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DIREITO ADMINISTRATIVO I @LarissaSefeltas 2021.1 Professor Marcelo Chaves Aula 1 27.02.2021 Topologia legal Art. 170 e seguintes da CF Decreto Lei 200/67 Bibliografia Manual de Direito Administrativo - José dos Santos Carvalho e FIlho Direito Administrativo - Maria Sylvia di Pietro Introdução ao Direito Administrativo Ramo autônomo do Direito Público É a função administrativa, abrange todos os órgãos, agentes e atividades que a Administração Pública exerce. Objetivo: a sistematização do interesse público. Permeia as três funções do Estado (Legiferante, judicante, administrativa) Cada um dos poderes tem função típica e atípica Mesmo quem não é poder também exerce função administrativa (órgãos de fiscalização, tribunal de contas) Constituição Federal Da Ordem Econômica e Financeira Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_170_.asp http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. Não é interesse do Estado concorrer no mercado, participando da iniciativa privada Só é facultado ao Estado atuar diretamente na esfera econômica nas hipóteses do art. 173 Portanto, rompendo com o liberalismo anterior, sem controle estatal, instaura-se o neoliberalismo, agindo como agente normativo e regulador, conforme preceitua o artigo da CF: Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Caso do professor: Petrópolis está com lojas de roupas fechando em razão das consequências do Covid-19. Para ajudar, o município criou uma empresa Petrópolis Modas para assumir a frente dessas lojas menores. Solução: O Estado é regulador, inclusive por meio de fomento e incentivo. Por exemplo, por meio de lei para isenção de impostos por determinado período, ou acordos municipais para fomento, criação de cursos, etc. Sua ação precisa ser a de fomentar, não como agente interventor. Termos do Professor O Estado Brasileiro e sua Ordem Econômica A CRFB/88 rompe com o modelo de atuação estatal na economia. O artigo 170 da CF estabelece que a atividade econômica deva ser desempenhada, como regra, pelo particular. São princípios da economia brasileira a livre iniciativa, a livre concorrência e o livre exercício (salvo restrições em lei). A atuação do Estado de forma direta na economia somente acontecerá quando se estiver diante de questões relacionadas a relevante interesse coletivo ou a imperativo de segurança nacional, conforme art. 173. A verdadeira missão do Estado brasileiro é a de agente normativo e regulador da ordem econômica por meio das funções de fiscalização, incentivo e planejamento. Diante disso, percebemos que a Constituição adota modelo neoliberal, ou seja, a economia será movimentada pelo particular, porém suas atividades serão reguladas pelo Estado. A expressão “Estado gerencial brasileiro” exprime esse novo modelo, onde o Estado supervisiona as atividades desempenhadas pela iniciativa privada. Este é dividido em três setores: No primeiro há a administração pública, classicamente dividida em administração direta e indireta. O Decreto Lei 200/67 é o ponto de partida de tal estudo. O segundo setor é composto pela parceria entre o Estado e o Mercado (iniciativa privada com fins lucrativos), materializada nas delegações de serviços públicos, por meio de concessão ou permissão (art. 175 da CF). Por fim, o terceiro setor é constituído pela parceria do Estado com a sociedade civil (sem fins lucrativos), por meio de atividades relacionadas à saúde, educação e assistência social. Encontramos aí o Sistema “S”, o Sistema “Os” e o Sistema “Oscip”. __________________________________________________________________________________ Aula 2 06.03.2021 Princípios Norteadores da Administração Pública Princípios explícitos/expressos Critérios no conflito de regras ou princípios: Hierarquia. Norma mais alta prevalece Especialidade. Norma mais específica prevalece sobre a geral Temporal. Norma mais nova prevalece sobre mais antiga Pode cair na prova: Art 39 da CF: Cada ente da federação deve ter seu regime próprio O Estado do Rio, ao invés de fazer um Estatuto novo após promulgação da CRFB/88, utilizou o antigo regulamento. Há duas regras conflitantes previstas, qual deve ser aplicada? Suspensão preventiva é uma medida tomada acautelatória durante PAD, quando a presença do funcionário puder influenciar o processo, mas receberá o salário normalmente, conforme DL 220/75 + Decreto 2479/79. Contudo, a LC 96/2001 alterou o DL de 1975, trazendo que a remuneração não seria integral, mas sim ⅔. Questão: Critério para aplicação de regras. Qual das duas regras será aplicada ao servidor? A LC 96, apesar de não ser um diploma e sim uma alteração, é a norma mais nova. Portanto, pelo critério temporal, seria a lei correta a ser aplicada no caso de funcionário suspenso para investigação de PAD. Princípios expressos estão previstos no art. 37, caput da CRFB/88 “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência…” L.I.M.P.E 1. Legalidade A administração pública está vinculada à lei, devendo obedecer o comando da norma, enquanto o privado é livre para atuar, observando se é defeso em lei, que atua como poder limitante. Para administração pública, lei é o comando. 2. Impessoalidade A administração deve privilegiar o interesse público, e não indivíduos específicos. A lei e os atos devem ser para todos. É a aplicação do princípio da igualdade. ↦ Licitação: Não se observa qual é a empresa, mas a proposta mais vantajosa para o interesse público. ↦ Concurso público: Não se observa candidato, só número. Prova oral: não pode haver preferência, deve seguir uma avaliação mais neutra possível. https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_26.06.2019/art_37_.asp VÍDEO Prova Oral para Delegado de Polícia 3. Moralidade A moralidade administrativa está ligada aos ideais de boa governança, probidade, e não ao conceito pessoal de moral ou imoral. Poderá haver mácula ao princípio da moralidade, ainda que não apoiada na lei de improbidade. Jurisprudência firmada: Qualquer funcionário que recebe acima do teto dos ministros do STF fere o princípio da moralidade, ainda que atenda à legalidade. 4. Publicidade A atuação do poder público deve ser transparente, sendo públicos os atos e decisões. Não para finalidade de divulgar, mas para que possibilite o controle da administração e eventual cobrança na falha de prestação. A regra é que os atos são públicos, mas poderá ter exceções quando não for pertinente ao interesse público. Art. 93 da CF, inciso IX. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observadosos seguintes princípios: IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Exemplo: Processo de divórcio, processos de guarda, alimentos. O dispositivo abaixo regula a publicidade dos atos, porém sua segunda parte traz a hipótese em que há uma violação ao princípio da impessoalidade dentro da publicidade do ato. Art. 37 § 1º, CF A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. 5. Eficiência É a conjugação dos princípios da produtividade com economicidade. Fazer o melhor ao interesse público com os recursos razoáveis disponíveis. “Mais com menos” __________________________________________________________________________________ Aula 3 13.03.2021 https://www.youtube.com/watch?v=biNVA1ysZ9k https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/art_93_.asp Princípios Norteadores da Administração Pública Princípios implícitos 1. Supremacia do interesse público (em detrimento do interesse privado) O interesse da coletividade é diferente do interesse da administração pública. Um dos princípios mais importantes. Deve ser lido junto com o princípio da legalidade. Às vezes, podendo até se sobrepor a este. Não há exceção a esse princípio, pois sempre que houver conflito entre interesse privado e público, o último prevalecerá. 2. Princípio da autotutela É a possibilidade da administração pública revogar atos ilegalmente praticados ou declarar a nulidade. Quando houver ilegalidade, deve ser revogado. "A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial" (Súmula 346, STF) 3. Princípio da continuidade dos serviços públicos O serviço público não pode parar. Art 175 da CF: Incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. ↦ Marco legal: Lei 8.987/95 Art. 39, p.ú Mesmo com o inadimplemento do concedente, os serviços prestados pela concessionária não poderão ser interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial transitada em julgado. Contudo, o art. 6º do mesmo diploma não considerará descontinuidade a interrupção em situação de emergência; ou ainda, quando houver motivo de ordem técnica ou inadimplemento do usuário (considerado o interesse da coletividade), após aviso prévio. Ex: suspensão de energia elétrica para reparos ↦ Hipótese de greve: O art 9º, §1º da CF garante o direito à greve, sendo que a lei definirá os serviços e atividades essenciais, dispondo sobre atendimento inadiável da comunidade. Deve ser observado quantitativo mínimo da prestação da atividade. Alguns, não poderão paralisar ou fazer greve nunca, como é o caso das forças de segurança. https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.12.2016/art_175_.asp http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987cons.htm 4. Princípio da segurança jurídica É situação de confronto com a observância ao princípio da legalidade. Se por um lado é dever da adm. pública desfazer seus atos ilegais, o decurso de prazo entre a prática do ato ilegal e o reconhecimento de sua afronta ao ordenamento jurídico pode causar imensos prejuízos, superiores inclusive à observância cega da legalidade. Nasce de tal confronto a ideia de segurança jurídica, ou proteção à confiança, fruto de antiga teoria do STF denominada teoria do fato consumado. Significa dizer que decorrido determinado tempo da prática de atos que tenham gerado efeitos favoráveis, não poderá a administração pública simplesmente desfazê-las. O art. 54 da Lei 9.784/99 materializa o princípio em questão, fixando prazo decadencial de 5 anos, observada a boa-fé. Se há má-fé, não decai. 5. Razoabilidade e proporcionalidade Razoabilidade tem origem no direito anglo-saxão, e exige uma relação de congruência lógica entre a medida adotada e o critério que a dimensiona. Proporcionalidade é o princípio que exige do Poder Público meios adequados, necessários e proporcionais à realização dos seus fins, devendo ser o menos gravoso possível. __________________________________________________________________________________ Aula 4 20.03.2021 Estrutura da Administração Pública Grande diferença se dá no regime de contratação. Ambas requerem concurso, mas o regime pode ser estatutário (cargo público) ou celetista (emprego público). Assim é previsto no art. 37, inciso II da CF. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_37_.asp Estabilidade É a principal característica diferenciadora entre cargo e emprego público. É diferente de vitaliciedade (restrita a magistrados? só 2 anos. checar requisitos). Cargo efetivo não se confunde com estabilidade Investidura em cargo público é a aprovação em concurso + nomeação + posse. Estabilidade só se garante após finalizado o estágio probatório de 3 anos de efetivo exercício, bem como uma avaliação de desempenho, previstos no art. 41 da CF com redação alterada pela EC 19/98. Antes desta EC, exigia-se apenas 2 anos de efetivo exercício para ganhar estabilidade. Há na EC 19/98, art. 28, previsão específica para situação de transição: quem iniciou o estágio probatório antes da vigência, deve cumprir os 2 anos (e não 3), mas submete-se à avaliação de desempenho. A estabilidade não é absoluta, podendo o servidor ser demitido nas hipóteses do §1º do art. 41 da CF. Além disso, há também a previsão de demissão do estável nas hipóteses do art. 169. Empregado público não possui estabilidade, mas sim Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Havendo conflitos empregatícios, a competência é da Justiça do Trabalho. Já no cargo público, havendo conflito, é competente a Justiça comum (justiça relativa à fazenda pública). Ambos possuem direito à greve. A greve requer regulamentação própria, de acordo com inciso VII do art. 37 da CF. Omissão legislativa: O dispositivo constitucional indica a necessidade de lei específica de greve para servidor público, que não foi elaborada pelo legislativo. Em consequência, greves de funcionários públicos eram judicialmente anuladas por falta de lei que as regulamentasse. O STF, através do julgamento de Mandado de Injunção em 2007, determinou prazo para que fosse editada a lei pelo Congresso, aplicando nesse período a Lei 7.783 (lei de greve). Até hoje se aplica a analogia, até que sobrevenha a lei específica de greve para os servidores de cargo efetivo. Pessoa jurídica de Direito Privado é sempre emprego público, e não cargo. Art 39 CF Órgão Público O art. 1º, §2º, inciso I, da Lei 9.784/99, define órgão público como “a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta”, criado por lei. São órgãos do Poder Judiciário os previstos no art. 92 da CF Órgão público não é a pessoa; ele está uma pessoa. Atenção à diferença: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_18.02.2016/art_41_.asp https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/EMC19_04.06.1998/EMC19.asp http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_18.02.2016/art_92_.asp Classificação dos Órgãos 1. Quanto à hierarquia,podem ser: 1.1 Independentes É o mais alto nível hierárquico, não guarda subordinação a qualquer outro. Normalmente é chefiado por agentes políticos. Tem suas atribuições previstas na Constituição. Não se confunde com autonomia (pode ser independente, mas não necessariamente autônomo). Ex: No Rio, Governadoria do Estado, TJERJ, ALERJ, MPE, TCE 1.2 Autônomos Esses órgãos possuem certa liberdade financeira e certa liberdade administrativa. Vinculados. Guardam subordinação ao órgão independente. Ex: Ministérios, Secretarias Municipais, Secretarias Estaduais 1.3 Superiores Possuem certa liberdade administrativa, mas não financeira, uma vez que sua dotação orçamentária depende da decisão da autoridade que chefia o órgão autônomo. Ex: Polícia Federal, Procuradoria da Fazenda Nacional 1.4 Subalternos Não cabe outra subdivisão. São os órgãos que têm acesso direto à população Não possuem qualquer poder de decisão Ex: Balcão de atendimento 2. Quanto à composição, podem ser: 2.1 Simples Não admitem qualquer subdivisão, são subalternos 2.2 Compostos Aqueles que admitem ao menos uma subdivisão 3. Quanto ao poder decisório, podem ser: 3.1 Singulares O poder de decisão é concentrado na mão de uma pessoa. Ex: Presidência da República 3.2 Colegiados A decisão é tomada por um grupo de pessoas. Ex: STF Exemplo de classificação: STF: independente, composto e colegiado Quando o órgão público postula, se trata da teoria processual da imputação/presentação (e não da representação). Possui capacidade judiciária, mas não jurídica. Age em nome do próprio ente, como se fosse o próprio. Órgão público pode demandar em juízo contra outro órgão público vinculado ao mesmo ente? Somente será possível quando livre exercício do próprio órgão estiver em risco. Ex: verba retida pelo órgão responsável pelo repasse ↦ TERMOS DO PROFESSOR AO FINAL DESTE ARQUIVO __________________________________________________________________________________ Aula 5 27.03.2021 Administração Indireta Formada por outras pessoas jurídicas. ↦ Por que não são desempenhadas pelo próprio ente federativo? As entidades são criadas para agir com isenção técnica, e não de forma política, ou subordinada. Decreto Lei 200/67, art. 4º Art. 4° A Administração Federal compreende: I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista. d) fundações públicas. Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administração Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade. c/c Constituição do Estado do Rio de Janeiro, art. 77, §2º Considera-se [administração indireta]: I - autarquia - o serviço autônomo criado por lei, com personalidade jurídica de direito público, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada; II - empresa pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado com patrimônio próprio e capital público maioritariamente do Estado, criada por lei para a exploração de atividade econômica que o Governo seja levado a exercer por força de contingência ou http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm de conveniência administrativa, podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito; III - sociedade de economia mista - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria ao Estado ou a entidade da administração indireta; IV - fundação pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos do Estado e de outras fontes. Autarquias Sempre terão personalidade jurídica de direito público. Empresas Públicas Sempre terão personalidade jurídica de direito privado Se fosse de direito público, seria desleal competir no mercado. Fundações Públicas Ora terá personalidade jurídica de direito público, ora de direito privado. É necessária lei complementar. A criação das entidades de administração indireta tem por finalidade a fuga do rigor hierárquico, visando maior liberdade de atuação pela descentralização da gestão administrativa e financeira. Assim, o vínculo com o governo é de tutela administrativa ou supervisão ministerial, não havendo subordinação direta. Observação: tal tutela é reduzida quando se trata das agências reguladoras - Há a arrecadação de dinheiro pelas agências, para prestação de serviço público através da iniciativa particular. __________________________________________________________________________________ Aula 6 10.04.2021 Administração Indireta Continuação Autarquia O art. 5º do Decreto Lei 200/67 define autarquia como: “Serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.” Administração pública existe para a função administrativa, que é função típica (primária) do Executivo. São atividades inerentes à administração. Mas nem sempre a estrutura da administração direta é eficiente para executar todas as atividades, em razão da burocracia e da estrutura hierárquica fechada. A depender da função, não consegue a administração exercê-la na forma adequada. Fundamenta-se nisso a descentralização, com a criação de pessoas na administração indireta: visa-se melhor gestão financeira e administrativa. São criadas por lei específica para que realizem decisões mais técnicas, que a melhor ciência indique, afastando a motivação política, mas são semelhantes às funções da administração direta, e, portanto, a personalidade jurídica é de direito público. São, em tese, espelho da administração direta. A autarquia comum será sempre de direito público. ↦ Autarquias especiais ↦ Agências executivas A única diferença para a autarquia comum é o valor da dispensa da licitação, que é o dobro. Art. 24 da Lei 8.666 (10% na lei, 20% para agência executiva) ↦ Agências administrativas ↦ Agências reguladoras ↦ Autarquia fundacional ↦ Autarquia interfederativa ↦ Consórcio público Regulado pelo artigo 6º da Lei 11.107/05 §1º O consórcio público com personalidade jurídica de direito público integra a administração indireta de todos os entes da Federação consorciados. Não é uma autarquia só federal, ou só estadual. Compõe estrutura da administração indireta no âmbito de todos os entes eventualmente consorciados. ↦ Fundações autárquicas ↦ Estatais de serviço público Também estariam englobadas como entidade autárquica, mas há controvérsias. Ora, se fala-se em estatal, fala-se de pessoa jurídica de direito privado (empresa pública ou SEM) O STF, contudo, reconheceu a certas estatais ((Infraero, ECT, Metrô SP)) imunidade tributária e a possibilidade de pagamento de suas dívidas por precatório judicial, que são características próprias da personalidade de direito público, concedendo, por consequência, a característica de entidade autárquica. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11107.htm ↦ Conselho de profissionais liberaisÉ uma espécie de autarquia especial, tanto para a doutrina, quanto para o STF. Não requer concurso para ingresso, bem como não exige-se licitação, mas... é autarquia. Jurisprudência entende que tem poder de polícia, pois podem aplicar penalidades sanções. Contudo, a atribuição desses conselhos para punir associados não decorre do poder de polícia, mas sim do poder hierárquico e disciplinar. E poder disciplinar não é função exclusiva da administração pública. (Ex.: CREA, CRM, CREF) O que é a OAB? STF ADI 3026/06 | STJ REsp 915.753 É uma instituição de natureza jurídica ímpar no cenário nacional, não se equiparando a nenhuma outra instituição, nem autarquia. Possui natureza jurídica é sui generis. Quanto às contribuiçẽs institucionais, apesar de obrigatórias, não têm natureza tributária. ↦ Autarquias comuns Possuem personalidade jurídica de direito público. Para que seja feita a contratação de trabalhadores, é necessário concurso público prévio. Enquanto que o regime jurídico de contratação será o mesmo regime do ente da administração direta que criou a autarquia. Ex: No RJ, o regime é do cargo público. Portanto, todas as autarquias terão o mesmo regime, como o Rio Previdência. Forma da autarquia: Não há nada semelhante na estrutura da administração pública. Sua forma é definida, pela doutrina, simplesmente como autárquica. Entende o professor que a autarquia classifica-se em intra ou infra estatal, em relação à sua forma. Tem como suas atividades típicas aquelas da administração pública, a saber: 1. Função de polícia (ou poder de polícia) Ex.: IBAMA 2. Serviço público Ex.: DNIT 3. Intervenção na ordem econômica Ex.: CAD e CVM 4. Intervenção na ordem social Ex.: INSS 5. Fomento público Ex: SUDENE Definição do Prof. Diogo de Figueiredo Neto A autarquia também goza de imunidade tributária (Art. 150, inciso VI, “a”, §2º, CRFB) e das mesmas prerrogativas processuais dos entes diretos, como prazo em dobro, pois se enquadra no conceito de “fazenda pública”. Quanto à responsabilidade civil: Constituição Federal, art 37, §6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Responsabilidade civil = Dano + nexo de causalidade. Dispensável a presença de dolo ou culpa para que se configure. Caso venha a ser responsabilizada e condenada a indemnizar, a autarquia, se não houver pagamento voluntário, não poderá ter os seus bens penhorados, pois são bens considerados públicos, de acordo com o art. 98 do CC/02: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de-inconstitucionalidade-adi-3026-df https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18259/recurso-especial-resp-915753-rs-2007-0004959-1 https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_150_.asp Código Civil, art. 98: São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Portanto, eventual débito só pode ser pago por meio de precatório judicial. Ademais, possui a autarquia obrigatoriedade da realização de licitações, de acordo com o artigo 37, inciso XXI, da CRFB/88. São características da autarquia, em resumo: É pessoa jurídica de direito público, incluída em regime jurídico único, que realiza contratação de servidores mediante concurso público, sob o mesmo regime do adotado pelo ente federativo que a criou. Possui prerrogativas fiscais e processuais, além de seus bens serem públicos, e, portanto, impenhoráveis. Pagamento de dívidas da autarquia, quando não ocorrer de forma voluntária, será por meio de precatório judicial. Possui responsabilidade objetiva e licitação obrigatória. Questiona-se se o dirigente da autarquia atua de fato com autonomia e independência técnica. Sobre as pessoas da administração indireta, recai a chamada “tutela administrativa”, e, no âmbito federal, "supervisão ministerial”. São pessoas independentes, mas vinculadas ao ente administrativo, e, de certa forma, subordinadas. Podem ser exoneradas, o que põe em pauta a efetiva independência dos dirigentes frente às pressões políticas. Nasce, em decorrência dessa situação, as agências reguladoras. Precisava-se do capital privado para destinar ao serviço público, e os investimentos seriam supervisionados por autarquias. Entretanto, em razão da tutela administrativa, seria muito fácil trocar o representante da autarquia responsável, trazendo sentimento de insegurança ao investidor. O Executivo, como solução para atrair o investimento, cria as agências reguladoras para fiscalização dessas atividades. Essas, sim, possuem real independência da influência política, pois seus dirigentes possuem mandato fixo - não há exoneração. Possui também poder normativo, já tendo sido reconhecido na jurisprudência. Reconheceu-se que não há violação à reserva de legislação do Poder Legislativo. Estamos diante de delegação legislativa, que possibilita a regulação de temas necessariamente técnicos. É uma discricionariedade técnica, que se mostra mais adequada. Exemplo: Agência Nacional de Petróleo define: qual o percentual adequado de álcool na gasolina? Não pode-se depender do conhecimento do legislador para obter esta resposta, pois este não possui esta expertise. Precisa-se, portanto, de normas técnicas. recording time 1h50m Fundação pública Nem toda fundaçao publica seria de direito privado, mas teria dir publico aquelas que prestassem serviço estatal Fundaçao publica pode ter direito publico ou privado Como saber natureza? depende do ato criador Criada por lei: igual autarquia, vai ser de direito publico Criado por meio de lei autorizativa: direito privado Sendo certo que é imprescindivel a existencia de lei complementar anterior, definidino suas areas de atuaçao (ex saúde no rio) Diferente total de fundaçoes particulares (como fundaçao roberto marinho) Ambas realizam concurso publico Publico: regime do cargo publico Privado: regime de emprego publico Atuaçao e finalidade: Ambas atuam na ordem social Ambas possuem imunidade tributaria (prerrogativa fiscal), mas em relação as prerrogativas processuais, somente as publicas de direito publico Forma: dir publico : intra ou infra estatal dir privado: mesma forma da fundaçao particular Empresas estatais dl 200 foi a primeira pós 88, surgiu a 13303/16 (art 3 e 4 ) rever gravação empresa publica vs sociedade economia mista comlurb - é SEM mas exerce serviço publico diferenças: formaçao do capital forma foro competente p juglgar capital integralmente publico maioria votante publico forma da empresa publica: pode adotar qqr forma admitida em direito Semelhanças: Responsabilidade civil: Art 37, §6º As pessoas juridicas de direito privado que prestem serviço publico responderao objetivamente pelos danos causados pelos seus agentes, da mesma forma que as pessoas juridicas de direito publico. (ex; empresa de onibus) Empresas estatais que executam atividade econômica nao se submetem ao 37, §6, pois deve existir dolo ou culpa p existir responsabilidade Há exceçao em que é possivel a responsabilidade objetiva de empresa c atividade economica? Sim, qdo decorrer da lei Resp. objetiva: qto aos danos ao meio ambiente Resp. subsidiaria do ente da federaçao criador da empresa: havera qdo esta exercer serviço publico (culpa in elegendo) 11101/05 Empresa estatal nao pode falir natureza juridica bens estatal: 98cc, impenhoraveis p. continuidade serv publico protege bens particulares q sao instrumento de serv publico art 100 cf https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/art_10 0_.asp licitaçao estatais nao ha licitaçao para a atividade fim atividade meio - limpeza, segurança, reformas - precisa lei de licitacoes n se aplica teto de remuneração 37 , XIvale p adm direta, autarquia e fund pub dir pub - ngm ganha mais q ministro stf aplica-se a estatal dependente (q usa orçamento publico p pagamento d pessoal ou despesa em geral) Tópicos p AV1 Estado gerencial brasileiro Princípios expressos Princípios reconhecidos Adm. direta com ênfase à teoria do órgão público Administração indireta / 8 questões assertivas, 2 discursivas __________________________________________________________________________________ Aula 7 17.04.2021 ↦ TERMOS DO PROFESSOR AO FINAL DESTE ARQUIVO http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/art_100_.asp https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/art_100_.asp __________________________________________________________________________________ Aula 2021 __________________________________________________________________________________ Esse material te ajudou? Então me segue lá no ig jurídico @larissasefeltas Obrigada! :) __________________________________________________________________________________ Termos do Professor, aula 4: O primeiro setor do Estado gerencial brasileiro é constituído pela própria máquina administrativa, conhecida como administração pública, tradicionalmente dividida em administração direta e indireta. A administração direta é composta pelo próprio ente da federação, ou seja, pela União, pelos estados membros, pelos municípios e DF, todos considerados pessoas jurídicas de direito público, com suas atribuições previstas na constituição. Já a administração indireta é composta pelas autarquias, fundações públicas, e empresas estatais, esta última considerada gênero cujas espécies são: empresas públicas, sociedades de economia mista, as subsidiárias e as controladas. Todavia, antes do estudo da administração direta e indireta, se faz imprescindível a diferenciação da personalidade jurídica das pessoas que compõem a administração pública, ou seja, devemos estudar as características que tornam os componentes da estrutura administrativa que tenham personalidade jurídica de direito público e personalidade jurídica de direito privado. A ideia de que uma pessoa jurídica que compõe a administração pública tenha personalidade jurídica de direito público, não traz qualquer dificuldade para um estudioso do assunto, uma vez que é o esperado por todos. A dificuldade se apresenta em se enxergar na estrutura da administração pública pessoas jurídicas com personalidade jurídica de direito privado, posto que em muitas situações aproximam-se das características dos particulares. A principal diferença entre as pessoas jurídicas de direito público e as pessoas jurídicas de direito privado está no regime de contratação de seu pessoal. As pessoas jurídicas de direito público (entes da federação, autarquias e fundações públicas de direito público) receberam comando constitucional para instituírem regime jurídico único aos seus servidores (art 39 da CF). http://instagram.com/larissasefeltas Na sistemática da constituição passada, não havia tal obrigatoriedade, sendo possível a contratação de trabalhadores nesta estrutura administrativa tanto pelo regime do cargo público, quanto pelo regime do emprego público. Com o advento da constituição de 1988, especialmente pelo dispositivo retromencionado, quase todos os entes federativos escolheram como regime único o do cargo público. Tal opção, sem dúvida alguma, deve-se ao fato de que o regime do emprego público toma como base a CLT, sendo certo que incumbe exclusivamente à União legislar sobre normas relativas ao direito do trabalho. As principais características do cargo público são a estabilidade, o vínculo legal que o servidor mantém com a administração pública (termo de posse), a ausência de direito ao dissídio e a negociação coletiva de trabalho. Há de se destacar que eventual conflito entre a administração pública e os servidores será dirimido pela justiça comum. Em se tratando de servidor da União, a competência será da justiça federal e, na hipótese de se tratar de servidor estadual ou municipal, a competência será da justiça estadual. Destaca-se que no âmbito do estado do Rio de Janeiro, nos termos de nossa lei de organização judiciária, será competente o juízo de Fazenda Pública. A estabilidade é a principal característica do cargo público efetivo. A constituição de 88, em sua redação original, previa a aquisição de tal direito após 2 anos de efetivo exercício. Com o advento da Emenda Constitucional n⁰ 19/98, para se adquirir a estabilidade, necessário se faz que o aprovado em concurso público tenha pelo menos 3 anos de efetivo exercício e seja aprovado na avaliação especial de desempenho. É imperioso ressaltar que a estabilidade não é benesse ao servidor, mas sim a garantia de que ele possa exercer as suas funções livre de qualquer pressão indevida por maus administradores. Adquirida a estabilidade, o servidor somente perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado, processo administrativo (garantida a ampla defesa), avaliação periódica de desempenho e por excesso de gasto orçamentário, conforme previsto nos arts. 41, §1 ⁰ e 169, §§ 3º e 4º da CRFB. A assertiva de que o vínculo do servidor detentor de cargo efetivo com a administração pública é legal, consubstancia-se no fato de que suas regras de trabalho (direitos e deveres) estão previstas em lei própria do ente federativo ao qual é vinculado. O compromisso de bem e fielmente exercer as suas funções é firmado mediante a assinatura de termo de posse. O dissídio e a negociação coletiva de trabalho são institutos afetos à CLT, razão pela qual inaplicáveis aos detentores de cargo efetivo e, pela mesma razão, não cabe à Justiça do Trabalho dirimir qualquer conflito de interesses entre a administração pública e seus servidores. As pessoas jurídicas de direito privado contratam seus trabalhadores pelo regime do emprego público, que tem como características a existência de fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS), o vínculo contratual entre o trabalhador com a administração pública (CTPS), dissídio e negociação coletiva de trabalho, além da competência da Justiça do Trabalho para resolução de eventuais conflitos de interesse entre trabalhadores e a administração. Estes dois regimes possuem uma característica em comum desde o advento da CF de 88, qual seja, a realização de concurso público para investidura no cargo efetivo ou no emprego público. Há de se destacar que tanto o trabalhador regido pela CLT quanto o servidor regido por um Estatuto funcional possuem direito de greve, desde que regulamentado por legislação infraconstitucional (art 9º, § 1º e art. 37, inciso VII da CRFB). O empregado público teve a regulamentação do direito de greve na Lei 7.783/89. Já o detentor de cargo efetivo até hoje não viu seu direito ser regulamentado pelo poder legislativo, sendo certo que a inércia legislativa implicou na impossibilidade do exercício de tal direito até 2007, ocasião em que o STF, ao julgar os mandados de injunção 670, 708 e 712, determinou a aplicação da Lei 7.783/89 também ao detentor de cargo efetivo, até que sobrevenha lei específica sobre o tema. Administração direta A administração direta é composta pelo próprio ente da federação e, desta forma, estudada pelo direito constitucional em relação às suas atribuições/competências. No âmbito do direito administrativo, seu estudo está relacionado à estrutura interna da administração pública, notadamente quanto aos órgãos públicos. Desta forma, o estudo da administração direta é, em direito administrativo, aprofundarmo-nos no órgão público. É de crucial importância lembrarmos que um órgão público, por mais importante que seja, não pode ser confundido com a pessoa jurídica da qual ele faz parte. Mal comparando, um órgão humano não é a própria pessoa, ainda que estejamos diante de um órgão vital. Infelizmente, no âmbitoda administração pública é comum as pessoas confundirem órgãos do Poder executivo como se fossem o próprio ente federativo. Dúvidas não restam que a prefeitura municipal, a governadoria do estado e a presidência da República, no exercício da função administrativa tomam decisões que afetam o dia a dia de toda a população, mas isso não torna o órgão a pessoa como um todo. O processo de organização interna de uma pessoa jurídica já existente recebe o nome de desconcentração e significa a criação e reorganização de órgãos públicos. Este processo acontece tanto no âmbito interno de uma pessoa jurídica de direito público quanto de uma pessoa jurídica de direito privado, integrantes da administração direta e indireta. Não podemos confundir com o processo de descentralização, posto que este implica na criação de nova pessoa jurídica. A lei 9.784/99, em seu art. 1º, §2º, inciso I, define órgão público como unidade de atuação. Tal definição nos parece pobre, posto que não traz a forma nem o processo de criação do instituto. O art. 48, inciso XI da CF deixa claro que um órgão público somente pode ser criado em virtude de lei. Assim, a conjugação dos dispositivos retromencionados melhora o conceito de órgão público, definindo-se assim: unidade de atuação criada por lei mediante processo de desconcentração. Os órgãos públicos são classificados de várias formas. O escalonamento hierárquico é o mais importante de todos, posto que a estrutura e funcionamento administrativos têm no poder hierárquico sua pedra fundamental de gestão. Por outro lado, a classificação quanto à composição e o poder decisório também merecem citação. Quanto à hierarquia, os órgãos podem ser classificados como independentes, autônomos, superiores e subalternos. Órgão independente é aquele que se encontra no topo da estrutura administrativa, não se subordinando a qualquer outro. São comandados, em regra, por agentes políticos, e possuem suas atribuições previstas na Constituição. Sublinhe-se que não basta que o órgão público seja mencionado pela CF, é necessária a existência de um rol de atribuições na Carta Magna (ex: Congresso Nacional, art 48 CF) Os órgãos autônomos se encontram logo abaixo dos independentes e estão umbilicalmente ligados a eles. Possuem certa liberdade administrativa e financeira, atrelados apenas à aquiescência do chefe do órgão independente. (Ex: Ministério da Justiça vinculado à presidência da República) Os órgãos superiores são mais uma subdivisão da estrutura administrativa e possuem certa liberdade administrativa, porém não financeira, uma vez que seu orçamento depende de decisão de autoridade que chefia o órgão autônomo ao qual ele é vinculado. (Ex: Departamento da Polícia Federal). Os órgãos subalternos se encontram na última subdivisão da estrutura administrativa e não possuem qualquer poder de decisão e, por óbvio, também não detém liberdade administrativa ou financeira, tendo por missão apenas o cumprimento de ordens e deliberações superiores. Quanto à composição, os órgãos se dividem em simples e compostos. São órgãos simples aqueles que não admitem subdivisão, ou seja, não possuem outro órgão em sua estrutura, tendo nos órgãos subalternos seus maiores representantes. Já os órgãos compostos são aqueles que se subdividem em outros órgãos de menor poder de decisão. Quanto ao poder decisório, os órgãos públicos se dividem em singulares e colegiados. São singulares os órgãos públicos em que o poder de decisão está concentrado em uma única pessoa. Já nos órgãos colegiados, o poder de decisão é entregue a um grupo de pessoas. Não é despiciendo assinalar que as classificações dos órgãos não se anulam entre si. Ao contrário: cada órgão público deve ser classificado quanto à estrutura hierárquica, quanto à composição e quanto ao poder decisório. A título de exemplo, podemos citar a Presidência da República como um órgão independente, composto e singular, e o Supremo Tribunal Federal como um órgão independente, composto e colegiado. Também merece destaque a razão pela qual alguns órgãos públicos podem ir a juízo "representando" a pessoa jurídica a que pertencem. Na verdade, não representam a pessoa jurídica, mas sim são a própria pessoa jurídica em juízo. Trata-se da aplicação da teoria da presentação ou imputação. Em outras palavras, o órgão não representa o ente da federação, mas sim o próprio ente federativo em juízo. Isto acontece em razão da desnecessidade de ter personalidade jurídica para se estar em juízo, sendo necessária personalidade judiciária. Por fim, surge uma última dúvida: pode um órgão público litigar em juízo em face de outro órgão público da mesma pessoa jurídica? A resposta, em linha de princípio, parece negativa, uma vez que eventual conflito entre órgãos públicos se resolve por meio da aplicação do poder hierárquico, ou seja, a decisão do órgão hierarquicamente superior prevalece sobre a vontade do órgão inferior. Porém, quando o conflito acontece entre dois órgãos independentes com atribuições constitucionais, é possível a judicialização do conflito entre os mesmos, notadamente quando um dos órgãos públicos estiver tomando postura atentatória à própria independência do outro órgão. Ex: o não repasse do duodécimo pelo executivo ao legislativo e judiciário (Art 168, CF). DITADO - 17.04.2021 PESSOAS JURÍDICAS DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA 1. Pessoas jurídicas de direito público As autarquias e as fundações públicas de direito público compõem as pessoas jurídicas de direito público da administração indireta. Tal personalidade jurídica é inerente a estas entidades em razão de elas realizarem atividades típicas da administração pública, muitas vezes indelegáveis aos particulares. As autarquias, hoje em dia, não são apenas uma pessoa jurídica, mas sim verdadeiro gênero que engloba uma variedade de entidades, tais como agências administrativas, agências executivas, autarquias interfederativas, conselhos de profissões liberais, entre outros. Uma autarquia somente poderá ser criada mediante lei específica que irá dispor sobre suas atribuições e forma de agir. Destinam-se à realização de atividades típicas do poder público que, para melhor executar suas atividades, demandam gestão administrativa e financeira descentralizada. Segundo o professor Diogo de Figueiredo Neto, são atividades típicas da administração pública: a função de polícia, serviço público, intervenção da ordem econômica, intervenção na ordem social e fomento público. As autarquias comuns possuem, como regime de contratação de seu pessoal, aquele adotado pelo ente da federação que a criou, sendo normalmente o regime do cargo público - que exige prévia habilitação em concurso público de provas ou provas e títulos. A forma de uma autarquia é própria, não havendo comparação com outras entidades da administração pública. A doutrina classifica sua forma como intra ou infra estatal. Goza de imunidade tributária por força do art. 150, VI, “a”, §2º da CRFB/88, ou seja, possui o mesmo privilégio da administração direta. Da mesma forma, detém as mesmas prerrogativas processuais do ente federativo em juízo. Isto porque o conceito de fazenda pública alcança todas as pessoas jurídicas de direito público, onde se encontram as autarquias. Na hipótese de um servidor autárquico causar danos a terceiros, a responsabilidade civil da autarquia será objetiva, na forma do art. 37, §6º da CRFB/88. Os bens de uma autarquia são públicos, na forma do art. 98 do CC/02 e, por esta razão, não são passíveis de penhora, face à proteção insculpida no princípio da indisponibilidade dos bens públicos, e tem como principal característica a impenhorabilidade. Ademais, o art. 100 da CRFB/88 confirma a impenhorabilidade, na medida em que eventuais execuções de decisões judiciais que condenam as autarquias serão adimplidas pelo sistema do precatório judicial. Há de se ressaltar a necessidade de realizar licitações para a contratação de obras, serviços e compras,conforme disposto no art. 37, inciso XXI da CRFB/88 e nas leis 8.666/93 (parcialmente revogada) e lei 14.133/21. As agências executivas guardam praticamente as mesmas características das autarquias comuns, diferenciando-se apenas quanto à dispensa de licitação, que para a agência executiva é o dobro da autarquia tradicional (art. 24, incisos I e II c/c p.ú do art. 66 da Lei 8.666/93). Os conselhos que controlam profissões regulamentadas sempre foram tratados pela doutrina como autarquias especiais ou de regime especial, tendo como característica a desnecessidade de realização de licitação e de concurso público. São exemplos de tais entidades o CREA, o CRA e o CRM. Principal fundamento para que essas entidades sejam consideradas como entidades autárquicas é a de que realizam atividade pública de poder de polícia, que é indelegável aos particulares. Todavia, não nos parece que a atividade realizada por tais conselhos seja a de poder de polícia, mas sim de poder disciplinar em relação aos seus membros, o que, por óbvio, não é exclusivo das pessoas jurídicas de direito público. A OAB, por exemplo, recebe tratamento ainda mais diferenciado. Isto porque o STF a considerou como uma instituição ímpar no cenário nacional, não se equiparando a nenhuma outra, inclusive a autárquica. Contudo, a decisão não esclarece se a OAB é uma entidade ímpar de direito público ou de direito privado. Podemos definir a OAB como instituição ímpar ou sui generis, com atribuições institucionais além da defesa dos interesses da categoria, sendo certo que as contribuições de seus associados, apesar de obrigatórias, não possuem natureza tributária. Em relação às agências reguladoras, podemos considerá-las como autarquias de regime especial. São as precursoras da chamada administração policêntrica, cujos pólos de decisão não se encontram mais restritos aos poderes da República, uma vez que atuam com independência administrativa. Tal independência fica evidente pela característica do mandato fixo de seus dirigentes, impedindo sua exoneração pelo chefe do poder executivo. Tamanha independência é baseada na ideia de que a boa gestão pública deve estar desvinculada da administração pública politizada, possibilitando isenção em setores estratégicos, a fim de estimular o crescimento nacional. 2. Fundações públicas São as entidades da administração indireta que oferecem maior dificuldade em seu estudo, uma vez que ora se apresenta com personalidade jurídica de direito público, ora se apresenta com personalidade jurídica de direito privado. O Decreto-Lei 200/67, ao conceituar fundação pública, fixou sua personalidade jurídica como de direito privado (art. 5º, inciso IV). No entanto, desde 1984, o STF admite que uma fundação pública possa ter personalidade jurídica de direito público, desde que assuma a gestão de serviço estatal. Toda esta confusão relacionada à personalidade jurídica das fundações ocorreu pela tentativa de violação aos princípios da moralidade e da impessoalidade na gestão da coisa pública, notadamente quanto à contratação de pessoal. Antes da CRFB/88, o concurso público era obrigatório apenas para o regime do cargo público, encontrado na estrutura da administração direta e das autarquias. A contratação pelo regime do emprego público, àquela época, dispensava a realização de certame. Desta forma, não foram poucos os casos de criação de fundações públicas de direito privado sob o regime de contratação baseado na CLT para a execução de atividades típicas do poder público. O reconhecimento pelo STF de tais práticas levou à admissão das duas possibilidades, repita-se, fundações públicas de direito público e fundações públicas de direito privado. Com o advento da CRFB/88, as fundações públicas permaneceram com essa “dupla-personalidade”. Isto porque ora se encontram ao lado da administração direta e das autarquias (art. 39 da CRFB/88) e ora se apresentam ao lado das empresas estatais (art. 37, inciso XIX da CRFB/88). Quando estivermos diante de fundações públicas de direito público, elas irão apresentar as mesmas características das autarquias em relação ao regime de contratação de pessoal, à forma, prerrogativas fiscais e processuais, natureza de bens, responsabilidade civil e obrigatoriedade de licitar. Acrescente-se que sua criação também ocorre da mesma forma de uma autarquia (lei específica). Já as fundações públicas de direito privado são criadas por lei autorizativa, sendo indispensável a existência prévia de lei complementar definindo sua área de atuação. O regime de contratação de pessoal será o do emprego público, adotando em relação à sua forma a mesma de uma fundação particular. Gozará de privilégios fiscais, mas não fará jus à prerrogativas processuais relativas à Fazenda Pública. 3. Pessoas jurídicas de direito privado Tradicionalmente, as pessoas jurídicas de direito privado integrantes da administração pública indireta eram tidas como entidades paraestatais. No entanto, a aludida expressão jamais foi pacífica com relação aos seus integrantes. O professor Hely Lopes Meirelles, por exemplo, entendia como entidades paraestatais as empresas públicas, as sociedades de economia mista, as fundações públicas de direito privado e os serviços sociais autônomos (Sistema S). As fundações públicas foram analisadas anteriormente, e o Sistema S será estudado no próximo período, quando analisaremos o terceiro setor do estado gerencial brasileiro. Resta, então, o estudo das empresas estatais. 4. Empresas estatais O Decreto Lei 200/67 trouxe a definição de empresa pública e sociedade de economia mista no âmbito da administração pública federal (art. 5º). Todavia, tal conceito já não mais se encontra em vigor, isto porque a lei 13.303/16 (estatuto da estatal) nos dá um moderno conceito acerca das duas entidades. As empresas estatais, por serem pessoas jurídicas de direito privado na estrutura da administração pública, estão abrangidas por uma grande variedade de normas, ora de direito público (concurso público), ora de direito privado (regime trabalhista). Tratam-se, portanto, de entidades híbridas. As principais diferenças entre uma empresa pública e uma sociedade de economia mista estão relacionadas à sua forma, à formação de seu capital social e, no âmbito federal, quanto ao foro competente. Duas destas três diferenças podem ser facilmente identificáveis com a mera leitura dos artigos 3º e 4º do estatuto da estatal. Em uma empresa pública, só serão aceitos recursos públicos, enquanto que, nas sociedades de economia mista, são aceitos recursos públicos e privados. É importante ressaltar que o capital social de determinada empresa pública não precisa ser exclusivo de um único ente da federação, bastando que todos os recursos venham de pessoas jurídicas de direito público. Em relação às sociedades de economia mista, existe a necessidade de que o ente federativo criador possua o controle da estatal, ou seja, é necessário que ele seja detentor de, no mínimo, metade mais uma das ações com direito a voto. Quanto à forma, uma empresa pública pode adotar qualquer uma admitida em direito, ao contrário das sociedades de economia mista, que somente poderão utilizar a forma de sociedade anônima. Destaque-se que a empresa pública também poderá utilizar a forma de sociedade anônima, notadamente pelo fato de que seu capital possa ser formado por várias pessoas jurídicas de direito público. Já a exigência de que uma sociedade de economia mista adote o tipo empresarial de S.A, existe pela necessidade de se buscar recursos da iniciativa privada e, para isto, nada melhor do que uma sociedade anônima com capital aberto, ou seja, com ações em bolsa de valores. Quanto ao foro, verificamos a competência dos juízes federais para processar e julgar as causas que envolvam a união, as entidades autárquicas e as empresas públicas federais (art. 109, inciso I, CRFB/88). Desta forma, compete à justiça estadual processar e julgar as causas emque as sociedades de economia mista são partes. Apesar de necessária a diferenciação de uma empresa pública e uma sociedade de economia mista, entendemos que este não é o tema mais relevante acerca das estatais. A melhor temática está em se diferenciar estatais prestadoras de serviço público daquelas estatais que exercem atividade econômica. A estatal que realiza atividade econômica atua em função típica da iniciativa privada e, por esta razão, existe grande preocupação para que ela não receba qualquer tipo de tratamento privilegiado, posto que causaria enorme desigualdade entre ela e uma possível empresa privada que atuasse no mesmo ramo. A Constituição da República deixa bem claro tal situação quando, em seu artigo 173, caput, determina que o estado só exerça atividade econômica por imperativo de segurança nacional ou relevante interesse coletivo. Ainda nestas duas situações, deverá realizar suas atividades em igualdade de condições com a iniciativa privada, inclusive quanto aos direitos civis, comerciais, trabalhistas e tributários. Já em relação à estatal que presta serviço público, em razão da atividade por ela exercida, tem recebido tratamento diferenciado pela jurisprudência. Em homenagem ao princípio da continuidade do serviço público, temos verificado decisões que autorizam a aplicação do sistema do precatório a tais entidades, contrariando disposição expressa contida no art. 100 da CRFB/88. Vamos então às principais diferenças entre as duas. A teoria aplicada aos casos de responsabilidade civil das empresas estatais ilustra a divisão entre as que prestam serviço público daquelas que realizam atividade econômica. O artigo 37, §6º da Constituição, ao adotar a regra da teoria objetiva, ou seja, independente da presença dos elementos de dolo ou culpa, para a responsabilidade do poder público, claramente define o seu destinatário na primeira parte do aludido dispositivo constitucional, onde estão citadas as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço público, incluídas aí as empresas estatais que prestam serviço público. Já a empresa estatal que realiza atividade econômica está fora da abrangência do art. 37, §6º, aplicando, portanto, a teoria subjetiva, onde a presença dos elementos dolo ou culpa são essenciais, recaindo o ônus da prova sobre quem alega a ocorrência de dano. Importante ressaltar que nada impede que a legislação infraconstitucional estenda a teoria objetiva a outros casos. Significa dizer que se houver previsão legal de aplicação da teoria objetiva de forma geral, por óbvio, também será aplicada à estatal que realiza atividade econômica. A título de exemplo, podemos citar a empresa Petrobras que, por realizar atividade econômica, quando questionada acerca de sua responsabilidade civil será, em linha de princípio, baseada na teoria subjetiva. No entanto, se ela causar algum dano ambiental, responderá com base na teoria objetiva. Isto porque a legislação ambiental brasileira prevê a aplicação da teoria objetiva para todo e qualquer poluidor (Lei 6.931/81). A responsabilidade subsidiária do ente da federação, criador da empresa estatal, será definida em razão da finalidade que estiver realizando. Quando uma empresa estatal prestadora de serviço público não possuir condições suficientes para satisfazer seus credores, poderá contar com a possibilidade de o ente federativo criador cobrir subsidiariamente o valor restante da indenização. Como se trata de uma atividade típica da administração, esta deve sempre responder por culpa in eligendo. Já em relação à empresa estatal que realiza atividade econômica, não se deve contar com a responsabilidade subsidiária. A uma, por não se tratar de atividade típica da administração; a duas, porque não se pode dar tratamento diferenciado em relação às empresas privadas (art. 173, §1º, inciso II, CRFB/88). Importante ressaltar que o professor José dos Santos Carvalho Filho e a saudosa professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, sempre entenderam quanto ao cabimento da responsabilidade subsidiária do ente federativo criador de qualquer empresa estatal, inclusive à prestadora de atividade econômica. A falência das empresas estatais sempre foi um tema polêmico no direito administrativo. A Lei 6.404/76 definia, em seu artigo 242, que uma sociedade de economia mista não poderia falir. Apesar de tal previsão legal mencionar apenas o tipo de estatal que o poder público possui participação acionária, o entendimento sempre foi de que tal proibição se estendia à empresa pública, uma vez que o Estado detém a totalidade das ações. Com o advento da Constituição de 1988 e a determinação de que as empresas estatais que realizam atividade econômica devam ter o mesmo tratamento das empresas privadas, inclusive quanto ao aspecto comercial/empresarial, parte da doutrina passou a defender a possibilidade de falência para tal estatal. Contudo, com o advento da Lei 11.101 de 2005 (art. 2º, inciso I), voltamos a ter para toda e qualquer empresa estatal a vedação da falência. Não obstante algumas vozes defenderem a inconstitucionalidade do dispositivo legal retromencionado, não compartilhamos do mesmo entendimento. Isto porque o artigo 2º da Lei 11.101/05 estende a proteção contra a falência para outras empresas, inclusive da iniciativa privada. Desta forma, não se verifica qualquer tratamento diferenciado entre a estatal e as empresas do setor privado. A natureza jurídica dos bens das empresas estatais é tema instigante por se tratar de uma pessoa jurídica de direito privado presente na estrutura da administração pública. Entendemos ser impossível que uma pessoa jurídica de direito privado possa ser proprietária de um bem público. Assim, todos os bens de uma empresa estatal são particulares, conforme previsto no artigo 98 do Código Civil brasileiro. Reconhecemos o posicionamento do professor Celso Antônio Bandeira de Mello, no sentido de que os bens das estatais que prestam serviço público teriam a natureza jurídica de bens públicos quando vinculados à prestação do serviço público, na medida em que se evitaria a penhora dos aludidos bens. Parece-nos excessivo dizê-lo tal posicionamento, uma vez que a simples existência do princípio da continuidade do serviço público já seria suficiente para que qualquer bem, ainda que pertencente ao particular, quando necessário à prestação do serviço público, não possa ser penhorado. Ocorre que o STF entendeu que a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) faz jus ao sistema do precatório, previsto no art. 100 da CRFB/88 (RE 920.206). Posteriormente, a Suprema Corte estendeu igual prerrogativa ao metrô de São Paulo (Ac 669/SP). Tais decisões confirmam a tendência de se dar à empresa estatal prestadora de serviço público o mesmo tratamento oferecido às pessoas jurídicas de direito público. O raciocínio vem da ideia de homenagear a continuidade do serviço, pois a impossibilidade de penhora dos bens impediria a descontinuidade do serviço. Ocorre que uma empresa estatal prestadora de serviço público possui, basicamente, dois tipos de bens: parte deles vinculados à prestação do serviço e outro que apenas integra seu capital. Os bens vinculados ao serviço público, desta forma, não poderiam ser penhorados, já os bens desvinculados seriam passíveis de penhora. Caso o montante de bens desvinculados do serviço público não fossem suficientes para honrar eventual condenação, caberia ao ente federativo criador complementar os valores da indenização com base na responsabilidade subsidiária. A realização de licitação nas empresas estatais sempre foi obrigatória, no entanto, existem algumas peculiaridades que merecem destaque. Como todas as empresas estatais, especialmente aquelas que realizam atividade econômica, atuam em um mercado competitivo há muito tempo, é entendido que, como estas empresas realizam atos de comércio (venda do produto final), elas seriam extremamente prejudicadas se tivessem querealizar licitação para vender seus produtos. Para que possa competir com seus concorrentes da iniciativa privada, a estatal sempre foi liberada da realização de processo licitatório quanto às suas atividades fins. Com o advento da lei 13.303 de 2016, verifica-se a presença dos dispositivos legais a serem observados pelas empresas estatais no tocante à licitação (artigo 28 e seguintes), notadamente em relação às atividades meio, tais como: construção/reforma da sede, contratação de serviços de limpeza, segurança e demais terceirizações. Nestes casos, a licitação é obrigatória, na medida em que não oferece risco de competitividade no mercado. O teto máximo de remuneração previsto no inciso XI do art. 37 da CRFB/88 será aplicado na administração direta, autárquica e fundacional. No entanto, o §9º do mesmo artigo estende o teto às empresas estatais que forem consideradas dependentes. A empresa estatal dependente é aquela que utiliza o orçamento para pagamento de despesa com pessoal ou de custeio em geral. Não está incluída, portanto, no teto máximo de remuneração a empresa estatal que produz recursos suficientes para se manter sem fazer uso de recursos do tesouro. Com relação ao regime de contratação de pessoal nas empresas estatais, seja ela qual for, será o do emprego público. Uma vez aprovado em concurso público, o habilitado terá sua carteira de trabalho assinada e será regido pela CLT. Apesar de não possuir direito à estabilidade funcional, a demissão de um empregado público concursado exigirá a instauração de um procedimento administrativo a fim de que se evite mácula à ordem de classificação do concurso público. A demissão de um empregado público deve, portanto, ser sempre precedida de motivação suficiente e pertinente, a fim de se evitar demissões arbitrárias ou perseguição política.
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