Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Valores Geraldo e o tre-le-lê Em Sócrates e Aristóteles vemos a ideia de que a vida que vale a pena é a vida que compensa todas essas misérias e tristezas humanas, através do pensamento e de escolhas chamadas virtuosas. É aquela em que, o positivo compensa o negativo, por meio da conduta sábia do indivíduo, encontrando assim valor nas coisas, nas pessoas e na própria existência. Mas o que seria este valor? Segundo o dicionário da Língua portuguesa, em termos filosóficos, podemos significar a palavra como “propriedade ou carácter do que é, não só desejado, mas também desejável”, ou ainda, como “as próprias coisas desejáveis, sendo os principais valores o verdadeiro, o belo, o bem”. O vernáculo traz também uma definição que é estimativa “valor que se calcula pelo apreço ou estima que se tem um objeto”. ¹ A Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura define: “Um valor é sempre uma relação entre um objeto e um padrão utilizado pela consciência que avalia uma ação realizada ou a realizar. No aspecto filosófico, e pela análise de nossas atitudes práticas (não-teoréticas) e pela reflexão sobre as mesmas que conseguimos atingir a consciência do valor na sua essência. A questão sobre a natureza da moralidade, da arte e da religião conduz, por esta perspectiva, à essência dos valores éticos, estéticos e religiosos.” ² Logo, percebemos que para esta aula, dentre todas as definições possíveis para a palavra valor, nos interessa refletir sobre aquela que expressa um juízo subjetivo feito pelo ser humano. Cabe pensarmos aqui sobre a relação que estabelecemos com o mundo. Sobre como o valor das coisas tem a ver conosco, sobre como atribuímos valor a tudo, independentemente de haver um valor intrínseco em cada coisa ou acontecimento. A árvore vale para um viajante porque faz sombra; o anel barato vale para a neta, porque lembra a avó que o deu; e assim vamos atribuindo valor a cheiros, memórias, objetos e relações, de acordo com o que nos importa. Machado "goela baixo” Outro ponto de reflexão que se estabelece, está no fato de que, apesar de atribuirmos valor de acordo com o que é importante para nós, não é sempre que conseguimos sustentar essa escolha perante o mundo. Temos a necessidade de nos enquadrarmos na sociedade em que vivemos, nos grupos a que pertencemos e, por vezes, o desejo individual é colocado de lado por isso. E então, já não se declara preferência, renuncia-se ao desejo, submete-se ao valor dos outros, do grupo. A História mostra que através do valor estabelecido socialmente é que se estrutura a dominação. O filósofo francês, Michel Foucault, ensina que o poder é uma prática social constituída historicamente. “As relações de poder, seja pelas instituições, escolas, prisões, foram marcadas pela disciplina e por ela que as relações de poder se tornam mais facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que estabelecem as relações: opressor-oprimido, mandante-mandatário, subordinador-subordinado etc. Trata-se de uma relação assimétrica que institui a autoridade e a obediência, e não como um objeto preexistente em um subordinador. Trata-se de uma concepção do poder que se irradia da periferia para o centro, de baixo para cima, que se exerce permanentemente, dando sustentação à autoridade.” ³ Descomplicando o complexo A subjetividade da atribuição de valor muitas vezes conflita com a realidade e o funcionamento da vida. Como dito em aula, em diversas situações, a nossa perspectiva de valoração não condiz com as regras e determinações sociais, como diz o professor Clóvis de Barros: o gabarito não bate! E como exemplo, podemos citar as pessoas consideradas excelentes em seus afazeres que, a despeito de seus esforços e perícia, não alcançam seus intentos, ou seja, o incrível técnico de futebol que perde o campeonato, a bailarina espetacular que perde o concurso de dança ou exímio aluno que não recebe boa nota na prova. Da mesma forma que é correto dizer que valoramos as coisas do mundo a partir da nossa própria perspectiva, também se pode afirmar que o valor extrínseco (convencionado socialmente) delas oscila de acordo com quem as valora. E nada mais coerente com uma sociedade competitiva do que o poder da determinação final a respeito daquilo que tem ou não valor. São muitas as perspectivas e variáveis sobre o assunto e, por isso, cabe destacar sua complexidade com a ajuda do pensador Edgar Morin: “Segundo Edgar Morin (Introdução ao Pensamento Complexo, 1991:17/19): "...a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem no caos,da ambigüidade, da incerteza... Daí a necessidade, para o conhecimento, de pôr ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambigüidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco de a tornar cega se eliminarem os outros caracteres do complexus; e efetivamente, como o indiquei, elas tornam-nos cegos." ¹ https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/valor. ² Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. ³ https://cafecomsociologia.com/o-poder-em-michael-foucault/ Atividade extra Nome da atividade: Fidelidade aos Próprios Valores Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=j-gCaeFYrZA Referência Bibliográfica BARROS FILHO, Clóvis. A Felicidade é Inútil. Ed. Citadel. São Paulo. 2019. BARROS FILHO, Clóvis. CALABREZ, Pedro. Em Busca de Nós Mesmos. Ed. Citadel. São Paulo. 2017. BARROS FILHO, Clóvis. KARNAL, Leandro. Felicidade ou Morte - Col. Papirus Debates. Ed. Papirus 7 Mares. São Paulo. 2016. BARROS FILHO, Clóvis. MEUCCI, Arthur. A Vida que vale a pena ser vivida. Ed. Vozes. São Paulo. 2014. BARROS FILHO, Clóvis. PONDÉ, Luiz Felipe. O Que Move As Paixões. Ed. Papirus 7 Mares. São Paulo. 2017. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. A reflexão proposta em aula considerou o significado da palavra valor como: A expressão de um juízo subjetivo feito pelo ser humano sobre as coisas do mundo A partir da perspectiva proposta em aula, de que forma atribuímos valor às coisas: De acordo com o que é importante para nós Segundo o pensamento do filósofo francês, Michel Foucault, a História mostra que através do valor estabelecido socialmente é que se estrutura: a dominação A atribuição de valor às coisas também nos remete a uma: relação de poder Como dito em aula, a atribuição de valor é um tema complexo em nossa sociedade e, nem sempre, “o gabarito bate”. Sobre o tema, assinale a alternativa correta: o valor extrínseco (convencionado socialmente) das coisas oscila de acordo com quem as valora Existem situações em que, ainda que haja uma atribuição de valor aceita socialmente, a complexidade da vida se encarrega de alterar os resultados associados a esta valoração. Não é um exemplo desta afirmação: a bailarina espetacular, que se machuca e se retira do concurso de dança
Compartilhar