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Fatores esquizoides na personalidade (1940) - Ronald Fairbairn

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PARTE 
UMA TEORIA DA PERSONALIDADE 
BASEADA NAS RELAÇÕES DE OBJECTO 
CAPITULOI
FACTORES ESQUIZOIDES NA PERSONALIDADE (1940) () 
Os processos mentais de uma natureza esquizoide passaram 
ultimamente a ocupar a minha atenção num grau mais elevado; 
e os casos nos quais tais processos estão suficientemente mar- 
cados para atribuir uma compleição esquizoide reconhecível à per 
sonalidade parecem-me actualmente fornecer um material extre- 
mamente interessante e fértil em todo o campo da psicopatologia. 
Entre várias considerações que apoiam este ponto de vista devemn 
seleccionar-se as seguintes: (1) Dado que as condições esquizoides
constituem as fases psicopatológicas mais recuadas, fornecem uma 
oportunidade sem rival para o estudo não só dos fundamentos da 
personalidade, mas também dos mais básiços processos mentais.
(2) A análise terapêuticado caso esquizoide dá uma oportunidade
para o estudo da mais vasta gama dos processos psicopatológicos
num individuo em si mesmo, porque em tais casQs é normal alcan- 
çar-se o estado final apenas depois de terem sido explorados todos 
os métodos disponíveis de defesa da personalidade. (3) Contraria-
mente à opinião comum, os indivíduos esquizoides que não retro 
cederam demasiado são capazes de uma maior compreansão psico- 
lógica do que qualquer outra classe de pessoas, normais 
ou anor 
() Uma versão abreviada deste documento 
foi lida perante o Ramo 
Escocés da Sociedade Psicológica Britânica em 9 de Novembro de 1940. 
15 
mais um facto devido, em_parte pelo menos, ao serem tão intro 
vertidos (isto 6, preocupados com a realidade interior) e tão familia- 
res com os seus mais_profundosprocessos psicológicos(processos
que, apesar de não estarem ausentes em indivíduos que seriam 
normalmente classificados como simples psiconeuróticos estão 
todavia excluldas da consciência desses. individuos. pelas defesas 
mais obstinadas e resistências mais teimosas). (4) De novo con 
trariamente à opinião comum, os individüos esquizoides mostram-se 
capazes de transferência a um grau notável, e apresentam possibi- 
lidades terapêuticas inesperadameate favoráveis. 
Na medida em que estiverem em questão condições aberta 
mente esquizoides, devem diferenciar-se os seguintes grupos: 
(1) Esquizofrenia_propriamente.dita. 
(2) A personalidade psicopática do tipo esquizoide um 
grupo que pode muito bem compreender a maioria dos casos de 
personalidade psicopata (sem excluir as personalidades epilépticas). 
(3) O carácter esquizoide- um amplo grupo que com 
preende indivíduos cujas personalidades incorporam definitiva 
mente traços esquizoides, mas que não podem sensatamente ser 
considerados psicopatas.
inclulda numa série de 100 casos psiquiátricos estudados por Mas- 
serman e Carmichael (Journal of Mental Science, Vol. LXXXIv, 
pp. 893-946). Estes autores descobriram que 'em não menos do 
que quinze dos trinta e dois pacientes existja uma história defini- 
tiva de sintomas histéricos que precedia o desenvolvimento do 
sindroma francamente esquizofrènica -a respeito da incidência 
das obsessões e compulsões, observam: "Elas também ocorreram 
com a maior frequência nos esqujzofrénicos'- obsessões descober- 
tas em dezoito e compulsões em vinte dos trintae dois casos. Tem 
interesse acrescentar que, numa série de casos militares que cai- 
ram sob a minha alçada, 50 por cento daqueles que foram final- 
mente diagnosticados como "esquizofrenia' ou 'personalidade esqui- 
zofrénica' foram submetidos a investigação com diagnóstico prévio 
tanto de 'neurose de ansiedade' como de 'histeria'. Ao passo que 
estes números são sugestivos como uma indicação da extensão 
até onde as defesas psiconeuróticas são empregadas pelo paciente 
francamente esquizoide numa v� tentativa para defender a sua 
personalidade, não nos indicam até que ponto uma tendência básica 
esquizoide pode estar dissimulada pelo êxito de tais defesas. 
Uma vez que a prevalência de caracteristicas essencialmente
esquizoides foi reconhecida em casos em que os 
sintomas apre- 
sentados são ostensivamente psiconeuróticos, torna-se possivel
(4) A ase esquizoide ou episódio esquizoide transitório 
- uma categoria na qual se inclui uma quantidade considerável
de 'esgotamentos nervosos' de adolescentes.
A parte estas condições abertamente esquizoides, é contudo 
vulgar encontrarcaracterísticas de uma natureza basicamente esqui- 
2oide evidenciadas por pacientes cujos sintomas apresentadossão 
essencialmente psiconeuróticos (v.g. histéricos, fóbicos, obses 
sivos, ou simplesmente ansiosos). Estés caracteristicas, quando 
presentes, são, evidentemente, mais fáceis de aparecer quando as 
defesas psiconeurótica[ por meio das quais a personalidade foi 
defendida enfraquecem durante (e por intermédio de) o tratamento 
analítico; mas a maior familiaridade com o fundo esquizoide básico 
torna possível de uma maneira espantosa ao analista detectar a 
presença de características esquizoides na entrevista inicial. A este respeito é interessante notar a incidência de sintomas histéricos ou gbsessivos. na história prévia de trinta e dois esquizofrénicos
no decurso do tratamento analítico detectar a presença de carac- 
teristicas semelhantes num número de individuos que procuram
auxilio analítico por causa de problemas aos quais 
é dificil apor 
quaisquer rótulos psicopatológicos. 
A incluir neste grupo estão 
muitos daqueles que consultam o 
analista dadas incapacidades
como inibições sociais, inaptidão para 
se concentrarem no trabalho,
problemas de carácter, tendências
sexuais perversas e dificuldades
psicossexuais como a impotência
e a masturbação compulsiva.
O grupo inclui também muitos daqueles que 
se queixam de sintomas
aparentemente isolados (v. g. medo da 
loucura ou ansiedade exibi- 
cionista), ou que manifestam 
um desejo de um tratamento 
analitico 
em campos aparentemente 
inadequados (v. g. "Porque sinto que 
me faria bem' ou 'porque seria 
interessante). Inclui do mesmo 
modo 
todos aqueles que entram na 
sala de consulta com um ar 
miste- 
17 16 
EPP-2 
rioso ou mistificado, e que iniciam a conversa quer com uma cita-
ção de Freud ou com uma observação tal como "Realmente não sei 
por que vim'. 
Na base de um estudo analítico de casos que pertencem às 
várias categorias que foram agora mencionadas, é possivel reconhe- 
cer como essencialmente esquizoides não só fenómenos como a 
despersonalização caracterizada e a desrealização, mas também per- 
turbações relativamente menores ou transitórias do sentido da rea- 
lidade, v. g. sentimentos de 'artificialidade' (quer referida ao Eu ou 
ao ambiente), experiências como 'o sentimento de estar por detrás 
dum vidro', sentimentos de desconhecimento de pessoas familiares 
Qu_ caracteristicas ambientais, e sentimentos de familiaridade com 
o não-familiar, Aliado ao sentido de familiaridade com o não-fami-
liar está a experiência do déià u - um fenómeno interessante que 
deve ser do mesmo modo considerado como envolvendo um pro 
cesso esquizoide. Um ponto de vista semelhante deve ser tirado de 
fenómenos dissociativos como o sonambulismo, a fuga, a_dupla 
personalidade e a personalidademúltipla. Na medida em que as 
manifestações de personalidade dupla e múltipla estão em causa, 
a sua natureza essencialmente esquizoide deve ser inferida de um 
estudo discreto dos numerosos casos descritos por Janet, William 
James e Morton Princa E aqui vem a propósito observar que mui 
tos dos casos descritos por Janet como manifestando os fenómenos 
dissociativos na base dos quais ele formulou o seu conceito clássico 
de chisteria» se comportavam equivocamente como esquizofrénicos 
- um facto que interpreto a favor da conclusão, a que já cheguei na 
base das minhas próprias observações, de que a personalidade do 
histérico contém invariavelmente um factor esquizoide em maior ou 
menor grau, por muito profundamente que possa estar enterrado. 
Quando a conotação do termo esquizoide' se estende através 
de um alargamento da nossaconcepção de fenómenos esquizoides 
na maneira indicada, a denotação do termo está inevitavelmente 
submetida a uma extensão correspondente; e a grupo esquizoide daí resultante é então considerado como podendo tornar-se um 
outros elementos disruptivos em todas as comunidades. As carac- terlsticas esquizoides, normalmente numa forma menos pronun- ciada, são também comuns entre membros da intelligentsia. Assim, o desdém dos intelectuais pela burguesia e o desprezo do artista esotérico pelo filistino podem considerar-se como manifestaçõesmenores de uma natureza esquizoide.-Deve também notar-se que as ocupações intelectuais como fais, quer literárias, atísticas, cien-
tificas ou outras, parecem exercer uma atracção especial nos indi-
viduos que possuem.características esquizoides num ou noutro grau. No que diz respeito às ocupações cientficas, a atracção parecerá 
depender da atitude de indiferença do indivíduo esquizoide não 
menos do que da sua sobreavaliação dos processos de pensamento; 
porque ambas são características que prontamente se prestam à 
capitalização dentro do campo da ciência. O apelo obcessivo da 
ciência, baseado como este está na presença de uma necessidade 
compulsiva para a organização ordenada e a acuidade meticulosa, 
foi, evidentemente, há muito reconhecido; más o apelo esquizoide 
não é menos definitivo e exige pelo menos igual reconhecimento. 
Finalmente pode aventurar-se a afirmação de que um número de 
figuras histór 
ou personalidades esquizoides ou caracteres esquizoides; e, na ver- 
dade, pareceria que seriam essas as que deixam uma marca nas 
páginas da História.
Entre as várias características comuns ao grupo aparentemente 
conglomerado de individuos que estão sob a alçada da categoria
esquizoide como agora é encarada, três são de importância sufi- 
ciente para merecerem referência especial. São elas (1) uma atitude 
de omnipotência, (2) uma atitude de isolamento e desinteresse,
e (3) uma preocupação com.a.realidade interior. 
E, contudo, impor 
tante, ter em conta que estas características 
não são necessariamente 
manifestas. Assim, a atitude de omnipotênciapode ser consciente 
Ou inconsciente em qualquer grau. 
Pode tàmbém localizar-se den- 
tro de certas esferas de operação. Pode ser sobrecompensada 
e dis- 
simulada sob uma atitude superficial de inferioridade e humildade;
e pode ser conscientemente guardada 
no íntimo como um segredo 
precioso. Do mesmo modo, 
a atitude de isolamento e desinteresse 
cas ilustres se prestaram à interpretação de que eram 
grupo muto amplo. Descobre-se, por exemplo, uma elevada per centagem de fanáticos, agitadores, criminosos, revolucionários e 
19 
18 
pode ser dissimulada por uma fachada de sociabilidade 
ou pela adop. 
ção de papéis especificos; e pode 
ser acompanhada por uma con. 
siderável emotividade em determinados contextos. 
Quando está em 
causa a preocupação com a realidade interior, esta é 
indubitavel. 
mente amais importante de todas as caracteristicas 
esquizoides; 
está não obstante. presente, quer 
a realidade interior seja substi- 
tuida pela realidade exterior, identificada 
com a realidade exterior 
Qu sobreposta à realidade exterior. 
Não deixará de se notar queo-conceito de esquizoide', que é 
oriundo das considerações precedentes, corresponde de 
uma ma- 
neira notável intimamente, particularmente quando está 
em causa 
a sua denotação, ao conceito de tipo introvertido' como foi 
formu- 
lado por Jung; e é significativo que num dos seus primeiros escritos 
(Collected Papers on Analytical PsychoBogy. 1917, p. 347) Jung 
expressou_o ponto de vista de que a incidência da esquizofrenia
dementia praecox) se limitava ao tipo introvertido, indicando assim 
o reconhecimento pela su� parte de um�/associação entre_a intro- 
versão e os desenvolvimentòs eSquizoides. A correspondência 
entre 
o conceito de Jung de 'introvertido' e o conceito de 'esquizoide' 
como é agora encarado não deixa de ter interesse na medida em 
que confirma a existência real do grupo descrito, particularmente 
desde que se chegou aos dois conceitos por caminhos completamente
independentes.O reconhecimento desta correspondência não implica 
evidentemente qualquer aceitação pela minha parte da teoria de Jung 
dos tipos psicológicos fundamentais. Na verdade, pelo contrário,
a minba concepção.do.grupo.esquizoide.baseia-se.numa considera 
ção, não de factores temperamentais mas de factores.estritamente 
psicopatológicos. Ao mesmo tempo pode parecer a alguns que, 
tendo em vista a descrição do grupo em questão, o termo 'introver- 
tido' seria preferível ao "esquizoide' tendo em vista as associações 
algo sinistras que ficaram ligadas ao último termo como resultado 
da sua utilização original. Todavia, dos dois termos, 'esquizoide' tem 
a vantagem inestimável de, diferentemente do termo 'introvertido', 
não ser simplesmente descritivo, mas-ihterpretativo num sentido 
psicogenético. 
A critica para a qual me devo agora preparar consiste em que, 
de acordo_com.a.minha_maneira.de pensar, todos sem excepção 
devem ser considerados esquizoides. Na verdade, estou perfeita- 
mente preparado para aceitar esta crítica, mas apenas com uma 
reserva muito importante a de que na sua ausência o meu con- 
ceito de 'esquizoide' seria tão amplo que quase deixaria de ter signi- 
ficado. A qualificação que confere significado ao conceito é de que 
tudo depende do nível mental que está a ser considerado. fenómeno 
esquizoide.fundamental é a presença de clivagens do Eu; e isso 
levaria um homem arrojado a pretender que o seu Eu estava tão 
perfeitamenteintegrado que era incapaz de revelar qualquer prova 
de clivagem aos mais profundos níveis, ou que essa prova de cliva- 
gem do Eu não poderia em circunstància alguma declarar-se a níiveis 
mais superficiais, mesmo sob condições de extremo sofrimento ou 
dificuldade ou privaçães (v. g. sob condições de doença grave, ou 
de exploração do Árctico, ou de.exposição num barco descoberto 
no meio do Pacífico, ou de perseguição implacável, ou de sujeição 
prolongada aos horrores da guera moderna). O factor mais impor- 
tante neste caso é a profundidade mental que exige ser _penetrada 
antes de se declarar a prova da clivagem do Eu. Na minha opinião, 
em todo o caso, alguma medida da clivagem do Eu está invariavel 
mente presente ao nível mental mais profundo- ou (para 
dizer o 
mesmo em termos tirados a Melanie Klein) a posição básica na psi- 
quê é invariavelmente _uma posição esquizoide. Isto não se aplica, 
evidentemente, no caso de uma pessoa teoricamente perfeita cujo 
desenvolvimento tenha sido óptimo; mas então não há realmente 
ninguém que goze tal felicidade. Na verdade, é dificil imaginar alguém 
com um Eu tão unificado e estável.aos mais altos níveis que, fosse 
em que circunstâncias fosse, não desse provas_ de clivagem básica 
à superficie de forma reconhecível. Há provavelmente poucas 
pes- 
soas 'normais que nunca em qualquer 
momento das suas vidas 
sentiram um estado não-natural de calma edesinteresse em face de 
alguma crise séria, ou um sentido transitório de olhar para 
si" nal- 
guma situação embaraçadorá ou paralisadora;
e provavelmente a 
maior parte das pessoas teve uma 
certa experiência dessa estranha 
confusão de passado e presente, ou de -fantasia 
e realidade, conhe- 
21 
20 
cida como déjà vu. E estes fenómenos, 
aventuro-me a sugerir, são 
essencialmente fenómenos esquizoides. Há, contudo, 
um fenómeno 
universal que prova de maneira perfeitamente 
concludente que toda 
a gente sem excepção é esquizoide 
aos níveis mais profundos 
-o sonho; porque, como mostraram 
as investigações de Freud, 
próprio sonhador é normalmente representado no sonho por duas 
Ou mais figuras separadas. Aqui posso 
afirmar que o ponto de vista 
que eu próprio adoptei agora tem como resultado que todos os per- 
sonagens que aparecem nos sonhos representam ou (1) alguma 
parte da personalidade do sonhador, ou (2) um objecto com o qual 
alguma parte da suapersonalidade tem uma relacão. vulgarmente 
numa base de identificação,_na realidade interior./Seja
como for, 
o facto de o sonhador ser caracteristicamente-représentado no sonho 
por mais de uma figura não pemite mais nenhuma interpretação a 
não ser que, ao nível da consciência sonhadora, o Eu_do sonhador 
esteja dividido. O sonho representa assimum fanómeno esquizoide 
universal. O fenómeno universal do Superdu como foi descrito por 
Freud deve também ser interpretado como implicando a presença de 
uma clivagem no Eu porque, na medida em que o Supereu é con- 
siderado como uma estrutura-Eu capaz de distinção do Eu como 
tal, a sua própria existência ipso facto dá a prova de que se estabele- 
ceu uma posição esquizoide, 
A concepção da clivagem do Eu, da qualo termo 'esquizoide 
tira o seu significado, pode apenas ser considerada como uma concep- 
ção esclarecedora quando é observada sob um ponto de vista psico- 
genético, E, por isso, necessário considerar muito brevemente o que 
está envolvido no desenvolvimento do Eu. A função do Eu à qual 
Freud deu mais ênfase é a sua função adaptiva - a função que ele 
realiza ao relacionar a actividade instintiva original com as condi- cões que.prevalecemna realidade.exterior, e mais particularmente as condições sociais. Deve, contudo, lembrar-se que o Eu também rea- 
liza funções integrativas, contando-se entre as mais importantes (1) a integração das percepções da realidade, e (2) a integração do comportamento. Outra função importante do Eu é a discriminação entre a realidade interior e a exterior. A clivagem do Eu produz o efeito de comprometer o desenvolvimento progressivo de todas estas 
funções, apesar de, evidentemente, em graus variáveis e em pro 
porções variáveis. Consequentemente, devemos reconhecera pos- 
sibilidade do desenvolvimento que resulta em todos os graus de 
integração do Eu; e devemos conceber uma escala teórica de inte- 
gração de tal forma que uma das extremidade[ da escala represente 
a integração completa e a outra extremidade represente o completo 
fracasso da integração, com todos os graus itermédios. 
Em tal 
escala os esquizofrénicos encontrariam-um lugar na extremidade 
inferior, as personalidades esquizoides um Tugar mais elevado, os 
caracteres esquizoides um fugar ainda mais elevado, etc.; mas um 
lugar na extremidade exactámente superior da escala, que represen- 
taria a perfeita integração e a qusência de clivagem, deve ser consi- 
derado apenas como uma possibitidade teórica. Se tivermos esta 
escala em conta, ela ajudar-nos4 � compeender como seria possível 
a qualquer individuo maniféstar alguma característica esquizoide 
sob condições suficientemente extremas, e como 
acontece que 
alguns indivíduos manifestam provas de uma cíivagem do Eu apenas 
em situações que envolvem reajustametos como os que estão implí- 
citos na adolescência, casamento ou alistamento no exército 
em 
tempo de guerra, enquanto outros podem 
manifestar estas provas 
mesmo sob as condições mais vulgares da vida. Na prática real, 
evidentemente, a construção de uma escala como esta apenas 
imaginada envolveria dificuldades perfeitamente insuperáveis, 
das 
quais apenas uma é originada pelo facto de que 
um número bastante 
grande de manifestações esquizoides como na realidade Freud salien- 
tou, são realmente defesas conta a clivagem do Eu. Contuda ajuda- 
nos a apreciar a posição geral em relação à 
rarmos uma escala imaginária deste tipo. 
Apesar de, em conformidade com as implicações 
da concepção 
clássica de Bleuler da 'esquizofrenia', devermos 
considerar a cliva- 
gem do Eu como o fenómeno esquizoide mais característico, os psica- 
nalistas sempre se interessaram mais (e na verdade limitaram ampla- 
mente a sua atenção a isso) pela orientação libidinal envolvida 
na 
atitude esquizoide; e, sob a influência 
da teoria psicogenética de 
Abraham do desenvolvimento libidinal, as manifestações 
clinicas de 
uma ordem esquizoide acabaram por ser cónsideradas como origi- 
clivagem do Eu se enca- 
22 23 
nadas numa fixação na fase oral primária. E presumivelmente durante 
esta primeira fase da vida, e sob á influência das suas vicissitudes 
na criança não desenvolvida e inexperiente, que a clivagem do Eu 
começa a ocorrer; e tem de haver assim uma intima associação entre 
a clivagem do Eu e uma atitude libidina-de incorporacão oral. Na 
minha opinião, os problemas envolvidos na clivagem do Eu merecem 
muito mais atenção do que até agora Ihes foi_prestada; e algumas 
indicações da importância que atribuo a estes problemas podem ser 
observadas a partir daquilo que foi afirmado até agora. No que se 
segue, contudo, proponho considerar alguns dos desenvolvimentos 
que parecem depender de, ou serem poderosamente influenciados 
por uma fixação na primitiva fase oral, e que desempenham assim um 
papel proeminente na determinação do modelo daatitude esquizoide. 
O Eu da criança pode ser descrito sobretudo como um 'Eu oral 
e, enquanto este facto exerce uma profunda influência sobre o desen- 
volvimento subsequente de todos os indivíduos, a influência é par- 
ticularmente marcada no caso daqueles que subsequentemente mani- 
festam características esquizoide_ Na medida em que a criança está 
em causa, a boca é o pripeipal órgão do desejo, o principal instru- 
mento de actividade, o principal meio de satisfação e frustração, o 
principal canal de amor e ódio, e, mais importante do que tudo, o 
primeiro meio de contacte social intimo. A/primeira relação social 
estabelecida pelo individuo 6.entre ele mesmo e-a mãe; e o foco 
da sua relação é a situação de aleitamento, na qual o seio da mãe 
fornece o ponto focal do seu objecto libidinal, e a sua boca o ponto 
focal da sua_própria atitude libidinal. Consequentemente, a natureza 
da relação assim estabelecida exerce uma profunda influência sobre 
as relações subsequentes do individuo, e sobre a sua atitude social 
subsequente em geral. Quando as circunst-ncias säo de molde a 
originar uma fixação libidinal na primitiva situação oral em questão, 
a atitude libidinal apropriada à primitiva fase oral persiste numa forma exagerada e dá origem a efeitos de grande alcance: e a natureza destes efeitos pode ser melhor considerada luz dos traços prin- cipais que caracterizam a própria primit+va atitude oral. Podem resu- mir-se assim: 
(1) Apesar da relação emocional envolvida ser essencialmente 
entre a criança e a mãe como uma pessoa, e apesar de se 
dever 
reconhecer que o seu objecto libidinal-é Teatmente a mãe como um 
todo, todavia o seu interesse libidinal está essencialmente concen- 
trado no seu seio; e o resultado.élque, na proporção em que 
ocorrem 
perturbações na relação, o própria seio tende a assumir o papel de 
objecto libidinal, isto é, o objecto libidinal tende-para assumir a forma 
de um órgão corporal ou objecto parcial (em 
contraste com uma pes- 
soa ou objecto total). 
(2) A atitude libidinal é essencialmente uma 
em que o aspecto 
do receber predomina sobre.o de dar. 
(3) A atitude libidinal caracteriza-se, não 
só por receber, mas 
também por _incorporar e interiorizat, 
(4) A situação libidinal é aquela que confere _um significado 
tremendo aos estados de plenitude e vazio. 
Assim, quando a criança 
tem fome, está, e presumivelmente sente-se, vazia; 
e, quando foi 
alimentada até à satisfação, está e-presumivelmente sente-se, 
cheia. 
Por outro lado, o seio da mãe, e provavelmente, sob o ponto 
de vista 
da criança, a própria mãe, está normalmete 
cheio antes, e vazio 
depois da amamentaçãd- condições maternas que 
a criança pode 
ser capaz de apreciar em termos da sua própria 
experiência de ple- 
nitude e de vazio. Em circunstâncias de privação, o vazio assume 
um_significado muito especial_para a criança. Não só ela 
mesma 
sente-se vazia, mas interpreta de igual modo a 
situação_no sentido 
de que esvaziou a mãe- particularmente 
dado que a privação tem 
o efeito não só de intensificar 
a sua necessidade oral, mas tambémde Ihe transmitir uma qualidade agressiva.
A privação tem o efeito 
adicional de alargar o campo da sua necessidade 
incorporativa, de 
modo que chega a incluir 
não simplesmente o conteúdo do seio, 
mas também o próprio seio, 
e até a mãe como um todo. 
A ansiedade 
que sente ao 
esvaziar o seio dá assim lugar à ansiedade de destruir 
o seu objecto libidinal; e o facto de a mãenormalmentea 
deixar depois 
da amamentação deve provocar 
o efeito de contribuir para esta impres- 
são. Consequentemente, a 
sua atitude libidinal adquire para ela 
a 
implicação de que envolve odesaparecimento 
e a destruição do 
seu objecto libidinal- uma implicação
que tende para 
vir a ser 
confirmada numa fase posterior quando 
aprende que o alimento que 
24 25 
é comido desaparece do mundo exterior,
e de que não pode coma mer 
o bolo e ficar com ele. 
Estes vários traços da atitude libidinal que caracteriza a primi. 
tiva fase oral intensificam-se e perpetuam-se na proporção em qua 
ocorre uma fixação nesta fase; e-todos-funcionarão como factores 
na determinação da caracteriologia e sintomatologia esquizoide. No 
que exponho a seguir tem-se em conta alguns) dos desenvolvimentos 
aos quais cada um destes factores por sua yez parecem dar origem. 
em tempo de guerra. A mãe morrera quando ele 
estava na primeira 
infância; e o único parente de quem se lembrava era 
o pai. Safra 
de casa pouco depois de ter terminado a escola; e 
desde então 
nunca comunicara com o pai. Na verdade, n�o sabia se o pai 
estava 
vivo ou morto. Durante anos levou uma vida errante 
e instável; mas 
afinal lembrou-se que talvez Ihe fizesse bem assentar 
e casar-se. 
Assim fez, consequentemente. Quando Ihe perguntei se fora 
feliz 
no casamento, pelo seu rosto espalhou-se um ar de surpresa, seguido 
de um sorriso bastante desdenhoso.' Foi para isso que 
me casei, res- 
pondeu com um tom superior, como se isso 
desse uma resposta sufi- 
ciente. Ao passo que esta sesposta, evidentemente, dá uma ilustração
da insuficiência esquizøide para discrimnar adequadamete entre a 
realidade interior e a exterior, serve tambérn para ilustrar a tendência 
daqueles que possuem características esquizoides para tratar 
os 
objectos libidinais como um meio de satisfaç�o das suas próprias 
exigências mais do que como pessoas possuindo um 
valor inerente; 
e esta é uma tendência que é originada pela persistência de uma 
orientação oral primitiva para o seio como objecto _parcial. 
Deve agora observar-se que a orientação para objectos par- 
ciais encontrada em individuos que 
manifestavam características 
esquizoides é um fenómeno amplamente regressivo determinado por 
relações_emocionais insatisfatórias com os pais, e particularmente 
com as m�es, numa fase da infância subsequente à primitiva fase oral 
na qual é originada esta orientação. O tipo 
de mãe com especial 
propensão para provocar esta regressão é a m�e que falha em con- 
vencer o filho, por meio de espontâneas e genuínas expressões de 
afecto, de que ela própria o ama como uma pessoa. 
Tanto as mães 
possessivas como as indiferentes estão dentro desta categoria. 
Pior 
do que tudo é talvez a m�e que transmite a impressão tanto de posse 
como de indiferença- v. g. a _mãe_dedicadaque está decidida � 
todo o custo a não estragar o seu único filho, O fracasso por parte 
da mãe em convencer a criança de que realmente a ama como uma 
pessoa torna-Ihe difícil manter uma relação emocional com 
ela numa 
base pessoal; e o resultado é que, a fim de simplifiçar a situação, 
a criança tende regressivamente para restaurar a relação na sua forma 
primitiva e mais simples, e reviver a sua relação 
com o seio da mãe 
1. A tendência para a orientação em direcção a um objecto 
parcial (órgão corporal) 
Consideremos em primeiro lugar a influência deste factor na 
primitiva atitude oral. O seu efeito é promover a tendência esquizoide 
para tratar outra pessoa como menos do que pessoa com um valor 
inerente próprio. Esta tendência pode ser ilustrada no caso de um 
homem extremamente inteligente de um tipo esquizoide, que me 
veio consultar porque sentia que não conseguia estabelecer qualquer 
contacto emocional real com a mulher, era injustamente exigente com 
ela e era insociável com ela em ocasiQes em que uma manifestação 
de afecto estaria mais apropriada. Depois de descrever a sua atitude 
muito egoista para com ela, acrescentou que os seus hábitos eram 
geralmente insociais, e que tratava ás outras pessoas mais ou menos 
como se fossem animais inferiores. A partir desta última observa- 
ção não foi dificil detectar uma origem para as suas dificuldades. 
Lembra-se que os animais normalmente aparecem em sonhos commo 
simbolos de órgãos corporais e isto serve apenas para confirmar 
que a sua atitude para com a mulher, assim como para com outros, 
era para com um objecto parcial e não para com uma pessoa. Uma atitude semelhante foi revelada num-paciente francamente esquizo- frénico, que descreveu a sua atitude para com as pessoas com quem se encontrava como a de um antropoloogista entre uma tribo de sel- vagens. Um tanto análoga foi a a atitude manifestada por um soldado cuja história mostrava que sempre fora uma personalidade esquizoide,e que passou para um estado esquizoide durante o serviço militar 
26 
27 
como um objecto parci�l. 
Uma regressão desto tipo pode ser ilustrada 
pelo caso de um jovem esquizofrénico 
que, enquanto ovidenciava o 
mais amargo antagonismo em relação 
å sua mãe real, sonhava em 
deitar-se numa cama num quarto 
do cujo tocto escorria leite 
-o quarto em questão era um quarto 
na sua casa exactamente por 
baixo do quarto da mae. Este tipo de processo 
regressivo pode tal. 
vez descrover-se melhor como 
despersonalização do objecto: e 6 
caracteristicamente acompanhado por uma regressão. na_qualidade 
da relacão desejada. Mais uma vez, 
o movimento de regressão reside 
no interesse de uma simplificação das relaçõas; 
e toma a forma de 
uma substituição de contactos fisicos por emocionais.
Talvez se 
possa descrever como desemocionalizacão da relação de objecto. 
dontemento, também um ponto no qual a atitudo incorporativa oral 
para com um objocto_implica avaliação do objecto, a0 passo que 
a 
atitude excrotórla om rolação a um objecto implica 
a sua desvalori 
zação e rojoição. O quo 6 relovante para 
fins imediatos, contudo, 
6 o facto do que, a um nível mental profundo, o receber 
6 emocio 
nalmento equivalente a acumular conteúdos fisicos, e 
o dar 6 emocio- 
nalmente equivalente a abandonar contoúdos fisicos. 
E, al6m disso, 
relevante que, a um nível mental profundo, exista uma equivalência 
emocional entre os conteúdos mental e fisico, com o resultado de 
que a atitude do individuo em relação ao 
último tende para se reflec 
tir na sua atitude em relação ao primeiro. No caso do 
indivíduo com 
uma tendência esquizoide, consequentemente, 
há sobreavaliação
do conteúdo mental correspondente 
à sobreavaliação do conteúdo 
fisico implicado na atitude incorporativa oral da primeira infancia. 
Esta sobreavaliação do conteúdo mental mostra-se, por exemplo, 
na dificuldade sentida pelo individuo com uma tendência esquizoide 
para exprimir emoção num contexto 
social. )Para um indivlduo des- 
tes, esse elemento de dar que está 
envolvido na expressão de emo 
ção em relação a outros tem o signiflcado de perda do conteúdo; 
e é por esta razão que 
considera frequentemente exaustivos os con 
tactos sociais. Assim, se estiver muito tempo 
acompanhado, está 
sujeito a sentir que 'deixou de ter valoraque precisa de um período 
de calma e solidão mais tarde a fim de que o_armazém 
interior de 
emoção possa ter uma oportunidade de sé reabastecer. 
Deste modo, 
um dos meus pacientes sentia-se incapaz de 
marcar encontros com 
a sua futura noiva em dias 
consecutivos com a razão de que, quando 
a encontrava demasiadas vezes, sentia que a sua personalidade 
ficava empobrecida. No caso daqueles er quem a tendênciaesqui- 
zoide está marcada, a defesa contra a perd emocional dá origem ao 
recalcamento do afecto e a uma atitude de desinteresse que 
leva os 
outros a considerá-los débeis- e, em casos mais extremos, 
mesmo 
desumanos. Estes indivíduos são vulgarmente descritos como per- 
sonalidades fechadas; e, em vista da extensão 
a que mantêm o 
seu conteúdo emocional en�errado, a descrição é singularmente 
apropriada. A ansiedade sobre a perda emocional manifesta-se 
por 
vezes de maneiras curiosas. Tomemos, por exemplo, 
o caso de um 
2. Predominância do receber sobre o dar na 
atitude libidinal 
Em conformidade com a predaminância_do recaber _sobre o 
dar na primitiva atitude oral, individuos com uma tendência esqui- 
zoide sentem uma dificuldade considerável em dar no sentido emo- 
cional. A este respeito, é interessante lembrar que, se a tendência 
incorporativa oral é a mais fundamental de todas as tendências, as 
que se seguem em importância para o organismo são as actividades 
excretórias (defecação e micção). O objectivg biológico das activi- 
dades excretórias é, evidentemente, a_aliminação de substâncias
inúteis e nocivas do corpo; mas, apesar de, em conformidade com 
o seu objectivo biológico, a criança em breve-aprender a considerá- 
las como o meio clássico de abordar maus objectos libidinais, para 
ela o seuprimairo significado.psicológi�o parecerá ser o de actividades 
criativas. Representam as primeiras actividades criativas do individuo; 
e os seus produtos são as suas primeipas criaçðesg/primeiro con- 
teúdo interno que ela exterioriza, as primelras coisasque Ihe perten- 
cem e que dá. A este respeito as actividades excretórias contrastam 
com a actividade oral, que envolve essencialmenté uma atitude de 
receber. Este contraste particular entré os dois grupos de actividade 
libidinal não deve ser considerado para excluir\a coexistência de um 
outro contraste entre eles num sentido opostó; porque existe, evi- 
28 29 
jovem que procurou a análise, em quem 
detectei na primeira consulta 
aquele ar vagamente misterioso que passei 
a considerar como pato 
gnomónico de uma tendência esquizoide profunda, 
e que é tantas 
vezes acompanhada por inaptidão para descrever quaisquer sintomas 
concretos. Este paciente era estudante universitário; e no seu caso 
o problema objectivo consistia no fracasso repetido 
de passar nos 
exames. Os exames orais apresentavam-Ihe uma dificuldade espe-
cial; e uma caracteristica notdvel:desta dificuldade consistia em que, 
mesmo quando realmente sábia a resposta correcta a uma pergunta, 
era normalmente incapaz de a dar. Sers óbvio, evidentemente, que 
estavam envolvidos problemas sobre a sua relação com o pai; mas 
a forma assumida por esta dificuldade particular tirava o seu signifi. 
cado do facto de que, na medida em que ele estava em causa, dar a 
resposta correcta representava dar ao examinador algo que só fora 
adquirido (isto 6, interiorizado) com dificuldade, e assim abandonar 
alguma coisa demasiado preciosa para ser perdida. Numa tentativa 
para vencer dificuldades envolvidas na dádiva emocional, individuos 
com uma propensão esquizoide servem-se devárias técnicas, das 
quais duas devem aqui ser mencionadas. (Säo elas (a) a técnica 
de desempenhar papéis, e (b) a técnica do axibicionisno. 
de um papel pode ser ilustrado no caso de um jovem marcadamente 
esquizoide que entrou na minha sala de consulta pela primeira vez 
com uma citação de Freud nos lábios. Procurava assim desde o início 
mostrar-se a meus olhos como um devoto da psicanálise; mas a 
minha imediata suspeição de que ele apenas estava a desempenhar 
um papel foi totalmente confipmada assim que começou o tratamento 
analitico. O seu papel adoptado era na verdade uma defesa contra o 
contacto emocional genuino comigo, e contra a dádiva emocional 
genuína. 
(b) A técnica exibicionista 
As tendências exibicionistas sempre desempenharam um papel 
importante na mentalidade esquizoide; e, claro, estão intimamente 
relacionadas com a tendência para adoptar papéis. Podem ser ampla- 
mente inconscientes; e são muitas vezes dissimuladas por ansiedade. 
Mesmo assim, contudo, surgem claramente no decorrer do tratamento 
analítico; e a atracção pelas actividades literárias ou artisticas em 
indivíduos com uma propensão esquizoide deve-se em parte ao 
facto de que estas actividades fornecem um meio exibicionista de 
expressão, sem envolverem.contacto social directo. O significado da 
exploração do exibicionismo como uma defesa reside no facto de que 
representa uma técnica para dar sem dar, por meio de uma substi- 
tuição de 'mostrar por "dar'. Este meio de tentar resolver o problema 
de dar sem perder não deixa de possuir as suas dificuldades conco- 
mitantes, apesar de tudo; porque a ansiedade originalmente ligada 
ao acto de dar está apta a transferir-se para o acto de mostrar, com 
o resultado de que a "exibição' assume a qualidade de 'denúncia'. 
Quando isto acontece, as situações exibicionistas podem tornar-se 
extremamente dolorosas; e ser-visto' pode então originar uma 
autoconsciência aguda. A conexão entre dar e mostrar pode ser 
ilustrada pela reacção de (uma paciente solteira com uma compo 
nente esquizoide na sua personalidade depois de ler no jornal numa 
manh� de 1940 que uma bomba alemã calra nas vizinhanças 
da 
noite. Era-lhe evidente, pelo relato do jornal, 
(a) A técnica de desempenhar papéis 
Desempenhanda um papel ou_representando um_personagem. 
o individuo esquizoide é muitas vezes capaz de exprimir muitos 
sentimentos e estabelecer aquilo que parecem ser contactos sociais 
perfeitamente convincentes; mas, ao fazê-lo, não está realmente a 
dar nada nem a perder nada, porque, dado que está apenas a repre 
sentar um personagem, a sua própria personalidade não está envol- 
vida. Secretamente renega o personagem que está a desempenhar; e 
assim procura manter a sua própria personalidade intacta e imune de 
compromissos. Deve acrescentar-se, contudo, que, enquanto em alguns casos os papéis são representados muito conscientemente, noutros casos o indivíduo/está perfaitamente inconsciente do facto de estar a desempenhar um_papel e apehas consegue compreender este facto durante o tratamento.analiticó. O desempenho consciente
minha casa durante 
que a bomba caíra a uma distância 
suficiente da minha casa para 
30 31 
ter a certeza de que estaria seguro; e sentiu 
um tremendo sentido 
de gratidão por este facto. A sua reserva emocional era tal, contudo. 
que não conseguiu emitir qualquer expressão 
directa aos sentimen 
tos sobre mim que todavia queria exprimir. 0 que fez, numa tenta- 
tiva para rodear esta dificuldade, na sessão seguinte, foi entregar-me 
um bocado de papel no qual escrevera custa de um esforço consi. 
derável, algumas informações sobre ela Dera-me, assim, alguma 
coisa; mas o que deu foi uma opinião sobre si, por assim dizer, reflec 
tida no papel. Na verdade, o que estava røgistado neste caso era um 
certo avanço a partir de wma atitude de mostrar em direcção a uma 
atitude de dar; porque, apesar de tudo, de uma maneira indirecta, 
ela dera-me realmente conteúdos mentais, aos quais ligava um 
grande valor narcisista, e dos quais só com esforço se desligava. 
Registou-se também um certo avanço de uma avaliação narcisista 
do seu próprio conteúdo mental na direcção de uma avaliação de 
mim como um objecto exterior e como uma pessoa. A luz deste 
incidente não surpreende que a análise revelasse neste caso um 
tremendo conflito sobre o facto de abandonar o conteúdo corporal. 
(c)_A criança chega a sentir que as relações de amor com os objectos exteriores em_geral são más, ou pelo menos precárias, resultado nítido é que a criança tende para transferir as suas relações com os seus objectos para areino da_realidade interior. Este um reino onde a mãe eo seu seio foram_já instalados como objectos interiorizados sob a influência de situações de frustração durante a primitiva fase oral; e, sob a influência de situações subse-quentes de frustração, a interiorização de objectos é aindamais explorada como uma téçnica defensiva. Este processo de interiori- zação é promovido, senão na realidade instigado, pela própria natu- reza da atitude oral; porque o objectivo inerente do impulso oral é a incorporação. A incorporaç�o-em questão 6, claro, originalmente incorporação física; mas termos de acreditar que a disposição emo- cional que acompanha os esforços incorpprativos tem ela própria 
uma coloração incorporativa. Porisso, quando ocorre uma fixação na primitiva fase oral, cria-se inevitavelmente uma atitude incorpo- 
rativa na estrutura do Eu. No caso de individuos com uma compo nente esquizoide na sua personalidade, consequentemente, há uma 
grande tendência para 
cado demasiado exclusivamente ao mundo interior. Nos esquizofré-
nicos reais esta tendência pode tornar-se tão forte que a distinção 
entre realidade interioro exterior está amplamente obscurecida. 
A parte estes casos extremos, contudo, existe uma tendência geral 
por parte dos individuos com componente esquizoide para acumular 
valores no mundo interior, Não só Os sQus objectos tendem para 
pertencer ao interior mais do que ao mundo exterior, mas tendem 
para se identificar muito fortemente com os seus objectos interiores. 
Este facto contribui materialmente para a dificuldade que sentem ao 
darem emocionalmente. No caso de individuos cujas relações de 
objecto estão predominantemente no mundo exterior, dar tem o 
efeito de criar e engrandecer valores e de promover o auto-respeito; 
mas no caso de indivlduos cujas relações de objecto são prodomi 
nantemente no mundo interior, dar tem o efeito de depreciar os valo-
res e de diminuir o auto-respeito. Quando estes individuos dão, 
tendem para se sentir empobrecidos, porque, quando dão, dão à 
custa do seu mundo interior. Quando está em càusa uma mulher 
ue o mundo exterior vá buscar o seu signifi- 
3. O factor incorporativo na atitude libidinal 
A primitiva atitude oral caracteriza-se não s por tomar, mas 
também por incorporar ou interiorizar, O restabelecimento regres 
sivo da atitude oral primitiva sprá mais prontamente manifestado por 
uma situaç�o de frustracão émocional na quàl a criança chega a 
sentir (a) que não 6 realmente amada por ela/mesma como pessoa 
pela mãe, e (b)_ que o seu_próprio amorL pefá mãe não é realment� 
avaliado e aceite. Esta é uma situação altamente traumática, que dá 
origem a outra situação caracterizada assim: 
(a) A criança chega a considerar a mãe como um mau objecto 
na medida em que parece nao a amar 
(b) A criança chega a considerar-más a_ expressões exteriores 
do seu próprio amor, com o resuftado de que., numa tentativa para 
conservar o seu amor tão bom quanto possívej, tende para reter o seu amor dentro de si mesma. -
32 33 
desta natereza, esta tendência pode 
conduzir a uma tremenda anDei 
dade acerca do parto; porque para 
uma tal mulher o parto gnifica 
não tanto ganhar uma criança, 
mas perder conteudo com o vazi 
de perda de conteúdo continuando a considerar os seus quadros 
como sua propriedade, num sentido, n�o-realista, mesmo depois de 
terem sido adquiridos por outros. Neste caso, deve fazer-se referência 
de novo àquela forma de defesa que consiste numa substituição do 
mostrar pelo dar. O artista 'mostra' ou exibe os seus quadros, evi 
dentemente; e, ao fazê-lo, revela-se indirectamente. Do mesmo modo, 
resutante. Na verdade, tive pacientes deste tipo, 
em cujos caso 
profunda falta de vontade pare abandonar conteúdo deu orig 
a um trabalho de parto extremamente 
dificil. \Nestes casos, eviden 
temente, trata-se na verdade de um caso de abandono do conteddn 
fisico; mas um fenómeno análogo dentro de uma esfera mais mental 
pode ser ilustrado no caso deum artista que, depois de terminar Um 
quadro, costumava sentir, não que criaraOu ganhara algo como 
resultado, mas que ficara sem mérito. Este fenómeno percorre um 
longo caminho para explicar os períodos de esterilidade e descon 
tentamento que se seguem aos períodos de áctividade criativa no 
caso de certos artistas, e assin aconteceu no caso do artista a quem 
o autor revela-se ao mundo a partir de uma certa distância através dos 
seus livros. As várias artes fornecem assim vérios canais favoráveis 
de expressão para os individuos com uma tendência esquizoide. 
Porque, por meio da actividadé artistica, conseguèm tanto substi- 
tuir o mostrar pelo dar, como, ao mesmo tempo, produzir algo que 
podem continuar a considerar como parte de si mesmos, mesmo 
depois de isso ter passado do mundo-interior para o exterior. 
Outra manifestação importante de preocupação com o mundo 
interior 6 uma tendência para a intelectualizacão; e este é um traço 
esquizoide muito caracteristico. Constitui uma técnica_dafansiva 
extremamente-poderosa;e funciona _como uma resistência formi- 
dável na terapia psicanalitica. A intelectualização.implica-uma_sobre 
avaliação dos processos de pensamento; e esta sobreavaliação do 
pensamento está relacionada .com a dificuldade que o individuo com 
uma tendência esquizoide sente ao estabelecer contactos emocionais 
com outras pessoas. Devido à preocupação-com_o-mundo-interior 
e ao recalcamentodo afecto que segue no seu rasto, tem dificuldade 
em exprimir os seus sentimentos.naturalmente em.relação.a.outros, 
e em agir naturale_espontaneamente nas suas_relações-com eles. 
Isto leva-o a fazer um esforço para organizar os seus problemas 
emocionais intelectualmente no mundo interior. Pareceria que, na 
me referi. 
A fim de mitigar um sentido de empobrecimento que se segue 
ao dar e criar, o individuo com um/componènte esquizoide utiliza 
frequentemente uma defesa interessante. Adopta-a-atitude de que 
o que de oL criOu não.tam valor. Assim, o artista cujo caso foi citado 
perdeu todo o interesse pelos seus quadros uma vez pintados; 
e os quadros teminados eram caracteristicamente ou despejados 
para o canto do estúdio ou tratados simplesmente como mercadoria 
para venda. Do mesmo modo, mulheres de mentalidade semelhante 
por vezes perdem todo o interesse pelos filhos depois de terem 
nascido. Por outro lado, uma forma completamente oposta de defesa 
contra a perda de canteúdo pode ser adoptada por indivíduos com 
atributos esquizoides, porque podem tentar salvaguardar-se contra 
um sentimento de_perda tratando aquilo que produziram como se ainda fizesse_parte do seu_próprio meio interno. Assim, longe de ser indiferente para o filho uma vez nascido, uma mãe pode continuar a considerá-lo à luz do seu próprio conteúdo e consequen temente sobrevalorizá-lo. Essas maes são excessivamente pos sessivas em relação aos filhose incapazes de Ihes concederem o estatuto de pessoas separadas- com consequências graves pard as infelizes crianças. Do mesmo modo, apesar de com resultados menos sérios, um artista pode defenderSe contra um sentimento 
medida em que está em causa a intenção consciente, as suas tenta- 
tivas para resolver os problemas emocionaisintelectualmente se des- 
tinam em primeiro lugar a preparar o caminho para um comporta-
mento adaptável em relação aos objectos extériores; mas, dado que 
os conflitos emocionais oriundos de fontes prôtsndas no inconsciente 
se opõem à sua solução deste modo, tende cada vez mais para subs- 
tituir as soluções intelectuais dos seus problemas emocionais por 
tentativas para alcançar uma solução prática dentrd da esfera emo- 
cional nas suas relações com outros no-mundo exterior. Esta 
ten- 
34 35 
dência é, evidentemente, fortements rerorgadd pelo 
investimens 
oluções inteled ento 
libidinal dos objectos 
interiorizados. 
A procura de soluções i 
emocionais dá assim nização dos process0s de pensamento. Estes individuos estão fre quentemente mais inclinados para çonstruirem sistemas intelectuais de um tipo elaborado do que para desenvolverem relações emocionais 
com outros numa base humana. Existe uma outrá tendência da sua 
parte para fazerem objectos libidinais dos sistemas que criaram. 'Amar o amor seria um fenómenodesta natureza; e os entusiasmos 
esquizoides têm muitas vezes um elemento destes em si. Entusias-
mos deste tipo podem levar a consequências suficientemente desa-
gradáveis para o pretenso objecto-amor; mas, quando encontra 
mos uma personalidade realmente esquizoide apaixonada por alguma 
filosofia política extrema, as consequências tornam-se mais sérias, 
porque a quantidade de vítimas pode então ser de milhões. Tal per- 
sonalidade, quando está apaixonada por um sistema intelectual que 
interpreta rigidamente e aplica universalmente, possui toda a estru 
tura de um fanático-o que na verdade é o que ele é, Mais, quando 
este fanático tem tanto a inclinação como a capacidade para tomar 
atitudes que imponham o seu sistema implacavelmente a outros, 
a situaçao pode tornar-se catastróficaapesar de por vezes poder 
reconhecidamente ser potente tanto para o bem como para o mal. 
Contudo, nem todos os que estão apaixonados por um sistema inte- 
lectual têm o desejo ou a capacidade para impor assim o seu sis- 
tema ao mundo exterior. Na verdade, é muito mais vulgar ficarem 
de fora, em certa medida pelo menos, da vida do mundo quotidiano, 
e olharem dos seus asilos intelectuais para a humanidade vulgar 
com uma atitude superior (a atitude adoptada, por exemplo, por 
membros da intelligentsia em relação à burguesia). 
Nesta altura convém chamar a atenção para o facto de que, 
quando estão em causa indivíduos com uma tendência esquizoide, 
um sentido de superioridade interior está sempre presente em deter- 
minado grau, mesmo quando, como é vulgarmente o caso, isto 
6 
amplamente inconsciente. Muito vulgarmente uma resistência consi 
derável tem de ser vencida antes que a sua presença se manifeste 
durante o tratamento analítico; e uma resistêncja ainda mais mar- 
cada encontra-se quando se fazem esforços para analisar as origens 
de onde ela deriva. Quando as suas origens estão a descoberto, 
contudo, este sentido de superioridade baseia-se.em:(1) uma sobre- 
ori. 
gem a dois 
importantes 
desenvolvimentos: (1) processos de p 
samento tornam-se altamente ioian 
doao pensamento 
tende para_se tornara esfera 
predominante da activida 
da auto expressão; e (2) as ideias 
tendempara se substituirem 
sentimentos, e_os valores intelectuais aos 
valores emocionais. 
No que respeita aos esquízofrénicos reais, a 
substituição dae 
ideias por sentimentos levada 
a_duracoes extremas, Quando 
sentimentos realmente se declaram-hestes 
casos, estão normal. 
tyais para o que 
são realmente 
problemas emo 
os processos de pen- 
dade criativa 
aos 
Os 
mente em completo desacordó 
com o coteúdo ideacional, e s5 ão 
perfeitamente desapropriados 
a ocasiao; ou atenadamente, como em 
casos catatónicos, a expressão 
emocional assúme a forma de aces. 
sos súubitos e violentos. A adopç�a do termo esquizofrenia' baseou-se 
evidentemente, em primeiro lugar na 
observação deste divórcio entre 
pensamento.e.sentimento, sugestivo 
como é de uma clivagem den- 
tro do espirito. Tem agora, 
contudo, que se reconhecer que a cliva. 
gem em questão é 
fundamentalmente uma clivagem no Eu. Aquilo 
que se manifesta à superficie coma um divórcio 
entre pensamento 
e sentimento deve consequenteménte ser interpretado como a refle 
xão de uma clivagem entre (1) uma parte mais superficial do_Eu, 
que representa os seus níveis mais elevadose que inclui o consciente, 
uma parte mais profunda do Euque representa os seus niveis 
inferiores e que inclui aqueles elementos que estão mais dotados de 
libido e são por isso fonte de afecto. Sob o ponto de vista psicana- 
litico dinâmico, esta clivagem só pode ser explicada em termos de 
recalcamento; e, nesta bipótese, só podemos concluir que se trata 
de um_ caso da parte mais profunda e mais libidinal do Eu que é 
recalcada pela parte mais superficial_do Eu, na qual os processos 
de pensamento são mais desenvolvidos. 
No caso de indivíduos em quem os traços esquizoides estão 
presentes apenas em menor grau, o divórcio-entre pensamentoe 
sentimento está, evidentemente, menos marcado. Contudo, há uma 
tendência caracteristica não só para uma substitujção dos valores 
intelectuais por emocionais, mas também para uma elevada libidi- 
37 
36 
avaliação secreta geral do 
conteudopessoal, mental e f 
secreta 
e fisico; 
(2) uma 
_inflaçãonarcisista_do Eu ormunda da posse 
inais interioriza 
revela que ele (ou ela) era considerado.um aluno promissor durante pelo menos_uma.parta da sua_carreira èscolar. Se investigarmos ainda mais as origens desse sentido de diferença dos outros que caracteriza os individuos com um elemento esquizoide na sua per- sonalidade, encontramos provas do seguinte, entre outros traços: (1). que na sua vida inicial adquiriram.a_convicção, quer através de aparente indiferença, quer através de aparente possessividade por parte da mãe de aue esta.os não.amava realmente e os.não avaliava como pessoa com_os seus prÓprios direitos: (2) que, influenciados por um sentido resultante de privação e inferioridade continuaram 
profundamente fixados à m�e; (3) que a atitude libidinal que acom-
panhava esta fixação caracterizava-se não só_por uma extrema dependência, mas também que se tornara altamente auto conserva-
dora e narcisista por ansiedade em relação a uma situação que se 
apresentava como envolvendo uma ameaça para o Eu; (4) que, por 
meio de uma regressão à atitude da_primitiva fase oral, não só se 
intensificou o investimento libidinal de uma 'mãe-seio' iá interiori 
zada, mas também o próprio processo de interiorização se tornoy 
excessivamente alargado às relacões com outros objectos; e (5) que 
resultou uma sobreavaliação geral do interior à custa do mundo 
exterior. 
de e considerável 
identificação com ooiectoslibidinais int 
a 
importancia do 
elemento do segredo, 1sto 
que conta para 
secreto e misterioso 
tão vulgamente 
manifestado por individ.. 
marcadamente esquizoides; 
mas, mesmo no 
caso daqueles em a 
(V.g. o seio maternoeo pénis 
paterno) Serja aqui dificil 
exan 
a 
te 
menor, continua a 
ser um factor importante na situação inconscienta 
A necessidade interior de segredo é, 
evidentemente em_ parte deter 
o componente 
esquizoide desempenha 
um papel relativame 
nte. 
minada pela_culpa acerca da pDosse_de 
objectos interiorizados que 
num sentido são 'raubadosmas ê tambema Am.naomenor 
medida. 
deteminada pelo receio da perda de objectos interiorizados que 
sur 
gem infinitamente preciosos_(mesmo tão 
preciosos como a própria 
vida). e cuia_interiorização_é_ uma medida 
da sua importância ea 
extensãode dependência_deles Aposse secreta destes 
objectos 
interiorizados tem o efeito de levar o individuo a sentir que é 'dife. 
rente das outras pesSoas-mesmo guando nao e, como 
frequente. 
mente acantece realmente excepcionalaU único, 
Quando este sen. 
tido de diferença dos outros é investigado, 
contudo, descobre-se 
que está intimamente 
associado ao sentido de ser o estranho invul. 
gar; e, com individuos em quem 
está presente, os sonhos que encar 
nam o tema de ser deixado de fora são um 
facto comum. Descobriu-se 
demasiado frequentemente que este indivíduo fora o rapaz que, 4. Esvaziamento do objecto como uma implicação da atitude 
apesar de aparentemente ser em casa o 
menino da mam�, era tudo 
menos um rapaz na escola, e que dedicava à realização pessoal no 
estudo a energia que mais vulgarmente os rapazes dedicam à parti- 
cipação em jogos da escola. Por vezes, é certo, a realização pessoal 
pode ter sido procurada dentro da estera do desporto. Mesmo assim, 
contudo, há normalmente provas que mostram que houve dificul- 
dades em relação às relações emocionais dentro do grupo; e, em 
qualquer dos casos, continua a ser verdade que é em direcção à 
realização dentro da esfera intelectual que mais vulgarmente se 
dirigem as tentativas para rodear tais dificuldades. Aqui podemos ja 
detectar provas da operação da defesa intelectual; e é notável quão 
frequentemente a anterior históriade um esquizofrénico autêntico 
libidinal 
O esvaziamento do objecto6 uma implicação da qualidade 
incorporativa da primitiva atitude oralk e, quando chamei 
mais 
cedo a atenção para esta caracteristica procedi a uma certa 
explicação das suas consequências psicológicas para 
a criança. 
Assim, foi salientado como, em circunstâncias de privação, 
a ansie- 
dade que surge no espírito da criança acerca do seu próprio 
vazio dá 
lugar à ansiedade sobre o vazio que afecta o seio da 
mãe. Foi tam- 
bém salientado como ela interpreta qualquer vazio aparente 
ou real 
do seio da m�e como se fosse 
devido às suas próprias tensões 
incorporativas, e como ela mantém 
a ansiedade pelo facto de ser 
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ent responsável pelo desaparecimento 
e destruição, não simplee. 
do seio da måe, mas de sua próprie 
mde-ansiedade considere ravel 0sta faso pré-ambivalente representa a primeira maneira do indivlduo 
exprimir amor. A relação oral da crlança com a måe na situação de 
memar representa a sua primeirs oxperiência de uma relação de amor, 
6, por isso, a fundação sobre á qual se baseiam todas as suas futuras 
rolaçöos com os objoctos de amor, Roprosenta também a sua primeira 
experi@ncia de uma relaçho social; o por isso forma a base da sua 
atitudo subsequente para com a sociedade. Com estas considerações 
no esplrito, voltemos à situação quo surge quando a criança que 
está fixada na primitiva fase oral sente que não é realmente amada 
nem apreciada como uma pessoa pela måe, e que ela realmente não 
aprecia e aceita o seu amor como bom. 0 que acontece nestas cir- 
cunstancias é que a situação traumática original da primitiva fase oral 
se torna emocionalmentoe reactivada e reintegrada; e a criança sente 
então que a razão para a aparente falta de amor da mãe em relação 
a si 6 o facto de ela ter destruldo a sua afeição e a ter feito desaparecer. 
Ao mesmo tempo, sente que a razão para a sua aparente recusa em 
aceitar o seu amor éo facto de o seu próprio amor ser destrutivo e mau. 
Esta 6, evidentemente, uma situação inftnitamente mais intolerável 
do quo a situação comparável que surge no caso 
de uma criança 
fixada na última fase oral. No último caso, a criança, sendo 
essencial- 
mente ambivalente, interpreta a situação no sentido de que 
o seu 
ódio, e não o seu amor, que destruiu a afeição 
da mãe. E então no 
seu ódio que Ihe parece residir a sua maldade; 
e o seu amor assim 
capaz de continuar a ser bom a seus 
olhos. Esta é a posição que pare-
ceria estar na base da psicose manlaco-depressiva, 
e constituir a 
posição depressiva. Contrastantemente, 
a posição que está na base 
de desenvolvimentos esquizoides pareceria ser a que surge na pri 
mitiva fase oral pré-ambivalento- 
a posição na qual o individuo 
sente que o seu amor é mau porque 
parece destrutivo em relação 
aos seus objectos libidinais;e isto pode 
apropriadamente descre- 
vor-so como a posição esquizoide. Reprosenta uma 
situação essen 
cialmente trágica; e fornece o tema 
a muitas das grandes tragédias 
da literatura, assim como fornece 
um tema favorito à poesia (como 
no caso dos poemas Lucy de 
Wordsworth). Não admira, pois, que 
individuos com uma considerável 
tendôncia esquizoide experimen 
tem esta dificuldade ao 
mostrar amor; porque sempre 
mantiveram a 
mente aumentede pelo efeito 
de privação ao transmitir uma quali 
dede agressiva à sua necessidade 
libidinal. Esta ansiedade enco contra 
uma expressio cléssica no conto de fadas 'A Menina do Capuchia 
Vermelho'. Na história, como se lembram, a rapariguinha descoo 
para seu horror que a avó, a quem amava, desaparecera, e que l 
ficara sozinha com a sua necessidade incorporativa na fornma 
um lobo devorador. A ragédia do Capuchinho Vermelho é a tra 
gédia de criança na primitiva fase oral. Claro que o conto de fadas 
acabe bem, como acontece com os contos de fadas. E, claro, a criança 
de mama descobre que a m�e, que receia ter comido, reaparece 
eventualmete de novo. Contudo, na sua infancia, as crianças, ape. 
sar de não Ihes falter inteligðncia, mesmo assim têm falta de expe 
riêncie organizada a partir da qual poderiam de outro modo roadqu 
rir segurança contra a sua ansiedede Em devido tempo adquirem 
conhecimento consciente suficiente para saberem que de facto as 
mães não desaparecem em consequência da destruição aparonte 
provocada pelas suas necessidades incorporativas; o toda a experiðn-
cia da situação traumática oriùnda da -prlvação durante a primitiva 
fase oral fice sujsita ao recalcamento. Ao mesmo tempo, a ansiedade 
ligada a esta situação persiste na inconsciente, pronta a reactivar-se 
por meio de alguma experiência subsequente de tipo análogo. Na presençe de ume fixação marcada na primitiva fase oral, a situação traumátice esté particularmente sujeita a ser roactivada se a criança mais tarde sentir que realmente não é amada o aprociada como uma pessoe pele mãe, e que realmente ela não aprecia nem aceita o seu amor como bom. 
E importante ter em conta a distinção entre a situação que surge ne primitive fese oral ea que surge duranto a última fase oral, quando emerge & tendência para morder e toma lugar lado a lado com a ten déncie pare sugar. Na útima fase orel, ocorre uma diferenciação entro amor oral, associado a0 sugar, e o ódio oral, associado ao morder; eo desenvolvimento de embivalência é uma consequência deste facto. A primitive fase oral é pré-ambivalente: e isto 6 especialmente impor tente & luz do facto de que o comportamento oral da criança duranto 
de 
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profunda ansiedade expressa por Oscar Wilde em The Ballad of 
Reading Geol, ao escrever: «Todos os homens matam aquilo que 
amam. Também não admira que sintam dificuldades em dar emo- 
cionalmente; porque nunca escaparam inteiramente ao receio de as 
suas dádivas serem mortais, como as dádivas de um Borgia. E dai 
a observação de um paciente meu, que, depois de me trazer um pre- 
sente de fruta, iniciou a sessão do diáa seguinte com a pergunta: 
'Foi envenenado? 
Estamos agora em posição de apreciar que o individuo com 
uma tendência esquizoide tem outro motivo para manter o seu amor 
dentro de si além daquele que é oriundo do sentimento de que ele 
é demasiado precioso para o abandonar. Mantém também.encerrado 
seu amor porque sente que. demasiado perigoso para os seus 
obiectos libertá-lo, Assim, não só mantém em segurança o seu amo, 
mas mantém-no também numa gaiola. Contudo, o' assunto não ter- 
mina ai. Dado que sente que o seu próprio amor é mau, está pronto 
a interpretar o amor dos outros em termos semelhantes. Esta inter 
pretação não implica necessariamente projecção da sua parte; mas, 
evidentemente, está sempre apto a recorrer a esta técnica defensiva. 
Ela está ilustrada, por exemplo, no conto de fadas 'O Capuchinho 
Vermelho', a que já se fez referência; porque, apesar do lobo, como 
vimos, representar o seu próprio amor incorporativo oral, a história 
também nos diz que o lobo toma o lugar da avó na cama-o que 
significa, claro, que atribui a sua própria atitude incorporativa ao 
seu objecto libidinal, que então parece transformar-se num lobo 
devorador. Então acontece que o indivíduo com características 
esquizoides está pronto a erguer defesas, não só contra o seu amor 
pelos outros, mas também contra o amor deles; e foi por causa disto 
gue uma ijovem_ bastante esquizoide, minha paciente, costumava por 
vezes dizer-me: 'Faça o que fizer, mas nunca goste de mim." 
Quando, consequentemente, um indivíduo com uma tendência 
esquizoide renuncia aos contactos sociais, isso acontece sobretudo 
porque sente que não deve nem amar nem ser amado. Contudo, nem 
sempre se satisfaz com um mero distanciamento passivo. Pelo con- trário, muitas vezes toma medidas activas para afastar de si os seus objectos libidinais. Para este fim possui um instrumento à mão den- 
tro de si na forma da sua própria agressão diferenciada. Mobiliza os recursos do seu ódio, e dirige a sua agressão contra outros --e mais particularmente contra osseus objectos libidinais. Assim, pode dis- cutir com as pessoas, ser inconveniente, mal-educado. Ao proceder assim, n�o só substitui o ódio pelo amor nas suas relações com os 
seus objectos, mas também os induz a odiá-lo, em vez de o amarem 
e faz tudo isto a fim de manter a distância os seus objectos libidinais. Como os trovadores (e talvez como também os ditadores), pode 
apenas permitir-se amar e ser amado à distância. Esta é a segunda 
grande tragédia a que estão sujeitos individuos com uma tendência 
esquizoide. A primeira é, como vimos, o facto de sentir que o seu 
amor é destruidor daqueles que ama. A segunda surge quando fica 
sujeito a uma compulsão para odiar e ser odiado, enquanto durante 
todo o tempo aspira profundamente a amar e a ser amado. 
Há, contudo, outros dois motivos, pelos quais um individuo com 
uma tendência esquizoide pode ser levado a substituir o ódio pelo 
amor-curiosamente um 6 um motivo imoral e o outro moral; 
e incidentalmente observar-se-á que são motivos especialmente 
poderosos no caso dos revolucionários e quislings. O motivo imo- 
ral é determinado pela consideração de que, dado que a alegria do 
amor parece estar-lhe proibida, pode também entregar-se à alegria 
do ódio e tirar daltoda.a.satisfação que possa. Faz assim um pacto 
com o Diabo e diz: "Que o Mal seja o meu bem'. O motivo moral16 
determinado pela consideração de que, se amar envolve destruir, 
é melhor destruir pelo ódio, que é abertamente destrutivo e mau, 
do que destruir pelo amor, que é, de origem, criativo e bom. Quando 
estes dois motivos estão em causa, portanto, estamos perante umna 
espantosa inversão de valores. Torna-se um caso não só de 'Quue 
o Mal seja o meu bem', mas também de 'Que o Bem seja o meu mal. 
lsto é uma inversão de valores, deve acrescentar-se, que raramente 
é aceite conscientemente; mas é, n�o obstante, uma 
inversão que 
muitas vezes desempenha um papel extremamente importante 
no 
inconsciente- e que isto é assim é a terceira grande tragédia para 
a qual estão aptos os indivíduos com uma tendência esquizoide. 
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