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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS MÓDULO I COVID-19: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS CRÉDITOS Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. O conteúdo desta publicação foi desenvolvido e aperfeiçoado pela equipe pedagógica do CONASEMS e pelos especialistas do assunto indicados pela Faculdade São Leopoldo Mandic. Ficha Catalográfica Material de Referência. Curso de Aperfeiçoamento Fortalecimento das Ações de Imunização nos Territórios Municipais. Módulo I: Aula 4: Covid-19: vigilância epidemiológica e controle. CONASEMS. 2021. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS FICHA TÉCNICA Este material foi elaborado e desenvolvido pela equipe técnica e pedagógica do Mais CONASEMS em parceria com a Faculdade São Leopoldo Mandic. Professor Conteudista – Faculdade São Leopoldo Mandic André Ricardo Ribas Freitas Gestor Educacional Rubensmidt Ramos Riani Coordenação Técnica e Pedagógica Cristina Crespo Valdívia Marçal Especialista em Educação a Distância Kelly Santana Priscila Rondas Designer Instrucional Alexandra Gusmão Web Desenvolvedor Aidan Bruno Alexandre Itabayana Cristina Perrone Paloma Eveir Revisão Textual Gehilde Reis Paula de Moura Coordenação Geral Conexões Consultoria em Saúde Ltda. Coordenação Pedagógica - Faculdade São Leopoldo Mandic Fabiana Succi Patrícia Zen Tempski CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Olá! • Compreender a importância e as ações a serem desencadeadas para vigilância e controle da covid-19. • Saber quais são as novas linhagens e as possíveis consequências destas para a saúde pública. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Este é o seu Material de Referência que contempla todo o conteúdo da Aula 4 de forma mais aprofundada. Nosso intuito é agregar mais conhecimento à sua aprendizagem, por isso leia-o com atenção! Mas, antes de iniciar, conheça os objetivos de aprendizagem previstos para esta Aula. Boa leitura! CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS INTRODUÇÃO Vamos continuar o nosso bate-papo? Na Aula 4, você verá como identificar precocemente a ocorrência de casos de covid-19. E você já pensou como são estabelecidos os critérios para a notificação e o registro de casos suspeitos em serviços de saúde? Aqui, você vai encontrar tudo de que precisa sobre o assunto! Mas antes, que tal começarmos pelos objetivos de aprendizagem? VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE • Identificar precocemente a ocorrência de casos da covid-19; • Estabelecer critérios para a notificação e o registro de casos suspeitos em serviços de saúde públicos e privados; • Estabelecer os procedimentos para investigação laboratorial; • Monitorar e descrever o padrão de morbidade e mortalidade por covid-19; • Monitorar as características clínicas e epidemiológicas do vírus SARS-CoV-2; • Realização de rastreamento e quarentena de contatos de casos de infecção pelo vírus SARS-CoV-2; • Estabelecer as medidas de prevenção e controle; • Realizar a comunicação oportuna e transparente da situação epidemiológica no Brasil. OBJETIVOS CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS É preciso diferenciar os casos suspeitos, confirmados, não especificados e descartados, pois isso faz toda diferença na hora de tomar uma conduta. O que define um caso suspeito das outras definições? VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE Indivíduo com quadro respiratório agudo, caracterizado por pelo menos dois (2) dos seguintes sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos (anosmia) ou distúrbios gustativos (ageusia). Casos suspeitos Definição 1: Síndrome Gripal (SG) Em crianças: além dos itens anteriores, considera-se também obstrução nasal, na ausência de outro diagnóstico específico. Em idosos: deve-se considerar também critérios específicos de agravamento como síncope, confusão mental, sonolência excessiva, irritabilidade e inapetência. Na suspeita da covid-19, a febre pode estar ausente e sintomas gastrointestinais (diarreia e dores abdominais) podem estar presentes. OBSERVAÇÕES Definição 2: Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) Indivíduo com SG que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU pressão ou dor persistente no tórax OU saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente OU coloração azulada (cianose) dos lábios ou rosto. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Em crianças: além dos itens anteriores, observar os batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência. Para efeito de notificação no Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe), devem ser considerados os casos de SRAG hospitalizados ou os óbitos por SRAG independente de hospitalização. OBSERVAÇÕES Por critério clínico Caso de SG ou SRAG associado à anosmia (disfunção olfativa) OU ageusia (disfunção gustatória) aguda sem outra causa pregressa. Por critério clínico-epidemiológico Caso de SG ou SRAG com histórico de contato próximo ou domiciliar nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais e sintomas com caso confirmado para covid-19. Por critério clínico-imagem Caso de SG ou SRAG ou óbito por SRAG que não foi possível confirmar por critério laboratorial e que apresente pelo menos uma (1) das seguintes alterações tomográficas: • Opacidade em vidro fosco periférico, bilateral, com ou sem consolidação ou linhas intraoculares visíveis (“pavimentação”), OU; • Opacidade em vidro fosco multifocal de morfologia arredondada com ou sem consolidação ou linhas intralobulares visíveis (“pavimentação”), OU; Casos confirmados da covid-19 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS • Sinal de halo reverso ou outros achados de pneumonia em organização (observados posteriormente na doença). Por critério laboratorial em indivíduo não vacinado contra covid-19 Caso de SG ou SRAG com teste de: • Biologia molecular: resultado detectável para SARS-CoV-2 realizado pelos seguintes métodos: • RT-qPCR em tempo real; • RT-LAMP. • Imunológico: resultado reagente para IgM, IgA e/ou IgG* realizado pelos seguintes métodos: • Ensaio imunoenzimático (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay - ELISA); • Imunocromatografia (teste rápido) para detecção de anticorpos; • Imunoensaio por Eletroquimioluminescência (ECLIA); • Imunoensaio por Quimioluminescência (CLIA). • Pesquisa de antígeno: resultado reagente para SARS-CoV-2 pelo método de Imunocromatografia para detecção de antígeno. *Considerando a história natural da covid-19 no Brasil, um resultado isolado de IgG reagente não deve ser considerado como teste confirmatório para efeitos de notificação e confirmação de caso. Um resultado IgG reagente deve ser usado como critério laboratorial confirmatório somente em indivíduos não vacinados, sem diagnóstico laboratorial anterior para covid-19 e que tenham apresentado sinais e sintomas compatíveis, no mínimo 8 dias antes da realização desse exame. Essa orientação não é válida para inquérito sorológico. OBSERVAÇÕES VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Por critério laboratorial em indivíduo vacinado contra covid-19 Indivíduo que recebeu a vacina contra covid-19 e apresentou quadro posterior de SG ou SRAGcom resultado de exame: • Biologia molecular: resultado detectável para SARS-CoV-2 realizado pelo método RT-PCR em tempo real ou RT-LAMP. • Pesquisa de antígeno: resultado reagente para SARS-CoV-2 pelo método de Imunocromatografia para detecção de antígeno. Tendo em vista a resposta vacinal esperada, com produção de anticor- pos, os testes imunológicos não são recomendados para diagnóstico de covid-19 em indivíduos vacinados. Atenção! Por critério laboratorial em indivíduo assintomático Indivíduo assintomático com resultado de exame: • Biologia molecular: resultado detectável para SARS-CoV-2 realizado pelo método RT-PCR em tempo real ou RT-LAMP. • Pesquisa de antígeno: resultado reagente para SARS-CoV-2 pelo método de Imunocromatografia para detecção de antígeno. Caso de SG ou SRAG não especificada Caso de SG ou de SRAG para o qual não houve identificação de nenhum outro agente etiológico OU que não foi possível coletar/processar amostra clínica para diagnóstico laboratorial, OU que não foi possível confirmar por critério clínico-epidemiológico, clínico-imagem ou clínico. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Caso de SG descartado para covid-19 Caso de SG para o qual houve identificação de outro agente etiológico confirmado por método laboratorial específico, excluindo-se a possibilidade de uma coinfecção, OU confirmação por causa não infecciosa, atestada pelo médico responsável. • Ressalta-se que um exame negativo para covid-19 isoladamente não é suficiente para descartar um caso para covid-19. • O registro de casos descartados de SG para covid-19 deve ser feito no e-SUS notifica. Para fins de vigilância, notificação e investigação de casos e monitoramento de contatos, o critério laboratorial por biologia molecular deve ser considerado o padrão ouro, não excluindo os demais critérios de confirmação. OBSERVAÇÕES Diante da emergência ocasionada pelo coronavírus SARS-CoV-2, o reconhecimento da pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e a declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), o Ministério da Saúde (MS) tem estabelecido sistematicamente medidas para resposta e enfrentamento da covid-19. Entre as medidas indicadas pelo MS, estão as não farmacológicas, como distanciamento social, etiqueta respiratória e de higienização das mãos, uso de máscaras, limpeza e desinfeção de ambientes, isolamento de casos suspeitos e confirmados e quarentena dos contatos dos casos de covid-19, conforme orientações médicas. Essas medidas devem ser utilizadas de forma integrada, a fim de controlar VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS a transmissão do SARS-CoV-2, permitindo também a retomada gradual das atividades desenvolvidas pelos vários setores e o retorno seguro do convívio social. Para indivíduos com quadro de Síndrome Gripal (SG) - leve a moderado - com confirmação para covid-19 por qualquer um dos critérios (clínico, clínico- epidemiológico, clínico-imagem ou clínico-laboratorial) ou que ainda não coletou amostra biológica para investigação etiológica, as medidas de isolamento e precaução podem ser suspensas após 10 dias do início dos sintomas, desde que permaneça afebril sem o uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos 24 horas e com remissão dos sintomas respiratórios. Para indivíduos com quadro de Síndrome Gripal (SG) - leve a moderado - para os quais não foi possível a confirmação pelo critério clínico, clínico epidemiológico ou clínico imagem, e que apresentem resultado de exame laboratorial não reagente ou não detectável pelo método RT-qPCR ou teste rápido para detecção de antígeno para SARS-CoV-2, as medidas de isolamento e precaução podem ser suspensas desde que permaneça afebril sem o uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos 24 horas e com remissão dos sintomas respiratórios. Orientações para isolamento de casos de covid-19 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE Para indivíduos com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) - grave/crítico - com confirmação por qualquer um dos critérios (clínico, clínico-epidemiológico, clínico- imagem ou clínico-laboratorial) para covid-19, as medidas de isolamento e precaução podem ser suspensas após 20 dias do início dos sintomas OU após 10 dias com resultado RT- qPCR negativo, desde que permaneça afebril sem o uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos 24 horas e com remissão dos sintomas respiratórios, mediante avaliação médica. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Para indivíduos hospitalizados com quadro de SRAG para os quais não foi possível a confirmação pelos critérios clínico, clínico-epidemiológico ou clínico-imagem, caso um primeiro teste de RT-qPCR venha com resultado negativo, um segundo teste na mesma metodologia, preferencialmente com material de via aérea baixa, deve ser realizado 48 horas após o primeiro. Sendo os dois negativos, o paciente poderá ser retirado da precaução para covid-19 (atentar para o diagnóstico de outros vírus respiratórios, como influenza). Ao receber alta hospitalar antes do período de 20 dias, o paciente deve cumprir o restante do período em isolamento OU após 10 dias com dois resultados RT-qPCR negativo, desde que afebril sem uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos 24 horas e com remissão dos sintomas respiratórios, mediante avaliação médica. Para indivíduos assintomáticos confirmados laboratorialmente para covid-19 (resultado detectável pelo método RT-qPCR ou teste rápido para detecção de antígeno para SARS- CoV-2), deve-se manter isolamento, suspendendo-o após 10 dias da data de coleta da amostra. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Critério para suspensão do isolamento Indivíduos com quadro de Síndrome Gripal (SG) - leve a moderado - suspeita ou com confirmação por qualquer critério: pelo menos 10 dias desde o início dos sintomas e pelo menos 24 horas sem febre (sem uso de antitérmicos) e remissão dos sintomas respiratórios. Indivíduos com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) - grave/crítico OU gravemente imunossuprimido: pelo menos 20 dias desde o início dos sintomas e pelo menos 24 horas sem febre (sem uso de antitérmicos) e remissão dos sintomas respiratórios e mediante avaliação médica. Indivíduo assintomático não gravemente imunossuprimido: pelo menos 10 dias após a data da coleta do primeiro teste RT-qPCR positivo. Indivíduo assintomático gravemente imunossuprimido: pelo menos 20 dias após a data da coleta do primeiro teste RT-qPCR positivo. QUADRO Observações: testes sorológicos (teste rápido, ELISA, ECLIA, CLIA) para covid-19 não deverão ser utilizados, de forma isolada, para estabelecer a presença ou ausência da infecção pelo SARS-CoV-2, nem como critério para isolamento ou sua suspensão, independente do tipo de imunoglobulina (IgA, IgM ou IgG) identificada. Para casos confirmados de covid-19 em indivíduos severamente imunocomprometidos, a estratégia baseada em testagem laboratorial (RT-qPCR) deve ser considerada, a critério médico, para descontinuidade do isolamento. Os casos encaminhados para isolamento domiciliar deverão continuar usando máscara e manter a etiqueta respiratória, sempre que for manter contato com outros moradores da residência, mesmo adotando o distanciamento social recomendado de pelo menos um metro e manter a limpeza e desinfecção das superfícies, conforme as recomendações da Anvisa. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Rastreamento, isolamento e monitoramento de contatos de casos de covid-19 O rastreamento de contatos é uma medida de saúdepública que visa diminuir a propagação de doenças infectocontagiosas a partir do isolamento dos contatos (quarentena) e da identificação precoce de novas infecções resultantes da exposição a um caso conhecido. Dessa forma, é possível isolar novos casos e prevenir o surgimento de uma próxima geração de infecções a partir de um caso índice. O rastreamento de contatos tem como objetivos : • Identificar, isolar e monitorar os contatos próximos de casos confirmados de covid-19; • Identificar oportunamente possíveis casos em indivíduos assintomáticos; • Interromper as cadeias de transmissão, diminuindo o número de casos novos de covid-19. OBSERVAÇÕES Definição de contato É qualquer pessoa que esteve em contato próximo a um caso confirmado de covid-19 durante o seu período de transmissibilidade, ou seja, entre 48 horas antes até 10 dias após a data de início dos sinais e/ou sintomas (caso confirmado sintomático) ou após a data da coleta do exame (caso confirmado assintomático). VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Para fins de vigilância, rastreamento e monitoramento de contatos, deve-se considerar contato próximo a pessoa que: • Esteve a menos de um metro de distância, por um período mínimo de 15 minutos, com um caso confirmado sem ambos utilizarem máscara facial ou utilizarem de forma incorreta; • Teve um contato físico direto (por exemplo, apertando as mãos) com um caso confirmado; • É profissional de saúde que prestou assistência em saúde ao caso de covid-19 sem utilizar equipamentos de proteção individual (EPI), conforme preconizado, ou com EPI danificados; • Seja contato domiciliar ou residente na mesma casa/ambiente (dormitórios, creche, alojamento, dentre outros) de um caso confirmado. Considera-se caso confirmado de covid-19, o caso de SG ou SRAG que atenda um dos critérios de confirmação descrito nas classificações operacionais. Para efeito de avaliação de contato próximo, devem ser considerados também os ambientes laborais ou eventos sociais. OBSERVAÇÕES Cenários O rastreamento de contatos deve ser utilizado para todos os casos confirmados. É desejável que essa estratégia também seja feita, sempre que possível para os casos suspeitos, em locais com poucos casos ou que tenha baixa capacidade laboratorial instalada. Essa estratégia se torna mais efetiva quanto menor for o número de casos no território porque, em lugares com elevada incidência, os esforços das equipes de saúde estarão voltados, principalmente, para impedir o esgotamento dos serviços de saúde. Nessa situação, recomenda-se que o rastreamento, isolamento e monitoramento de contatos seja realizado conforme a capacidade local, priorizando-se os aglomerados de casos de covid-19 em lugares bem delimitados (instituições fechadas, trabalho em ambientes fechados ou confinados, casas de repouso, penitenciárias, dentre outros) ou quando a curva epidêmica estiver VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS QUADRO 2 - RASTREAMENTO DE CONTATOS PRÓXIMOS SEGUNDO CENÁRIOS EPIDEMIOLÓGICOS DA COVID-19. em sentido descendente de aceleração. Já em lugares onde há poucos casos ou esses são esporádicos, é fortemente recomendada a realização do rastreamento, isolamento e o monitoramento de contatos para todos os casos de covid-19. Neste sentido, no quadro 2, são apresentadas recomendações sobre o rastreamento de contatos, segundo o contexto epidemiológico da doença no território. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CENÁRIOS 1 • Apenas casos importados* • Casos autóctones** esporádicos • Clusters localizados*** CARACTERÍSTICA LOCAL Identi�car, capacitar e manter uma equipe de investiga- dores prontos para iniciar o rastreamento de contatos a partir do primeiro caso identi�cado. Nesta situação, sugere-se que todos os contatos próxi- mos sejam identi�cados rapidamente, avaliados por uma equipe de saúde, testados, isolados e monitorados por até 10 dias. 2 • Transmissão comunitária • Curva epidêmica em ascensão acelerada Quando a transmissão é intensa e disseminada no terri- tório, o rastreamento de contatos pode ser difícil de ope- racionalizar, mas deve ser realizado sempre que for possível, priorizando os contatos domiciliares, trabalha- dores de serviços de saúde, da segurança pública e trabalhadores de atividades de alto risco (casas de repouso, penitenciárias, alojamentos, entre outros). RECOMENDAÇÕES *Local de infecção fora do seu município de residência. ** Casos autóctones - municípios com casos de transmissão local. *** Situação onde se tem casos em local bem delimitado (instituições de longa permanência, creches, centros de ensino, residência, empresas, entre outros). CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Quando o nível local verificar que a curva epidêmica está em redução, a rápida identificação de casos, o rastreamento e monitoramento de contatos se farão ainda mais necessários, a fim de identificar e interromper, oportunamente, as possíveis cadeias de transmissão, prevenindo a ocorrência de uma nova onda de casos. OBSERVAÇÕES Rastreamento de contatos O rastreamento de contatos deve ser realizado a partir do momento em que se identifica um caso suspeito de covid-19 ou então quando a vigilância tem conhecimento de um caso confirmado. Na primeira situação, em que geralmente o caso suspeito está em um serviço de saúde, ele deve ser direcionado para conversar com um profissional de saúde que possa lhe perguntar quais foram os contatos próximos (conforme definição detalhada anteriormente) que ele teve 2 dias (48 horas) antes do início dos sintomas até àquele momento. A segunda situação é aquela em que a vigilância identifica um caso já confirmado, seja via resultado laboratorial ou por consultar um sistema de informação (e-SUS Notifica ou SIVEP-Gripe). Uma terceira possibilidade é quando um indivíduo assintomático apresenta resultado laboratorial positivo por RT-qPCR ou por teste de antígeno. Nas três situações, todos os contatos precisam ser listados com o objetivo de identificar as pessoas que estiveram com um caso suspeito ou confirmado no período de transmissibilidade da doença, ou seja, 48 horas antes do início dos sintomas (para os casos sintomáticos) ou até 48 horas antes da data da coleta do exame (para os casos assintomáticos) até 10 dias após o início dos sintomas. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS O entrevistador deve solicitar ao caso suspeito e/ou confirmado, as informações mínimas dos contatos para que estes possam ser localizados posteriormente, seja por telefone, meio eletrônico ou por visita. Recomenda-se realizar o registro dos contatos e suas informações no verso da ficha de notificação de caso suspeito de covid-19, do e-SUS Notifica, mas pode-se usar qualquer outro instrumento, respeitando a organização do município ou estado. De acordo com a organização local, uma equipe será responsável por realizar o rastreamento dos contatos e outra equipe o monitoramento dos contatos. Para ser efetivo, o rastreamento de contatos deve ser precedido de ações de comunicação que visem aumentar o engajamento da população no enfrentamento da covid-19. A comunidade deve estar bem informada sobre o que é o rastreamento e isolamento de contatos, seus objetivos e importância de sua participação para ajudar na diminuição da propagação da covid-19 na comunidade. Também devem estar bem informadas no sentido de atender as orientações da equipe de monitoramento, se dirigindo a um serviço de saúde quando orientado, mantendo ações de prevenção (etiqueta respiratória, distanciamento físico e uso de máscaras) e isolamento pelo período adequado. Atenção!Isolamento e monitoramento de contatos O isolamento e monitoramento de contatos é uma estratégia que deve ser conduzida para todos os contatos próximos identificados de casos suspeitos e/ou confirmados por qualquer um dos critérios (clínico, clínico-epidemiológico, clínico-imagem ou clínico-laboratorial) para covid-19. A equipe do monitoramento dos contatos deverá acionar os contatos identificados, preferencialmente nas primeiras 48 horas após a notificação do caso. Todos os contatos devem ser contatados pessoalmente ou por telefone para confirmar se eles atendem às definições propostas e, portanto, serem incluídos na estratégia de monitoramento. O atestado médico deve ser oferecido aos contatos em razão da necessidade de afastamento do trabalho durante o período de isolamento (quarentena). VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Cada indivíduo identificado como contato deve receber informações sobre: • Objetivo da estratégia de rastreamento, isolamento e monitoramento de contatos; • Se aceita participar do monitoramento, a cada 2 dias, até que se complete 14 di- as após ter encontrado com o caso suspeito ou confirmado; • Necessidade de procurar um serviço de saúde para realização de triagem (exames clínicos) e coleta de material para exames laboratoriais, caso esta seja uma estraté- gia local; • A doença e as manifestações clínicas que deverão ser observadas durante o período de monitoramento. Isso inclui o aparecimento de qualquer sintoma de síndrome gripal, especialmente febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza ou congestão nasal, distúrbios olfativos (perda de olfato) ou gustativos (perda de paladar) sem causa anterior, falta de ar ou dificuldade em respirar; • O que fazer se apresentar algum sintoma, incluindo: i) a quem se reportar; ii) como se isolar e quais precauções adicionais deve tomar (observar sinais de gravidade); e iii) quais são os serviços de referência para diagnóstico e tratamento que deve buscar; • Como e onde deve ser realizado o isolamento: a) se orientação médica, ficar em casa pelo período de 14 dias após a data da última exposição ao caso; b) manter distanciamento físico de pelo menos um metro dos demais moradores da residência e uso de máscara quando estiverem no mesmo ambiente; c) verificar a temperatura no mínimo duas vezes ao dia; d) estar atento para à manifestação de sinais e sintomas; e) evitar contato com pessoas de grupos com maior risco (vide tópico fatores de risco); • Atestado médico para afastamento laboral durante o período de isolamento (quarentena); • Canais oficiais de comunicação sobre a covid-19 (site do Ministério da Saúde e governo local, telefones de contato, serviços de saúde de referência, entre outros); • Sigilo e confidencialidade das informações coletadas (como poderão ser usados, como serão armazenados, processados e divulgados – informes, boletins, artigos, entre outros); • Forma acordada de acompanhamento durante o período de monitoramento (pessoalmente, por telefone, e-mail, entre outros), incluindo a periodicidade e os horários disponíveis. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE Para proteger a privacidade do caso, recomenda-se informar ao contato que este pode ter sido exposto a um paciente com diagnóstico de covid-19, preservando o sigilo e a confidencialidade da provável fonte de infecção. Para efeitos de afastamento das atividades laborais de contatos próximos de casos confirmados, considerar a previsão legal da Portaria Conjunta n°20 de 18 de junho de 2020, que estabelece as medidas a serem observadas visando à prevenção, ao controle e à mitigação dos riscos de transmissão da covid-19 nos ambientes de trabalho. OBSERVAÇÕES Uma vez identificados, os contatos devem ser monitorados a cada 2 dias, contudo essa periodicidade pode ser diária se o município tiver condições operacionais. Deve-se perguntar sobre o cumprimento das recomendações de isolamento, aparecimento de sinais e sintomas compatíveis da covid-19 por um período de até 14 dias após a data do último contato com o caso confirmado para covid-19. Com o monitoramento sendo a cada 2 dias, pode-se coincidir que as ligações sejam no 3º, 5º, 7º, 9º, 11º e 13º dia de sintomas, porém deve-se encerrar o ciclo completo, sendo necessário realizar também no 14º dia. Os contatos que desenvolverem sinais ou sintomas sugestivos de covid-19 (sintomáticos), durante o período de monitoramento, serão considerados como casos suspeitos de covid-19, sendo orientados a procurar um serviço de saúde mais próximo, para avaliação clínica e realização de testagem. Deverá ser seguida as orientações para isolamento descritas no item “Orientações para isolamento de casos de covid-19”. Esse contato deixará de ser monitorado como contato e deverá ser iniciado o rastreamento de seus contatos. Dessa forma, esse monitoramento deve ser encerrado como caso suspeito de covid-19. Caso, durante o monitoramento, se identifique que o indivíduo apresenta sinais de agravamento, como dispneia ou dor torácica, deverá ser orientado a procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo, conforme fluxo estabelecido pelo território. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE Se durante o monitoramento, um caso assintomático tiver confirmação laboratorial para covid-19 (resultado detectável pelo método RT-qPCR ou teste rápido para detecção de antígeno para SARS-CoV-2), deve-se manter o isolamento e monitoramento de sinais e sintomas, suspendendo-os após 10 dias da data de coleta da amostra, conforme descrito no item “Orientações para isolamento de casos de covid-19”. Para contatos próximos assintomáticos com resultado não detectável pelo método RT-qPCR ou teste rápido para detecção de antígeno para SARS-CoV-2, o isolamento pode ser suspenso, mantendo o automonitoramento de possíveis sinais e sintomas pelo período de 14 dias do último contato. Para realização do monitoramento de contatos, deve ser estabelecida uma comunicação direta entre a equipe de investigadores e os contatos que estão em isolamento. Sugere-se que esta comunicação seja a cada dois dias, no entanto, a gestão local poderá determinar essa periodicidade conforme a sua capacidade. O primeiro contato é o mais importante, ele deve ser feito o mais precocemente possível e durante este contato devem ser dadas todas as orientações de como e por que deve ser feito o isolamento, e todas as dúvidas devem ser esclarecidas para aumentar a adesão. No quadro 3, estão listadas as estratégias para monitoramento de contatos. ESTRATÉGIA Equipe de investigadores EXECUTOR Monitoramento a cada dois dias de potenciais sinais e sintomas por telefone, email ou visita domiciliar, preco- nizando-se sempre o distanciamento social e o uso de Equipamentos de Proteção pelos investigadores. O monitoramento deve ser feito a cada dois dias, porém, se atrasar mais de um dia, deve-se coletar os dados de forma retrospectiva. O próprio contato Quando a transmissão é intensa e disseminada no terri- tório, o rastreamento de contatos pode ser difícil de ope- racionalizar, mas deve ser realizado sempre que for possível, priorizando os contatos domiciliares, trabalha- dores de serviços de saúde, da segurança pública e trabalhadores de atividades de alto risco (casas de repouso, penitenciárias, alojamentos, entre outros). DESCRIÇÃO Ativa Passiva QUADRO 3 - ESTRATÉGIAS PARA O MONITORAMENTO DOS CONTATOS CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS Equipe de trabalho O rastreamento de contatos é uma atividade multidisciplinar e uma oportunidade de integração entre a vigilância e a atenção primáriaà saúde. Sugere-se que a equipe de investigadores seja mista, composta por, pelo menos, um técnico da vigilância e outro da atenção primária, que pode ser, inclusive, um agente comunitário de saúde (ACS). O tamanho da equipe de investigadores depende de diversos fatores, incluindo o número de casos e contatos, a disponibilidade de Equipamentos de Proteção, a capacidade operacional e logística, entre outros, e deverá ser definida localmente. Sugere-se que as equipes de investigadores se reportem a um supervisor, que deverá se responsabilizar pelas questões operacionais e logísticas para manter as equipes atuantes e garantir a qualidade da coleta e análise de dados, revisando uma amostra das entrevistas que forem sendo realizadas. A distribuição das entrevistas por equipe de investigadores pode ser realizada por proximidade espacial (visitas domiciliares), ou por turnos (telefone ou e-mail). VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE Durante as visitas domiciliares, os investigadores devem manter a distância mínima de um metro dos casos ou contatos de covid-19, usar Equipamento de Proteção e, preferencialmente, conduzir as entrevistas em lugares externos ou bem arejados. OBSERVAÇÕES O rastreamento de contatos requer, além da equipe capacitada, materiais administrativos e outros de suporte, como identificação oficial, transporte, insumos laboratoriais, equipamentos como aparelho celular, telefone, computador, conexão com a internet, além de máscaras, luvas, sanitizantes como álcool gel, entre outros. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA Onde está o perigo das variantes emergentes do SARS-CoV-2 e suas implicações na saúde coletiva? Todos os vírus, incluindo o SARS-CoV-2 (do inglês: Severe Acute Respiratory Syndrome CoronaVirus 2) sofrem mutação. Essas mudanças genéticas acontecem à medida que o vírus faz novas cópias de si mesmo para se espalhar e prosperar. A maioria das mutações é irrelevante e algumas podem até ser prejudiciais à perpetuação do vírus (pressão seletiva negativa), mas outras podem facilitar sua propagação (pressão seletiva positiva) ou torná-lo mais patogênico para o hospedeiro (os seres humanos). Entre as mutações do SARS-CoV-2 mais relevantes do ponto de vista clínico e epidemiológico estão as que afetam a proteína S (do inglês, spike, espícula viral), que desempenha um papel importante durante o processo infeccioso, facilitando a entrada do coronavírus nas células humanas. O processo de infecção acontece quando o vírus entra na célula após a ligação entre o domínio RBD (do inglês receptor-binding domain) da proteína S e o receptor da célula alvo, que é a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE-2). Grande parte da proteção contra a covid-19 (do inglês: COronaVIrus Disease 2019) é mediada pela resposta imune dirigida contra esta mesma proteína. Anticorpos neutralizantes do vírus ligam-se à proteína S, geralmente na região do RBD impedindo CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA que o vírus se fixe ao receptor ACE-2 das células humanas. Grande parte, se não a totalidade, das vacinas atualmente em uso ou em estudo se baseiam na indução da produção de anticorpos direcionados a estes sítios. Mutações na proteína S que aumentam a quantidade de vírus eliminado por uma pessoa infectada ou que aumentam sua afinidade do RBD pelo receptor ACE-2 podem estar associadas ao aumento da transmissão do vírus. Um exemplo é a mutação D614G que está associada a cargas virais mais altas e a uma maior transmissibilidade. Linhagens com esta mutação passaram a ser predominantes em todo o mundo a partir de meados de 2020, substituindo as linhagens originais. Outras mutações podem alterar a proteína S e prejudicar a ligação dos anticorpos neutralizantes e, consequentemente, aumentar o risco de reinfecções ou diminuir a eficácia das vacinas. Outro aspecto a ser considerado das mutações é a perda de sensibilidade aos testes de diagnóstico, que traz preocupação quanto à necessidade do monitoramento contínuo das novas variantes para permitir a contínua atualização dos métodos de diagnóstico utilizados no screening molecular ou mesmo sorológico. Nas últimas semanas, tem surgido no meio científico uma grande preocupação em relação a três variantes do vírus SARS-CoV-2, conhecidas na nomenclatura dinâmica, recentemente proposta por Rambaut et al., como: i) B.1.1.7 (ou VUI – 202012/01), ii) B.1.351 (ou 501Y.V2) e iii) P.1, inicialmente identificadas em pacientes infectados respectivamente no Reino Unido, na África do Sul e em Manaus no Brasil. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA Essas variantes são consideradas preocupantes devido à presença de um conjunto de mutações que levaram ao aumento da transmissibilidade e à deterioração das situações epidemiológicas nas áreas onde recentemente se estabeleceram. Apesar de terem origens distintas, elas compartilham uma constelação de mutações, o que reforça a possibilidade de que estas mutações ofereçam vantagens competitivas relevantes. Variantes preocupantes (VOC, variant of concern) Em 14 de dezembro de 2020, as autoridades do Reino Unido notificaram uma variante denominada pelo Reino Unido como SARS-CoV-2 VOC 202012/01 ou B.1.1.7. Essa linhagem carrega 14 mutações definidoras, incluindo sete na proteína S. Entre estas 7 está a mutação N501Y, que está associada a maior afinidade do vírus pelo receptor ACE-2 o que pode explicar a sua rápida expansão. O nome da mutação se refere à natureza da sua mudança: o aminoácido na posição 501 na proteína S mudou de N (asparagina) para Y (tirosina). Até o momento, essa linhagem já foi encontrada em 70 países, dos quais 29 com transmissão local. Ela foi responsabilizada pelo agravamento da situação epidemiológica no Reino Unido, Portugal e outros países da Europa entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Apesar dos primeiros relatos não encontrarem evidências de impacto na gravidade da doença, uma atualização publicada em janeiro de 2021 do New and Emerging Respiratory Virus Threats Advisory Group (NERVTAG) da agência britânica Public Health England, relatou, entre outros, um estudo de coorte que encontrou um risco relativo de morte de 1,65 (IC de 95% 1,21-2,25) entre indivíduos infectados com a linhagem B.1.1.7 comparado com casos não-B.1.1.7. Outro achado preocupante em relação a esta linhagem foi o aumento na proporção de casos entre crianças e adultos jovens. Em 18 de dezembro de 2020, as autoridades nacionais da África do Sul anunciaram a detecção de uma nova variante do SARS-CoV-2 denominada B.1.351 (ou 501Y. V2), devido à presença da mutação N501Y. Embora a variante B.1.1.7 também tenha a mutação N501Y, análises filogenéticas demonstraram que a variante B.1.351, detectada na África do Sul, tem origem diferente. Os dados genômicos demonstraram que a variante 501Y.V2 substituiu rapidamente outras linhagens que circulam na África do Sul, tornando-se a dominante na região. A linhagem B.1.351 apresenta múltiplas mudanças na proteína S das quais se destacam três que estão localizadas no domínio RDB (K417N, E484K e N501Y). A mutação N501Y variante está associada ao aumento da infecciosidade, uma vez que ela parece aumentar a ligação entre a proteína S do vírus e o receptor do hospedeiro. A mutação E484K altera a região da espícula onde ocorre o acoplamento de imunoglobulinas neutralizantes permitindo CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA o escape viral (quando o vírus não é neutralizado pelo anticorpo) eaumentando o risco de reinfecção. Essa linhagem foi identificada pela primeira vez na Baía Nelson Mandela, ao longo da costa leste da África do Sul e espalhou-se rapidamente para os outros distritos do Cabo Oriental e para as província do Cabo Ocidental e KwaZulu Natal (KZN), tornando-se a linhagem dominante nas províncias do Cabo Oriental e do Cabo Ocidental em semanas. Já foi encontrada até o momento em 31 países, dos quais 13 com transmissão local, e está associada à segunda onda de covid-19 iniciada em dezembro de 2021 na África do Sul (https://cov-lineages.org/global_ report.html, consultado em 6/fev/2021). Em 9 de janeiro de 2021, o Japão notificou à OMS sobre uma nova variante de SARS-CoV-2, a P1 (inicialmente relatada como B.1.1.248), detectada em quatro viajantes provenientes do Brasil. Esta variante não está geneticamente relacionada às variantes SARS-CoV-2 B.1.1.7 e B.1.351, tendo sido identificada em dezembro de 2020 em Manaus, capital do estado do Amazonas, no Brasil. Essa variante possui 12 mutações na proteína S, incluindo três mutações de interesse em comum com B.1.351, ou seja, K417N / T, E484K e N501Y, que podem afetar a transmissibilidade e a resposta imune do hospedeiro. O fato dessas linhagens terem origens distintas, mas possuírem as mesmas mutações, sugere um processo denominado convergência evolutiva, que é o nome dado quando características semelhantes são selecionadas em diferentes locais por apresentarem vantagens claras como maior transmissibilidade, sucesso na replicação ou mesmo escape imunológico. Esta nova linhagem de SARS-CoV-2 esteve ausente nas amostras coletadas entre março e novembro em Manaus, mas foi identificada em 42% das amostras de dezembro de 2020 e em 91% das amostras coletadas na mesma cidade em janeiro de 2021, sugerindo um forte e recente aumento na frequência desta linhagem associada à segunda e maior onda de covid-19 na cidade. A soroprevalência em Manaus observada em junho de 2020 era de 52,5% (IC 95%= 47,6–57,5), logo após a primeira onda epidêmica indicando que esta nova linhagem foi, também, submetida a uma forte pressão seletiva. Também merece ser citada, a linhagem brasileira P.2, portadora da mutação E484K, identificada pela primeira vez em outubro de 2020 que já era a mais prevalente CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA entre as linhagens sequenciadas de pacientes que desenvolveram sintomas em novembro no estado do Rio de Janeiro, também no Brasil. Analisando os dados da Rede Genômica Fiocruz, que reúne pesquisadores de diversos institutos da Fundação Oswaldo Cruz, verificamos que desde o início da emergência das linhagens P.1 e P.2 em outubro de 2020, em apenas 4 meses estas linhagens correspondiam juntas por 75% de todas as linhagens sequenciadas em todo o Brasil. Na cidade de Manaus, estas duas linhagens juntas corresponderam a 97,8% das amostras de vírus sequenciados em janeiro de 2021. Além das variantes já mencionadas, o Brasil, Europa, os Estados Unidos da América, o Japão e outros países já notificaram a detecção de muitas outras novas variantes, cuja abrangência e importância para a saúde pública exigem mais investigação epidemiológica e laboratorial. Reinfecções O fato de novas linhagens causarem epidemias em locais já afetados por epidemias severas anteriores levanta algumas preocupações, tais como: o aumento na transmissibilidade e a possibilidade do escape antigênico. Apontando neste sentido, no Brasil, vários casos de reinfecção pelas novas linhagens também têm sido descritos. A descoberta de casos de reinfecção serve de alerta e reforça a necessidade de manutenção das medidas de controle da pandemia, com distanciamento social e a necessidade de acelerar o processo de vacinação, para reduzir a possibilidade de circulação desta e de possíveis futuras linhagens que, ao acumular mutações, podem vir a se tornar mais infectantes, inclusive para indivíduos que já tiveram a doença. Nesse sentido, já foi recentemente demonstrado in vitro que a linhagem B.1.351 tem maior resistência à neutralização por anticorpos de pacientes que tiveram infecção natural. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA Vacinas Estudos sobre a proteção entre pessoas que receberam vacinas contra covid-19 ainda são poucos, mas já demonstram que a resposta a estas linhagens é diferente das respostas às linhagens originais. Pesquisadores estimaram que a vacina Novavax foi 95,6% eficaz contra o vírus que circulava originalmente no Reino Unido e 85,6% contra a linhagem B.1.1.7. De fato, mutação N501Y, associada a esta linhagem, levantava menos preocupações sobre a capacidade do escape imunológico. Os estudos realizados com esta vacina na África do Sul demonstram uma eficácia global de 49,4% contra a linhagem B.1.351, excluindo a população HIV-positiva desse grupo da análise, a vacina foi 60% eficaz. A atividade de plasma de indivíduos 8 semanas após a segunda dose das vacinas de mRNA Moderna (mRNA-1273) ou Pfizer-BioNTech (BNT162b2) contra as variantes do SARS-CoV-2 que carregam as mutações E484K ou N501Y ou a combinação K417N: E484K: N501Y foi reduzida por uma margem pequena, mas significativa. As taxas de proteção das vacinas contra as novas linhagens emergentes ainda não foram total e definitivamente testadas em estudos de fase 3, nem sabemos como será o comportamento da proteção induzida por qualquer vacina ao longo do tempo. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA Vigilância virológica, rastreamento e quarentena de contatos O início da vacinação em todo o mundo tem sido bastante comemorado e é realmente um fato bastante positivo, no entanto é necessário cautela com o relaxamento das medidas de controle desta doença e principalmente com a comunicação social de risco, uma vez que a população precisa se conscientizar da necessidade de manutenção dos cuidados de afastamento social e cuidados individuais para diminuição do risco de transmissão do SARS-CoV-2. Considerando a ocorrência de grandes epidemias onde já haviam ocorrido graves ondas epidêmicas, o aumento no risco de reinfecções e até a possibilidade de diminuição na eficácia das vacinas, é fundamental reforçar a vigilância virológica e genômica para identificar precocemente e acompanhar a difusão de novas linhagens, sejam elas brasileiras, sejam elas recém-introduzidas. Uma vigilância específica buscando investigar adequadamente e sequenciar os vírus causadores de infecções em vacinados ou reinfecções é mandatório para que novas linhagens e/ou escape imunológico possam ser identificados precocemente, e medidas de contenção sejam tomadas. No Brasil, o controle da covid-19 tem se baseado fundamentalmente nas medidas coletivas de afastamento social, o rastreamento e quarentena de contatos não tem sido aplicado sistematicamente pelo órgão de saúde pública brasileiro em nenhum dos três níveis de governo, sejam eles federal, estadual e municipal. Considerando que quase 50% da transmissão ocorre antes do início dos sintomas, o rastreamento e quarentena de contatos se torna fundamental para a contenção destas novas linhagens e é estratégico para garantir o controle da doença, ou pelo menos para a diminuição da velocidade de transmissão, enquanto mais estudos podem ser feitos para aumentar os conhecimentos e capacidade de enfrentamento a estas novas linhagens. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizamos a Aula 4! E aí, gostou do conteúdo? Por tudo o que foi apresentado, acreditamos que o desafio imposto pelo SARS-CoV-2 não terminacom a introdução das vacinas, muito ainda deve ser feito nos próximos meses e anos em termos de vigilância epidemiológica, virológica e estudos nas áreas de epidemiologia, clínica, imunologia, virologia e outras áreas do conhecimento para garantir segurança à população mundial em relação à covid-19. Você concorda? CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Doenças não Transmissíveis. Guia de vigilância epidemiológica Emergência de saúde pública de Importância nacional pela Doença pelo coronavírus 2019 – COVID-19 (versão 3, 15/mar/2021) Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2021. 86 p.: il. FREITAS ARR, Giovanetti M, Alcantara LCJ. Emerging variants of SARS-CoV-2 and its public health implications. IAJMH. 2021Feb.8; 4. Available from: https://iajmh.com/ iajmh/article/view/181 He, X., Lau, E.H.Y., Wu, P. et al. Temporal dynamics in viral shedding and transmissibility of COVID-19. Nat Med 26, 672–675 (2020). https://doi.org/10.1038/s41591-020- 0869-5. REFERÊNCIAS CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS COVID-19: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE
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