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Trabalho Rómulo

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Nome: Ana Vitória Nava – R.A: 1520101378 – Turma: 4°C / Osasco 
Resenha do livro “Misérias do Processo Penal” – Francesco Carnelutti
No livro analisado “Misérias do Processo Penal” de Francesco Carnelutti, em tese, o célebre autor processualista penal versa sobre diversas questões jurídicas e, consequentemente, processuais, além de destacada crítica ao “modo jurídico de ser”, com seus “quês” de formalismos e tecnicismos, por vezes, necessários. A obra foi escrita em 1957, de tamanha repercussão no âmbito jurídico. O escritor vai falar de alguns aspectos processualistas, como, por exemplo: A toga, O preso, O advogado, O juiz e as respectivas partes, A parcialidade ou não do Defensor, As diversas Provas criminológicas e fatídicas, A sentença, o futuro do Direito Processual Penal, dentre outros aspectos extremamente relevantes para o Direito Penal e o respectivo Direito Processual Penal.
Carnelutti assegura que o juiz para ser diferenciado do Promotor, do Advogado de defesa, do Defensor e demais serventuários do Poder Judiciário, deve estar previamente togado, traje este que lhe confere um simbolismo de autoridade, fazendo jus a algumas premissas processuais quanto ao aspecto do réu. “A toga, verdadeiramente, como a veste militar, desune e une; separa os magistrados e advogados dos delinquentes, para uni-los entre si. Esta união, observamos bem, tem altíssimo valor” (CARNELUTTI, pág. 18).
No segundo capítulo de sua obra, ele faz um alerta a respeito do preso; segundo o mesmo, o preso estava ali “sozinho, pequeno (...) perdido”. A partir desta assertiva, é preciso firmar entendimento presente em sua obra, de que o criminoso não deve ser tratado como animal selvagem, nem mesmo como autoridade, deve ser tratado como ser humano, nada mais, nada menos. Este pensamento pode ser comprovado pelo trecho, em seu livro: "O delinquente até que não seja encarcerado, é uma outra coisa, a que o autor sente horror, mas quando ele é algemado, a fera se torna homem. Não se pode fazer uma nítida divisão dos homens em bons ou maus. Infelizmente a nossa curta visão não permite avistar um germe do mal naqueles que são chamados de bons, e um germe de bem, naqueles que são chamados de maus. Basta tratar o delinquente, antes que uma fera, como um homem, para descobrir nele a vaga chamazinha de pavio fumegante, que a pena, ao invés de apagar, deveria reavivar."
No terceiro capítulo, fala sobre o modo de comportamento do advogado de defesa, o qual deveria entender que é o único amigo do preso ao ser previamente encarcerado. “O preso é, essencialmente, um necessitado. A escala dos necessitados foi traçada naquele sermão de Cristo ao qual tive ocasião de acenar, referido no capítulo XXV de Mateus: Famintos, sedentos, despidos, vagabundos, doentes, presos; uma escala que conduz o meio animal da essencial necessidade física à necessidade essencialmente espiritual; o preso não tem necessidade nem de alimento, nem de roupas, nem de casa, nem de medicamentos; o único remédio, para ele é a amizade. As pessoas não sabem tampouco os juristas, que aquilo que se pede ao advogado é a esmola da amizade antes de qualquer outra coisa” (CARNELUTTI, pág. 30).” Talvez este seja um dos principais capítulos da obra porque o autor recorda aos seus tempos de advocacia criminalística, visando sempre que a tolerância e a amizade ao preso adquirem-se com a experiência e os anos de advocacia-amizade. Ainda consoante ao mesmo, o vocábulo “advogado” seria parecido ou idêntico ao “ajuda”. Advogado, ajuda, amizade, uma rede de “A(s)” com o mesmo propósito: enxergar no cliente um novo ser humano antes, durante e após o cárcere. O advogado, na visão Carneluttiana, seria nada mais que uma simples pessoa, humilhada, que rastejava com o acusado nos últimos degraus da escada forense, levando, juntamente, com sua fama, “a humilhação” de ser advogado criminalista. “(..) o que simboliza a experiência do advogado é a humilhação. Ele enverga a toga, colabora com a administração da justiça, mas não se assenta nos lugares mais elevados; ao contrário, seu lugar é entre os de menores honras, nos tribunais (...) o advogado sempre estará sujeito ao juízo alheio, mesmo quando não houver razão alguma para se submeter a causa ao juízo de outro mais capacitado para julgar” (CARNELUTTI, pág. 39).”
Versando sobre a mesma temática, Pedro Barata [1] afirma que “Quantas vezes você já assistiu algum programa de polícia, ou viu nos jornais, pessoas sendo presas pelos mais variados tipos de crimes, e ouviu, ou até mesmo falou a seguinte frase: “E ainda tem gente que defende bandido”. A própria sociedade acaba por dividir esse profissional em dois ramos: Os “defensores de bandidos”, que são vistos como aqueles que trabalham exclusivamente visando seus honorários, deixando de lado todos os seus princípios morais e éticos, sendo julgados como se tivessem praticado o próprio crime por ele defendido; e os “defensores de inocentes”, que seriam aqueles com a mais alta conduta ilibada, buscando um ideal de justiça, a paz social, sendo vistos por alguns como os próprios salvadores da pátria. A pessoa que escolhe essa área para atuar deve entender que está ali defendendo os direitos de seu cliente, e não o do crime pelo qual cometeu ou está sendo acusado. Infelizmente grande parte da sociedade não enxerga assim. O advogado criminal é imprescindível para o cumprimento da justiça. Quando ele consegue a liberdade de alguém, ou que uma determinada pena seja reduzida, não se deve entender que ele está agindo “contra os interesses da sociedade”, pois a concessão do benefício foi dada única e exclusivamente pela própria lei. Advogados criminalistas não são criminosos, não compactuam de forma alguma com o crime, mas cumprem o seu papel de fiel observância da aplicação da lei. É claro que, como em todas as profissões, sempre existe a exceção. Nesta profissão não avaliamos se o cliente deve ou não ser defendido, apesar do imaginário popular entender que deve ser feita uma triagem entre aqueles que possuem direito à defesa, e aqueles que devem ser condenados e trancafiados nos presídios durante toda a eternidade.”.
No seguinte capítulo, Carnelutti aborda sobre o papel do juiz e das partes, afirmando que todos os homens são partes, do Juiz ao Réu, do Advogado de Defesa ao Representante do Parquet.
“De fato, os juristas dizem que o juiz está super parte, isto é, ele está acima e as partes e o acusado abaixo. O acusado está sob grades, o juiz sobre a cátedra; do mesmo modo, o defensor está abaixo do juiz, sob a sua autoridade, mas o Ministério Público, como parte, contrariando a tudo, colocado ao seu lado. Isso é um erro que acabará por se corrigir, com uma maior compreensão da mecânica do processo” (CARNELUTTI, pág. 47). Neste capítulo, ele retrata a crítica ao Juiz e seu derivado papel, de julgar, de decidir vidas, o autor assevera que se alguém parasse para pensar na responsabilidade ao exercer um cargo de Juiz, não o exerceria. Como Advogado Criminalista, ele faz questão de defender a sua classe e, inferioriza, em partes, as demais atividades jurídicas, em âmbitos forenses. O autor diz que um juiz torna-se mais puro quando tem aptidão ou competência para aplicar acórdãos e não sentenças, tendo em vista que ao trabalhar em uma decisão conjunta, ele não se tornaria indigno ao ponto de decidir unicamente, por si próprio, diversas lides. “Por trás da magnificência de uma toga há, na essência, sempre, um homem, igual a qualquer outro, repleto de anseios, angústias, esperanças e sonhos (...) Nenhum homem, se pensasse no que ocorre para julgar um outro homem, aceitaria ser juiz. Contudo, achar juízes é necessário. O drama do Direito é isto. Um drama que deveria estar presente a todos, dos juízes aos jurisdicionados no ato no qual se exalta o processo. (...) Somente a consciência da sua indignidade pode ajudar o juiz a ser menos indigno.” [2]
“Para ser grande, um juiz precisa se sentir pequeno, moldar a própria alma na alma de um menino, como para se dignar e entrar no reino dos céus. Precisa resgatar,a cada dia, o dom de se maravilhar, de assistir atônito ao nascer e ao pôr do sol, a cada manhã e a cada entardecer, e sentir-se infinitamente pequeno ao cair da noite, diante da grandiosa e infinita beleza do céu todo iluminado por estrelas; sentir-se extasiado com o perfume de um jasmim ou com o canto de um rouxinol, enfim, precisa reconhecer, com relevância, cada manifestação do inefável prodígio que é a vida” (CARNELUTTI, pág. 51).
No ponto ulterior, Carnelutti aborda a breve parcialidade do Defensor Público, em que assegura que o Juiz, como se sabe, somente deverá tomar decisões após ouvir os advogados das partes, com suas demonstrações e reiteradas parcialidades. Ele cita “A figura do advogado é uma das mais polêmicas da sociedade, para não dizer a mais desgastada. Nunca, nem nos momentos mais convulsionados da história, a supressão das profissões do médico, ou do engenheiro, chegou a ser proposta, mas a do advogado sim, e concretizou-se em alguns países, se bem que restabelecida, rápida e imediatamente, a seguir. No fundo, a aversão demonstrada em relação aos advogados não passa de uma indisposição contra a parcialidade do ser humano. Pensando bem, somos os Cirineus da sociedade: ajudamos a carregar a cruz dos outros, esta é a nossa nobreza (...) A parcialidade deles é o preço que se deve pagar para obter a imparcialidade do juiz, que é, pois, o milagre do homem, enquanto, conseguindo não ser parte, supera a si mesmo”.
No posterior capítulo da obra Carneluttiana, Daniele Veleda Moura [3] fala um pouco mais do assunto: “As provas servem para voltar atrás para reconstituir a história. A degeneração do processo penal é um dos sintomas mais graves da civilização em crise.
Não o mais grave, mas o mais visível é aquele que resguarda o respeito ao acusado que não deve ser considerado culpado até que seja condenado com uma sentença definitiva. Esta é apenas uma daquelas normas, as quais servem somente para demonstrar a boa-fé daqueles que a elaboraram. Mas há um outro indivíduo no centro do processo penal ao lado do imputado: a testemunha. Os juristas, friamente, classificam a testemunha, junto com o documento, na categoria das provas. Mas esquecem que enquanto o documento é uma coisa, a testemunha é um homem. Todos sabemos que a prova testemunhal é a mais infiel entre as provas; a lei a cerca de muitas formalidades, querendo prevenir os perigos; a ciência jurídica chega ao ponto de considerá-la um mal necessário; a ciência psicológica regula e inventa até instrumentos para a sua avaliação, ou seja, para discernir a verdade da mentira; mas a melhor maneira para garantir o resultado sempre foi a de reconhecer na testemunha um homem e de atribuir-se o respeito que merece cada homem. Como a verdade pode brotar quando a testemunha é perseguida pelos fotógrafos, cercada assim até influenciá-la, por jornalistas, por guardas e pelos advogados. As pessoas estão persuadidas de que aquela que produz estes fenômenos seja uma civilização em progresso.”
Nos demais capítulos, o autor aborda mais sobre a questão processualista, ao citar a coisa julgada e a verdadeira condenação, a qual se dá após o trânsito em julgado (não cabe mais recurso), apenas. Ressalta a questão do criminoso como Eterno Criminoso aos olhos da sociedade, sem oportunidades de emprego e coisas afins [4].
A obra é recomendada a todos aqueles que se interessam pelas questões jurídicas, sob uma visão criminalística do fato. Oferta uma leitura bastante clara e instigante, insurgente no subconsciente do estudante de Direito que gosta de debater paradigmas processuais e previamente forenses.
Francesco Carnelutti (1879 -1965) foi um brilhante professor (leia-se Mestre), excepcional Advogado Criminalista e Jurista italiano, ajudando a criar, inclusive, o Código de Processo Civil Italiano, parceiro de Giuseppe Chiovenda, grande Processualista Civilista. Além disso, faz-se de extrema necessidade citar que Carnelutti escreveu “As misérias do Processo Penal” em 1957. Dentre suas teorias processualistas, podemos destacar a lide ou litígio como o âmago do processo, o ponto ou eixo-chave do conflito. Assegurando que “lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida." [5]
“A lei é igual para todos. Também a chuva molha todos, mas quem tem guarda-chuva abriga-se.”(Francesco Carnelutti)

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