Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
ABRAPEE Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) Volume 7 Número 1 Janeiro/Junho 2003 ISSN 1413-8557 Expediente C O N S E L H O E D I T O R I A L Editora: Acácia Aparecida Angeli dos Santos Primeira Secretária: Geraldina Porto Witter Segunda Secretária: Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly Tesoureira: Isabel Cristina Dib Bariani C O R P O E D I T O R I A L Arrigo Leonardo Angelini Universidade de São Paulo Eliana M. B. Bhering Universidade do Vale do Itajaí Eunice M. L. Soriano de Alencar Universidade Católica de Brasília Evely Boruchovitch Universidade Estadual de Campinas Fermino Fernandes Sisto Universidade São Francisco Hermínia Vicentelli de Castillo Universidad Pedagógica Experimental Libertador Jorge Castellá Sarriera Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul José Aloyseo Bzuneck Universidade Estadual de Londrina José Fernando B. Lomônaco Universidade de São Paulo Leandro Almeida Universidade do Minho Maria Helena Mourão A. Oliveira Pontifícia Universidade Católica de Campinas Maria Helena Novaes Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Marisete F. Lima Universidade Federal da Paraíba Nádia Maria Dourado da Rocha Faculdades Ruy Barbosa Raquel Souza Lobo Guzzo Pontifícia Universidade Católica de Campinas Samuel Pfromm Neto Pontifícia Universidade Católica de Campinas Sebastián Urquijo Universidad del Mar del Plata Thomas Oakland University of Florida CONSULTORES AD-HOC Eliane Di Nucci– Universidade São Francisco Eulália Maimoni– Uniube-MG Selma Martineli – FE-Unicamp ASSISTENTE DO CONSELHO EDITORIAL Katya Luciane de Oliveira – mestranda em Psicologia Indexação em: Index Psi LILACS Tiragem: 600 exemplares Apoio Financeiro: Programa de Auxílio à Editoração do CNPq A revista Psicologia Escolar e Educacional é um veículo de divulgação e debate da produção científica na área específica e está vinculada à Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Seu objetivo é constituir um espaço para a apresentação de pesquisas atuais no campo da Psicologia Escolar e Educacional e servir como um veículo de divulgação do conhecimento produzido na área, bem como de informação atualizada a profissionais psicólogos e de áreas correlatas. Trabalhos originais que relatam estudos em áreas relacionadas à Psicologia Escolar e Educacional serão considerados para publicação, incluindo processos básicos, experimentais, aplicados, naturalísticos, etnográficos, históricos, artigos teóricos, análises de políticas e sínteses sistemáticas de pesquisas, entre outros. Também, revisões críticas de livros, instrumentos diagnósticos e softwares. Com vistas a estabelecer um intercâmbio entre seus pares e pessoas interessadas na Psicologia Escolar e Educacional, conta com uma revisão às cegas por pares e é publicada semestralmente. Seu conteúdo não reflete a posição, opinião ou filosofia da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. Os direitos autorais das publicações da revista Psicologia Escolar e Educacional são da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, sendo permitida apenas ao autor a reprodução de seu próprio material, previamente autorizada pelo Conselho Editorial da Revista. As transcrições e traduções são permitidas, desde que no limite dos 500 vocábulos e mencionada a fonte. São publicados textos em português, espanhol e inglês. ABRAPEE Av. John Boyd Dunlop, s/n – Campus II da PUC-Campinas Prédio da Psicologia Clínica – l3059-900 – Campinas/SP Tel/Fax: (19) 3735 5840 – Home-page: http://www.abrapee.psc.br – E-mail: abrapee@abrapee.psc.br Psicologia Escolar e Educacional./ Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.- v. 1, n. 1. 1996- Campinas : ABRAPEE, 1996. Quadrimestral : 1996-1999. Semestral : 2000- ISSN 1413-8557 l. Psicologia educacional. 2. Psicologia escolar. 3. Educação. 4. Brasil. I. Associação Brasileira de Psico- logia Escolar e Educacional. 7 Editorial Artigos 11 Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem Clara Vasconcelos João Félix Praia Leandro S. Almeida 21 Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira Javier Vivaldo-Lima Miguel López-Olivas Rosa Obdulia González-Robles 33 Professor-estresse: análise de produção científica Geraldina Porto Witter 47 Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia Ana Paula Porto Noronha Flávia Nunes de Moraes Beraldo Katya Luciane de Oliveira 57 Inglês instrumental: eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia Neusa Haruka Sezaki Gritti 67 Aprendizagem por interação e traços de personalidade Lílian Pacheco Fermino Fernandes Sisto 77 Depressão infantil: uma contribuição para a prática educacional Miriam Cruvinel Evely Boruchovitch 85 A construção da seriação auditiva: uma análise através da metodologia clínica Patrícia Fernanda Carmem Kebach Psicologia Escolar e Educacional PUBLICAÇÃO SEMESTRAL 2003 Volume 7 Número 1 ISSN 1413-8557 Resenhas 97 Estratégias de compreensão de leitura Maria Helena Mourão Alves de Oliveira História 99 Entrevista com Marilene Proença Rebello de Souza Entrevistadora: Elenita Tanamachi Sugestões práticas 103 Sexualidade e escola: um espaço de intervenção Flávia Nunes de Moraes Beraldo Informativo 105 Notícias bibliográficas 107 Informe 108 Forma de Apresentação do Manuscrito 115 Ficha para novos sócios da ABRAPEE SUMMARY 7 Editorial Papers 11 Theory of learning and the teaching-learning of sciences - from instruction to apprenticeship Clara Vasconcelos João Félix Praia Leandro S. Almeida 21 Psycholinguistic determinants of reading comprehension in english as a foreign language Javier Vivaldo-Lima Miguel López-Olivas Rosa Obdulia González-Robles 33 Teacher-stress: Analysis of scientific production Geraldina Porto Witter 47 Well-know psychological instruments used by psychology students and professional Ana Paula Porto Noronha Flávia Nunes de Moraes Beraldo Katya Luciane de Oliveira 57 Instrumental english: teaching efficiency for psychology course freshman students Neusa Haruka Sezaki Gritti 67 Peer interaction learning and personality traits Lílian Pacheco Fermino Fernandes Sisto 77 Depression in children: A contribution to the work educational Miriam Cruvinel Evely Boruchovitch 85 The construction of the hearing seriation: An analysis through clinical methodology Patrícia Fernanda Carmem Kebach Reviews 97 Reading comprehension strategies Maria Helena Mourão Alves de Oliveira ISSN 1413-8557 History 99 Interviewing Marilene Proença Rebello de Souza Elenita Tanamachi Practical Sugestions 103 School and sexuality: Intervention space Flávia Nunes de Moraes Beraldo Informative 105 Events 107 Bibliographic Notes 108 Instructions to Authors 115 ABRAPEE Membership EDITORIAL As perspectivas da psicologia escolar/ educacional Com base nesse tema, psicólogos, pesquisadores e muitos estudantes interessados na área reuniram-se em Salvador-BA, no mês de abril, para o VI Congresso de Psicologia Escolar e Educacional (VI CONPE). O evento teve a participação de aproximadamente mil inscritos e os trabalhos apresentados foram atinentes a diferentes sub-temas a saber, Avaliação e medidas no contexto escolar; Desenvolvimento humano; Educação infantil; Educação informal; Ensino de psicologia; Ensino fundamental; Ensino médio; Ensino superior; Família; Formação do educador; Formação do psicólogo escolar/educacional; Fracasso escolar/evasão; Leitura/escrita; Necessidades especiais/inclusão; Orientação profissional; Pesquisa em psicologia escolar/educacional; Preven- ção; Tecnologia educacional e Terceira idade. Pudemos contar com o acolhimento carinhoso do povo baiano e, em especial, com o apoio irrestrito do corpo diretivo e dos docentes e alunos da Faculdade Ruy Barbosa, que sediou nosso evento. A Comissão Organizadora, coordenada pela Profa. Dra. Nádia Rocha, teve um papel preponderante para que o VI CONPE pudesse acontecer nos padrões desejados. Foi uma oportunidade ímpar de agregarmos congressistas advindos da grande maioria dos estados brasileiros, o que reforçou nosso propósito de que cada um dos nossos congres- sos, que têm caráter nacional, ocorra em uma das diversas regiões do país para permitir uma participação mais ampla daqueles que se encontram fora do eixo Rio - São Paulo. As atividades apresentadas, nos quatro dias de duração do evento, foram propostas por professores universitários, pós-graduandos e profissionais da área, que ofereceram uma extensa gama de trabalhos em forma de conferências, mesas-redondas, simpósios, cursos e workshops que demonstraram as características da produção científica na área, bem como, a diversidade de práticas profissionais. É importante ressaltar que as seções de comunicação oral e os painéis apresentados contribuíram, em muito, para que pudéssemos registrar e divulgar a amplitude de interesses e de abordagens presentes em nossa área. Duas novas modalidades, não existentes nos congressos anteriores – ‘Depoimento’ e ‘Partilhando Experiências’ foram ricas o suficiente para serem citadas positivamente na avaliação dos participantes, o que significa que vale a pena mantê-las e incrementá- las nos próximos eventos a serem realizados. O apoio de órgãos de fomento (CAPES, CNPq e FAPESB) e de outras instituições públicas (Universi- dade Federal de Bahia e Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador) e particulares (Casa do Psicólogo; Colégio Módulo; Pinheiro Viagens e Turismo) foi indispensável para a viabilização financeira do evento. Além disso, merece destaque especial o auxílio do Conselho Federal de Psicologia e os Conselhos Regionais de São Paulo (CRP-06) e da Bahia (CRP-03), o que nos mostra a importância da aproximação das entidades científicas com as entidades profissionais, ambas buscando o fortalecimento da psicologia como ciên- cia e como profissão. Sem dúvida, a quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados não seria a mesma sem a participação da Comissão Científica e dos avaliadores ad-hoc que dedicaram parte significativa do seu tempo na análise cuidadosa das propostas encaminhadas. Ainda com a preocupação de registrar o grande valor da divulgação das temáticas relevantes para os interessados na área de psicologia escolar e educacional queremos expressamente agradecer o apoio financeiro que esta revista passou a ter no ano de 2003 do Programa de Auxílio Editoração do CNPq, que viabilizou sua impressão e nos possibilitou garantir sua periodicidade. Esperamos que essa ajuda, somada ao nosso empenho de buscar sempre uma melhor qualidade para nossa revista se reflita no conteúdo e no alcance que os artigos aqui publicados possam ter, favorecendo o impacto que um periódico científico pretende alcançar na sua área de abrangência. Assim, estaremos de fato abrindo novas e amplas perspectivas para a área de Psicologia Escolar/Educacional. Acácia Aparecida Angeli dos Santos Editora Artigos 1 Centro/Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. 2 Centro/Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. 3 Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho. Todos aprendemos sem nos preocuparmos verda- deiramente com a natureza desse processo e todos en- sinamos sem buscarmos um suporte teórico explicativo do processo de ensino-aprendizagem. Como professo- res temos alguns referenciais explicativos e, também, de forma implícita ou explícita, orientamos a nossa prá- tica por tais referenciais. De qualquer modo, as teorias de aprendizagem, tendo surgido, possivelmente, porque conforme salienta Bigge (1977) “o homem não só quis aprender como também, frequentemente, sua curiosi- dade o impeliu a tentar aprender como se aprende” (p.3), são diversas e acompanharam de perto a evolu- ção observada na Psicologia e na Educação em Ciênci- as. Assim, apresentamos ao longo deste artigo diversas teorias de ensino-aprendizagem, reportando-nos sem- pre que possível ao ensino-aprendizagem nas ciências, Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 TEORIAS DE APRENDIZAGEM E O ENSINO/APRENDIZAGEM DAS CIÊNCIAS: DA INSTRUÇÃO À APRENDIZAGEM Clara Vasconcelos 1 João Félix Praia 2 Leandro S. Almeida 3 Resumo Uma preocupação sempre presente da investigação na área da Psicologia Educacional, é a da compreensão do processo de aprendizagem do aluno, nomeadamente em contexto formal de ensino. Nessa linha, o ensino das ciências recorre a essa área de conhecimento para fundamentar teoricamente concepções e práticas de ensino/aprendizagem, no contexto e ecologia de sala de aula específicos. Neste artigo apresenta-se o contributo das diversas teorias de aprendizagem no processo de ensino/aprendizagem das ciências, especificando a influência de algumas delas nas perspectivas de ensino que foram sendo evolutivamente assumidas. Desse modo, inicia-se uma descrição histórica, referindo perspectivas de ensino apoiadas na vertente behaviorista e termina-se a sua abordagem referindo teorias cognitivo-construtivistas, que deram lugar a perspectivas de ensino voltadas para o papel do aluno, como sujeito ativo na construção do conhecimento, e para o reconhecimento do valor meramente instrumental dos conteúdos curriculares. Palavras chave: Ensino; Aprendizagem; Construção do conhecimento. THEORY OF LEARNING AND THE TEACHING-LEARNING OF SCIENCES - FROM INSTRUCTION TO APPRENTICESHIP Abstract It is always a concern for research in the area of Educational Psychology, to understand the process of learning of the student, namely in a formal context of teaching. In this sense, the teaching of Sciences uses this area of knowledge in an attempt to ground theoretically conceptions of teaching/learning. Here, the authors attempt to underline the contribution of the learning theories in the process of learning/teaching of Sciences, specifying their influence in the perspectives of teaching that have been previously assumed. In this way, an historical description is started, referring perspectives of teaching supported in the behaviourist approach, and finish by referring cognitive-constructive theories that gave rise to teaching perspectives more focussed on the role of the student in the construction of knowledge, and for the recognition of the innate instrumental value of the curricular subjects. Key words: Learning; Teaching-learning; Construction of knowledge. INTRODUÇÃO Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida12 iniciando pela teoria do Ensino por Transmissão, pers- pectiva fortemente marcada pelas teorias behavioristas da aprendizagem. Após referirmos a influência de auto- res como Gagné (1975) ou Bandura (1977), que manti- veram latente a influencia comportamentalista, referir- mos a Aprendizagem por Descoberta e a Aprendiza- gem por Mudança Conceptual. Por último, menciona- mos o Ensino por Pesquisa, processo fortemente mar- cado pelo cognitivismo-construtivismo que realça o pa- pel do aluno como construtor do conhecimento, movido pela curiosidade, descoberta e resolução de problemas. Esta perspectiva de ensino é referida como a mais ac- tual ao nível da didática das ciências e, implicitamente, aquela que deverá ser mais valorizada na formação dos professores. Com este artigo pretendemos listar este conjunto de perspectivas de análise e definição de processos de ensi- no-aprendizagem, sobretudo quando este processo ocor- re nos contextos formais escolares. Sem pretendermos ser exaustivos e profundos no conjunto de tais perspecti- vas, procuramos, no entanto, salientar algumas implica- ções práticas e assumir as vantagens de uma abordagem que reconhece o aluno como tendo um papel ativo e cen- tral nas aprendizagens, entendidas como co-construções progressivas de conhecimento e destrezas. As teorias de aprendizagem e o ensino-aprendiza- gem das ciências A Aprendizagem por Transmissão (APT) pode as- sociar-se às perspectivas behavioristas ou comportamentais da aprendizagem. O ensino por trans- missão tem o seu fulcro nas exposições orais do profes- sor, que transmite as ideias (estímulos) aos alunos, isto é, “...o professor ‘dá a lição’, imprime-a em arquivadores do conhecimentos e pede, em troca, que os alunos usem a sua atividade mental para acumular, armazenar e re- produzir informações” (Santos & Praia, 1992 p.13). Nessa lógica instrucional de organizar o ensino, o aluno tem um papel cognitivo passivo, sendo encarado como um mero receptáculo de informações que, mais tarde, serão úteis para a vida. Para além do professor usar técnicas que salientem novas informações e informa- ções mais corretas, deverá recorrer também ao refor- ço, preferencialmente a reforços diretos e imediatos, tendo em vista produzir mudanças comportamentais dos alunos e a sua estabilidade. O papel tutelar do profes- sor, que exerce autoridade face aos seus conhecimen- tos científicos, sobrepõe-se ao papel do aluno. Este, ao invés de aprender, e menos ainda aprender a aprender, apenas acumula saberes que deverá ser capaz de repe- tir fielmente. Assim sendo, Cachapuz, Praia e Jorge (2000) observam “quase tudo se reduz ao professor in- jectar nos alunos as ‘matérias’ que centralmente são definidas e obrigatórias dar ao longo do ano, importando sobretudo os resultados finais obtidos pelos alunos nos testes sumativos - afinal quem mais ordena – enquanto produtos acabados e que são os elementos principais para a atribuição de uma classificação. Cumprir o pro- grama e preparar para os exames é compreendido como aprender o programa” ( p.7). Enfatiza-se, aqui, o papel do professor, relegando-se para segundo plano a intervenção do aluno no seu pró- prio processo de aprendizagem. Se um aluno sabe falar e escrever numa dada área, subentende-se, então, que compreendeu a matéria dessa área de conhecimento. A valorização do aluno como transformador dessa in- formação não aparece suficientemente representada nesta abordagem Do exposto, depreende-se que alguns princípios e práticas educativas para a escola foram elaborados de acordo com os pressupostos behavioristas. Falamos, então, das teorias behavioristas da aprendizagem es- colar, tendo como objetivo principal alcançar comporta- mentos apropriados por parte dos alunos, basicamente entendidos como apropriação e modificação de respos- tas. Assim, se a resposta emitida for desejada haverá reforço, cuja natureza dependerá, necessariamente, do nível etário e do esforço dos alunos, por exemplo. Acre- dita-se que a ineficácia do ensino tradicional foi o fato dos professores não usarem contingências de reforço que acelerassem a aprendizagem (Skinner apud Bigge, 1997). Algumas dificuldades são apontadas a esta teoria. Numa concepção behaviorista de aprendizagem, o alu- no é passivo, acrítico e mero reprodutor de informação e tarefas. O aluno não desenvolve a sua criatividade e, embora se possam respeitar os ritmos individuais, não se dá suficiente relevo à sua curiosidade e motivação intrínsecas. O aluno pode, inclusive, correr o risco de se tornar apático, porque excessivamente dependente do professor. Por outro lado, não há preocupação em ensi- nar a pensar. O ensino realça o saber fazer ou a aqui- sição e manutenção de respostas. A aula deve ser centrada no professor, que controla todo o processo, dis- tribui as recompensas e, eventualmente, a punição. Pre- tende-se, acima de tudo, que haja por parte do profes- sor uma minuciosa exatidão na determinação do que Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 13 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 pretende ensinar, do tempo que necessita para o fazer e uma definição específica dos objetivos comportamentais que pretende obter. A concepção de uma aprendizagem sem erros tem na abordagem skinneriana forte defensa, senão o prin- cipal apoio. O erro deve ser evitado, punido e exigida nova resposta. A avaliação, centrada nos resultados e nos objetivos não alcançados, deve permitir um feedback preciso do que ainda falta ensinar. Os exercícios de re- petição ou de demonstrações de atividades, por vezes organizados e apresentados como se o aluno tivesse que imitar, sem grandes explicações, preenchem largos es- paços do tempo da aula. Tudo, no entanto, deve encon- trar-se meticulosamente justificado e organizado, o que aliás condiz com a tradição do ensino programado nas escolas, como era defendido por esta abordagem. Embora atualmente sejam as perspectivas cognitivo- construtivista as que mais influenciam as concepções de ensino-aprendizagem nas ciências, ainda surgem al- gumas formas “mascaradas” dessa pedagogia transmissiva (Praia & Marques, 1997). Por outro lado, e porque os pressupostos cognitivistas não são, de todo, incompatíveis com os neobehavioristas, são vários os autores que apresentam abordagens mistas, quer a ní- vel metodológico quer a nível teórico (Pozo, 1989). Como exemplo, destacamos a teoria social cognitiva de Bandura (1977), ou a sua mais recente teoria de auto-eficácia (Bandura, 1986), ou mesmo a teoria da instrução de Gagné (1975, 1985). Os objetivos de instrução, a que Gagné (1975) asso- cia objetivos comportamentais (os objetivos de aprendi- zagem refletem alterações no comportamento dos estu- dantes), devem ser definidos em termos de performances humanas, bem como especificar a situação em que es- tas serão observadas. Operacionalmente bem definidos e mensuráveis, tais objetivos devem ser elaborados no início do processo de instrução, pois são eles que deter- minam qual o input que deve ser fornecido ao aluno. Para o professor constituem a base da instrução e o suporte de verificação dos resultados de aprendizagem. Para o aluno servem como motivação e permitem um feedback no final desse processo. A objetividade na definição dos objetivos torna-se notória no recurso a verbos de ação, que facilitam a compreensão do que se pretende observar na performance do aluno. Essa mes- ma objetividade auxilia a clarificação do tipo de apren- dizagem pretendida e as condições requeridas para que estes objetivos sejam alcançados pelos alunos. Os objetivos devem ser elaborados para cada ato de apren- dizagem, situação que levará a que uma unidade programática a ensinar seja constituída por objetivos ini- ciais mais simples e por objetivos terminais que envol- vem capacidades mais complexas. A teoria sócio-cognitiva de Bandura (1977) preocu- pa-se com a aprendizagem que tem lugar no contexto de uma situação social e sugere que uma parte signifi- cativa daquilo que o sujeito aprende resulta da imitação, modelagem ou aprendizagem observacional (Cruz, 1997). Esta teoria representa uma teoria de aprendiza- gem com largas capacidades de adaptação e aplicação ao contexto escolar. Na sala de aula, a conduta do pro- fessor ou a ação de um colega podem facilmente origi- nar uma aprendizagem modelada junto dos alunos. Nesta perspectiva, a aprendizagem é, essencialmente, uma atividade de processamento de informação, permitindo que condutas e eventos ambientais sejam transforma- dos em representações simbólicas que servem como guias de ação (Bandura, 1986). Enquanto processamento de informação, a modelagem não corresponde nem a uma simples imitação, nem a uma mera identificação do observador com o modelo. Embora esse processo de aprendizagem não requeira o prêmio ou o castigo, nem para o observador nem para o modelo, a teoria reco- nhece que estes podem melhorar a aquisição e execu- ção da performance. Se numa perspectiva behaviorista, o comportamento deve ser reforçado tendo em vista a sua aquisição e manutenção, na aprendizagem modela- da, mesmo quando reforçadas, as aprendizagens pres- supõem experiências prévias de observação. Porém, incentivos ou antecipação dos benefícios podem influ- enciar o sujeito, determinando quais as condutas a ob- servar. A expectativa de uma resposta efetiva ou de um castigo, podem favorecer, por exemplo, o nível de aten- ção do aprendiz na ação do modelo. A antecipação dos benefícios pode, ainda, permitir uma melhor retenção do que foi observado, dado que o sujeito fica motivado para simbolizar e ensaiar as atividades modeladas. Pelo exposto se depreende que as teorias de Bandura (1977) e de Gagné (1975) não marcaram uma clara dis- tinção entre o aluno passivo, mero reprodutor de infor- mação, e o aluno ativo, que aprende, organiza e reestrutura a informação recebida. Com efeito, só em meados dos anos 60-70, rejeitando a passividade do alu- no face a essa pedagogia de base memorística, de ritmo uniforme e muito assente numa motivação extrínseca do aluno (Santos & Praia, 1992), surgem, no ensino das Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida14 ciências, pressupostos de uma pedagogia ativa que re- conhece e valoriza uma maior intervenção do aluno na sua aprendizagem. Assim, opondo-se a um modelo pe- dagógico dominantemente marcado, ao nível psicológi- co, pela corrente neobehaviorista, surge o modelo da Aprendizagem por Descoberta (APD). Este modelo irá, progressivamente, “desinstalar” os referenciais teóricos de uma pedagogia transmissiva reinante nas práticas dos professores. De acordo com essa teoria, defende-se uma aprendizagem ativa, requerendo explorações e desco- bertas efetivas para o alcance de uma verdadeira com- preensão. As relações que as crianças descobrem a partir das suas próprias explorações são mais passíveis de serem utilizadas e tendem a ser melhor retidas do que os fatos meramente memorizados. Bruner (1961) alega que a aquisição do conhecimento é menos impor- tante do que a aquisição da capacidade para descobrir o conhecimento de forma autónoma. Assim, devem os professores promover uma aprendizagem pela desco- berta por meio de atividades exploratórias por parte dos alunos. Nessa perspectiva, cabe ao professor a capaci- dade de lançar perguntas que despertem a curiosidade, mantenham o interesse e provoquem e desenvolvam o pensamento. A abordagem da aprendizagem de Bruner (1961) impulsionou reformas no ensino das ciências. De sali- entar a sua concepção de currículo em espiral na aqui- sição de conceitos científicos, a retomar em anos su- cessivos de escolaridade num crescendo de abstracção (Cachapuz, Praia & Jorge, no prelo a). Contudo, embo- ra implicando o aluno no processo de aprendizagem, a APD poderá exagerar ao pretender assumir a convic- ção de que o aluno aprende por conta própria qualquer conteúdo científico. Se por um lado, o papel central da aprendizagem é, agora, do aluno e não do professor, por outro lado, dá-se relevo à análise da estrutura do assun- to científico a aprender e pouco significado é atribuída ao contexto da aprendizagem. Essa perspectiva de en- sino é especialmente apropriada para a aprendizagem do método científico (como o novo conhecimento é des- coberto), isto é, o método torna-se útil para certos fins pedagógicos e em certos contextos educacionais. As- sume-se que ao exercitar as capacidades processuais e procedimentais, relativamente ao método científico, o aluno desenvolve o pensamento e a aprendizagem. Po- demos referir que esse modelo resulta de “... uma colagem de ideias de raiz empirista e indutivista a novas ideias de índole construtivista na esteira de contribui- ções piagetianas que haviam descolado o olhar para o aluno como sujeito de aprendizagem” (Cachapuz & cols., 2000 p.11). Pelo exposto, depreende-se que a aprendizagem por descoberta é um processo difícil e moroso. Será um pro- cesso porventura compensado, entre outros fatores, porque ajuda o aluno a ter uma aprendizagem mais ba- seada na compreensão e no significado, do que na memorização. No entanto, essa atividade que é mobili- zada em termos sensoriais e cinestésicos para a cons- trução sistemática de ideias a partir de fatos, ignora que a construção ativa do conhecimento deve também ter em conta a construção de idéias a partir de idéias (San- tos & Praia, 1992). A verdadeira ênfase do aluno como construtor do seu próprio conhecimento surge com as teorias cognitivo- construtivistas da aprendizagem, que imprimem um caráter determinante às concepções prévias dos alu- nos. Essa perspectiva cognitivo-construtivista da apren- dizagem deve-se ao modelo piagetiano e de Ausubel, Novak e Hanesian (1981). Ao contrário dos behavioristas, esses autores preocuparam-se com o aprender a pensar e o aprender a aprender, e não com a obtenção de comportamentos observáveis. No entanto, já não se trata de falar nos estádios de desenvolvimento piagetiano com o entusiasmo dos anos 50 e 60, mas de responsabilizar o aluno pelo seu percurso pessoal de aprendizagem e ajudá-lo a ser cognitiva e afetivamente persistente (Cachapuz & cols., 2000). Comparativamen- te à teoria de Bruner (1961), a teoria de Ausubel e cols. (1981) dá pouca atenção à aprendizagem por descober- ta. Essa é importante, apenas, por ser o processo inicial de formação de conceitos relevantes na estrutura cognitiva. Em níveis etários baixos, a formação de con- ceitos é o principal processo de aquisição de saberes, sendo essencialmente “(...) um tipo de aprendizagem por descoberta envolvendo formulação e testagem de hipóteses” (Novak, 1981 p.59). Duas dimensões do processo de aprendizagem, re- lativamente independentes, são importantes na teoria de assimilação de Ausubel e cols. (1981): (i) o modo como o conhecimento a ser aprendido é tornado disponível ao aluno (por recepção ou por descoberta); e (ii) o modo como os alunos incorporam essa informação nas suas estruturas cognitivas já existentes (mecânica ou signifi- cativa). Assim, segundo Ausubel e cols. (1981), há qua- tro tipos básicos de aprendizagem por recepção mecâ- nica, por recepção significativa, por descoberta me- Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 15 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 cânica e por descoberta significativa. Numa primei- ra fase, a informação torna-se disponível ao aluno numa aprendizagem por recepção e/ou por descoberta. Numa segunda fase, se o aprendiz tenta reter a informação nova, relacionando-a ao que já sabe, ocorre aprendiza- gem significativa, se o aluno tenta meramente memori- zar a informação nova, ocorre aprendizagem mecânica. Embora referindo estes quatro tipos de aprendiza- gem, na teoria de Ausubel e cols. (1981) a ênfase é colocada na aprendizagem significativa, ou seja, um processo no qual uma nova informação é relacionada a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Segundo Moreira e Masini (1982), a apren- dizagem significativa só ocorre quando o novo materi- al, que apresenta uma estrutura lógica, interage com conceitos relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na estrutura cognitiva. Quando conceitos relevantes não existem na estrutura cognitiva do sujeito, novas infor- mações têm que ser aprendidas mecanicamente, não se relacionando a nova informação com os conceitos já existentes. Ausubel (apud Novak, 1981) afirma: “o mais importante factor isolado que influencia a aprendizagem é o que o aprendiz já sabe. Determine isto e ensine-o de acordo” (p. 9). À medida que o sujeito adquire conhecimento em várias áreas de conteúdo, estas organizam-se numa es- trutura cognitiva relacionada com cada área. O melhor modo de se obter nova informação, a partir da estrutura cognitiva, é assimilá-la como parte da estrutura existen- te por um processo de conexão. Esse processo está envolvido no relacionamento de uma idéia nova com um conceito prévio e, ao mesmo tempo, na modificação de ambos, isto é, dando significado a ambos. A aprendiza- gem significativa só ocorre quando a informação nova é ligada a conceitos existentes, assumindo que “é neste processo interativo entre o material recém-aprendido e os conceitos existentes (subsumer) que está o cerne da teoria de assimilação de Ausubel” (Novak, 1981 p. 63). Novak (1981), ao referir-se ao trabalho de Ausubel, menciona, ainda, o conceito de organizadores prévios e o seu valor para facilitar a aprendizagem. Esses funcio- nam como uma ponte cognitiva já que deveriam servir de ancoradouro, na estrutura cognitiva, para o novo co- nhecimento. Se conceitos relevantes não estiverem dis- poníveis na estrutura cognitiva de um aluno, os organizadores prévios serviriam para ancorar as novas aprendizagens e levar ao desenvolvimento de um subsumer que facilitasse a aprendizagem subseqüente (Novak, 1981). Seguindo essa perspectiva, de que os organizadores prévios são mais gerais, mais abstratos e mais inclusivos do que o material de aprendizagem sub- sequente, então, a nível de desenvolvimento e planifica- ção curricular, devem ser esses elementos mais gerais a serem introduzidos em primeiro lugar, sendo o concei- to progressivamente diferenciado em termos de detalhe e especificidade. A teoria de Ausubel e cols. (1981) ocupa-se, espe- cificamente, dos processos de ensino-aprendizagem dos conceitos científicos a partir dos conceitos previamente formados pelos alunos na sua vida quotidiana (Pozo, 1989). A aprendizagem passa a ser encarada como um processo interno e pessoal que implica o aluno na cons- trução ativa do conhecimento e que progride no tempo de acordo com os interesses e capacidades de cada um. Aplicado ao ensino das ciências, o construtivismo surge como o fundamento epistemológico duma reação às re- formas curriculares dos anos 60 e 70, e que procura concentrar as atenções para a individualidade do apren- diz, para os contextos onde aprendeu e aprende, e para o envolvimento social das aprendizagens (Osborne, 1996; Canavarro, 1999). Os modelos pedagógicos construtivistas dão especial realce às construções prévias dos alunos na medida em que filtram, escolhem, decodificam e reelaboram infor- mação que o indivíduo recebe do meio (Santos & Praia, 1992; Duit, 1995; Almeida, 1996; Canavarro, 1999; Cachapuz & cols., 2000). Por outras palavras, o conheci- mento prévio ou as concepções pré-existentes orientam os alunos na compreensão da nova informação apresen- tada pelos professores ou pelos manuais. Se as concep- ções prévias dos alunos se articulam com a versão cien- tífica, ocorre apreensão conceptual, mas se entram em conflito com a versão científica, ocorre, então, mudança conceptual. No entanto, em ambos os processos de cons- trução de idéias, está latente o pressuposto de que dificil- mente se aprende sem integrar nas redes de conheci- mento anterior a nova informação (Ausubel & cols., 1980; Almeida, 1996; Praia, 1999). O papel do conhecimento prévio do sujeito é referido em estudos que envolvem dis- ciplinas como a física e a química (Chi, Glaser, Davies & Olton, 1982; Martins, 1993; Loureiro, 1993), a matemáti- ca (Mourão, Barros, Almeida & Fernandes, 1993), e a biologia e a geologia (Bettencourt & Amaral, 1994; Faria & Marques, 1994). No entanto, e no que se refere a tra- balhos publicados sobre as concepções alternativas em alunos de ciências, todos os estudos efetuados nessa área Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida16 refletem a idéia de que a aprendizagem prévia é decisiva nas novas aprendizagens, isto é, o conhecimento prévio do sujeito e o grau com que o pode ativar nas situações de aprendizagem determina as suas novas aquisições (Almeida, 1996). Para além do diagnóstico das concep- ções alternativas, o professor tem à sua disposição ins- trumentos didáticos que promovem a atividade do sujeito na organização da informação com vista à reorganização do conhecimento (Sequeira & Freitas, 1989; Praia, 1999; Cachapuz & cols., 2000; Marques & Praia, 2000; Palmero & Moreira, 2000). Assim sendo, valorizando-se a atividade cognitiva do sujeito e remarcando-se a importância das concepções prévias, surge no ensino das ciência a perspetiva do Ensino por Mudança Conceptual (EMC), que não visa apenas a aquisição de novos conhecimentos pelos alu- nos, mas reclama a sua reorganização conceptual. Essa perspectiva tem hoje a suportá-la numerosas investiga- ções nas aulas de ciências (Nussbaum & Novick, 1982; Osborne & Freyberg, 1985; Driver, 1988). Como refe- rem Cachapuz e cols. (2000) na perspectiva do EMC está subjacente a utilização de estratégias metacognitivas que envolvem os alunos num exercício continuado so- bre o pensar, onde o recurso a atividades que envolvem o espírito crítico e criativo ajuda a desenvolver compe- tências de nível superior. No EMC, outro papel é exigido ao professor, outras tarefas são reclamadas aos alunos. Numa lógica de aprendizagem por construção de conhecimento, exige- se a iniciativa do aluno e fala-se no papel mediador do professor: “... apela-se a um professor que consiga ca- minhar ao lado e à frente dos alunos, a uma distância adequada, servindo de mediador entre os alunos e a nova informação ou tarefa” (Almeida, 1998 p.57). O impor- tante é centrar no aluno o processo de ensino-aprendi- zagem, criando condições para o envolvimento pessoal que se torna necessário (Praia, 1989; Mourão & cols., 1993; Almeida, 1998). Ao destacar as contribuições pedagógicas do construtivismo, Champagne (1996) refere que, como referente teórico, o construtivismo pode legitimar (ou ser utilizado como tal) todo o tipo de práticas suposta- mente centradas no aluno e no seu contexto. Assim, passados quinze anos de intensa investigação didática na área do EMC, surge, atualmente, no ensino das ciên- cias, a perspectiva de Ensino Por Pesquisa (EPP). Essa perspectiva visa não só a compreensão do corpo de conhecimentos e processos científicos, mas pretende igualmente contribuir para o desenvolvimento pessoal e social dos jovens (Cachapuz & cols., 2000). O ensino por pesquisa faz apelo a conteúdos inter e transdisciplinares, cultural e educacionalmente relevan- tes. Nesse sentido, um dos objetivos essenciais é a com- preensão das relações C-T-S-A (Ciência-Tecnologia- Sociedade-Ambiente), procurando garantir que as apren- dizagens se tornem úteis aos alunos numa perspectiva de ação (Canavarro, 1999; Praia, 1999). Trata-se, ago- ra, de valorizar objetivos educacionais (e não meramen- te instrucionais) que promovam uma avaliação forma- dora em detrimento da classificatória. Importa avaliar capacidades, atitudes e valores, e não apenas os con- teúdos científicos sobrevalorizados no EMC. Assim, o EPP preconiza momentos avaliativos ao longo de todo o percurso, auxiliando o aluno a perceber o que faz e a saber quais as estratégias metacognitivas a utilizar em cada tarefa (Cachapuz & cols., 2000). A pesquisa par- tilhada e a discussão promovidas na sala de aula desvi- am a atenção do professor para uma avaliação mais efetiva, tendo em vista regular o processo de ensino- aprendizagem e implicando o aluno na construção do seu conhecimento. O papel ativo do sujeito aparece re- clamado, a sua autonomia no ato de conhecer e o papel central dado à descoberta e à exploração são tidos como decisivos na aprendizagem. CONCLUSÃO A análise efetuada às abordagens comportamentais, permitiu-nos constatar que, embora de forma dissimu- lada, prescutam-se algumas tendências behavioristas em perspectivas de ensino/aprendizagem atuais. O con- dicionamento operante de skinneriano proliferou a ní- vel educacional nos anos trinta e estendeu-se aos sis- temas de instrução programada. Ao nível do ensino em ciências, tais abordagens teóricas serviram de su- porte a uma pedagogia transmissiva, memorística, ba- seada no reforço e com o intuito de obter comporta- mentos desejáveis (Cachapuz & cols., 2000). Sendo o reforço responsável pelo fortalecimento da resposta, aumentando a probabilidade desta ocorrer, desenca- deou, a nível de sala de aula, prémios e castigos com o intuito de promover o controle dos alunos e mudanças comportamentais significativas (Vasconcelos, 2000). A teoria do condicionamento realça o ‘saber fazer’, o comportamento exterior, observável e susceptível de Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 17 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 ser medido (Tavares & Alarcão, 1992). Com o comportamentalismo, os exercícios de repetição, o ensino programado e as demonstrações de atividades a imitar fielmente, foram técnicas de ensino bastante difundidas nas sala de aula. Até ao apogeu educacional das correntes cognitivo- construtivistas da aprendizagem, vários autores manti- veram vivo o behaviorismo, por meio da apresenta- ção de projetos mistos que, embora marcadamente voltados para o processamento da informação, conti- nuavam a reflectir uma influência comportamentalista (Pozo, 1989). Para este autor, as teorias de Bandura (1977) e de Gagné (1975), por exemplo, não marca- ram uma clara distinção entre o aluno passivo, e memorizador de conteúdos, e o aluno ativo, capaz de reestruturar a informação. Em Portugal, e a nível do ensino das ciências, a concepção de aprendizagem pela descoberta de Bruner (1961) marcou os finais da década de 70 e, sobretudo, os anos 80, nomeadamente pelo acolhimento dado aos projetos Nuffield, BSCS (Bilogical Science Curriculum Studies) e ESCP (Earth Science Curriculum Project). Não obstante o impacto desta concepção de aprendizagem, o dinamismo pretendido e atribuído ao aluno tornou-se redutor ao centrar-se na descoberta, que resulta da observação cuidada e sis- temática que supostamente faz descobrir sem pensar (Cachapuz & cols., 2000). Deve-se, principalmente ao modelo piagetianoo re- conhecimento do aluno como construtor do seu conhe- cimento e sujeito responsável pelas suas aprendiza- gens. As concepções construtivistas tiveram forte im- pacto ao nível do ensino das ciências, nomeadamente a noção de que as pré-concepções orientam e deter- minam a compreensão dos alunos. Torna-se então ne- cessário promover a mudança conceptual, sendo a partir da concorrência entre construtos pessoais e construtos científicos que o indivíduo (re)constrói o seu conhecimento acerca dos fenômenos científicos (Ausubel & cols., 1980; Duit, 1995; Canavarro, 1999; Praia, 1999). Porém, apoiar e estimular esse processo de reconstrução de conhecimento do aluno não se afi- gura tarefa fácil para o professor. Sobretudo, estão em causa metodologias e estratégias que conduzam a uma aprendizagem ativa e com significado pessoal para os alunos. Ao questionar o papel dos conteúdos do ensino, perspectivando-os, não como fins de ensino, mas como meio para atingir fins educacionalmente rele- vantes e não meramente instrucionais, podemos ca- minhar no sentido do ensino por pesquisa. Ligada a conteúdos do quotidiano e interesses pessoais do alu- no, essa perspectiva implica uma mudança de atitu- des, de processos e de metodologias, que cabe ao professor promover. Ao realçar, de forma explicita e fulcral o papel do aluno na construção do seu co- nhecimento, essa perspectiva apoia-se nos postula- dos do construtivismo e aposta no desenvolvimento pessoal e social dos jovens. Tal pretensão requer alterações profundas ao nível do processo de ensi- no-aprendizagem. Assim, a transdisciplinaridade, a abordagem de situações problema, a importância do pluralismo metodológico e a necessidade de uma ava- liação formadora são aspectos a desenvolver e a mobilizar por esta nova perspectiva de ensino (Cachapuz & cols., 2000). Finalizamos a nossa abordagem em torno das pers- pectivas de ensino-aprendizagem das Ciências sali- entando alguns aspectos essenciais da evolução havida. Em primeiro lugar, o aluno assume um papel central no processo de ensino-aprendizagem. Cabe- lhe um papel activo de construção de conhecimento e, para isso, importa que o professor conheça esse aluno e a fase desenvolvimental em que se encontra. Em segundo lugar, “aprender” deixa de ser sobretu- do informar-se e passa a ser “conhecer”. Essa idéia torna o processo de ensino-aprendizagem mais ativo, mais assente na descoberta e resolução de proble- mas, na construção e desconstrução de significados pessoais. Finalmente, aposta-se cada vez mais na convergência e diversidade de metodologias de ensi- no, no papel instrumental dos conteúdos curriculares e na ação do “outro” nas nossas próprias aprendiza- gens. Nessa altura, o professor assume também um papel importante de “tutor” do aluno, não o substitu- indo mas acompanhando e modelando as suas apren- dizagens. Igualmente interessante será o recurso, por parte do professor, à simulação de problemas por meio do acesso mais generalizado às novas tecnologias ou ao trabalho de grupo por parte dos alunos, estimulan- do-se a aprendizagem por confronto de posições in- dividuais e cooperação dos pares. Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida18 REFERÊNCIAS Almeida, L. S. (1996). Cognição e aprendizagem: como a sua aproximação conceptual pode favorecer o desempenho cognitivo e a realização escolar. Psicologia: Teoria, In- vestigação e Prática, I (1), 17-32. Almeida, L. S. (1998). Aprendizagem escolar: dificuldades e pre- venção. Em L. S. Almeida & J. Tavares (Orgs.), Conhecer, aprender, avaliar (pp.51-74). Porto: Porto Editora. Ausubel, D., Novak, J. D., & Hanesian, H. (1980). Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana. Bandura, A. (1977). Social learning theory. Englewood Cliffs, N. J.: Prentice-Hall. Bandura, A. (1986). Social foundations of thought & action: A social cognitive theory. New Jersey: Prentice-Hall. Bettencourt, T., & Amaral, I. (1994). A nutrição das plantas. Em F. Cachapuz (Orgs.), Ensino das ciências e formação de professores: Projecto MUTARE 3. (pp. 33-87). Aveiro: Universidade de Aveiro. Bigge, M. L. (1977). Teorias da aprendizagem para professo- res. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária. Bruner, J. (1961). The act of discovery. Harvard Educational Review, 31, 21-32. Cachapuz, A. F., Praia, J. F., & Jorge, M. P. (2000). Perspecti- vas de Ensino das Ciências. Em A. Cachapuz (Org.), For- mação de Professores/Ciências. Porto: CEEC. Cachapuz, A., Praia, J. F., & Jorge, M. P. (no prelo). Educação em Ciências: Contributos para uma reflexão crítica. Lisboa: IIE. Canavarro, J. M. (1999). Ciência e Sociedade. Coimbra: Quar- teto Editora. Champagne, A. B. (1996). National Science Education Standards, Conferêcia apresentada na Universidade de Coimbra. Coimbra: Universidade de Coimbra. Chi, M. T. H., Glaser, R., Davies, L., & Olton, R. M. (1982). Expertice in problem solving. Em R. Sternberg (Orgs.), Advances in psychology of human intelligence, I (pp.). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum. Cruz, V. (1997). Uma abordagem às teorias de aprendizagem. Sonhar, IV (2), 45-83. Driver, R. (1988). Un enfoque constructivista para el desarrollo del currículo en Ciências. Enseñanza de las Ciencias,6 (2), 109-120. Duit, R. (1995). The constructivist view: A fashionable and fruitful paradigm for science education research and practice. Em L. P. Steffe & J. Gale (Orgs.), Constructivism in education (pp.) Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum. Faria, M. A., & Marques, L. (1994). A Terra no Sistema Solar. Em F. Cachapuz (Org.), Ensino das ciências e formação de professores: Projecto MUTARE 3 (pp. 152– 34). Aveiro: Universidade de Aveiro. Gagné, R. M. (1975). Essentials of learning for instruction. New York: Holt, Rinehart and Winston. Loureiro, M. J. (1993). Concepções Alternativas em Física: Conceitos básicos de electricidade. Em F. Cachapuz (Coord.), Ensino das ciências e formação de professo- res: Projecto MUTARE 2 (pp. 39-74). Aveiro: Universida- de de Aveiro. Marques, L., & Praia, J. F. (2000). Os mapas de conceitos: Instrumentos para uma aprendizagem significativa. Em Actas do III Encontro Internacional sobre Aprendiza- gem Significativa (pp. 343-350). Lisboa: Universidade Aberta. Martins, I. P. (1993). Concepções alternativas sobre a energia nas concepções químicas. Em F. Cachapuz (Coord.), En- sino das ciências e formação de professores: Projecto MUTARE 2 (pp. 7-38). Aveiro: Universidade de Aveiro. Moreira, M. A., & Masini, E. F. S. (1982). Aprendizagem signi- ficativa: A teoria de David Ausubel. São Paulo: Editora Moraes. Mourão, A. P., Barros, A. M., Almeida, L. S., & Fernandes, J. A. (1993). O baixo desempenho na Matemática: Avalia- ção para a definição do programa. Em L. S. Almeida, J. A. Fernandes & A. P. Mourão (Orgs.), Ensino-aprendiza- gem da Matemática: Recuperação de alunos com baixo desempenho (pp.). Braga: Didáxis. Novak, J. D. (1981). Uma teoria de educação. São Paulo: Edi- tora Pioneira. Nussbaum, J., & Novick, S. (1982). Alternative frameworks, conceptual conflict and accommodations: Toward a principled teaching strategy. Instructional Science, 11, 183-200. Osborne, J. (1996). Beyond constructivism. Science Education, 80, 53-82. Osborne, R. J., & Freyberg, P. (1985). Learning in science: The implication of children’s science. London: Heinemann Publishers. Palmero, M. R. L., & Moreira M. A. (2000) Mapas conceptuales y representaciones mentales. Una experiencia con el concepto célula. In Actas do III Encontro Internacional sobre Aprendizagem Significativa. Lisboa: Universida- de Aberta, p. 175-187. Pozo, J. I. (1989). Teorías cognitivas del aprendizaje. Madrid: Morata. Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 19 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 Praia, J. F. (1989). A formação de professores de Ciências e a didáctica específica: Uma perspectiva de mudança das concepções de ensino. Revista Portuguesa de Educa- ção, 2 (3), 141-146. Praia, J. F. (1999). Relatório da disciplina de Didáctica da Geologia. Porto: Universidade do Porto. Praia, J. F., & Marques, L. (1997). Das práticas dos professo- res de Ciências (Geologia/Biologia) à mudança em torno das suas concepções de ensino. Em A. Estrela, R. Fernandes, F. A. Costa, I. Narciso & O. Valério (Orgs.), Contributos da Investigação Científica para a quali- dade do ensino (pp. 145-154). Lisboa: SPCE II . Santos, M. E., & Praia, J. F. (1992). Percurso de mudança na Didáctica das Ciências: Sua fundamentação epistemoló- gica. Em F. Cachapuz (Org.), Ensino das Ciências e Formação de Professores: Projecto MUTARE 1 (pp. 7- 34). Aveiro: Universidade de Aveiro. Sequeira, M., & Freitas, M. (1989). Os “Mapas de Conceitos” e o ensino-aprendizagem das Ciências. Revista Portu- guesa de Educação, II (3), 107-116. Tavares, J., & Alarcão, I. (1992). Psicologia do desenvolvi- mento e da aprendizagem (4ª ed.). Coimbra: Livraria Almedina. Vasconcelos, C. (2000). Métodos de Estudo em Alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico: Um contributo à intervenção educativa dos professores. Tese de Doutoramento. Braga: Universidade do Minho. Recebido em: 29/10/02 Revisado em: 10/12/02 Aprovado em: 03/06/03 DETERMINANTES PSICOLINGÜÍSTICOS DA COMPREENSÃO DE LEITURA EM INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Javier Vivaldo-Lima1 Miguel López-Olivas2 Rosa Obdulia González-Robles3 Resumo O objetivo deste estudo foi analisar a contribuição das variáveis lingüísticas e psicológicas da variância associada à compreensão de leitura em inglês (L2). A amostra esteve integrada por 280 estudantes universitarios, falantes nativos do espanhol. A dimensão lingüística da análise avaliou a influência das habilidades de processamento de texto do leitor em espanhol (L1), da sua competência lingüística em L2 e da sua habilidade para perceber transparência léxica entre as duas línguas, enquanto a dimensão psicológica analisou a influência do estilo cognoscitivo, do locus de controle e do controle de ação sobre a capacidade do leitor para construir significado a partir do texto. Administrou-se aos sujeitos uma bateria de sete instrumentos de avaliação. Uma série de análise de regressão múltipla indicou a existência dum modelo explicativo da leitura em L2 em duas etapas. Na primeira, as variáveis psicológicas explicaram 10.2% da variância associada ao processamento do texto em L1, variável que, na segunda etapa, explicou 35.8% da variância associada à compreensão de leitura em inglês, ajuntada à competência lingüística do leitor em L2 e à sua capacidade para perceber transparência léxica entre L1 e L2. Palavras chave: Compreensão de leitura em inglês; Competência lingüística. PSYCHOLINGUISTIC DETERMINANTS OF READING COMPREHENSION IN ENGLISH AS A FOREIGN LANGUAGE Abstract The purpose of this study was to analyze the contribution of linguistic and psychological variables in the explanation of the variance associated with reading comprehension in English (L2). Two hundred and eighty Mexican university students participated in the study. The variables analyzed within the linguistic dimension were: reading strategies in Spanish, linguistic competence in English, and ability to perceive lexical transparency between L1 and L2. The psychological dimension evaluated the influence of the reader’s cognitive style, locus of control, and action control orientation on reading comprehension in L2. Subjects were administered a battery of seven evaluation instruments. Multiple regression analyses suggested a two-stage explanatory model of reading in L2. Firstly, psychological variables accounted for 10.0% of the variance in reading comprehension in the first language. Secondly, reading comprehension in Spanish, linguistic competence in L2, and perception of lexical transparency, accounted for 35.5% of the variance in reading comprehension in English. Key words: Reading comprehension, foreign language, psycholinguistic research. INTRODUCTION The ability to read proficiently in at least one foreign language has become a major requirement of the curricula of institutions of higher education throughout the world. This increasing demand for proficiency in specific skills in foreign languages (reading being the most outstanding) has led to the development of courses for specific objectives, designed to meet concrete academic priorities. Given the current need to improve the reading skills of our university students, it is considered of utmost 1 Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa - Área de Investigación en Lenguas y Culturas Extranjeras. 2 Universidad Nacional Autónoma de México - Facultad de Psicología. 3 Universidad Autónoma Metropolitana - Unidad Iztapalapa - Departamento de Matemáticas. importance to achieve a deep comprehension of the mechanisms, processes, and variables that promote the acquisition of relevant discourse processing skills in a second or a foreign language, with particular emphasis on reading. Such understanding would address a major research priority (Pugh & Ulijn, 1984) and promote the development of research-grounded instructional approaches in the field. Fearch and Kasper (1986) have stressed the need to extrapolate the research done in the field of reading in a Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.22 first language (L1) to the study of reading processes in foreign languages (L2) with specific reference to the development of reading comprehension models, the formulation of research hypothesis, and the selection of relevant instructional methodologies. They contend that although the reader’s linguistic competence in L2 may play an important role in the construction of meaning from text in a foreign language, it is not necessarily the main determinant, considering the facilitation effect associated with the reader’s knowledge of the linguistic system of the L1 and its strategic application. The problem A constant found among students registered in reading comprehension courses in English at the Universidad Autónoma Metroplitana in Mexico is their wide variation in reading achievement, variation that can not be uniquely associated with deficits in linguistic competence in L2. That is, although most of our students enter with a limited linguistic competence in English, some of them eventually develop powerful reading comprehension strategies, and achieve an efficient comprehension of textual information in L2, thus overcoming their original linguistic limitations. However, cases of students with rigid and inefficient text processing strategies are invariably detected, most of them showing a lack of ability to integrate to their reading repertoires strategies which demand a flexible and interactive processing of information. Hence, and although the utmost importance of linguistic determinants for L2 reading comprehension is acknowledged, this study is based on the assumption that the construction of meaning from text in a foreign language may also be determined by psychological factors associated with the reader’s perceptual, cognitive and volitional orientation. In such regard, the main purpose of this study is to validate a multivariate model of reading comprehension in L2 integrated by two main explanatory dimensions of analysis: the linguistic and the psychological. Conceptualization of the reading process The theoretical approach to reading comprehension that underlies this research is based on the Strategic Model of Discourse Processing developed by Van Dijk and Kintsch (1983). Discourse processing is conceptualized as a strategic and interactive process in which the reader constructs a mental representation of discourse in memory using both external information (the text) and internal information (cognitive presuppositions). Discourse is analyzed from the word as the basic unit at the lower level to whole themes as units at the higher level, with a continuous interaction among different text processing levels. In their words: “The model moves from the comprehension of words to the comprehension of clauses in which words have different functions, and from there to complex sentences, sentence sequences and whole textual structures, with a continuous feedback existing among less and more complex units ... instead of operating with a conventional structural processing model we operate with a strategic model”(p. 10). The model The model evaluated in this study (figure 1) is based on the tenet that the variability observed in academic reading comprehension in English in Mexican university students can be accounted for by the interaction of two linguistic and psychological variables. The first dimension of the model (linguistic) is threefold and analyses the impact of (1) the reader’s strategies in his/her first language (Spanish), (2) his/her level of linguistic competence in the foreign language (English), and (3) his/her ability to perceive lexical transparency between both languages (cognate perception). On the other hand, the psychological dimension, which is also threefold, evaluates the influence of the reader’s cognitive style, locus of control and action control orientation on her/his construction of meaning from text. Figure 1: A multivariate model of linguistic and psychological determinants of reading. Original proposal. Following, a summarized revision of the variables incorporated in the proposed model is presented in order to provide a theoretical and research background to the reader. Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 23 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 Reading comprehension in Spanish. The first variable proposed in the explanation of the reading performance of university students in English is their ability to strategically process textual information in their first language. Its integration into the model was based on theoretical considerations about the preeminent role of the first language in the acquisition of a foreign language. In such regard, Beaugrande (1984) underscored the decisive influence of the learner’s knowledge of L1 in learning a foreign language, and proposed that the mother tongue plays the role of a meta- model of language (of a set of expectancies regarding the way in which any particular language is organized), which according to him, would eventually adjust to accommodate the divergence among the L1 and the L2. Linguistic Competence in English. The importance of linguistic competence in L2 for reading comprehension has been vastly acknowledged, although perhaps underestimated in current L2 teaching methodologies. Specifically, Beck and Carpenter (1986) propose the existence of a “threshold level” of linguistic competence for reading, which may fluctuate according to specific task demands but, below which, a reader cannot construct meaning from text. Williams and Moran (1989), on the other hand, make reference to a “linguistic ceiling” for reading which, if extremely low, “would limit the ability of the reader to interact with the text” (p. 221). Perception of Lexical Transparency between L1 and L2. According to a conceptualization of reading as a strategic process, it was considered that the ability to perceive and exploit cognate relationships between L1 and L2 would become a most powerful strategy in reading, helping the reader to overcome limitations in his/her lexical repertoire. Such contention has also been endorsed by Beaugrande (1984) in the following terms: “If we presuppose the existence of a general memory store for both languages (the native and the foreign), all tactics that lead from elements in the mother tongue to their equivalents in the foreign language help to enhance both the efficiency and the search in memory improving familiarity ... the similarity supports learning enabling the transference of elements, assumptions, and processes already familiar” (p.10). Cognitive Style. Cognitive style is defined as the typical way to solve problems, think and perceive of a given subject. Research literature in the field makes reference to several categorizations of the construct including field dependence-independence, conceptual tempo, and attentional style, among others. This study centers in the analysis of the first of these categories given its relevance to the study of reading as a complex problem-solving skill as well as the vast amount of ex- perimental research relating cognitive style and reading comprehension. According to Witkin (in Pitts & Thompson, 1984), the field independent (FI) person has a greater ability to discover outstanding features in a complex field as well as to react to ambiguous stimuli in an analytical way, while the field dependent (FD) person visualizes patterns more globally. Field independence has also been associated with a greater articulation and competence in cognitive analysis and restructuring, while field dependence has been related to a more global approach and to a greater interpersonal competence. Research on the relationship between reading comprehension and cognitive style has shown that FI readers are more capable of making inferences than their dependent counterparts when confronted with tasks that demand an inferential interpretation from prose; that FD subjects tend to constrain their reasoning to real events, whereas FI individuals consider multiple alternatives (Linn, 1978); and that FD readers strongly rely on information in the text, not exploiting their previous knowledge as efficiently as FI independent subjects (Spiro & Tirre, 1980). Locus of Control. Locus of control is defined as a set of generalized expectancies that reflect consistent individual differences among subjects regarding the extent to which they perceive a contingency between their behavior and subsequent events. According to Strickland (1989), subjects with an internal locus of control perceive a contingency between their own behavior and subsequent events, whereas individuals with an external orientation have more probability of perceiving those events as resulting from fate, chance or circumstances beyond their personal control. Research literature in the field includes studies analyzing the relationship between locus of control and intentional and incidental memorization (Beaule & Mckelvie, 1986), and locus of control and academic achievement (Mwamwenda & Mwamwenda, 1986). Findley and Cooper (1988) report a literature review of 98 research studies analyzing the relationship between locus of control and academic achievement. According with their results, internal control beliefs showed to be consistently and significantly correlated with higher academic achievement. Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.24 Action Control. The construct of action control, advanced by Kuhl (1987), refers to a meta-cognitive process that mediates the execution of an action related to an intention of an individual. The process organizes and controls cognitive operations, such as selective attention and the amount and quality of information processed in a way that maximizes the congruence between intention and performance. The extent of action control evoked in a particular situation varies along the two ends of a continuum between action and state orientation. State-oriented cognitions do not evoke any tendency to action but can actively inhibit the expression of action tendencies as a result of a partial incompatibility between action and state orientation. That is, according to Kuhl (1987), in a complex problem-solving situation, as the amount of state-oriented cognitions increases, the likelihood that the individual performs an expected action tends to decrease. It is assumed that an action that demands complex preparatory planning cannot be carried out when the organism is state-oriented since part of the attentional capacity required is employed in state-oriented processes. Research studies focused on the analysis of the relationship between action control and reading comprehension are not reported in the literature. Nevertheless, based on a conceptualization of the reading process in L2 as a complex problem- solving endeavor, and on the results of preliminary exploratory studies conducted with Mexican university students, it was considered that the reader’s action control orientation may also contribute to explain the variability in L2. Research hypothesis As can be concluded from the previous revision of literature, the individual influence on reading comprehension of the linguistic and psychological variables incorporated into the model has been documented on the research literature. However, no previous attempts to integrate the two dimensions into a single, comprehensive model of reading have been reported. Therefore, the purpose of this study was to examine the explanatory power of a multivariate model of reading centered around two dimensions of analysis: the linguistic and the psychological. The model was translated into the following research hypothesis Reading comprehension in English in Mexican university students, native speakers of Spanish, is a function of their level of reading comprehension in Spanish (reading strategies in L1); of their level of linguistic competence in the foreign language; of their ability to perceive lexical transparency between both the first and the foreign language; of their cognitive style (field dependence vs. field independence); of their locus of control (internal vs. external); and of the type of action control orientation. METHOD Participants. Two hundred and eighty voluntary undergraduate college students from two Mexican public universities participated in the study, 118 males and 162 females. As to the institution of reference, 105 were from the Universidad Nacional Autónoma de Méxi- co (UNAM) and 175 from the Universidad Autóno- ma Metropolitana (UAM). Instruments. The evaluation of the sample was based on the administration of a battery of tests integrated by the following instruments: (1) Test of Discourse Processing in English as a Foreign Language (Vivaldo, 1994); (2) Test of Discourse Processing in Spanish as a First Language (Vivaldo, 1994); (3) Nel- son English Language Test-Level 150 (Fowler & Coe, 1976); (4) Test of Perception of Lexical Transparency between English and Spanish (Vivaldo, 1992); (5) The Embedded Figures Test (Witkin, Oltman, Raskin & Karp, 1971); (6) Internality-Externality Scale (Romero-García & Pérez, 1983); and (7) Action Control Scale (Kuhl, 1990). Following a brief description of each instrument is presented. Tests of Discourse Processing Strategies in English and Spanish. Two equivalent tests for the evaluation of reading comprehension in English and Spanish were developed specifically for the study. The theoretical and methodological approach to the evaluation of reading comprehension was based on an extrapolation of the strategic model of discourse processing developed by Van Dijk and Kintsch (1983). The evaluation involved the analysis of the reader’s performance at the following major levels of discourse processing: schematic, macro propositional, local coherence and propositional. Given that a major methodological challenge of the study was to assure the equivalence between the evaluation of reading strategies in English and in Spanish, a major consideration in the design of these instruments Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 25 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 was to control for textual variables (text length, lexical density, conceptual density, structure, typographical clues). Multiple-choice items evaluating the reader’s performance on each of the four main levels of strategic discourse processing proposed by Van Dijk and Kintsch (1983) were developed for each text. Items were presented in Spanish in both tests in order to avoid additional task demands associated to the understanding of the evaluation items in the foreign language. Final versions of the tests were revised and piloted using teachers of English as judges. The final version for each instruments contained 45 items classified as follows: Sections 1 and 2. Macropropositional Level (Items 1-17) Included 10 multiple choice and 7 true-false items evaluating the ability of the reader to discriminate and integrate the main macro ideas in the text both at a glo- bal and at a local level. Section 3. Local Coherence Level (Items 18-25). Included 8 multiple-choice items centered on the evaluation of contextual referents within the text, as well as on the ability of the reader to follow the argumentative network in the text. Section 4. Propositional Level (Items 26-40). This section was based on a “cloze” format and focused on the evaluation of the reader’s ability to integrate syntactic, morphological, discursive, lexical and grammatical information at a propositional level. Test of Perception of Lexical Transparency between L1 and L2. The test measured the ability of the reader to perceive cognates (words sharing both similar form and meaning in two languages) within an academic text. The test was based on a short expository text about chemistry (“The Nobel Prizes”), published in Scientific American. The text was initially piloted with a group of experts who were asked to underline all English-Spanish cognates included in it, with exact registration made of their response times. From the previous procedure 134 words were categorized as cognates (those words selected as such by all the experts). On the other hand, and according to the mean response time between experts, a response time of 5 min. was established for the administration of the test (the idea being to obtain an indicator of the reader’s first impression during a first read of the article and not of a word-by word analytical process not natural during normal reading). The grading for the test ran- ges between 0 (minimum possible value) and 134 (maximum possible value). Action Control Scale. The Action Control Scale (Kuhl, 1991) is a 36-item instrument divided into three subscales (action control during performance, failure and decision taking). Each subscale is integrated by 12 items describing particular problem situations. For each situation the subject is given an alternative between two possible response alternatives, either A or B (one oriented towards action and the other towards an emotional state). The grading of the subjects’ responses for each subscale is based o the count of the total of action-oriented responses (between 0 and 12). In order to provide for effects associated with item presentation, items are distributed at random as well as options A and B. In the case of this study, only the subject’s scores for the AOF scale were taken into consideration. Levenson Internality-Externality Scale. (Romero- García & Pérez, 1985). This instrument is centered on the analysis of the subjects´ locus of control within an internal-external dimension. It includes 24 Likert-type items ranging between 0 (totally disagree) and 6 (totally agree). The total internality score for the subject (IT) is obtained adding separately the scores for each one of the three subscales of the instrument. Procedure. Administration of instruments was carried out on a group basis and involved three two- hour sessions per group. A total of 27 group sessions were held (9 groups analyzed). The administration of reading comprehension tests was carried out on the basis of a counterbalance procedure regarding the following criteria: (1) order of language evaluation (L1 or L2); and (2) version of exam administered (Text A or Text B in each language). Statistical analyses included a series of descriptive, correlational, and multiple regression analyses, an were conducted using the Statistical Package for Social Sciences (SPSS). RESULTS The final sample for the study included 280 undergraduate college students, 118 males (42.1%) and 162 females (57.9%). The mean age for the sample 23.06 years. 105 of the participants were from the UNAM whereas 175 of them were students at UAM. As to their field of studies, 208 (74.3%) were from the Division of Social Sciences and Humanities; 38 (13.6%) from the Division of Basic Sciences and Engineering; and 34 (12.0% from the Division of Biological and Health Sciences. Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.26 The descriptive analysis of the main variables under study yielded the following results: (1) Reading comprehension in English: mean score of 19.32, equivalent to 52/100, with an standard deviation of 4.99; (2) Reading comprehension in Spanish: mean score of 25.62 (equivalent to 69/100) with a standard deviation of 4.75; (3) Linguistic competence in English: mean score of 15.85 (equivalent to 31/100) with a standard deviation of 5.87; (4) Perception of lexical transparency between English and Spanish: mean score of 93.8 (equivalent to 69% of correctly identified cognates within the corresponding test) with a standard deviation of 19.46; (5) Cognitive style: mean score of 9.55 (slightly above de median of possible scores for such test) with a standard deviation of 4.72; (6) Locus of control: mean score of 20.24 (slightly above the median of possible scores for the corresponding test 20) with a standard deviation of 6.84, (7) Action Orientation (AOF subscale): mean score of 6.57 (slightly above the median of possible scores for the corresponding subscale of Kuhl’s scale=6.0) with a standard deviation of 6.57. Multiple regression analysis. The regression model originally proposed to explain the variability of reading comprehension in English (RCE) -Model 1- estimated from the scores of the 280 subjects included in the sample under study, yielded the following results (Table 1): An F=25.46627 for the associated analysis of variance, indicating a significant regression of model 1 (p<0.01), a multiple correlation coefficient of 0.59904 (Multiple R), and a determination coefficient of 0.35885 (R. Square), indicating that the independent variables explained 35.88% of the variability in discourse processing in English under Model 1. RCE = b 0 + b 1 RCS + b2 LCE + b 3 PLT + b 4 CS + b5LC + b6AOF + e...........(Model 1) 1 1 RCE = Reading comprehension in English CS = Cognitive style RCS = Reading comprehension in Spanish LC = Locus of control LCE = Linguistic competence in English AOF = Action orientation (failure) PLT = Perception of lexical transparency L1-L2 Table 1: Multiple regression analysis. Model 1. Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 27 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 However, under Model 1 only three variables showed to be significant, namely, reading comprehension in Spanish, linguistic competence in English and perception of lexical transparency between L1 and L2 (p < 0.0000; 0.0000; and 0.05, respectively). Therefore, alternative models were examined, withdrawing each of the non- significant variables. Models with 5, 4 and 3 independent variables were tested. The model with three independent variables (RCS, LCE, and PLT) was the only one in which all explanatory variables were significant (Table 2 - “Sig T column”). RCE = b0 + b1RCS + b2 LCE + b3PLT+ e...............................(Model 2) hypothesized that they could have not a direct but an indirect influence on he discourse processing skills in English. That is, it could be the case that the psychological variables did not explain RCE in the presence of RCS, LCI and PLT due to the fact that they could be involved in the explanation of the variability of any of those variables. Hence, and as a first step in such direction, it was decided to analyze the influence of the reader’s cognitive style, locus of control and action control on his/her text processing skills in Spanish, based on the following considerations: (1) The knowledge of the first language is considered to be play the role of a meta- model in the acquisition of a foreign language Table 2: Multiple regression analysis. Model 2. The regression analysis for Model 2 (Table 2) yielded a multiple correlation coefficient of 0.59652, a determination coefficient of 0.35584 (that is, RCS, LCE, and PLT explained 35.584% of RCE’s variability under model 2, roughly equivalent to the percentage obtained under model 1), and an F value of 50.82 indicating the existence of a significant regression for model 2 (p<.01). Column “B” in Table 2 presents the estimators for the b 0, b 1, b2 and b 3 parameters, from which the following fit model was derived (Prediction Model): RCE = 2.5829 + .38847 RCS + .27944 LCI + .0253 PLT............Prediction Model Nevertheless, and given the fact that the exclusion of the psychological variables from the original model contradicted to a certain extent research findings in the field suggesting their theoretical relevance, it was (Beaugrande, 1984); (2) The analysis of correlations among variables showed that the correlations between text processing skills in Spanish and the psychological variables (Table 3) was stronger than that between the latter variables and linguistic competence in English or perception of lexical transparency between L1 and L2. Hence, it was hypothesized that the psychological set of variables could exert a preliminary influence on reading comprehension in the first language which, in turn, could become a major determinant of reading comprehension in the foreign language. Accordingly, the following model was tested: RCS = b 0 + b 1 CS + b 2 LC + b 3 AOF + e...................................(Model 3) The results in Table 4 show a significant regression for Model 3 (F=10.29472, p<0.0001) with all three Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.28 independent variables (cognitive style, locus of control and action control) significant (p<0.0256; p<0.0005 and p<0.0002, respectively). Furthermore, the three psychological variables explained 10.1% of the variability of reading comprehension in Spanish as indicated by the associated Table 3: Analysis of correlations among variables. determination coefficient (R Square), with a multiple correlation coefficient of .31723 (Multiple R). The estimators for the model’s coefficients generated the
Compartilhar