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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Disciplina Legislação e Propriedade Intelectual Aula 3 Professora Lorena Paes de Almeida CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Contextualizando Como vimos, a Propriedade Intelectual se divide em três áreas: a Propriedade Industrial, os Direitos Autorais e a Proteção Sui Generis. Nessa aula, trataremos dos Direitos Autorais que protegem os interesses dos criadores e autores de obras intelectuais, destinando a eles direitos morais e de exclusividade na exploração de suas obras, buscando incentivar a produção e promover o desenvolvimento econômico e social. Dessa forma, os Direitos Autorais nascem com dois objetivos: oferecer respaldo para a criatividade e proteger os interesses das indústrias investidoras na cultura, pois elas são as maiores detentoras de copyrights. O desenvolvimento tecnológico trouxe uma nova perspectiva para os direitos autorais, os computadores (incluídos os softwares e todas as suas ferramentas para alteração de conteúdos) e a internet nos trouxeram novas formas de criação e fruição da cultura, além da fragilidade para harmonia social, o que nos leva a explorar como o Direito deve intervir para restaurar a convivência pacífica social e garantir a segurança dos envolvidos no tema. Acesse o material on-line e confira a videoaula com os comentários iniciais da professora Lorena. Tema 1 - Evolução histórica De acordo com Mizukami (2007), o surgimento do Direito Autoral se deve a quatro fatores: A invenção e disseminação da imprensa de tipos móveis (1450 – Gutenberg); Figura 1 – Prensa. Figura 2 – Tipos móveis. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 O surgimento da concepção moderna da figura do autor, segundo a qual era importante aliar a obra ao seu autor; O crescimento do mercado de livros; O ambiente cultural no contexto de surgimento do direito autoral. Antes da imprensa, a reprodução de livros e documentos acontecia por transcrição (cópia) dos manuscritos. Por ser um processo muito moroso, o volume produzido era mínimo, então estas obras ficavam concentradas na Igreja, pois normalmente quem trabalhava na geração desse material eram os monges. Com a invenção da prensa tipográfica, aconteceu uma revolução, pois ela permitia a geração de um número muito maior de cópias em menor tempo. Com uma produção maior, já não havia razão para que essas obras ficassem concentradas nas mãos de poucos, e a sociedade lentamente começou a ter acesso a esses trabalhos. Porém, essa pulverização de obras não determinou o surgimento do Direito Autoral. Na China do século XIl, o mercado de livros era próspero, porém os autores chineses não tinham qualquer direito de propriedade intelectual sobre as obras vendidas, pois o valor do livro estava diretamente ligado ao material que fora produzido. Acreditava-se que o livro era uma simples ferramenta para se transmitir o conhecimento dos antepassados, logo o autor do livro não tinha crédito algum. No fim do século XV, a invenção da prensa tipográfica já havia sido disseminada em toda a Europa, e o comércio de cópias impressas estava a todo vapor. Como consequência, tivemos: o aumento de indivíduos alfabetizados; o surgimento de uma classe de autodidatas; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 o abandono da mnemotécnica devido ao material impresso. Porém, “a ideia de um direito de reprodução era inexistente e violava o senso comum” (NICOLETTI, 2007, p. 238). A cultura medieval e a cultura islâmica eram muito parecidas com a cultura da China, com a diferença de que a fonte do conhecimento era Deus e não os antepassados como os chineses acreditavam. Logo, o ser humano não poderia se apropriar desse bem, muito menos comercializá-lo. Os teólogos medievais transformaram esse ensinamento em uma lei canônica com fulcro na doutrina Scientia Donum Dei Est, Unde Vendi Non Potest (o conhecimento é uma dádiva de Deus, consequentemente ele não pode ser vendido) (HESSE, 2002, p. 28). Essa lei deixava claro que o autor teria direito à propriedade do material que constituía o manuscrito e o impressor poderia reivindicar a posse da cópia que havia produzido, mas, nenhum deles poderia se declarar o dono do conteúdo do material. A lei em questão não impediu que o mercado de livros crescesse até mesmo de forma desleal. Os impressores concorrentes produziam obras uns dos outros mesmo sem ressarcir os custos da impressão original ao seu primeiro impressor. Percebemos que a harmonia social, já comentada tantas vezes em nossas aulas, começava a ser posta em risco. Como nessa época não se tinha nenhuma legislação a respeito, os que se sentiam prejudicados perante essa concorrência agressiva na impressão de obras procuraram a ajuda do Estado, e a ferramenta utilizada para trazer um possível equilíbrio nas relações foi o “privilégio de impressão”1. 1 O privilégio de impressão era o direito concedido pelos monarcas aos editores, o que garantia a exploração econômica de determinada obra por certo período. Para tanto, não eram levados em conta os interesses dos autores, mas tão somente as necessidades daqueles que exercitavam uma atividade econômica, isto é, os impressores (ALGARDI, 1978, p. 5). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Em 1469, Johann Spdeye conseguiu do governo de Veneza a primeira concessão de um privilégio impressão: foi concedido o monopólio2 de impressão com duração de cinco anos. Após esse evento, a concessão de privilégios de exclusividade na impressão de textos determinados ou em territórios determinados se espalhou pelos Estados italianos e, mais tarde, pelo resto da Europa. Em 1504, o primeiro privilégio de impressão foi concedido na Inglaterra, e, em 1557, a Coroa concedeu o monopólio total das impressões e publicações à União dos Editores e Impressores, conhecida como Stationer’s Company. Entendeu-se na época que essa medida era uma forma de empregar a censura aos textos julgados revoltosos ou hereges. Portanto, os stationers se tornaram agentes de censura do governo e, em troca, recebiam a exclusividade na impressão das obras. Com o passar do tempo, o privilégio de impressão começou a ser negociado entre os membros da Stationer’s Company, e a noção de Propriedade Intelectual foi se formando aos poucos, primeiro com conceito de propriedade, que como vimos na nossa primeira aula é o direito real sobre a coisa própria. Este comércio interno de direitos de impressão foi regulamentado pela criação do stationer’s copyright, que nada mais é que uma forma de regular o comércio de livros dentro da própria corporação. Em 1709, surgiu o Estatuto da Rainha Anne, considerado a primeira lei de Direitos Autorais. Este estatuto nasceu para por fim aos privilégios de impressão na Inglaterra, reconhecendo os direitos aos autores, os quais poderiam ser transferidos ao editor. 2 Monopólio é a exploração sem concorrente de um negócio ou indústria, em virtude de um privilégio. É a posse ou o direito em caráter exclusivo. Ter o monopólio é possuir ou desfrutar da exploração de maneira abusiva, é vender um produto ou serviço sem concorrente. A palavra vem do grego monos, que significa "um" e polein que significa "vender". CCDD – Centro de Criação e DesenvolvimentoDialógico 6 O objetivo precípuo do novo sistema não era a proteção dos autores, mas a regulação do comércio de livros na ausência de monopólio e censura (PATTERSON, 1968, p. 143). Desse modo, o reconhecimento de direitos aos autores no Estatuto da Rainha Ana se deu de forma meramente incidental. As duas maiores mudanças que advieram do Estatuto da Rainha Anne foram: a limitação do termo de duração do copyright em quatorze anos; a universalidade dos direitos, que poderiam ser atribuídos a qualquer pessoa e não apenas aos membros da Stationers’ Company. (PATTERSON 1968, p. 146). Na prática, a diferença entre o autor e a outra pessoa que comprasse o direito de produzir uma cópia do livro era que o primeiro não tinha que pagar pelo direito e poderia renová-lo depois de quatorze anos. Ao longo do século XVIII, os países europeus vivenciaram uma série de discussões jurídicas, que tinham como argumento o direito natural para assegurar a proteção ao autor. Após essas discussões, houve a expansão do direito autoral pelo mundo, primeiramente na Europa e mais tarde nas colônias. Porém, foi somente no começo do século XIX que surgiram os acordos bilaterais que davam o mesmo tratamento para autores nacionais e estrangeiros. Isso impulsionou os tratados de comercialização das obras entre países, aumentando significativamente o mercado para a produção intelectual, tanto em termos de obras literárias quanto de invenções mecânicas (HESSE, 2002). Em 1886, dez nações europeias assinaram o primeiro acordo multilateral de direitos autorais, a Convenção de Berna, da qual o Brasil se tornou signatário em 1923. Após essa data, o Direito Autoral no Brasil seguiu evoluindo em consonância com os acordos internacionais. A Lei de Direito Autoral vigente atualmente no Brasil é de 1998, sendo que em 2003 uma lei introduziu alterações ao título III, capítulo I (“Dos crimes CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 contra a propriedade intelectual”). Essa lei postula que a obra será protegida pelo prazo de setenta anos mais a vida do autor. Acessando o link a seguir, você confere um texto da “Revista Superinteressante” a respeito de Gutemberg. Confira! http://super.abril.com.br/historia/gutenberg-primeiras-impressoes Leia também a artigo intitulado “Direito do autor em perspectiva histórica: da idade média aos reconhecimentos dos direitos da personalidade do autor”, de Leonardo Estevam de Assis Zanine: http://www4.jfrj.jus.br/seer/index.php/revista_sjrj/article/viewFile/532/404 Para mais informações sobre a evolução histórica dos Direitos Autorais, acesse o material on-line e confira a videoaula da professora Lorena. Tema 2 - Legislação Em 1886, celebrou-se a Convenção de Berna, que apresentou uma regulação ampla dos Direitos Autorais. Ela influenciou a formulação da legislação autoral de um grande número de países, inclusive a do Brasil, até hoje sua estrutura teve poucas mudanças, mesmo diante da constante evolução tecnológica. Segundo o artigo 2º do Decreto n. 75.699, de 6 de maio de 1975, que promulga a Conversão de Berna: Artigo 2: Os termos “obras literárias e artísticas” abrangem todas as produções do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o modo ou a forma de expressão, tais como livros, brochuras e outros escritos; as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; as obras dramáticas ou dramático-musicais; as obras coreográficas e as pantomimas; as composições musicais, com ou sem palavras; as obras cinematográficas e as expressas por processo análogo ao da cinematografia; as obras de desenho, de pintura, de arquitetura, de escultura, de gravura e de litografia; as obras fotográficas e as expressas por um processo análogo ao da fotografia; as obras de arte aplicada; as ilustrações e os mapas geográficos; os projetos, esboços e obras plásticas relativos à geografia, à topografia, à arquitetura ou às ciências. [...] São protegidas como obras originais, sem prejuízo dos direitos do autor da obra original, as traduções, adaptações, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 arranjos musicais e outras transformações de uma obra literária ou artística. [...] As compilações de obras literárias ou artísticas, tais como enciclopédias e antologias, que, pela escolha ou disposição das matérias, constituem criações intelectuais, são como tais protegidos, sem prejuízo dos direitos dos autores sobre cada uma das obras que fazem parte dessas compilações (BRASIL, 1975). Figura 3 – Convenção de Berna. A Constituição Federal de 1988 trata o Direito Autoral como um Direito Fundamental3 devido à relevância social do tema. Segundo o artigo 5º: Título II DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Capitulo I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 3 O Direito Fundamental é atribuído a todos os cidadãos em comum, de todas as sociedades espalhadas pelo globo terrestre, que tem como finalidade assinalar as condições mínimas que cada ser humano deve ter para conduzir sua vida de modo pleno e sadio. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Art. 5º Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; XXVIII - são assegurados nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução de imagens e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes, e às respectivas representações sindicais e associativas (BRASIL, 1988). Em 1998, nasceu a Lei n. 9.610, que regula os Direitos Autorais, entendendo-se sob este conceito os direitos de autor e os que lhes são conexos. Essa legislação traz alguns pontos que devemos abordar com muita atenção: a. A lei apenas exemplifica as obras protegidas, portanto não há limitação ao citado no artigo 7º: São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I. Os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II. As conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III. As obras dramáticas e dramático-musicais; IV. As obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma; V. As composições musicais tenham ou não letra; VI. As obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII. As obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII. As obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; IX. As ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X. Os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 XI. As adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova; XII. Os programas de computador; XIII. As coletâneas ou compilações,antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constitua uma criação intelectual (BRASIL, 1998). b. A Lei de Direitos Autorais esclarece, no parágrafo primeiro, que os programas de computador são objeto de lei própria (Lei n. 9.609/98), tema que iremos estudar nas próximas aulas. c. A lei elenca expressamente no artigo 8º quais bens não são protegidos nessa legislação: I. As ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais; II. Os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios; III. Os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções; IV. Os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais; V. As informações de uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas; VI. Os nomes e títulos isolados; VII. O aproveitamento industrial ou comercial das ideias contidas nas obras (BRASIL, 1998). d. A Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, protege as obras derivadas, que são as que tiveram origem em obras preexistentes, tais como; traduções de obras em outras línguas e adaptações de obras, como a realização de um filme com base em um romance. e. A lei protege dois tipos de direitos do autor: Os Direitos Morais, que permitem ao autor adotar medidas para preservar o vínculo pessoal existente entre ele e a obra; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Os Direitos Patrimoniais, que permitem ao titular dos direitos extrair um benefício financeiro em virtude da utilização de sua obra por terceiros. f. A Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, protege o Direito do autor sobre sua obra desde o momento da criação, passando pela sua exteriorização até a sua morte. Com o objetivo de proteger os herdeiros, a legislação prevê uma garantia complementar após a morte do autor, que se inicia no 1º de janeiro subsequente ao ano da morte do autor e perdura por um período de 70 anos, com exceção das obras fotográficas, audiovisuais e coletivas, que duram por 70 anos contados da publicação. O Decreto-Lei n. 2848/40 traz o nosso Código Penal e nele também há a previsão quanto à proteção aos Direitos autorais: Código Penal Título III DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL Capítulo I DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL Art.184. Violar direito autoral: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de obra intelectual, no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, ou consistir na reprodução defonograma e videofonograma, sem autorização do produto ou de quem o represente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, introduz no país, adquire, oculta ou tem em depósito, para o fim de venda, original ou cópia de obra intelectual, fonograma ou videofonograma, produzidos com violação de direito autoral (BRASIL, 1940). Acesse o link a seguir e leia o Decreto n. 75.699, de 6 de maio de 1975, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 que promulga a Convenção de Berna, na íntegra: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D75699.htm Para mais informações em relação à legislação dos Direitos Autorais, acesse o material on-line e confira a videoaula da professora Lorena. Tema 3 - Conceito de Direito Autoral Analisamos a evolução histórica dos Direitos Autorais e tomamos conhecimento da sua legislação, agora precisamos dominar o conceito deste tema. Os Direitos Autorais são considerados como um dos ramos de estudo da Propriedade Intelectual. Como vimos, ele trata da proteção dos direitos das obras literárias, artísticas ou científicas, programas, de computador, topografia de circuito integrado, domínios na internet e conexos. Todo criador tem direito sobre a sua obra intelectual e este direito lhe confere a exclusividade de utilizar, fruir e dispor de sua obra. O Direito Autoral é, ao mesmo tempo, um direito moral decorrente do objeto da criação e um direito patrimonial pelo fato de sua obra ser considerada como um bem móvel. De forma simplificada, podemos adotar o conceito de Clóvis Beviláqua: direito autoral é o que tem o autor de obra literária, científica ou artística de ligar seu nome às produções do seu espírito e de reproduzi-las. Na primeira relação é manifestação da personalidade, na segunda é de natureza real e econômica (BEVILÁQUA, 1941). Para entendermos de forma plena esse conceito, precisamos conhecer o conceito de “autor”, que é o sujeito do Direito Autoral, aquele que terá suas obras protegidas e seus direitos reservados pelo resultado de sua criação. Para a identificação do autor, o critério utilizado pela lei é: autor é aquele que se identifica como tal. Para mais informações sobre o conceito de Direito autoral, acesse o material on-line e confira a videoaula da professora Lorena. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Tema 4: Relevância jurídica e econômica do Direito Autoral O Direito Autoral muitas vezes é pensado como um trade off4 entre o interesse público do acesso às obras produzidas e o interesse privado de se obter lucro com a produção de conteúdo intelectual. A discussão econômica sobre a forma de estruturação dos direitos autorais trata da definição do nível de proteção que vai viabilizar a produção de obras intelectuais. Quanto maior for o termo de duração do direito autoral, mais autores estarão dispostos a investir nas suas obras. Em contrapartida, teremos menos obras disponíveis no domínio público, que poderiam estar sendo utilizadas como referência em novas obras, reduzindo o custo da produção e tornando essas novas obras mais acessíveis economicamente à população. A evolução tecnológica trouxe o formato digital para as obras, reduzindo o custo de produção, da mesma forma reduziu os custos de produção das cópias ilegais, gerando um novo custo que até esse momento não era necessário: o de proteção contra à pirataria, que muitas vezes não é eficiente por restrições tecnológicas. A Lei n. 9.610, apoiada na Constituição Federal e no Código Penal, busca trazer proteção jurídica aos autores, e como já vimos em aulas anteriores o grande desafio é estar totalmente atualizada em relação à tecnologia e à sua constante evolução. Deborah Nigri em sua obra “Direito Autoral e a Convergência de Mídias” de 2006 diz que: Tendo em vista que o direito não pode e nem deve permanecer estanque às evoluções tecnológicas, o aparecimento das novas mídias e a consequente integração dos computadores via Internet, bem como a convergência de mídias, constituem, hoje, um grande desafio para os juristas, em especial os autoralistas. Ao mesmo tempo que se alarga o universo de usuários/consumidores dos produtos culturais, agigantam-se os problemas e os questionamentos quanto ao escopo da proteção jurídica e seus meios de controle (NIGRI, 2006, p. 22). 4 Trade off define uma situação em que há conflito de escolha. Ocorre quando se abre mão de algum bem ou serviço distinto para se obter outro bem ou serviço distinto. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Para mais informações sobre a relevância jurídica e econômica do Direito Autoral, confira no materialon-line a videoaula da professora Lorena. Síntese No início desta aula, relembramos que os Direitos Autorais são parte de uma das três áreas da Propriedade Intelectual e que eles protegem os interesses dos criadores e autores de obras intelectuais. No primeiro tema dessa aula, que tratou da evolução histórica, vimos que os dos direitos dos autores se devem a quatro fatores: A invenção e disseminação da imprensa de tipos móveis (1450 – Gutenberg); O surgimento da concepção moderna da figura do autor, segundo a qual era importante aliar a obra ao seu autor; O crescimento do mercado de livros; O ambiente cultural no contexto de surgimento do direito autoral. Ainda sobre a evolução histórica, vimos a importância do Estatuto da Rainha Anne, que pôs fim aos privilégios de impressão na Inglaterra, e da Convenção de Berna, que em 1886 criou o primeiro acordo multilateral de direitos autorais. No segundo tema, estudamos a Legislação e vimos que os Direitos Autorais estão protegidos no Brasil pelas seguintes legislações: Constituição Federal de 1988; Lei n. 9.610, de 1998; Decreto-Lei n. 2.848/40 (Código Penal). No terceiro tema, resgatamos o conceito de Direito Autoral segundo Clóvis Beviláqua. No quarto tema, observamos a relevância jurídica e econômica do Direito Autoral e vimos a oposição entre o interesse público e o CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 interesse privado, bem como a necessidade de se manter a legislação atualizada diante da evolução tecnológica que traz novas formas de se violar o Direito Autoral constantemente. Assim, estamos prontos para dar continuidade nos nossos estudos, na próxima aula trataremos das marcas. Até lá! Acesse o material on-line e confira a videoaula de síntese da professora Lorena. Referências ALGARDI, Zara Olivia. La tutela dell’opera dell’ingegno e il plagio. Padova: CEDAM, 1978. BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1941. BRASIL. Decreto n. 75.699, de 6 de maio de 1975. Convenção de Berna. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970- 1979/D75699.htm>. Acesso em: 5 jul. 2016. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 5 jul. 2016. BRASIL. Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Lei dos Direitos Autorais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em: 5 jul. 2016. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>. Acesso em: 5 jul. 2016. HESSE, Carla. The rise of intellectual property, 700 b.c.–a.d. 2000: an idea in the balance. Daedalus, p. 6-45, Spring 2002. MIZUKAMI, Pedro Nicoletti. Função social da propriedade intelectual: compartilhamento de arquivos e direitos autorais na CF/88. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007. PATTERSON, Lyman Ray. Copyright in historical perspective. Nashville: Vanderbilt University Press, 1968.
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