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A psicologia da Gravidez - resumo capitulo I

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A psicologia da Gravidez 
1 – A história do instinto materno
Todos os fatos sugerem que, até o século XVIII, havia uma indiferença materna. Para Ariés, isto se deve ao fato do alto índice de mortalidade infantil, se a mãe tivesse uma ligação muito forte com a criança, ela sofreria intensamente com a possibilidade de perdê-los. No entanto, Badinter interpreta que os bebês morriam com tanta frequência justamente pelo desinteresse materno, concluindo que o amor materno não é um instinto, mas sim um sentimento que, como os demais, está sujeito a imperfeições, oscilações e modificações, podendo manifestar-se só com um filho ou com todos, para Baninter, a existência do amor materno depende não só da história da mãe como também da própria história.
Somente no final do século XVIII, inicia-se a exaltação materna no discurso filosófico, médico e político. Rousseau lança ideias fundamentais sobre a família baseada no amor materno, tornando-se um grande defensor do vínculo afetivo derivado do contato físico entre mãe e filho (mesmo ele tendo abandonado seus 5 filhos, enfim, a hipocrisia).  O iluminismo tem ideais que tomam o mesmo rumo de Rousseau. Des Essarts dá início ao processo de intimidar e culpar as jovens mães: a recusa a amamentar e a tentativa de abortar (prática que se tornou recorrente em casos de filhos ilegítimos) passam a ser crimes.
A obstetrícia surge em 1806. A mulher passa a ser objeto de estudo que visa definir seu papel social a partir de sua anatomia. Em 1775, Rousseau passa a ver o corpo feminino como destinado à maternidade: a ossatura menor e menos dura, a caixa torácica mais estreita e a bacia mais larga para conter o feto. Esta definição predomina durante o século XIX, reforçando o argumento de manter a mulher encerrada no lar. Virey, discípulo de Rousseau, reduz claramente o papel feminino à procriação.
Kniebiehler e Fouquet dizem ainda que, antes do século XIX, acreditava-se que a mulher só concebia quando atingia prazer sexual; descobriu-se, então, que o prazer não era condição especial. Os médicos passaram a acreditar então que mulheres frígidas podiam ser fecundadas com maior facilidade, pois, permanecendo mais passiva, reteria melhor o esperma. No entanto, iniciou-se o desejo de reduzir a prole, era preciso então controlar os desejos carnais da mulher, visto que a figura de esposa tinha como função apenas a procriação, enquanto o homem satisfazia-se com prostitutas e criadas. Muitos médicos também recomendavam evitar práticas sexuais durante a gravidez, estes acreditavam que na mulher grávida “a natureza está satisfeita”. Menville diz que seria uma contradição a natureza a mulher grávida ter “desejos carnais”. Resistiu também a ideia de que uma gravidez durante o período de amamentação estragaria o leite.
As novas condições de vida econômica e política deixam o homem cada vez mais fora de casa, dando à mulher a responsabilidade de educadora, resultando com a maternidade sendo também uma função social. Apesar de todos os discursos filosóficos e médicos, os nobres ainda recorriam a amas mercenárias até o fim do século XIX, somente com a permissão do uso de leite animal essa prática foi sendo deixada de lado. Nessa época, o novo sentimento contribuiu para diminuir a incidência da separação dos bebês.
2 – A maternidade e a paternidade como fases do desenvolvimento psicológico
No ciclo vital da mulher, há três períodos críticos de transição que constituem verdadeiras fases do desenvolvimento da personalidade e que possuem vários pontos em comum: a adolescência, a gravidez e o climatério. Períodos de transições biológicas determinadas, caracterizadas por mudanças metabólicas complexas, estado temporário de equilíbrio instável, necessidade de adaptações, reajustamentos interpessoais e intrapsíquicos e mudanças de identidade.
a)            O conceito de crise e de transição existencial
 
Teoria de crise de G. Caplan e sua equipe na Universidade de Harvard.
O termo “crise” foi empregado por Caplan e Lindemann para definir as reações de uma pessoa a eventos traumáticos, tais como a morte súbita de uma pessoa amada, o nascimento imprevisto de um filho prematuro, desemprego inesperado, etc. (crises imprevisíveis). O mesmo foi usado por Erikson para definir a várias etapas do desenvolvimento psicológico normal, como a puberdade, casamento, gravidez, menopausa, etc. (crises previsíveis).
Uma crise pode ser precipitada por mudanças internas (crises normais do desenvolvimento, doenças ou traumas) ou externas (perda ou ameaça de perda de uma fonte de segurança e satisfação; acúmulo de tensão que ameaçam romper o equilíbrio funcional dos mecanismos adaptativos do ego). Em todos os casos, há um enfraquecimento temporário na estrutura básica do ego, fazendo com que a pessoa ao usar seus meios habituais para resolver problemas, necessitando de uma mobilização dos mecanismos de adaptação do ego de buscar respostas novas que antes não existiam no repertório do indivíduo. A solução elaborada por essa pessoa pode ser saudável (implicando na melhora) novo nível de integração e amadurecimento da personalidade, ou doentia (que implica piora) maior grau de desintegração, desorganização e desajustamento da personalidade
G. Caplan e sua equipe formam uma opinião revolucionária: é possível ajudar qualquer pessoa em crise satisfatoriamente, independente das características de personalidade ou caráter. Acreditando menos no determinismo (os inteligentes saem de crises de formas inteligentes, uma pessoa fraca se enfraquece ainda mais) e mais no tipo de ajuda que pode ser oferecida. Ou seja, uma ajuda eficiente se concentra em encorajar a livre expressão dos sentimentos de tristeza, ansiedade, hostilidade, etc., para que sejam elaborados e genuinamente superados. E, acima de tudo, a perturbação do comportamento não deve ser confundida com sintomas de doença mental, mas sim, como sinal de uma luta interna que busca o reajuste da personalidade.
É comum surgirem sintomas como insônia, perda de apetite e de peso, agitação, taquicardia, estados de angústia, choro, depressão, apatia, dores de estômago ou de cabeça. Esses sintomas costumam diminuir ou desaparecer em algumas semanas, quando a pessoa começa vislumbrar alguma saída para essa situação de crise.
Toda crise é uma transição, mas nem toda transição se constitui numa crise. As transições são marcos importantes na vida da pessoa, ter um filho, iniciar uma vida profissional, casar-se, divorciar-se, se aposentar, entrar na menopausa, são exemplos de transições que podem ou não ser vividas como crises. Transições podem resultar de decisões e escolhas da pessoa, mas também de acontecimentos inesperados. Também pode acontecer que uma situação inicialmente vivida como uma transição se transforma em uma crise devido a uma quebra violenta da expectativa.
 
b)           A gravidez como crise ou transição
A gravidez é uma transição que faz parte do processo de desenvolvimento normal. A mulher passa a se olhar e a ser olhada de uma maneira diferente. Ao ter o primeiro filho, esta passa de filha e mulher para mãe; mesmo quando têm mais filhos, é vista uma mudança, pois ser mãe de um filho é diferente de ser mãe de dois, e assim em diante, porque a vinda de cada filho altera toda a composição da rede de intercomunicação familiar. Assim como a paternidade também sofre uma mudança de identidade, sendo assim uma transição no desenvolvimento emocional. Por exemplo, a mulher pode até então ter atuado como “mãe” ou “filha” do marido e quando engravida precisa se ajustar à nova realidade de ser mãe daquela criança. Tal situação pode trazer à tona antigos conflitos do relacionamento; um dos dois podem querer ser melhores que os próprios pais, ou podem se sentir incapazes de competir com eles, ou encaram o bebê como um irmão mais novo, podendo gerar relações de ciúmes.
Além de variáveis psicológicas e bioquímicas, há também questões socioeconômicas, na sociedade atual em que, principalmente nas áreas urbanas, as mulheres trabalham fora de casa e normalmente são responsáveis pelarenda familiar, o fato de ter um filho acompanha grandes consequências. Privações reais (afetivas ou econômicas) intensificam a regressão e a ambivalência. A preocupação com o futuro aumenta as necessidades da grávida e intensifica suas frustrações, gerando raiva e ressentimento que não a deixam encontrar prazer com a gravidez.
Outra característica de uma gravidez como transição é o fato de apresentar uma chance de atingir novos meios de integração, amadurecimento e expansão da personalidade ou adotar uma solução patológica que predominará na relação com a criança. Uma relação saudável demanda perceber e satisfazer adequadamente as necessidades do bebe, em contrapartida, uma relação doentia inclui expectativas de que o bebe assuma papéis de neuróticas expectativas dos pais, por exemplo, evitar a solidão, fazê-los se sentir úteis; ou então simbolicamente representar uma doença dos pais, causando uma procura desnecessária a médicos quando na verdade a criança é perfeitamente saudável.
 A gravidez pode constituir uma ameaça ao casamento ou equilíbrio pessoal, vendo que a esposa pode vir a excluir o marido de sua vida, assim como o marido pode vir a ter ciúmes do bebe como teve de seus irmãos mais novos, ou mesmo a mulher que não superou sua dependência infantil da mãe ou se sente inferior por ser mulher.
Os autores Chertok (1966), Soifer (1971) consideram a gravidez como uma regressão, tanto em relação a ansiedade e sintomas, quanto ao bem estar e proteção, onde predominam as características orais (hipersonia, voracidade, dependência) que indicam uma identificação básica com o feto. Nesse contexto não há uma conotação patológica para a regressão, podendo fazer para do processo de desenvolvimento. A autora Anna Freud (1965) vê o desenvolvimento como um jogo de regressões temporárias e progressões, usando o modelo espiral – para atingir um novo nível de organização da personalidade (crise) é preciso passar por um momento de relativa desorganização (regressão).
O puerpério deve ser considerado como a continuação da situação de transformação, novas mudanças fisiológicas, consolidação da relação pais-filho e grandes mudanças da rotina e relacionamento familiar. É de grande importância o entendimento de que o nascimento de um filho é uma experiência familiar e não algo isolado à grávida.
 
3 – Caracterização dos aspectos psicológicos dos três trimestres da gravidez
A decisão de ter um filho está ligado a vários motivos conscientes e inconscientes: aprofundar e dar expressão criativa a uma relação homem-mulher; realizar o desejo de descendência (manutenção “do nome da família”; manter um vínculo; competir com irmãos; dar um filho para a própria mãe (a mulher comporta-se como uma irmã mais velha frente a criança, renunciando a função materna);preencher o vazio de um companheiro; uma extensão de si própria (o filho para preencher desejos e lacunas dos pais).
A existência de estados emocionais peculiares na gravidez é reconhecida pela maioria dos autores, a grande discussão é a origem destes estados. Estudos feitos em animais e seres humanos mostram que os hormônios sexuais têm efeitos definidos no comportamento, indicando que o estrogênio e progesterona podem influir enormemente na psicologia da gravidez, outros autores sugerem que as oscilações entre o id e ego na crise da gravidez são responsáveis pelas mudanças comportamentais. Colman afirma que atualmente é impossível discriminar separadamente as complexas inter-relações entre fatores hormonais e psicológicos.
A história pessoal da grávida (que inclui não só sua história psicossexual e o seu passado ginecológico-obstétrico como também de sua mãe irmãs); o contexto existencial nessa gravidez (se dentro ou fora de um vínculo estável com homem se a mulher já passa dos 30 ou ainda adolescente se essa gravidez veio após muitos anos de esterilidade ou de episódios de aborto espontâneo ou provocado); as características de evolução dessa gravidez (se normal de risco com ameaça de perda de feto ou perigo de vida para a mulher); o contexto sócio econômico dessa gravidez (a possibilidade de se dispor de um mínimo de dinheiro e de condição de higiene para criar este filho ou uma situação tão desfavorável que motiva a doação da criança); o contexto assistencial (se a mulher recebe assistência adequada de profissionais nos quais confia ou se é atendida de modo precário e insatisfatório).
 
a)            Primeiro trimestre
 
A partir do momento da percepção da gravidez é que se inicia a formação da relação materno-filial e das modificações na rede intercomunicação familiar. É nesse momento se instala a vivência básica da gravidez que vai se manifestar sobre diversas formas nos decorridos três trimestres e após o parto:
 
Ambivalência afetiva: a balança do querer e não querer. Não existe uma gravidez está totalmente aceita ou rejeitada, mesmo quando há clara predominância de aceitação ou rejeição, o sentimento oposto jamais está inteiramente ausente. No primeiro trimestre os sentimentos de dúvidas são de estar mesmo grávida ou não, mesmo após confirmação clínica, traz também uma mistura de sentimentos de alegria, apreensão, irrealidade e, em alguns casos, franca rejeição. É também comum a sensação que o feto não está corretamente “preso” no útero, causando fantasias de aborto. Às vezes o desejo de abortar é disfarçado por uma auto preocupação e cautela exageradas que levam a mulher a restringir severamente várias atividades, entre elas, a atividade sexual por medo de prejudicar o feto. A reação inicial diante da gravidez não se cristaliza para sempre, a rejeição pode dar lugar a aceitação e vice-versa.
 
Uma das primeiras manifestações do primeiro semestre é a hipersonia: a mulher sente mais necessidade de dormir do que normalmente, é como uma forma do organismo se preparar para as tensões fisiológicas adicionais aumentando a necessidade de repouso. Alguns autores de orientação psicanalíticas interpretam esse fenômeno em termos de regressão da identificação da mulher com o feto.
 
As náuseas e os vômitos são sintomas mais comuns do início da gravidez. As teorias que enfatizam, quase exclusivamente, a contribuição de fatores endócrinos e tóxicos estão superados porque não conseguem explicar porque nem todas as mulheres vomitam na gravidez. O fator Psicogênico é claramente aceito pela grande maioria dos autores nos casos de hiperemese gravídica (vômitos frequentes que necessitam de hospitalização)
 
Os estudos mais conhecidos são de Kroger e De Lee trataram de 21 pacientes hospitalizadas e verificaram que em 19 casos os sintomas desapareceram; concluíram que a rejeição consciente da gravidez era o fator dinâmico básico. Entretanto, alguns estudos demonstram importância etiológica de outros fatores e não especificamente da rejeição.
 
Robertson chegou à conclusão que as mulheres que apresentavam maior grau de dependência em relação à figura materna, consultada para cada decisão importante, foram as que mostraram maior severidade de náuseas e vômitos.
O estudo de Rosen que entrevistou 54 mulheres indica que a severidade dos sintomas correspondia ao grau de tensão emocional.
 
O estudo de Coppen pretendeu verificar se as mulheres que sofreram de vômitos diferiam em aspectos psicológicos e físicos das que não vomitavam. Ele chegou à conclusão que as mulheres que vomitavam tinham um índice médio de masculinidade maior segundo as medidas antropométricas empregadas.
 
Chertok demonstrou, num estudo bem controlado, a importância da ambivalência em relação a gravidez na etiologia das náuseas e vômitos. Em um experimento com 88 mulheres mães de primeira viagem, o resultado mostrou que a maioria das mulheres que mais vomitava caracterizava-se por fortes oscilações entre a aceitação e a rejeição da gravidez. Ele também encontrou correlação positiva entre os vômitos e a “experiência negativa” dos primeiros movimentos fetais e correlação negativa entre vômitos e “contribuição positiva” do marido na relação conjugal.
 
Outras manifestações peculiares da gravidez são os desejos e as aversões,embora os desejos chamem mais atenção Threthovan e Dickens dividiram as teorias existentes sobre desejos e as pessoas em quatro categorias:
 
a)            teorias baseadas em superstições e Folclore - quando certo alimento desejado não é comido a criança fica prejudicada frequentemente desfigurada ou com alguma marca.
b)            teorias físicas - tendem a atribuir o desejo de comer substâncias estranhas como barro, cimento, talco, etc., em uma particular necessidade de compensar uma deficiência nutritiva.
c)            teorias psicológicas ou psicodinâmicas - tendem a explicar esses fatores em termos de insegurança, sugestão, ambivalência, necessidade de atenção e regressão.
d)            teorias das perversões de apetite - que se deve às alterações do paladar e o fato que dão preferência a substâncias de sabor e cheiro mais ativos e picantes.
Na gravidez é comum o aumento de apetite. Observações clínicas têm mostrado que a dificuldade de manter uma alimentação adequada pode atuar como mecanismo de autoproteção do feto, que é sentido como um parasita, sugando incessantemente as reservas da mãe que passou a comer em excesso a fim de compensar as perdas. A voracidade pode também indicar a presença de sentimentos de hostilidade e desejos de destruir o feto encoberto por uma formação reativa de preocupação excessiva com o bom desenvolvimento fetal. Ainda como manifestação da ambivalência podem surgir sentimento de culpa associados a impressão de não estar se alimentando adequadamente e, a partir daí, o medo de estar fazendo mal ao feto. Tudo isso está intimamente vinculado a um dos temores mais universais da gravidez: o medo de ter um filho deformado.
Ter filhos sadios representa, emocionalmente, ganhar um prêmio; não ter filhos ou ter filhos mal formados ou doentes representa castigo. Estes temores costumam ser mais intensos nas mulheres que já passaram por situações de aborto provocado. Kumar e Robson, encontraram associação entre depressão e ansiedade no primeiro trimestre e antecedentes de abortos provocados, o que provavelmente se deve a reativação do luto anteriormente negado. O temor a má formação também se intensifica em casos antecedentes de abortos espontâneos, malformações ou mortes fetais
Uma mulher passar da depressão para a elação, sem motivo aparente, não está necessariamente associado a atitude para com a gravidez. Mulheres que predominantemente aceitam uma gravidez podem passar por períodos depressivos e de crises de choro, assim como a situação contrária. Assim sugerindo que as oscilações de humor se devem, pelo menos em grande parte, ao próprio esforço da adaptação a uma nova realidade, que envolve novas tarefas, responsabilidades, aprendizagem e descobertas.
O Aumento da sensibilidade está intimamente ligado a estas oscilações de humor: além de haver, em geral, maior sensibilidade nas áreas de olfato, paladar e audição, isso se expressa também através do aumento da irritabilidade: a mulher fica mais irritada e vulnerável a certos estímulos, chora e ri mais facilmente. Caplan observa que essas flutuações acontecem em ondas, a mulher se sente mais irritada em um dia que no outro.
Colman observou essas mesmas oscilações de humor, aumento de sensibilidade e irritabilidade, mas atribuiu essas mudanças a “ampliação do campo da consciência na gravidez” que traz também a presença de sintomas psiquiátricos transitórios como compulsões, ruminações obsessivas e fobias.
 
b)           Segundo trimestre
O segundo trimestre é considerado mais estável do ponto de vista emocional. O impacto dos primeiros movimentos fetais é um fenômeno central nesse trimestre. É com a percepção dos movimentos fetais que se instalam mais decisivamente, na mãe, os sentimentos de personificação do feto. A mulher passa a atribuir ao feto certas características pessoais, segundo sua interpretação dos movimentos: chutes suaves são associados ao sentido carinhoso, delicado; Chutes mais fortes: agressividade e ataques; em outro caso a grávida só deita de costas pois entende que o movimento do bebê, quando ela deita de lado, é uma queixa do modo como está sendo comprimido. Há ainda estereótipos de que quando ultrapassado o tempo de gestação e o bebê se mexe, ele está se “espreguiçando” sem a menor vontade de nascer.
Pode-se entender então que os movimentos fetais constituem mais uma etapa da formação da relação materno-filial. No marido/pai há mobilização de inveja pela impossibilidade de sentir o feto desenvolvendo assim dentro de si. Também à revivência do marido de antigos sentimentos de rivalidade fraterna em relação à própria mãe quando grávida dos irmãos.
As alterações do desejo e do desempenho sexual tendem a surgir com maior intensidade a partir do segundo trimestre, embora às vezes se manifestem desde o início da gravidez. Mas raramente, observa-se o aumento da sexualidade e algumas mulheres experimentam o orgasmo pela primeira vez durante a gravidez (Caplan 1960).
A predominância da diminuição da sexualidade foi mostrada nos estudos de Landis (1950) e Kenny (1973). Landis estudou as oscilações da sexualidade na gravidez em 200 casos e verificou que 27% reportou diminuição a partir do primeiro trimestre, 43% a partir do segundo e 79% nos três últimos meses. Já Kenny definiu operacionalmente o funcionamento sexual em termos de desejo, frequência e orgasmo em cinco períodos: os três trimestres, durante a amamentação e após o desmame. É importante também considerar a influência dos fatores culturais na sexualidade durante e após a gravidez. Raphael (1973), ao estudar comparativamente várias sociedades, observou que o período de abstinência cultural é extremamente variável em diferentes sociedades, desde alguns dias até dois anos após o parto.
A maneira como a mulher sente as alterações do esquema corporal está intimamente relacionado com as alterações da sexualidade, com a atitude do homem em relação às modificações corporais da mulher e com o modo em que ela própria se situa diante da gravidez. Há mulheres que vêem as mudanças com sentimento de orgulho pelo corpo grávida. Entretanto, as mulheres veem essas mudanças como deformações e sentem-se um “monstro “. Um dos temores mais universais da gravidez está associada a alterações do esquema corporal seguido do pensamento que o seu corpo não voltará a “forma antiga”.
Segundo Caplan, introversão e passividade são as características emocionais das mais peculiares na gravidez. Geralmente, a mulher sente que o ritmo do seu organismo fica mais lento. Tende a ficar mais concentrado em si mesmo; algumas sentem-se menos dispostas a atividades, ao contrário de outras que relatam aumento de atividade, de energia e disposição. Neste período, a mulher geralmente sente maior necessidade de afeto, cuidados e proteção (aparentemente as mulheres que recebem essa cota extra de afeto conseguem dar mais carinho e amor ao bebê, ao contrário das que recebem menos atenção). A tendência à introversão na gravidez foi confirmado por um estudo de Venezia (1972), sobre as mudanças de personalidade na gravidez, os resultados indicaram maior início de extroversão após o parto, em comparação com o terceiro trimestre da gravidez.
A importância de “maternalizar a mãe” durante a gravidez e nas primeiras semanas pós parto parece ser também essencial para a amamentação. Raphael mostrou que as mulheres que sentiam grande desejo de amamentar tendiam a fracassar tanto quanto às que não apresentavam atitudes tão favoráveis. Um fator crucial foi a qualidade e o grau de ajuda que a nova mãe recebia após a alta hospitalar. As que não tinham nenhuma ajuda, ou estavam cercadas de atividade hostis e críticas, tendiam a não produzir leite de forma satisfatória. Raphael comenta ainda que esse tipo de ajuda pode assumir várias formas: rituais e proibições, divisão de tarefas domésticas que permitem à mãe períodos maiores de repouso e despreocupação, etc.
 C) Terceiro trimestre
No terceiro trimestre, o nível de ansiedade tende a elevar-se novamente com a proximidade do parto e da mudança de rotina após a chegadado bebê. Essa ansiedade é ainda mais atenuada quando está próximo da data prevista para o nascimento, e ainda maior quando esta é ultrapassada. Os sentimentos são, em geral, contraditórios: vontade de ter um filho e terminar a gravidez ou o contrário.
Kaplan observou que neste trimestre a maior facilidade de reviver antigas memórias e conflitos infantis da gravidez com os próprios pais ou irmãos, deve-se à mudança de equilíbrio no id e ego. O ressurgimento dos problemas abre a possibilidade de encontrar novas soluções: é por isso que se observa que a mulher grávida pode atingir o maior grau de maturidade ou intensificar soluções doentias dadas a seus problemas que podem interferir na relação mãe-filho.
Os maiores temores da gravidez surgem nesta etapa, onde fantasias com caráter de autopunição são mais comuns: medo de morrer no parto, de permanecer com a vagina alargada para sempre, de não ter leite suficiente ou fraco, de ficar “presa” e alterar toda sua rotina.
Os temores específicos da maternidade muitas vezes se expressam em sonhos e fantasias antes do parto, normalmente esses sonhos implicam danos e ameaças à mãe ou ao bebê.
Em um estudo sobre parto prolongado em primíparas, foi confirmada a hipótese de que a função do sonho é tentar dominar, em fantasia, a antecipação da vida real. Logo as mulheres que os sonhos contém temas de ansiedade sentimentos negativos estão tentando enfrentar antecipadamente a crise do parto sem recorrer maciçamente ao mecanismo de repressão e negação da ansiedade.
Nos casos em que a preferência de sexo do bebê, observam-se sentimentos complexos de identificação com a própria mãe da gestante, em relação a própria feminilidade ou de ciúmes e rivalidade na relação conjugal. Há também a questão do patriarquismo, onde é nítido a valorização do filho homem.
Threthovan, ao realizar um estudo comparativo entre homens com esposas gravidas e homens que as esposas não estavam grávidas, notou que estes apresentavam maiores sintomas no GE (=6,61): dor de dente, náuseas e vômitos, depressão, tensão, insônia, ansiedade e irritabilidade. além disso, os sintomas aumentavam ao decorrer da gestação.  Esta, chamada de síndrome de “couvad” expressando simbolicamente a participação do marido na gravidez da mulher.
Colman comentou também que, o homem, as tensões derivadas da espera do filho comumente se expressam por condutas de fuga: novos interesses, permanência fora de casa, relações extraconjugais, e assim por diante.
4. O parto como fenômeno psicossomático e o significado psicológico dos principais tipos de parto
A gravidez é considerada como um momento de grande vulnerabilidade para o psicológico feminino, porém o parto também é considerado parte desse momento. O parto é tido como um ritual de passagem onde a gestante enfrenta diversas mudanças corporais e psicológicas, e por esse motivo tem uma simbologia importante.
Um dos maiores temores de uma gestante quando se aproxima o parto é não reconhecer os seus sinais, por exemplo, não perceber que a bolsa foi rompida, não sentir as dores das contrações e acabar não se preparando adequadamente para esse momento. Há também uma grande preocupação acerca de como será o processo do parto; será um parto normal ou um parto cesáreo e todas essas preocupações são aumentadas pelos “alarmes falsos” as contrações de treinamento e sangramentos de escape que ocorrem durante o período de gestação. Em contrapartida há também a variável da preocupação de um parto muito longo com muitas horas de trabalho de parto, o que leva a um grande estresse psicológico tanto para o bebê quanto para a mãe. Além disso, encontramos também em sofrimento psicológico, a figura paterna pois, de forma diferente da mãe compartilha de todas essas angústias e ansiedades.
O parto é considerado ainda um salto no escuro pois não pode ser previsto e nem programado com 100% de certeza; e se trata também de um ritual irreversível, de modo que não há como não passar pelo parto durante o período gestacional.  
É totalmente oposto ao período de 9 meses de gestação, pois nesse período, as mudanças ocorridas são mais lentas do que as transformações do parto, dando tempo para a gestante se preparar para essas mudanças. O bebê traz consigo muitas mudanças na rotina da família que irá recebê-lo, mas em termos psicológicos, a parte mais complicada é a separação emocional e física de dois seres que estavam juntos, unidos em um só corpo passarem a viver separados, pois mesmo que o bebê dependa totalmente da mãe para realizar as suas necessidades, a mãe precisa enxergá-lo como um indivíduo singular e diferente dela.
O comportamento da parturiente é totalmente determinado e acompanhado pela sua personalidade, por exemplo uma mulher de personalidade obsessiva tende a se preocupar em possuir um desempenho perfeito com as técnicas de respiração, com os exercícios e como o seu desempenho afetará o seu parto. Em uma outra mulher, cuja personalidade predominam as defesas de intelectualização ou de isolamento, pode apresentar descontrole de e comportamento, uma vez que o parto é um processo que envolve o organismo inteiro e não algo que ocorre só na cabeça.  Já uma mulher que apresente fortes necessidades de dependência infantil e de aprovação pode preocupar-se excessivamente em ser uma menina boazinha, exigindo muito pouco e procurando exibir um comportamento modelar.                                                                                                                                        Diante desses exemplos nós podemos perceber o quanto a personalidade e as crenças psicológicas de cada gestante vai influenciar no modo como ela vai se comportar durante o parto. Ainda temos um significado maior para a maneira em que o parto e o bebê são simbolizados para cada gestante, por exemplo, se a gestante tiver passado a sua infância e adolescência em uma família acolhedora, e apoiadora ela vai encarar o parto como um momento onde vai conhecer o seu filho. Já se for uma gestante que teve uma infância em um local ríspido e sem amor, ela vai encarar o momento como uma liberdade do peso de carregar aquela criança, e essa vivência da infância, ainda afeta a maneira como ela cuida e cria o seu filho. A forma como ela foi criada e a forma como ela foi tratada durante a sua vida influencia muito no modo como ela enxerga o parto e no modo como ela enxerga o seu filho.
 Além do mais é necessário salientar que para entendermos ainda mais o processo do parto devemos olhar do ponto de vista sociocultural e socioeconômico, pois existem fatores que influenciam a percepção e vão de crenças da sabedoria popular, até falta de condições de um acompanhamento correto, devido à falta de recursos. Por conseguinte, o parto é considerado como um processo psicossomático já que ele afeta em todas as esferas, o psicológico e o físico da parturiente. Por fim não devemos negligenciar a repercussão do contexto assistencial da vivência do parto; muitas vezes as mulheres no hospital não encontram apoio e acolhida, e é onde trazemos à tona os inúmeros casos de violência obstétrica que agrava a situação de sofrimento psicológico que a gestante se encontra.
A)      O parto preparado (sem dor)
É a denominação usada para descrever um parto onde a parturiente é treinada a participar com lucidez e cooperação da experiência do nascimento do seu filho, o que implica nenhuma ou menor quantidade de anestesia. Do ponto de vista obstétrico, o parto preparado promove a redução do tempo do trabalho de parto e ele traz menor incidência de complicações, devido a redução das intervenções cirúrgicas e das manobras de reanimação do recém-nascido. Já do ponto de vista psicológico, a grande vantagem desse tipo de parto é permitir que a gestante vivencie intensamente as emoções do parto, com a sensação gratificante de cooperar ativamente em todo o processo, o que não seria possível se tivesse sob o efeito de anestesia. 
Em seus estudos Langer observou que a depressão pós parto é proveniente de uma angústia da separação mãe e filho, e ela tendea ser muito mais leve e passar muito mais rápido nas mulheres que dão à luz conscientemente, porque isso favorece a relação materno filial. O principal motivo de escolha do parto preparado, é o desejo de participar ativamente do momento mais significativo da sua gestação, o parto, e também o medo de se submeter passivamente aos efeitos da anestesia e ao obstetra; a gestante gostaria de se manter ativa e no controle pois isso lhe passa uma sensação de mais segurança própria. Do mesmo modo o parto sem dor e feito sem a preparação necessária para esse momento pode ser vivido como traumatizante e atrapalhar a relação materno filial. Não é raro que isso possa ser emocionalmente utilizado mais tarde como uma cobrança de gratidão e reconhecimento, assim como esse momento pode acarretar futuramente em uma rejeição da mãe ao filho pelo sofrimento causado.
 Existem relatos de mulheres cujos partos foram excessivamente longos e dolorosos que após o nascimento da criança a mãe apresentou uma rejeição ao filho, e não conseguia cuidar dele; esse fator foi desencadeado por vários outros antecedentes, porém o fato de o parto ter sido traumatizante aumentou ainda mais essa rejeição. O movimento de preparação para o parto sem dor deve ter como principal característica a humanização desse nascimento, para que a gestante saiba cada passo que irá transcorrer durante o processo e assim esteja preparada emocionalmente e fisicamente para esse momento tendo o apoio de profissionais especializados e humanizados e também de pessoas de sua família.
B)      O parto sob anestesia 
Este tipo de parto envolve a administração de graus variados de anestesia durante o trabalho de parto, e da anestesia geral no período expulsivo. Com esse método há uma perda da consciência e pode haver uma amnésia posterior do momento vivido. É evidente que a mulher anestesiada não poderá participar ativamente do seu trabalho de parto, e torna-se necessário uma expressão manual do fundo do útero nos determinados períodos de contração. Apesar de ainda não existirem estudos globais sobre os efeitos gerais da medicação que é dada à parturiente, os efeitos observados no recém-nascido foram deficiências na sucção e na atenção visual durante os primeiros dias de vida. Esses estudos apontaram que os recém-nascidos cujas mães receberam fortes doses de anestesia só conseguiram sugar bem após o quarto dia de vida, e só então ficavam ativos e alertas como os bebês que as mães receberam pouca ou nenhuma sedação. Isso pôde ser observado e estudado após a descoberta de que os medicamentos dados à gestante atravessam a placenta e acabam em contato com o bebê.
C)      O parto Cesáreo
 Com a modernidade da obstetrícia existem muitas das indicações para um parto cesáreo. Segundo Rezende torna-se necessária a cesariana em casos de desproporção feto pélvica, apresentação pélvica em primíparas, placenta prévia, pré-eclâmpsia grave, formas graves de diabetes, antecedentes de operação ginecológica, sofrimento fetal, prolapso, pró cúbitos e procedências do cordão umbilical, primíparas idosas e para alguns casos de cesariana anterior. Com a crescente segurança da cesárea, as indicações se ampliaram diminuindo o uso de outras práticas obstétricas que hoje são consideradas ultrapassadas, como por exemplo o uso do fórceps que causava sofrimento ao bebê e lesões na mãe.
A vivência do parto Cesáreo é bastante variada, muitas mulheres acham frustrante a falta de participação ativa no nascimento do seu filho. Quando o parto é efetuado sob anestesia é vivido como um vácuo, uma queda da continuidade entre o período que precede, que vem antes do nascimento; muitas mulheres relatam que é como se não tivessem vivenciado o momento do parto. Quando ele é efetuado sem anestesia geral não há essa quebra da continuidade, mas muitas mulheres se queixam da intervenção e do medo de verem a barriga aberta pelo espelho do refletor.
Pesquisas recentes mostraram que, contrariando o saber popular, o parto cesáreo não é a melhor experiência para a criança. Existe uma noção de que a cesariana é melhor porque evita o trauma do nascimento e essa hipótese já foi refutada pois o parto vaginal é essencial para a estimulação cutânea, que é fundamental para o desenvolvimento físico e emocional do bebê. A função do parto vaginal é preparar o organismo do recém-nascido para funcionar melhor, através da estimulação cutânea maciça no corpo do feto provocado durante o trabalho de parto. Além disso, foram observadas várias diferenças bioquímicas nas crianças nascidas destes dois tipos de parto.
D)      Aspectos psicológicos da cesárea a pedido
 Dentro da esfera do parto Cesáreo ainda temos a cesárea a pedido, que está imersa num estilo de vida extremamente comum em nossa época. Esse parto é uma solicitação da mulher para passar por uma cesariana. A justificativa racional para a cesárea a pedido é para proteger a mulher contra dor e o sofrimento do parto, mas na realidade essa linha de ação da obstetrícia moderna tem como consequência mais profunda despojar a mulher de qualquer participação consciente ativa no nascimento do seu próprio filho. Outros estudiosos também abordam o problema do afastamento do homem moderno em relação a si mesmo e a sua natureza cuja principal consequência é a perda da identidade como ser autêntico e o sentimento de vazio e inutilidade da própria vida, por viver uma existência mecânica e rotineira. Associando isso à situação da cesárea a pedido, nós podemos ver as mulheres modernas hoje se afastando de um processo natural do ser humano feminino, que é a geração e o momento do parto normal; ao fazer uma cesárea a pedido, a mulher está escolhendo por se afastar do seu filho no momento do parto, digamos o momento mais importante do bebê, que vem durante nove meses em contato direto com a sua mãe e no momento do parto é afastado dela; o seu primeiro contato que deveria ser com a mãe é retirado dele e como tudo que acontece com nós, seres humanos, essa experiência trará consequências ao bebê e posteriormente a mãe. 
Em uma mulher que decide por uma cesárea sem nem considerar um parto vaginal existem alguns medos e tabus específicos da gravidez, como por exemplo o medo de aceitar o impacto de um parto, e o medo de ficar permanentemente deformada devido aos mitos que existem sobre a vagina ficar alargada e arruinar a sua sexualidade, há também o medo de sentir dores insuportáveis e etc. Vemos ainda uma sensação de insuficiência, de não dar conta do momento do trabalho do parto vaginal, e de achar que isso é uma experiência que o seu corpo não pode suportar; ela acha que necessita ser poupada e transfere o seu poder de dar à luz ao médico que tomará conta de tudo. A vivência do parto nesses casos costuma trazer tanto medo que o pedido da cesárea pode significar uma tentativa de anular esse momento de passagem tão importante durante a gestação. E é evidente que em muitos casos a cesárea a pedido é na verdade uma cesárea induzida pelo próprio médico, que tenta convencer a paciente da conveniência desse tipo de parto.  Quando o obstetra aceita de imediato o pedido da paciente, ele não está lhe oferecendo a melhor ajuda, pois ele não está lhe dando a oportunidade de examinar todos os tipos de parto possíveis, para que ela possa tomar a sua decisão. Psicologicamente observando, o medo do parto vaginal reflete em um nível mais profundo, o medo de ser mudada e de ver transformada a sua identidade e um parto cesáreo aparece como uma maneira de escapar do medo dessa mudança e ficar intacta e preservada como antes e fechando a oportunidade de vivenciar intensamente essa nova experiência.
E)      O parto Leboyer
A partir da sua experiência em assistir partos, Leboyer desenvolveu uma filosofia de assistência ao parto que tem como principal objetivo o acolhimento do recém-nascido, visando o impacto da diferença entre o mundo intrauterino e o mundo extrauterino. Leboyer preconiza uma sala de parto com luz difusa, silêncio, música suave e contato corporal imediato entre a mãe e o bebê. Este, logoapós o nascimento é colocado sobre o ventre materno e longamente acariciado pelo obstetra e pela mãe, o cordão umbilical é cortado somente após alguns minutos quando para de pulsar. Posteriormente, o recém-nascido é colocado num banho de água morna nesta técnica, tenta- se reproduzir o mais fielmente possível o ambiente intrauterino. Obviamente procura-se trabalhar com o mínimo de intervenções e com anestesias que não tirem a consciência, para possibilitar um contato intenso e precoce entre a mãe e o recém-nascido. 
A postura assistencial de Leboyer foi ampliada, preocupando-se com a integração do atendimento humanizado ao bebê e à mãe. Considera essencial a mudança do nível de consciência que permite a parturiente parar de referir-se a uma memória cultural e passe a ter uma memória mais arcaica, animal da própria espécie; e reconhecer em sua experiência um grito característico que acompanha a contração é um sinal de que esse estágio regressivo foi alcançado, paralelamente há uma questão uma percepção diferente do tempo, e uma aceitação maior da abertura dos esfíncteres da emissão de urina e de fezes e do relaxamento períneo. Todos esses processos do parto devem ser respeitados e acolhidos, sem julgamento, pois é algo normal e comum a toda gestante; ela deve ser conscientizada de que a experiência que ela está vivendo não possui espaços para vergonhas e preconceitos, deve ser valorizado, pois ela está dando à luz a um novo ser.
F) O parto vertical
Estudos antropológicos das sociedades primitivas das mais variadas épocas mostram que a grande maioria das parturientes utilizam posições verticais (sentada, de pé, de joelhos e de cócoras) ou seja, em povos não influenciados pela medicina ocidental predomina a escolha das posições verticais para a parturição. Atualmente alguns obstetras e pesquisadores estão interessados em estudar cientificamente as vantagens do parto vertical para a mulher e para o bebê. A posição vertical permite um contato ativo entre a mãe e o bebê logo após o nascimento, quando realizado num contexto de confiança e acolhimento. Depois de muitos séculos em que a posição de litotomia foi parte integrante do desenvolvimento tecnológico e científico da obstetrícia, o parto vertical começa a deixar de ser a modalidade primitiva de dar à luz e passa a ser objeto de estudo e pesquisa. Acrescente-se isso ao início de uma maior conscientização e consequentemente maior reivindicação por trás das mulheres, ao que diz respeito da qualidade de assistência que recebem e das violências a que tantas vezes são submetidas nos atendimentos hospitalares.
5. Aspectos psicológicos do puerpério e os primórdios do relacionamento pais – bebê
O puerpério, assim como a gravidez é um período bastante vulnerável, é grande a ocorrência de crises devido às profundas mudanças intra e interpessoais desencadeadas pelo parto. Alguns pesquisadores consideram o puerpério como o quarto trimestre da gravidez considerando-o como um período de transição, que dura aproximadamente 3 meses após o parto e pode ser particularmente mais acentuado no primeiro filho. É um período em que a mulher se torna mais sensível, confusa e até mesmo desesperada, algumas crises de ansiedade e depressão são extremamente comuns.
 Os primeiros dias após o parto são carregados de várias emoções, porém as primeiras 24 horas são as mais importantes, pois é onde a gestante está se recuperando da fadiga do parto, especialmente se esse parto foi feito sob narcose. A gestante nesses primeiros dias, pode se sentir muito debilitada e confusa, principalmente por causa do desconforto físico que o parto causa e também pela excitação de uma nova vida aos seus cuidados. A instabilidade emocional é o padrão mais característico da primeira semana após o parto, a euforia e a depressão alternam-se rapidamente, e a depressão pode atingir um grau bem maior de intensidade em muito menos tempo. Alguns estudiosos consideram essa primeira semana crucial para o desenvolvimento de problemas psicológicos, devido ao fato das mudanças bioquímicas que acontecem após o parto, como o aumento da secreção de corticoides e a súbita queda dos níveis hormonais que estavam em alta durante a gravidez. 
Supõe-se também a atuação de outros fatores como as frustrações do período de internação e a passagem da situação de uma espera ansiosa típica do final da gravidez, para a conscientização de uma nova realidade, que ao lado da satisfação da maternidade significa também a responsabilidade e a limitação de algumas atividades anteriores. Um outro aspecto importante é que, para a mãe a realidade do feto no útero não é a mesma realidade do bebê recém-nascido, e para muitas mulheres é difícil fazer essa transição especialmente, as que apresentam uma forte dependência infantil da mãe ou ao marido; elas podem facilmente gostar do filho enquanto ele ainda está dentro dela e amar uma imagem idealizada do bebê, mas não a realidade do recém-nascido. 
As observações das pesquisas feitas mostram que isso ocorre principalmente, nas mulheres que tendem a acreditar que o seu bebê será diferente, que vai ser tranquilo, que vai chorar pouco, dormir muito durante a noite desde o início, negando antecipadamente a realidade de um bebê nas primeiras semanas de vida, isso faz com que elas fiquem frequentemente assustadas e confusas com a responsabilidade dos cuidados maternos. 
Ainda há também uma percepção de que o filho é como se fosse uma parte do corpo da mãe e por essa razão o nascimento pode ser vivido como uma amputação. São muito comuns os casos em que a gestante tem sonhos em que há perda de partes do seu corpo (membros, dentes e etc.) e após o parto a mulher vai se dar conta de que o bebê é uma outra pessoa, e aí é necessário elaborar a perda do bebê da fantasia para entrar em contato com o bebê real e essa tarefa se torna particularmente penosa. Às vezes é muito difícil determinar a linha divisória entre a normalidade e a patologia no caso da depressão pós parto de todo modo a intensificação ou a permanência dos sintomas depressivos após algumas semanas depois do parto merecem ser vistas com o maior cuidado. 
A depressão pós parto tende a ser mais intensa quando há uma quebra muito grande da expectativa em relação ao bebê, a si própria como mãe e ao tipo de vida que se estabelece com a presença do seu filho, com o desaparecimento da imagem idílica vem muitas vezes um desânimo e a sensação de: “não era isso que eu esperava” e assim tem-se a impressão de ser incapaz de enfrentar a nova situação. Na depressão que se prolonga pelos primeiros meses pós parto é comum persistir uma sensação de decepção consigo mesma, desilusão, e de fracasso; por exemplo: “eu sempre me saí bem na dificuldades, em resolver os problemas sozinha e agora eu só quero ficar na cama o dia todo sem fazer nada, não consigo nem cuidar do meu filho” essa prostração, incapacidade de assumir a função materna tem também aspectos regressivos de identificação com o próprio bebê, a mãe solicita também para si os cuidados e preocupação dos familiares.
 Foi feito um estudo comparativo entre 15 mães que tiveram depressão pós parto e 15 mães que não tiveram, e nas mães do primeiro grupo foi possível identificar o prolongamento dessa patologia psicológica por alguns anos, ou seja, a depressão pós parto pode acarretar uma depressão crônica. Há aspectos difíceis e bastante objetivos na relação materno-filial que justificam essas reações características da depressão pós-parto: nas primeiras semanas mãe e filho se conhecem muito pouco, ainda não se estabeleceu entre eles um padrão de comunicação e frequentemente, a mãe não sabe distinguir quais as necessidades do bebê que permanecem insatisfeitas. Só gradualmente aprende a diferenciar o choro do filho: sinaliza fome, cólicas, desconforto, sede, sono ou necessidade de contato. É, portanto, uma relação inicialmente bem pouco estruturada, não verbal e, por isso, intensamente emocional. Essas características dão margem a amplas possibilidades de interpretações projetivas por parte da mãe:assim o choro do filho pode evocar sentimentos de pena e estimular necessidade de cuidar dele; de raiva de si própria por se sentir incapaz de satisfazer as necessidades do filho; de raiva do bebê por senti-lo como um “ingrato” que não reconhece sua dedicação e seus esforços, ou por senti-lo como permanentemente insatisfeito e insaciável, o que gera sentimento de culpa e inadequação, buscando resposta à pergunta “o que fiz de errado?”
A relativa falta de estruturação do relacionamento também dá muitas oportunidades de fazer projeções de expectativas em relação ao bebê e a si própria como mãe. Há mulheres cujo sentimento materno é extremamente mobilizado pela situação de desamparo do recém-nascido, que lhes estimula a vontade de cuidar, nutrir, proteger, identificando-se com o bebê. Sentem-se satisfeitas por serem capazes de satisfazer o filho.
As primeiras reações da mãe (aceitação, rejeição ou indiferença), foram correlacionadas com 59 variáveis diferentes, em um estudo, e estas encontraram relações significativas em treze. As mães cuja primeira reação era de aceitação, foram as que tendiam permanecer calmas e cooperativas durante o trabalho de parto, estabelecendo boas relações com a equipe e recebendo mais atenção e cuidados, tendiam também a querer amamentar os filhos e aceitar mais a própria feminilidade.
Outro estudioso trabalhou com uma hipótese de aproximação maior entre a mãe e o filho durante os primeiros dias de vida, e as correlacionou com as mães que seguem o regime hospitalar de manter a criança por mais tempo no berçário, longe da mãe. Os resultados mostraram que as mães que passaram mais tempo com seus filhos, já apresentavam uma atitude materna mais específica e mais elaborada do que as mães que deixaram seus filhos no berçário; o que salientou a descoberta de que essa separação logo nos primeiros dias de vida, atrasa a conexão entre mãe e filho, dando a mãe um sentimento de desconhecimento, e pode contribuir para o desenvolvimento de depressão pós parto.  
A)       O significado psicológico da amamentação e da alimentação artificial
O primeiro evento social – e talvez o mais crítico- da vida de uma criança ocorre com a interação entre mãe e filho na situação de alimentação. E foi somente neste século que o progresso tecnológico principalmente na área da indústria de alimentos, nutrição infantil e higiene ambiental juntamente com a elevação dos níveis educacional e sócio econômico, permitiu a enorme expansão na alimentação artificial dos bebês na grande maioria dos países industrializados, com a concomitante redução da incidência de amamentação. Dessa forma, quando a mãe escolhe a forma de alimentação de seu filho, expressa nesta decisão, influências da sociedade, do seu estilo de vida, de sua história pessoal e de sua personalidade. Nos países em desenvolvimento, o uso da mamadeira traz riscos maiores do que na época em que foi introduzido, devido às diferenças climáticas, a falta de água potável e as dificuldades de esterilização por causa da falta de combustível e de outras necessidades.  Nesses casos o custo da lata de leite é somado a todas as dificuldades anteriores, em busca de economia as famílias acabam diluindo mais o leite, resultando em muitos casos de diarreia, subnutrição e morte.	
Nas populações mais pobres, uma grande proporção das mulheres são cronicamente mal nutridas, o que alimenta a sua probabilidade de que seus bebês sejam vítimas de subnutrição ainda na fase de gestação, nascendo com baixo peso. Nestas condições o leite materno apesar de suas qualidades especiais de proteção não consegue compensar totalmente este problema.
Embora as normas de boa nutrição para uma população pobre sejam diferentes das normas para populações privilegiadas, pode-se dizer que uma boa nutrição materna é a que promove um desenvolvimento fetal adequado e propício para uma lactação também adequada sem prejudicar a saúde da mãe.
A maior incidência de alimentação artificial e a altíssima porcentagem de fracasso nas tentativas de amamentar refletem não só nas mudanças tecnológicas e sociais, mas também certamente o caráter anti instintivo e esquizóide da nossa época, em que os afetos e a proximidade emocional são tão temidos.
Apesar de uma “luta industrial” para provar que o leite em pó tem as mesmas propriedades do leite materno, pesquisas já comprovaram a superioridade do leite materno, e salientam a necessidade de amamentação exclusiva, pelo menos até o sexto mês de vida. Além da suplementação nutricional, o leite materno traz outros benefícios, como a menor incidência de doenças infecciosas nos bebês amamentados, devido a substâncias presentes tanto no colostro quanto no leite. Várias pesquisas têm mostrado a importância do colostro, uma secreção mamária que dura aproximadamente dois dias após o parto, antes do verdadeiro leite ser produzido e que contém várias células vivas que protegem o canal gastrointestinal do bebê, imunizando-o contra infecções nos primeiros seis meses de vida; além do mais, pesquisas comprovaram que as crianças amamentadas têm um melhor desenvolvimento facial e dental.
A associação entre o sucesso ou fracasso da lactação, as emoções da nutriz e as atitudes das pessoas que a cercam está se tornando cada vez mais claro. A ocitocina, principal hormônio responsável tanto pelas contrações uterinas no parto, e depois na involução do puerpério, como pelo funcionamento do reflexo de liberação na amamentação. Por isso alguns autores acham que o ato de colocar o recém-nascido no seio da mãe, logo após o nascimento, antes mesmo de cortar o cordão umbilical tem as vantagens de produzir contrações uterinas intensas acelerando a constrição dos vasos, reduzindo perda sanguínea, e facilita o descolamento da placenta, auxiliando a se estimular a secreção láctea; uma vez que a sucção do bebê é o estímulo fundamental para a produção do leite. Psicologicamente, teria a grande vantagem de reduzir o efeito traumático da separação provocada pelo parto unindo ainda mais a mãe e o filho.  As emoções afetam a lactação; sentimentos de calma, confiança, tranquilidade favorecem um bom aleitamento.  Já as emoções de ansiedade, medo, fadiga e dor prejudicam o reflexo de liberação através da inibição hipotalâmica da secreção de ocitocina, o que faz parar a produção materna.  A amamentação não é apenas um processo fisiológico, é um processo psicossocial entre mãe e filho.
B)  a relevância do contato precoce para o desenvolvimento do bebê
Durante o período gestacional o bebê está dentro da barriga, em um ambiente calmo e seguro, recebendo alimentação sem esforços, ouvindo ruídos baixos e não se preocupa nem com a eliminação de resíduos. Ao nascer, o bebê tem que se adaptar a sua nova “placenta”, a mãe, que cessará todas as suas necessidades. E é a partir do contato corporal que será construída a sensação de segurança, o bem-estar, e afetividade. A privação do contato epidérmico resulta em distúrbios físicos e emocionais graves, e é interessante observar que a pele das crianças privadas de afeto apresenta hipotonicidade e palidez intensa, nem sempre devido à redução de hemoglobina.
Uma série de estudos têm tentado comprovar a existência de um período sensível na mãe nas primeiras horas após o parto, seria o momento mais propício para a formação de um vínculo com o bebê. Esse seria um período em que se verificaria a presença de uma maior sensibilidade para interagir com o recém-nascido e formar um vínculo com ele. É necessário, no entanto, esclarecer que a noção de período sensível é diferente da noção de imprinting no sentido de que não há um momento único para a formação desse vínculo, ele poderá ser formado depois, porém, com mais dificuldades. Nos casos de crianças que nascem prematuras ou que não podem ir ao colo, foi comprovado que a linguística é de grande valia. Os estudos sugerem tocar, acariciar, conversar e oferecer estímulos visuais ao prematuro, essas ações ajudarão na formação do vínculo.
C)  Os recursos perceptuais do recém-nascido.
Ao nascer há uma acuidade visualque não é ainda como a do adulto, mas que de qualquer modo, permite ao recém-nascido distinguir muitas coisas. Ainda não há acomodação e a convergência é precária, a condução nervosa é basicamente lenta (e para obter uma resposta é preciso que o estímulo seja bastante forte e apresentado demoradamente e com um intervalo apreciável entre dois estímulos sucessíveis.  
O recém-nascido enxerga relativamente bem estímulos bastante contrastantes, apresentados a uma distância não muito grande. Porém a percepção visual evolui rapidamente entre 0 e 2 meses; muitas coisas acontecem nesse período, provavelmente em decorrência da rapidez da maturação nervosa em crianças nascidas a termo. Em torno de 2 meses, a acomodação é boa, as células da retina já estão maduras e sensíveis, há muito mais conexões nervosas e o impulso nervoso circula mais rapidamente. Em geral o recém-nascido manifesta preferência por estímulos planos e gradualmente passa a preferir estímulos com volumes mais complexos e com nuances. A distinção entre plano e volume já existe em torno de 6 a 7 semanas e a diferença entre o convexo e côncavo em torno de 10 semanas.
Um estudioso observou grandes diferenças individuais entre recém-nascidos a ponto de crer ser possível estabelecer uma tipologia de bebês em função da atividade visual. No decorrer da primeira semana de vida alguns bebês observados todos os dias na mesma hora durante a primeira semana de permanência no hospital apresentaram uma atividade visual notável, atingindo até mesmo 100% da duração da observação; enquanto outros se caracterizaram por uma grande sonolência e uma fraca fixação do olhar. 
A observação desses bebês aos 3 meses de idade mostrou que essas diferenças se atenuam.
Quanto à percepção auditiva, as observações sugerem que o recém-nascido consegue reconhecer os ruídos característicos do interior do corpo da mãe. Ao escutar uma gravação de ruídos intra uterinos, 86% dos bebês param de chorar em poucos segundos e 30% adormecem logo em seguida, isso pode ser utilizado como um teste preliminar para identificar bebês com deficiências auditivas graves. As observações sugerem que bebês de poucos dias reagem à voz da mãe de uma maneira peculiar, inclusive na ausência de outras fontes de informação além da auditiva.
 A percepção olfativa do recém-nascido permaneceu ignorada durante muito tempo, um pesquisador tentou verificar se o recém-nascido consegue reconhecer a própria mãe pelo cheiro. No primeiro experimento, verificou-se que os recém-nascidos a partir do sexto dia moviam a cabeça na direção de um tecido impregnado pelo cheiro do seio de sua mãe com muito mais frequência do que para um tecido que não tinha estado em contato com o corpo materno. Esses experimentos mostraram que os bebês apresentam sensibilidade olfativa já nas primeiras semanas de vida. Essa discriminação olfativa se observa também nas crianças maiores no caso de crianças de 2 a 3 anos, elas conseguem reconhecer o cheiro de uma blusa usada pela mãe durante 2 ou 3 dias. Os resultados desses estudos, sobre os recursos perceptuais do recém-nascido mostram a importância de promover um intercâmbio entre a mãe e o bebê por todas as vias sensoriais.

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