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Autoras: Profa. Melina Rubia Mazotti Profa. Claudia Leão Colaboradores: Profa. Angela Maria Pizzo Prof. Jean Carlos Cavaleiro Profa. Christiane Mazur Doi Logística para Importação e Exportação Professoras conteudistas: Melina Rubia Mazotti / Claudia Leão Melina Rubia Mazotti Em 2009, a professora Melina Rubia Mazotti concluiu mestrado na área de negócios internacionais pelo Walsh College‑Michigan, nos Estados Unidos, e, em 2007, concluiu o associate degree em marketing pelo Schoolcraft College, também nos Estados Unidos. É pós‑graduada em gestão empresarial pela Business School de São Paulo e graduada em administração com ênfase em comércio exterior pela Universidade Metodista, também em São Paulo. Profissionalmente, atuou por mais de dois anos na área de supply chain nos Estados Unidos e possui mais de dez anos de experiência em compras nacionais e internacionais de itens produtivos e não produtivos e de serviços. Além disso, exerceu função de coordenação e gestão de equipe de compras com ênfase em strategic sourcing, planejamento estratégico de compras e controle de estoques. Possui conhecimento em importação, exportação, logística integrada e planejamento e programação de compras via MRP, além de vasta experiência em negociação com fornecedores locais e estrangeiros, contratação de fretes, terceirizações e e‑procurement. Hoje, atua na área de global purchasing and supply chain em uma empresa multinacional de grande porte do setor automotivo. Claudia Leão Professora universitária graduada em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo, pós‑graduada em Comércio Exterior pela Universidade Paulista (UNIP). Com cursos extracurriculares na área de Importação e Exportação e Mestranda em Engenharia da Produção na linha de pesquisa de Meio Ambiente pela Universidade Paulista (UNIP). Atuante há 30 anos no mercado de trabalho, desses, 22 anos na área de comércio exterior e 8 anos nas áreas administrativas e, paralelamente, há 13 anos professora universitária. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M476 Mazotti, Melina Rubia Logística para importação e exportação. / Melina Rubia Mazotti, Claudia Leão. ‑ São Paulo: Editora Sol, 2020. 148 p., il. Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Administração 2. Logística 3. Importação e exportação. I . Leão, Claudia. II. Título. CDU 658.78 U508.79 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Simone Oliveira Bruno Barros Sumário Logística para Importação e Exportação APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 COMÉRCIO ..........................................................................................................................................................11 1.1 Globalização ........................................................................................................................................... 12 1.2 Logística ................................................................................................................................................... 14 1.2.1 Atividades primárias .............................................................................................................................. 15 1.2.2 Atividades de apoio ................................................................................................................................ 16 1.3 Importações ............................................................................................................................................ 16 1.3.1 Por que importar? ................................................................................................................................... 17 1.4 Exportações............................................................................................................................................. 21 1.4.1 Por que exportar? ................................................................................................................................... 21 1.4.2 As vantagens da exportação às empresas .................................................................................... 24 2 ASPECTOS LEGAIS PERTINENTES AO COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................................ 28 2.1 Organização Mundial do Comércio (OMC) ................................................................................ 28 2.2 Acordos comerciais internacionais................................................................................................ 29 2.2.1 Acordo EUA‑México‑Canadá (USMCA).......................................................................................... 29 2.2.2 Mercado Comum do Sul (Mercosul) ............................................................................................... 30 2.2.3 União Europeia (UE) ............................................................................................................................... 30 2.2.4 Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) .............................................................. 30 2.3 Barreiras comerciais ............................................................................................................................ 32 2.3.1 Barreiras para determinadas origens .............................................................................................. 33 2.3.2 Barreiras técnicas e de certificação de qualidade ..................................................................... 33 2.3.3 Barreiras por certificação de origem .............................................................................................. 34 2.3.4 Barreiras por composição química .................................................................................................. 34 2.3.5 Barreiras por tradições religiosas ..................................................................................................... 34 2.3.6 Barreiras por proibição ......................................................................................................................... 34 2.3.7 Barreiras sanitárias ................................................................................................................................. 35 2.3.8 Barreiras fitossanitárias ........................................................................................................................ 35 2.3.9 Barreiras por quota ................................................................................................................................ 35 2.3.10 Barreiras por dumping .......................................................................................................................36 2.4 Classificação e codificação de produtos ..................................................................................... 38 2.4.1 Sistema harmonizado (SH) de descrição e codificação de produtos ................................. 38 2.4.2 Nomenclatura comum do Mercosul (NCM) ................................................................................. 39 2.4.3 Nomenclatura da associação latino‑americana de integração (Naladi) .......................... 40 2.4.4 Tarifa externa comum (TEC) ............................................................................................................... 40 Unidade II 3 TERMOS COMERCIAIS INTERNACIONAIS: INCOTERMS ................................................................... 46 3.1 Direito marítimo de navegação ...................................................................................................... 55 3.2 Transportes marítimos ........................................................................................................................ 56 3.2.1 Tipos de embarcações ........................................................................................................................... 57 3.2.2 Operação comercial dos navios ......................................................................................................... 62 3.3 Unitização de carga ............................................................................................................................. 63 3.3.1 Pallet ............................................................................................................................................................ 64 3.3.2 Certificado de fumigação e pallets de plástico .......................................................................... 65 3.3.3 Fixação da carga ...................................................................................................................................... 67 4 CONTÊINER ........................................................................................................................................................ 68 4.1 Ova e desova .......................................................................................................................................... 72 4.1.1 Locais apropriados e responsabilidade ........................................................................................... 73 4.2 Conhecimento de embarque ........................................................................................................... 74 4.3 Termos e definições ............................................................................................................................. 76 Unidade III 5 DIREITO AÉREO DE NAVEGAÇÃO .............................................................................................................. 82 5.1 Transporte aéreo ................................................................................................................................... 83 5.2 Sistema aeroportuário ........................................................................................................................ 85 5.2.1 Aeronaves ................................................................................................................................................... 85 5.2.2 Fixação da carga no embarque aéreo ............................................................................................. 87 5.2.3 Conhecimento de embarque aéreo (air waybill – AWB) ......................................................... 91 6 TRANSPORTE RODOVIÁRIO ......................................................................................................................... 93 6.1 Veículos ..................................................................................................................................................... 96 6.2 Conhecimento de Transporte Eletrônico CT‑e .......................................................................... 96 6.3 Transporte ferroviário ......................................................................................................................... 99 6.3.1 Conhecimentos de carga e de trânsito (TIF/DTA) .....................................................................101 Unidade IV 7 SEGUROS ..........................................................................................................................................................108 7.1 Causas e perdas ................................................................................................................................... 110 7.1.1 Apólice e avarias ................................................................................................................................... 110 7.1.2 Vistoria e indenização ..........................................................................................................................111 7.1.3 Aquisição de seguro, valor e cláusulas ..........................................................................................111 7.2 Transit time (tempo de trânsito) .................................................................................................. 112 7.2.1 Transit time para embarque marítimo ......................................................................................... 112 7.2.2 Transit time para embarque aéreo ................................................................................................. 114 7.2.3 Transit time para embarque rodoviário ....................................................................................... 114 7.3 Desvios de tempo e riscos de atendimento ............................................................................. 115 8 ARMAZENAGEM ............................................................................................................................................ 115 8.1 Despacho e desembaraço aduaneiro .......................................................................................... 116 8.2 Importância da tecnologia da informação .............................................................................. 119 8.3 Exportação ............................................................................................................................................ 119 8.4 Importação ............................................................................................................................................124 8.5 Cálculo do custo internado da mercadoria (custo landed) ...............................................126 9 APRESENTAÇÃO O comércio exterior é uma das principais formas para o desenvolvimento socioeconômico de um país, com diversos fatores auxiliando no crescimento produtivo e tecnológico das empresas atuantes no mercado internacional. A concorrência envolvida no comércio internacional leva a empresa a atuar nos padrões internacionais, devendo produzir com qualidade e preços competitivos. A logística é o elo para que as empresas consigam vencer as barreiras existentes em operações internacionais. Assim sendo, toda a logística envolvida nas operações internacionais deve observar a minimização dos custos diretos e indiretos que possam vir a compor o preço final do produto no mercado internacional. Cabe ainda à logística ter um planejamento prévio a cada operação realizada no âmbito da logística internacional, em que devem ser observados os aspectos da cadeia produtiva e o planejamento do meio de transporte, tempo e custo. A logística para importação e exportação engloba diversas decisões durante todo o processo de importação e exportação door to door, ou seja, quando o produto é coletado na porta do embarcador (origem) e levado à porta do comprador (destino). Entre essas tarefas, estão a de escolher o tipo de transporte mais indicado, observando suas características técnicas, cumprimento de obrigações sanitárias e desembaraço alfandegário. INTRODUÇÃOConsiderando a complexidade do comércio internacional, o objetivo deste trabalho é transferir conhecimentos da área de logística para importação e exportação e contextualizar essa área no cenário mundial globalizado. Essa contextualização será feita a partir de uma visão objetiva estruturada sobre informações básicas, relevantes e úteis ao dia a dia. Além disso, buscaremos mostrar as principais tecnologias existentes para realizar o planejamento e operações logísticas desde a armazenagem até a entrega do produto ao destino. A disciplina aborda noções básicas de comércio exterior brasileiro, detalhando aspectos de exportação e legislação brasileira para o comércio exterior. São trazidos para o aluno detalhes de processos de exportação e importação, como Incoterms, logística de desembaraço aduaneiro e logística internacional, assim como os aspectos gerenciais de riscos das cargas na DFI, transporte internacional de cargas e transporte marítimo x portos. Na primeira unidade, discorreremos sobre a globalização e apresentaremos a logística nesse cenário. Em seguida, veremos como se dá o funcionamento da importação e da exportação e as razões que levam países e empresas a se engajarem nesse processo. Na segunda e terceira unidades, abordaremos os tipos de transportes e suas características. Observaremos também o processo de unitização e o detalhamento da operação de embarque para cada modalidade de transporte. 10 Na última unidade, examinaremos atentamente o seguro internacional, o tempo de trânsito, o despacho e o desembaraço aduaneiro, além de verificarmos os desvios de tempo e os riscos associados à operação logística internacional. Para concluir, aprenderemos como calcular o custo de um item internado. 11 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Nesta unidade, veremos como se deu a origem do comércio até chegarmos à dinâmica do mundo globalizado que temos atualmente. Discutiremos como e porque as nações têm se engajado no comércio internacional e quais são suas vantagens para os países e empresas. Além disso, verificaremos como o Brasil se posiciona no cenário mundial tanto na importação como na exportação. Por fim, apresentaremos como o aumento de trade resulta em uma maior complexidade de transações entre nações, como a logística interliga as varias áreas de uma empresa e como se dá a configuração dos blocos econômicos e as barreiras atreladas ao comércio internacional. 1 COMÉRCIO O comércio existe desde o início da civilização e surgiu basicamente das necessidades cotidianas. Antigamente, para sobreviver, uma família que vivia da plantação de arroz produzia uma quantidade significativa desse produto para seu sustento, porém, suas necessidades básicas iam além do consumo diário desse alimento: era necessário prover vestuário, condições mínimas de moradia etc. Por outro lado, as necessidades essenciais de uma família que criava gado iam além do consumo de carne e leite. Assim, a troca da produção excedente surgiu como uma solução eficaz ao problema da falta de acesso a produtos variados. Figura 1 – Troca de produtos excedentes Unidade I 12 Unidade I Contudo, numa situação na qual um produtor de feijão queria usar sua produção para adquirir peixe e o pescador queria trocar seus peixes por algodão para confeccionar peças de vestuário, observava‑se a complexidade que o sistema de trocas começava a apresentar. Foi o aumento das operações de troca e de sua complexidade que gerou o surgimento das primeiras moedas. Figura 2 – Moedas Desde a criação da primeira moeda até os dias de hoje, houve um enorme avanço no comércio, entretanto, o valor de um produto ainda continua relacionado à sua dificuldade de produção e/ou raridade. O comércio entre as nações existe desde o início da civilização, porém, não no volume de hoje. Assim, o processo de globalização tão em moda atualmente não é um processo novo em sua concepção básica. 1.1 Globalização A economia global do século XXI muda rapidamente. As eventuais barreiras que dificultam a livre circulação de mercadorias, serviços e capital financeiro têm sido reduzidas e o volume de transações entre países cresce num contínuo. O aumento de trade (negócios) entre as nações é uma clara evidência de que as economias mundiais se tornam cada vez mais integradas e interdependentes. Com o crescimento das economias, muitos países têm entrado no ranking de nações desenvolvidas. 13 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Lembrete Países desenvolvidos são aqueles com um alto nível de desenvolvimento econômico e social. Alguns critérios usados para determinar o grau de desenvolvimento dos países são a renda per capita, o valor do Produto Interno Bruto (PIB), o nível de industrialização e, mais recentemente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH é uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e expectativa média de vida. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem‑estar de uma população. Cerca de 42 países do mundo fazem parte da lista de nações que possuem um nível muito alto de IDH. Taiwan e Coreia do Sul são exemplos evidentes de nações em constante crescimento. Anteriormente, elas eram consideradas como nações em desenvolvimento e, hoje, elas já fazem parte do seleto grupo de nações consideradas desenvolvidas, com um papel significativo no cenário mundial. Ambos os países têm empresas globais que abrangem o trabalho com aço, a construção de navios, as indústrias de produtos eletrônicos e químicos etc. Para um país ter uma economia global, tem de adotar políticas econômicas liberais, ou seja, precisa privatizar empresas, abrir o mercado à competição e remover barreiras alfandegárias e financeiras. China, Rússia, África do Sul e Brasil, por exemplo, têm caminhado em direção a um sistema econômico que favorece os negócios internacionais. Será que a globalização irá nos livrar da miséria? Figura 3 – Globalização 14 Unidade I Muitos acreditam que a globalização estimula o crescimento da economia, aumenta a renda da população e gera empregos. No entanto, é importante salientar que a globalização traz riscos como, por exemplo, as crises financeiras de 1997 e 1998 na Tailândia, que rapidamente se espalharam para países como Brasil, Rússia e Estados Unidos. Outros ainda argumentam que a falta de barreiras ajuda as empresas a moverem suas produções de um lugar para outro, buscando países com salários mais baixos. Um exemplo dessa mobilidade pode ser encontrado nas empresas têxteis dos Estados Unidos, que transferiram suas operações para Honduras, onde um operário ganha US$ 0,48 por hora contra um salário de US$ 9 por hora nos Estados Unidos. Isso também ocorre com a área de serviços, na qual estes são terceirizados e levados para outros locais, como é o caso dos call centers (centrais de atendimento) e dos serviços de TI (tecnologia da informação) transferidos para a Índia. No Brasil, inclusive, muitas centrais de atendimento têm sido deslocadas para regiões do país onde os salários dos empregados são inferiores aos de São Paulo, por exemplo. Observação O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que pretende assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro global por meio de monitoramento das taxas de câmbio e da balança de pagamentos e por meio da assistência técnica e financeira. Exemplos de aplicação Quais são os passos a serem tomados para que um país se torne uma economia global? Cite três benefícios e três riscos da globalização. 1.2 Logística Pelo fato de ser necessário estocar e distribuir os produtos adequadamente, a noção de logística remonta ao início da produção agrícola. Porém, a origem do termo logística remete a um passado mais recente, sendo que foi apenas após a Segunda Guerra Mundial que a área passou a ser estudada mais detidamente. Segundo o Council of Supply Chain Management Professional (CSCMP) (s. d.): A logística trata de planejar, implementar e controlar de maneira eficientee eficaz o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do cliente (COUNCIL OF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT PROFESSIONALS, s. d.). 15 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Assim, a atuação na área de logística está interligada a várias áreas que constituem uma organização. Para que a empresa possa fabricar e vender um produto, o profissional de logística terá de executar tarefas que façam com que as matérias‑primas cheguem e sejam estocadas até seu uso na produção. Depois que o produto for finalizado, o profissional de logística atuará novamente para que essa mercadoria seja devidamente estocada e finalmente levada ao cliente. Sistema de transporte Centro de distribuição do supermercado O cliente adquire Sistema de estoque Sistema de produção Confere pedido Aciona fornecedores Matéria‑prima Aciona transportadora Fornecedores de matéria‑prima Fábrica Pe di do Figura 4 – Cadeia de suprimentos Desse modo, o exercício da logística é dividido em dois blocos: atividades primárias e atividades de apoio. As atividades primárias são as essenciais para a realização de tarefas como transporte, manutenção de estoque e processamento de pedidos. As atividades de apoio, por sua vez, dão suporte às atividades primárias e consistem em armazenagem, manuseio, embalagem, suprimentos, planejamento e sistema de informação. 1.2.1 Atividades primárias O transporte é uma atividade indispensável a qualquer empresa. Para que haja o recebimento de matéria‑prima, faz‑se necessário seu transporte até a fábrica e, após a empresa ter agregado mão de obra e transformado a matéria‑prima em um produto acabado, será o transporte que possibilitará que esse produto chegue ao cliente. Logo, nenhuma organização pode operar sem o recurso do transporte e ele corresponde a cerca de dois terços dos custos logísticos. Além disso, um dos grandes desafios das companhias é ter um estoque ideal que corresponda às variações entre oferta e demanda. Um estoque com muito material significa que o dinheiro está parado e que, portanto, há custos. Assim, é da necessidade de circulação permanente de capital que advém a importância da manutenção de estoque, que representa cerca de um terço dos custos logísticos. Por fim, o processamento de pedidos é uma atividade que desencadeia o processo de movimentação de matérias‑primas, de produtos e de entregas. 16 Unidade I 1.2.2 Atividades de apoio Como mencionado anteriormente, as atividades de apoio assistem as três atividades primárias e podem ser descritas como segue: • a armazenagem diz respeito à estocagem tanto de matérias‑primas como de produtos finais e leva em consideração a localização, o dimensionamento, os equipamentos de movimentação e o estoque em si; • o manuseio é a movimentação dos produtos ou das matérias‑primas no estoque e pode ser também a transferência desses itens feita de um depósito para outro; • como os produtos e as matérias‑primas são manuseados diversas vezes, é importante que a embalagem forneça uma proteção contra danos e permita uma armazenagem eficiente; • o suprimento define as quantidades e a fonte de fornecimento de matérias‑primas; • o planejamento é responsável pela definição de local, quantidade e agente de produção. A fim de atender ao prazo exigido pelo mercado, é a atuação do planejamento que indica à produção o que e quando produzir; • o sistema de informação é a fusão das informações de custo, procedimento, planejamento, controle logístico, estoque e recursos financeiros, além de englobar dados de clientes tais como volume, detalhes de entregas e informações sobre o mercado. O sistema de informação serve de apoio para que os gestores possam administrar eficientemente sua empresa. Exemplo de aplicação A atividade logística é dividida em dois blocos: as atividades primárias e as atividades de apoio. Explique‑as. 1.3 Importações Importação é a aquisição de produtos e serviços do exterior. Basicamente, a entrada de produtos estrangeiros pela fronteira já é uma importação. Os países importam produtos e serviços que são escassos em seu território ou que têm uma demanda muito grande. Essa interdependência faz com que o comércio mundial continue a crescer. Os Estados Unidos, por exemplo, apesar de serem um dos grandes produtores de petróleo, têm uma necessidade interna tão grande desse produto que são também o maior importador de petróleo do mundo. 17 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Saiba mais Consulte informações referentes às importações brasileiras no site: BRASIL. Importação. Ministério da Economia, Migração, [s.d.]. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio‑exterior/importacao. Acesso em: 9 jun. 2020. 1.3.1 Por que importar? São muitos os fatores que levam um país a importar. A interdependência é causada por vários motivos: diferenças climáticas entre os países, abundância ou escassez de recursos naturais e florestais e disponibilidade de mão de obra especializada e de tecnologia. As diferenças climáticas impactam enormemente na produção de alimentos, o que gera uma determinada variedade de produtos no mundo. O que temos em abundância no Brasil pode ser extremamente raro em outro país. Por exemplo, o clima de parte dos Estados Unidos e Chile faz com que produção de cereja se desenvolva muito bem, contudo, o clima brasileiro é propício ao cultivo de banana e laranja. Esses fatos fazem com que o Brasil importe cerejas do Chile e exporte suco de laranja aos Estados Unidos. Países com um vasto território, como Canadá, Estados Unidos, China, Rússia e Brasil, têm de tirar o máximo de proveito de suas riquezas naturais, pois isso, a abundância de recursos naturais e florestais já é uma vantagem competitiva desses países quando comparados a nações menores. Entretanto, é fundamental apontar que, uma vez que os países menores podem importar bens primários e exportar o produto finalizado, eles não têm deixado que a escassez de recursos naturais e florestais os impeçam de produzir itens competitivos mundialmente. Atualmente, cada vez mais as nações têm se valido da tecnologia e da disponibilidade de mão de obra especializada para desenvolver produtos de maior qualidade, sendo que o surgimento de novas tecnologias requer maior investimento em pesquisas e a qualificação da mão de obra também demanda investimentos na educação da população. Assim, conforme o relatório Balança Comercial Brasileira – Dados Consolidados – de janeiro a setembro de 2010, publicado pela Secex, as importações de janeiro a setembro de 2010 foram de US$ 132,2 bilhões, um crescimento de 29,6% em comparação a 2009, ano em que tivemos uma grande crise global. As importações somaram USD 177,34 bilhões, uma queda de 3,3% sobre as compras internacionais em 2018. A Secex esclarece que essa é uma tendência global, já que o auge do crescimento do comércio se deu na década de 1990, quando a globalização atingiu seu auge e agora tende a se estabilizar, do ponto de vista mais estrutural. 18 Unidade I A seguir podemos observar na tabela a balança comercial brasileira no ano de 2019, a qual teve um fechamento em superavit de USD 48 bilhões, ou seja, as exportações superam as importações. Se acontece ao contrário, o resultado é de déficit, importações superam as exportações. Tabela 1 – Balança comercial brasileira 2019 USD/ Milhões Mês Ano 2019 Exportação (A) Importação (B) Saldo (A-B) Janeiro 18,00 16,38 1,62 Fevereiro 15,73 12,62 3,11 Março 17,42 13,13 4,29 Abril 19,29 13,62 5,67 Maio 20,59 14,96 5,63 Junho 18,40 13,02 5,38 Julho 20,15 17,75 2,40 Agosto 19,67 15,56 4,11 Setembro 20,29 16,49 3,80 Outubro 19,57 17,02 2,55 Novembro 17,73 14,17 3,56 Dezembro 18,50 12,55 5,95 Total 225,34 177,27 48,07 Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. Tabela 2 – Principais exportadores e importadores mundiais de mercadorias,2017 (US$ bi e %) Ranking 2016 Exportadores US$ bi Parcela % Cresc. Anual (%) Rkg 2016 Ranking 2016 Importadores US$ bi Parcela % Cresc. Anual (%) Rkg 2016 1 China 2.263 12,8 8 1 1 EUA 2.410 13,4 7 1 2 EUA 157 8,7 7 2 2 China 1.842 10,2 16 2 3 Alemanha 1.448 8,2 9 3 3 Alemanha 1.167 6,5 11 3 4 Japão 698 3,9 8 4 4 Japão 672 3,7 11 5 5 Holanda 652 3,7 14 5 5 Reino Unido 644 3,6 1 4 6 Coreia 574 3,2 16 8 6 França 625 3,5 9 6 7 Hong Kong 550 3,1 6 6 7 Hong Kong 590 3,3 8 7 8 França 535 3,0 7 7 8 Holanda 574 3,2 14 8 9 Itália 506 2,9 10 9 9 Coreia 478 2,7 18 10 10 Reino Unido 445 2,5 9 10 10 Itália 453 2,5 11 11 11 Bélgica 430 2,4 8 11 11 Índia 447 2,5 24 14 12 Canadá 421 2,4 8 12 12 Canadá 442 2,5 7 9 13 México 409 2,3 10 13 13 México 432 2,4 9 12 14 Singapura 373 2,1 10 14 14 Bélgica 403 2,2 8 13 15 Emirados Árabes 360 2,0 20 19 15 Espanha 351 1,9 13 15 19 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Ranking 2016 Exportadores US$ bi Parcela % Cresc. Anual (%) Rkg 2016 Ranking 2016 Importadores US$ bi Parcela % Cresc. Anual (%) Rkg 2016 16 Rússia 353 2,0 25 17 16 Singapura 328 1,8 12 16 17 Espanha 321 1,8 11 16 17 Suíça 269 1,5 0 17 18 Taipei 317 1,8 13 18 18 Emirados Árabes 268 1,5 ‑1 19 19 Suíça 300 1,7 ‑1 15 19 Taipei 259 1,4 13 18 20 Índia 298 1,7 13 20 20 Rússia 238 1,3 24 20 21 Tailândia 237 1,3 10 21 21 Turquia 234 1,3 18 20 22 Polônia 231 1,3 14 22 22 Polônia 230 1,3 17 21 23 Austrália 231 1,3 20 23 23 Austrália 229 1,3 17 22 24 Arábia Saudita 218 1,2 19 27 24 Tailândia 223 1,2 15 23 25 Malásia 218 1,2 15 24 25 Vietnã 212 1,2 21 25 26 Brasil 218 1,2 18 25 26 Malásia 195 1,1 16 26 27 Vietnã 214 1,2 21 26 27 Áustria 176 1,0 11 27 28 Rep.Tcheca 480 1,0 11 28 28 Rep.Tcheca 162 0,9 13 29 29 Indonésia 169 1,0 16 30 29 Brasil 157 0,9 10 28 30 Áustria 168 0,9 10 29 30 Indonésia 157 0,9 16 >30 Mundo 17.730 100,0 11 Mundo 18.024 100,0 11 Fonte: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (2020). Na tabela anterior podemos observar a China como o maior exportador mundial e os Estados Unidos como o maior importador mundial. O Brasil ocupa o 26º lugar no ranking de exportador e o 29º no ranking de importador. Tabela 3 – Principais fornecedores do Brasil USD / MILHÕES Países 2019 2018 2017 2016 2015 China 27,21 26,80 21,07 18,12 24,57 Estados Unidos 23,25 22,89 18,79 15,36 17,19 Alemanha 7,38 7,36 6,01 6,80 7,56 China 5,85 5,73 5,57 4,54 5,11 Argentina 5,73 6,29 4,57 4,44 5,25 Estados Unidos 5,55 5,85 5,78 8,17 8,75 Argentina 4,64 4,59 4,70 4,49 4,80 Índia 3,55 2,98 2,38 2,01 3,80 México 3,48 4,16 3,54 2,87 3,69 Japão 3,02 3,38 2,90 2,80 4,01 Coreia do Sul 2,94 3,00 2,95 3,91 3,69 Itália 2,94 3,40 3,00 2,70 3,53 Alemanha 2,85 3,16 2,59 2,28 2,78 França 2,32 2,79 2,51 2,54 2,96 Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. 20 Unidade I Ao analisar a tabela anterior, podemos notar que, aproximadamente, 50% das importações realizadas no Brasil são provenientes da China e Estados Unidos. São Paulo 38% Pernambuco 3%Espírito Santo 4% Bahia 4% Minas Gerais 6% Rio Grande do Sul 6% Amazonas 6% Paraná 8% Santa Catarina 11% Rio de Janeiro 14% Figura 5 – Participação dos Estados nas importações em 2019 Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. No grafico anterior, podemos observar que São Paulo lidera como o estado tem maior participação nas importações brasileiras. Assim, como exposto, as razões pelas quais as nações importam produtos são: • necessidade de determinado produto; • ausência de recursos naturais, tecnologia ou mão de obra para produzi‑lo; • a demanda interna pelo produto supera sua produção, ou seja, é necessário suprir essa demanda a partir da oferta do produto em questão no exterior. É essa interdependência entre os países que faz com que o comércio internacional seja dinâmico e esteja em pleno crescimento. 21 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Saiba mais No site indicado a seguir, você encontrará dados estatísticos muito interessantes sobre a balança comercial brasileira. Acesse: BRASIL. Estatísticas de Comércio Exterior. Ministério da Economia, Migração, [s.d.]. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/comercio‑exterior/ estatisticas‑de‑comercio‑exterior. Acesso em: 10 jun. 2020. Exemplo de aplicação Quais são os geradores de interdependência entre os países? Explique‑os. 1.4 Exportações As exportações são vendas de produtos ou serviços ao exterior. A saída de um produto pela fronteira já pode ser caracterizada como exportação. Porém, como nos dias de hoje muito do que é exportado está dentro do conjunto de serviços, não existe nesse caso uma saída física do produto. Conforme definição de Lopez e Gama (2005, p. 190): “a exportação de uma mercadoria se configura quando ela é disponibilizada ao comprador estrangeiro em local e prazo estipulado em contrato de compra e venda internacional”. 1.4.1 Por que exportar? O Brasil é essencialmente um grande exportador de produtos manufaturados, para os Estados Unidos e a América Latina, e de bens primários como as produções agrícolas, os minerais e os combustíveis fósseis, para a Europa e a Ásia. Em geral, os governos incentivam as exportações, pois, uma vez que as exportações são superiores às importações, registra‑se um superávit na balança comercial. Esse saldo comercial positivo com o exterior, por exemplo, serviu para o Brasil reduzir sua vulnerabilidade econômica devido a fatores externos, o que permitiu uma maior resistência às turbulências econômicas globais de 2009. Por isso, muitos países têm uma política de incentivo à exportação. 22 Unidade I Trade entre países e continentes Produtos Tecnologias Serviços Frete e seguros Figura 6 – Comércio entre países e continentes Tabela 4 – Principais produtos brasileiros exportados em 2018 USD/Bilhões Participação total exportações Minério de Ferro 22,7 10% Celulose 3,3 3,30% Carne Bovina 6,5 2,90% Aves 6,5 2,90% Produtos Ind. Transf. 6,4 2,80% Farelos soja 6,2 2,80% Óleos Combustíveis 5,9 2,60% Açúcares 5,2 2,30% Ferro 4,2 1,90% Produtos semiacabados ferro 4,2 1,90% Ferro-esponja 4,2 1,90% Automóveis passageiros 2,8 1,70% Aeronaves 3,8 1,70% Sucos de frutas 2,1 0,94% Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. Conforme exposto anteriormente, verificamos que a soja está no topo dos produtos mais comercializados no exterior. 23 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Pernambuco 3% Bahia 4% Santa Catarina 5% Rio Grande do Sul 7% Pará 12% Minas Gerais 13% Rio de Janeiro 15% São Paulo 24% Paraná 8% Mato Grosso 9% Figura 7 ‑ Participação dos Estados nas exportações em 2019 Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. Note agora que, a partir dos itens classificados entre categorias, os produtos de base ainda ficam na liderança, no entanto, os produtos manufaturados conquistaram uma parcela consideravelmente significativa das exportações: 201,78 152,90 255,93 242,27 241,96 224,97 190,91 185,23 217,73 239,30 225,38 20102009 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Figura 8 – Evolução das exportações de 2009 a 2019 Fonte: Ministério da Economia, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Existem vários órgãos relacionados ao processo de exportação. Dentre eles, podemos destacar: • a Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços tem por objetivo a formulação, a adoção, a implementação e a coordenação de políticas 24 Unidade I e de atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, aos investimentos estrangeiros diretos, aos investimentos brasileiros no exterior e ao financiamento às exportações, com vistas a promover o aumento da produtividade da economia brasileira e da competitividade internacional do País; • a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), que faz parte do Ministério da Economia, Indústria,Comércio Exterior e Serviços; • o Departamento de Promoção Comercial e Investimentos, que faz parte do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Todos esses órgãos estão oficialmente relacionados com o processo de desenvolvimento das exportações no país. Desse modo, apesar de o Brasil ter um mercado interno em plena expansão, a melhora na economia global tende a favorecer o mercado brasileiro quanto à exportação de seus produtos. Portanto, uma política de desenvolvimento se faz necessária para que o Brasil atinja todo seu potencial exportador. 1.4.2 As vantagens da exportação às empresas Para muitas empresas, a internacionalização é um processo natural, uma consequência de seu próprio crescimento interno e da qualidade de seus produtos. Devido à necessidade de manter‑se a competitividade pela diminuição da dependência do mercado interno, as empresas saem para os mercados estrangeiros sabendo que, se não o fizerem, as empresas estrangeiras certamente entrarão no mercado local e apresentarão forte concorrência. Logo, a internacionalização de uma empresa tem papel fundamental em seu sucesso e deve ser fazer parte de seu planejamento estratégico. Para muitas organizações, a internacionalização começa com a exportação ocasional de alguns de seus produtos. Muitas vezes, a empresa recebe pedidos eventuais de compradores localizados em outros países, contudo, nesse estágio, a companhia não vê a exportação como parte de seu core business, ou seja, é um processo que oferece pouco risco e comprometimento por parte das empresas e, por isso mesmo, é bastante utilizado. Cullen e Parboteeah (2008) classificam a exportação ocasional em dois tipos: exportação direta e exportação indireta. Do ponto de vista estratégico, as exportações diretas são mais agressivas, pois o exportador é responsável por todo o processo e faz contato direto com as empresas localizadas no exterior. As vendas podem ser realizadas por um intermediário situado fora do país de origem como, por exemplo, um distribuidor, um agente do fabricante, um representante comissionado ou uma filial de vendas, além de existir as exportações que são realizadas diretamente ao consumidor final. 25 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Observação Os representantes de venda são contratados pelos fabricantes, que definem a comissão, os territórios e os detalhes dos contratos. Esses representantes trabalham com literaturas promocionais dos fabricantes e não tomam posse dos produtos. A vantagem da exportação direta é que ela dá ao exportador um maior controle sobre os canais de distribuição utilizados e, consequentemente, sobre o mercado para o qual está exportando. Mas, para utilizá‑la, é imprescindível que o exportador disponha de recursos direcionados exclusivamente para essa operação. As exportações indiretas são realizadas por um intermediário localizado no próprio país do fabricante, como é o caso das trading companies, dos brokers e dos importador‑exportadores. A vantagem da exportação indireta é que ela não exige grandes conhecimentos do processo de exportação por parte da empresa fabricante. O entendimento das normas e trâmites do comércio internacional é responsabilidade dos agentes, portanto, o fabricante não precisa ter uma estrutura dentro de sua empresa voltada à exportação. As exportações por intermédio de agentes especializados ou trading companies são também consideradas como exportações indiretas. Os agentes especializados disponibilizam de acesso rápido e relativamente fácil a mercados estrangeiros e têm bons relacionamentos com distribuidores e conhecimento de mercado e de produtos. Uma trading company é uma empresa que busca dinamizar e facilitar a comercialização entre as fabricantes e outras empresas compradoras. Dessa forma, há a possibilidade de ela comprar itens fabricados por terceiros para revender no mercado, ou então fazer circular variados produtos. Essas empresas possuem constituições regidas pela mesma legislação empregada quando se abre qualquer empresa industrial ou comercial. As vantagens desses dois tipos de exportação é que o fabricante pode rapidamente ter acesso ao mercado estrangeiro com baixo investimento financeiro e de recursos humanos. Exemplo de aplicação As exportações ocasionais podem ser divididas em dois tipos: exportações diretas e exportações indiretas. Quais são as diferenças entre elas? Outra forma de ter acesso ao mercado externo é pela implantação que substitui total ou parcialmente o fluxo de exportação por meio de uma licença internacional na qual o licenciador que detém a patente, 26 Unidade I isto é, o conhecimento tecnológico (know‑how) ou a marca, disponibiliza o know‑how ao licenciado estrangeiro em troca de royalty. Obter uma licença é uma maneira fácil, barata e de baixo risco para uma empresa levar sua produção e/ou serviços ao mercado consumidor estrangeiro. A Disney, por exemplo, licencia a imagem de seus personagens para uso em brinquedos, roupas etc. As vantagens da exportação às empresas são inúmeras: • ganho de escala: ao utilizar a capacidade ociosa e/ou buscar a melhoria de seus processos de produção, a empresa ganha maior produtividade, o que dilui o custo fixo e aumenta a economia de escala. Consequentemente, há a diminuição do custo dos produtos, o que os torna mais competitivos e aumenta a margem de lucro; • melhoria dos processos industriais e comerciais: em razão das adequações às várias normas internacionais, como a ISO, há uma melhor apresentação e qualidade dos produtos. Uma vez que o comércio internacional requer a elaboração de contratos mais precisos, a busca pela excelência de processos gerenciais bem definidos exige que as empresas adquiram melhores condições de competição interna e externa; • redução da dependência das vendas internas: a diversificação do mercado proporciona à empresa maior segurança contra as oscilações dos níveis de demanda interna, pois, caso haja queda no consumo do mercado local, a organização poderá se dedicar mais à exportação (e vice‑versa); • busca pela excelência: as empresas exportadoras tendem a ser mais inovadoras, a utilizar novos processos de fabricação, a adotar programas de qualidade e a desenvolver novos produtos com maior frequência e investimento nos funcionários; • redução da carga tributária: a empresa pode compensar o recolhimento dos impostos internos via exportação, ou seja: – produtos exportados não sofrem incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); – o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não incide sobre operações de exportação de produtos industrializados, produtos semielaborados, produtos primários ou prestação de serviços; – a determinação da base de cálculo da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) é excluída das receitas decorrentes de exportação; – receitas decorrentes de exportação são isentas da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep); – o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) aplicado às operações de câmbio vinculadas à exportação de bens e serviços tem alíquota zero. 27 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO IPI = 0 ICMS = 0 IOF = 0 Cofins = excluídas PIS = isento Pasep = isento Figura 06 – Carga tributária na exportação Aumento da produtividade Diversificação de mercados Melhoria da qualidade dos produtos Redução da carga tributária Redução de dependência do mercado interno Figura 9 – Vantagens da exportação para as empresas Outro ponto interessante a ser remarcado é a quantidade de empresas brasileiras que são exportadoras. Apesar de o número mostrar uma tendência de queda, a exportação de um modo geral tem crescido. Isso indica que as empresas que optam por continuar a exportar estão cobrindo o gap deixado pelas empresas que optam por deixar o mercado. Posteriormente, veremos como as importações se comportam e como isso afeta toda a logísticade material que entra e sai do país. Exp. 21.444 Imp. 41.167 Exp. 21.486 Imp. 44.812 Exp. 21.082 Imp. 45.216 Exp. 21.415 Imp. 47.082 Exp. 21.912 Imp. 47.254 Exp. 23.145 Imp. 44.634 Exp. 25.052 Imp. 41.003 Exp. 25.070 Imp. 43.069 Exp. 25.274 Imp. 43.878 Exp. 27.5573 Imp. 45.943 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Figura 10 ‑ Números de empresas exportadoras de 2010 a 2019 Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. 28 Unidade I Dessa forma, o engajamento das empresas no processo de exportação trás inúmeras vantagens e não pode ser visto de forma leviana, ou seja, não é pertinente dar enfoque à exportação apenas quando o mercado interno está em queda. É preciso que as empresas vejam a exportação de forma mais estratégica, com vistas a capacitar seus recursos internos, humanos e tecnológicos para atender um público consumidor muito mais exigente e uma concorrência mais bem preparada. É fundamental ressaltar ainda que o governo tem papel fundamental no incentivo e na criação de mecanismos que favoreçam a exportação. Saiba mais Para obter mais informações sobre os procedimentos de exportação, consulte o site Aprendendo a exportar. Ele apresenta inúmeras informações multimídia para ajudá‑lo a conhecer melhor sobre esse assunto. Acesse: http://www.aprendendoaexportar.gov.br/ Exemplos de aplicação Como você definiria importação e exportação? Quais são as vantagens da exportação às empresas? 2 ASPECTOS LEGAIS PERTINENTES AO COMÉRCIO INTERNACIONAL Assim como a venda e a produção de um produto feito e comercializado localmente deve seguir determinadas regras e leis – ter autorizações governamentais e certificações como a do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) ou da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), recolher tributos e obedecer restrições como a proibição de venda de álcool e tabaco a menores de idade, por exemplo –, também existem acordos, leis e restrições que devem ser seguidos no mercado internacional. Veremos a seguir como esses aspectos legais beneficiam ou restringem quando lida‑se com o comércio exterior. 2.1 Organização Mundial do Comércio (OMC) Em 1º de janeiro de 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC), localizada em Genebra (Suíça), iniciou suas atividades e a partir deste momento atua como a principal instância para administrar o sistema de comércio multilateral. O objetivo da organização é estabelecer mecanismo de solução pacífica das controvérsias comerciais e intermediar as relações comerciais entre os diversos membros que a compõem, tendo como base os acordos comerciais atualmente em vigor, criando um ambiente que permita a negociação de novos acordos comerciais entre os Membros. A OMC conta com 164 membros, sendo o Brasil um dos membros fundadores. Atualmente as línguas oficiais da organização são o inglês, o francês e o espanhol. 29 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 2.2 Acordos comerciais internacionais Não é somente a OMC que trabalha para a redução e/ou eliminação de tarifas entre os países, já que muitos destes têm se engajado em acordos que trazem benefícios mútuos. Observação O objetivo de uma aliança comercial é a otimização de esforços para conquistar consumidores ou fornecedores ou, ainda, para desenvolver determinado produto ou serviço conjuntamente. Atualmente, o mundo está em processo de divisão em blocos econômicos. União Europeia, Mercosul, Nafta, Apec e Alca são apenas alguns dos exemplos de alianças comerciais feitas entre diversos países. Nessas alianças, ainda que haja um forte componente político‑social, o fator econômico é o preponderante. Discorreremos brevemente sobre alguns desses blocos econômicos e verificaremos como eles impactam na importação e exportação entre nações. 2.2.1 Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) O USMCA corresponde a um tratado de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México que moderniza o antigo acordo, chamado Nafta (North American Free Trade Agreement, em inglês, ou Tratado Norte‑Americano de Livre Comércio, em tradução livre), de 1994 que representou, durante vinte e quatro anos, o livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. Os principais objetivos do Nafta eram: • Reduzir as barreiras alfandegárias, no que tangem às taxas cobradas em relação aos produtos importados. • Favorecer a circulação dos bens e serviços entre os países. • Promover o aumento das oportunidades de investimento entre os países. • Proteger a propriedade intelectual dentro de cada território. • Oferecer condições justas para uma competição na área de livre comércio. Assinado em setembro de 2018, o USMCA (sigla em inglês para Acordo Estados Unidos‑México‑Canadá) apoiará o comércio mutuamente benéfico, levando a mercados mais livres, comércio mais justo e crescimento econômico robusto na América do Norte. Os capítulos com as principais realizações incluem: 30 Unidade I • Trabalho. • Propriedade intelectual. • Comércio digital. • Valores mínimos de remessas. • Serviços financeiros. • Meio ambiente. 2.2.2 Mercado Comum do Sul (Mercosul) O Mercado Comum do Sul (Mercosul) surgiu com o incentivo de redemocratizar, reaproximar, fortalecer e abranger a integração regional da América Latina no final da década de 1980, e sua fundação ocorreu em 1991. Os membros fundadores do Mercosul são Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, signatários do Tratado de Assunção, que estabeleceu um modelo de integração com os objetivos centrais de conformação de um mercado comum – com livre circulação interna de bens, serviços e fatores produtivos – e o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC) no comércio com terceiros países. A Venezuela aderiu ao Mercosul em 2012, porém está suspensa desde dezembro de 2016, por descumprimento de seu protocolo de adesão. A Bolívia tem o “status” de estado associado em processo de adesão. Os demais países sul‑americanos relacionam‑se com o Mercosul na qualidade de estados associados. 2.2.3 União Europeia (UE) Inicialmente chamado de Comunidade Econômica Europeia (CEE), o bloco econômico formado por 27 países da Europa Ocidental passou a ser conhecido como União Europeia (UE) no início dos anos 1990. A integração desse grupo vai além da integração de tarifas externas, isto é, ele possui uma integração econômica e monetária. É formado por 27 países europeus praticantes do livre‑comércio entre si, facilitando o trânsito de sua população que tem permissão para trabalhar e morar em qualquer parte do território dos países membros. Os países que fazem parte da União Europeia são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia e Suécia. O Reino Unido se desligou em 31 de janeiro de 2020, sendo apelidada de Brexit que é originada na língua inglesa da junção das palavras British e exit, ou seja, saída britânica. 2.2.4 Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) A Apec foi criada em meados dos anos 1990 com o compromisso de tornar o Pacífico uma área de livre comércio. Esse bloco é responsável por uma parcela de, aproximadamente, 44% do comercio mundial. 31 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO É interessante notar que a Apec é composta também por nações desenvolvidas como a Austrália, os Estados Unidos, o Canadá e o Japão. A Apec conta com 21 países membros, a saber: Austrália, Brunei, Canadá, Cingapura, Chile, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Filipinas, Hong Kong, Indonésia, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Papua‑Nova Guiné, Peru, Rússia, Tailândia, Taiwan e Vietnã. União Européia Indústria de transformação Indústria extrativa Agropecuária #REF América Central e Caribe América do Norte África Ásia Mercosul Europa Asean Figura 11 – Participação das importações por bloco de janeiro a dezembrode 2019 (%) Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. Quadro 1 – Acordos dos quais o Brasil faz parte Preferência Tarifária Regional entre países da ALADI (PTR‑04) Acordo de Sementes entre países da ALADI (AG‑02) Acordo de Bens Culturais entre países da ALADI (AR‑07) Brasil ‑ Uruguai (ACE‑02) Brasil ‑ Argentina (ACE‑14) Mercosul (ACE‑18) Mercosul ‑ Chile (ACE‑35) Mercosul ‑ Bolívia (ACE‑36) Brasil ‑ México (ACE‑53) Mercosul ‑ México (ACE‑54) Automotivo Mercosul ‑ México (ACE‑55) Mercosul ‑ Peru (ACE‑58) Mercosul ‑ Colômbia, Equador e Venezuela (ACE‑59) Brasil/Guiana/São Cristóvão e Névis(AAP.A25TM 38) Brasil ‑ Suriname (ACE‑41) 32 Unidade I Brasil ‑ Venezuela (ACE‑69) Mercosul ‑ Colômbia (ACE‑72) Mercosul ‑ Cuba (ACE‑62) Mercosul/Índia Mercosul/Israel Mercosul/SACU Mercosul/Egito Mercosul/Palestina ‑ AINDA SEM VIGÊNCIA Brasil ‑ Paraguai (ACE‑74) Fonte: Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços. 2.3 Barreiras comerciais Apesar de termos mencionado anteriormente que muitos países têm se unido para a redução ou eliminação de barreiras alfandegárias, é necessário estarmos conscientes de que existem muitos empecilhos ao comércio exterior. Ruiz (2009, p. 19) definiu essas barreiras como “impedimentos legais que os países adotam para evitar a entrada de produtos provenientes de outras nações (...) e capazes de competir em preço ou qualidade diretamente com os fabricados pela sua indústria local”. Em resumo, muitas vezes os governos dificultam a entrada de determinados produtos em seu território com o intuito de resguardar e proteger as empresas nacionais. Dessa forma, ele evita que os produtos importados tomem o lugar dos locais e mantém o equilíbrio da balança de pagamento e, em consequência, da balança comercial. Observação A maior saída de moeda, por exemplo, pode levar os países a tomar medidas que restringem a importação. Por outro lado, a maior entrada de moeda pode causar problemas ao país e o governo pode intervir criando obstáculos. Esses bloqueios podem ser barreiras comerciais tarifárias ou barreiras comerciais não tarifárias. Barreiras tarifárias: que tratam de tarifas de importações e taxas diversas. O objetivo dessas taxas é elevar o valor do produto importado, a fim de tornar a mercadoria nacional mais competitiva, já que, com o aumento do valor do produto importado, a demanda por ele é reduzida. Verificaremos posteriormente como calcular os impostos sobre o valor do produto. 33 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 Coreia do Sul Rússia África do Sul Austrália Japão Estados Unidos Perú China Turquia Haiti Costa Rica México Cuba Braisl 26,4 21,2 28 16,7 41,8 29,9 45,2 39,6 45,5 97,3 52,7 60,3 58,3 32,1 Barreiras tarifárias em um cenário de guerra comercial total, em % Figura 12 – Tarifas às exportações Barreiras não tarifárias: essas barreiras abordam as restrições quantitativas, medidas de salvaguarda e medidas sanitárias e fitossanitárias, medidas antidumping, licenciamento de importação, procedimentos alfandegários, valoração aduaneira arbitrária ou com valores fictícios, medidas compensatórias, subsídios. No quadro a seguir, temos um exemplo real de como a barreira tarifária é aplicada. Quadro 2 Produto Barreira Comentário Cadernos, embalagens, etiquetas e envelopes Técnica Governo argentino duplicou mecanismos de controle, por meio de repetição de testes laboratoriais, para eliminar os perigos provenientes do uso de tinta com alto teor de chumbo em produtos gráficos Fonte: Lindner e Rodrigues (2019). 2.3.1 Barreiras para determinadas origens Esse tipo de restrição é aplicada às importações de determinados produtos ou de determinados países. 2.3.2 Barreiras técnicas e de certificação de qualidade As diferenças de padrões entre um país e outro muitas vezes impede que o produto fabricado seja exportado da forma como ele é comercializado no mercado interno. Um exemplo simples desse fato é o padrão brasileiro para tomadas, que só é utilizado aqui. 34 Unidade I Para que uma empresa de eletroeletrônicos possa exportar seus produtos, por exemplo, é preciso que ela faça ajustes e alterações técnicas neles. Portanto, além de o exportador ter de atender certos requisitos de conformidade técnica, existe também a necessidade de ajustar procedimentos, processos e índices de qualidade a fim de ganhar a certificação de órgãos internacionais. 2.3.3 Barreiras por certificação de origem Países integrantes da União Europeia, por exemplo, têm tarifas reduzidas e, para muitos produtos, a tarifa de circulação entre esses países é zero. No entanto, caso o Brasil queira exportar a um dos países membros da União Europeia, os produtos serão taxados, pois o Brasil não faz parte da UE. Essa restrição visa beneficiar os países membros de um determinado bloco econômico. 2.3.4 Barreiras por composição química O importador restringe a entrada de certos produtos em seu território, tais como determinados tipos de medicamentos, alimentos, bebidas alcoólicas etc. Como exemplo, temos a Europa: desde 2006, os países do continente restringiram a importação de componentes eletrônicos com chumbo em sua composição (lead free – ROHS). 2.3.5 Barreiras por tradições religiosas Antes de exportar um produto, é preciso conhecer os costumes e as tradições do mercado de destino das mercadorias. Na Arábia Saudita, por exemplo, a comercialização de produtos como as bebidas alcoólicas, a carne de porco e os artigos pornográficos é proibida. Lembrete Contrabando é a compra ou venda de mercadorias proibidas ou ilegais em determinado território. 2.3.6 Barreiras por proibição Essas barreiras são feitas por decreto‑lei com o intuito de impedir a importação de produtos não essenciais. Essas proibições podem ser definitivas ou temporárias e muitas vezes acabam por incentivar o surgimento do mercado negro. Como exemplo, temos a proibição de importação de alguns produtos de origem animal para evitar a proliferação de determinadas doenças e a aprovação de uma lei em 2010 que proíbe a importação de peles de animais exóticos e dos produtos delas derivados. 35 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 2.3.7 Barreiras sanitárias A restrição sanitária tem por meta proteger a saúde da população do país de destino dos produtos, já que estes podem estar contaminados ou fora de um índice de qualidade aceitável. Há alguns anos, por exemplo, tivemos a contaminação de rebanhos na Europa com a encefalopatia espongiforme bovina, popularmente conhecida como doença da vaca louca. No quadro abaixo, veja como a barreira sanitária é aplicada: Quadro 3 Produto Barreira Comentário Carnes e produtos de carne bovina Sanitária e fitossanitária Governo da Nigéria baniu a importação de produtos animais, incluindo todos os códigos NCM de carne e produtos de carne bovina, para favorecer a produção doméstica Fonte: Lindner e Rodrigues (2019). 2.3.8 Barreiras fitossanitárias As barreiras fitossanitárias têm como alvo evitar a proliferação de pestes e doenças nas plantas e nos vegetais. É por esse motivo que os pallets (embalagens de madeira) têm de ter um tratamento químico antes de entrar no país de destino desses produtos. No quadro seguir, temos um exemplo de como a barreira fitossanitária é aplicada. Quadro 4 Produto Barreira Comentário Rechaça do mamão brasileiros Sanitária e fitossanitária Autoridades norte‑americanas alegam que há presença de pedaços de insetos nas cargas de mamão enviados sem haver detalhamento e apresentação de embasamento técnico. Assim, esta medida tem acarretado a destruição e no rechaço de paletes do produto Fonte: Lindner e Rodrigues (2019). 2.3.9 Barreiras por quota As barreiras por quota são impostas pelos governos na importação com o objetivo de limitar a quantidade de determinado produto que entra no país. Existem diversos produtos que são limitados por cotas, entre eles osprodutos agrícolas, as carnes, os tecidos etc. Também há cotas para carnes consideradas exóticas, tais como a carne de jacaré, de tubarão e de tartaruga. 36 Unidade I No quadro a seguir, um exemplo de como a barreira por cota é aplicada: Quadro 5 Açúcar Produto Barreira Comentário Produtos lácteos Cotas tarifárias de importação A importação de produtos lácteos nos Estados Unidos está sujeita à aplicação do regime de cotas tarifárias, que são tarifas mais baixas para quantidades específicas e tarifas mais altas para as quantidades que excedam esta cota Fonte: Lindner e Rodrigues (2019). 2.3.10 Barreiras por dumping Conforme Weiss (2008, p. 205), em seu livro Building an import export business, “dumping é a venda de mercadoria abaixo de um preço justo no país de origem”. Em outras palavras, é a venda de um produto a preço inferior ao custo da produção doméstica. Essa prática pode ser causada por subsídios ou empréstimos dados pelos governos. Por exemplo, o subsídio que o governo americano dá aos produtores agrícolas faz com que o custo ao produtor seja menor, o que, consequentemente, gera um preço de venda menor. Além disso, o dumping pode ser causado por empresas que visam eliminar seus concorrentes e, para isso, vendem seus produtos a valores muito mais baixos, o que gera a quebra das companhias locais. Em caso de suspeita, as empresas prejudicadas por essa prática devem solicitar a investigação do caso, pois a OMC penaliza o dumping por ele ser desleal. Segundo o Ministério da Economia, Industria, Comércio Exterior e Serviços (BRASIL, [s.d.]), os direitos antidumping têm como objetivo evitar que os produtores nacionais sejam prejudicados por importações realizadas a preços de dumping, prática esta considerada como desleal em termos de comércio em acordos internacionais. A medida, em um processo administrativo, qualifica que seja realizada uma investigação com a participação de todas as partes interessadas, em que informações e dados são conferidos e opiniões são confrontadas, para que após análise do departamento, possa‑se propor a aplicação de uma medida ou o encerramento de uma investigação sem sua imposição. A investigação deverá proceder de acordo com as regras estabelecidas nos acordos da OMC e baseada na legislação brasileira. Essas regras buscam garantir ampla oportunidade de defesa a todas as partes interessadas e a transparência na condução do processo. O não cumprimento do acordo antidumping, em especial os relativos à garantia de oportunidade de defesa das partes, pode implicar a contestação da medida que vier a ser adotada ao final da investigação e a consequente a revogação do acordo. 37 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Quadro 6 – China aplica salvaguarda às importações de açúcar Siderurgia, ferros e ligas Produto Barreira Comentário Açúcar Salvaguarda importação A medida foi implementada a partir de uma investigação, que teve início em 22 de setembro de 2016, sobre a quantidade de açúcar importado, a fim de avaliar se um eventual aumento nas importações estaria prejudicando a indústria local. Em 22 de maio de 2017, com o fim da investigação, constatou‑se um aumento na quantidade de açúcar importado e estabeleceu‑se nexo causal entre este aumento e o prejuízo observado pela indústria doméstica. Em razão disso, decidiu‑se aplicar uma medida de salvaguarda Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Leia o artigo a seguir, publicado em setembro de 2019, pelo Jornal Estado de Minas Internacional. Medidas antidumping dos EUA sobre aço de China e México O governo dos Estados Unidos anunciou em 04/09/2019 a imposição de tarifas antidumping preliminares sobre mais de US$ 1 bilhão em aço para construção importados da China e do México. Segundo os resultados de uma investigação preliminar, o Departamento de Comércio estima que os exportadores da China e do México se beneficiaram de dumping” para a fabricação de aço estruturado – como vigas em I, barras e vigas – em valores “que variam de 0,00% a 141,38% e de 0,00% a 30,58%, respectivamente”. As conclusões do Departamento, que podem ser revertidas, seguem uma decisão semelhante em junho passado que cobriu as importações chinesas de alumínio no valor de quase US$ 1 bilhão. Eles foram o resultado de uma queixa apresentada em fevereiro por membros do Instituto Americano de Aço para Construção, em Chicago. Como resultado do novo anúncio, a Alfândega dos Estados Unidos foi contratada para coletar depósitos em dinheiro dos importadores relevantes de aço estrutural com base nas taxas de dumping determinadas durante sua investigação preliminar. As autoridades indicaram, no entanto, que o inquérito não havia afetado as estruturas de aço do Canadá, que atualmente estão livres das taxas antidumping. Em 2018, as importações de aço estrutural do Canadá, da China e do México foram estimadas em US$ 722,5 milhões, US$ 897,5 milhões e US$ 622,4 milhões, respectivamente. Fonte: AFP (2019). 38 Unidade I A partir da leitura feita, discorra sobre como a barreira antidumping tem sido usada pelos Estados Unidos para limitar as exportações chinesas e mexicanas de aço. 2.4 Classificação e codificação de produtos Segundo Keedi (2007a), com o crescimento e a complexidade do mercado internacional, além das diferenças de idiomas, normas, hábitos e costumes, verificou‑se a necessidade de criação de um sistema de padronização e classificação de mercadorias nas transações de importação e exportação. Essa padronização feita em códigos numéricos identifica facilmente o produto que está sendo importado ou exportado, o que propicia que as transações sejam realizadas de modo mais acurado. 2.4.1 Sistema harmonizado (SH) de descrição e codificação de produtos Também conhecido em inglês como harmonized code (HS), o SH é um sistema de padronização da classificação fiscal criado e mantido pela OMC com o objetivo de facilitar a identificação e possibilitar maior controle alfandegário e de cobrança dos impostos. O SH é composto por seis dígitos. Os dois primeiros representam os capítulos, os dois dígitos subsequentes representam os subcapítulos e os dois dígitos finais são a subposição. São 96 capítulos agrupados em seções de acordo com o tipo de produto e os subcapítulos apresentam um grau maior de detalhamento. Nenhum país está autorizado a alterar nenhuma das descrições, entretanto, alguns países estendem o código harmonizado de seis para oito, nove ou até mesmo dez dígitos. Um total de mais de 98% do comércio internacional segue essa classificação. A seguir, um exemplo para melhor visualização de como dividimos e interpretamos os códigos usados no SH. Estes 4 dígitos representam a posição Estes 2 dígitos representam os capítulos Estes 2 dígitos representam os subcapítulos Estes 2 dígitos representam as subposições 01 03.10 Figura 13 Exemplo de aplicação O que é sistema harmonizado e qual sua finalidade? 39 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 2.4.2 Nomenclatura comum do Mercosul (NCM) A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é uma nomenclatura regional para categorização de mercadorias adotada pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai desde 1995, sendo utilizada em todas as operações de comércio exterior dos países do Mercosul e tem por base o Sistema Harmonizado (SH) mantido pela Organização Mundial das Alfândegas (OMA), que foi criado para melhorar e facilitar o comércio internacional e gerar estatísticas. Esta nomenclatura é fundamental para determinar os tributos envolvidos nas operações de comércio exterior e de saída de produtos industrializados entre seus países membros, tendo também como base para o estabelecimento de direitos de defesa comercial, ICMS, valoração aduaneira, na identificação de mercadorias para efeitos de regimes aduaneiros especiais, em dados estatísticos de importação e exportação, de tratamentos administrativos, de licença de importação etc. Tem como base a classificação fiscal de mercadoriasque é o processo que determina o código numérico representativo da mercadoria, obedecendo‑se aos critérios estabelecidos na NCM, e seus códigos de 8 dígitos são chamados comumente de “códigos NCM”, pois são os que definem as alíquotas de impostos no comércio exterior e de diversos tributos internos nas operações com mercadorias. A NCM tem a seguinte estrutura formada primeiramente pelas regras gerais para interpretação do sistema harmonizado e regras gerais complementares, tendo na sequencia as notas de seção, de capítulo, de subposição e complementares; lista ordenada de códigos em níveis de posição (4 dígitos), subposição (5 e 6 dígitos), item (7 dígitos) e subitem (8 dígitos), distribuídos em 21 seções e 96 capítulos. 00 00 . 0 0 . 0 0 Subitem Item Subposição de 2º nível Subposição de 1º nível Posição Capítulo Figura 14 – Formação da NCM Saiba mais Para consultar a lista completa com a correlação de códigos entre as normas NCM, leia: MATO GROSSO. Tarifa externa comum Brasil. [s.d.]. Disponível em: https://www.sefaz.mt.gov.br/portal/download/arquivos/Tabela_NCM.pdf. Acesso em: 15 jun. 2020. 40 Unidade I 2.4.3 Nomenclatura da associação latino-americana de integração (Naladi) A Associação Latino‑Americana de Integração (Aladi) teve início através do Tratado de Montevidéu, em agosto de 1980, incorporado ao ordenamento jurídico nacional pelo Decreto‑Legislativo n. 66, de 16 de novembro de 1981, para dar continuidade ao processo de integração econômica iniciado em 1960 pela Associação Latino‑Americana de Livre Comércio (Alalc) e tem por objetivo a adoção de preferências tarifárias e pela eliminação de restrições não tarifárias. Essa Associação divide‑se, de acordo com as características econômicas, em três categoria, sendo: Bolívia, Equador e Paraguai classificados de menor desenvolvimento econômico relativo. Chile, Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela, Cuba e Panamá classificados de desenvolvimento intermediário e demais países sendo Argentina, Brasil e México. Essa área de livre comércio possui uma preferência tarifária com nomenclatura própria de oito dígitos semelhante à NCM, mas com uma variação facultativa dos dois últimos dígitos. Os acordos de complementação econômica (ACE) são negociados somente entre dois ou mais membros do Naladi. 2.4.4 Tarifa externa comum (TEC) A tarifa externa comum (TEC) foi criada com o objetivo de nivelar o imposto de importação para produtos oriundos de países não membros do Mercosul. Ela foi desenvolvida com base na NCM que, por sua vez, foi baseada no SH. As mercadorias importadas de um país externo ao Mercosul terão a mesma alíquota de importação para todos os países membros do bloco, ou seja, suponhamos que, para um produto x, a TEC informe que a alíquota de importação é de 8%: independentemente do país de destino do produto dentro do Mercosul, a importação terá alíquota de 8%. Contudo, há uma lista de produtos que são exceções, isto é, para alguns produtos, a alíquota de importação pode variar entre os países membros, já que é preciso levar em consideração as necessidades que cada nação tem. Observação Há alguns anos, por solicitação do Ministério da Saúde, a alíquota de importação de medicamentos usados no tratamento de algumas doenças crônicas foi reduzida a zero. A lista de exceções de cada país obedece ao imposto que o próprio país julgar necessário e, por isso, o aumento de alíquotas tem por intuito restringir a entrada de determinada mercadoria em território local, ou seja, a inclusão ou a exclusão de produtos na lista de exceções está vinculada à estratégia do país naquele momento. 41 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO O Brasil possui cem produtos nessa lista e a pertinência deles nela é revista a cada seis meses, ocasião na qual a lista de exceções pode ter até 20% de alterações. A entrada de um novo produto na lista significa a retirada de outro, pois o total de cem produtos não pode ser ultrapassado, já que a lista é discutida e acordada entre os membros do bloco. Exemplo de aplicação Por que os países do Mercosul criaram a TEC? Consulte a seguir uma breve amostra da TEC: Quadro 7 – Tarifa externa comum (TEC) Seção I ‑ Animais vivos e produtos do reino animal Notas. 1 ‑ Na presente Seção, qualquer referência a um gênero particular ou a uma espécie particular de animal aplica‑se também, salvo disposições em contrário, aos animais jovens desse gênero ou dessa espécie. 2 ‑ Ressalvadas as disposições em contrário, qualquer menção na Nomeclatura a produtos secos ou dessecados compreende também os produtos desidratados, evaporados ou liofilizados. Capítulo 1 ‑ Animais vivos Nota. 1 ‑ O presente Capítulo compreende todos os animais vivos, exceto: a) peixes e crustáceos, moluscos e os outros invertebrados aquáticos, das posições 03.01, 03.06 ou 03.07; b) culturas de microrganismos e outros produtos da posição 30.02; c) animais da posição 95.08. NCM Descrição Alíquota do II (%) 1,01 Animais vivos das espécies cavalar, asinima e muar 101 1 ‑ Reprodutores de raça pura 0101 10 10 Cavalos 0 0101 10 90 Outros 4 101 9 ‑ Outros 0101 90 10 Cavalos 2 0101 90 90 Outros 4 42 Unidade I NCM Descrição Alíquota do II (%) 1,02 Animais vivos de espécie bovina 102 1 ‑ Reprodutores de raça pura 0102 10 10 Prenhes ou com cria ao pé 0 0102 10 90 Outros 0 102 9 ‑ Outros 0102 90 1 Para reprodução 0102 90 11 Prenhes ou com cria ao pé 2 0102 90 19 Outros 2 0102 90 90 Outros 2 1,03 Animais vivos de espécie suína 0103 10 00 ‑ Reprodutores de raça pura 0 103 9 ‑ Outros Resumo Nesta primeira unidade, tivemos a oportunidade de entender como o comércio evoluiu até chegar à dinâmica do mundo globalizado que temos hoje. Aprendemos ainda como a logística está interligada às várias áreas de uma empresa, sendo que, uma vez que as variáveis são muitas, o grande desafio da área é planejar, executar e controlar de maneira eficiente os recursos. Verificamos também quais são os diversos fatores que fazem com que as nações se engajem no comércio internacional e passem a importar e exportar produtos. Por fim, compreendemos porque muitas nações têm se unido a fim de diminuir as barreiras comerciais tarifárias, porém como paradoxo a tudo isso, novas barreiras comerciais tarifárias e não tarifárias têm sido criadas. É nesses dinamismos e nessa complexidade que o profissional de logística atua. 43 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Exercícios Questão 1 (Enade 2009) Se a empresa A. localizada no país X, vende um produto nesse país por US$ 100,00 e exporta o mesmo produto para o Brasil, em condições comparáveis de comercialização (volume, estágio de comercialização, prazo de pagamento) por US$ 80,00, considera‑se que há prática de dumping com margem de US$ 20,00. Com base nessa situação, pode‑se afirmar que a prática de dumping: I ‑ Permite que uma empresa entre em mercados estrangeiros, com vantagem em relação às empresas já estabelecidas naqueles mercados. II ‑ É considerada uma prática leal de comércio. III ‑ Pode provocar o desmantelamento da indústria nacional de um país, se for implementada por uma empresa estrangeira. É correto afirmar que A) Apenas os itens I e III estão corretos. B) Apenas os itens I e II estão corretos. C) Apenas os itens II e III estão corretos. D) Nenhum item está correto. E) Todos os itens estão corretos. Resposta correta: alternativa A. Análise da questão I ‑ Afirmativa correta. Justificativa: conforme o estudado no tópico “Barreiras por dumping”, no livro‑texto, trabalhar com preços menores e/ou margens de lucro maiores é sempre uma vantagem apreciável. Isso pode ser proporcionado pelos custos menores provocados pela prática do dumping, que beneficia as empresas estrangeiras em relação às nacionais. 44 Unidade I II ‑ Afirmativa incorreta. Justificativa: a diferenciação de preços causada pelo dumping é uma prática desleal, como concordam as diversas autoridades mundiais sobre acordos específicos de
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