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PARTE UMA TEORIA DA PERSONALIDADE BASEADA NAS RELAÇÕES DE OBJECTO CAPITULOI FACTORES ESQUIZOIDES NA PERSONALIDADE (1940) () Os processos mentais de uma natureza esquizoide passaram ultimamente a ocupar a minha atenção num grau mais elevado; e os casos nos quais tais processos estão suficientemente mar- cados para atribuir uma compleição esquizoide reconhecível à per sonalidade parecem-me actualmente fornecer um material extre- mamente interessante e fértil em todo o campo da psicopatologia. Entre várias considerações que apoiam este ponto de vista devemn seleccionar-se as seguintes: (1) Dado que as condições esquizoides constituem as fases psicopatológicas mais recuadas, fornecem uma oportunidade sem rival para o estudo não só dos fundamentos da personalidade, mas também dos mais básiços processos mentais. (2) A análise terapêuticado caso esquizoide dá uma oportunidade para o estudo da mais vasta gama dos processos psicopatológicos num individuo em si mesmo, porque em tais casQs é normal alcan- çar-se o estado final apenas depois de terem sido explorados todos os métodos disponíveis de defesa da personalidade. (3) Contraria- mente à opinião comum, os indivíduos esquizoides que não retro cederam demasiado são capazes de uma maior compreansão psico- lógica do que qualquer outra classe de pessoas, normais ou anor () Uma versão abreviada deste documento foi lida perante o Ramo Escocés da Sociedade Psicológica Britânica em 9 de Novembro de 1940. 15 mais um facto devido, em_parte pelo menos, ao serem tão intro vertidos (isto 6, preocupados com a realidade interior) e tão familia- res com os seus mais_profundosprocessos psicológicos(processos que, apesar de não estarem ausentes em indivíduos que seriam normalmente classificados como simples psiconeuróticos estão todavia excluldas da consciência desses. individuos. pelas defesas mais obstinadas e resistências mais teimosas). (4) De novo con trariamente à opinião comum, os individüos esquizoides mostram-se capazes de transferência a um grau notável, e apresentam possibi- lidades terapêuticas inesperadameate favoráveis. Na medida em que estiverem em questão condições aberta mente esquizoides, devem diferenciar-se os seguintes grupos: (1) Esquizofrenia_propriamente.dita. (2) A personalidade psicopática do tipo esquizoide um grupo que pode muito bem compreender a maioria dos casos de personalidade psicopata (sem excluir as personalidades epilépticas). (3) O carácter esquizoide- um amplo grupo que com preende indivíduos cujas personalidades incorporam definitiva mente traços esquizoides, mas que não podem sensatamente ser considerados psicopatas. inclulda numa série de 100 casos psiquiátricos estudados por Mas- serman e Carmichael (Journal of Mental Science, Vol. LXXXIv, pp. 893-946). Estes autores descobriram que 'em não menos do que quinze dos trinta e dois pacientes existja uma história defini- tiva de sintomas histéricos que precedia o desenvolvimento do sindroma francamente esquizofrènica -a respeito da incidência das obsessões e compulsões, observam: "Elas também ocorreram com a maior frequência nos esqujzofrénicos'- obsessões descober- tas em dezoito e compulsões em vinte dos trintae dois casos. Tem interesse acrescentar que, numa série de casos militares que cai- ram sob a minha alçada, 50 por cento daqueles que foram final- mente diagnosticados como "esquizofrenia' ou 'personalidade esqui- zofrénica' foram submetidos a investigação com diagnóstico prévio tanto de 'neurose de ansiedade' como de 'histeria'. Ao passo que estes números são sugestivos como uma indicação da extensão até onde as defesas psiconeuróticas são empregadas pelo paciente francamente esquizoide numa v� tentativa para defender a sua personalidade, não nos indicam até que ponto uma tendência básica esquizoide pode estar dissimulada pelo êxito de tais defesas. Uma vez que a prevalência de caracteristicas essencialmente esquizoides foi reconhecida em casos em que os sintomas apre- sentados são ostensivamente psiconeuróticos, torna-se possivel (4) A ase esquizoide ou episódio esquizoide transitório - uma categoria na qual se inclui uma quantidade considerável de 'esgotamentos nervosos' de adolescentes. A parte estas condições abertamente esquizoides, é contudo vulgar encontrarcaracterísticas de uma natureza basicamente esqui- 2oide evidenciadas por pacientes cujos sintomas apresentadossão essencialmente psiconeuróticos (v.g. histéricos, fóbicos, obses sivos, ou simplesmente ansiosos). Estés caracteristicas, quando presentes, são, evidentemente, mais fáceis de aparecer quando as defesas psiconeurótica[ por meio das quais a personalidade foi defendida enfraquecem durante (e por intermédio de) o tratamento analítico; mas a maior familiaridade com o fundo esquizoide básico torna possível de uma maneira espantosa ao analista detectar a presença de características esquizoides na entrevista inicial. A este respeito é interessante notar a incidência de sintomas histéricos ou gbsessivos. na história prévia de trinta e dois esquizofrénicos no decurso do tratamento analítico detectar a presença de carac- teristicas semelhantes num número de individuos que procuram auxilio analítico por causa de problemas aos quais é dificil apor quaisquer rótulos psicopatológicos. A incluir neste grupo estão muitos daqueles que consultam o analista dadas incapacidades como inibições sociais, inaptidão para se concentrarem no trabalho, problemas de carácter, tendências sexuais perversas e dificuldades psicossexuais como a impotência e a masturbação compulsiva. O grupo inclui também muitos daqueles que se queixam de sintomas aparentemente isolados (v. g. medo da loucura ou ansiedade exibi- cionista), ou que manifestam um desejo de um tratamento analitico em campos aparentemente inadequados (v. g. "Porque sinto que me faria bem' ou 'porque seria interessante). Inclui do mesmo modo todos aqueles que entram na sala de consulta com um ar miste- 17 16 EPP-2 rioso ou mistificado, e que iniciam a conversa quer com uma cita- ção de Freud ou com uma observação tal como "Realmente não sei por que vim'. Na base de um estudo analítico de casos que pertencem às várias categorias que foram agora mencionadas, é possivel reconhe- cer como essencialmente esquizoides não só fenómenos como a despersonalização caracterizada e a desrealização, mas também per- turbações relativamente menores ou transitórias do sentido da rea- lidade, v. g. sentimentos de 'artificialidade' (quer referida ao Eu ou ao ambiente), experiências como 'o sentimento de estar por detrás dum vidro', sentimentos de desconhecimento de pessoas familiares Qu_ caracteristicas ambientais, e sentimentos de familiaridade com o não-familiar, Aliado ao sentido de familiaridade com o não-fami- liar está a experiência do déià u - um fenómeno interessante que deve ser do mesmo modo considerado como envolvendo um pro cesso esquizoide. Um ponto de vista semelhante deve ser tirado de fenómenos dissociativos como o sonambulismo, a fuga, a_dupla personalidade e a personalidademúltipla. Na medida em que as manifestações de personalidade dupla e múltipla estão em causa, a sua natureza essencialmente esquizoide deve ser inferida de um estudo discreto dos numerosos casos descritos por Janet, William James e Morton Princa E aqui vem a propósito observar que mui tos dos casos descritos por Janet como manifestando os fenómenos dissociativos na base dos quais ele formulou o seu conceito clássico de chisteria» se comportavam equivocamente como esquizofrénicos - um facto que interpreto a favor da conclusão, a que já cheguei na base das minhas próprias observações, de que a personalidade do histérico contém invariavelmente um factor esquizoide em maior ou menor grau, por muito profundamente que possa estar enterrado. Quando a conotação do termo esquizoide' se estende através de um alargamento da nossaconcepção de fenómenos esquizoides na maneira indicada, a denotação do termo está inevitavelmente submetida a uma extensão correspondente; e a grupo esquizoide daí resultante é então considerado como podendo tornar-se um outros elementos disruptivos em todas as comunidades. As carac- terlsticas esquizoides, normalmente numa forma menos pronun- ciada, são também comuns entre membros da intelligentsia. Assim, o desdém dos intelectuais pela burguesia e o desprezo do artista esotérico pelo filistino podem considerar-se como manifestaçõesmenores de uma natureza esquizoide.-Deve também notar-se que as ocupações intelectuais como fais, quer literárias, atísticas, cien- tificas ou outras, parecem exercer uma atracção especial nos indi- viduos que possuem.características esquizoides num ou noutro grau. No que diz respeito às ocupações cientficas, a atracção parecerá depender da atitude de indiferença do indivíduo esquizoide não menos do que da sua sobreavaliação dos processos de pensamento; porque ambas são características que prontamente se prestam à capitalização dentro do campo da ciência. O apelo obcessivo da ciência, baseado como este está na presença de uma necessidade compulsiva para a organização ordenada e a acuidade meticulosa, foi, evidentemente, há muito reconhecido; más o apelo esquizoide não é menos definitivo e exige pelo menos igual reconhecimento. Finalmente pode aventurar-se a afirmação de que um número de figuras histór ou personalidades esquizoides ou caracteres esquizoides; e, na ver- dade, pareceria que seriam essas as que deixam uma marca nas páginas da História. Entre as várias características comuns ao grupo aparentemente conglomerado de individuos que estão sob a alçada da categoria esquizoide como agora é encarada, três são de importância sufi- ciente para merecerem referência especial. São elas (1) uma atitude de omnipotência, (2) uma atitude de isolamento e desinteresse, e (3) uma preocupação com.a.realidade interior. E, contudo, impor tante, ter em conta que estas características não são necessariamente manifestas. Assim, a atitude de omnipotênciapode ser consciente Ou inconsciente em qualquer grau. Pode tàmbém localizar-se den- tro de certas esferas de operação. Pode ser sobrecompensada e dis- simulada sob uma atitude superficial de inferioridade e humildade; e pode ser conscientemente guardada no íntimo como um segredo precioso. Do mesmo modo, a atitude de isolamento e desinteresse cas ilustres se prestaram à interpretação de que eram grupo muto amplo. Descobre-se, por exemplo, uma elevada per centagem de fanáticos, agitadores, criminosos, revolucionários e 19 18 pode ser dissimulada por uma fachada de sociabilidade ou pela adop. ção de papéis especificos; e pode ser acompanhada por uma con. siderável emotividade em determinados contextos. Quando está em causa a preocupação com a realidade interior, esta é indubitavel. mente amais importante de todas as caracteristicas esquizoides; está não obstante. presente, quer a realidade interior seja substi- tuida pela realidade exterior, identificada com a realidade exterior Qu sobreposta à realidade exterior. Não deixará de se notar queo-conceito de esquizoide', que é oriundo das considerações precedentes, corresponde de uma ma- neira notável intimamente, particularmente quando está em causa a sua denotação, ao conceito de tipo introvertido' como foi formu- lado por Jung; e é significativo que num dos seus primeiros escritos (Collected Papers on Analytical PsychoBogy. 1917, p. 347) Jung expressou_o ponto de vista de que a incidência da esquizofrenia dementia praecox) se limitava ao tipo introvertido, indicando assim o reconhecimento pela su� parte de um�/associação entre_a intro- versão e os desenvolvimentòs eSquizoides. A correspondência entre o conceito de Jung de 'introvertido' e o conceito de 'esquizoide' como é agora encarado não deixa de ter interesse na medida em que confirma a existência real do grupo descrito, particularmente desde que se chegou aos dois conceitos por caminhos completamente independentes.O reconhecimento desta correspondência não implica evidentemente qualquer aceitação pela minha parte da teoria de Jung dos tipos psicológicos fundamentais. Na verdade, pelo contrário, a minba concepção.do.grupo.esquizoide.baseia-se.numa considera ção, não de factores temperamentais mas de factores.estritamente psicopatológicos. Ao mesmo tempo pode parecer a alguns que, tendo em vista a descrição do grupo em questão, o termo 'introver- tido' seria preferível ao "esquizoide' tendo em vista as associações algo sinistras que ficaram ligadas ao último termo como resultado da sua utilização original. Todavia, dos dois termos, 'esquizoide' tem a vantagem inestimável de, diferentemente do termo 'introvertido', não ser simplesmente descritivo, mas-ihterpretativo num sentido psicogenético. A critica para a qual me devo agora preparar consiste em que, de acordo_com.a.minha_maneira.de pensar, todos sem excepção devem ser considerados esquizoides. Na verdade, estou perfeita- mente preparado para aceitar esta crítica, mas apenas com uma reserva muito importante a de que na sua ausência o meu con- ceito de 'esquizoide' seria tão amplo que quase deixaria de ter signi- ficado. A qualificação que confere significado ao conceito é de que tudo depende do nível mental que está a ser considerado. fenómeno esquizoide.fundamental é a presença de clivagens do Eu; e isso levaria um homem arrojado a pretender que o seu Eu estava tão perfeitamenteintegrado que era incapaz de revelar qualquer prova de clivagem aos mais profundos níveis, ou que essa prova de cliva- gem do Eu não poderia em circunstància alguma declarar-se a níiveis mais superficiais, mesmo sob condições de extremo sofrimento ou dificuldade ou privaçães (v. g. sob condições de doença grave, ou de exploração do Árctico, ou de.exposição num barco descoberto no meio do Pacífico, ou de perseguição implacável, ou de sujeição prolongada aos horrores da guera moderna). O factor mais impor- tante neste caso é a profundidade mental que exige ser _penetrada antes de se declarar a prova da clivagem do Eu. Na minha opinião, em todo o caso, alguma medida da clivagem do Eu está invariavel mente presente ao nível mental mais profundo- ou (para dizer o mesmo em termos tirados a Melanie Klein) a posição básica na psi- quê é invariavelmente _uma posição esquizoide. Isto não se aplica, evidentemente, no caso de uma pessoa teoricamente perfeita cujo desenvolvimento tenha sido óptimo; mas então não há realmente ninguém que goze tal felicidade. Na verdade, é dificil imaginar alguém com um Eu tão unificado e estável.aos mais altos níveis que, fosse em que circunstâncias fosse, não desse provas_ de clivagem básica à superficie de forma reconhecível. Há provavelmente poucas pes- soas 'normais que nunca em qualquer momento das suas vidas sentiram um estado não-natural de calma edesinteresse em face de alguma crise séria, ou um sentido transitório de olhar para si" nal- guma situação embaraçadorá ou paralisadora; e provavelmente a maior parte das pessoas teve uma certa experiência dessa estranha confusão de passado e presente, ou de -fantasia e realidade, conhe- 21 20 cida como déjà vu. E estes fenómenos, aventuro-me a sugerir, são essencialmente fenómenos esquizoides. Há, contudo, um fenómeno universal que prova de maneira perfeitamente concludente que toda a gente sem excepção é esquizoide aos níveis mais profundos -o sonho; porque, como mostraram as investigações de Freud, próprio sonhador é normalmente representado no sonho por duas Ou mais figuras separadas. Aqui posso afirmar que o ponto de vista que eu próprio adoptei agora tem como resultado que todos os per- sonagens que aparecem nos sonhos representam ou (1) alguma parte da personalidade do sonhador, ou (2) um objecto com o qual alguma parte da suapersonalidade tem uma relacão. vulgarmente numa base de identificação,_na realidade interior./Seja como for, o facto de o sonhador ser caracteristicamente-représentado no sonho por mais de uma figura não pemite mais nenhuma interpretação a não ser que, ao nível da consciência sonhadora, o Eu_do sonhador esteja dividido. O sonho representa assimum fanómeno esquizoide universal. O fenómeno universal do Superdu como foi descrito por Freud deve também ser interpretado como implicando a presença de uma clivagem no Eu porque, na medida em que o Supereu é con- siderado como uma estrutura-Eu capaz de distinção do Eu como tal, a sua própria existência ipso facto dá a prova de que se estabele- ceu uma posição esquizoide, A concepção da clivagem do Eu, da qualo termo 'esquizoide tira o seu significado, pode apenas ser considerada como uma concep- ção esclarecedora quando é observada sob um ponto de vista psico- genético, E, por isso, necessário considerar muito brevemente o que está envolvido no desenvolvimento do Eu. A função do Eu à qual Freud deu mais ênfase é a sua função adaptiva - a função que ele realiza ao relacionar a actividade instintiva original com as condi- cões que.prevalecemna realidade.exterior, e mais particularmente as condições sociais. Deve, contudo, lembrar-se que o Eu também rea- liza funções integrativas, contando-se entre as mais importantes (1) a integração das percepções da realidade, e (2) a integração do comportamento. Outra função importante do Eu é a discriminação entre a realidade interior e a exterior. A clivagem do Eu produz o efeito de comprometer o desenvolvimento progressivo de todas estas funções, apesar de, evidentemente, em graus variáveis e em pro porções variáveis. Consequentemente, devemos reconhecera pos- sibilidade do desenvolvimento que resulta em todos os graus de integração do Eu; e devemos conceber uma escala teórica de inte- gração de tal forma que uma das extremidade[ da escala represente a integração completa e a outra extremidade represente o completo fracasso da integração, com todos os graus itermédios. Em tal escala os esquizofrénicos encontrariam-um lugar na extremidade inferior, as personalidades esquizoides um Tugar mais elevado, os caracteres esquizoides um fugar ainda mais elevado, etc.; mas um lugar na extremidade exactámente superior da escala, que represen- taria a perfeita integração e a qusência de clivagem, deve ser consi- derado apenas como uma possibitidade teórica. Se tivermos esta escala em conta, ela ajudar-nos4 � compeender como seria possível a qualquer individuo maniféstar alguma característica esquizoide sob condições suficientemente extremas, e como acontece que alguns indivíduos manifestam provas de uma cíivagem do Eu apenas em situações que envolvem reajustametos como os que estão implí- citos na adolescência, casamento ou alistamento no exército em tempo de guerra, enquanto outros podem manifestar estas provas mesmo sob as condições mais vulgares da vida. Na prática real, evidentemente, a construção de uma escala como esta apenas imaginada envolveria dificuldades perfeitamente insuperáveis, das quais apenas uma é originada pelo facto de que um número bastante grande de manifestações esquizoides como na realidade Freud salien- tou, são realmente defesas conta a clivagem do Eu. Contuda ajuda- nos a apreciar a posição geral em relação à rarmos uma escala imaginária deste tipo. Apesar de, em conformidade com as implicações da concepção clássica de Bleuler da 'esquizofrenia', devermos considerar a cliva- gem do Eu como o fenómeno esquizoide mais característico, os psica- nalistas sempre se interessaram mais (e na verdade limitaram ampla- mente a sua atenção a isso) pela orientação libidinal envolvida na atitude esquizoide; e, sob a influência da teoria psicogenética de Abraham do desenvolvimento libidinal, as manifestações clinicas de uma ordem esquizoide acabaram por ser cónsideradas como origi- clivagem do Eu se enca- 22 23 nadas numa fixação na fase oral primária. E presumivelmente durante esta primeira fase da vida, e sob á influência das suas vicissitudes na criança não desenvolvida e inexperiente, que a clivagem do Eu começa a ocorrer; e tem de haver assim uma intima associação entre a clivagem do Eu e uma atitude libidina-de incorporacão oral. Na minha opinião, os problemas envolvidos na clivagem do Eu merecem muito mais atenção do que até agora Ihes foi_prestada; e algumas indicações da importância que atribuo a estes problemas podem ser observadas a partir daquilo que foi afirmado até agora. No que se segue, contudo, proponho considerar alguns dos desenvolvimentos que parecem depender de, ou serem poderosamente influenciados por uma fixação na primitiva fase oral, e que desempenham assim um papel proeminente na determinação do modelo daatitude esquizoide. O Eu da criança pode ser descrito sobretudo como um 'Eu oral e, enquanto este facto exerce uma profunda influência sobre o desen- volvimento subsequente de todos os indivíduos, a influência é par- ticularmente marcada no caso daqueles que subsequentemente mani- festam características esquizoide_ Na medida em que a criança está em causa, a boca é o pripeipal órgão do desejo, o principal instru- mento de actividade, o principal meio de satisfação e frustração, o principal canal de amor e ódio, e, mais importante do que tudo, o primeiro meio de contacte social intimo. A/primeira relação social estabelecida pelo individuo 6.entre ele mesmo e-a mãe; e o foco da sua relação é a situação de aleitamento, na qual o seio da mãe fornece o ponto focal do seu objecto libidinal, e a sua boca o ponto focal da sua_própria atitude libidinal. Consequentemente, a natureza da relação assim estabelecida exerce uma profunda influência sobre as relações subsequentes do individuo, e sobre a sua atitude social subsequente em geral. Quando as circunst-ncias säo de molde a originar uma fixação libidinal na primitiva situação oral em questão, a atitude libidinal apropriada à primitiva fase oral persiste numa forma exagerada e dá origem a efeitos de grande alcance: e a natureza destes efeitos pode ser melhor considerada luz dos traços prin- cipais que caracterizam a própria primit+va atitude oral. Podem resu- mir-se assim: (1) Apesar da relação emocional envolvida ser essencialmente entre a criança e a mãe como uma pessoa, e apesar de se dever reconhecer que o seu objecto libidinal-é Teatmente a mãe como um todo, todavia o seu interesse libidinal está essencialmente concen- trado no seu seio; e o resultado.élque, na proporção em que ocorrem perturbações na relação, o própria seio tende a assumir o papel de objecto libidinal, isto é, o objecto libidinal tende-para assumir a forma de um órgão corporal ou objecto parcial (em contraste com uma pes- soa ou objecto total). (2) A atitude libidinal é essencialmente uma em que o aspecto do receber predomina sobre.o de dar. (3) A atitude libidinal caracteriza-se, não só por receber, mas também por _incorporar e interiorizat, (4) A situação libidinal é aquela que confere _um significado tremendo aos estados de plenitude e vazio. Assim, quando a criança tem fome, está, e presumivelmente sente-se, vazia; e, quando foi alimentada até à satisfação, está e-presumivelmente sente-se, cheia. Por outro lado, o seio da mãe, e provavelmente, sob o ponto de vista da criança, a própria mãe, está normalmete cheio antes, e vazio depois da amamentaçãd- condições maternas que a criança pode ser capaz de apreciar em termos da sua própria experiência de ple- nitude e de vazio. Em circunstâncias de privação, o vazio assume um_significado muito especial_para a criança. Não só ela mesma sente-se vazia, mas interpreta de igual modo a situação_no sentido de que esvaziou a mãe- particularmente dado que a privação tem o efeito não só de intensificar a sua necessidade oral, mas tambémde Ihe transmitir uma qualidade agressiva. A privação tem o efeito adicional de alargar o campo da sua necessidade incorporativa, de modo que chega a incluir não simplesmente o conteúdo do seio, mas também o próprio seio, e até a mãe como um todo. A ansiedade que sente ao esvaziar o seio dá assim lugar à ansiedade de destruir o seu objecto libidinal; e o facto de a mãenormalmentea deixar depois da amamentação deve provocar o efeito de contribuir para esta impres- são. Consequentemente, a sua atitude libidinal adquire para ela a implicação de que envolve odesaparecimento e a destruição do seu objecto libidinal- uma implicação que tende para vir a ser confirmada numa fase posterior quando aprende que o alimento que 24 25 é comido desaparece do mundo exterior, e de que não pode coma mer o bolo e ficar com ele. Estes vários traços da atitude libidinal que caracteriza a primi. tiva fase oral intensificam-se e perpetuam-se na proporção em qua ocorre uma fixação nesta fase; e-todos-funcionarão como factores na determinação da caracteriologia e sintomatologia esquizoide. No que exponho a seguir tem-se em conta alguns) dos desenvolvimentos aos quais cada um destes factores por sua yez parecem dar origem. em tempo de guerra. A mãe morrera quando ele estava na primeira infância; e o único parente de quem se lembrava era o pai. Safra de casa pouco depois de ter terminado a escola; e desde então nunca comunicara com o pai. Na verdade, n�o sabia se o pai estava vivo ou morto. Durante anos levou uma vida errante e instável; mas afinal lembrou-se que talvez Ihe fizesse bem assentar e casar-se. Assim fez, consequentemente. Quando Ihe perguntei se fora feliz no casamento, pelo seu rosto espalhou-se um ar de surpresa, seguido de um sorriso bastante desdenhoso.' Foi para isso que me casei, res- pondeu com um tom superior, como se isso desse uma resposta sufi- ciente. Ao passo que esta sesposta, evidentemente, dá uma ilustração da insuficiência esquizøide para discrimnar adequadamete entre a realidade interior e a exterior, serve tambérn para ilustrar a tendência daqueles que possuem características esquizoides para tratar os objectos libidinais como um meio de satisfaç�o das suas próprias exigências mais do que como pessoas possuindo um valor inerente; e esta é uma tendência que é originada pela persistência de uma orientação oral primitiva para o seio como objecto _parcial. Deve agora observar-se que a orientação para objectos par- ciais encontrada em individuos que manifestavam características esquizoides é um fenómeno amplamente regressivo determinado por relações_emocionais insatisfatórias com os pais, e particularmente com as m�es, numa fase da infância subsequente à primitiva fase oral na qual é originada esta orientação. O tipo de mãe com especial propensão para provocar esta regressão é a m�e que falha em con- vencer o filho, por meio de espontâneas e genuínas expressões de afecto, de que ela própria o ama como uma pessoa. Tanto as mães possessivas como as indiferentes estão dentro desta categoria. Pior do que tudo é talvez a m�e que transmite a impressão tanto de posse como de indiferença- v. g. a _mãe_dedicadaque está decidida � todo o custo a não estragar o seu único filho, O fracasso por parte da mãe em convencer a criança de que realmente a ama como uma pessoa torna-Ihe difícil manter uma relação emocional com ela numa base pessoal; e o resultado é que, a fim de simplifiçar a situação, a criança tende regressivamente para restaurar a relação na sua forma primitiva e mais simples, e reviver a sua relação com o seio da mãe 1. A tendência para a orientação em direcção a um objecto parcial (órgão corporal) Consideremos em primeiro lugar a influência deste factor na primitiva atitude oral. O seu efeito é promover a tendência esquizoide para tratar outra pessoa como menos do que pessoa com um valor inerente próprio. Esta tendência pode ser ilustrada no caso de um homem extremamente inteligente de um tipo esquizoide, que me veio consultar porque sentia que não conseguia estabelecer qualquer contacto emocional real com a mulher, era injustamente exigente com ela e era insociável com ela em ocasiQes em que uma manifestação de afecto estaria mais apropriada. Depois de descrever a sua atitude muito egoista para com ela, acrescentou que os seus hábitos eram geralmente insociais, e que tratava ás outras pessoas mais ou menos como se fossem animais inferiores. A partir desta última observa- ção não foi dificil detectar uma origem para as suas dificuldades. Lembra-se que os animais normalmente aparecem em sonhos commo simbolos de órgãos corporais e isto serve apenas para confirmar que a sua atitude para com a mulher, assim como para com outros, era para com um objecto parcial e não para com uma pessoa. Uma atitude semelhante foi revelada num-paciente francamente esquizo- frénico, que descreveu a sua atitude para com as pessoas com quem se encontrava como a de um antropoloogista entre uma tribo de sel- vagens. Um tanto análoga foi a a atitude manifestada por um soldado cuja história mostrava que sempre fora uma personalidade esquizoide,e que passou para um estado esquizoide durante o serviço militar 26 27 como um objecto parci�l. Uma regressão desto tipo pode ser ilustrada pelo caso de um jovem esquizofrénico que, enquanto ovidenciava o mais amargo antagonismo em relação å sua mãe real, sonhava em deitar-se numa cama num quarto do cujo tocto escorria leite -o quarto em questão era um quarto na sua casa exactamente por baixo do quarto da mae. Este tipo de processo regressivo pode tal. vez descrover-se melhor como despersonalização do objecto: e 6 caracteristicamente acompanhado por uma regressão. na_qualidade da relacão desejada. Mais uma vez, o movimento de regressão reside no interesse de uma simplificação das relaçõas; e toma a forma de uma substituição de contactos fisicos por emocionais. Talvez se possa descrever como desemocionalizacão da relação de objecto. dontemento, também um ponto no qual a atitudo incorporativa oral para com um objocto_implica avaliação do objecto, a0 passo que a atitude excrotórla om rolação a um objecto implica a sua desvalori zação e rojoição. O quo 6 relovante para fins imediatos, contudo, 6 o facto do que, a um nível mental profundo, o receber 6 emocio nalmento equivalente a acumular conteúdos fisicos, e o dar 6 emocio- nalmente equivalente a abandonar contoúdos fisicos. E, al6m disso, relevante que, a um nível mental profundo, exista uma equivalência emocional entre os conteúdos mental e fisico, com o resultado de que a atitude do individuo em relação ao último tende para se reflec tir na sua atitude em relação ao primeiro. No caso do indivíduo com uma tendência esquizoide, consequentemente, há sobreavaliação do conteúdo mental correspondente à sobreavaliação do conteúdo fisico implicado na atitude incorporativa oral da primeira infancia. Esta sobreavaliação do conteúdo mental mostra-se, por exemplo, na dificuldade sentida pelo individuo com uma tendência esquizoide para exprimir emoção num contexto social. )Para um indivlduo des- tes, esse elemento de dar que está envolvido na expressão de emo ção em relação a outros tem o signiflcado de perda do conteúdo; e é por esta razão que considera frequentemente exaustivos os con tactos sociais. Assim, se estiver muito tempo acompanhado, está sujeito a sentir que 'deixou de ter valoraque precisa de um período de calma e solidão mais tarde a fim de que o_armazém interior de emoção possa ter uma oportunidade de sé reabastecer. Deste modo, um dos meus pacientes sentia-se incapaz de marcar encontros com a sua futura noiva em dias consecutivos com a razão de que, quando a encontrava demasiadas vezes, sentia que a sua personalidade ficava empobrecida. No caso daqueles er quem a tendênciaesqui- zoide está marcada, a defesa contra a perd emocional dá origem ao recalcamento do afecto e a uma atitude de desinteresse que leva os outros a considerá-los débeis- e, em casos mais extremos, mesmo desumanos. Estes indivíduos são vulgarmente descritos como per- sonalidades fechadas; e, em vista da extensão a que mantêm o seu conteúdo emocional en�errado, a descrição é singularmente apropriada. A ansiedade sobre a perda emocional manifesta-se por vezes de maneiras curiosas. Tomemos, por exemplo, o caso de um 2. Predominância do receber sobre o dar na atitude libidinal Em conformidade com a predaminância_do recaber _sobre o dar na primitiva atitude oral, individuos com uma tendência esqui- zoide sentem uma dificuldade considerável em dar no sentido emo- cional. A este respeito, é interessante lembrar que, se a tendência incorporativa oral é a mais fundamental de todas as tendências, as que se seguem em importância para o organismo são as actividades excretórias (defecação e micção). O objectivg biológico das activi- dades excretórias é, evidentemente, a_aliminação de substâncias inúteis e nocivas do corpo; mas, apesar de, em conformidade com o seu objectivo biológico, a criança em breve-aprender a considerá- las como o meio clássico de abordar maus objectos libidinais, para ela o seuprimairo significado.psicológi�o parecerá ser o de actividades criativas. Representam as primeiras actividades criativas do individuo; e os seus produtos são as suas primeipas criaçðesg/primeiro con- teúdo interno que ela exterioriza, as primelras coisasque Ihe perten- cem e que dá. A este respeito as actividades excretórias contrastam com a actividade oral, que envolve essencialmenté uma atitude de receber. Este contraste particular entré os dois grupos de actividade libidinal não deve ser considerado para excluir\a coexistência de um outro contraste entre eles num sentido opostó; porque existe, evi- 28 29 jovem que procurou a análise, em quem detectei na primeira consulta aquele ar vagamente misterioso que passei a considerar como pato gnomónico de uma tendência esquizoide profunda, e que é tantas vezes acompanhada por inaptidão para descrever quaisquer sintomas concretos. Este paciente era estudante universitário; e no seu caso o problema objectivo consistia no fracasso repetido de passar nos exames. Os exames orais apresentavam-Ihe uma dificuldade espe- cial; e uma caracteristica notdvel:desta dificuldade consistia em que, mesmo quando realmente sábia a resposta correcta a uma pergunta, era normalmente incapaz de a dar. Sers óbvio, evidentemente, que estavam envolvidos problemas sobre a sua relação com o pai; mas a forma assumida por esta dificuldade particular tirava o seu signifi. cado do facto de que, na medida em que ele estava em causa, dar a resposta correcta representava dar ao examinador algo que só fora adquirido (isto 6, interiorizado) com dificuldade, e assim abandonar alguma coisa demasiado preciosa para ser perdida. Numa tentativa para vencer dificuldades envolvidas na dádiva emocional, individuos com uma propensão esquizoide servem-se devárias técnicas, das quais duas devem aqui ser mencionadas. (Säo elas (a) a técnica de desempenhar papéis, e (b) a técnica do axibicionisno. de um papel pode ser ilustrado no caso de um jovem marcadamente esquizoide que entrou na minha sala de consulta pela primeira vez com uma citação de Freud nos lábios. Procurava assim desde o início mostrar-se a meus olhos como um devoto da psicanálise; mas a minha imediata suspeição de que ele apenas estava a desempenhar um papel foi totalmente confipmada assim que começou o tratamento analitico. O seu papel adoptado era na verdade uma defesa contra o contacto emocional genuino comigo, e contra a dádiva emocional genuína. (b) A técnica exibicionista As tendências exibicionistas sempre desempenharam um papel importante na mentalidade esquizoide; e, claro, estão intimamente relacionadas com a tendência para adoptar papéis. Podem ser ampla- mente inconscientes; e são muitas vezes dissimuladas por ansiedade. Mesmo assim, contudo, surgem claramente no decorrer do tratamento analítico; e a atracção pelas actividades literárias ou artisticas em indivíduos com uma propensão esquizoide deve-se em parte ao facto de que estas actividades fornecem um meio exibicionista de expressão, sem envolverem.contacto social directo. O significado da exploração do exibicionismo como uma defesa reside no facto de que representa uma técnica para dar sem dar, por meio de uma substi- tuição de 'mostrar por "dar'. Este meio de tentar resolver o problema de dar sem perder não deixa de possuir as suas dificuldades conco- mitantes, apesar de tudo; porque a ansiedade originalmente ligada ao acto de dar está apta a transferir-se para o acto de mostrar, com o resultado de que a "exibição' assume a qualidade de 'denúncia'. Quando isto acontece, as situações exibicionistas podem tornar-se extremamente dolorosas; e ser-visto' pode então originar uma autoconsciência aguda. A conexão entre dar e mostrar pode ser ilustrada pela reacção de (uma paciente solteira com uma compo nente esquizoide na sua personalidade depois de ler no jornal numa manh� de 1940 que uma bomba alemã calra nas vizinhanças da noite. Era-lhe evidente, pelo relato do jornal, (a) A técnica de desempenhar papéis Desempenhanda um papel ou_representando um_personagem. o individuo esquizoide é muitas vezes capaz de exprimir muitos sentimentos e estabelecer aquilo que parecem ser contactos sociais perfeitamente convincentes; mas, ao fazê-lo, não está realmente a dar nada nem a perder nada, porque, dado que está apenas a repre sentar um personagem, a sua própria personalidade não está envol- vida. Secretamente renega o personagem que está a desempenhar; e assim procura manter a sua própria personalidade intacta e imune de compromissos. Deve acrescentar-se, contudo, que, enquanto em alguns casos os papéis são representados muito conscientemente, noutros casos o indivíduo/está perfaitamente inconsciente do facto de estar a desempenhar um_papel e apehas consegue compreender este facto durante o tratamento.analiticó. O desempenho consciente minha casa durante que a bomba caíra a uma distância suficiente da minha casa para 30 31 ter a certeza de que estaria seguro; e sentiu um tremendo sentido de gratidão por este facto. A sua reserva emocional era tal, contudo. que não conseguiu emitir qualquer expressão directa aos sentimen tos sobre mim que todavia queria exprimir. 0 que fez, numa tenta- tiva para rodear esta dificuldade, na sessão seguinte, foi entregar-me um bocado de papel no qual escrevera custa de um esforço consi. derável, algumas informações sobre ela Dera-me, assim, alguma coisa; mas o que deu foi uma opinião sobre si, por assim dizer, reflec tida no papel. Na verdade, o que estava røgistado neste caso era um certo avanço a partir de wma atitude de mostrar em direcção a uma atitude de dar; porque, apesar de tudo, de uma maneira indirecta, ela dera-me realmente conteúdos mentais, aos quais ligava um grande valor narcisista, e dos quais só com esforço se desligava. Registou-se também um certo avanço de uma avaliação narcisista do seu próprio conteúdo mental na direcção de uma avaliação de mim como um objecto exterior e como uma pessoa. A luz deste incidente não surpreende que a análise revelasse neste caso um tremendo conflito sobre o facto de abandonar o conteúdo corporal. (c)_A criança chega a sentir que as relações de amor com os objectos exteriores em_geral são más, ou pelo menos precárias, resultado nítido é que a criança tende para transferir as suas relações com os seus objectos para areino da_realidade interior. Este um reino onde a mãe eo seu seio foram_já instalados como objectos interiorizados sob a influência de situações de frustração durante a primitiva fase oral; e, sob a influência de situações subse-quentes de frustração, a interiorização de objectos é aindamais explorada como uma téçnica defensiva. Este processo de interiori- zação é promovido, senão na realidade instigado, pela própria natu- reza da atitude oral; porque o objectivo inerente do impulso oral é a incorporação. A incorporaç�o-em questão 6, claro, originalmente incorporação física; mas termos de acreditar que a disposição emo- cional que acompanha os esforços incorpprativos tem ela própria uma coloração incorporativa. Porisso, quando ocorre uma fixação na primitiva fase oral, cria-se inevitavelmente uma atitude incorpo- rativa na estrutura do Eu. No caso de individuos com uma compo nente esquizoide na sua personalidade, consequentemente, há uma grande tendência para cado demasiado exclusivamente ao mundo interior. Nos esquizofré- nicos reais esta tendência pode tornar-se tão forte que a distinção entre realidade interioro exterior está amplamente obscurecida. A parte estes casos extremos, contudo, existe uma tendência geral por parte dos individuos com componente esquizoide para acumular valores no mundo interior, Não só Os sQus objectos tendem para pertencer ao interior mais do que ao mundo exterior, mas tendem para se identificar muito fortemente com os seus objectos interiores. Este facto contribui materialmente para a dificuldade que sentem ao darem emocionalmente. No caso de individuos cujas relações de objecto estão predominantemente no mundo exterior, dar tem o efeito de criar e engrandecer valores e de promover o auto-respeito; mas no caso de indivlduos cujas relações de objecto são prodomi nantemente no mundo interior, dar tem o efeito de depreciar os valo- res e de diminuir o auto-respeito. Quando estes individuos dão, tendem para se sentir empobrecidos, porque, quando dão, dão à custa do seu mundo interior. Quando está em càusa uma mulher ue o mundo exterior vá buscar o seu signifi- 3. O factor incorporativo na atitude libidinal A primitiva atitude oral caracteriza-se não s por tomar, mas também por incorporar ou interiorizar, O restabelecimento regres sivo da atitude oral primitiva sprá mais prontamente manifestado por uma situaç�o de frustracão émocional na quàl a criança chega a sentir (a) que não 6 realmente amada por ela/mesma como pessoa pela mãe, e (b)_ que o seu_próprio amorL pefá mãe não é realment� avaliado e aceite. Esta é uma situação altamente traumática, que dá origem a outra situação caracterizada assim: (a) A criança chega a considerar a mãe como um mau objecto na medida em que parece nao a amar (b) A criança chega a considerar-más a_ expressões exteriores do seu próprio amor, com o resuftado de que., numa tentativa para conservar o seu amor tão bom quanto possívej, tende para reter o seu amor dentro de si mesma. - 32 33 desta natereza, esta tendência pode conduzir a uma tremenda anDei dade acerca do parto; porque para uma tal mulher o parto gnifica não tanto ganhar uma criança, mas perder conteudo com o vazi de perda de conteúdo continuando a considerar os seus quadros como sua propriedade, num sentido, n�o-realista, mesmo depois de terem sido adquiridos por outros. Neste caso, deve fazer-se referência de novo àquela forma de defesa que consiste numa substituição do mostrar pelo dar. O artista 'mostra' ou exibe os seus quadros, evi dentemente; e, ao fazê-lo, revela-se indirectamente. Do mesmo modo, resutante. Na verdade, tive pacientes deste tipo, em cujos caso profunda falta de vontade pare abandonar conteúdo deu orig a um trabalho de parto extremamente dificil. \Nestes casos, eviden temente, trata-se na verdade de um caso de abandono do conteddn fisico; mas um fenómeno análogo dentro de uma esfera mais mental pode ser ilustrado no caso deum artista que, depois de terminar Um quadro, costumava sentir, não que criaraOu ganhara algo como resultado, mas que ficara sem mérito. Este fenómeno percorre um longo caminho para explicar os períodos de esterilidade e descon tentamento que se seguem aos períodos de áctividade criativa no caso de certos artistas, e assin aconteceu no caso do artista a quem o autor revela-se ao mundo a partir de uma certa distância através dos seus livros. As várias artes fornecem assim vérios canais favoráveis de expressão para os individuos com uma tendência esquizoide. Porque, por meio da actividadé artistica, conseguèm tanto substi- tuir o mostrar pelo dar, como, ao mesmo tempo, produzir algo que podem continuar a considerar como parte de si mesmos, mesmo depois de isso ter passado do mundo-interior para o exterior. Outra manifestação importante de preocupação com o mundo interior 6 uma tendência para a intelectualizacão; e este é um traço esquizoide muito caracteristico. Constitui uma técnica_dafansiva extremamente-poderosa;e funciona _como uma resistência formi- dável na terapia psicanalitica. A intelectualização.implica-uma_sobre avaliação dos processos de pensamento; e esta sobreavaliação do pensamento está relacionada .com a dificuldade que o individuo com uma tendência esquizoide sente ao estabelecer contactos emocionais com outras pessoas. Devido à preocupação-com_o-mundo-interior e ao recalcamentodo afecto que segue no seu rasto, tem dificuldade em exprimir os seus sentimentos.naturalmente em.relação.a.outros, e em agir naturale_espontaneamente nas suas_relações-com eles. Isto leva-o a fazer um esforço para organizar os seus problemas emocionais intelectualmente no mundo interior. Pareceria que, na me referi. A fim de mitigar um sentido de empobrecimento que se segue ao dar e criar, o individuo com um/componènte esquizoide utiliza frequentemente uma defesa interessante. Adopta-a-atitude de que o que de oL criOu não.tam valor. Assim, o artista cujo caso foi citado perdeu todo o interesse pelos seus quadros uma vez pintados; e os quadros teminados eram caracteristicamente ou despejados para o canto do estúdio ou tratados simplesmente como mercadoria para venda. Do mesmo modo, mulheres de mentalidade semelhante por vezes perdem todo o interesse pelos filhos depois de terem nascido. Por outro lado, uma forma completamente oposta de defesa contra a perda de canteúdo pode ser adoptada por indivíduos com atributos esquizoides, porque podem tentar salvaguardar-se contra um sentimento de_perda tratando aquilo que produziram como se ainda fizesse_parte do seu_próprio meio interno. Assim, longe de ser indiferente para o filho uma vez nascido, uma mãe pode continuar a considerá-lo à luz do seu próprio conteúdo e consequen temente sobrevalorizá-lo. Essas maes são excessivamente pos sessivas em relação aos filhose incapazes de Ihes concederem o estatuto de pessoas separadas- com consequências graves pard as infelizes crianças. Do mesmo modo, apesar de com resultados menos sérios, um artista pode defenderSe contra um sentimento medida em que está em causa a intenção consciente, as suas tenta- tivas para resolver os problemas emocionaisintelectualmente se des- tinam em primeiro lugar a preparar o caminho para um comporta- mento adaptável em relação aos objectos extériores; mas, dado que os conflitos emocionais oriundos de fontes prôtsndas no inconsciente se opõem à sua solução deste modo, tende cada vez mais para subs- tituir as soluções intelectuais dos seus problemas emocionais por tentativas para alcançar uma solução prática dentrd da esfera emo- cional nas suas relações com outros no-mundo exterior. Esta ten- 34 35 dência é, evidentemente, fortements rerorgadd pelo investimens oluções inteled ento libidinal dos objectos interiorizados. A procura de soluções i emocionais dá assim nização dos process0s de pensamento. Estes individuos estão fre quentemente mais inclinados para çonstruirem sistemas intelectuais de um tipo elaborado do que para desenvolverem relações emocionais com outros numa base humana. Existe uma outrá tendência da sua parte para fazerem objectos libidinais dos sistemas que criaram. 'Amar o amor seria um fenómenodesta natureza; e os entusiasmos esquizoides têm muitas vezes um elemento destes em si. Entusias- mos deste tipo podem levar a consequências suficientemente desa- gradáveis para o pretenso objecto-amor; mas, quando encontra mos uma personalidade realmente esquizoide apaixonada por alguma filosofia política extrema, as consequências tornam-se mais sérias, porque a quantidade de vítimas pode então ser de milhões. Tal per- sonalidade, quando está apaixonada por um sistema intelectual que interpreta rigidamente e aplica universalmente, possui toda a estru tura de um fanático-o que na verdade é o que ele é, Mais, quando este fanático tem tanto a inclinação como a capacidade para tomar atitudes que imponham o seu sistema implacavelmente a outros, a situaçao pode tornar-se catastróficaapesar de por vezes poder reconhecidamente ser potente tanto para o bem como para o mal. Contudo, nem todos os que estão apaixonados por um sistema inte- lectual têm o desejo ou a capacidade para impor assim o seu sis- tema ao mundo exterior. Na verdade, é muito mais vulgar ficarem de fora, em certa medida pelo menos, da vida do mundo quotidiano, e olharem dos seus asilos intelectuais para a humanidade vulgar com uma atitude superior (a atitude adoptada, por exemplo, por membros da intelligentsia em relação à burguesia). Nesta altura convém chamar a atenção para o facto de que, quando estão em causa indivíduos com uma tendência esquizoide, um sentido de superioridade interior está sempre presente em deter- minado grau, mesmo quando, como é vulgarmente o caso, isto 6 amplamente inconsciente. Muito vulgarmente uma resistência consi derável tem de ser vencida antes que a sua presença se manifeste durante o tratamento analítico; e uma resistêncja ainda mais mar- cada encontra-se quando se fazem esforços para analisar as origens de onde ela deriva. Quando as suas origens estão a descoberto, contudo, este sentido de superioridade baseia-se.em:(1) uma sobre- ori. gem a dois importantes desenvolvimentos: (1) processos de p samento tornam-se altamente ioian doao pensamento tende para_se tornara esfera predominante da activida da auto expressão; e (2) as ideias tendempara se substituirem sentimentos, e_os valores intelectuais aos valores emocionais. No que respeita aos esquízofrénicos reais, a substituição dae ideias por sentimentos levada a_duracoes extremas, Quando sentimentos realmente se declaram-hestes casos, estão normal. tyais para o que são realmente problemas emo os processos de pen- dade criativa aos Os mente em completo desacordó com o coteúdo ideacional, e s5 ão perfeitamente desapropriados a ocasiao; ou atenadamente, como em casos catatónicos, a expressão emocional assúme a forma de aces. sos súubitos e violentos. A adopç�a do termo esquizofrenia' baseou-se evidentemente, em primeiro lugar na observação deste divórcio entre pensamento.e.sentimento, sugestivo como é de uma clivagem den- tro do espirito. Tem agora, contudo, que se reconhecer que a cliva. gem em questão é fundamentalmente uma clivagem no Eu. Aquilo que se manifesta à superficie coma um divórcio entre pensamento e sentimento deve consequenteménte ser interpretado como a refle xão de uma clivagem entre (1) uma parte mais superficial do_Eu, que representa os seus níveis mais elevadose que inclui o consciente, uma parte mais profunda do Euque representa os seus niveis inferiores e que inclui aqueles elementos que estão mais dotados de libido e são por isso fonte de afecto. Sob o ponto de vista psicana- litico dinâmico, esta clivagem só pode ser explicada em termos de recalcamento; e, nesta bipótese, só podemos concluir que se trata de um_ caso da parte mais profunda e mais libidinal do Eu que é recalcada pela parte mais superficial_do Eu, na qual os processos de pensamento são mais desenvolvidos. No caso de indivíduos em quem os traços esquizoides estão presentes apenas em menor grau, o divórcio-entre pensamentoe sentimento está, evidentemente, menos marcado. Contudo, há uma tendência caracteristica não só para uma substitujção dos valores intelectuais por emocionais, mas também para uma elevada libidi- 37 36 avaliação secreta geral do conteudopessoal, mental e f secreta e fisico; (2) uma _inflaçãonarcisista_do Eu ormunda da posse inais interioriza revela que ele (ou ela) era considerado.um aluno promissor durante pelo menos_uma.parta da sua_carreira èscolar. Se investigarmos ainda mais as origens desse sentido de diferença dos outros que caracteriza os individuos com um elemento esquizoide na sua per- sonalidade, encontramos provas do seguinte, entre outros traços: (1). que na sua vida inicial adquiriram.a_convicção, quer através de aparente indiferença, quer através de aparente possessividade por parte da mãe de aue esta.os não.amava realmente e os.não avaliava como pessoa com_os seus prÓprios direitos: (2) que, influenciados por um sentido resultante de privação e inferioridade continuaram profundamente fixados à m�e; (3) que a atitude libidinal que acom- panhava esta fixação caracterizava-se não só_por uma extrema dependência, mas também que se tornara altamente auto conserva- dora e narcisista por ansiedade em relação a uma situação que se apresentava como envolvendo uma ameaça para o Eu; (4) que, por meio de uma regressão à atitude da_primitiva fase oral, não só se intensificou o investimento libidinal de uma 'mãe-seio' iá interiori zada, mas também o próprio processo de interiorização se tornoy excessivamente alargado às relacões com outros objectos; e (5) que resultou uma sobreavaliação geral do interior à custa do mundo exterior. de e considerável identificação com ooiectoslibidinais int a importancia do elemento do segredo, 1sto que conta para secreto e misterioso tão vulgamente manifestado por individ.. marcadamente esquizoides; mas, mesmo no caso daqueles em a (V.g. o seio maternoeo pénis paterno) Serja aqui dificil exan a te menor, continua a ser um factor importante na situação inconscienta A necessidade interior de segredo é, evidentemente em_ parte deter o componente esquizoide desempenha um papel relativame nte. minada pela_culpa acerca da pDosse_de objectos interiorizados que num sentido são 'raubadosmas ê tambema Am.naomenor medida. deteminada pelo receio da perda de objectos interiorizados que sur gem infinitamente preciosos_(mesmo tão preciosos como a própria vida). e cuia_interiorização_é_ uma medida da sua importância ea extensãode dependência_deles Aposse secreta destes objectos interiorizados tem o efeito de levar o individuo a sentir que é 'dife. rente das outras pesSoas-mesmo guando nao e, como frequente. mente acantece realmente excepcionalaU único, Quando este sen. tido de diferença dos outros é investigado, contudo, descobre-se que está intimamente associado ao sentido de ser o estranho invul. gar; e, com individuos em quem está presente, os sonhos que encar nam o tema de ser deixado de fora são um facto comum. Descobriu-se demasiado frequentemente que este indivíduo fora o rapaz que, 4. Esvaziamento do objecto como uma implicação da atitude apesar de aparentemente ser em casa o menino da mam�, era tudo menos um rapaz na escola, e que dedicava à realização pessoal no estudo a energia que mais vulgarmente os rapazes dedicam à parti- cipação em jogos da escola. Por vezes, é certo, a realização pessoal pode ter sido procurada dentro da estera do desporto. Mesmo assim, contudo, há normalmente provas que mostram que houve dificul- dades em relação às relações emocionais dentro do grupo; e, em qualquer dos casos, continua a ser verdade que é em direcção à realização dentro da esfera intelectual que mais vulgarmente se dirigem as tentativas para rodear tais dificuldades. Aqui podemos ja detectar provas da operação da defesa intelectual; e é notável quão frequentemente a anterior históriade um esquizofrénico autêntico libidinal O esvaziamento do objecto6 uma implicação da qualidade incorporativa da primitiva atitude oralk e, quando chamei mais cedo a atenção para esta caracteristica procedi a uma certa explicação das suas consequências psicológicas para a criança. Assim, foi salientado como, em circunstâncias de privação, a ansie- dade que surge no espírito da criança acerca do seu próprio vazio dá lugar à ansiedade sobre o vazio que afecta o seio da mãe. Foi tam- bém salientado como ela interpreta qualquer vazio aparente ou real do seio da m�e como se fosse devido às suas próprias tensões incorporativas, e como ela mantém a ansiedade pelo facto de ser 39 38 ent responsável pelo desaparecimento e destruição, não simplee. do seio da måe, mas de sua próprie mde-ansiedade considere ravel 0sta faso pré-ambivalente representa a primeira maneira do indivlduo exprimir amor. A relação oral da crlança com a måe na situação de memar representa a sua primeirs oxperiência de uma relação de amor, 6, por isso, a fundação sobre á qual se baseiam todas as suas futuras rolaçöos com os objoctos de amor, Roprosenta também a sua primeira experi@ncia de uma relaçho social; o por isso forma a base da sua atitudo subsequente para com a sociedade. Com estas considerações no esplrito, voltemos à situação quo surge quando a criança que está fixada na primitiva fase oral sente que não é realmente amada nem apreciada como uma pessoa pela måe, e que ela realmente não aprecia e aceita o seu amor como bom. 0 que acontece nestas cir- cunstancias é que a situação traumática original da primitiva fase oral se torna emocionalmentoe reactivada e reintegrada; e a criança sente então que a razão para a aparente falta de amor da mãe em relação a si 6 o facto de ela ter destruldo a sua afeição e a ter feito desaparecer. Ao mesmo tempo, sente que a razão para a sua aparente recusa em aceitar o seu amor éo facto de o seu próprio amor ser destrutivo e mau. Esta 6, evidentemente, uma situação inftnitamente mais intolerável do quo a situação comparável que surge no caso de uma criança fixada na última fase oral. No último caso, a criança, sendo essencial- mente ambivalente, interpreta a situação no sentido de que o seu ódio, e não o seu amor, que destruiu a afeição da mãe. E então no seu ódio que Ihe parece residir a sua maldade; e o seu amor assim capaz de continuar a ser bom a seus olhos. Esta é a posição que pare- ceria estar na base da psicose manlaco-depressiva, e constituir a posição depressiva. Contrastantemente, a posição que está na base de desenvolvimentos esquizoides pareceria ser a que surge na pri mitiva fase oral pré-ambivalento- a posição na qual o individuo sente que o seu amor é mau porque parece destrutivo em relação aos seus objectos libidinais;e isto pode apropriadamente descre- vor-so como a posição esquizoide. Reprosenta uma situação essen cialmente trágica; e fornece o tema a muitas das grandes tragédias da literatura, assim como fornece um tema favorito à poesia (como no caso dos poemas Lucy de Wordsworth). Não admira, pois, que individuos com uma considerável tendôncia esquizoide experimen tem esta dificuldade ao mostrar amor; porque sempre mantiveram a mente aumentede pelo efeito de privação ao transmitir uma quali dede agressiva à sua necessidade libidinal. Esta ansiedade enco contra uma expressio cléssica no conto de fadas 'A Menina do Capuchia Vermelho'. Na história, como se lembram, a rapariguinha descoo para seu horror que a avó, a quem amava, desaparecera, e que l ficara sozinha com a sua necessidade incorporativa na fornma um lobo devorador. A ragédia do Capuchinho Vermelho é a tra gédia de criança na primitiva fase oral. Claro que o conto de fadas acabe bem, como acontece com os contos de fadas. E, claro, a criança de mama descobre que a m�e, que receia ter comido, reaparece eventualmete de novo. Contudo, na sua infancia, as crianças, ape. sar de não Ihes falter inteligðncia, mesmo assim têm falta de expe riêncie organizada a partir da qual poderiam de outro modo roadqu rir segurança contra a sua ansiedede Em devido tempo adquirem conhecimento consciente suficiente para saberem que de facto as mães não desaparecem em consequência da destruição aparonte provocada pelas suas necessidades incorporativas; o toda a experiðn- cia da situação traumática oriùnda da -prlvação durante a primitiva fase oral fice sujsita ao recalcamento. Ao mesmo tempo, a ansiedade ligada a esta situação persiste na inconsciente, pronta a reactivar-se por meio de alguma experiência subsequente de tipo análogo. Na presençe de ume fixação marcada na primitiva fase oral, a situação traumátice esté particularmente sujeita a ser roactivada se a criança mais tarde sentir que realmente não é amada o aprociada como uma pessoe pele mãe, e que realmente ela não aprecia nem aceita o seu amor como bom. E importante ter em conta a distinção entre a situação que surge ne primitive fese oral ea que surge duranto a última fase oral, quando emerge & tendência para morder e toma lugar lado a lado com a ten déncie pare sugar. Na útima fase orel, ocorre uma diferenciação entro amor oral, associado a0 sugar, e o ódio oral, associado ao morder; eo desenvolvimento de embivalência é uma consequência deste facto. A primitive fase oral é pré-ambivalente: e isto 6 especialmente impor tente & luz do facto de que o comportamento oral da criança duranto de 40 41 profunda ansiedade expressa por Oscar Wilde em The Ballad of Reading Geol, ao escrever: «Todos os homens matam aquilo que amam. Também não admira que sintam dificuldades em dar emo- cionalmente; porque nunca escaparam inteiramente ao receio de as suas dádivas serem mortais, como as dádivas de um Borgia. E dai a observação de um paciente meu, que, depois de me trazer um pre- sente de fruta, iniciou a sessão do diáa seguinte com a pergunta: 'Foi envenenado? Estamos agora em posição de apreciar que o individuo com uma tendência esquizoide tem outro motivo para manter o seu amor dentro de si além daquele que é oriundo do sentimento de que ele é demasiado precioso para o abandonar. Mantém também.encerrado seu amor porque sente que. demasiado perigoso para os seus obiectos libertá-lo, Assim, não só mantém em segurança o seu amo, mas mantém-no também numa gaiola. Contudo, o' assunto não ter- mina ai. Dado que sente que o seu próprio amor é mau, está pronto a interpretar o amor dos outros em termos semelhantes. Esta inter pretação não implica necessariamente projecção da sua parte; mas, evidentemente, está sempre apto a recorrer a esta técnica defensiva. Ela está ilustrada, por exemplo, no conto de fadas 'O Capuchinho Vermelho', a que já se fez referência; porque, apesar do lobo, como vimos, representar o seu próprio amor incorporativo oral, a história também nos diz que o lobo toma o lugar da avó na cama-o que significa, claro, que atribui a sua própria atitude incorporativa ao seu objecto libidinal, que então parece transformar-se num lobo devorador. Então acontece que o indivíduo com características esquizoides está pronto a erguer defesas, não só contra o seu amor pelos outros, mas também contra o amor deles; e foi por causa disto gue uma ijovem_ bastante esquizoide, minha paciente, costumava por vezes dizer-me: 'Faça o que fizer, mas nunca goste de mim." Quando, consequentemente, um indivíduo com uma tendência esquizoide renuncia aos contactos sociais, isso acontece sobretudo porque sente que não deve nem amar nem ser amado. Contudo, nem sempre se satisfaz com um mero distanciamento passivo. Pelo con- trário, muitas vezes toma medidas activas para afastar de si os seus objectos libidinais. Para este fim possui um instrumento à mão den- tro de si na forma da sua própria agressão diferenciada. Mobiliza os recursos do seu ódio, e dirige a sua agressão contra outros --e mais particularmente contra osseus objectos libidinais. Assim, pode dis- cutir com as pessoas, ser inconveniente, mal-educado. Ao proceder assim, n�o só substitui o ódio pelo amor nas suas relações com os seus objectos, mas também os induz a odiá-lo, em vez de o amarem e faz tudo isto a fim de manter a distância os seus objectos libidinais. Como os trovadores (e talvez como também os ditadores), pode apenas permitir-se amar e ser amado à distância. Esta é a segunda grande tragédia a que estão sujeitos individuos com uma tendência esquizoide. A primeira é, como vimos, o facto de sentir que o seu amor é destruidor daqueles que ama. A segunda surge quando fica sujeito a uma compulsão para odiar e ser odiado, enquanto durante todo o tempo aspira profundamente a amar e a ser amado. Há, contudo, outros dois motivos, pelos quais um individuo com uma tendência esquizoide pode ser levado a substituir o ódio pelo amor-curiosamente um 6 um motivo imoral e o outro moral; e incidentalmente observar-se-á que são motivos especialmente poderosos no caso dos revolucionários e quislings. O motivo imo- ral é determinado pela consideração de que, dado que a alegria do amor parece estar-lhe proibida, pode também entregar-se à alegria do ódio e tirar daltoda.a.satisfação que possa. Faz assim um pacto com o Diabo e diz: "Que o Mal seja o meu bem'. O motivo moral16 determinado pela consideração de que, se amar envolve destruir, é melhor destruir pelo ódio, que é abertamente destrutivo e mau, do que destruir pelo amor, que é, de origem, criativo e bom. Quando estes dois motivos estão em causa, portanto, estamos perante umna espantosa inversão de valores. Torna-se um caso não só de 'Quue o Mal seja o meu bem', mas também de 'Que o Bem seja o meu mal. lsto é uma inversão de valores, deve acrescentar-se, que raramente é aceite conscientemente; mas é, n�o obstante, uma inversão que muitas vezes desempenha um papel extremamente importante no inconsciente- e que isto é assim é a terceira grande tragédia para a qual estão aptos os indivíduos com uma tendência esquizoide. 42 43
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