não está habilitado a realizar o diagnóstico de um transtorno alimentar. Dessa forma, caso opte por aplicar algum questionário que investiga sintomas sugestivos de transtornos alimentares em algum paciente, o nutricionista deve estar ciente da necessidade de encaminhar para avaliação os casos que testarem positivo nos testes. O diagnóstico dos transtornos alimentares é complexo, podendo ser difícil a sua realização. Apesar disso, os treinamentos a diferentes profissionais e a maior divulgação APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 7 do que são os transtornos alimentares parece estar facilitando a realização de diagnósticos mais precocemente. Vale ressaltar que quanto mais cedo o paciente receber o diagnóstico e iniciar o tratamento especializado, melhor o prognóstico. 4. Prevalência A prevalência de transtornos alimentares ao longo da vida é de 2,7%. Os transtornos alimentares foram mais de duas vezes mais prevalentes entre as mulheres (3,8%) do que entre os homens (1,5%). A prevalência parece aumentar modestamente com a idade (“Position Paper of the Society for Adolescent Health and Medicine: Medical Management of Restrictive Eating Disorders in Adolescents and Young Adults,” 2015). 5. Prognóstico Apesar dos avanços do tratamento dos transtornos alimentares e do maior treinamento de profissionais, os transtornos alimentares estão relacionados a uma alta taxa de mortalidade relacionadas a complicações psiquiátricas, como suicídio, e clínicas, como parada cardíaca e desequilíbrio hidroeletrolítico. Além disso, tem elevado impacto na perda de qualidade de vida. Em relação a outros transtornos mentais, pesquisa recente demonstrou que mais da metade (56,2%) dos entrevistados com anorexia nervosa, 94,5% com bulimia nervosa e 78,9% com transtorno da compulsão alimentar preencheram os critérios para pelo menos um dos principais transtornos do DSM. Os transtornos alimentares atualmente reconhecidos são: pica, transtornoda ruminação, transtorno alimentar restritivo/ evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar. APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 8 6. Pica Diagnóstico: A. Ingestão persistente de substâncias não nutritivas, não alimentares, durante um período mínimo de um mês. B. A ingestão é inapropriada ao estágio de desenvolvimento do indivíduo. C. O comportamento alimentar não faz parte de uma prática culturalmente aceita. D. Se ocorrer no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual], transtorno do espectro autista, esquizofrenia) ou condição médica (incluindo gestação), é suficientemente grave a ponto de necessitar de atenção clínica adicional. Relatos de deficiências de vitaminas e minerais (p. ex., zinco, ferro), mas frequentemente nenhuma outra anormalidade biológica é encontrada. Complicações médicas gerais (p. ex., problemas intestinais mecânicos; obstrução intestinal, como a que resulta de um bezoar; perfuração intestinal; infecções como toxoplasmose e toxocaríase em decorrência da ingestão de fezes ou sujeira; intoxicação, como pela ingestão de tinta à base de chumbo). Quando a ingestão de substâncias não nutritivas, não alimentares, é usada essencialmente como meio de controle do peso, anorexia nervosa deverá ser o diagnóstico primário (exemplo papelão). Deve-se diferir de autolesão não suicida e comportamentos de autolesão suicida nos transtornos da personalidade (American Psychiatric Association, 2013). APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 9 7. Transtorno da ruminação Diagnóstico A. Regurgitação repetida de alimento durante um período mínimo de um mês. O alimento regurgitado pode ser remastigado, novamente deglutido ou cuspido. B. A regurgitação repetida não é atribuível a uma condição gastrintestinal ou a outra condição médica (p. ex., RGE, estenose do piloro). C. Não ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno de compulsão alimentar ou transtorno alimentar restritivo/evitativo. D. Se os sintomas ocorrerem no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual] ou outro transtorno do neurodesenvolvimento), eles são suficientemente graves para justificar atenção clínica adicional. A regurgitação no transtorno de ruminação deverá ser frequente, ocorrendo pelo menos várias vezes por semana, em geral todos os dias. O diagnóstico pode ser feito com base no autorrelato ou em informações corroborativas de pais ou cuidadores. O comportamento pode ser descrito como habitual ou fora de controle (American Psychiatric Association, 2013). 8. Transtorno alimentar restritivo/ evitativo Perturbação alimentar (p. ex., falta aparente de interesse na alimentação ou em alimentos; esquiva baseada nas características sensoriais do alimento; preocupação acerca de consequências aversivas alimentar) manifestada por fracasso persistente em satisfazer as necessidades nutricionais e/ou energéticas apropriadas. Diagnóstico APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 10 A. Associado a um (ou mais) dos seguintes aspectos: 1. Perda de peso significativa (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado ou atraso de crescimento em crianças). 2. Deficiência nutricional significativa. 3. Dependência de alimentação enteral ou suplementos nutricionais orais. 4. Interferência marcante no funcionamento psicossocial. B. A perturbação não é mais bem explicada por indisponibilidade de alimento ou por uma prática culturalmente aceita. C. A perturbação alimentar não ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa, e não há evidência de perturbação na maneira como o peso ou a forma corporal é vivenciada. D. A perturbação alimentar não é atribuível a uma condição médica concomitante ou mais bem explicada por outro transtorno mental. Quando a perturbação alimentar ocorre no contexto de uma outra condição ou transtorno, sua gravidade excede a habitualmente associada à condição ou ao transtorno e justifica atenção clínica adicional (American Psychiatric Association, 2013). 9. Anorexia nervosa A anorexia nervosa é caracterizada por uma redução significativa e persistente na ingestão de alimentos, levando a um peso corporal extremamente baixo no contexto de idade, sexo e saúde física; uma busca implacável pela magreza; uma distorção da imagem corporal e intenso medo de ganhar peso; e comportamento alimentar extremamente perturbado. Muitas pessoas com anorexia consideram-se obesas, mesmo quando estão famintas ou gravemente desnutridas (American Psychiatric Association, 2013). APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 11 Desde a última revisão do DSM a amenorreia não compõe mais os critérios necessários para o diagnóstico da anorexia nervosa. Essa exclusão deve-se ao fato da anorexia nervosa estar iniciando cada vez mais precocemente, a dificuldade de coletar informações a cerca do ciclo menstrual, a diferenças da alteração do ciclo menstrual em diferentes percentuais de gordura corporal e consumo alimentar, a possibilidade da presença de anorexia nervosa em mulheres que já apresentaram menopausa e a dificuldade de critério similar em homens (American Psychiatric Association, 2013). A prevalência de anorexia nervosa ao longo da vida em adultos foi de 0,6%, sendo três vezes maior entre as mulheres (0,9%) do que entre os homens (0,3%). Subtipos (CID-11) - Restritivo: Dieta, jejum e/ou exercício excessivo. - Compulsão alimentar purgativa (bulímico): Nos três meses prévios, o indivíduo se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Melhor prognóstico. Gravidade - Pode ser aumentado de maneira a refletir sintomas clínicos, o grau de incapacidade funcional e a necessidade de supervisão. - Leve: IMC ≥ 17 kg/m2 - Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2 - Grave: IMC 15-15,99 kg/m2 - Extrema: IMC < 15 kg/m2 APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 12 10. Bulimia nervosa Bulimia nervosa é caracterizada por compulsão alimentar (comer grandes quantidades de comida em um curto período de tempo, juntamente com a sensação de perda de controle) seguida por um tipo de comportamento que compensa a compulsão, como purgação (por exemplo, vômitos, uso excessivo de laxantes ou diuréticos), jejum e/ ou exercício físico excessivo. Ao contrário da anorexia nervosa, as pessoas com bulimia estão dentro da faixa normal de peso ou até apresentam sobrepeso. Mas assim como as pessoas com anorexia, muitas vezes temem ganhar peso, desejam desesperadamente perder peso e estão profundamente infelizes com o tamanho e a forma de seu corpo (American Psychiatric Association, 2013). A prevalência geral de bulimia nervosa foi de 0,3%, sendo cinco vezes maior no sexo feminino (0,5%) do que no masculino (0,1%). A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar, caracterizado por (American Psychiatric Association, 2013): 1. Ingestão, em um período de tempo determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria sob circunstâncias semelhantes. 2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo). B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso. APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 13 C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatóriosinapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses. D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais. E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. Comportamentos associados à compulsão alimentar (pelo menos 3 devem estar presentes): 1 – Comer rapidamente; 2 – Comer até sentir-se cheio; 3 – Comer grandes quantidades de comida mesmo sem estar com fome; 4 – Comer sozinho por embaraço pela quantidade de comida; 5 – Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após a compulsão; 6- Comer todo o tipo de alimento, saborosos ou não. Gravidade (número de comportamentos compensatórios por semana) Leve: 1 a 3 episódios Moderada: 4 a 7 episódios Grave: 8 a 13 episódios Extrema: 14 ou mais episódios 11. Transtorno da compulsão alimentar O transtorno da compulsão alimentar é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar, durante os quais a pessoa sente uma perda de controle e APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 14 acentuada angústia devido à alimentação. Ao contrário da bulimia nervosa, os episódios de compulsão alimentar não são seguidos de purgação, exercícios excessivos ou jejum. Como resultado, as pessoas com transtorno da compulsão alimentar frequentemente apresentam sobrepeso ou são obesas (American Psychiatric Association, 2013). A prevalência geral do transtorno da compulsão alimentar foi de 1,2%, sendo duas vezes maior entre as mulheres (1,6%) do que entre os homens (0,8%). A prevalência de transtorno da compulsão alimentar ao longo da vida foi de 2,8% (American Psychiatric Association, 2013). A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. B. Associados a três (ou mais) dos seguintes aspectos: 1. Comer mais rapidamente do que o normal. 2. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio. 3. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome. 4. Comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo. 5. Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida. C. Sofrimento marcante em virtude da compulsão alimentar. D. Os episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante três meses. E. A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de comportamento compensatório inapropriado como na bulimia nervosa e não ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou anorexia nervosa. APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 15 GRAVIDADE (número de compulsões por semana) - Leve: 1 a 3 episódios - Moderada: 4 a 7 episódios - Grave: 8 a 13 episódios - Extrema: 14 ou mais episódios 12. Transtorno alimentar especificado Os sintomas característicos de um TA predominam, mas não satisfazem todos os critérios para qualquer transtorno na classe diagnóstica de transtornos alimentares. Deve- se registrar “outro transtorno alimentar especificado”, seguido da razão específica (p. ex., “bulimia nervosa de baixa frequência”) (American Psychiatric Association, 2013). 13. Transtorno alimentar não-especificado Os sintomas característicos de um TA predominam, mas não satisfazem todos os critérios para qualquer transtorno na classe diagnóstica de transtornos alimentares. A categoria transtorno alimentar não especificado é usada nas situações em que o clínico opta por não especificar a razão pela qual os critérios para um transtorno alimentar específico não são satisfeitos e inclui apresentações para as quais não há informações suficientes para que seja feito um diagnóstico mais específico (p. ex., em salas de emergência) (American Psychiatric Association, 2013). 14. Tratamento APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 16 O tratamento de pacientes com transtorno alimentar deve ser realizado por equipe multidisciplinar especializada composta por psiquiatra, psicólogo, nutricionista, clínico geral, professor de educação física, dentre outros (Farias, C. T. S., et al, 2020). Aproximadamente um terço (33,8%) dos pacientes com anorexia nervosa, 43,2% com bulimia nervosa e 43,6% com transtorno da compulsão alimentar procuram tratamento específico para seu transtorno alimentar. Mulheres com bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar procuraram tratamento mais do que os homens. No entanto, os homens com anorexia nervosa procuraram tratamento com mais frequência do que as mulheres. A maioria dos entrevistados com anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica (50,0% -63,2%) recebeu tratamento para problemas emocionais em algum momento de suas vidas. O nutricionista ou terapeuta nutricional tem papel no manejo nutricional dos pacientes, propondo modificações de consumo, padrão e comportamento alimentar. O objetivo do tratamento nutricional não é apenas promover um bom estado nutricional e alimentação saudável, mas uma boa relação do paciente com a comida e com o corpo (Farias, C. T. S., et al, 2020). Nas consultas iniciais deve-se realizar ampla anamnese coletando informações sobre a história da doença e situação atual, oscilações de peso, identificação de restrição/ compulsão (Frequência, alimentos proibidos – tipo e quantidade), presença de métodos compensatórios, funcionamento do trato gastrointestinal e hábitos alimentares (R24 horas e diário) (AED, 2020). O objetivo principal na dietoterapia é evitar restrição alimentar. Na anorexia nervosa a meta ganho de massa corporal gradual (recuperação de estado nutricional), evitando o APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 17 risco de síndrome da realimentação. Já na bulimia nervosa a meta principal é a estabilização da alimentação com quebra dos ciclos de ingestão alimentar excessiva seguida de purgação. Para o transtorno da compulsão alimentar o objetivo principal é a redução dos episódios de compulsão alimentar, lembrando que o emagrecimento será consequência dessa redução. A máxima “restrição leva a compulsão” deve ser lembrada com frequência ao paciente, até para incentiva-lo a reintroduzir alimentos considerados proibidos (AED, 2020). 15. Considerações finais Os transtornos alimentares são graves acometimentos que podem levar aumentado risco de comorbidade e da mortalidade. É importante buscar tratamento multidisciplinar especializado. Quanto mais cedo a pessoa começar a se tratar, maiores serão as chances de sucesso. APOSTILA DE NUTRIÇÃO NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 18 16. Referências bibliográficas 1. Academy for Eating Disorders Nutrition Working Group (2020). Guidebook for nutrition treatment of eating disorders. 59p. 2. OZIER, A. D.; HENRY, B. W. Position of the American Dietetic Association: Nutrition Intervention in the Treatment of Eating Disorders. Journal of the American Dietetic Association, v. 111, n. 8, p. 1236–1241, ago. 2011. 3. Associação Americana de Psiquiatria (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª ed.). 4. Carmo, CC, Pereira, PML, Cândido, APC (2014). Transtornos Alimentares: uma revisão dos aspectos etiológicos e das principais complicações clínicas. HU Revista, v. 40, n. 3 e 4, p. 173-181. 5. Farias, CTS. A educação alimentar e nutricional como estratégia no tratamento dos transtornos alimentares. Brazilian Journal of health Review, v. 3, n. 4, p. 10611-10620. 6. Organização Mundial da Saúde (2018). Classificação Internacional das Doenças (11ª ed.). 7. Position Paper of the Society for Adolescent Health and Medicine: Medical Management of Restrictive Eating Disorders in Adolescents and Young Adults. Journal of Adolescent Health, v. 56, n. 1, p. 121–125, jan. 2015.
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