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1 Sociologia I

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Prévia do material em texto

ENSINO 
MÉDIO
SOCIOLOGIA 1SÉRIEa-
Capa_Sociologia FINAL.indd 4 18/11/16 18:39
SOCIOLOGIA
Nelson Dacio Tomazi
 INTRODUÇÃO
Conhecendo a sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2
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CAPÍTULO
Introdução
CAPÍTULOCAPÍTULOCAPÍTULOCAPÍTULOCAPÍTULOCAPÍTULO
 CONHECENDO A SOCIEDADE
Por que estudar a sociedade em que vivemos? É possível conhecer a sociedade por meio da 
ciência? A Sociologia serve para quê? Muitos alunos fazem essas e outras perguntas em seus primeiros 
contatos com a disciplina. Vamos procurar respondê-las neste livro.
Podemos dizer, inicialmente, que, ao estudar Sociologia, assim como as demais ciências humanas 
(História, Ciência Política, Economia, Antropologia etc.), temos como objetivo compreender e expli-
car as permanências e as transformações que ocorrem nas sociedades humanas e indicar algumas 
pistas sobre os rumos das mudanças.
A produção de explicações sobre a vida e sobre as sociedades é uma necessidade dos seres 
humanos. Vivendo em sociedade, participamos dessa produção. 
Introdução
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Das relações pessoais aos grandes 
conflitos mundiais, a Sociologia 
investiga os problemas que afetam 
nosso cotidiano, evidenciando a 
estreita relação entre as questões 
individuais e 
as questões sociais. Na imagem 
A: as Torres Gêmeas, em Nova York, 
Estados Unidos, momentos antes do 
ataque do segundo 
avião, em 11 de setembro de 2001. 
Na imagem B: o conflito árabe-
-israelense suspenso no abraço 
de dois garotos, um palestino e 
um israelense, em Israel, 2003. Na 
imagem C: curdos da Síria ocupam 
campo de refugiados no norte do 
Iraque, em agosto de 2012.
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Introdução
Qual é o campo de estudo da Sociologia? 
Ao estudar Sociologia, procuramos entender os elementos essenciais do funcionamento de 
uma sociedade e encontrar respostas a questões como estas:
 Por que as pessoas agem e pensam de uma forma e não de outra?
 Por que as pessoas se relacionam umas com as outras de determinada maneira, normalmente 
padronizada?
 Por que existem tantas desigualdades nas sociedades humanas?
 Por que existem a política e as relações de poder na sociedade?
 Quais são nossos direitos e o que significa cidadania?
 Por que existem movimentos sociais com interesses tão diversos? 
 O que é cultura? Qual é a relação entre cultura e ideologia? Como elas estão presentes nos meios 
de comunicação de massa?
A Sociologia nos ajuda a entender melhor essas e outras questões que envolvem nosso cotidia-
no, sejam elas de caráter individual ou coletivo, sejam, ainda, relativas à sociedade à qual pertencemos 
ou a todas as sociedades. O fundamental da Sociologia, porém, é nos fornecer conceitos e outras 
ferramentas para analisar as questões sociais e individuais de modo sistemático e consistente. Por 
meio da Sociologia, obtemos um conhecimento científico sobre a realidade social. 
Como lembrou o sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962), a Sociologia con-
tribui ainda para desenvolver nossa imaginação sociológica, isto é, nossa capacidade de analisar ex-
periências cotidianas e estabelecer relações entre elas e situações mais amplas que nos condicionam 
e nos limitam, mas que também podem explicar o que acontece em nossa vida.
A Sociologia nos ajuda ainda a pensar de modo independente, oferecendo instrumentos para 
analisar o conteúdo dos jornais e de sites da internet, as novelas da televisão, os telejornais, os progra-
mas do rádio e as entrevistas das autoridades. Por meio da análise e do 
questionamento, percebemos o que os meios de comunicação ocultam 
e formamos nosso ponto de vista sobre os fatos.
Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), a Sociolo-
gia, quando se coloca numa posição crítica, incomoda muito, porque, 
como outras ciências humanas, revela aspectos da sociedade que certos 
indivíduos ou grupos se empenham em ocultar. Se esses indivíduos e 
grupos procuram impedir que determinados atos e fenômenos sejam 
conhecidos do público, de alguma forma o esclarecimento de tais fatos 
pode perturbar seus interesses ou mesmo concepções, explicações e 
convicções.
A produção social do conhecimento
Todo conhecimento se desenvolve socialmente. Se quisermos 
compreender como pensavam as pessoas de determinada época, pre-
cisaremos saber em que meio social elas viveram, pois o pensamento de um período da história 
é formado pelos indivíduos em grupos ou camadas sociais, reagindo e respondendo a situações 
históricas de seu tempo.
Se quisermos saber por que os indivíduos pensam de determinada forma ou por que explicam 
a sociedade deste ou daquele ponto de vista, precisaremos entender como eles se relacionam e se 
organizam para suprir suas necessidades fundamentais. As relações sociais envolvem ideias, normas, 
valores, costumes e tradições que, juntos, permitem compreender por que as sociedades podem ser 
tão diferentes umas das outras. 
Na maioria das sociedades, há indivíduos e grupos que defendem a manutenção da situação 
existente (o status quo) porque esta atende a seus interesses. Assim, procuram apoiar e desenvolver 
formas de explicação da realidade que justifiquem a necessidade de conservar a sociedade tal como 
está. Há, entretanto, pessoas e grupos que querem mudar a situação existente, pois não acham que 
a sociedade à qual pertencem é boa para elas e para os outros. Tais pessoas procuram explicar a 
realidade social destacando seus problemas e as possibilidades de mudança para uma forma de 
organização que assegure maior igualdade entre os indivíduos e grupos.
Onde está a autonomia de 
um indivíduo aprisionado aos 
meios de comunicação? 
A televisão é uma caixa vazia 
de conteúdo, como sugere 
a charge de Laerte? Poderia 
ser diferente? Questionando 
as situações do dia a dia, o 
pensamento sociológico 
estimula uma postura crítica 
em relação às vivências que 
nos condicionam e limitam.
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4 Introdução
Aqueles que querem manter a situação normalmente são os que detêm o poder na sociedade; 
aqueles que lutam para mudá-la são os que estão em situação subalterna. Além do conflito de in-
teresses no campo político e econômico, há um conflito de ideias entre os diferentes grupos sociais. 
Mas as ideias e formas de conhecimento nunca são radicalmente opostas. Elas coincidem em alguns 
pontos e divergem em outros, e é isso que mantém aberta a possibilidade de diálogo.
A Sociologia é uma dessas formas de conhecimento, resultado das condições sociais, eco-
nômicas e políticas do tempo em que se desenvolveu. Ela nasceu da necessidade de entender as 
transformações que ocorreram nas sociedades ocidentais entre o século XVI e o início do século XIX, 
decorrentes da emergência e do desenvolvimento do capitalismo.
Durante esses séculos a produção, que se concentrava no campo, passou a se deslocar para as 
cidades, onde começavam a se desenvolver as indústrias. Essa mudança desencadeou importantes 
transformações no modo de vida das pessoas de diferentes camadas sociais, afetando as relações 
familiares e de trabalho. Pouco a pouco, as normas e os valores se estruturaram em outras bases, 
estimulando o desenvolvimento de novas ideias.
Grandes transformações políticas também ocorreram, no contexto do que se chama de Re-
volução Industrial, impulsionadas por movimentos como a Guerra de Independência dos Estados 
Unidos (1775-1783) e a Revolução Francesa (1789).
Procurando entender essas transformações e encontrar caminhos para a resolução das ques-
tões sociais por elas geradas, vários pensadores, como o Conde de Saint-Simon (1760-1825), Au-
guste Comte (1798-1857) e Karl Marx 
(1818-1883), elaboraram e divulgaram 
suas teorias sobre a sociedade ante-
rior e a que estava se constituindo. 
Formaram-se assimas bases sobre 
as quais a Sociologia viria a se definir 
como ciência.
Entre o final do século XIX e o início do século 
XX, os estudiosos que mais iriam influenciar o posterior 
desenvolvimento da Sociologia concentravam-se fun-
damentalmente em três países: França, 
Alemanha e Estados Unidos.
Esses estudiosos, por meio de pes-
quisas e reflexões, dialogavam com a 
sociedade da qual faziam parte, não se 
contentando com as noções e explica-
ções até então estabelecidas. Por isso, 
procuraram ultrapassar o senso comum 
e elaboraram conceitos e teorias sobre as-
Acima, charge inglesa 
de 1848 (de autor 
desconhecido) satiriza a 
luta das mulheres pela 
igualdade de direitos, 
especialmente o direito ao 
voto, só conquistado em 
1818. À direita, mulheres 
egípcias comemoram 
resultado da primeira 
eleição presidencial após 
três décadas de ditadura 
no país.
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Frontispício do Discurso sobre o espírito 
positivo, obra do francês Auguste Comte 
publicada em 1848.
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Páginas de blogs dedicados à Sociologia (ativos em 2013).
HTTP://MANGUEVIRTUAL.BLOGSPOT.COM.BR/
HTTP://WWW.CAFECOMSOCIOLOGIA.COM/
HTTP://CIENCIASSOCIAISNAREDE.BLOGSPOT.COM.BR/
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Introdução
pectos da sociedade que a maioria das pessoas não questionava.
No século XX, a Sociologia tornou-se uma disciplina mundialmente reconhecida. Hoje, os soció-
logos estão presentes não só nas universidades, mas também nos meios de comunicação, discutindo 
questões específicas ou gerais que envolvem a vida em sociedade. Os mais destacados, independen-
temente do país de origem, ministram cursos e conferências em centros universitários de todos os 
continentes e têm seus livros traduzidos em vários idiomas.
No Brasil, a Sociologia tem alcançado uma visibilidade muito grande, seja por causa da pre-
sença em todo o território nacional de institutos de pesquisa social ou cursos de graduação e de 
pós-graduação, seja pela atuação de sociólogos em muitos órgãos públicos e privados e nos meios 
de comunicação de massa.
A pesquisa como fundamento do conhecimento sociológico
Desde suas origens, o conhecimento sociológico foi constituído com base em muita pesquisa. 
Para desenvolver suas análises, os sociólogos observaram a realidade social de seu tempo, promo-
veram investigações históricas, documentais e bibliográficas, coletaram e organizaram dados e for-
mularam interpretações.
O objeto de suas pesquisas variava dos fenômenos mais simples até os mais complexos. O tra-
balho de Florestan Fernandes (1920-1995), importante sociólogo brasileiro, demonstra a diversidade 
e as possibilidades da pesquisa sociológica.
Nas décadas de 1940 e 1950, Florestan Fernandes estudou as mudanças sociais na cidade de 
São Paulo. Para tanto, pesquisou o folclore paulistano e as brincadeiras das crianças no bairro do 
Bom Retiro. Sua pesquisa deu origem ao livro Folclore e mudança social na cidade de São Paulo, 
publicado em 1961. 
Nesse período, o sociólogo também pesquisou a sociedade tupinambá, que foi assunto de 
dois livros: Organização social dos tupinambás (1949) e A função social da guerra na sociedade 
tupinambá (1952). 
Em 1959, publicou Fundamentos empíricos da explicação sociológica, uma obra teórica funda-
mental para a compreensão e o ensino da Sociologia, na qual analisou a contribuição metodológica 
de autores clássicos. Com a preocupação de explicar questões teóricas e históricas da Sociologia, 
escreveu Ensaios de sociologia geral e aplicada (1960), Elementos de sociologia teórica (1970), Socio-
logia numa era de revolução social (1976), A sociologia no Brasil (1977) e A natureza sociológica da 
sociologia (1980).
Outro tema pesquisado na década de 1950 por Florestan Fernandes, em parceria com o so-
ciólogo Roger Bastide, foi a condição do negro na sociedade brasileira. Em 1958, os dois escreveram 
o livro Brancos e negros em São Paulo. Nas décadas seguintes, Fernandes retomou a pesquisa desse 
tema e publicou os livros A integração do negro na sociedade de classes (1965) e O negro no mundo 
dos brancos (1972).
A educação também foi objeto de pesquisa para Florestan Fernandes. Sobre esse assunto, ele 
escreveu uma série de artigos e dois livros: Educação e sociedade no Brasil (1966) e Universidade bra-
sileira: reforma ou revolução (1975).
Sobre as questões políticas de seu tempo, vinculadas às classes sociais e às possibilidades de 
mudança social, Fernandes escreveu vários livros nas décadas de 1970 e 1980: A revolução burguesa 
no Brasil: ensaio de interpretação sociológica (1975), Circuito fechado: quatro ensaios sobre o “poder 
institucional” (1976), Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana (1979), Apontamentos sobre a 
“teoria do autoritarismo” (1979), Brasil: em compasso de espera (1980), Movimento socialista e partidos 
políticos (1980), Poder e contrapoder na América Latina (1981) e A ditadura em questão (1982).
Hoje a Sociologia desenvolve-se com base em pesquisas realizadas por milhares de sociólogos 
que se utilizam das mais variadas técnicas, tendo como objeto os mais diversos temas, abordados de 
diferentes perspectivas teóricas. O resultado dessa diversidade é uma multiplicidade de interpreta-
ções, muitas das quais sobre o mesmo fenômeno social. Essa é a riqueza da Sociologia.
Aprender a pensar sociologicamente implica, assim, fazer pesquisas, mesmo que sejam pe-
quenas. Por isso, ao longo deste livro vamos indicar temas diversos para pesquisas na seção Para 
pesquisar, que poderão ser desenvolvidos com a ajuda do professor.
No final deste livro há uma 
exposição mais detalhada sobre 
a história da Sociologia.
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Capa dos livros Fundamentos 
empíricos da explicação 
sociológica e A integração do 
negro na sociedade de classes, 
obras representativas do 
trabalho teórico e da pesquisa 
sociológica desenvolvidos no 
Brasil por Florestan Fernandes.
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6 Introdução
PARA PRATICARPARA REFLETIR
Possibilidades do conhecimento sociológico
[…] Em face do mundo considerado familiar, governado por rotinas capazes de reconfirmar crenças, a sociologia pode 
surgir como alguém estranho, irritante e intrometido. Por colocar em questão aquilo que é considerado inquestionável, 
tido como dado, ela tem o potencial de abalar as confortáveis certezas da vida, fazendo perguntas que ninguém quer se 
lembrar de fazer e cuja simples menção provoca ressentimentos naqueles que detêm interesses estabelecidos. […]
[…]
Há quem se sinta humilhado ou ressentido se algo que domina e de que se orgulha é desvalorizado porque foi ques-
tionado. Por mais compreensível, porém, que seja o ressentimento assim gerado, a desfamiliarização pode ter benefícios 
evidentes. Pode em especial abrir novas e insuspeitadas possibilidades de conviver com mais consciência de si, mais com-
preensão do que nos cerca em termos de um eu mais completo, de seu conhecimento social e talvez também com mais 
liberdade e controle.
Para todos aqueles que acham que viver a vida de maneira mais consciente vale a pena, a sociologia é um guia bem-
-vindo. […] 
[…]
Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação à diversidade, daí decorrendo sentidos 
afiados e olhos abertos para novos horizontes além das experiências imediatas, a fim de que possamos explorar condições 
humanas até então relativamente invisíveis. […]
[…] A arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade. Quanto 
mais disso aprender, mais o indivíduo será flexível diante da opressão e do controle, e portanto menos sujeito a manipu-
lação. […]
[…] Nesse sentido, pensar sociologicamente significa entender de um modo um pouco mais completo quem nos 
cerca, tanto em suas esperanças e desejos quantoem suas inquietações e preocupações. […]
[…] Pensar sociologicamente, então, tem um potencial para promover a solidariedade entre nós, uma solidariedade 
fundada em compreensão e respeito mútuos, em resistência conjunta ao sofrimento e em partilhada condenação das cruel-
dades que o causam. […]
Bauman, Zygmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. p. 24-26.
LEITURAS E ATIVIDADES
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O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em 2012. À direita, capa de seu livro Aprendendo a pensar com a sociologia, escrito em parceria com Tim May
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Introdução
1 De acordo com o texto, por que o pensamento sociológico “tem o potencial de abalar as confortáveis certezas da vida”?
2 A Sociologia pode contribuir para que haja mais liberdade de pensamento e de ação? Recorra a elementos do texto para fun-
damentar sua resposta.
PARA ORGANIZAR O CONHECIMENTO
Sociologia: ciência da sociedade
[…]
A ideologia das revoluções do século XVIII pretendera circunscrever as relações da sociedade ao plano atomizado 
do indivíduo e do Estado. Destruíra aquelas “esferas sagradas da vida social” pela destruição dos privilégios de casta e de 
ordem, pela proscrição das corporações de ofício e das barreiras à economia de lucro e à concorrência, pelo novo con-
ceito de educação […]. Cabia, entretanto, ao lado da demolição da ordem social do passado […] racionalizar a constru-
ção de uma ordem nova, e com esta missão nasceu a sociologia.
[…]
Traduzindo a relação que existe entre o pensamento e a organização social, sofrendo as influências particulares das 
sociedades em que viviam e da posição que dentro de cada sociedade assumiam, e dos pontos de partida filosóficos em 
que se fundavam, os criadores da ciência da sociedade conseguiram lançar as bases da nova ciência na proporção em que 
refletiram, em suas obras, os problemas sociais de seu tempo […].
Do ponto de vista estritamente metodológico, os postulados tácitos ou explícitos, contidos na obra dos criadores da 
sociologia, são os seguintes:
1 – o reconhecimento de que os fenômenos sociais existem fora das cons ciên cias individuais, como realidade obje-
tiva, e que os processos da organização social não são meros reflexos das ideias dos homens;
2 – a verificação de que existe uma estreita e crescente interdependência das várias partes da estrutura social, que é 
uma realidade complexa, em constante transformação, cujas leis devem ser encontradas na própria vida social e não no 
arbítrio dos demiurgos;
3 – a constatação da possibilidade de se estudar objetivamente a vida social, distinguindo o modo científico de en-
cará-la da atitude utópica que diante dela assumiu, anteriormente, o pensamento social;
4 – o reconhecimento – insinuado ou proclamado – da necessidade de estudar o processo social antes de nele tentar 
intervir, intervenção que é feita sempre como contribuição ao esforço para conservar ou para transformar a ordem social 
existente.
Costa Pinto, Luiz de Aguiar. Sociologia e desenvolvimento: temas e problemas de nosso tempo. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986. p. 42-43.
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Capa dos livros O negro no Rio de Janeiro e Sociologia e 
desenvolvimento, ambos de Luiz de Aguiar Costa Pinto (1920-2012).
1 Com base no texto de Costa Pinto e no conteúdo apresentado nesta introdução, caracterize o contexto histórico do surgimen-
to do pensamento sociológico.
2 Identifique as distinções, apontadas no texto, entre o “modo científico” de encarar a vida social e a “atitude utópica” diante dela.
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8 Introdução
PARA PRATICARLIVROS RECOMENDADOS
O que é sociologia, de Carlos B. Martins. São Paulo: Brasiliense.
Nesse pequeno livro da coleção “Primeiros passos”, Carlos B. Martins 
faz uma análise do surgimento da Sociologia e de várias correntes so-
ciológicas. Com linguagem clara e acessível, é uma boa leitura inicial 
de Sociologia. 
Pensando com a Sociologia, de João Marcelo Ehlert Maia e Luiz Fer-
nando Almeida Pereira. Rio de Janeiro: FGV.
Os autores desse livro apresentam uma introdução ao pensamento 
sociológico e análises sobre alguns temas importantes, como cidada-
nia, direitos, cultura e violência. Linguagem fácil e compreensível faz 
desse livro um bom instrumento para conhecer melhor a Sociologia. 
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ANOTAÇÕES
Gerente editorial: M. Esther Nejm
Editor responsável: Glaucia Teixeira M. Thomé
Coordenador de revisão: Camila Christi Gazzani
Revisores: Cesar G. Sacramento, Eduardo Sigrist, Elza 
Gasparotto, Felipe Toledo
Coordenador de iconografia: Cristina Akisino
Pesquisa iconográfica: Cesar Atti
Licenciamento de textos: Érica Brambila
Gerente de artes: Ricardo Borges
Coordenador de artes: José Maria de Oliveira
Produtor de artes: Narjara Lara
Assistentes: Jacqueline Ortolan, Paula Regina Costa 
de Oliveira
Ilustrações: Alex Silva, Luigi Rocco, Rogerio Soud
Cartografia: Mario Yoshida, Portal de Mapas
Tratamento de imagens: Emerson de Lima
Produtor gráfico: Robson Cacau Alves
Projeto gráfico de miolo: Daniela Amaral, Talita 
Guedes
Projeto Sistema SESI de Ensino
Gestão do Projeto: Thiago Brentano
Coordenação do Projeto: Cristiane Queiroz
Coordenação Editorial: Simone Savarego, Rosiane 
Botelho e Valdete Reis
Revisão: Juliana Souza
Diagramação: Lab 212
Capa: Lab 212
Imagens de capa: Aurielaki/Golden Sikorka/Sentavio/
Macrovector/Shutterstock
Consultores
Coordenação: Dr. João Filocre
Sociologia: Dra. Vera Alice Cardoso da Silva
SESI DN
Superintendente: Rafael Esmeraldo Lucchesi 
Ramacciotti
Diretor de Operações: Marcos Tadeu de Siqueira
Gerente Executivo de Educação: Sergio Gotti
Gerente de Educação Básica: Renata Maria Braga 
dos Santos
 
Todos os direitos reservados por SOMOS Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
Pinheiros – São Paulo – SP
CEP: 05425-902
(0xx11) 4383-8000
© SOMOS Sistema de Ensino S.A.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Sociologia : Ensino médio 301
2016
ISBN 978 85 08 18420 0 (AL)
ISBN 978 85 08 18421 7 (PR)
3ª edição
1ª impressão
Impressão e acabamento
Uma publicação
Tomazi, Nelson Dacio
 Sistema de ensino ser : sociologia : 1º ano : 
professor / Nelson Dacio Tomazi. — 3. ed. — São 
Paulo : Ática, 2017.
 1. Sociologia (Ensino médio) I. Título.
16-08238 CDD-301
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A sociedade dos indivíduos
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A sociedade dos indivíduos
SOCIOLOGIA
Nelson Dacio Tomazi
 A SOCIEDADE DOS INDIVÍDUOS
1 O indivíduo, sua história e a sociedade. . . . . . . . . . . 12
Nossas escolhas, seus limites e repercussões . . . . . . . . 13
Das questões individuais às questões sociais . . . . . . . .14
2 O processo de socialização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
O que nos é comum. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
As diferenças no processo de socialização . . . . . . . . . .18
Tudo começa na família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
3 As relações entre indivíduo e sociedade. . . . . . . . . . 23
Karl Marx, os indivíduos e as classes sociais . . . . . . . .23
Émile Durkheim, as instituições e o indivíduo. . . . . . . . .24
Max Weber, o indivíduo e a ação social . . . . . . . . . . . . .25
Norbert Elias e Pierre Bourdieu:
a sociedade dos indivíduos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
 Conexão de saberes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
 Leituras e atividades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
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MÓDULO
A sociedade dos indivíduos
O que vem primeiro: o indivíduo ou a sociedade?Os indiví duos mol-
dam a sociedade ou a sociedade molda os indivíduos? Podemos dizer 
que indivíduos e sociedade fazem parte da mesma trama, tecida pelas 
relações sociais. Não há separação entre eles.
Nós, seres humanos, nascemos e passamos nossa existência em 
sociedade porque precisamos uns dos outros para sobreviver. O fato de 
dependermos uns dos outros significa que não temos autonomia? Até 
que ponto dispomos de liberdade para decidir e agir? Até que ponto 
somos condicionados pela sociedade? A sociedade nos obriga a ser o 
que não queremos? Podemos mudar a sociedade?
Para estudar essas questões, os sociólogos desenvolveram alguns 
conceitos, como socialização, instituição, hierarquia e poder, e geraram 
uma diversidade de análises. Algumas das principais serão examinadas 
nesta unidade.
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Apresentação de maracatu em Paraty, Rio de Janeiro, 2012.
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12 A sociedade dos indivíduos
CAPÍTULO
Objetivos:
c Compreender o 
conhecimento científico 
como resultado do 
trabalho de gerações 
de seres humanos em 
busca da compreensão 
do mundo.
c Enfatizar a importância 
de conceitos básicos 
para a compreensão 
da história cotidiana.
1 O indivíduo, sua história e a sociedade
Quando analisamos as diversas formas de sociedade e o modo como elas se organizaram histo-
ricamente, percebemos que, no Ocidente, só recentemente a noção de indivíduo ganhou relevância.
Nas sociedades tribais (indígenas), nas da antiguidade (grega e romana) e na Europa medieval, 
apesar das diferenças naturais entre os indivíduos, não se dissociava a pessoa de seu grupo.
Na Europa ocidental, a ideia de indivíduo começou a ganhar força no século XVI, com a Re-
forma Protestante. Os participantes desse movimento religioso afirmavam que o indivíduo podia 
se relacionar diretamente com Deus, sem a necessidade de intermediários institucionais — no caso, 
os padres, bispos, cardeais ou outros sacerdotes da Igreja Católica. Isso significava afirmar que o ser 
humano, individualmente, tinha certa autonomia e liberdade para decidir sobre sua vida.
Mais tarde, no século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo e do pensamento liberal, 
a ideia de indivíduo e de individualismo firmou-se definitivamente, pois se colocava a felicidade 
humana no centro das atenções.
Não se tratava, entretanto, da felicidade como um todo, mas de sua expressão material. Impor-
tava o fato de a pessoa ser possuidora de imóveis, de bens, de dinheiro ou apenas de sua capacidade 
de trabalho. No século XIX essa visão estava estabelecida, e a sociedade capitalista, consolidada.
Mas como indivíduos se relacionam com determinadas regras e normas e formam uma 
sociedade? A Sociologia dispõe de um conceito importante para investigar essa questão: 
o de socialização.
O processo de socialização, que examinaremos com mais detalhes no próximo capítulo, começa 
na família, passa pela escola e continua nos meios de comunicação. Inclui ainda o convívio com os mo-
radores do bairro, os membros da igreja, o grupo que frequenta o clube ou participa das festas popu-
lares. Afinal, nosso dia a dia é pontuado por relações que não se restringem a nossa casa, ao bairro ou 
à cidade em que nascemos e vivemos.
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A noção de indivíduo tem suas origens 
históricas na Reforma Protestante. Na 
imagem ao lado, representação do massacre 
de protestantes por católicos em Paris, em 
24 de agosto de 1572. O episódio, conhecido 
como Massacre da Noite de São Bartolomeu, 
foi um dos desdobramentos políticos da 
divisão entre católicos e protestantes na 
Europa. O autor da tela, datada de 1576, é 
François Dubois.
Veja, no Guia do Professor, o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo.
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A sociedade dos indivíduos
 NOSSAS ESCOLHAS, SEUS LIMITES E 
REPERCUSSÕES
Quando nascemos, já encontramos prontos valores, normas, costumes e práticas sociais. Tam-
bém encontramos uma forma de produção da vida material que se estrutura de acordo com deter-
minados padrões sociais, econômicos e políticos. Muitas vezes, não temos como interferir nem como 
fugir dessas regras já estabelecidas.
A vida em sociedade é possível, portanto, porque seus integrantes falam a mesma língua, são 
julgados por determinadas leis comuns, usam a mesma moeda, além de ter uma história e alguns 
hábitos comuns, o que lhes dá um sentimento de pertencer a determinado grupo.
O fundamental é entender que o individual — o que é de cada um — e o comum — o que é 
compartilhado por todos — não estão separados; formam uma relação que se constitui conforme 
reagimos às situações que enfrentamos no dia a dia.
Existem vários níveis de dependência entre a vida de cada pessoa e o contexto social mais 
amplo. Em uma eleição, por exemplo, o candidato no qual votamos está inscrito num partido, que, 
por sua vez, é organizado de forma previamente determinada pelas leis vigentes naquele momento 
em nosso país. Ou seja, votamos em alguém que já foi escolhido pelos membros de um partido, os 
quais se reuniram para decidir quem deveria ser seu candidato.
Para decidir votar ou não votar em alguém, podemos prestar atenção à propaganda política, 
conversar com parentes e amigos, participar ou não de comícios ou acompanhar as notícias nos 
meios de comunicação. Nesse caso, portanto, a decisão que podemos tomar tem ligação com a de 
outras pessoas, com informações dos meios de comunicação, que defendem interesses próprios, e 
também com decisões que já foram tomadas, ou seja, as leis que regem os partidos políticos e as 
eleições. Estas foram decididas por indivíduos (no caso, deputados e senadores) considerados re-
presentantes da sociedade. Mas, muitas vezes, o cidadão não sabe como essas leis foram feitas nem 
quais são os interesses de quem as fez.
Assim, o indivíduo está condicionado por decisões e escolhas que ocorrem fora de seu alcance, 
em outros níveis da sociedade. Entretanto, nossas decisões nos conduzem a diferentes direções na vida, 
sendo sempre resultado de escolhas individuais no contexto mais amplo que nos influencia.
As decisões de um indivíduo podem levá-lo a se destacar em certas situações históricas, cons-
truindo o que se costuma classificar como uma trajetória de vida notável. No entanto, ao conside-
rarmos as características individuais e sociais, bem como os aspectos históricos da formação de cada 
indivíduo, podemos afirmar que não existem condicionamentos históricos ou sociais que tornam 
algumas pessoas mais “especiais” que outras, pois a história de uma sociedade é feita por todos os 
que nela vivem, uns de modo obstinado à procura de seus objetivos, outros com menos intensidade, 
mas todos procurando resolver as questões que se apresentam em seu cotidiano, conforme seus 
interesses e seu poder de influir nas situações.
De acordo com Norbert Elias (1897-1990), seguindo Émile Durkheim (1858-1917), a sociedade 
não é um baile à fantasia, em que cada um pode trocar de máscara ou de traje a qualquer momento. 
Desde o nascimento, estamos presos às relações que foram estabelecidas antes de nós e das que se 
estruturam durante nossa vida.
Eleitores aguardam em fila para votar, no 
primeiro turno das eleições de 2010, na 
cidade de Jacareí, em São Paulo. Em quem 
votar? A decisão é de cada eleitor, mas o 
processo de escolha passa pela influência da 
propaganda eleitoral, das conversas com os 
amigos e parentes e das notícias divulgadas 
pelos meios de comunicação.
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14 A sociedade dos indivíduos
 DAS QUESTÕES INDIVIDUAIS ÀS QUESTÕES SOCIAIS
Podemos chamar de questões sociais algumas situações que não dizem respeito somente anossa vida pessoal, mas estão ligadas à estrutura de uma ou de várias sociedades. É o caso do desem-
prego, por exemplo, que afeta milhões de pessoas em diversos grupos sociais. 
De acordo com o sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962), que escreveu o 
livro A imaginação sociológica (1959), se, numa cidade de 100 mil habitantes, poucos indivíduos 
estão sem trabalho, há uma questão individual, que pode ser resolvida tratando as habilidades e 
potencialidades de cada um. Entretanto, se, em um país com 50 milhões de trabalhadores, 5 milhões 
não encontram emprego, a questão passa a ser social e não pode ser resolvida como individual. Nesse 
caso, a busca de soluções passa por uma análise mais profunda da estrutura econômica e política 
dessa sociedade. 
Há também situações que afetam o cotidiano individual e que são resultado de acontecimen-
tos que atingem muitos países. Podemos citar três eventos, ocorridos em diferentes momentos da 
história, que tiveram repercussões em muitas sociedades: a crise de 1929, que levou ao colapso o 
sistema financeiro mundial; a chamada Crise do Petróleo, em 1973, provocada pela elevação súbita 
dos preços do petróleo; o ataque, em 11 de setembro de 2001, às Torres Gêmeas do World Trade 
Center, em Nova York, que alterou substancialmente a relação dos Estados Unidos com os outros 
países e, principalmente, o cotidiano dos cidadãos estadunidenses.
Podemos concluir, assim, que somos atingidos por acontecimentos independentes um do outro 
e de nossa vontade. No entanto, é importante destacar que, tanto em 1929 como em 1973 e em 
2001, os eventos mencionados foram resultado de decisões de alguns indivíduos e instituições. As 
consequências dessas decisões foram muito além das expectativas dos indivíduos ou instituições 
que as tomaram.
Essas situações, além de afetar as relações políticas, econômicas e finan-
ceiras de todos os países, atingiram indivíduos em várias partes do mundo, 
que sofreram, por exemplo, com a alta no preço dos alimentos e a falta de 
combustíveis.
Esses pontos, que estão presentes na vida de cada um de nós, fazem 
parte da história da sociedade em que vivemos e, muitas vezes, assumem 
proporções ainda mais amplas. Tomar uma decisão é algo individual e social 
ao mesmo tempo, sendo impossível separar esses planos. 
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Flagrantes de acontecimentos que afetaram a história 
mundial e o cotidiano de milhões de indivíduos: acima, 
trabalhos de resgate na manhã de 11 de setembro de 
2001, após o ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, nos 
Estados Unidos; à direita, no alto, fila de desempregados 
em Chicago, nos Estados Unidos, em fevereiro de 1931, 
uma imagem da depressão financeira desencadeada pela 
quebra da Bolsa de Nova York; ao lado, nervosismo na Bolsa 
de Tóquio, no Japão, em 27 de dezembro de 1973, dia 
seguinte ao anúncio do aumento dos preços do petróleo 
pelos árabes.
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A sociedade dos indivíduos
1 No texto, Carlos Heitor Cony fala de mudanças que ocorre-
ram nas cidades nos últimos anos. Cite as mudanças impor-
tantes que ocorreram nos últimos anos no lugar onde você 
mora. Analise-as e verifique se elas alteraram a maneira de 
você se relacionar com as pessoas em casa e na escola.
2 A internet pode nos aproximar de muitas pessoas que 
com frequência nem conhecemos, mas às vezes parece 
que nos distancia de quem vive perto de nós. O que você 
pensa sobre isso?
CENÁRIO DA SOCIABILIDADE COTIDIANA
Vizinhos e internautas
Rio de Janeiro — Estudiosos do comportamento humano 
na vida moderna constatam que um dos males de nossa 
época é a incomunicabilidade das pessoas. Já foi tempo em 
que, mesmo nas grandes cidades, nos bairros residenciais, 
ao cair da tarde era costume os vizinhos se darem boa-
-noite, levarem as cadeiras de vime para as calçadas e ficar 
falando da vida, da própria e da dos outros.
A densidade demográfica, os apartamentos, a violência 
urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada indivíduo 
no casulo doméstico. Moro há 18 anos num prédio da 
Lagoa; tirante os raros e inevitáveis cumprimentos de pra-
xe no elevador ou na garagem, não falo com eles nem eles 
comigo. Não sou exceção. Nesse lamentável departamen-
to, sou regra.
Daí que não entendo a pressão que volta e meia me 
fazem para navegar na Internet. Um dos argumentos que 
me dão é que posso falar com pessoas na Indonésia, saber 
como vão as colheitas de arroz na China e como estão os 
melões na Espanha.
Uma de minhas filhas vangloria-se de ser internauta. 
Tem amigos na Pensilvânia e arranjou um admirador em 
Dublin, terra do Joyce, do Bernard Shaw e do Oscar Wilde. 
Para convencê-la de seus méritos, ele mandou uma foto 
em cor que foi impressa em alta resolução. É um jovem 
simpático, de bigode, cara honesta. Pode ser que tenha 
mandado a foto de um outro.
Lembro a correspondência sentimental das velhas re-
vistas de antanho. Havia sempre a promessa: “Troco fotos 
na primeira carta”. Nunca ouvi dizer que uma dessas tro-
cas tenha tido resultado aproveitável. 
Para vencer a incomunicabilidade, acredito que o in-
ternauta deva primeiro aprender a se comunicar com o 
vizinho de porta, de prédio, de rua. Passamos uns pelos 
outros com o desdém de nosso silêncio, de nossa cara 
amarrada. Os suicidas se realizam porque, na hora do de-
sespero, falta o vizinho que lhe deseje sinceramente uma 
boa noite.
CONY, Carlos Heitor. Vizinhos e internautas. Folha de S.Paulo. 
São Paulo, 26 jun. 1997. Opinião, p. A2. Licenciado por Folhapress.
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ANOTAÇÕES
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16 A sociedade dos indivíduos
1 Leia o texto e responda às questões.
Seja o objeto do exame uma grande potência, ou uma 
passageira moda literária, uma família, uma prisão, um 
credo — são essas as perguntas que os melhores analistas 
sociais formularam. São [...] perguntas formuladas inevi-
tavelmente por qualquer espírito que possua uma imagi-
nação sociológica. Pois essa imaginação é a capacidade de 
passar de uma perspectiva a outra — da política para a 
psicológica; do exame de uma única família para a análise 
comparativa dos orçamentos nacionais do mundo; da es-
cola teológica para a estrutura militar; de considerações de 
uma indústria petrolífera para estudos da poesia contem-
porânea. É a capacidade de ir das mais impessoais e remo-
tas transformações para as características mais íntimas do 
ser humano — e ver as relações entre as duas. Sua utiliza-
ção se fundamenta sempre na necessidade de conhecer o 
sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no 
período no qual sua qualidade e seu ser se manifestam.
É por isso, em suma, que por meio da imaginação 
sociológica os homens esperam, hoje, perceber o que está 
acontecendo no mundo, e compreender o que está acon-
tecendo com eles, como minúsculos pontos de cruzamen-
to da biografia e da história, dentro da sociedade. Em gran-
de parte, a visão autoconsciente que o homem 
contemporâneo tem de si, considerando-se pelo menos 
um forasteiro, quando não um estrangeiro permanente, 
baseia-se na compreensão da relatividade social e da capa-
cidade transformadora da história. A imaginação socioló-
gica é a forma mais frutífera dessa consciência.
Mills, Wright. A imaginação sociológica.
Rio de Janeiro: Zahar, 1980. p. 13-14. 
a) Segundo o trecho acima e o que você estudou no livro, o 
que se pode entender por imaginação sociológica?
b) Escolha um fato que ocorreu com você e, por meio dele, 
escreva como sua biografia se relaciona com a história de 
seu bairro, de sua cidade, de seu país ou até mesmo do 
mundo.
2 Leia o texto a seguir e responda às questões.
Não existe um grau zero da vinculabilidade social do 
indivíduo, um “começo” ou ruptura nítida em que ele in-
gresse na sociedade como que vindo de fora, comoum ser 
não afetado pela rede, e então comece a se vincular a ou-
tros seres humanos. Ao contrário, assim como os pais são 
necessários para trazer um filho ao mundo, assim como a 
mãe nutre o filho, primeiro com seu sangue e depois com 
o alimento vindo de seu corpo, o indivíduo sempre existe, 
no nível mais fundamental, na relação com os outros, e 
essa relação tem uma estrutura particular que é específica 
de sua sociedade. Ele adquire sua marca individual a par-
tir da história dessas relações, dessas dependências, e as-
sim, num contexto mais amplo, da história de toda a rede 
humana em que cresce e vive. Essa história e essa rede 
humana estão presentes nele e são representadas por ele, 
quer ele esteja de fato em relação com outras pessoas ou 
sozinho, quer trabalhe ativamente numa grande cidade ou 
seja um náufrago numa ilha a mil milhas de sua sociedade.
Elias, Norbert. A sociedade dos indivíduos. 
Rio de Janeiro: Zahar, 1994. p. 31.
a) De acordo com o texto, quais relações sociais são impor-
tantes na formação do indivíduo? 
b) No texto, o autor afirma que as relações sociais são espe-
cíficas, ou seja, que cada sociedade possui uma maneira 
diferente de socializar o indivíduo. Cite dois exemplos de 
socialização da criança na sociedade brasileira e comente 
como eles contribuem para a formação do indivíduo.
3 Nós, indivíduos modernos, geralmente acreditamos que to-
dos os nossos pensamentos e ações são resultado de esco-
lhas próprias e autônomas. Também tendemos a perceber 
no ser humano uma propensão a estar sempre voltado aos 
próprios interesses. Como a Sociologia concebe as ações in-
dividuais?.
TAREFA PARA CASA
O objetivo da pergunta é fazer o aluno refletir sobre o tema do capí-
tulo utilizando exemplos de sua própria realidade.
Espera-se que o aluno demonstre ter compreendido que a imagina-
ção sociológica é uma percepção da relação entre história, sociedade 
e indivíduo; ter tal percepção é fundamental para incitar a reflexão 
crítica e a ação transformadora.
Ao indicar trechos do texto, o aluno exercita a identificação, em obras 
propriamente sociológicas, de descrições dos temas abordados no 
livro.
O objetivo da pergunta é fazer o aluno refletir sobre o tema do capítulo 
utilizando exemplos de sua própria realidade.
A cultura ocidental está marcada pela ideia de que o indivíduo — como 
unidade soberana — é autônomo perante a sociedade para analisar, 
julgar e decidir. Assim, a pergunta incita o aluno a refletir sobre o ar-
gumento sociológico de que somos produtores e produtos de nosso 
meio social. Além disso, estimula-o a confrontar tal argumento com 
as pressuposições da sociedade ocidental.
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Objetivos:
c Assimilar hábitos 
culturais bem como o 
aprendizado social dos 
sujeitos.
c Compreender que os 
indivíduos aprendem 
e interiorizam regras e 
valores de determinada 
sociedade.
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A sociedade dos indivíduos
CAPÍTULO
2 O processo de socialização
No capítulo anterior vimos como o indivíduo atua na sociedade e como a sociedade atua na vida 
do indivíduo. O processo pelo qual os indivíduos formam a sociedade e são formados por ela é chamado 
de socialização. A imagem que melhor ilustra esse processo é a de uma rede tecida por relações sociais 
que vão se entrelaçando e compondo diversas outras relações até formar a sociedade.
Cada indivíduo, ao fazer parte de uma sociedade, insere-se em múltiplos grupos e instituições 
que se entrecruzam, como a família, a escola e a religião. Assim, o fio da meada parece interminável, 
pois forma uma complexa rede de relações. Ainda que cada um tenha sua individualidade, esta se 
constrói no contexto das relações que as pessoas mantêm com outros indivíduos, grupos e insti-
tuições dos quais participam. Por isso, cada pessoa vive experiências semelhantes ou diferentes das 
outras com as quais convive.
 O QUE NOS É COMUM
Ao nascer, a pessoa chega a um mundo que já está pronto e com o qual passa a ter uma relação 
de total estranheza. A criança vai sentir frio e calor, conforto e desconforto, sorrir e chorar; enfim, vai 
começar a se relacionar e conviver com o mundo externo. Nos primeiros meses de vida, vai aprender 
a conhecer seu corpo, seja observando e tocando partes dele, seja se olhando no espelho. Nesse 
momento ainda não se reconhece como indivíduo, pois não domina os códigos sociais; é o “nenê”, 
um ser genérico.
Com o tempo, a criança percebe que existem outras coisas a seu redor: o berço (quando o 
tem), o chão (que pode ser de terra batida, de cimento, de tábuas ou de mármore com tapetes) e os 
objetos que compõem o ambiente em que vive. Percebe que existem também pessoas — pai, mãe, 
irmãos, tios e avós — com as quais vai ter de se relacionar. Percebe que há outros indivíduos, com 
nomes como José, Maurício, Solange e Marina, que são chamados de amigos ou colegas. Passa, então, 
a diferenciar as pessoas da família das demais. À medida que cresce, vai descobrindo que há coisas que 
pode fazer e coisas que não pode fazer. Posteriormente saberá que isso é determinado pelas normas 
e costumes da sociedade à qual pertence. 
No processo de conhecimento do mundo, a criança observa que alguns dias são diferentes dos 
outros. Há dias em que os pais não saem para trabalhar e passam mais tempo em casa. São ocasiões 
em que ela assiste mais à televisão, vai passear em algum parque ou em outro lugar qualquer. Em 
alguns desses dias percebe que vai a um lugar diferente, que mais tarde identificará como igreja, ter-
reiro, sinagoga ou mesquita (no caso de os pais serem cristãos, participarem de cultos afro-brasileiros, 
serem judeus ou muçulmanos, por exemplo). Nos outros dias da semana vai à escola, onde encontra 
crianças da mesma idade e também outros adultos. 
A criança vai entendendo que, além da casa e do bairro onde vive, existem outros lugares, uns 
parecidos com o seu espaço e outros bem diferentes; alguns próximos e outros distantes; alguns 
grandes e outros pequenos; alguns luxuosos e outros simples ou miseráveis. 
Ao viajar ou assistir à televisão, a criança perceberá que existem cidades enormes e outras bem 
pequenas, novas e antigas, bem como áreas rurais, com poucas casas, onde se cultivam os alimentos 
que ela consome. Aos poucos, saberá que cidades, zonas rurais, matas e rios fazem parte do território 
de um país, que normalmente é dividido em unidades menores (no caso brasileiro, elas são chamadas 
de estados). Nessa “viagem” do crescimento, a criança aprenderá que há os continentes, os oceanos e 
os mares, e que tudo isso, com a atmosfera, constitui o planeta Terra, que, por sua vez, está vinculado 
a um sistema maior, o sistema solar, o qual se integra numa galáxia.
Veja, no Guia do Professor, o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo.
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18 A sociedade dos indivíduos
Esse processo de conviver com a família e com os vizinhos, de frequentar a escola, de ver televi-
são, de passear e de conhecer novos lugares, coisas e pessoas compõe um universo cheio de faces no 
qual a criança vai se socializando. Além de coisas e lugares, vai aprendendo e interiorizando palavras, 
significados e ideias, enfim, os valores e o modo de vida da sociedade da qual faz parte.
 AS DIFERENÇAS NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO
Entender a sociedade em que vivemos significa saber que há muitas diferenças no cotidia-
no das pessoas e que é preciso 
prestar atenção nelas. É muito di-
ferente nascer e viver numa favela, 
num bairro rico, num condomínio fe-
chado ou numa área do sertão nordes-
tino exposta a longos períodos de seca. 
Essas desigualdades promovem formas 
diferentes de socialização.
Ao tratar de diferenças, temos 
de relacioná-las ao contexto histórico. 
A socialização dos dias atuais é diferen-
te da dos anos 1950. Naquela época, a 
maioria da população vivia na zona ru-
ral ou em pequenas cidades. As escolas 
eram pequenas e tinham poucos alunos. 
A televisão estavainiciando no Brasil e 
seus programas eram vistos por poucas 
pessoas. Não havia internet e a telefonia 
era precária. Ouvir rádio era a principal 
forma de tomar conhecimento do que 
acontecia em outros lugares do país e 
do mundo. As pessoas relacionavam-
-se quase somente com as que viviam 
próximas e estabeleciam fortes laços de 
solidariedade entre si. Escrever cartas era 
Ao lado, pai e filho em 
celebração muçulmana 
em Jacarta, Indonésia, em 
2011. Abaixo, pai e filho 
em campo de refugiados 
no distrito de Swabi, no 
Paquistão, em 2009. Paz 
ou guerra, abundância 
ou miséria: como essas 
condições podem afetar a 
socialização das crianças?
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De bebês a adultos, em seu caminho de 
descoberta do mundo, todos os integrantes 
de uma sociedade passam pelo processo de 
socialização. Cena registrada em escola de 
Suzano, São Paulo, em 2010.
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A sociedade dos indivíduos
muito comum, pois constituía a forma mais prática de se comunicar à distância.
No decorrer da segunda metade do século XX, os avanços tecnológicos nos setores de comuni-
cação e informação, o aumento da produção industrial e do consumo e o crescimento da população 
urbana desencadearam grandes transformações no mundo inteiro. 
Em alguns casos, alterações econômicas e políticas provocaram a deterioração das condições 
de vida e organização social, gerando situações calamitosas. Em vários países do continente africano, 
milhares de pessoas morreram de fome ou se destruíram em guerras internas (o que continua a 
acontecer). Na antiga Iugoslávia, no continente europeu, grupos étnicos entraram em conflitos que 
mesclavam questões políticas, econômicas e culturais e, apoiados ou não por outros países, enfren-
taram-se durante muitos anos numa guerra civil. Nascer e viver nessas condições é completamente 
diferente de viver no mesmo local com paz e tranquilidade. A socialização das crianças “em guerra 
permanente” (quando conseguem sobreviver) é afetada profundamente.
 TUDO COMEÇA NA FAMÍLIA
Mesmo considerando essas diferenças e outras tantas que podíamos mencionar, há normal-
mente um processo de socialização formal, conduzido por instituições, como escola e religião, e um 
processo mais informal e abrangente, que acontece inicialmente na família, na vizinhança, nos grupos 
de amigos e pela exposição aos meios de comunicação.
O ponto de partida é a família, o espaço privado das relações de intimidade e afeto, em que, 
geralmente, podemos encontrar alguma compreensão e refúgio, apesar dos conflitos. É o espaço onde 
aprendemos a obedecer a regras de convivência, a lidar com a diferença e a diversidade. 
Os espaços públicos de socialização são todos os outros lugares que frequentamos. Neles, as re-
lações são diferentes, pois convivemos com pessoas que muitas vezes nem conhecemos. Nos espaços 
públicos, não podemos fazer muitas das coisas que em casa são permitidas, e precisamos observar as 
normas e regras próprias em cada situação. Nos locais de culto religioso, por exemplo, devemos fazer 
silêncio; na escola, onde ocorre a chamada educação formal, precisamos ser pontuais nos horários de 
entrada e saída, e assim por diante.
Há, entretanto, agentes de socialização presentes tanto nos espaços privados como nos pú-
blicos: são os meios de comunicação — o cinema, a televisão, o rádio, os jornais, as revistas e todos 
os aparelhos eletrônicos (conectados à internet ou não). Esses talvez sejam os meios de socialização 
mais eficazes e persuasivos (trataremos deles com mais detalhes no módulo — “Cultura e ideologia”).
Registro fotográfico do encontro familiar de três gerações. São Paulo, 2010.
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20 A sociedade dos indivíduos
CALLIGARIS, Contardo. Os sonhos dos adolescentes. Folha de S.Paulo. 
São Paulo, 11 jan. 2007. Ilustrada, p. E10. Disponível em: <http://acervo.
folha.com.br/fsp/2007/01/11/21>. Acesso em: 23 ago. 2012.
Skatistas na praça Roosevelt, no centro de São Paulo, em 2012: 
com que sonham esses jovens?
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1 Você acha que o autor tem razão? Os jovens só querem um 
emprego seguro e bem pago, e nada mais? Por quê?
2 De acordo com suas observações, como os jovens cos-
tumam reagir às injustiças, à degradação ambiental ou à 
morte cotidiana de pessoas, em razão da violência ou da 
falta de assistência médica?
3 Conformismo ou resistência e ação alternativa: que bandeira 
deve ser levantada? Justifique.
Socialização por fragmentos
No primeiro capítulo de seu livro Visões da tradição socioló-
gica, o sociólogo estadunidense Donald Levine discute uma 
das características do nosso tempo: a visão fragmentária do 
mundo. Seu texto inspira uma reflexão sobre o processo de 
socialização tal como ocorre hoje.
Cada vez mais, a socialização acontece em pequenos frag-
mentos. A televisão despeja imagens e as pessoas “zapeiam” 
de canal em canal. A leitura de livros é substituída pela de 
resumos ou de resenhas publicadas nos periódicos, quando 
não apenas por frases e parágrafos soltos destacados em re-
vistas semanais. Os computadores apresentam as notícias e 
informações como se fossem todas iguais e tivessem a mes-
ma importância. Os paisV entregam os filhos para as escolas 
e acreditam que com isso os educam. Os estudantes de-
monstram uma capacidade reduzida para argumentar com 
fundamento e quase não têm uma visão histórica ou proces-
sual do que está acontecendo, pois, como nos diz Eric Hobs-
CENÁRIO DA SOCIABILIDADE COTIDIANA
Os sonhos dos adolescentes
[...]
Ao longo de 30 anos de clínica, encontrei várias gera-
ções de adolescentes (a maioria, mas não todos, de classe 
média) e, se tivesse que comparar os jovens de hoje com 
os de dez ou 20 anos atrás, resumiria assim: eles sonham 
pequeno. 
É curioso, pois, pelo exemplo de pais, parentes e vi-
zinhos, os jovens de hoje sabem que sua origem não fecha 
seu destino: sua vida não tem que acontecer necessaria-
mente no lugar onde nasceram, sua profissão não tem que 
ser a continuação da de seus pais. Pelo acesso a uma pro-
liferação extraordinária de ficções e informações, eles co-
nhecem uma pluralidade inédita de vidas possíveis.
Apesar disso, em regra, os adolescentes e os pré-ado-
lescentes de hoje têm devaneios sobre seu futuro muito 
parecidos com a vida da gente: eles sonham com um dia a 
dia que, para nós, adultos, não é sonho algum, mas o re-
sultado (mais ou menos resignado) de compromissos e 
frustrações.
Um exemplo. Todos os jovens sabem que Greenpeace 
é uma ONG que pratica ações duras e aventurosas em 
defesa do meio ambiente. Alguns acham muito legal assis-
tir, no noticiário, à intrépida abordagem de um baleeiro 
por um barco inflável de ativistas. Mas, entre eles, não 
encontro ninguém (nem de 12 ou 13 anos) que sonhe em 
ser militante do Greenpeace. Os mais entusiastas se pro-
põem a estudar oceanografia ou veterinária, mas é para ser 
professor, funcionário ou profissional liberal. Eles são “ra-
zoáveis”: seu sonho é um ajuste entre suas aspirações he-
roico-ecológicas e as “necessidades” concretas (segurança 
do emprego, plano de saúde e aposentadoria). 
[...]
É possível que, por sua própria presença maciça em 
nossas telas, as ficções tenham perdido sua função essen-
cial e sejam contempladas não como um repertório arre-
batador de vidas possíveis, mas como um caleidoscópio 
para alegrar os olhos, um simples entretenimento. Os he-
róis percorrem o mundo matando dragões, defendendo 
causas e encontrando amores solares, mas eles não nos 
inspiram: eles nos divertem, enquanto, comportadamente, 
aspiramos a um churrasco [...] com os amigos.
É também possível (sem contradizer a hipótese ante-
rior) que os adultosnão saibam mais sonhar muito além 
de seu nariz. Ora, a capacidade de os adolescentes inven-
tarem seu futuro depende dos sonhos aos quais nós renun-
ciamos. Pode ser que, quando eles procuram, nas entreli-
nhas de nossas falas, as aspirações das quais desistimos, 
eles se deparem apenas com versões melhoradas da mesma 
vida acomodada que, mal ou bem, conseguimos arrumar. 
Cada época tem os adolescentes que merece.
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familiares, como se não pudessem mais dizer ou ensinar algo 
aos mais novos. O que importa é o momento e o novo que 
aparece a todo instante.
bawm, para eles até a Guerra do Vietnã é pré-histórica, o que 
evidencia não apenas ignorância do passado, mas também 
falta de um senso de relação histórica. Os mais velhos são 
considerados improdutivos e ultrapassados, um peso para os 
Banca de jornais e 
revistas em Santos, São 
Paulo, em fotografia de 
2011. O consumo da 
informação fragmentada 
e a demanda pelo 
instantâneo, pelo novo, 
quebraram o elo das 
gerações na transmissão 
da cultura?
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1 É possível um processo de socialização que não leve em con-
ta a experiência acumulada? Explique. 
2 Como você interpreta a fragmentação a que se refere o tex-
to? O quadro pintado no texto está muito carregado de tin-
tas escuras e de pessimismo, ou a realidade é essa mesmo?
1 Observe as imagens a seguir e responda: Guerra ou paz, mi-
séria ou abundância: como essas condições podem afetar a 
socialização das crianças?
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Indonésia, 2011.
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Paquistão, 2009.
2 Leia um trecho do poema “Família”, de Carlos Drummond de 
Andrade, e responda às questões.
Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
TAREFA PARA CASA
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22 A sociedade dos indivíduos
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.
[...]
In: Andrade, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p. 24. Editora Record © Graña Drummond. www.carlosdrummond.com.br
a) A família mencionada no poema apresenta características diferentes da família moderna? Se a resposta for afirmativa, cite duas 
diferenças entre a família do poema e a família moderna.
b) Para a Sociologia, a família é um agente de socialização? Por quê?
3 Observe a charge do cartunista Adão Iturrus garai.
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Com base na charge e em seus conhecimentos acerca do processo de socialização, explique como a internet molda as formas de 
comunicação da juventude contemporânea.
4 Leia um trecho do poema “Família”, de Carlos Drummond de Andrade, e responda às questões.
O futebol, esporte das multidões, é capaz de levar milhões de torcedores brasileiros a assistirem as partidas nos estádios 
ou em frente aos televisores, capaz de parar as atividades cotidianas do país em períodos de Copa do Mundo. Objeto que 
suscita paixões e discussões sempre acaloradas, por isso mesmo, ingenuamente classificado fora dos assuntos ditos sérios. 
Porém, o futebol é um elemento marcante da identidade brasileira. Ele é capaz de engendrar sentimentos completamente 
díspares: alegria — tristeza, amor — ódio, delírio — desprezo, realização — fracasso, entre muitas outras possibilidades.
Borges, Luiz H. de A. Do complexo de vira-latas ao homem genial: futebol e identidade no Brasil. Histórica — Revista Eletrônica do Arquivo do Estado de São 
Paulo, n. 24, p. 38, ago. 2007. Disponível em: <www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao24/materia02/texto02.pdf>. Acesso em: set. 2013.
Considerando o texto e os temas abordados pela Sociologia, apresente e comente um aspecto positivo ou negativo do futebol 
que o faz ser um elemento marcante da identidade brasileira. Depois, reflita: de que modo a importância do futebol no Brasil 
influencia sua formação como indivíduo?
ANOTAÇÕES
Esse exercício de comparação histórica objetiva que o aluno apreenda as transformações pelas quais a família passou. O estudante pode tratar 
tanto das questões raciais, vinculadas mais especificamente à realidade brasileira, quanto do papel ocupado pela mulher na família.
Se julgar necessário, recomende aos alunos a releitura do livro; em seguida, eles deverão explicar, com as próprias palavras, o papel funda-
mental da família na formação social do indivíduo.
Nesse tipo de questão, é preciso orientar o aluno para que não utilize argumentos moralizantes acerca da internet, afirmando, por exemplo, que 
a rede mundial de computadores distancia o jovem do mundo real. Trata-se, aqui, de analisar e não de julgar, a fim de perceber os mecanismos 
de socialização condicionados por esse meio amplamente utilizado nos dias de hoje.
Socialização implica conformação com o meio específico no qual se vive. Assim, é importante que o aluno reconheça e compreenda os elementos 
que condicionam os diferentes círculos sociais nos quais se insere. Nessa questão, espera-se que cada estudante reflita sobre o papel do futebol 
na identidade brasileira e avalie a relevância ou não desse fator para sua formação como indivíduo.
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Objetivos:
c Compreender que as 
ações em sociedade 
são interdependentes.
c Perceber que 
o pensamento 
sociológico constrói 
diferentes conceitos 
para a compreensão 
da sociedade dos 
indivíduos.
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A sociedade dos indivíduos
CAPÍTULO
3 As relações entre indivíduoe sociedade
Entre os estudiosos que se preocuparam em analisar a relação do indivíduo com a socieda-
de, destacam-se autores clássicos da Sociologia, como Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim 
(1858-1917) e Max Weber (1864-1920), e outros mais recentes, como Norbert Elias (1897-1990) e 
Pierre Bourdieu (1930-2002). Neste capítulo examinaremos as diferentes perspectivas adotadas 
por esses autores para analisar o processo de constituição da sociedade e a maneira como os 
indivíduos se relacionam.
 KARL MARX, OS INDIVÍDUOS E AS CLASSES SOCIAIS
Para o alemão Karl Marx, o ser humano, além do resultado da evolução biológica da espécie, 
é um produto histórico em constante mudança, dependendo da sociedade na qual está inserido e 
das condições em que vive. Assim, os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto 
social em que vivem. 
O homem primitivo, segundo Marx, diferenciava-se dos outros animais não apenas pelas 
características biológicas, mas também por aquilo que produzia no espaço e na época em que 
vivia. Coletando alimentos, caçando, defendendo-se e criando instrumentos, nossos ancestrais 
construíram sua história e sua existência na sociedade.
Ao produzir as condições materiais de existência, o ser humano elabora sua consciência, 
seu modo de pensar e conceber o mundo, isto é, as explicações, as leis, a moral e a religião em 
uma sociedade. É nesse sentido que Marx afirma que é a maneira como os indivíduos produzem 
sua existência que condiciona o processo de vida social, política e intelectual, ou seja, o modo 
como a pessoa vive determina como ela pensa. Assim, a sociedade produz o indivíduo e este 
produz a sociedade.
A capacidade de se relacionar em sociedade trabalhando, aprendendo, construindo e ino-
vando é uma característica fundamental do ser humano. Por isso, Marx não analisa um indivíduo 
genérico, abstrato, mas os indivíduos humanos reais que vivem em uma sociedade histórica. A 
produção do indivíduo isolado, fora da sociedade, é tão inconcebível quanto o desenvolvimento 
da linguagem sem indivíduos que vivam juntos e conversem. 
Constituição das classes
De acordo com Marx, na sociedade capitalista, quando se desenvolveu de modo mais preciso 
o trabalho assalariado, os trabalhadores perderam o domínio sobre sua vida e passaram a depender 
dosistema capitalista; não trabalham mais para si, mas vendem seu trabalho e não conseguem se 
reconhecer no que fazem e produzem.
É na luta diária para se contrapor a esse tipo de vida desumanizado, no qual são reduzidos a 
uma coisa que pode ser vendida, comprada e até descartada, que os indivíduos trabalhadores se 
identificam e se unem para questionar a realidade de exploração, configurando uma classe social.
Ao analisar a sociedade capitalista e os indivíduos, Marx trata das relações entre as classes sociais, 
mas a ideia do indivíduo como ser social continua presente. Isso fica claro quando Marx afirma que 
os seres humanos constroem sua história, mas não da maneira que querem, pois são condicionados 
por situações anteriores. Para ele, existem fatores sociais, políticos e econômicos que levam os indi-
víduos e as classes a percorrer determinados caminhos; mas todos têm capacidade de reagir a essas 
situações e até mesmo de transformá-las.
O ponto central da análise que Marx faz da sociedade capitalista está nas relações estabeleci-
Veja, no Guia do Professor, o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo.
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24 A sociedade dos indivíduos
das entre as classes que compõem essa sociedade. Para ele, só é possível entender as relações dos 
indivíduos com base nos antagonismos, nas contradições e nos conflitos entre as classes sociais, ou 
seja, na luta de classes que se desenvolve à medida que homens e mulheres procuram satisfazer suas 
necessidades, sejam elas oriundas do estômago ou da fantasia.
 ÉMILE DURKHEIM, AS INSTITUIÇÕES E O INDIVÍDUO
Para o fundador da escola francesa de Sociologia, Émile Durkheim, a sociedade sempre está 
acima dos indivíduos, dispondo de certas regras, normas, costumes e leis que asseguram sua continui-
dade. Essas regras e leis independem do indivíduo e pairam sobre todos, formando uma consciência 
coletiva que dá o sentido de integração entre os membros da sociedade. Elas se solidificam em insti-
tuições, que são a base da sociedade e que correspondem, para Durkheim, a todo comportamento 
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O “homem real” faz a História: populares 
invadem a Assembleia Constituinte 
da França em 15 de maio de 1848, 
para forçá-la a manter suas conquistas 
democráticas e sociais. Pintura de autor 
desconhecido, sem data.
 NAS PALAVRAS DE MARX E ENGELS
Burgueses e proletários
A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo, 
opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guer-
ra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes 
em conflito.
Nas mais remotas épocas da História, verificamos, quase por toda parte, uma completa estruturação da sociedade em 
classes distintas, uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, 
escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres das corporações, aprendizes, companheiros, servos; e, em cada uma 
destas classes, outras gradações particulares.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não 
fez mais do que estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das que existiram 
no passado.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A socie-
dade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em confronto direto: a burguesia e o prole-
tariado.
[…]
Marx, Karl; Engels, Friedrich. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. p. 40-41.
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A sociedade dos indivíduos
e crença instituídos por uma coletividade.
A família, a escola, o sistema judiciário e o Estado são exemplos de instituições que congregam os 
elementos essenciais da sociedade, dando-lhe sustentação e garantindo-lhe a permanência. Durkheim 
dava tanta importância às instituições que definia a Sociologia como a ciência da gênese e do fun-
cionamento das instituições sociais. Para não haver conflito ou desestruturação das instituições e, 
consequentemente, da sociedade, a transformação dos costumes e normas nunca seria realizada 
individualmente, mas de maneira lenta, ao longo de gerações.
A força da sociedade está na herança transmitida, por intermédio da educação, às gerações futuras. 
Essa herança são os costumes, as normas e os valores que nossos pais e antepassados nos legaram. 
Condicionado e controlado pelas instituições, cada membro de uma sociedade sabe como deve agir 
para não desestabilizar a vida comunitária; sabe também que, se não agir da forma estabelecida, será 
repreendido ou punido, dependendo da falta cometida.
O sistema penal é um bom exemplo dessa prática. Se um indivíduo comete determinado crime, 
deve ser julgado pela instituição competente — o sistema judiciário —, que aplica a penalidade 
correspondente. O condenado é retirado da sociedade e encerrado em uma prisão, onde deve ser 
reeducado (na maioria das vezes não é isso o que acontece) para ser reintegrado ao convívio social.
Diferentemente de Marx, que vê a contradição e o conflito como elementos essenciais da socie-
dade, Durkheim enfatiza a necessidade da coesão e da integração para a sociedade se manter. Para 
ele, o conflito existe basicamente pela anomia, isto é, pela ausência ou insuficiência da normatização 
das relações sociais, ou por falta de instituições que regulamentem essas relações. Ele considera a 
socialização um fato social amplo, que dissemina as normas e valores gerais da sociedade — funda-
mentais para a socialização das crianças — e assegura a difusão de ideias que formam um conjunto 
homogêneo, fazendo que a sociedade permaneça integrada e se perpetue no tempo.
De acordo com Durkheim, para que um fenômeno social seja considerado um fato social é ne-
cessário que seja:
 coercitivo, isto é, que se imponha aos indivíduos e os leve a aceitar as normas da sociedade;
 exterior aos indivíduos, isto é, que exista antes deles e não seja fruto das consciências individuais; 
 geral, isto é, que atinja todos os indivíduos que fazem parte de uma sociedade.
 NAS PALAVRAS DE DURKHEIM
A sociedade, a educação e os indivíduos 
[…] cada sociedade, considerada num momento determinado do seu desenvolvimento, tem um sistema de educação que 
se impõe aos indivíduos como uma força geralmente irresistível. É inútil pensarmos que podemos criar os nossos filhos como 
queremos. Há costumes com os quais temos de nos conformar; se os infringimos, eles vingam-se nos nossos filhos. Estes, uma 
vez adultos, não se encontrarão em condições de viver no meio dos seus contemporâneos, com os quais não estão em harmo-
nia. Quer tenham sido criados com ideias muito arcaicas ou muito prematuras, não importa; tanto num caso como noutro, não 
são do seu tempo e, por conseguinte, não estão em condições de vida normal. […]
Ora, não fomos nós, individualmente, que fizemos os costumes e as ideias que determinam este modelo. São o produto 
da vida em comum e exprimem as suas necessidades. São até, na maior parte, obra de gerações anteriores. Todo o passado da 
humanidade contribuiu para fazer este conjunto de máximas que dirigem a educação atual; toda a nossa história lhe deixou 
traços, e até mesmo a história dos povos que nos precederam. […] Quando estudamos historicamente a maneira como são 
formados e desenvolvidos os sistemas de educação, apercebemo-nos que eles dependem da religião, da organização política, 
do grau de desenvolvimento das ciências, do estado da indústria, etc. Se os desligamos de todas estas causas históricas, tornam-
-se incompreensíveis.[...]
DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. Lisboa: Edições 70, 2001. p. 47-48
 MAX WEBER, O INDIVÍDUO E A AÇÃO SOCIAL
O alemão Max Weber, diferentemente de Durkheim, tem como preocupação central com-
preender o indivíduo e suas ações. Por que as pessoas tomam determinadas decisões? Quais são as 
razões para seus atos? Segundo esse autor, a sociedade existe concretamente, mas não é algo externo 
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26 A sociedade dos indivíduos
e acima das pessoas, e sim o conjunto das ações dos indivíduos relacionando-se reciprocamente. 
Assim, Weber, partindo do indivíduo e de suas motivações, pretende compreender a sociedade 
como um todo.
O conceito básico para Weber é o de ação social, entendida como o ato de se comunicar, de 
se relacionar, orientado pelas ações dos outros. A palavra outros, no caso, pode significar tanto um 
indivíduo apenas como vários, indeterminados e até desconhecidos. Como o próprio Weber exempli-
fica, o dinheiro é um elemento de intercâmbio que alguém aceita no processo de troca de qualquer 
bem ou serviço e que outro indivíduo utiliza porque sua ação está orientada pela expectativa de que 
outros tantos, conhecidos ou não, estejam dispostos a também aceitá-lo como elemento de troca.
Seguindo esse raciocínio, Weber explica por meio de dois exemplos o que não é uma ação social:
 Quando vários indivíduos estão caminhando na rua e começa a chover, muitos abrem seus 
guarda-chuvas ao mesmo tempo. Essa ação de cada indivíduo não está orientada pela dos 
demais, mas sim pela necessidade de proteger-se da chuva. Não é, portanto, uma ação social.
 Quando, numa aglomeração, indivíduos se reúnem por alguma razão, agem influenciados por 
comportamentos de massa, isto é, fazem determinadas coisas porque simplesmente todos 
estão fazendo. Essa ação influenciada também não é uma ação social. 
Oração coletiva de muçulmanos em Quetta, 
Paquistão, em agosto de 2012: uma ação 
social orientada por convicções comuns.
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Ao analisar o modo como os indivíduos agem e levando em conta a maneira como eles 
orientam suas ações, Max Weber agrupou as ações sociais em quatro tipos: ação tradicional, 
ação afetiva, ação racional com relação a valores e ação racional com relação a fins.
A ação tradicional tem por base a tradição familiar, um costume arraigado. É um tipo de 
ação que se adota quase automaticamente, reagindo a estímulos habituais ou por imitação. A 
maior parte de nossas ações cotidianas é desse tipo.
A ação afetiva tem o sentido vinculado aos sentimentos e estados emocionais de qualquer 
ordem na busca da satisfação de desejos.
A ação racional com relação a valores fundamenta-se em convicções e valores (éticos, 
estéticos, religiosos ou qualquer outro), tais como o dever e a transcendência de uma causa, 
qualquer que seja seu gênero. O indivíduo age de acordo com aquilo em que acredita, inde-
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pendentemente das possíveis consequências, tendo por fundamento determinados valores 
que lhe parecem ordenar que rea lize isso ou aquilo. 
A ação racional com relação a fins fundamenta-se num cálculo com base no qual se pro-
curam estabelecer os objetivos racionalmente avaliados e perseguidos e os meios para alcançá-los.
Nesse tipo de ação, o indivíduo programa, pesa e mede as consequências em relação ao que 
pretende obter. 
 NAS PALAVRAS DE WEBER
Sobre a ação social
1. A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, 
que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques 
anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os 
“outros” podem ser individualizados e conhecidos ou então uma pluralidade de indiví-
duos indeterminados e completamente desconhecidos (o “dinheiro”, por exemplo, sig-
nifica um bem — de troca — que o agente admite no comércio porque sua ação está 
orientada pela expectativa de que outros muitos, embora indeterminados e desconheci-
dos, estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).
2. Nem toda espécie de ação — incluindo a ação externa — é “social” no sentido 
aqui sustentado. Não o é, desde logo, a ação exterior quando esta só se orienta pela 
expectativa de determinadas reações de objetos materiais. A conduta íntima é ação social 
somente quando está orientada pelas ações de outros. Não o é, por exemplo, a conduta 
religiosa quando esta não passa de contemplação, oração solitária, etc. A atividade eco-
nômica (de um indivíduo) somente o é na medida em que leva em consideração a ati-
vidade de terceiros. […] De uma perspectiva material: quando, por exemplo, no “con-
sumo” entra a consideração das futuras necessidades de terceiros, orientando por elas, 
desta maneira, sua própria poupança. Ou quando na “produção” coloca como funda-
mento de sua orientação as necessidades futuras de terceiros, etc.
3. Nem toda espécie de contato entre os homens é de caráter social; mas somente 
uma ação, com sentido próprio, dirigida para a ação de outros. Um choque de dois ci-
clistas, por exemplo, é um simples evento como um fenômeno natural. Por outro lado, 
haveria ação social na tentativa dos ciclistas se desviarem, ou na briga ou considerações 
amistosas subsequentes ao choque.
[…]
WEBER, Max. Ação social e relação social. Apud: Foracchi, Marialice Mencarine; Martins, José de Souza. 
Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro/São Paulo: Livros Técnicos e Científicos, 
1977. p. 139.
Para Weber, essa classificação não engloba todos os tipos de ação social. Ela é composta de 
tipos conceituais em estado puro, construídos para desenvolver a pesquisa sociológica. Esses “tipos 
ideais” são ferramentas (construções) teóricas utilizadas pelo sociólogo para analisar a realidade. 
Os indivíduos, quando agem no cotidiano, mesclam alguns ou vários tipos de ação social.
Como se pode perceber, de acordo com Weber, ao contrário do que defende Durkheim, as 
razões para a ação do indivíduo não são algo externo a ele. O indivíduo escolhe condutas e compor-
tamentos, dependendo da cultura e da sociedade em que vive. Assim, as relações sociais consistem 
na probabilidade de que se aja socialmente com determinado sentido, sempre numa perspectiva de 
reciprocidade por parte dos outros. 
 NORBERT ELIAS E PIERRE BOURDIEU: A SOCIEDADE 
DOS INDIVÍDUOS
Examinamos até aqui três diferentes perspectivas de análise da relação entre indivíduo e so-
ciedade. Para Marx, o foco recai sobre os indivíduos inseridos nas classes sociais e as contradições e 
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28 A sociedade dos indivíduos
conflitos entre elas. Para Durkheim, o fundamental é a integração dos indivíduos na sociedade. Para 
Weber, os indivíduos e o sentido de suas ações são os elementos constitutivos da sociedade. Apesar 
das perspectivas diferentes, todos buscaram explicar o processo de constituição da sociedade e a ma-
neira como os indivíduos se relacionam, procurando identificar as ações e instituições fundamentais.
Dois autores contemporâneos analisaram a relação entre indivíduo e sociedade procurando 
integrar esses polos: o sociólogo alemão Norbert Elias e o francês Pierre Bourdieu. Vamos conhecer 
a seguir os principais conceitos que ambos construíram.
O conceito de configuração
De acordo com o sociólogo alemão Norbert Elias, é comum distanciarmos indivíduo e socie-
dade quando falamos dessa relação, pois parece que julgamos impossível haver, ao mesmo tempo, 
bem-estar e felicidade individual e uma sociedade livre de conflitos. De um lado está o pensamento 
de que as instituições — família, escola e Estado — devem estar a serviço da felicidade e do bem-estar 
de todos; de outro, a ideia da unidade social acima da vida individual.
As distinções entre indivíduo e sociedade levam a pensar que se trata de duas coisas separa-
das, como

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