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Indaial – 2020 Fisiologia Vegetal Prof.a Juçara Elza Hennerich 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Juçara Elza Hennerich Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: H515f Hennerich, Juçara Elza Fisiologia vegetal. / Juçara Elza Hennerich. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 242 p.; il. ISBN 978-65-5663-183-7 ISBN Digital 978-65-5663-184-4 1. Fisiologia vegetal. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 581.1 apresentação A fisiologia vegetal estuda o funcionamento dos organismos vegetais. É, originalmente, um ramo da biologia, do estudo da vida que busca a compreensão de como funciona a planta como um organismo vivo. Seu entendimento perpassa pelos conhecimentos básicos de anatomia, morfologia, biologia celular, bioquímica, ecologia e biofísica, todos interconectados nos processos que proporcionam o ciclo de vida de um vegetal e do próprio ecossistema. São diversos processos físicos e químicos que têm, por responsabilidade, formar a base para o desenvolvimento de outras espécies vegetais e animais, compondo a base da pirâmide alimentar. Em outro ângulo, a fotossíntese realizada pelos vegetais é diretamente responsável pelos seres humanos, visto que, além da base alimentar, ela absorve o gás carbônico da atmosfera e gera, como subproduto, o oxigênio, contribuindo para a manutenção da atmosfera terrestre e para a sobrevivência de organismos aeróbicos. Somam-se, a esses aspectos fundamentais, o econômico e social, considerando que toda a produção vegetal, como grãos, fibras, frutas, flores, bebidas, verduras e legumes, e a maior parte da produção animal, como carne, leite, couros, ovos etc., estão na base da economia mundial e, principalmente, nacional. Os vegetais são seres autótrofos, transformam luz em energia para o desenvolvimento de seus processos morfofisiológicos. São considerados produtores, classificados dentro do reino plantae ou metaphyta, eucariontes e pluricelulares, fotossintetizantes, podendo variar em termos de complexidade fisiológica, conforme suas propriedades evolutivas. Conhecer o reino vegetal e a fisiologia possibilitou, ao homem, tornar a agricultura a base da civilização humana e em um instrumento do desenvolvimento econômico de grande importância na soberania e segurança dos povos da terra. Neste livro, você terá a oportunidade de realizar uma imersão no universo vegetal, iniciando, na primeira unidade, com uma breve introdução e relembrando as estruturas básicas, desde a célula até a formação de tecidos e órgãos de uma planta. Entenderá o importante papel da água nos processos fisiológicos, sua estrutura, funções e mecanismos que, aliados à nutrição, proporcionam, ao vegetal, os insumos básicos para o seu desenvolvimento. Na segunda unidade, falaremos de fotossíntese e translocação de solutos, desvendando o caminho desde a absorção da luz até a formação e transporte de substâncias para todo o organismo vegetal, tendo a respiração como o fator propulsor dos passos. Na terceira e última unidade, compreenderemos o papel do nitrogênio no desenvolvimento da planta. Com os demais ciclos biogeoquímicos, fornece os subsídios necessários. Ainda nesse aglomerado de componentes, estão os reguladores vegetais, substâncias características de diferentes ciclos Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA e processos complexos. Com diversos questionamentos sobre seus efeitos e funções, trazem a fisiologia para o campo da evolução, da biotecnologia, aprofundando, ainda mais, a compreensão humana sobre o mundo vegetal. Para finalizar, veremos as diferentes fases do crescimento e desenvolvimento vegetal, desde a semente até a senescência, suas particularidades e relações. É importante que tenhamos a compreensão de que todos esses assuntos estão em um grande complexo de funcionamento, são interdependentes e correlacionados, capazes de, juntos e em constante e gradual processo evolutivo, adaptar-se e continuar a proporcionar o funcionamento das “engrenagens” dos ecossistemas terrestres. Desejamos a você, acadêmico, um ótimo percurso de estudo! Que o material aqui exposto possa somar ao objetivo de formação de capital humano, capaz de não só compreender a produção vegetal, mas de trabalhar para aperfeiçoá-la em suas funções vitais. Prof.a Juçara Elza Hennerich Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL .......1 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS .......................................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 FISIOLOGIA VEGETAL .................................................................................................................... 3 2.1 IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DA FISIOLOGIA VEGETAL ............................................. 4 2.2 RELAÇÃO DA FISIOLOGIA VEGETAL COM OUTRAS CIÊNCIAS .................................... 5 3 ESTRUTURA E FUNÇÕES DAS CÉLULAS, TECIDOS E ÓRGÃOS VEGETAIS ................. 5 4 PRINCÍPIOS UNIFICADORES DA VIDA VEGETAL ................................................................ 7 5 A CÉLULA VEGETAL ......................................................................................................................... 7 6 MERISTEMAS E SISTEMAS DE TECIDOS VEGETAIS ............................................................ 8 7 FISIOLOGIA GERAL DE ESTRUTURAS DE RAIZ, CAULE E FOLHA ................................. 9 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 10 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................14 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS ..................... 17 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17 2 RELAÇÕES HÍDRICAS .................................................................................................................... 17 3 ESTRUTURA E PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DA ÁGUA ...................................... 18 3.1 ESTRUTURA DA MOLÉCULA DE ÁGUA .............................................................................. 18 3.2 PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA ............................................................. 19 4 PROPRIEDADES TÉRMICAS ........................................................................................................ 20 5 PROCESSOS DE TRANSPORTE DA ÁGUA .............................................................................. 21 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 40 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 — NUTRIÇÃO VEGETAL .............................................................................................. 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 NUTRIÇÃO VEGETAL .................................................................................................................... 45 3 NUTRIENTES NÃO ESSENCIAIS E NUTRIENTES TÓXICOS ............................................. 48 4 NUTRIÇÃO EM CULTURAS HIDROPÔNICAS ...................................................................... 49 5 ABSORÇÃO E TRANSPORTE DOS ELEMENTOS MINERAIS NAS PLANTAS .............. 49 5.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES: ABSORÇÃO, TRANSLOCAÇÃO E REDISTRIBUIÇÃO DE ELEMENTOS........................................................................................................................... 50 5.2 FORMAS E ESPECIFICIDADES DA ABSORÇÃO DE ELEMENTOS .................................. 50 5.3 TRANSPORTE DOS ANIÔNIOS ATRAVÉS DOS CARREGADORES ................................. 51 5.4 SELETIVIDADE DE ELEMENTOS MINERAIS – TEORIA DA CINÉTICA ENZIMÁTICA ......52 5.5 COMPETIÇÃO E ANTAGONISMO ENTRE OS ELEMENTOS MINERAIS ....................... 53 5.6 ESPAÇO EXTERIOR OU ESPAÇO LIVRE NAS RAÍZES ....................................................... 54 5.7 PENETRAÇÃO DOS ELETRÓLITOS NAS CÉLULAS VEGETAIS ...................................... 55 5.8 VELOCIDADE DE ABSORÇÃO DOS ELEMENTOS MINERAIS ........................................ 56 5.9 DIFUSÃO, TROCAS CATIÔNICAS E TRANSPORTE IÔNICO-METABÓLICO NA RAIZ ...... 57 5.10 ABSORÇÃO E LIXIVIAÇÃO FOLIAR .................................................................................... 58 5.11 DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL DE HIDROGÊNIO (PH) DAS SOLUÇÕES HIDROPÔNICAS E DA ABSORÇÃO DE NUTRIENTES .................................................... 60 6 FUNÇÕES E DEFICIÊNCIAS DOS ELEMENTOS MINERAIS NAS PLANTAS ................. 61 6.1 FUNÇÕES, FORMAS DE ABSORÇÃO E SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA DOS MACRO E MICRONUTRIENTES .............................................................................................. 61 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 64 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 65 UNIDADE 2 — FOTOSSÍNTESE E TRANSLOCAÇÃO DE SOLUTOS ................................... 69 TÓPICO 1 — FOTOSSÍNTESE .......................................................................................................... 71 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 71 2 FOTOSSÍNTESE ............................................................................................................................... 71 2.1 CONCEITO E IMPORTÂNCIA .................................................................................................. 72 2.2 RADIAÇÃO FOTOSSINTETICAMENTE ATIVA .................................................................... 73 2.3 PIGMENTOS FOTOSSINTETIZANTES .................................................................................... 74 2.4 GÁS CARBÔNICO E ÁGUA ..................................................................................................... 77 2.5 FASE CLARA DA FOTOSSÍNTESE ........................................................................................... 78 2.6 FASE ESCURA DA FOTOSSÍNTESE, SUAS VARIAÇÕES E ADAPTAÇÕES EVOLUTIVAS ....80 2.6.1 Plantas C4 .............................................................................................................................. 82 2.6.2 Plantas CAM ......................................................................................................................... 83 2.7 INIBIÇÃO DA FOTOSSÍNTESE ................................................................................................. 85 2.7.1 Luz ......................................................................................................................................... 85 2.7.2 Concentração de CO2 ..........................................................................................................................................................................................86 2.7.3 Temperatura ......................................................................................................................... 86 2.8 DESTINO DOS PRODUTOS DA FOTOSSÍNTESE .................................................................. 87 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 88 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89 TÓPICO 2 — RESPIRAÇÃO .............................................................................................................. 91 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91 2 RESPIRAÇÃO NAS PLANTAS ...................................................................................................... 91 2.1 RESPIRAÇÃO E FOTOSSÍNTESE .............................................................................................. 91 2.2 O FLUXO DE CARBONO NA CÉLULA .................................................................................. 92 2.2.1 Glicólise ................................................................................................................................. 93 2.2.2 Ciclo de Krebs ...................................................................................................................... 94 2.2.3 Quociente respiratório ........................................................................................................ 97 2.2.4 Cadeia de transporte de elétrons ....................................................................................... 98 2.3 VARIAÇÕES NO PROCESSO RESPIRATÓRIO ....................................................................... 99 2.3.1 Inibição ............................................................................................................................... 100 2.3.2 Estado Fisiológico .............................................................................................................. 102 2.3.3 Fatores Internos ..................................................................................................................103 2.4 RESPIRAÇÃO NOS TECIDOS E ÓRGÃOS VEGETAIS ....................................................... 104 2.4.1 Raízes ................................................................................................................................... 105 2.4.2 Caule .................................................................................................................................... 105 2.4.3 Folhas ................................................................................................................................... 106 2.4.4 Flores e frutos ..................................................................................................................... 106 2.4.5 Sementes.............................................................................................................................. 107 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 109 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 110 TÓPICO 3 — TRANSLOCAÇÃO DE SOLUTOS ........................................................................ 111 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 111 2 TRANSLOCAÇÃO DE SOLUTOS............................................................................................... 111 2.1 ESTRUTURA DO FLOEMA ..................................................................................................... 112 2.2 CIRCULAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS SINTETIZADAS ....................................................... 115 2.3 FLUXO DE PRESSÃO NA PLANTA ....................................................................................... 117 2.4 VELOCIDADE DE TRANSLOCAÇÃO DOS SOLUTOS ...................................................... 120 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 122 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 125 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 126 UNIDADE 3 — METABOLISMO DO NITROGÊNIO, REGULADORES, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS ....................... 129 TÓPICO 1 — METABOLISMO DO NITROGÊNIO NAS PLANTAS ..................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 METABOLISMO DO NITROGÊNIO NAS PLANTAS ........................................................... 132 3 O NITROGÊNIO DOS FERTILIZANTES NITROGENADOS ............................................. 143 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 153 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 155 TÓPICO 2 — REGULADORES DO CRESCIMENTO VEGETAL ............................................ 159 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 159 2 REGULADORES DO CRESCIMENTO VEGETAL .................................................................. 160 2.1 FITORMÔNIOS ........................................................................................................................... 161 2.1.1 Auxinas ................................................................................................................................ 164 2.1.2 Giberelinas .......................................................................................................................... 168 2.1.3 Citocininas .......................................................................................................................... 172 2.1.4 Etileno .................................................................................................................................. 176 2.1.5 Ácido abscísico ................................................................................................................... 179 2.2 SUBSTÂNCIAS SINTÉTICAS ................................................................................................... 182 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 185 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 188 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 189 TÓPICO 3 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS ........................... 193 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 193 2 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS ................................................. 194 3 FISIOLOGIA DA GERMINAÇÃO .............................................................................................. 196 4 SEMENTES: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E FUNÇÕES ESTRUTURAIS ............................. 198 5 FATORES EXTERNOS DA GERMINAÇÃO ............................................................................. 201 6 CONTROLE HORMONAL DA GERMINAÇÃO ..................................................................... 203 7 ESTÁGIOS DO PROCESSO GERMINATIVO ......................................................................... 204 8 VERNALIZAÇÃO E CONSEQUÊNCIAS ................................................................................... 206 9 DORMÊNCIA E QUIESCÊNCIA ................................................................................................. 207 10 LONGEVIDADE DA SEMENTE ................................................................................................ 208 11 JUVENILIDADE DA PLANTA ................................................................................................... 209 12 CINÉTICA DO CRESCIMENTO ................................................................................................ 210 13 TIPOS DE JUVENILIDADE ........................................................................................................ 212 14 FITOCROMO E FLORAÇÃO ...................................................................................................... 212 15 ESTRUTURA, FORMAS, ESPECTROS DE ABSORÇÃO E FOTOCONVERSÃO DO FITOCROMO .......................................................................................................................... 213 16 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA POLINIZAÇÃO E FECUNDAÇÃO .............................. 218 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 226 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 228 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 231 1 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar a fisiologia vegetal, conceitos e importância para a produção agropecuária; • entender a estrutura e a dinâmica da célula vegetal como bases dos processos e funções fisiológicas da planta; • compreender as propriedades, funções, mecanismos e importância da água como componente dos processos fisiológicos; • conhecer os aspectosrelacionados à nutrição vegetal, considerando seus mecanismos e especificidades de absorção. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS TÓPICO 2 – RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS TÓPICO 3 – NUTRIÇÃO VEGETAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Neste tópico, você adentrará no universo da fisiologia vegetal. Faremos uma pequena introdução e conceituação e, posteriormente, revisaremos os aspectos gerais de uma célula vegetal, tecidos e órgãos de uma planta. Uma visão comum do reino vegetal nos tempos atuais está baseada na produção vegetal como um recurso para retorno financeiro pontual, reduzindo a real importância, além da complexidade que perfaz a cadeia alimentar. As plantas, como seres autótrofos, estão na base da cadeia alimentar, são capazes de produzir sua energia vital. Nós, humanos, heterótrofos, dependemos da existência, vida e desenvolvimento dos componentes da cadeia para existirmos como espécie. Em contraponto, é importante considerarmos a afirmativa de Aragão (2006), que alerta para o afastamento do ser humano do reino vegetal. Segundo A Autora, habituamo-nos, cotidianamente, a uma vida artificial, considerando- nos superiores ou externos a esse “universo” vegetal. A reflexão é válida em sua introdução ao estudo da fisiologia vegetal, dada a necessidade de aproximação, além da correlação entre nossa existência e a qualidade de uso, melhoramento, recuperação e produção vegetal. A fisiologia de um vegetal proporciona medicamentos, moradia, fibras para o vestuário, alimentos, bebidas, borracha e combustíveis. Além de inúmeros outros serviços, é fundamental para a sustentabilidade do ecossistema no qual estamos inseridos, sendo papel ainda mais determinante aos profissionais da agronomia. 2 FISIOLOGIA VEGETAL A fisiologia vegetal é, originalmente, um ramo da botânica que estuda os processos vitais para o desenvolvimento e reprodução das espécies vegetais. O estudo da fisiologia vegetal abrange, além dos processos e funções que envolvem o funcionamento do organismo vegetal, as respostas das variações do ecossistema em seus fatores bióticos e abióticos. UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL 4 2.1 IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DA FISIOLOGIA VEGETAL Os maiores impactos do estudo da fisiologia vegetal estão concentrados na agricultura, em suas diversas cadeias produtivas. Para Prisco (2007, p. 2) algumas das conquistas responsáveis pela elevação da produtividade foram: A utilização de cultivares mais produtivos (contribuição da Genética e do Melhoramento), o uso de fertilizantes (contribuição da Fisiologia e da Ciência do Solo), o uso de pesticidas (contribuição da Fitopatologia e da Entomologia), o uso de irrigação e de máquinas agrícolas (contribuição da Engenharia Agrícola, da Ciência do Solo e da Ecofisiologia), o uso de técnicas de propagação vegetativa (contribuição da Fisiologia) e, finalmente, o uso de técnicas de armazenamento e de transporte de sementes, de frutos e de hortaliças (contribuição da Engenharia Agrícola e da Fisiologia). A afirmativa de que a fisiologia está presente em todas as técnicas e tecnologias desenvolvidas para a produção de alimentos de forma direta ou indireta não é exagero. Mesmo no desenvolvimento de maquinários e equipamentos, as questões relacionadas à forma de desenvolvimento, estágio vegetativo, potencial produtivo são fundamentais. O mesmA Autora pontua as demandas principais da fisiologia para os anos futuros (PRISCO, 2007): • O esclarecimento dos mecanismos envolvidos na absorção e transporte de nutrientes, além dos de fixação simbiótica do nitrogênio atmosférico, encontrado em algumas espécies vegetais. Essas descobertas contribuirão para otimizar o uso de fertilizantes e poderão fornecer subsídios para que se transfira a característica de fixar nitrogênio para determinadas espécies. Assim, a consecução desses objetivos possibilitará uma grande economia de fertilizantes originados de fontes não renováveis. • A compreensão dos mecanismos envolvidos na resistência aos diversos tipos de estresses sofridos pelas plantas. É preciso desenvolver métodos e técnicas de manejo que sejam capazes de minorar os efeitos deletérios do estresse. Informações, quando acopladas ao trabalho de biologistas moleculares e de melhoristas, podem redundar no desenvolvimento de cultivares que sejam produtivos e menos susceptíveis aos diferentes tipos de estresse. • O estudo dos mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvendo a relação patógeno/planta e inseto/planta. Uma melhor compreensão do que ocorre na fisiologia das plantas susceptíveis e daquelas que são resistentes ao ataque do patógeno ou inseto poderá fornecer dados fundamentais para o controle biológico das doenças e pragas, possibilitando a descoberta de “medicamentos curativos”. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS 5 2.2 RELAÇÃO DA FISIOLOGIA VEGETAL COM OUTRAS CIÊNCIAS A fisiologia está diretamente relacionada à biologia, botânica, veterinária, medicina, nutrição, entre outras áreas ligadas à produção de alimentos e às saúdes humana e animal, porém, é importante entendermos que está ainda relacionada às ciências econômicas, sociais e culturais, sempre na perspectiva do entendimento de que a produção vegetal está na base da existência da vida animal. 3 ESTRUTURA E FUNÇÕES DAS CÉLULAS, TECIDOS E ÓRGÃOS VEGETAIS Como dito anteriormente, a fisiologia se ocupa do estudo de funções e processos. O exposto a seguir apresentará um mapa conceitual da fisiologia, suas funções e processos que serão detalhados no decorrer da disciplina. UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL 6 FIGURA 1 – MAPA CONCEITUAL DA FISIOLOGIA FONTE: Adaptado de Valasques (2007) Fotossíntese Espectro de energia radiante Espectro de absorção e ação das clorofilas Fixação e transform ação do C O 2 D ualidade de processo A bsorção C rescim ento C ondução de seiva Etapas do processo U so da energia liberada Respiração Fisiologia Vegetal Funções do organism o vivo A natom ia C itologia N utrição M ineral D esenvolvim ento M ovim ento da águaTranspiração Regulação Processo de difusão Sistem a transportador Elem entos essenciais e acessórios M ecanism os de absorção e acúm ulo Fixação de N 2 (solo árido) A dubação orgânica e inorgânica C urvas e estágiosReguladores H orm ônios Inibidores TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS 7 Na base de todos esses processos e funções que ocorrem nas plantas está a estrutura fundamental, a célula, presente desde um musgo frágil até uma sequoia gigante. A partir dessa unidade medida em micrômetros, com diferentes formas e funções, se compõem os tecidos e o órgão da planta. 4 PRINCÍPIOS UNIFICADORES DA VIDA VEGETAL Embora uma variedade de formas vegetais seja encontrada na biosfera, segundo Taiz e Zeiger (2009), alguns princípios podem ser pontuados e perfazem essa variedade, com o objetivo de caracterizar, de maneira geral, os vegetais: • As algas verdes são os coletores fundamentais de energia solar, captando para conversão em energia química, armazenada em ligações formadas durante a síntese de carboidratos. Há os elementos dióxido decarbono e a água. • Em substituição à mobilidade, os vegetais desenvolveram a capacidade de crescer em busca dos elementos essenciais para o seu desenvolvimento, como luz, água e nutrientes minerais. • São capazes de desenvolver estruturas reforçadas que dão suporte ao desenvolvimento, à massa vegetal, na medida em que crescem em direção à luz e contra a força da gravidade. • Desenvolveram mecanismos que evitam a dessecação causada pela perda de água pela evaporação. • As plantas terrestres desenvolveram mecanismos de transporte dos elementos essenciais, água e sais minerais, que vão do solo até os locais de fotossíntese e crescimento, transportando os fotoassimilados para todos os locais da planta. 5 A CÉLULA VEGETAL Tendo a célula vegetal como base estrutural para o desenvolvimento vegetal, segue uma breve revisão de seus componentes principais e funções, responsáveis pela produção de moléculas simples, como óxido nítrico, até aquelas complexas, como lignina, celulose e fosfolipídios. A célula pode ser definida como uma unidade anatômica e fisiológica presente em todos os seres vivos. Nos eucariontes, de nosso interesse, os componentes principais são a membrana celular, citoplasma, organelas celulares, núcleo e, nas células vegetais, a parede celular celulósica. UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL 8 FIGURA 2 - ESTRUTURA BÁSICA DE UMA CÉLULA VEGETAL FONTE: Adaptado de Alvarez (2019) No link https://www.youtube.com/watch?v=4dudveftZNs, você terá acesso a uma aula de morfologia da célula vegetal e poderá relembrar quais são seus componentes e suas funções. Não deixe de conferir! DICAS 6 MERISTEMAS E SISTEMAS DE TECIDOS VEGETAIS Os meristemas são regiões onde se concentra o crescimento vegetal. Abrigam a maior parte dos processos de mitose e citocinese das plantas. A atividade dos meristemas apicais é responsável pelo alongamento e expansão celular com a formação de novos órgãos e tecidos durante o crescimento primário. O crescimento secundário se dá ao término do alongamento celular e envolve os meristemas laterais: câmbio vascular (origina o xilema e floema) e felogênio (origina a periderme). Os tecidos principais das plantas são o tecido dérmico, tecido fundamental e tecido vascular. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS 9 No decorrer da Unidade 1 e na Unidade 2, você terá detalhes dos vasos condutores, sua estrutura, função e importância na fisiologia vegetal. ESTUDOS FU TUROS 7 FISIOLOGIA GERAL DE ESTRUTURAS DE RAIZ, CAULE E FOLHA Apesar da complexidade e diversidade, o corpo vegetativo da planta é composto, basicamente, pelos órgãos raiz, caule e folha, com funções distintas e complementares: • Raiz: absorção de nutrientes e fixação da planta no solo. • Caule: sustentação, condução de água e nutrientes da raiz para a parte aérea e dos fotoassimilados para os demais órgãos. • Folha: função principal é a realização da fotossíntese, além da transpiração da planta. Com o caule, forma a parte aérea da planta. De acordo com sua classificação, entre as espermatófitas (angiospermas ou gimnospermas), encontramos os órgãos responsáveis pela perpetuação das espécies vegetais, com funções distintas e complementares: • Flor: estrutura onde ocorre a produção da semente, responsável pela reprodução da planta. • Fruto: estrutura que protege a semente e realiza o armazenamento de nutrientes para a manutenção e germinação. • Semente: responsável pela propagação da planta. UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL 10 LEITURA COMPLEMENTAR Introdução Fica claro que as plantas verdes são muito mais que figuras paisagísticas ou ornamentais, pois elas respiram, realizam fotossíntese, crescem, produzem sementes e frutos, ou seja, apresentam uma intensa vida metabólica e silenciosa. Os alunos da área da botânica, em especial da fisiologia de plantas, bem como biólogos, agrônomos e engenheiros florestais, aos quais esta obra é dirigida, terão a oportunidade de apreciar e entender os conceitos pertinentes a esta disciplina, apresentados de forma clara, precisa e didática. Ajudará para isso, a formatação simples e seu custo reduzido em relação a outros textos análogos, normalmente importados e com pouca disponibilidade nas bibliotecas universitárias em relação à demanda estudantil. Assim, o conhecimento científico do funcionamento das plantas ficará mais acessível para este público alvo, espalhado nas centenas de universidades por este país adentro, o que é fundamental para a boa formação acadêmica dos egressos neste campo, já que esta é uma condição básica em qualquer área do conhecimento. Outrossim, a divulgação deste livro, pelo seu potencial técnico/ pedagógico, na compreensão do mundo intracelular das plantas, será de grande apoio na compreensão desta ciência chamada Fisiologia Vegetal, que dá suporte às ciências agronômicas e florestais. Finalmente, não poderíamos deixar de agradecer a excelente acolhida, entusiasmo e apoio institucional da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia na publicação desta obra. A célula vegetal Dentro do contexto da Fisiologia Vegetal, a célula é a estrutura fundamental onde se assentam todas as funções da planta: genéticas, bioquímicas e fisiológicas, constituindo uma unidade concatenada e imbricada de funções em todo o reino vegetal. Esta unidade, a célula, começou desde que a vida surgiu na Terra e a evolução separou os procariontes dos eucariontes a partir da mistura da sopa primordial que eram os oceanos primitivos na infância de nosso planeta. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS 11 Na planta, encontra-se uma variedade de formas e funções de células, desde a raiz até as flores, que produzem diversos metabólitos, desde moléculas simples, como o óxido nítrico e o etileno, até moléculas mais complexas e díspares, como, por exemplo, celulose, lignina e fosfolipídios. Por isso, este documento começa pela célula vegetal que, por um lado, é o verdadeiro crisol onde se forjam todas essas moléculas e milhares de outras mais; por outro lado, é o tijolo fundamental desse andaime estrutural que vai desde um fino e delicado musgo da mata atlântica até uma colossal e robusta árvore da selva amazônica. No presente tópico, foram incluídos 32 verbetes providos de seus respectivos conceitos, que, na opinião dos autores, é suficiente para um estudante de graduação entender essa unidade anátomo-fisiológica que é a célula. Esta palavra foi descrita pela primeira vez pelo polêmico e erudito cientista inglês Robert Hooke, em 1695, em seu livro Micrographiae. Curiosamente, esta descoberta esteve relacionada com uma célula vegetal e, a partir de então, os biólogos não deixaram de esquadrinhá-la. Célula Unidade anatômica e fisiológica de todos os seres vivos. Nos eucariontes, suas partes fundamentais são membrana celular, citoplasma e núcleo, mas nas plantas há que se agregar a parede celular. Os procariontes, como bactérias e micoplasmas, são considerados células por possuírem estas quatro estruturas, entretanto não possuem núcleo compartimentalizado, mas possuem um genoma ativo que está disperso no citoplasma. Os vírus não são células justamente por não apresentarem estas estruturas, no sentido clássico da palavra. Por outro lado, os vírus raramente apresentam ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA) juntos; normalmente apresentam um ou outro. Conforme a teoria de Schleiden & Schwan (1839), todos os seres vivos estão constituídos por uma ou mais células. De acordo com esta premissa, toda célula provém de outra célula, sendo que qualquer célula viva de uma planta possui a informaçãogenética necessária para produzir uma planta completa, capacidade esta denominada de totipotencialidade e foi plenamente demonstrada pela fisiologia vegetal por meio da cultura de células in vitro (VASIL & HILDERBRANT, 1965). A palavra célula tem sua raiz na palavra latina cellula (pequena sala) e seu nome está associado a Robert Hooke, que, em 1695, com esse vocábulo quis expressar a menor matriz ou unidade de um ser vivo. Parede celular É uma estrutura lignocelulósica das plantas que recobre a célula por fora dando proteção contra bactérias, fungos e insetos, além de servir como suporte mecânico para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Nas plantas, quando a parede celular é retirada por enzimas, a célula passa a se chamar protoplasto. UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL 12 Como sistema, a parede celular envolve três elementos estruturais: a parede primária, secundária e a lamela média. A parede primária é rica em celulose e, em menor grau, hemicelulose, pectina e proteína. A parede secundária está presente em células que pararam de se multiplicar, de crescer e se especializaram. São abundantes no sistema xilemático, em cuja composição é frequente a lignina. A terceira parede é uma estrutura de união entre células, caracterizada por seu alto conteúdo de pectinas em cuja composição entra o ácido galacturônico, rico em grupos carboxílicos (COO-), que lhe conferem capacidade de intercâmbio catiônico à célula, especialmente na raiz. Em fungos, o constituinte principal da parede celular é a quitina, mas em bactérias é a mureína, que possui oligopeptídeos com L e D-aminoácidos; estes últimos são raros na natureza. Antibióticos, como penicilina e ß-lactâmicos, inibem a formação da parede celular em bactérias. Está claro que estes diferentes constituintes da parede celular são regulados pela expressão gênica celular. Celulose Homopolímero feito à base de unidade de glucose (monômero), por meio de uniões β-1,4-glucose, catalisadas pela enzima celulose sintase, que forma fibras separadas e independentes, constituindo ligações chamadas de microfibrilas, que têm aproximadamente 4 nanômetros de diâmetro e comprimento variável de ± 30 nm. Uma grande conquista da ciência foi isolar os genes desta importante enzima. São derivados industriais da celulose: algodão, tecidos, celofane, papel, etanol de segunda geração etc. Na planta, forma parte da parede celular, por isso mesmo é um dos carboidratos mais abundantes do planeta e fundamental na economia do carbono. Hemicelulose Forma parte da parede celular das plantas e é um heteropolímero, frequentemente constituído à base de cadeias lineares de glucose (β-1,4-glucose) que inclui xilose por meio de ligações 1-6 com ramificação lateral (xiloglucanos). Em outros casos, como nas gramíneas, a hemicelulose pode formar cadeias lineares de xilose (β-1,4-xilose) com presença lateral de arabinose e ácido glucurônico (glucuronoarabinoxilanos). Suas cadeias moleculares são de tamanho variável (± 200 nm) e sua função estaria relacionada com a conexão das microfibrilas de celulose (1 nm = 10-9 m). Pectina Polímero constituído principalmente por unidades de ácido galacturônico via união α-1-4. Sem dúvida, o ácido galacturônico (monômero) pode estar ligado a outros carboidratos, como ramnose e arabinose. Assim, as pectinas podem ser homopolímeros ou heteropolímeros. As pectinas são os componentes mais solúveis da parede celular das plantas (lamela média), no caso de alguns frutos TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS, APLICAÇÕES E FUNDAMENTOS 13 (melão, pera, maçã, laranja), e são extraídos apenas com água quente. As pectinas, especialmente aquelas de caráter homopolímero, têm a propriedade de formar gel com a sacarose. As pectinas constituem fibras solúveis de importante função digestiva para humanos. Lignina É um polímero que forma parte da parede celular das plantas, reforçando-a. Está formada por unidades de fenilpropanoides e monolignoles, os quais são polimerizados pelas peroxidases e lacases, formando uma rede dessas unidades e conformando a estrutura da lignina da parede secundária das células xilemáticas apoptóticas. A via metabólica da síntese de lignina é complexa e tem sido intensamente estudada por meio de seus genes e enzimas de diferentes plantas de interesse econômico, como alfafa, pinus e eucalipto, bem como em plantas modelos como Zinnia, Coleus e Arabidopsis. Sem dúvida, a lignina continua sendo uma molécula desconhecida em muitos aspectos e representa um grande problema na obtenção da celulose para a fabricação de papel e etanol de segunda geração. Juntamente com a celulose, formam parte importante do ciclo do carbono na natureza. FONTE: CID, L. P. B.; TEIXEIRA, J. B. Fisiologia vegetal – definições e conceitos. 2017. Disponí- vel em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1082840. Acesso em: 18 maio 2020. 14 Neste tópico, você aprendeu que: • A fisiologia vegetal é, originalmente, um ramo da botânica que estuda os processos vitais para o desenvolvimento e reprodução das espécies vegetais. • Os avanços da fisiologia vegetal são responsáveis diretos e indiretos por inúmeros resultados em diferentes áreas da produção vegetal, da tecnologia agrícola e da economia rural. • Os principais sistemas de órgãos vegetativos das plantas com sementes são a parte aérea e a raiz. A parte aérea é composta por dois tipos de órgãos: o caule e as folhas. • A célula vegetal é a base estrutural para o desenvolvimento vegetal, e seus componentes são responsáveis pela produção de moléculas simples, como óxido nítrico, até aquelas complexas, como lignina, celulose e fosfolipídios. • Os meristemas são regiões onde se concentra o crescimento vegetal. Abrigam a maior parte dos processos de mitose e citocinese das plantas. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 A fisiologia vegetal atua de forma direta e transversal com diferentes áreas do desenvolvimento. Algumas das conquistas responsáveis pela elevação da produtividade, que podemos associar direta ou indiretamente às conquistas da fisiologia vegetal, são, EXCETO: a) ( ) Uso adequado de fertilizantes e pesticidas. b) ( ) Uso de técnicas de armazenamento e irrigação de cultivos agrícolas. c) ( ) Uso do transporte de sementes, frutos e hortaliças. d) ( ) Uso de ampla mão de obra, sem necessidade de capacitação específica. 2 A fisiologia está presente em todas as técnicas e tecnologias desenvolvidas para a produção de alimentos, de forma direta ou indireta, no desenvolvimento de maquinários e equipamentos. Na atualidade, as principais demandas da fisiologia são: a) ( ) O esclarecimento dos mecanismos envolvidos na absorção e transporte de nutrientes, além dos de fixação simbiótica do nitrogênio atmosférico. b) ( ) A compreensão dos mecanismos envolvidos na resistência aos diversos tipos de estresses sofridos pelas plantas. O objetivo é desenvolver técnicas e métodos que amenizem os efeitos na produção vegetal. c) ( ) A compreensão de que mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvem a relação patógeno/planta e inseto/planta. O objetivo é desenvolver formas “curativas”, eficientes e assertivas para potencializar a produção vegetal. d) ( ) Todas as alternativas anteriores. 3 Os principais tecidos vegetais são o tecido dérmico, tecido fundamental e tecido vascular. Assim, sobre os tecidos vegetais, marque V para as sentenças verdadeiras e F para as sentenças falsas: ( ) A concentração dos processos de divisão celular e, portanto, das zonas de crescimento dos vegetais, está, principalmente, alocada no tecido vascular. ( ) Os meristemas apicais são responsáveis pelo alongamento e expansãocelular, com a formação de novos órgãos e tecidos durante o crescimento secundário. ( ) A região do câmbio vascular envolve os vasos condutores e o felogênio, sendo resultados do crescimento secundário, havendo início dos processos de divisão e alongamento celular. ( ) A formação de novos órgãos vegetais é fruto da divisão e alongamento celular, especialmente concentrada nos meristemas apicais durante o crescimento primário. AUTOATIVIDADE 16 17 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico, conheceremos as relações hídricas da célula e dos tecidos vegetais. Assim, entenderemos a estrutura e propriedades da água e, posteriormente, como essa molécula participa de fundamentais processos fisiológicos. A água está presente nos diversos processos metabólicos que ocorrem no vegetal. É absorvida no solo e percorre toda a planta, sendo uma molécula altamente suscetível aos fatores abióticos, principalmente para a temperatura, capaz de aumentar a taxa de transpiração vegetal. A diversidade de funções fisiológicas que a água desempenha na planta torna a compreensão das relações hídricas fundamental para o processo de desenvolvimentos vegetal, o recurso mais abundante e limitante nos processos da fisiologia vegetal. 2 RELAÇÕES HÍDRICAS A água é uma substância essencial para a vida, por ser um solvente ideal para a ocorrência de processos bioquímicos. Nas plantas em crescimento, a água origina de 80 a 90% da massa, utilizando grande quantidade de água. Para cada 2g de matéria orgânica produzida, aproximadamente, 1 L de água é absorvido pelas raízes (KERBAUY, 2004). Do total de água absorvido, mais de 90% é perdido em evaporação para a atmosfera. Os índices de constituição da massa por água são reduzidos em plantas tolerantes (20%), em tecidos lenhosos (35 a 75%) e em sementes secas (5 a 15%), porém, nos dois últimos casos, é importante considerar que essas estruturas estão metabolicamente inativas ou com taxas metabólicas reduzidas (FREIRE; FONSECA, 2003). 18 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL 3 ESTRUTURA E PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DA ÁGUA A célula vegetal é composta por diversas estruturas funcionais que conferem propriedades necessárias para o desenvolvimento de cada um de seus órgãos. Juntas, são responsáveis pela fisiologia de cada espécie. 3.1 ESTRUTURA DA MOLÉCULA DE ÁGUA As propriedades da água estão diretamente relacionadas com sua estrutura polar, conferindo uma forte ligação com outras moléculas, devido às pontes de hidrogênio. O exposto a seguir ilustrará o formato de uma molécula de água, formada por um átomo de oxigênio (O) covalentemente ligado a dois átomos de hidrogênio (H) que formam um ângulo de 105° e distância de 0,099nm. A molécula de oxigênio é fortemente eletronegativa, tendendo a atrair, em sua direção, os elétrons dos átomos de hidrogênio. No processo, o oxigênio adquire uma carga negativa parcial, enquanto os dois átomos de hidrogênio se tornam positivamente carregados. A assimetria das cargas torna a molécula de água bipolar, gerando uma forte atração mútua entre as moléculas, além de algumas outras macromoléculas. Essas ligações são responsáveis por muitas das propriedades físicas da água, como a coesão, tensão e adesão (MARTINS et al., 2013). FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE MOLÉCULAS DE ÁGUA LIGADAS POR PONTES DE HIDROGÊNIO FONTE: Adaptado de Fonseca (2013) Ponte de hidrogênio 0,177 nm Ligação covalente 0,0965 nm TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 19 A complexa e importante estrutura química da água e suas propriedades estão detalhadas no vídeo que você pode acessar pelo link https://www.youtube.com/ watch?v=6MU-cp1bE1g. Confira! DICAS 3.2 PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA A molécula de água, composta por dois elementos, é capaz de fornecer a vida, seja vegetal ou animal, complexas relações essenciais para seu desenvolvimento e sobrevivência. As propriedades térmicas, coesão, adesão e solvência, serão detalhadas a seguir. • Solvente A água possui a capacidade de dissolver inúmeras substâncias, tornando- as um solvente universal. A propriedade deve-se ao pequeno tamanho da molécula e à natureza polar. A polaridade torna a água particularmente eficiente como solvente de moléculas, como açúcares e proteínas que, em sua composição, contêm grupos polares –OH ou –NH2 (PAES; KHOURI, 2018). A água tem capacidade de neutralizar cargas de íons ou macromoléculas, circundando-as de forma orientada, com uma ou mais camadas, formando a “camada de solvatação”. A figura a seguir ilustrará o processo de solvatação do NaCl. O cátion Na+ atrai a carga negativa do Cl- pela ligação iônica e ocorre a dissolução de seus íons pela molécula de água, formando a camada de solvatação em volta dos íons de sódio e cloreto. FIGURA 4 – PROCESSO DE SOLVATAÇÃO DO NACL FONTE: A Autora 20 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL Na solvatação, as pontes de hidrogênio entre macromoléculas e água reduzem a interação entre as macromoléculas e ajudam a trazê-las para a solução (TAIZ; ZEIGER, 2009; KERBAUY, 2004). 4 PROPRIEDADES TÉRMICAS As propriedades térmicas da água são consideradas atípicas e biologicamente importantes, com elevados valores de ponto de fusão e de ebulição, de calor latente de fusão e vaporização e de calor específico (BASTOS et al., 2011): • Calor específico: calor necessário para aumentar a temperatura de uma substância em uma quantidade específica. A água precisa de uma adição de energia (calor) relativamente grande para quebrar as pontes de hidrogênio, fazendo-as vibrar mais rapidamente, permitindo sua movimentação pelo sistema. Na prática, a propriedade auxilia a planta em sua regulação térmica. • Calor latente de fusão e vaporização: energia necessária para separar as moléculas da fase líquida e transformar em fase gasosa com temperaturas constantes, ocorrendo durante o processo de transpiração. A água possui o valor de vaporização mais alto conhecido entre os líquidos (25ºC – 44 KJ mol- 1), assim, as plantas reduzem suas temperaturas por evaporação na superfície foliar, atuando diretamente na regulação térmica. • Coesão e adesão O resultado da forte atração entre as moléculas de água e entre estas e outras superfícies carregadas é conhecido como propriedades de coesão e adesão, respectivamente. Uma consequência da coesão é que a água tem uma elevada tensão superficial, a qual é mais evidente nas interfaces entre a água e o ar (PIMENTEL, 2004). A tensão superficial surge porque as forças coesivas entre as moléculas de água são mais fortes do que a interação entre a água e o ar. Para aumentar a área de superfície da interface água e ar, torna-se necessária a quebra de pontes de hidrogênio. Essa energia necessária é, portanto, a tensão superficial. Como resultado dessa tensão superficial, a água apresenta dificuldade de se espalhar, o que explica a formação de gotas, por exemplo, ou a capacidade de suportar o peso de pequenos insetos. A coesão entre as moléculas de água é também responsável pela força de tensão (força tênsil). Esta é responsável pela capacidade de resistência a uma força de arraste, definida como força máxima que uma coluna de água pode suportar antes de quebrar. Indiretamente, podemos entender como a força necessária para quebrar as pontes de hidrogênio. Essa propriedade é extremamente importante para o transporte da seiva inorgânica pelo xilema. TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 21 As mesmas forças que atraem as moléculas de água (coesão) são aquelas que atraem as moléculas de água a superfícies sólidas (adesão). Juntas,elas são fundamentais para o transporte da água em tubos de pequeno diâmetro. Coesão, adesão, tensão superficial e força tênsil, juntas, ocasionam a capilaridade, outra propriedade importante para o movimento da água de forma ascendente no xilema, explicando a teoria de Dixon, ou teoria da coesão e tensão, a ser detalhada posteriormente. 5 PROCESSOS DE TRANSPORTE DA ÁGUA Os movimentos das águas do solo para planta e para atmosfera ocorrem de formas variadas e dependentes do meio. Alguns componentes da célula vegetal têm importante papel. Podemos pontuar a parede celular, o citoplasma, membranas e espaços de ar. Os mecanismos para esses caminhos são, principalmente, a difusão e o fluxo de massa, além da osmose. • Fluxo de massa É o movimento conjunto de grupos de moléculas em massa. É resultante de uma força externa, como gravidade ou pressão (compressão mecânica), fazendo com que todas as moléculas se movam em uma massa única. É, portanto, o movimento conjunto de partículas de um fluido em resposta a um gradiente de pressão (KERBAUY, 2004). O movimento de água por fluxo em massa é comum nos solos e no xilema de plantas. • Difusão A difusão é o movimento, ao acaso, de partículas de uma região de alta concentração para uma região de baixa concentração ou menor potencial químico. Ocorre pela própria energia cinética dessas partículas. Enquanto o fluxo em massa é impulsionado pela pressão e responsável pelo transporte por longas distâncias, a difusão é impulsionada pela diferença de concentração e importante nos processos de transporte a curtas distâncias. Em particular, a difusão é um importante fator no suprimento de CO2 para a fotossíntese e para a perda de vapor d’água durante a transpiração na folha (USP, 2001). • Osmose Na osmose, o gradiente de pressão (fluxo de massa) e o de concentração (difusão) influenciam no transporte de substâncias. No processo, a direção e a taxa de fluxo de água, através de uma membrana, são determinadas pela soma das duas forças (gradiente de pressão e de concentração) (USP, 2001). 22 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL As membranas das células vegetais são seletivamente permeáveis, ou seja, elas permitem que água e outras pequenas substâncias sem carga atravessem mais prontamente do que solutos de partículas grandes e substâncias carregadas (KERBAUY, 2004). A osmose ocorre, então, na absorção de água pelas células, envolvendo a combinação de difusão de moléculas de água através da membrana (bicamada lipídica) plasmática e o fluxo de massa ocorre pelos canais formados por proteínas, como aquaporinas. Contudo, é importante entendermos que, para os dois movimentos, o fator determinante, que dirige o processo, é o gradiente de potencial químico da água (potencial hídrico). A água entra na célula por osmose até que o potencial osmótico seja balanceado pela resistência da parede celular. A água pode manter a célula firme, ou túrgida, e a pressão que se desenvolve contra as paredes celulares, como “resultado da entrada da água no vacúolo celular, é chamada de potencial de pressão ou potencial de turgor” (USP, 2001, p. 17). Os potenciais osmótico e de turgor combinados resultam no potencial hídrico da célula vegetal. Se nós tivermos duas células adjacentes com dois potenciais hídricos diferentes, a água se moverá da célula de maior para aquela de menor potencial hídrico (USP, 2001). • Potencial hídrico (Ψw) O potencial hídrico é o potencial químico da água diante de uma medida do nível de energia livre das moléculas de água. É uma maneira termodinâmica (energia livre de Gibbs) de descrever, de forma quantitativa, essa energia associada com a capacidade de uma substância de realizar determinado trabalho (UFC, 2015). Pode-se afirmar que os movimentos da molécula de água na planta são influenciados pela termodinâmica, além da quantidade presente. De acordo com o potencial hídrico da célula, as moléculas de água se moverão de uma situação de maior energia livre (hipotônica) para outra de menor energia livre (hipertônica), como podemos observar o movimento da água do solo para a raiz (COSTA, 2001). O Ψw indica, portanto, o quanto a energia livre de um sistema difere do estado de referência (água pura Ψw=0). A diferença é a soma das forças do soluto, da pressão e da gravidade agindo sobre a água, determinando o caminho da água no sistema do solo, planta e atmosfera (KERBAUY, 2004). TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 23 • Componentes do potencial hídrico Quatro fatores compõem a energia livre da água: concentração (Ψs), pressão (Ψp), forças de superfície e coloidais (Ψm) e gravidade (Ψg). Dessa forma, o potencial hídrico (Ψw) é igual: Ψw = Ψs + Ψp + Ψm + Ψg Esses fatores podem aumentar ou diminuir o potencial hídrico, ou seja, a energia livre capaz de realizar trabalho (LACERDA, 2007). • Potencial osmótico: O símbolo Ψs, conhecido como potencial de soluto ou potencial osmótico, representa o efeito dos solutos dissolvidos sobre o potencial hídrico. As moléculas dipolares da água são atraídas e retidas pelos solutos (cátions e ânions), induzindo um decréscimo na atividade da água. Os solutos diminuem a energia livre da água por diluição. O Ψs é inversamente proporcional à concentração de solutos na solução, ou seja, quanto maior a concentração de solutos, menor o potencial osmótico. Transferindo uma célula normal para uma solução, o movimento de entrada ou saída do vacúolo depende da diferença entre os potenciais osmóticos do conteúdo celular e da solução externa (USP, 2001). Num meio hipotônico (aquoso), o Ψs é menos negativo do que o conteúdo celular. A água flui para o vacúolo e ocasiona pressão hidrostática interna, que comprime o protoplasto contra a parede celular (PIMENTAL, 2004). Os potenciais osmóticos medidos em células vegetais têm amplo espectro de variações, diferem não só entre as células, mas entre os diferentes órgãos e tecidos de uma planta (SALAMONI, 2008). • Potencial de pressão: Pressões positivas aumentam o potencial hídrico e, as negativas, reduzem-no. A pressão hidrostática positiva no interior das células pode ser referida como pressão de turgescência ou turgor, porém, o valor do Ψp pode ser negativo, por exemplo, no xilema, ou entre as paredes das células, onde podem ser desenvolvidas forças de tensão ou pressão hidrostática negativa (TAIZ; ZEIGER, 1998). A pressão de turgor resulta da água que chega ao protoplasto, seguindo um gradiente de Ψw favorável, na medida em que a água que penetra na célula pressiona a parede celular. Naturalmente, esta resiste à expansão, exercendo uma força de retorno. Células com pressão de turgor são chamadas de turgidas e, sem turgor, de flácidas, sendo que a perda de pressão de turgor ocasiona murchamento. • Potencial mátrico (Ψm): Resulta das influências que as forças de superfícies dos coloides e espaços intermicelares exercem sobre o potencial quimico da água. O componente pode ser muito importante quando se estuda o potencial hídrico de solos, sementes, paredes celulares etc. Representa a presença de interfaces de coloides, proteínas e macromoléculas nas células vegetais, 24 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL reduzindo a atividade termodinâmica da água. A distinção entre Ψm e Ψs é, até certo ponto, arbitrária, uma vez que é difícil decidir se as partículas são solutos ou sólidos, de forma que Ψm é, muitas vezes, incluído em Ψs (JONES, 1992). Comum em valores elevados em tecidos meristemáticos e sementes secas (LACERDA, 2007). • Potencial gravitacional (Ψg): Relaciona a ação do campo gravitacional sobre a energia livre da água. É o trabalho necessário para manter a água em umdeterminado ponto em relação à atração gravitacional. A sua importância é desprezivel para as relações de raiz e folhas, mas torna-se importante para o movimento da água em árvores de grande porte. O movimento ascendente em um tronco de árvore deve vencer uma força gravitacional de, aproximadamente, 0.01 Mpa m-1 acima da altura do solo (JONES, 1992). • Potencial hídrico na célula vegetal Os espaços internos das células vegetais são chamados de simplastos (citoplasma e vacúolos), enquanto aqueles externos à membrana plasmática são chamados de apoplastos. Uma vez que a água permeia facilmente a membrana plasmática, o potencial hídrico dentro das células equilibra-se com o ambiente circundante dentro de segundos, ainda que seja preciso mais tempo para todas as células, num tecido, se equilibrarem com uma solução exterior (JONES, 1992). Outra característica importante das células vegetais é que estão encaixadas numa parede celular relativamente rígida que resiste à expansão, permitindo, assim, que se gere uma pressão hidrostática interna (COSTA, 2001). Os componentes do potencial hídrico que são relevantes numa célula vegetal são os potenciais, osmóticos e de pressão (JONES, 1992). Para o estudo das relações hídricas em células vegetais, podemos simplificar a equação do potencial hídrico para (UFC, 2001): Ψw = Ψs + Ψp O componente gravitacional é ignorado, como já referido anteriormente, porque ele é desprezível quando as distâncias verticais são menores que 5m e o potencial mátrico (Ψm). Embora exista dentro da célula, é considerado desprezível. Ele deve ser considerado em tecidos meristemáticos (que possuem densos citoplasmas), em sementes e em outros tecidos desidratados (que possuem macromoléculas e espaços intermicelares) (KERBAUY, 2008). No caso de células diferenciadas (com grandes vacúolos), os únicos componentes significativos do Ψw são o potencial osmótico e o potencial de pressão. Vale salientar que os valores do Ψw e dos seus componentes podem variar, dependendo das condições do ambiente e do tipo de planta. Dentro da planta, pode ocorrer alteração na contribuição de cada componente para o potencial hídrico total (UFC, 2008). Para melhor entendermos, imaginemos uma demonstração simples da reação de uma célula vegetal a diferentes meios. É uma forma de ilustrar os conceitos de potencial hídrico e seus componentes. Na primeira situação, quando TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 25 uma célula vegetal é colocada em água pura, a água irá se mover para o simplasto até que o Ψw se iguale ao do apoplasto, no caso de a água pura se igualar a zero. Nessa condição de equilíbrio, a célula atingirá sua capacidade total de turgor. Na segunda situação, se adicionarmos, em uma solução, sacarose a 1,0 M, e colocarmos uma célula vegetal, ainda assim ocorrerá a absorção de água pela célula, porém, sem que seja atingido o turgor total. Na condição, então, o Ψp da célula em equilíbrio será menor que o Ψs, dessa forma, o Ψw da célula será negativo (USP, 2001). Na terceira situação, retirando a célula em equilíbrio com a solução de sacarose a 0,1 M e imergindo-a em uma solução de 0,3 M (valor de menor Ψs), a água sairá, em maior quantidade, da célula, em resposta ao gradiente de Ψw. Na busca do equilíbrio entre o Ψw, a célula se tornará flácida e o Ψp será zero, reduzindo, também, o volume e o Ψw da célula. O ponto em que o protoplasto deixa de pressionar a parede celular é chamado de plasmólise incipiente (USP, 2001). É importante destacar que as discussões tratam de uma célula hipotética. “As paredes celulares, na realidade, não são totalmente rígidas, mas elásticas, implicando numa variação de volume celular em função da pressão de turgescência” (UFC, 2001, p. 23). A modificação no volume celular ocasiona uma variação no Ψs, uma vez que há entrada de água e a concentração da solução da célula é alterada. IMPORTANT E Da mesma forma, a Plasmólise é a condição em que o protoplasto se desprende da parede celular, fenômeno que ocorre somente em condições de laboratório, ou em condições de ambiente extremamente salino. FIGURA 5 – CÉLULA VEGETAL E AS REAÇÕES DE PLASMÓLISE E DESPLASMÓLISE FONTE: Adaptado de Magdalena et al. (2019) Parede Celular Membrana Plasmática Núcleo Vacúolo Citoplasma Célula Vegetal Normal Plasmólise Plasmólise Avançada Desplasmólise 26 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL Para Pes e Arenhardt (2015) a manutenção da turgescência celular é fundamental para diversos processos e situações, como: • Turgescência folhar: permite que seja apresentada a máxima superfície exposta para interceptação da luz do sol. • Turgescência das pétalas e sépalas: promove a abertura da flor. • Turgescência radicular: promove o crescimento da raiz e a penetração no solo. • Turgescência de frutas e verduras: importante para a comercialização e preservação da qualidade, pois quando perdem a turgescência, apresentam sintomas de murchas. • Relações hídricas solo-planta-atmosfera Após a infiltração no solo, a água fica armazenada em poros, ficando disponível para as plantas, a considerar, porém, a capacidade de armazenamento do solo. Quando o volume de água ultrapassa a capacidade de armazenamento do solo, o excedente é percolado pelo horizonte do solo, perdendo-se na condição de alcance das raízes, alcançando rios e lençóis freáticos. A água, no solo, é também retirada pelas raízes das plantas e, depois, evapora no interior das folhas, com transferência, para a atmosfera, pela transpiração (LACERDA, 2007). O processo conjunto que envolve a evaporação do solo e a transpiração das plantas é denominado de evapotranspiração. O ciclo é fundamental para que o vapor de água volte à atmosfera e, consequentemente, realimente o ciclo da água. A taxa da evapotranspiração depende, basicamente, da demanda da atmosfera, da intensidade de radiação e da disponibilidade de água no solo (LACERDA, 2007). • Água no solo O tipo de solo e sua estrutura influenciam diretamente na movimentação, na forma de armazenamento e disponibilidade de água para as plantas, somando ao fato de que toda a água que é utilizada pelas plantas e aquela perdida para a atmosfera na forma de transpiração são provenientes do solo. Nos solos arenosos, verificamos baixa área de superfície, macroporos abundantes, baixa capacidade de campo, alta condutividade elétrica, baixa retenção de água e elevado potencial de drenagem. Já nos solos argilosos, temos alta área superficial, quantidade considerável de microporos, alta capacidade de campo, baixa condutividade elétrica e elevada capacidade de retenção de água. Consequentemente, há baixa drenagem. O solo é composto por três fases: Sólida: frações minerais e orgânicas são as frações minerais resultantes da ação do intemperismo sobre o material de origem, com diferentes tamanhos de partículas. A fração orgânica (matéria orgânica ou húmus) é provinda das decomposições vegetal, animal e de microrganismos. TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 27 Líquida: solução aquosa diluída consiste, essencialmente, de água e materiais solúveis dissolvidos (minerais e moléculas orgânicas). Ela ocupa parte dos poros do solo, podendo ocupar praticamente todos os espaços vazios em solos saturados. À medida que o solo perde água, os poros maiores (macroporos) se esvaziam e a água passa a ocupar apenas os poros menores (microporos), os quais possuem poder de retenção de água. Gasosa: parte composta pelo ar do solo que ocupa os espaços vazios (macroporos) não ocupados pela água. É do ar do solo que é suprimida a maior parte do oxigênio usada na respiração dos vegetais e dos organismosvivos que habitam o próprio solo. Quanto à constituição, possui os mesmos componentes do ar atmosférico, porém, o nível de organismos e a textura do solo influenciam na concentração dos gases. De acordo com Lacerda (2007), em geral, o ar do solo apresenta maiores concentrações de CO2 e menores de oxigênio, em comparação com o ar atmosférico. O mesmo autor considera que o solo ideal deve ter 50% dos seus espaços preenchidos pela parte sólida, 30% pela solução do solo e 20% pelo ar do solo. Essas proporções, entretanto, são variáveis, dependendo do tipo de solo e de suas propriedades físicas (principalmente textura, estrutura e densidade). É importante ressaltar que a estrutura do solo está diretamente ligada à quantidade de macro e microporos, ou seja, à capacidade de retenção de água e ar. O transporte de água do solo para o interior da raiz pode ser compreendido, inicialmente, pela redução do potencial hídrico da raiz (negativo) em relação ao potencial hídrico do solo, considerando a água disponível no sistema. O potencial hídrico do solo é dado pela pressão osmótica da água no solo (presença de solutos) e pela pressão hidráulica negativa (gradiente de conteúdo de água no solo). O gradiente é formado pelas propriedades de adesão e tensão da água. Em geral, para a determinação do potencial hídrico no solo, mede-se o potencial mátrico e é considerado igual ao Ψw, desprezando-se a contribuição do componente osmótico (em geral, a solução do solo é muito diluída). O potencial mátrico é consequência dos efeitos da capilaridade e da interação da água com as superfícies sólidas do solo (principalmente a argila) (UFC, 2001). Quando o solo perde muita água por gravidade ou evaporação, as moléculas de água por adesão e pelas forças eletrostáticas aderem às partículas do solo, originando alta tensão, constituindo o principal componente do Ψw, com exceções em condições de alta salinidade (USP, 2001). Segundo o mesmA Autora, à medida que o teor de água do solo decresce, a água retrocede para os interstícios entre partículas do solo (formando uma fina camada aderida às partículas sólidas) e a superfície ar/água desenvolve interfaces curvas. A água, sob tais superfícies curvas, desenvolve uma pressão negativa que determina o Ψm. Em solos secos, o valor de Ψm na água do solo torna-se completamente negativo porque o raio de curvatura na superfície ar/água torna-se muito pequeno. 28 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL Para solos úmidos, o Ψp encontra-se perto de zero em situação de capacidade de campo (CC). Quando o solo começa a secar, reduz o Ψp e, consequentemente, o Ψw. Capacidade de campo (CC): é o conteúdo de água que permanece retido por capilaridade após o excesso de água ter sido drenado livremente. É o conteúdo ideal de água no solo, em que os microporos estão cheios de água e os poros maiores cheios de ar. À medida que as plantas absorvem água do solo, elas a esgotam junto às raízes. Tal esgotamento reduz ainda mais o Ψp da água próxima à superfície das raízes, estabelecendo um gradiente de pressão em relação às regiões vizinhas do solo, onde o Ψp é mais elevado. Dessa forma, a água se move em direção às raízes por fluxo de massa, obedecendo a um gradiente de pressão. No processo, além do gradiente de pressão, a condutividade hidráulica do solo deve ser considerada para a determinação da taxa de fluxo. Condutividade hidráulica: é uma medida da facilidade com que a água se move pelo solo, dependendo do tipo de solo e da disponibilidade de água. Solos arenosos, com espaços grandes entre partículas, têm alta condutividade hidráulica, já solos argilosos, com espaços pequenos entre as partículas, possuem condutividade hidráulica consideravelmente menor. Quando a quantidade de água reduz, a sua condutividade hidráulica também reduz, principalmente pela ocupação dos espaços (macroporos) entre partículas de solo pelo ar. A ocupação força a água a migrar para a superfície das partículas sólidas do solo, restringindo o movimento da água à periferia dos canais, dificultando, reduzindo a condutividade hidráulica (TAIZ; ZEINGER, 2009). Em situações de extrema seca do solo, o Ψw pode reduzir a ponto de murchar permanente. No ponto, o Ψw do solo é tão baixo que as plantas não conseguem recuperar a pressão de turgidez (fechamento estomático). Ponto de murcha permanente (PMP): ocorre quando o fluxo de água no solo não atender mais à demanda atmosférica, ou seja, quando a redução do Ψw do solo for tamanha a ponto de ser menor ou igual ao Ψs da planta (e, consequentemente, da raiz), impedindo a absorção pela planta, que entra em murcha permanente (reserva de água no solo está no fim). A quantificação do PMP depende, além do solo, das características da espécie vegetal em cultivo. TÓPICO 2 — RELAÇÕES HÍDRICAS EM CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS 29 • Absorção e movimento radial da água nas raízes O sistema radicular, primeiramente, fixa a planta ao solo e, sobretudo, tem a função de satisfazer as exigências hídricas das folhas. Quase toda a água utilizada pela planta vem do solo e penetra através da epiderme da raiz, em grande parte, na região dos pelos radiculares. A partir dos pelos radiculares, a água se move através do córtex, da endoderme e do periciclo, chegando ao xilema primário ascendendo pela raiz, caule, até nas folhas (USP, 2001). No ponto inicial do ciclo está, portanto, o contato direto da raiz com o solo, que determinará a área de superfície de contato com a água do solo. Fatores importantes são o crescimento da raiz e a presença dos pelos radiculares. Pelos radiculares: extensões microscópicas das células da epiderme das raízes que aumentam significativamente a área de contato com o solo. Após a absorção nos pelos ou células da epiderme da raiz, a água precisa se movimentar radialmente, atravessando o córtex para chegar aos elementos do xilema no centro do estelo. Ela deixa, portanto, de enfrentar o caminho dos poros do solo, e passa a enfrentar as diferentes camadas de células que separam a superfície da raiz do tecido condutor (xilema). Relembrando que uma raiz jovem apresenta, em corte transversal, a epiderme, córtex, endoderme e cilindro central, contendo xilema e floema (LACERDA, 2001). ATENCAO Radialmente, a água pode seguir três vias distintas (USP, 2001): • Via apoplástica: utiliza as paredes e os espaços intercelulares, movendo-se, de forma continuada, até a endoderme. • Via simplástica: movimento de célula em célula através dos plasmodesmas, lembrando que o simplasto é uma rede inteira de citoplasmas de células interconectadas pelos plasmodesmas. • Via transmembranar: a água se move de célula em célula cruzando a membrana plasmática e podendo cruzar, também, a membrana do vacúolo (tonoplasto). O transporte de água, através das membranas, pode ocorrer pela bicamada fosfolipídica ou através de canais, sendo facilitado pelas aquoporinas (proteínas que formam canais para o transporte de água pela membrana). 30 UNIDADE 1 — RELAÇÕES CÉLULA, ÁGUA, SOLO E DESENVOLVIMENTO VEGETAL FIGURA 6 – CORTE TRANSVERSAL EM RAIZ NA ZONA DOS PELOS RADICULARES, MOSTRAN- DO AS TRÊS VIAS DO MOVIMENTO RADIAL DA ÁGUA FONTE: Adaptado de Salisbury e Ross (1992) Na endoderme, o movimento de água através do apoplasto pode ser obstruído pelas estrias de Caspary, uma deposição de suberina, substância hidrofóbica depositada nas paredes radiais das células da endoderme. A suberina age como uma barreira diante dos movimentos de água e de íons, e a entrada de água no cilindro central ocorre, então, via simplasto ou via transmembranar (LACERDA, 2001). Precisamos considerar, também, que o sistema radicular é uma característica genética da espécie, e seu desenvolvimento integral depende de condições
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