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Etnocentrismo, Levi-Strauss

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· Raça e História, Lévi-StraussEtnocentrismo
1. Raça e Cultura
Quando falamos, neste estudo, de contribuição das raças humanas para a civilização, não queremos dizer que os contributos culturais da Ásia ou da Europa, da África ou da América extraíam qualquer originalidade do fato destes continentes serem, na sua maioria, povoados por habitantes de troncos raciais diferentes. 
Se esta originalidade existe -e isso não constitui dúvida- relaciona-se com circunstâncias geográficas, históricas e sociológicas, não com aptidões distintas ligadas à constituição anatômica ou fisiológica dos negros, amarelos ou brancos.
2. Diversidade das culturas
Não devemos esquecer que as sociedades contemporâneas que continuam a ignorar a escrita, aquelas a que nós chamamos “selvagens” ou “primitivas”, foram também elas, precedidas por outras formas, cujo conhecimento é praticamente impossível, mesmo de maneira indireta.
Sociedades que emergem de um ponto em comum não diferem da mesma forma que duas sociedades que em nenhum momento do seu desenvolvimento mantiveram quaisquer relações. Inversamente, sociedades que muito recentemente estabeleceram um contato muito íntimo, parecem oferecer a imagem de uma mesma civilização, ainda que a tenham atingido por caminhos diferentes, que não temos o direito de negligenciar. 
3. O etnocentrismo
A atitude mais antiga e que repousa, sem dúvida sobre fundamentos psicológicos sólidos, pois que tende a reaparecer em cada um de nós quando somos colocados numa situação inesperada, consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais, morais, religiosa, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos. 
4. Culturas arcaicas e culturas primitivas
A continuidade do lugar geográfico nada mudo ao fato de, sobre o mesmo solo, se terem sucedido diferentes populações, ignorantes ou alheias à obra dos seus antecessores e trazendo cada uma consigo crenças, técnicas e estilos opostos.
5. A ideia de progresso
Hoje supomos que, por vezes, o polir e a lascar a pedra coexistiram, isto não acontece como o resultado de um progresso técnico espontâneo saído da etapa anterior, mas como uma tentativa para copiar em pedras as armas e os utensílios de metal que possuíam as civilizações mais “avançadas”.
Admite-se hoje que estas três formas tenham coexistido, constituindo, não etapas de um progresso em sentido único, mas aspectos ou, como se diz também, “faces de uma realidade não estática, mas submetida a variações e transformações muito complexas”.
O “progresso” não é necessário nem contínuo: procede por saltos, ou, tal como diriam os biólogos, por mutações.
6. História estacionária e a história comutativa
Para o observador do mundo físico são os sistemas que evoluem no mesmo sentido que o seu, que parecem imóveis, enquanto que os mais rápidos são aqueles que evoluem em sentidos diferentes. Com as culturas passa-se o contrário, uma vez que estas nos parecem tanto mais ativas quanto mais se deslocam no sentido da nossa, e estacionária quando a sua orientação é divergente.
Todas as vezes que somos levados a qualificar uma cultura humana de inerte ou estacionária devemos, pois, perguntarmo-nos se este imobilismo aparente não resulta da nossa ignorância sobre os seus verdadeiros interesses, conscientes ou inconscientes, se, tendo critérios diferentes dos nossos, esta cultura não é, em relação a nós, vítimas da mesma ilusão.
7. Lugar da civilização ocidental
Longe de permanecer encerradas em si mesmas, todas as civilizações reconhecem, uma após a outra, a superioridade de uma delas, que é a civilização ocidental. 
A civilização ocidental estabeleceu os seus soldados, as suas feitorias, as suas plantações e os seus missionários em todo o mundo: interveio, direta ou indiretamente, na vida de populações de cor, revolucionou de alto a baixo o modo tradicional de existência destas, quer impondo o seu, quer instaurando condições que engendrariam o desmoronar dos quadros existentes sem os substituir por outra coisa. Aos povos subjugados ou desorganizados não restava senão aceitar as soluções de substituição que lhes eram oferecidas ou, caso não estivessem dispostos a isso, esperar uma aproximação suficiente para estarem em condições de os combaterem no mesmo campo. 
8. Acaso e civilização
Sabemos que os etnógrafos são muitas vezes limitados nas suas observações pelas mudanças sutis que a sua simples presença é suficiente para introduzir no grupo humano objeto de seu estudo. 
A humanidade não evolui num sentido único. E se, em determinado plano, ela parece estacionária ou mesmo regressiva, isso não quer dizer que, sob outro ponto de vista, ela não seja sede de importante transformações.
9. A colaboração das culturas
As formas da história mais cumulativa nunca foram resultadas de culturas isoladas, mas sim de culturas que combinam, voluntária ou involuntariamente, os seus jogos respectivos e realizam por meios variados (migrações, empréstimos, trocas comerciais, guerras) estas coligações cujo modelo acabamos de imaginar. 
Querer avaliar contribuições culturais carregadas de uma história milenária e de todo o peso dos pensamentos, sofrimentos, desejos e do labor dos homens que lhes deram existência, referindo-as exclusivamente ao escalão de uma civilização mundial que é ainda uma forma vazia, seria empobrecê-los singularmente, esvaziá-las da sua substância e conservar delas apenas um corpo descarnado. 
Temos, pelo contrário, procurado mostrar que a verdadeira contribuição das culturas não consiste na lista das suas invenções particulares, mas no desvio diferencial que oferecem entre si.
10. O duplo sentido do progresso
A humanidade está constantemente em luta com dois processos contraditórios, para instaurar a unificação, enquanto que o outro visa manter ou restabelecer a diversificação.
A necessidade de preservar a diversidade das culturas num mundo ameaçado pela monotonia e pela uniformidade não escapou certamente às instituições internacionais
· Resenha
Lévi-Strauss defende uma teoria de cooperação entre as comunidades. Segundo ele não há indícios arqueológicos que comprovem tal superioridade ou inferioridade entre diferentes povos. É muito provável que algum povo que tenha inventado algo significativo, tenha assim o feito pelo contato inter tribal, assim esse contato tenha proporcionando a troca de experiências e a agregação de valores para ambas as tribos.
Lévi-Strauss cria um modelo teórico político, onde os indivíduos devem se ajudar mutuamente para caminharem mais facilmente na resolução das dificuldades da vida cotidiana. Um modelo onde as culturas devem somar conhecimento
A diversidade, apesar de não ser mensurável, vinha sendo comumente retratada como uma diferença derivada de um processo evolutivo, ou seja, enquanto algumas culturas evoluíram, outras permaneceram estáticas. Ora, supor que alguma cultura estaria isenta da influência do tempo seria propor um absurdo. Entretanto, tal absurdo permaneceu por muito tempo como sustentáculo das teorias evolucionistas sociais, que viam nas sociedades "primitivas" um estágio anterior do desenvolvimento da cultura ocidental.
Transposta à situação de contatos culturais, conclui-se que quanto maior o número de contato entre culturas diferentes, maiores as probabilidades de desenvolvimentos específicos em quaisquer delas. Dessa forma, Lévi-Strauss procura valorizar a coexistência de diferentes estruturas culturais como forma de impulsionar o "desenvolvimento" de todas elas.
Assim, para uma compreensão mais ampla do "outro" faz-se necessária uma mudança de perspectiva, ou ao menos na crítica da perspectiva tradicional com a qual a sociedade ocidental enxerga o "outro". Dominado pela ideia de "progresso" e, logo, pela construção de sua história como uma evolução paulatina e relativamente constante, o Ocidente toma-se como modelo, o que redunda na explicação evolucionista social anteriormente criticada. Ou seja, é preciso rever o próprio conceito de progresso, que o autor classifica então como não linear e ocorrendo aos "saltos".
Uma vez que a culturaocidental trilhou um caminho de progressão técnica para sua reprodução e expansão, é com base nesse conceito que observa as demais, tornando-se incapaz de perceber eventuais "desenvolvimentos" de outras culturas que trilharam outros caminhos. Deste ângulo de visão, quaisquer progressos técnicos de outras sociedades são vistos como obra do "acaso", diferentemente da sociedade ocidental que "progride" pela reflexão e investimento objetivo e consciente.
Enfim, na resposta à questão sobre como as diferentes sociedades e culturas interagem, encontra-se a valorização da diferença como elemento produtivo. É justamente o afastamento diferencial entre as culturas que oferece as maiores probabilidades de configuração de novos elementos de desenvolvimento para todas elas.
· Aula
- Definição de etnocentrismo: “Visão de mundo na qual o centro de tudo é o próprio grupo a que o indivíduo pertence; tomando-o por base, são escalonados e avaliados todos os outros grupos” (SUMNER, W. G., Folkways, Boston: Ginn, 1906).
- O etnocentrismo pode ser dito “a atitude mais antiga” no trato com a alteridade.
 [Do texto de Lévi-Strauss, “Raça e História”, p. 333-4; grifo meu]: A atitude mais antiga, e que se baseia indiscutivelmente em fundamentos psicológicos sólidos (já que tende a reaparecer em cada um de nós quando nos situamos numa situação inesperada), consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais: morais, religiosas, sociais, estéticas, que são as mais afastadas daquelas com as quais nos identificamos. “Hábitos de selvagens”, “na minha terra é diferente”, “não se deveria permitir isso” etc, tantas reações grosseiras que traduzem esse mesmo calafrio, essa mesma repulsa diante de maneiras de viver, crer ou pensar que nos são estranhas. Assim, a Antiguidade confundia tudo o que não participava da cultura grega (depois greco-romana) sob a mesma denominação de bárbaro; a civilização ocidental utilizou em seguida o termo selvagem com o mesmo sentido. Ora, subjacente a esses epítetos dissimula-se um mesmo julgamento: é provável que a palavra bárbaro se refira etimologicamente à confusão e à inarticulação do canto dos pássaros, opostas ao valor significante da linguagem humana; e selvagem, que quer dizer “da selva”, evoca também um gênero de vida animal, por oposição à cultura humana. Em ambos os casos, recusamos admitir o próprio fato da diversidade cultural; preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma à norma sob a qual se vive. (...) Esta atitude de pensamento, em nome da qual os “selvagens” (ou todos aqueles que se convencionou considerar como tais) são excluídos da humanidade, é justamente a atitude mais marcante e distintiva destes próprios selvagens. Com efeito, sabe-se que a noção de humanidade, englobando, sem distinção de raça ou civilização, todas as formas da espécie humana, é muito recente e de expansão limitada. Mesmo onde ela parece ter atingido seu desenvolvimento mais elevado, não é certo, de modo algum – como a história recente o mostra – que não esteja sujeita a equívocos e regressões. Mas para vastas frações da espécie humana e durante dezenas de milênios, esta noção parece estar totalmente ausente. A humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo da aldeia; a tal ponto, que um grande número de populações ditas primitivas se autodesignam [etônimos] com um nome que significa “os homens” (ou às vezes – digamo-lo com mais discrição? – os “bons”, os “excelentes”, os “completos”), implicando assim que as outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da natureza humana, mas são, quando muito, compostos de “maus”, de “malvados”, de “macacos da terra” ou “ovos de piolho”. Chega-se frequentemente a privar o estrangeiro deste último grau de realidade, fazendo dele um “fantasma” ou uma “aparição”.
- “A alteridade cultural nunca é apreendida como diferença positiva, mas sempre como inferioridade segundo um eixo hierárquico” 
→ “Se toda cultura é etnocêntrica somente a ocidental é etnocida”
◊ O que faz com que a civilização ocidental seja etnocida?
a) O Estado e a “força do um”//processos de homogeneização cultural quando da
constituição do Estado-Nação//identidade nacional → toda formação estatal é etnocida.
◊ diferenças entre “Estados bárbaros” e “Estados civilizados”. O que a civilização ocidental contem que a torna infinitamente mais etnocida que qualquer outra forma de sociedade?
b) Regime de produção econômica → capitalismo → os imperativos produtivistas e exploração incansável de todos os “recursos” naturais e humanos (mão-de-obra)
Se as culturas são diversas, existem, consequentemente, diferentes maneiras de ser etnocêntrico. Isto porque trocamos a própria composição do centro valorativo em torno do qual serão postos em órbita os outros grupos culturais que estão sendo avaliados e escalonados. O etnocentrismo não pode ser percebido senão através de um deslocamento de perspectiva.
 [do texto de Claude Lévi-Strauss, “Raça e História”, p. 334]: Nas grandes Antilhas, alguns anos após a descoberta da América, enquanto os espanhóis enviavam comissões de investigação para pesquisar se os indígenas tinham ou não uma alma, estes últimos dedicavam-se a imergir brancos prisioneiros, a fim de verificar, após uma vigília prolongada, se seu cadáver estava ou não sujeito à putrefação.
Raça e história
Claude Lévi-Strauss
p. 1-24
2020.1-1° período
Professor: Antônio Rafael Barbosa

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