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PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO TUTORIA 9 1) Analisar a febre reumática considerando o conceito, etiologia, epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico, diagnóstico diferencial, tratamento e profilaxia FEBRE REUMÁTICA É uma doença inflamatória que se apresenta como sequela tardia de uma faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A de Lancefield, em indivíduos geneticamente predispostos Acomete as articulações, coração, SNC, peke e tecido subcutâneo Não existe um único sintoma, sinal ou teste laboratorial que seja específico da doença Apesar do envolvimento articular incluir a síndrome no grupo das doenças reumáticas A sua maior importância é pelo comprometimento cardíaco que pode ser fatal nos estágios agudos Além de ser fatal pode causar cardiopatia crônica, secundária as deformidades das valvas cardíacas EPIDEMIOLOGIA A febre reumática possui uma distribuição universal, mas uma diferença entre incidência e prevalência entre os países Caracteriza-se pela principal causa de cardiopatia adquirida em crianças e adultos jovens nos países em desenvolvimento Em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a faringoamigdalite e o impetigo são as infecções mais comuns causadas pelo estreptococo B-hemolítico PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Porém, só a febre reumática está ligada a faringoamigdalite e o estreptococo é responsável apenas por 20% dos casos de faringoamigdalites Ocorre com frequência entre os 5 e 15 anos de idade e o período de incubação é de 1 a 5 semanas Em 30% dos pacientes a infecção é assintomática e o risco de um segundo surto é maior naqueles que tiveram infecção prévia As viroses são responsáveis por 80% dos casos de faringoamigdalites Nas últimas décadas, os países desenvolvidos vêm apresentando redução na incidência da FR Isso ocorre em consequência de melhores condições de vida e do acesso mais fácil aos serviços de saúde, promovendo o diagnóstico e tratamento precoce das amigdalites Estima-se que anualmente no Brasil ocorre cerca de 10 milhões de faringoamigdalites estreptocócicas, sendo que destes 30 mil são de febre reumática e 15 mil podem evoluir para acometimento cardíaco ETIOLOGIA O estreptococos tem 80 subtipos, sendo que os reconhecidos reumatogênicos foram poucos (1, 3, 5, 6, 14, 18, 19, 24, 27, 29) A cápsula mais externa do microorganismo é uma cápsula de ácido hialurônico que impede a fagocitose. As fímbrias responsáveis pela aderência do estreptococo às células epiteliais da faringe, são pré- requisito para que haja a infecção Em seguida há uma parede celular rígida formada por 3 camadas: Camada externa: a parte mais importante é a proteína M, principal antígeno implicado na patogênese da febre reumática. Já que ela tem propriedades de superantígeno, sendo capaz de provocar reação imunológica exagerada, visto que provém resistência a fagocitose Camada média: formada por um carboidrato que permitiu a classificação sorológica dos estreptococos de A a O, sendo que 90% dos estreptococos B-hemolíticos estão no grupo A Camada interna: composta por um peptideoglicano que confere rigidez e da forma ao microrganismo como se fosse uma estrutura esquelética FISIOPATOLOGIA O mecanismo patogênico da febre reumática que se caracteriza por mimetismo antigênico A semelhança química de determinados antígenos estreptocócicos com estruturas presentes em tecidos humanos induz a formação de anticorpos, que por reação cruza estimulam a imunidade humoral e celular RESPOSTA IMUNE DA DOENÇA REUMÁTICA A doença é mediada por resposta autoimune celular e humoral e o comportamento clínico e evolutivo é pelo mecanismo de hipersensibilidade A evolução se processa em 3 fases: PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO 1. A infecção estreptocócica 2. Fase assintomática 3. Complicação tardia ligada a formação de anticorpos A incidência da doença é rara abaixo dos 3 anos de idade, o que condiz com o tempo de desenvolvimento dos órgãos formadores de anticorpos Os indivíduos com febre reumática apresentam anticorpos antiestreptocócicos mais elevados e por um tempo prolongado Há um aumento dos níveis de imunoglobulinas, principalmente IgA e IgG Há anticorpos anticélulas dos núcleos da base e anticorpos contra proteínas ribossômicas do SNC Linfócitos T CD4+ e as interleocinas estão aumentados na fase aguda da doença A resposta imune inata proporciona defesa imediata contra a infecção, pelo recrutamento de células imunes para o local da infecção e ativação do sistema imune adaptativo, produção de citocinas e ativação da cascata do complemento Em indivíduos com febre reumática o sistema imune adaptativo desempenha um papel importante na manutenção e na expansão da inflamação que leva ao dano tissular A produção de citocinas influência de forma decisiva a resposta imune dos pacientes com febre reumática O número de linfócitos T CD4+ está ligado ao aumento de IL-1, TNF-alfa e IL-2 no sangue A baixa produção de IL-4 está relacionada a progressão das lesões valvares na cardiopatia reumática Já que na sua ausência de IL-4 o número de TNF-alfa, IFN-y (padrão Th1) aumentam desencadeando a resposta imune Esse mecanismo acontece principalmente no nas valvas cardíacas, caracterizando a cardiopatia reumática crônica, enquanto no miocárdio onde há uma grande produção de IL-4 ocorre cura da miocardite após algumas infecções QUADRO CLÍNICO Febre alta (39º C) no início, torna-se baixa com o passar dos dias e pode durar até 3 semanas Artralgia pode vir sem sinais inflamatórios ARTRITE É a manifestação clínica mais frequente de febre reumática aguda Pode acometer as grandes articulações (joelhos, tornozelos, punhos, cotovelo) de forma migratória, ou seja, surge em novas regiões à medida que as outras vão se normalizando A artrite pode ser aditiva e simétrica, persistindo por semanas quando não é tratada adequandamente PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Monoartrite, oligoartrite e comprometimento das pequenas articulações das mãos e pés são menos frequentes CARDITE É a mais grave manifestação, quase tão frequente quando a artrite Pode causar morte na fase aguda ou crônica, qualquer camada do coração pode ser acometida, mas as lesões valvares são predominantes Raramente ocorre pericardite ou miocardite isolada Os principais sinais clínicos são taquicardia, sopros, arritmia e atrito pericárdico Insuficiência cardíaca na fase aguda é rara e ocorre na presença de miocardite Sopro sistólico apical, rude, com irradiação para as linhas axilares e sopro diastólico basal são sinais comuns de valvulite COREIA DE SYDENHAM Ocorre em 30% dos casos, geralmente como manifestação tardia, meses após a infecção de garganta Cardite ou artrite acompanham 50% dos casos de coreia Na maioria das vezes é de curso benigno, porém a evolução pode durar mais de 2 anos O período de incubação é mais longo que das demais manifestações da febre reumática e varia de 1 a 6 meses Nesses casos, os pacientes podem não mais apresentar alterações laboratoriais, mas permanecem com risco de desenvolver lesão cardíaca Caracteriza-se por movimentos não coordenados e involuntários, fraqueza muscular e labilidade emocional Os músculos das extremidades e da face são os mais acometidos e a escrita costuma ser confusa ERITEMA MARGINADO Tem incidência entre 5 – 13%, sendo mais frequente nos pacientes comcardite e nódulos subcutâneos É mais comum nos estágios iniciais da doença São lesões musculares, eritematosas que tomas um aspectro rendilhado com o centro mais claro Não são pruriginosas, não enduradas, indolores, de duração transitória e carácter recidivante Os locais mais acometidos são o tronco e região proximal dos membros, não ocorre em face NÓDULOS SUBCUTÂNEOS São raros e sua frequência gira em torno de 8% Ocorrem tardiamente, quase que exclusivamente nos pacientes com cardite grave Firmes, indolores e móveis, com tamanho variando de alguns milímetros até 1 ou 2 cm PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO São encontrados nas superfícies extensoras dos tendões próximas as proeminências ósseas como cotovelos, joelhos, tornozelos, processos espinhosos vertebrais, couro cabeludo e fronte Duram 1 ou 2 semanas, raramente mais de 1 mês EXAMES LABORATORIAIS Existem 2 tipos de exames de laboratório que são úteis no diagnóstico e no acompanhamento da evolução Os que revelam infecção anterior por estreptococo do grupo A e aqueles que avaliam o estado inflamatório sistêmico presente EVIDÊNCIAS DE INFECÇÃO PELO ESTREPTOCOCO DO GRUPO A A dosagem de ASTO mede habilidade do soro em neutralizar a estreptolisina O O teste da como resultado a mais alta diluição na qual o soro do paciente inibe a lise das hemácias A resposta tende a ser mais intensa naqueles indivíduos que já apresentaram maior número de exposições ao agente bacteriano Na vigência de uma estreptococcia complicada com febre reumática a elevação dos títulos surge de 7 a 12 dias após a infecção inicial e cai de 4 a 6 semanas 80% dos pacientes com febre reumática aguda tem ASTO elevada Entretanto, não podem ser considerados como diagnóstico de febre reumática e nem configuram a gravidade ou atividade da doença Apenas detectam a presença de uma infecção estreptocócica prévia CULTURA DE OROFARINGE Evidencia infecção estreptocócica prévia quando positiva para o estreptococo B-hemolítico do grupo A Esse teste é positivo em cerca de 30% dos casos quando é feito o diagnóstico de febre reumática, pois durante o período de latência o microrganismo é erradicado da orofaringe Além disso, vários pacientes recebem antibiótico antes do diagnóstico de febre reumática ser considerado PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO PROVAS DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA Não são específicas e não dão o diagnóstico de febre reumática, mostram apenas a existência de uma atividade inflamatória no organismo Velocidade de hemossedimentação (VHS) Proteína C reativa (PCR) Alfa-1 glicoproteína ácida: é induzida por processo inflamatório agudo e não sofre influência de anti-inflamatórios HEMOGRAMA Leucocitose pouco acentuada, pode ter desvio para esquerda, com eosinofilia e monocitose Anemia hipocrômica, normocítica ou discretamente microcítica pode estar presente ELETROCARDIOGRAMA Não apresenta alterações específicas ou patognomônicas na febre reumática aguda, a única alteração pode ser taquicardia sinusal O alongamento do intervalo PR é uma das anormalidades mais importantes Aumento do intervalo QT pela frequência cardíaca tem sido considerado como uma das mais comuns alterações eletrocardiográficas na febre reumática aguda DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico, não existe exame laboratorial ou de imagem que seja patognomônico da doença A Academia Americana de Cardiologia determinou alguns critérios para evitar excesso de diagnósticos de febre reumática Esses critérios continuam sendo considerados o padrão ouro para o diagnóstico do primeiro surto da doença O diagnóstico da fase aguda é sugerido na presença de 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores + uma evidência de infecção prévia pelo estreptococo do grupo A DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Artrite idiopática juvenil Lúpus eritematoso sistêmico Artropatias soronegativas Artrite pós-estreptocócica Infecções viróticas e bacterianas Endocardite bacteriana Anemia falciforme Miocardite viral PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO TRATAMENTO O melhor tratamento é a profilaxia primária: diagnóstico precoce e tratamento adequado das infecções estreptocócicas de orofaringe Essas devem ser tratadas nos primeiros dias, se persistir por mais de 1 semanas em indivíduos susceptíveis pode causar a febre reumática A amigdaletocmia não altera o curso natural da doença, assim, não deve ser sugerida como conduta O tratamento da fase aguda tem 3 objetivos básicos: 1. Erradicação do estreptococo Todos os pacientes com manifestação de febre reumática aguda devem ser tratados com antimicrobianos bactericidas para erradicar o estreptococo, mesmo que não tenha sido isolado pela cultura O tratamento oral deve ser mantido no mínimo por 10 dias Deve-se escolher a penicilina benzatina em dose única como antibiótico de escolha, por via intramuscular profunda 2. Alívio dos sintomas Repouso no leito: para repousar as articulações e diminuir movimentos incoordenados na coreia Artrite: AINH ou ácido acetilsalicílico (AAS) Cardite: deve ser tratada sempre, exceto na forma subclínica. Deve-se escolher a prednisona por reter menos sódio e perder menos potássio, usar no máximo 12 semanas Coreia: haloperidol (bloqueador dos receptores dopaminérgicos), após 3 semanas sem sintomas iniciar a retirada e observar 3. Profilaxia secundária Aplicação continuada de antibióticos bactericidas ou bacteriostáticos afim de evitar novas infecções E prevenir novos surtos de febre reumáticas que poderia acometer as valvas cardíacas ou agravas sequelas cardíacas já existentes A droga de escolha continua sendo a penicilina benzatina por via intramuscular em intervalos de 21 dias PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO A baixa aderência a profilaxia secundária é a principal causa de recorrência da febre reumática Algumas situações estão relacionadas a menor aderência: adolescência, data do último surto), baixo nível socioeconômico, cultural e comparecimento as consultas médicas desacompanhados de pais ou responsáveis REFERÊNCIAS Tratado Brasileiro de Reumatologia. Cecin e Ximenes. Atheneu, 2015 Reumatologia: diagnóstico e tratamento. 4ed. Editora: Gen
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